Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sábado, 23 de outubro de 2010

FM 93

A FM 93 foi fundada em 24 de setembro de 1976, sob o mote “pouco papo, só sucesso”, e é líder de audiência há décadas. Atualmente responde por 5,54% da audiência do rádio FM em Fortaleza, no período de 6h às 19h, segundo relatório do IBOPE (fevereiro a abril de 2010). No material publicitário da emissora consta a informação de que é a rádio de maior audiência percentual em todo o Brasil. O principal programa da emissora, Disque e Toque(*), apresentado pela radialista Samantha Marques, tem em média 298 mil ouvintes por minuto.

Samantha Marques


Em 2006, nos festejos de 30 anos, passou a utilizar o slogan “FM 93 é show”.
Uma característica bem marcante dessa emissora é a utilização de anúncios testemunhais, especialmente da comunicadora Samantha Marques, o que a torna a principal locutora da emissora e que por isso, já foi convidada diversas vezes a concorrer a cargos públicos nos períodos eleitorais.
Depois de décadas no ar, a emissora, que no início realizava programação voltada para o público jovem e tinha características mais pop, hoje assume uma marca regional bem definida, com atuação de diversos comunicadores populares, como Beto Porto Alegre e Evaldo Costa.

Beto Porto Alegre

Evaldo Costa

A emissora, com 30 kw de potência, faz parte do Sistema Verdes Mares que reúne ainda o Jornal Diário do Nordeste, a Rádio Verdes Mares AM , Tamoio FM (Rio de Janeiro, mas transmitindo programação direto de Fortaleza), TV Verdes Mares (afiliada da Rede Globo) e TV Diário, além de empresas de água mineral, gás de cozinha, refrigeradores e agropecuária.


Disque toque




Das 8 da manhã ao meio-dia, já virou tradição do cidadão brasileiro sintonizar na FM 93 para conferir a experiência e simpatia de Samantha Marques. É o programa Disque e Toque, que traz pela manhã um verdadeiro show de variedades para a sua casa.
Veteraníssima, Samantha comanda o programa há nada menos que 14 anos, sempre com seu jeito único e carinhoso de tratar o ouvinte, que durante todo esse tempo a considera uma amiga inseparável do dia-a-dia.

O Disque e Toque é entretenimento  diversificado: músicas dos mais variados estilos, de sucessos do momento a flashbacks, tudo passando por um rigoroso sistema de pesquisa de gosto e pedidos do público. Dos forrós atuais até Roberto Carlos, tem som para todos os gostos.

Mensagens de otimismo para animar o dia do ouvinte; notícias nacionais e internacionais quentinhas; além de um quadro de fofocas do maior fofoqueiro do país, Nelson Rubens, marcam o clima alegre do programa.

A interatividade é bem presente: diariamente há o “Júri Pupular”, em que uma carta sobre um fato polêmico é selecionada e o ouvinte mostra sua voz ao vivo dando sua opinião sobre o assunto. Há também o “Pediu, ouviu, ganhou”, em que o participante apresenta uma canção de sua escolha e ainda participa de um sorteio de prêmios. Não poderia faltar também a clássica brincadeira do “De quem é a voz ?”, sempre dando muitos prêmios.

A participação do ouvinte é tamanha que o programa já atingiu índices de 21 mil ligações por minuto. Alguém ainda duvida que o Disque e Toque é recorde de audiência? Bem, pesquisas indicam uma “singela” marca de 310 mil ouvintes por minuto.

Para Samantha, tudo é uma recompensa por seu esforço, “Agradeço a Deus por ser uma mulher iluminada. Me sinto realizada, pois o trabalho é meu vício”.


Discoshow

Na hora do almoço, sintonizou FM 93, é dose certa de sucesso! A partir do meio-dia, você fica com a boa companhia de Beto Porto Alegre, animando com seu “Ligação Direta.”
Você não poderia começar a tarde melhor do que ouvindo boa música, participando da pergunta da tarde valendo muitos prêmios e pedindo sua música ao vivo.

No programa, o ouvinte é quem tem vez, pedindo a música que quer ouvir na FM.  As mais pedidas - seja de qual estilo for - obviamente, terão espaço garantido no “Discoshow”, com direito a um alô do locutor para quem deu sua participação.

Grande conhecedor de música, Beto admite: “Eu tenho poucos discos em casa, mas todos rarirades, coisas finas”.


Informasom

O programa Informasom, no ar de segunda a sábado, de 5 às 8 da manhã, com Evaldo Costa,  tem a missão de levantar o povo brasileiro com muita animação.
Há nove anos no comando do programa, Evaldo não abre mão do jeito descontraído de ser, buscando sempre fazer brincadeiras com o ouvinte para fazê-lo acordar e ficar disposto para o dia.

Na programação, músicas bastante variadas, sucessos nacionais e internacionais de ontem e hoje. Além das canções para levantar o astral, o Informasom traz as notícias que estampam as manchetes dos jornais do dia. Para já amanhecer dando risadas, há quadros de humor com os famosos personagens do programa Garras da Patrulha.





Fontes: Panorama do Rádio em Fortaleza (Andréa Pinheiro, Nonato Lima e Paula Marques) - UFC, Site FM 93

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Paróquia de São Francisco de Assis - Jacarecanga


Diz a matéria do Jornal O Nordeste de 19 de agosto de 1962:...Mostra-se o clichê um aspecto da igreja matriz da paroquia de São Francisco de Assis, de Jacarecanga, cujo vigário é o dinâmico padre Mirton Lavor que se empenha nas obras de construção do majestoso templo, iniciado ao tempo em que era vigário ali o Monsenhor Hélio Campos, atualmente na cura espiritual do Pirambu. Oportunamente focalizaremos detalhes da grandiosa obra.  Agradecimento ao amigo Lucas Júnior

Agradecimento ao amigo Lucas Júnior

Esta Igreja foi iniciada nos anos 60 para ser a matriz da Paróquia de Jacarecanga, porém nunca foi concluída.

