Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Prainha de outrora... Parte III


Rua Dragão do Mar

Em pequena casa que tem hoje o nº 198 da rua Dragão do Mar e os números 117 a 119 da rua Almirante Jaceguai, moravam as velhinhas Mariana e Demétria, irmãs de Telésforo de Abreu, ocupante da Casa Boris, como ficou registrado aqui quando foi feita referência a uma das peraltices de Gustavo Barroso.


Casa Boris em 1921. Vista fronto-lateral do prédio - Foto Pierre Seligman

Casa vizinha a essa foi uma das residências do pai do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, este enquanto solteiro.  No local atualmente se levanta um sobrado (nº 2012 da Rua Dragão do Mar), onde instalada estava a firma H. B. Transportes.


Rua Dragão do Mar

Do lado leste deste prédio havia um armazém de peles e couros de IONA e CIA, empresa do industrial pioneiro Delmiro Gouveia, cujo gerente era o futuro capitalista José Magalhães Porto, que viria a ser tesoureiro da Liga Eleitoral Católica (LEC), pai do médico José Porto Filho (Zebinha) e avô de Dona Miriam Fontenele Porto Mota, esposa do governador Luis de Gonzaga Fonseca Mota. Em 1983 era um sobrado desocupado e a alugar. É o nº 218 da rua Dragão do Mar.


Rua Dragão do Mar

Prosseguindo na direção leste da rua, encontramos o prédio que tem o nº 242. Pertencia a D. Maria Pio, esposa de José Pio, construtor do primeiro bungalow de Fortaleza, na Praça Cristo Redentor.

Na esquina sudoeste das ruas Dragão do Mar (antiga da Praia e da Alfândega) e Senador Almino (antiga do Arrecife) levanta-se o prédio assobradado em que nasceu e viveu por muitos anos o grande intelectual Araripe Júnior. Tem hoje os números 316 e 322 da Rua Dragão do Mar. Merecia melhor tratamento da parte dos poderes públicos.


Araripe Júnior

Em frente, esquina noroeste das ruas Dragão do Mar e Senador Almino, sem numeração, permanece a casa em que morou Francisco José do Nascimento, o "Chico da Matilde", que tomaria a alcunha de "Dragão do Mar" pelo papel saliente desempenhado junto à capatazia quando do movimento em prol da Libertação dos escravos. Triste destino o deste prédio: abrigou, depois, o Cabaré da Emília Costa

Na esquina nordeste das referidas artérias, em casa que tem o nº 345, morava um cidadão que era conhecido pelo apelido de Precabura. Devia ter vindo de lá, o aprazível recanto das imediações de Messejana.

Relativamente à fronteiriça face sul da rua Dragão do Mar, fique assinalado que se eleva a casa de nº 366, em cujo frontispício se acha registrado o ano de 1925.

Adiante, outra casa, de nº 372, da mesma rua, com o ano de 1929 inscrito em sua frente.
Depois, a casa de nº 380, com o ano de 1928 em sua testada.

Podemos ver, a seguir, a casa de nº 418, com a indicação do ano de 1920, naturalmente o de sua reforma porque muito antes era habitada por José Sérgio de Melo Rabelo, primo do Coronel Franco Rabelo e depois sogro do futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, cuja família morava nas imediações. Nesta casa Sucupira residiu, após casado, até quando se mudou para o Rio de Janeiro, em 1920.


 Luis Cavalcante Sucupira

Em casa que ainda se acha de pé e exibe em sua fachada o ano de 1914, hoje nº 422 da rua Dragão do Mar, morou o major Peregrino Montenegro, casado com uma irmã do jornalista Matos Ibiapina, diretor de 'O Ceará', jornal de forte conotação anti-religiosa e antigovernamental. Filho desse casal é o jornalista Alci Ibiapina Montenegro.

Na casa ao lado dessa última, atual nº 430 da rua Dragão do Mar, morava o carpina Júlio Bernardo da Silva, construtor das primeiras carrocerias de caminhão no Ceará. Estava abandonada, com o quadrado das antigas janelas fechadas a tijolo.

A casa a leste dessa última, hoje nº 454 da mesma rua, abrigou também, enquanto solteiro, o futuro constituinte e deputado federal Luis Cavalcante Sucupira, pois, durante certo tempo, serviu de residência a seus pais.