A Paróquia de São Francisco de Assis é palco de missas e celebrações cristãs como batismos, casamentos e  eucaristias. Sua planta original foi misteriosamente roubada e, desde então, houve muita discussão sobre sua arquitetura, a princípio muito imponente e posteriormente singela.
D. Maria do Socorro narrou histórias suas que se relacionavam com a Igreja, como o “vôlei do fim-de-semana” com os amigos, as festas religiosas, além dos trabalhos sociais envolvidos com a Igreja.



DECRETO DE CRIAÇÃO

Desvinculada da Paróquia do Patrocínio, a Paróquia de São Francisco 
de Assis ( Jacarecanga ) foi instalada oficialmente com a posse, aos 06 de fevereiro de 1944, do Pe. Abelardo Ferreira Lima. Por causa da grande extensão da paróquia ele tinha de se locomover a cavalo, pois sua jurisdição ia até a Barra do Ceará e parte de Antônio Bezerra.


Com a transferência do Pe. Abelardo, assumiu a nova Paróquia o Pe. Mauro. Com a nomeação de Mons. Lauro para as funções de Pro-Vigário Geral, é nomeado seu substituto o Pe. Antonio Frederico Rodrigues de Andrade. Com a transferência deste para a Paróquia de Anacetaba, veio substituí-lo o Pe. Francisco Hélio Campos, que permaneceu no pastoreio até 1958, quando foram desmembradas da paróquia e constituídas autônomas as capelas Monte Castelo ( Senhor do Bonfim), Carlito Pamplona ( N.S.P.Socorro) e Pirambu ( N.S.das Graças). Com a saída do Pe. Hélio foi nomeado seu irmão, Pe. Gerardo Campos que ficou até 15 de fevereiro de 1958 a 01 de julho de 1958. Logo a seguir, assumiu o paroquiato, em caráter interino, Pe. Ivanildo Bastos Pinheiro até a vinda aos 15 de março de 1959, do Pe. Francisco Mirton Bezerra de Lavor, que foi muito ajudado pelos Revmos. Pe Pio Pinho, Pe. Teógenes Gondim capelão da EAM e Pe. Rinaldo Guimarães também cooperador. Vale destacar que a Paróquia de São Francisco, sempre teve como matriz a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, a qual durante vários anos fora assistida pelos Padres Franciscanos da Igreja Nossa Senhora das Dores. É inesquecível a atuação de Frei João Batista


Os que transitam na Avenida Presidente Castelo Branco, popularmente conhecida como Leste Oeste, observam, na altura da Escola de Aprendizes Marinheiros, uma construção inacabada, que bem lembra uma fortaleza inexpugnável, por seu piso elevado a suportar espessas paredes, desprovida de qualquer cobertura, deixando-a inteiramente exposta às intempéries ambientais.
Essa obra permanece paralisada, lastimavelmente, há cerca de cinco décadas, dando uma péssima impressão ao espírito empreendedor do povo cearense que, por impulso público ou por motivação privada, é capaz de grandes realizações.

Crédito da foto: Glauton

No final dos anos cinquenta do século passado, os moradores do bairro Jacarecanga e suas redondezas, em Fortaleza, estavam bastante estimulados para construir um novo templo que substituísse a diminuta Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, inviável para comportar o considerável número de devotos que a buscavam.

Sob o lema da campanha “Em prol da construção da Igreja de São Francisco de Assis”, havia um esforço coletivo, com vasto envolvimento de paroquianos, para captação de doações ao lado de outras ações, com vistas à obtenção de recursos financeiros, para a concretização da obra.
Uma combinação de causas, todavia, concorreu para minar a pretensão daquela comunidade paroquial de contar com essa sacra edificação, cujo projeto estava a cargo do engenheiro e professor Amauri Araújo. Por certo, o afastamento do seu timoneiro, o Padre Hélio Campos, deslocado inicialmente para o Pirambu, onde faria um duradouro trabalho social em favor dos carentes e oprimidos, e depois quando guindado foi, em definitivo, ao bispado, deixou a nau à deriva, ou mesmo estagnada na calmaria.


Vários templos católicos foram levantados nos últimos anos, em Fortaleza, mercê da capacidade de alguns padres seculares para arregimentar recursos, humanos, financeiros e materiais, a exemplo do Pe. Ferreira e do Pe. Dourado, que premiaram a capital com a Igreja de Sta. Edwirgens, na Leste Oeste, e a Igreja de N. Sra. de Lourdes, nas Dunas.

Retomar as obras e soerguer a Igreja de São Francisco de Assis, pode ser um grande desafio para o Pe. Haroldo Coelho, atual vigário coadjutor da paróquia a que pertence essa igreja. Esse feito, somado ao engajamento político e social desse prelado, um defensor permanente dos descamisados e dos marginalizados, dar-lhe-á, certamente, uma dimensão pública ainda maior, além do reconhecimento dos fiéis e dos devotos franciscanos.
Que venha a nova igreja. Mãos à obra, Pe. Haroldo.


A construção da Igreja de São Francisco está paralisada há quase 50 anos. Mesmo com a estrutura comprometida, ainda são realizadas celebrações no local. 
Diante do número crescente de devotos, a previsão é de que as obras sejam retomadas.
Até agora apenas 30% dos recursos foram arrecadados, através de doações. A obra deve custar R$ 3 milhões. A nova igreja terá capacidade para 2,5 mil pessoas.



Crédito: Patrimônio para todosJornal o Povo, 23/05/09. Jornal do Leitor. pág 3 e Ceará é notícia

Avenida Santos Dumont - Aldeota



 “Não dizem que o tempo tem asas? Pois tem mesmo. Na Aldeota levantaram-se riquíssimos bangalôs, agora chamadas ‘casas funcionais’. Quase todos brancos, bela estupidamente brancos numa terra de sol. Doem na vista? Mas ficam bem na paisagem entre o verde do mar e o azul do céu, num suave lombo de terra, que se abaixa cautelosamente em busca da praia.”

 “Numa topografia diferente, microgeográfica, Aldeota se personaliza, assume limites certos, cria a sua própria alma, amadurece enfim ‘Aldeota’”.

Aldeota, na década de 1960 - pág 286 - Jader de Carvalho


A  Avenida Santos Dumont, antes fora denominada - Av. Nogueira Acioli - (1933), de No 9 - (1890), “Do Colégio” (1888) - Registra João Nogueira - Fortaleza Velha, pág. 43.



Avenida Santos Dumont vai do Centro da cidade à Praia do Futuro. Começando na altura da Rua Cel. Ferraz, terminando na Av. Dioguinho, se interligando desde o Centro, Aldeota, aos bairros VarjotaPapicuPraia do Futuro. Outrora, somente uma ampla dimensão de terra virgem e inóspita formava a paisagem do Outeiro - hoje Aldeota - com alguns sítios, matagal espesso, cuja copagem, com predominância de arbustos, carrapicho-da-praia, servia de moradia das diversas espécies de pássaros - como os bem-te-vis-de-gamela, galos de campina, graúnas, sabiás, canários, da terra, dessa imensa fauna que os repetidos estribilhos despertavam novos moradores, tornando Aldeota essa “selva de pedra” que se ergue em desafio ao céu, mas, tudo isso tem clássico nome de modernidade.

Zenilo Almada

Essa era a casa do presidente do estado na Av. Santos Dumont
No final da Segunda década do século passado, foi construída a casa que ilustra a foto antiga, era a Vila Quixadá, que ficava na Avenida Santos Dumont nº 1169, construída por Adolfo Quixadá para sua residência. Após alguns anos foi alugada ao governo estadual que a usou como residência do Presidente do Estado. Em 1930 a casa volta às mãos da família Quixadá e nela inaugurava-se, no dia 6 de março o Ginásio São João, dirigido pelo professor César de Adolfo Campelo e que em 1943 passou a ser Colégio São João.Em 1976, o colégio foi vendido para a Organização Farias Brito, mudando o nome para Farias Brito-Aldeota/1. Depois a casa foi vendida e em seguida demolida, sendo levantado no local um novo prédio que abriga hoje um supermercado. (Créditos – Nirez) - Blog do Borjão

Colégio Militar, na Av. Santos Dumont, a Igreja do Cristo Rei está de costas na foto - 1940

A Avenida Santos Dumont é uma das avenidas mais importantes de Fortaleza.
É uma das vias mais longas da cidade com mais de oito quilômetros ligando o bairro Centro a zona leste de Fortaleza chegando até a Praia do Futuro cruzando o bairro Aldeota. 

A avenida começa estreita e de sentido único oeste-leste a partir da rua Coronel Ferraz sendo alargada a partir da rua Dona Leopoldina. A partir da rua Tibúrcio Cavalcante a avenida ganha um canteiro central e passa a ser de sentido duplo. Quase que totalmente uma linha reta, após seu prolongamento na subida das dunas da praia do Futuro, ganha uma curva na descida para a praia a partir da rua dos Tapajós. A partir dessa rua até o seu fim na Avenida Dioguinho seu canteiro central é bem largo.

Colégio da Imaculada Conceição

Existe uma grande quantidade de instituições, empresas e centros comerciais situadas ao longo de sua via tais como Colégio Militar de Fortaleza, Colégio da Imaculada Conceição, Shopping Del Paseo, Shopping Center Um, Unimed Fortaleza, Hospital São Mateus, Hospital Gênesis, Hospital e Maternidade Gastroclínica, BNB Clube de Fortaleza, Tribunal Regional do Trabalho, Funasa, Central de Artesanato do Ceará, dentre outros.

Avenida Santos Dumont - 1957 - Arquivo IBGE

1957 - Detalhe para o muro baixinho - IBGE

Foto do arquivo do IBGE

1957 - Arquivo do IBGE

Final dos anos 50 - IBGE

Casa na Av. Santos Dumont no final dos anos 50 - Arquivo IBGE

Casa na Av. Santos Dumont - 1968 / Crédito da foto: Alba

Jumbo do Center Um - 1976

Na foto os atores Milton Moraes e Vera Gimenez descendo a rampa, depois de fazer compras. Também podemos ver o Cine Gazeta por trás da palmeira (Cena do filme “O Homem de Papel”) Crédito : O Povo 

 Avenida Santos Dumont integra a lista das poucas vias de Fortaleza que ainda conservam algumas árvores nos canteiros centrais

Foto de D'Neto

Morou na Av. Santos Dumont:

João Hippolyto de Azevedo e Sá

João Hippolyto nasceu em Fortaleza a 13 de agosto de 1881,  - se vivo fosse iria completar 122 anos - Filho de Jeronymo Vieira de Azevedo e Sá, e neto paterno de João Batista de Azevedo e Sá e Anna Vieira de Azevedo e Sá e materno de Domingos Pereira Façanha e Ana Bayma Façanha.

Fez o curso de preparatórios no Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II, e matriculando-se a princípio na Faculdade da Bahia, em que fez o primeiro ano, e depois na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendeu tese em 22 de janeiro de 1904.

Sua tese foi aprovada com distinção, versou sobre segredo médico. Em 1º de março de 1904, foi nomeado professor interino de Física e Química na Escola Normal do Estado e efetivo a 30 de fevereiro de 1908.