Rua Itapipoca

Como que fechando a atual rua Itapipoca, antigo Beco do Sabóia, existe a casa de nº 462 da rua Dragão do Mar. Nela morou Ademar Bezerra de Albuquerque, fundador da Aba Filme. Era funcionário do London Bank e fotógrafo amador, depois profissionalizando-se.


Ademar Bezerra de Albuquerque

Segue-se a essa casa uma outra, de nº 464, que servia de residência do pai do futuro comerciante Manuel Gentil Porto, este neto e aquele genro do coronel José Gentil Alves de Carvalho, fundador da família Gentil.

Finalmente, a rua finda com um sítio pertencente a Manuel Porto.

Encerrando esta viagem sentimental por um bairro decadente, que abrigou gente tão boa, aparece-me que prestei algum serviço a memória da cidade, fixando para sempre coisas que a história, preocupada mais com os grandes acontecimentos, jamais guardaria. Convicto me acho de que as informações aqui prestadas são fidedignas, decorrentes de fontes seguras e sérias, uma das quais foi o próprio Luis Cavalcante Sucupira, cuja colaboração sinceramente agradeço.


Mozart Soriano Aderaldo

Fim

Parte I
Parte II

Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Historinhas de Carnaval




No carnaval em que muitos brincam, outros se escondem, vários viajam, os tristes curtem suas solidões e alguns até leem  resolvi contar umas historinhas de carnaval, todas passadas comigo.

Primeira: tinha por volta dos 12 anos e fazia parte de uma turma, entre adultos e crianças, que conseguiu um caminhão para passear no corso (corso era uma área da cidade em uma avenida de pista dupla, destinada, de um lado, aos blocos e os sujos, a atual turma da pipoca; do outro, ao tráfego dos veículos). Nosso caminhão era do tipo misto, com duas boleias e uma carroceria de madeira. Os mais velhos iam nas boleias  Os mais jovens ficavam na carroceria. Tinha ganho um lança perfume (Cloretil Rodouro). Embora não estivesse fantasiado de pierrô, vi uma perfeita colombina e gastei todo o lança perfume com ela que me mandava tímidos sorrisos ao lado do irmão. O corso acabou, a colombina foi embora acenando e fiquei com o lança perfume vazio na mão.

Bloco Enviados de Alá - Arquivo Nirez

"Av. Duque de Caxias e o Bloco Enviados de Alá. Este bloco surgiu como "En VIADOS de Alah", depois, com a receptividade popular, ele se transformou nos "Eviados de Alah" e fez muito sucesso. Eles cantavam a marcha de Nássara "Alá La Ô" em ritmo de samba, o que não dava certo, ficava forçada a letra na melodia. Aí estão em frente a Igreja do Carmo. Foto de 1972. A partir de 1973 o carnaval passou para a Av. Aguanambi." Nirez

Antônio Luís Monteiro diz: O bloco antes era assim chamado: "HEIM? VIADOS DE ALÁ" e logo depois com a crise internacional do petróleo e o aparecimento em Paracurú virou "ENVIADOS DE ALÁ" e um dos primeiros temas e música foi "O PETRÓLEO É NOSSO!"


Segunda: estava com cerca de 15 anos. Pedi ao meu pai para ir com ele a uma festa noturna de carnaval. Ele concordou. Era terça-feira. Naquele tempo havia umas vesperais em casas de família com discos. Fui participar de uma. Cheguei em casa cansado, resolvi repousar um pouco e acordei na quarta-feira.


Terceira: no fulgor dos 18 anos, resolvi liderar a formação de um bloco com estudantes do C.P.O.R. (para quem não sabe, futuros oficiais da reserva do Exército). Conseguimos até uma viatura militar para nos levar aos bailes. Houve um dia em que, eufóricos, levantamos o estandarte do nosso bloco mais alto que o da turma do Clube Líbano. Foi o bastante. Começou uma briga e a festa acabou.

Quarta: Já universitário e com namoradinha a tiracolo, fizemos um Bloco das Almas. Todos de branco, cobertos da cabeça aos pés, pintávamos e bordávamos pelo meio da avenida, sem que ninguém nos reconhecesse. Não havia bebida, só muita energia até que os pés pisados por terceiros pedissem uma trégua. 