À 7 de dezembro de 1905, foi nomeado para a Secção de operações e partos no Hospital de Misericórdia de Fortaleza.

Permaneceu várias décadas como diretor da Escola Normal Justiniano de Serpa, cujo cargo se aposentou. Após sua aposentadoria, foi convidado a exercer em comissão o cargo de diretor do Instituto de Educação no qual ficou por alguns anos, era avô de Márcio de Azevedo e Sá Livinio de Carvalho, já falecido.
Dr. Hipólito, como era conhecido, residiu por muitos anos na Av. Santos Dumont No 2110, esquina com a Rua Silva Paulet, ponto final do bonde Aldeota. Nesse local, se acha instalado o Banco Mercantil de São Paulo.



Fontes: Zenilo Almada, Wikipédia

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

João Facundo de Castro Menezes - O Major Facundo




De acordo com o historiador Barão de Studart

“Major Facundo, foi à influência mais legítima e real que teve a província do Ceará”.

João Facundo de Castro Menezes nasceu em Aracati, Ce, no dia 12 de julho de 1787. Filho do Capitão – Mor José de Castro e Silva e Joana Maria Bezerra de Menezes.
O Capitão-mór José de Castro e Silva teve do seu casamento, celebrado em 22 de Agosto de 1768 com D.Joana Maria Bezerra, além de João Facundo dez filhos; sendo cinco homens e cinco mulheres. Os primeiros anos de João Facundo, ocupados na vida do comércio em Aracati e depois em Fortaleza, para onde mudou-se em 1818, nada oferecem de notável, mas acontecendo envolver-se por muitos lustros nas lutas travadas na província por motivo de partido e de nacionalidade, sua passagem por elas deixou vestígios inapagáveis. Quando de Pernambuco se estenderam ao Ceará as idéas da Confederação do Equador e a nova comarca do Crato hasteou em Outubro de 1822 o estandarte da revolta, foi Facundo metido em arbitraria e despótica prisão e deportado para uma fortaleza no Rio de Janeiro de onde o fez sair um honroso mandado Imperial. Esses vexames, de que também partilhou seu primo e conterrâneo Capitão-mór Barbosa, eram consequência lógica das idéas que comungavam em matéria de política, a família Castro opondo-se ao reconhecimento do governo de que se constituíram chefes Tristão Gonçalves d'Alencar Araripe, José Pereira Filgueiras e Padre Gonçalo Ignacio d’Albuquerque Mororó. Em data de 14 de Abril de 1824, Barbosa assinou com seus companheiros do Senado da câmara, Marcelino de Brito, Manoel José Martins Ribeiro Júnior, Ignacio Ferreira Gomes e José Antonio Machado um protesto contra os manejos de Tristão e conjurou-o a que se demitisse do posto, que ilegitimamente assumira e concluiu lançando lhe sobre os ombros a responsabilidade de toda e qualquer desgraça, que em Fortaleza acontecesse por motivo de não aquiescência ao convite do Senado. Em resposta a esse ofício, a Municipalidade recebeu obstinada e formal recusa asignada por Francisco Pinheiro Landim, José Pereira Filgueiras, Tristão Gonçalves d'Alencar Araripe e Miguel Antonio da Rocha Lima (secretário), recusa cuja minuta fora feita pelo Padre Mororó. Convencidos os Castros e seus amigos que os revoltosos não cederiam de seu propósito, nem reconheceriam o Tenente-coronel Pedro José da Costa Barros, presidente nomeado pelo Governo Central desde 25 de Novembro de 1823, e que então já estava no porto pronto a desembarcar da corveta “Gentil Americana”, reuniu-se de novo o Senado da Câmara a cuja sessão compareceu o comandante do batalhão de 1ª linha Sargento-mór José Narcizo Xavier Torres e passou a instituir um governo provisório, cuja Presidência foi assumida pelo 2º vereador, pois o 1º, Joaquim Antunes de Oliveira, temendo comprometer-se, dera parte de doente. Estando as coisas assim, Tristão, Landim e seus amigos retiraram-se apressadamente, mesmo sem cavalgaduras, para a vila de Arronches onde estabeleceram quartel general e deonde espiavam a cidade de Fortaleza e suas proclamações e de tais meios se serviram, não sendo o de menor importância a divulgação da noticia de ter sido Filgueiras elevado ao posto de brigadeiro e feito Governador das Armas, que conseguiram a suspensão de Facundo do comando do Batalhão dos Nobres e a prisão de Barbosa. Isto se passava no dia 15, quinta-feira santa, e nesse mesmo dia tinha o desembarque de Costa Barros. Chegada no dia seguinte a nova do bloqueio do Recife e da critica posição de Paes de Andrade. Tristão apressou-se em convidar Costa Barros a assumir a presidência da Província, o que se realizou com satisfação de todos os cearenses, que viram restituídos as suas famílias Facundo, Barbosa e companheiros. Não tinha, porém, ainda soado a hora do extermínio completo da República do Equador no Ceará; rios de lagrimas deviam ainda derramar-se e sangue precioso tingir o solo da pátria. Diogo Gomes Parente e Francisco Alves Pontes, que vinham de Pernambuco trazer palavras de animação e assegurar a esperança de decisiva vitória, seguiu Filgueiras para o Aquiraz, depois voltou a Messejana e desta última,expediu ordem a Luiz Rodrigues Chaves, já então feito comandante do batalhão da capital, para que prendesse e remetesse para bordo da fragata ingleza “Jubile “ João Facundo, Joaquim Barbosa, Marcelino de Brito, Manoel Martins, José Narciso Xavier Torres, Manoel Antonio Diniz, Francisco Xavier Torres, João da Silva Pedreira, Sargento-mór Jeronymo Delgado Esteves e o Tenente José de Abreu. Postos na impossibilidade de lutar, os inimigos mais salientes dos planos de Tristão, Filgueiras oficiou ao Presidente Costa Barros para demitir-se do lugar que ocupava e deu-lhe por substituto Tristão Gonçalves que entrou em exercício.

Contrário à Junta Governativa formada por Tristão Gonçalves, Padre Mororó e Pereira Filgueiras, Major Facundo (como já foi dito),foi preso e enviado para o Rio de Janeiro, sendo libertado por ordem de D. Pedro I.
Era defensor das idéias políticas da família Castro, e chefe do Partido Liberal, por ocasião da Confederação do Equador.
Deixa novamente o Ceará, com a declaração da maioridade fornecida por D. Pedro II, e assume interinamente a Presidência da Província do Ceará em substituição ao Padre José de Alencar, exonerado da Presidência do Ceará em março de 1841, por ocasião da queda dos liberais no Rio de Janeiro.
No dia 9 de maio é nomeado um novo Presidente do Ceará, Brigadeiro José Joaquim Coelho.
O Major Facundo, embora fosse seu Vice-Presidente, lhe fazia cerrada oposição.
Esta divergência deu motivos a que a esposa do Presidente contratasse um matador que assassinou Facundo, no dia 8 de dezembro de 1841 em frente a sua própria residência, na atual Rua Major Facundo.
No local onde funciona hoje a Livraria das Edições Paulinas.
Os executores, Antônio Manuel Abraão e Pedro José das Chagas foram condenados à prisão perpétua, e Joaquim Ferreira de Sousa Jacarandá, que serviu de intermediário na contratação dos criminosos, foi julgado 3 vezes e absolvido.

Bala assassina desfechada às  19:30hs da noite de 8 de Dezembro libertou os conservadores de poderoso adversário e roubou aos liberais seu chefe prestimoso. Era então presidente da Provinda o brigadeiro José Joaquim Coelho, depois Barão da Vitória, juiz de direito e chefe de polícia da comarca da capital o Bacharel Miguel Fernandes Vieira e comandante da policia Franklim do Amaral. Procederam ao corpo de delito e exame cadavérico com assistência do juiz de paz Capitão-mór Barbosa e do escrivão Antonio Lopes Benevides o Cirurgião-mór da província Joaquim da Silva Santiago e o Cirurgião Francisco José de Mattos. É este o auto de corpo de delito, a que mandou proceder o Juiz de paz do primeiro ano, Capitão-mór Joaquim José Barbosa:

(*)“Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Chisto de 1841, aos nove dias do mez de Dezembro do dito anno nesta cidade da Fortaleza, cabeça da Comarca e Província do Ceará Grande, em casa de morada do Major João Facundo de Castro e Menezes, onde foi vindo o Juiz de Paz do primeiro anno, Capitão-mór Joaquim José Barbosa commigo Escrivão de seu cargo ao diante nomeado, o Cirurgião-mór da Província do Ceará Grande Joaquim da Silva Santiago e o Cirurgião Francisco José de Mattos para effeito de se proceder a exame e corpo de delicto no cadáver do dito Major João Facundo que havia sido assassinado á noite antecedente com tres tiros e logo pelo dito Juiz de Paz-foi deferido aos ditos peritos o juramento dos Santos Evangelhos em um livro delles a um depois de outro, encarregan-do-lhes que com boa e san consciência examinassem o corpo do cadáver que estava presente e declarassem quantos ferimentos, noduas e contusões tinha o dito cadáver em seu corpo, suas qualidades e cituações e se dellas provinha a morte. E recebido por elle, dito juramento assim o prometteram cumprir e guardar como lhes era encarregado, e logo na presença do dito Juiz e de mim Escrivão passaram os ditos peritos a examinar o corpo do dito cadáver e declararam ter este uma ferida longa sobre a parte lateral media e inferior do craneo do lado direito com fracturas ou grandes destruições nos ossos parietal, escamosa do temporal e coronal até a apophyse todos do mesmo lado direito com extensão de duas polegadas de boca circularmente penetrando a cavidade do craneo em direcção obliqua para a baze posterior e inferior do occipital com perdimento e grande destruição de cérebro e grossos vasos; outro ferimento junto ao condylo esquerdo do occipital, contendo uma polegada de extensão triangularmente sem fractura da sutura cotnboi-dia e destruição da porção cerebellar, cujo ferimento ultimo denota ser havido dos corpos superiormente impellidos. Estes ferimentos foram feitos com arma de fogo e pelos estragos notados em entranhas; órgãos e vazos tão necessários á vida foram absolutamente mortaes. E por esta fôrma houve o dito Juiz este auto de corpo de delicto por terminado. Eu Escrivão dou minha fé por ser todo o conteúdo em verdade por vêr e presenciar ditos ferimentos da cabeça do dito cadáver, e de tudo para constar mandou o dito Juiz de Paz fazer este auto em que assignou com os ditos peritos. Eu Antonio Lopes Benevides, Escrivão o escrevi.—Joaquim Jose Barbosa, Joaquim da Silva Santiago, Francisco José de Mattos”. 


Nota de falecimento do Major Facundo publicado no Jornal O Cearense de 1846.