Quinta: Teatro Municipal, São Luís. Havia convidado uma turma de cearenses para assistir ao baile municipal com concurso de fantasias. Todos solteiros. No meio do desfile, um de nossa turma, que havia bebido, subiu à passarela e resolveu tomar, de um dos candidatos à originalidade, o longo bambu que tinha na ponta um pagode chinês iluminado por uma vela. Tomou, a vela ardeu e foi um vexame.

Sexta: Marquês de Sapucaí, Rio. Estava sentado na cadeira vendo as escolas de samba passarem. Nos intervalos, o bloco dos garis fazia a festa, até que apareceu alguém de paletó azul marinho e gravata acenando fortemente para a multidão, indo e vindo sem parar de um extremo ao outro. Perguntei quem era: Fernando Collor, futuro candidato a Presidente da República. É doido, pensei, e não votei nele. 


João Soares Neto



Crônica publicada no Diário do Nordeste em 17/02/2003

Marchinhas - O som dos eternos carnavais


Carnaval da Saudade - Arquivo João Otávio Lobo Neto

Das ingênuas e criativas marchinhas dos anos 30, 40, 50 e 60 às ruidosas músicas da “axé-music”, muitas águas rolaram no Carnaval. A alegria do desfile de de rua e o glamour dos bailes carnavalescos dos clubes elegantes de Fortaleza, nas décadas de 50 e 60, fazem parte apenas da lembrança dos mais nostálgicos. São tempos praticamente esquecidos, que só despertam, na maioria das vezes, o interesse de alguns pesquisadores de nossa história. Os jovens - que hoje se agitam com as “bandas” de barulhentos trios elétricos que ressoam em altos decibéis melodias com letras “sem pé nem cabeça” - nem imaginam como era divertido os carnavais dos confetes e serpentinas, dos pierrots e das colombinas apaixonados.

Lauro Maia e Luiz Assunção foram os pioneiros no cancioneiro carnavalesco do Ceará. Suas canções animaram foliões das escolas e blocos, como o “Cordão das Coca-Colas”, “Prova de Fogo”, “Alfaiates Veteranos”, “Garotos do Frevo”, “Zombando da Lua”, “Escola de Samba Lauro Maia” (depois rebatizada de Escola Luiz Assunção). As músicas de Lauro Maia se consagraram nas vozes de Orlando Silva e dos grupos “4 Azes & 1 Coringa” e “Vocalistas Tropicais” e se tornaram sucessos nacionais.

Carmem Miranda, Lamartine Babo, Emilinha Borba, Virginia Lane, Orlando Silva, Francisco Alves, Ary Barroso, João de Barro, Mário Lago, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro, entre outros nomes da MPB que emprestaram seus talentos a famosos “hits” da música carnavalesca: “Daqui Não Saio”, “Alá-Lá-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “As Pastorinhas”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Taí”, “Saca-Rolha”, “Mamãe, Eu Quero”, “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”. Essas marchinhas se eternizaram ao longo dos tempos e continuam até hoje integrando o repertório musical de bailes que sobrevivem ao modismo das micaretas. Exemplo disso é o Carvanal da Saudade, um autêntico revival dos carnavais que ficaram apenas na lembrança...
     Marcos Saudade

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Qual a importância de Lauro Maia e Luiz Assunção na música cearense e nacional?

     Os dois são importantes, dentro das características de cada um. Lauro Maia, nascido e criado no Benfica, certamente levou mais longe o nome do Ceará porque aproveitou o sucesso de suas composições através de nomes como Orlando Silva, 4 Azes & 1 Coringa, Ciro Monteiro e Vocalistas Tropicais, entre outros. Ao fixar residência no Rio, participou ativamente do Movimento Artístico na década de 1940, sendo inclusive o responsável pelo surgimento do Baião, ao apresentar Luiz Gonzaga a seu cunhado Humberto Teixeira. Luiz Assunção foi um maranhense que se tornou cearense devido a sua grande identificação com a vida da cidade, ele inclusive foi homenageado quando Lauro Maia foi morar no Rio, puseram o nome dele na Escola de Samba Lauro Maia e um grande número de pessoas que conhece a história de nosso carnaval lembra com muita saudade dos grandes desfiles e da música maravilhosa que soava na orquestra da Escola de Samba Luiz Assunção.

     Que contribuição deram ao carnaval cearense?

     Uma contribuição enorme. Antes deles não havia compositores populares criando músicas para as agremiações. Foi Lauro Maia quem iniciou esse ciclo criativo em nossa história carnavalesca. Tanto ele como Luiz Assunção têm até hoje músicas lembradas e que foram compostas para o carnaval de rua, para a Escola de Samba Lauro Maia, depois Luiz Assunção, para a Escola de Samba (hoje Bloco) Prova de Fogo e outros blocos, como O Que Fóe, Galinha, do genial Doutor Bié. O Lauro inclusive foi o primeiro compositor a utilizar o ritmo do nosso Maracatu fora do carnaval, na música Orixá, que tinha versos de Jorge Aires.

     Como foi resgatar a vida e obra de Lauro Maia em livro e disco?

     Sinceramente, este foi um dos projetos mais importantes de toda a minha vida. Primeiro, pela grandiosidade da biografia do Lauro, depois pela beleza e atualidade de sua música e também pela parceria com o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Outra coisa importante deste trabalho foi contar com a participação de todos os artistas que interpretaram músicas de Lauro Maia, é realmente um presente ter Teti, Ednardo, Rodger, Lúcio Ricardo, Fagner, Evaldo Gouveia, Falcão, Ayla Maria, Fernando Néri, César Barreto, David Duarte, Aparecida Silvino... É um disco que me agrada sempre, eu escuto cada vez com mais prazer. Tem um time de músicos de primeira e é todo mundo daqui mesmo.

     O que poderia ser feito para resgatar o carnaval de Fortaleza?

      Deveria haver um maior incentivo por parte da Prefeitura de Fortaleza. Afinal estamos falando de uma festa pública, inserida no calendário de eventos da cidade. Para o nosso carnaval de rua se tornar atrativo do ponto de vista do investimento privado, precisa haver um trabalho muito forte junto às agremiações, é preciso chamar os artistas para participar compondo, cantando, tocando, desenhando, somando com o imenso mundo de gente que trabalha há tantos anos pelo carnaval e tem muito amor pelo que faz. O nosso trabalho à frente da Federação de Blocos Carnavalescos tem sido recuperar a dignidade do carnaval de rua, reinseri-lo na rota dos grandes eventos.

Calé Alencar
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

Quais foram os mais expressivos compositores cearenses de músicas carnavalescas?

     Os mais expressivos compositores de músicas carnavalescas no Ceará foram Euclides Silva Novo, Mozart Brandão, Caetano Acioly, Luiz Assunção, Paulo Neves, Lauro Maia, Irapuan Lima, Mário Filho, Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Milton Santos.

     Que marchinhas mais famosas marcaram os bailes carnavalescos do passado?

     As marchinhas foram importantes no cenário carnavalesco cearense, mas também os sambas figuraram como sucesso.Tivemos "Tabajara", marcha (Silva Novo - Caetano Acioly) 1930; "Adeus, Praia de Iracema", samba (Luiz Assunção) 1954; "Falta de luz", marcha (Irapuan Lima - Mário Filho) 1955; "Dona Fredegunda", marcha (Mário Filho - Milton Santos) 1958; "Meu bem", samba (J. Guimarães - Milton Santos) 1958; etc.

     Que blocos e escolas brilhavam nos carnavais de rua de Fortaleza do passado?

     Os blocos que brilharam no passado foram "Maracatu Ás de Ouro", "Maracatu Rei de Espadas", "Garotos do Frevo", "Escola de Samba Lauro Maia", "Zombando da Lua", "Escola de Samba Luiz Assunção", "Cordão das Coca-Colas", "Alfaiates Veteranos", "Prova de Fogo", etc.

     Como avalia as festas carnavalescas da atualidade?

     O carnaval teve várias fases, a primeira apesar de ser chamada de carnaval era o ENTRUDO, que reinou até início do século XX, onde se dançava valsas vienenses entre outras coisas; a segunda foi a fase de ouro das marchinhas, dos grandes compositores e intérpretes, das grandes músicas e letras e que durou até meados da década de 60; e a atual fase, dividida entre o espetáculo turístico já superado das escolas de samba do Rio de Janeiro e a música atual de maio-de-ano lançada pela Bahia que descaracterizou o carnaval tornando-o muito mais de fora de época que de próprio período. Já não existem músicas feitas para a festa porque a festa já não existe.