Possuo ainda a camisa que vestia Facundo ao ser assassinado. Sobre o bárbaro crime são dignos de leitura os Discursos, que na presença do Imperador recitaram a 5 de Janeiro de 1842 o Senador Alencar, o deputado Padre Carlos de Alencar e o Dr. José Lourenço, presidente da Câmara de Fortaleza. Estão publicados no Maiorista, do Rio de Janeiro (Janeiro de 1842). O illustre cearense, pode-se dizer, suicidara-se: como a Cezar, não lhe faltaram avisos de que sua vida corria enormissimo perigo, risco iminente; como a Pelegrino Rossi chegaram-lhe nefandas traições; mas tais eram os sentimentos que em sua alma se aninhavam que nunca se arreceou de ser vítima do bacamarte assassino por motivo político, por ódio partidário. Disto temos prova em carta sua. Um dia, era a festa do Espirito Santo, a família Castro reunia-se no Meireles em casa de Manoel Lourenço, residência hoje da familia Silva Porto, e João Facundo para lá se dirige pelo caminho, que fica à direita do Palácio Episcopal ; os assassinos emboscaram-se neste ponto, mas frustrou-se o plano tenebroso, porque a vítima voltara por caminho diferente, pela beira-mar; em outra ocasião achava-se ele em casa do seu parente Capitão-mór Barbosa, onde foi o Hotel das Quatro Nações, posteriormente consultório do cirurgião dentista Guilherme Sombra e atualmente é a Casa Bordallo. Os assassinos, postados na então Praça Carolina bem em frente da atual Assembléa, retiram dentre feixes de capim as espingardas Carregadas, fazem por vezes pontaria para as janelas do sobrado, que lhes fora designado, mas ainda desta feita frustra-se o assassinato por não ter havido ocasião propícia a perpetração do horrendo crime. Porém a 8 do mês de Dezembro tinha execução o tenaz e deliberado propósito e em hora infeliz realizavam-se as previsões e os temores dos amigos e dos parentes do infeliz cidadão. Compreende-se o que acontecia então nas ruas da cidade, no seio da família em sobresalto. Por toda parte surgiam gritos de vingança, protestos de energia indescritível. A polícia, essa não permitia que se fizessem ajuntamentos de mais de três pessoas e trazia á vista os membros mais conspícuos da familia perseguida e seus mais dedicados amigos, e em altas vozes os homens do governo prometiam prêmios a quem descobrisse os matadores, cerravam ouvidos aos nomes, que o clamor público apontava e mais tarde protegiam abertamente os mandantes do atroz delito. Decorridos tantos anos depois do triste sucesso, se pode hoje dizer sem rebuço os nomes dos criminosos. Foram eles:

a mulher de José Joaquim Coelho (mandante), Antonio Abrahão e Chagas (executores), Cel Agostinho e Joaquim Jacarandá (intermediários). Aliás a Baronesa da Vitória nos últimos tempos de sua vida não mais escondia a parte importante, que tomara na tragédia. Os mandatários do assassínio de Facundo, o preto Antonio Manoel Abrahão, natural de Crateús, e o cabra Pedro José das Chagas, natural de Caxias, Maranhão, foram anos depois condenados a galés perpetuas pelo júri de Fortaleza; Joaquim Ferreira de Sousa Jacarandá, o intermediário entre os assassinos e a mulher de José Joaquim Coelho, a mandante do crime, foi julgado três vezes, sendo absolvido na 1ª, condenado a galés perpétuas na 2ª e absolvido pelo voto de Minerva na 3ª. Seus restos repousam na Igreja do Rosário, corredor à mão esquerda, junto ao túmulo de seu primo e amigo, Capitão-mór Barbosa, falecido de lesão cardíaca a 23 de Outubro de 1847.


 “AQUI JAZEM/ OS RESTOS MORTAES/ DO MAJOR/ JOÃO FACUNDO/ DE CASTRO MENEZES/ VICE PRESIDENTE DA PROVÍNCIA/ ASSASSINADO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1841/ SENDO PRESIDENTE/ JOSÉ JOAQUIM COELHO./ NASCEO AOS 12 DE JULHO/ DE 1787.


TRIBUTO D’AMISADE/ DA SUA INFELIZ ESPOSA/ D. FLORENCIA D’ANDRADE/ BEZERRA E CASTRO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1842.”

A rua mais bela da capital do Ceará, a antiga rua da Palma, aquela onde se acha situada a casa, que o viu cair ferido mortalmente, honra-se hoje com o nome do Major Facundo. A casa é aquela em que tem estabelecimento de ferragens a firma Viúva Villar e Filhos. Um ano e cinco meses depois do assassinato, a 19 de Maio de 1843, voltava para casa pelo braço de Elesbão Bittencourt, filho do presidente Silva Bittencourt e acompanhada de todos os seus juizes a esposa de Facundo, D. Florência de Andrade Bezerra de Castro, acusada de conspirações e metida em monstruoso processo. Os jurados, que por unanimidade absolveram a D.Florência de Andrade foram Manoel Joaquim de Almeida, Manoel José Ladislau, Antonio Pereira Martins, Vicente Ferreira M. Pereira, Vicente da Costa dos Anjos, Valério Raulino de Souza Uchôa, Constâncio Dias Martins, Joaquim de Macedo Pimentel, José Gervásio de Amorim Garcia, João Pacheco Ferreira, Luiz V. da Costa Delgado Perdigão e Francisco Manoel Gafanhoto.

Facundo foi comandante do batalhão dos Nobres de Fortaleza, e condecorado com o hábito de Christo. Dona Florência de Andrade B. e Castro nasceu em Paraiba a 21 de Agosto de 1787, casou a 14 de Maio de 1814 e faleceu a 11 de Setembro de 1865 em Fortaleza.
O Major João Facundo e D. Florência de Andrade deixaram a seguinte descendência: Antonio Facundo de Castro Menezes, nascido a 18 de Novembro de 1816 e falecido no Pará a 1º de Janeiro de 1878; Maria Joanna de Castro Barbosa, nascida a 8 de Julho de 1818, casada com seu primo o Major Joaquim José Barbosa e falecida a 13 de Junho de 1849; Cândida Augusta de Castro Menezes, nascida a 15 de Janeiro de 1824 e falecida a 3 de Junho de 1864; Dr. Ernesto Facundo de Castro Menezes, nascido a 7 de Novembro de 1828 e falecido a 13 de Novembro de 1859; Camerino Facundo de C. Menezes, nascido a 21 de Agosto de 1830 e falecido em 1908 no Pará.