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Escola de Samba Luiz Assunção em 1969
Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Quais foram as fases marcantes da produção musical feita para o carnaval?

     As décadas de 30,40 e 50. Principalmente a de 30, apropriadamente chamada de “Fase de Ouro”. A partir da cartelização da economia mundial e a consequente dolarização econômica dos países dependentes da América do Norte, como o próprio México (seu vizinho), o Brasil, Argentina, França, Itália, Portugal e os demais que compõem o Terceiro Mundo, o regionalismo foi para o “bebeléu”. Entregar-se de corpo e alma às coisas e costumes da América do Norte passou a ser sinônimo de progresso. O nacionalismo passou a ser pichado como retrógrado, coisa do passado, etc... Tudo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (1945).

     Quais os mais famosos “hits” carnavalescos?

     Dos anos 30: “Prá Você Gostar de Mim” (Taí), marcha-canção de Joubert de Carvalho, gravada por Carmem Miranda em 1930; “O Teu Cabelo Não Nega”, adaptação de Lamartine Babo, gravada por Castro Barbosa, em 1932; “Linda Morena”, de Lamartine Babo , de 1933, “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda), em 1935; “Pierrot Apaixondo”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, 1936; “Mamãe, Eu Quero”, de Jararaca, 1937; “As Pastorinhas”, João de Barro e Noel Rosa, de 1936 e regravada por Sílvio Caldas para o carnaval de 1938; “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e de Humberto Porto, gravada por Orlando Silva em 1939. 
Dos anos 40: “Dama das Camélias”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravado por Francisco Alves em 1940; “Alá-Lá-Ô”, de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, gravada por Carlos Galhardo, em 1941; “Aí, Que Saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942; “Nós, Os Carecas”, de Roberto Roberti e Arlindo Jr. gravada por Anjos dos Inferno, 1942; “Está Chegando a Hora”, de Henricão e Rubens Campos, gravado por Carmem Costa, 1942; “Atire a Primeira Pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, gravado por Orlando Silva, em 1944; “Cordão dos Puxa-Sacos”, gravado pelos Anjos do Inferno, em 1946; “A Marcha do Balanceio”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira, 1946; “É Com Esse Que Vou”, de Pedro Caetano, gravado por 4 Azes e 1 Coringa, 1948; “Chiquita Bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba, 1949; “General da Banda”, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, gravada por Blecaute. 
Dos anos 50: “Daqui não saio”, de Paquito e Romeu Gentil, gravada pelos Vocalistas Tropicais, 1950 -“Serpetina”, de Haroldo Lobo e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves, em 1950;“Tomara que choro”, de Paquito e Romeu Gentil, pelos Vocalistas Tropicais e Emilinha Borba, em 1951; “Lata D’Água”, de Luiz Antonio e Jota Júnior, gravado por Marlene, em 1952; 

Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval
Centro Dragão o Mar de Arte e cultura

Sassaricando”, de Luiz Antonio e Zé Mário, gravada por Virginia Lane; “Saca-Rôlha, de Zé da Silda.; “Maria Escandalosa”, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; “Vai, Com Jeito Vai”, de João de Barro, gravada por Emilinha Borba, 1957;“Boi da Cara Preta”, de Paquito/Romeu Gentil/Jackson do Pandeiro, 1959.
Dos anos 60: “Me Dá um Dinheiro Aí” , gravada por Moacior Franco, 1960; “Indio Quer Apito”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, em 1961;“A Lua é dos Namorados”, gravada por Ângela Maria, 1961.“Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal. 1964; “Máscara Negra”, de Hildelbrando Pereira Mattos e Zé Ketti, 1967; “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves, gravada por Dalva de Oliveira, 1970.

Christiano Câmara



Crédito: Diário do Nordeste

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Das antigas - O carnaval da chiquita bacana



Até o  Theatro José de Alencar já caiu na folia!


No Brasil, quando se fala em Carnaval, lembra-se logo de três Estados: Rio, Bahia e Pernambuco. Mesmo sem ter esta tradição carnavalesca e incorporado a festa de outras regiões, o Ceará também tem sua história de folia. Sobretudo nas décadas de 30, 40 e 50, Fortaleza foi palco de desfiles de blocos e corsos de automóveis, além de bailes sofisticados em clubes da capital.