Saiba Mais: 

O sepultamento do Major Facundo ocorreu na Igreja do Rosário.
No local existe uma lápide com inscrições relativas ao fato.
A pedido de sua esposa, foi sepultado de pé, no interior de uma coluna na Igreja.
Esta Igreja, localizada no centro de Fortaleza, é mais antiga igreja de alvenaria do Ceará.
Durante reforma recente, importantes descobertas arqueológicas foram efetuadas nas escavações realizadas no local.

Suas idéias políticas premiam pela legalidade, tendo sido este alvo de perseguições, prisões arbitrárias e por diversas vezes, deportado para o Rio de Janeiro.
Foi deputado estadual e Presidente da Província do Ceará.
Seu nome batiza uma das mais importantes vias centrais da capital cearense, conhecida anteriormente como Rua da Palma.

Em conseqüência das séria desavenças políticas entre liberais e conservadores, foi assassinado em uma emboscada por pistoleiros contratados pela mulher do então presidente nomeado da província, José Joaquim Coelho.
Faleceu em 8 de Dezembro de 1841, em Fortaleza.

(*)Grafia de época
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Crônica de Raymundo Netto para o jornal O POVO

Finalmente! Estava já incomodado com a equívoca ideia que imprimi ao Lustosa da Costa de que não aceitava-lhe a companhia para almoço, repetidas foram as recusas involuntárias justificadas sempre à imprevisível agenda de escravo branco.
Marcamos o encontro no Centro, é claro, e fiel aos bons costumes, pensava em almoçarmos no L’Escale, restaurante de vista patrimônica, um dos poucos em que se pode sentir nos pés os luminosos estalos de soalhos tabuados. Entretanto, ao transpor a lateral do corredor da sacristia da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, gritos desesperados nos tomaram reparo:

— Tirem-me daqui, vamos! Quero sair... Exijo! Sou Comandante do Batalhão dos Nobres... Abram! Abraaaam!!!

Entreolhamo-nos e, curioso, Lustosa entrou com vagar na igreja, dando de cara com o Paulinho, agente pastoral, que girava de maneiras de peão a coçar a cabeça confusa.

— Que é que está acontecendo aqui, homem? — perguntou o Lustosa.

— É o Major... Ai, meu Deus... Amanheceu hoje com a macaca! Ai, meu Deuuuus...

Sim, gentis ledores, para quem não sabe, o Major Facundo, ex-Vice-Presidente da Província — ser Vice já não é fácil, imagine um ex-Vice... — aquele mesmo que emprestou seu nome à antiga rua da Palma, a que embeiça a praça do Ferreira, encontra-se sepultado ali, em pé, numa parede fria da igreja, de vistas ao Palácio da Luz, antiga sede do Governo do qual era servidor. Dos 168 anos que lá habita, até o presente, comportou-se disciplinarmente, sem incomodar os que pela nave arrastam joelhos em troca da serena paz de flores de lis, paz esta que, ao que parece, o Major não compartilha.

Por detrás de um bloco adornado artesanalmente em mármore e pedra sabão de Lisboa, encontra-se o corpo, velado pelo texto em letras de tipos variados, quase como a enredar um enigma:

“AQUI JAZEM/ OS RESTOS MORTAES/ DO MAJOR/ JOÃO FACUNDO/ DE CASTRO MENEZES/ VICE PRESIDENTE DA PROVÍNCIA/ ASSASSINADO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1841/ SENDO PRESIDENTE/ JOSÉ JOAQUIM COELHO./ NASCEO AOS 12 DE JULHO/ DE 1787.
TRIBUTO D’AMISADE/ DA SUA INFELIZ ESPOSA/ D. FLORENCIA D’AND[R]ADE/ BEZERRA E CASTRO/ A 8 DE DEZEMBRO DE 1842.”


Ao passar levemente a mão no friso dourado que contorna a lápide, não sei como, mas devo ter acionado alguma trava secreta: uma porta rangedora se abriu e, com ela, uma mal cheirosa e encofrada poeira do tempo escapou. O Paulinho, com as mãos à cabeça raspada, correu atrás de um rodo: “O chão, o chão!!! Ai, meu Deeeuuuss... O Majooor!!!”
Assistimos então ao trôpego militar que saía, coitado, com um chapelão emplumado bamboleando sobre uma têmpora — a outra foi perdida no “acto delitoso que o victimou” —, o quase não-pescoço posto em forro por babados amarelados pousados à larga lapela azul, a sacudir a areia fininha que escorria pelas dragonas. Ainda assim, bateu continência ao Lustosa, conjecturando, em solene ato, estar de cara com um general. Não rogado, o Lustosa que o observava atento, colocou as mãos pacientes às costas:

— Descanse, meu filho, descanse... Mas me conte: o que te deu para depois de tanto tempo estar assim tão alterado?

— Desculpe-me, senhor, impacientei-me. Não sou homem de ficar parado. Gosto de trabalhar e tempos há que espero, ansioso, a pátria convocação.
— Mas você morreu, cristão... Que diabos ainda quer por aqui, criatura?

O pobre oficial qual sabia o que queria; vertia areia por todo poro, desculpava-se amiúde e, por um momento, ateve-se apenas a desembaraçar os braços à luz, afora da janela, sorrindo, ao senti-la desbridar-lhe o mofo. Vez ou outra o pobre Major engolia seus pensamentos — ou meio pensamentos — e ficava tanto que abestado... Não proferia duas palavras não fosse uma “casa”. Ora, o cadáver, numa crise pós-existencial alegórica platônica, não perdera seu costume provinciano e decidira rever sua casa. Tivemos que levá-lo, cruzando a praça dos Leões que, já acostumada a todo o tipo de “arrumação”, nem ligava para a figura espantalhesca do Major... É claro, eu sabia que a nossa Fortaleza — que tem a tradição de não ter tradição — não se trairia, e por certo haveria de ter posto abaixo a casa do Major. Deveras, passamos algum tempo ali, na Major Facundo com a São Paulo, à esquina, onde a tintura da memória desenhava-lhe uma imagem querida. Acocorado à calçada — era de dar dó —, o Major desfiava a fatídica noite: Estava ele e a esposa concluindo o jantar, às 8 h, quando deram por recostar-se a uma das sacadas que dava para a Palma. Era noite sem luar, negrume à rua. A Florência inda conseguira perceber na esquina da frente, no meio de entulhos, estranho cintilar. Quase conseguia alertar o marido quando o disparo se deu. Por um pouco, os estilhaços da carga do bacamarte não deram fim também à mulher. Tragédia. Antes, sofrera outras emboscadas, na rua da Ponte e na praça da Carolina, mas escapara. Por um és-não-és, escapara... Lamentava o som daquele tiro que não lhe deixava mais o ouvido. Chorou, por único olho, uma gosma amarelada, ralinha, granulada de areia.

O Lustosa acompanhava o relato com poucas falas. Como repórter que é, não resistia a interrogar o Major que, de vezes, o respondia:

— Ô, Joazinho, é verdade que seu partido colocou arsênico na água dos deputados?
— Era apenas tártaro emético, General. — exclamou de pronto, ainda crendo general o colunista. — Ideia do Dr. José Lourenço. Eu que nem sabia disto... Fechou a Assembleia. Foi um Deus nos acuda... Mas, mudando de assunto, e os meus assassinos? foram presos? condenados? morri em vão?

Expliquei ao pálido aracatiense que seus executores, o negro Abraão e caboclo Chagas, foram condenados, sim, e à prisão perpétua. Escaparam da forca por um pouquinho assim... Mas ainda hoje a sua morte é um mistério. A mandante do crime, acredita-se ser, a mulher do Presidente da Província na época. Estes saíram impunes.

— A baronesa? O Presidente? Mas... — Por esta, não esperava.

— Sim, e uns tais José Agostinho e Joaquim Jacarandá. — complementei.

— Agostinho é coronel do Icó, um “carcará”... Jacarandá, este é um sem importância, um alferes do palácio. Que vil traição...

— Não estranhe não, Major — interveio o Lustosa —, vejo urso de gola para entender essa tal de política... Pense numa máquina de fazer doido! Você é um herói. Eu mesmo é que não sirvo nem para comandar barraquinha de pamonha, e vossa mercê um Vice-Governador...

— E o senhor meu Rei? Qu’é dele?

—Rei hoje em dia é artigo de luxo de bloco de carnaval, João. Acorda, homem! O nosso Presidente é um operário que posa ao lado da rainha inglesa e é aclamado pelo Presidente dos Estados Unidos como o político mais popular da Terra. Nem fala tantas línguas quanto porteiro de hotel europeu, nem é sociólogo. Apenas um brasileiro, formado pela universidade da vida.

— República? Presidente? Um peão?

— Ora se... Os tucanos, aqueles que se opõem ao operário, não querem reconhecer os avanços e conquistas das classes menos favorecidas nos últimos sete anos de uma política econômico-financeira exitosa. Também não admitem discutir as delícias e vantagens do governo FHC, aquele em que o Brasil faliu duas vezes, teve de vender, a preço de banana, ativos preciosos e ainda agigantou dívida interna pequena deixada por Itamar Franco.

— Tucanos? FHC?

— Sim, e o Degas aqui é bem capaz de deixar seu jamegão no que digo... E, olhe, Major, digo mais, sempre aconselho a amigos de meu tope, a aposentados como eu e você, que é muito melhor, na atual fase da vida, ou da morte, no seu caso, adquirir um computador que arranjar uma rapariga. Porque uma mulher adicional, a esta altura dos acontecimentos, por razões óbvias, só vai lhe causar decepções. Eu conheço um restaurante, se permite um comercial modesto, o Barrigudo, lá na estrada de Massapê, em Sobral que eu não esqueço, que tem uma ova de curimatã... Depois podemos tomar um champã, percebo-lhe um pouco seco..., e conhecer minha biblioteca, o que acha? E sabe o que mais, se eu não fosse jornalista, Joãozim, eu seria que nem tu: defunto!

E assim, nosso esperançado almoço, mais uma vez, foi para as cucuias. O Major se foi em coreias com o filho do seu Costa e dona Dolores que decidiu, por fina força, atualizar o ressuscitado. E certo de que você não pode tirar da cabeça o que não botou dentro dela, me despeço, ainda com fome: até uma próxima!

Major Facundo, militar assassinado por questões políticas, em sua própria residência, a mando da esposa do, então, Presidente da Província. Em 1879, a Câmara Municipal, decidiu homenageá-lo conferindo seu nome à rua em que morava.

Francisco José Lustosa da Costa nascido em 1938, em Cajazeiras da Paraíba, veio menino à Sobral, onde, em 1954, ingressou no Correio da Semana. Em Fortaleza escreveu para O Unitário, Correio do Ceará e colaborou no Anuário do Ceará, do amigo Dorian. Em 1974 passou a morar em Brasília e escreveu para O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Escreveu diversos livros, muitos sobre Sobral, e costuma dizer que as pessoas só batem palmas à gente morta. Pois tome essa crônica como tais palmas (a Major Facundo não era a rua da Palma?)
Raymundo Netto


Fontes:Diccionario Bio-bibliographico Cearense - Barão de Studart, Enciclopédia Nordeste e Raymundo Netto

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