Turma do Círculo Militar no Carnaval do Náutico em 1972 - Foto Rodrigo Gurgel
Arquivo Totonho Laprovitera

     De acordo com o memorialista Nirez, na década de 30, o ponto principal de festejos era a Praça do Ferreira. Em 1935, foi criado o mais antigo bloco de Fortaleza: o “Prova de Fogo”. Nos anos 40, surgiram os bailes noturnos na avenida Senador Pompeu. O Theatro José de Alencar também abriu as portas para os foliões durante uns cinco anos. Mas a rapaziada acabava quebrando muitas cadeiras e, por conta disso, toda a alegria acabou suspensa naquele local.

     Depois, a concentração passou para o Passeio Público, percorrendo as ruas Major Facundo e Senador Pompeu, uma das mais festejadas nos anos 50. Como era uma rua residencial, os proprietários das casas colocavam as cadeiras nas calçadas para apreciar o espetáculo. O resto das pessoas se aglomeravam em pé, jogando confetes, serpentinas e lança-perfume.

Baile de Carnaval do Ideal Clube na década de 30/40 - Acervo Marcelo Bonavides de Castro

     Era bem comum os homens se vestirem de mulher e caírem na folia, como no “Cordão das Coca-Colas”, que fazia referência às cearenses que se encantaram com os americanos presentes no Estado, na época da II Guerra. O bloco dos sujos também ficou marcante. Na opinião do memorialista Marciano Lopes, era “uma democracia”. Todos se misturavam e dançavam juntos.

     O jornalista José Augusto Lopes aponta que a rapaziada ficava ansiosa para ver o “caminhão das prostitutas”, lá das “Pensões Alegres”. Aquelas mulheres da vida, mas de alto nível, desfilavam com fantasias bem ornamentadas. Brincadeiras de mau-gosto com elas? Que nada. As jovens eram aplaudidas. Havia muito respeito, destaca o jornalista. No corso de automóveis, os carnavalescos também esbanjavam luxo nas fantasias.

     Naquela alegria toda, também era oportuno fazer referências aos políticos da época. Mas tudo de forma bem sutil, sem agredir a moral de ninguém. Até existia uma portaria policial, proibindo sátiras aos políticos e ao clero. Mas os foliões sabiam brincar com o tema, chegando a tirar risos mesmo do presidente Getúlio Vargas, segundo aponta Marciano Lopes.

Inocência dos antigos carnavais - Livro Ah, Fortaleza!

     José Augusto lembra de um episódio engraçado. O governador do Ceará na época, Faustino Albuquerque de Souza, batizou uma vaca, de seu sítio em Pacatuba, com o nome de “Chiquita Bacana”, a famosa canção interpretada por Emilinha Borba. Um dia, ele tirou uma foto de pijama ao lado de sua vaca.

     Como era um adversário político da Rádio Iracema, acrescenta Nirez, a rádio fez uma paródia da música, na voz de Zé Lisboa. José Augusto Lopes conta que os foliões se vestiam de pijama ou colocavam uma máscara de vaca na cabeça e cantavam: “Chiquita Bacana / lá de Pacatuba/ dá leite para o Faustino e que leite cutuba (...) / Presidencialista/ foi o seu destino/ bezerro não encosta / quem manda é o Faustino”...

     “Havia uma sátira aos preconceitos”, afirma o jornalista, que também lembra dos foliões fantasiados com um barrigão e uma faixa: “Amar foi minha ruína”, título de um filme da época.No livro “A Subversão Pelo Riso: O Carnaval Carioca da Belle Époque ao Tempo de Vargas”, a escritora Rachel Soihet fez toda uma pesquisa sobre a festa mais popular do Brasil. A tese central do livro é justamente a resistência das manifestações carnavalescas às investidas da classe dominante em domesticá-las.

Concentração na Praça do Ferreira, todos esperando o Corso carnavalesco.

     Cheios de entusiasmo e irreverência, os blocos desfilavam pelas ruas, aplaudidos pela população festeira. A Rádio Clube e a Rádio Iracema, as únicas do Estado na época, conforme aponta Nirez, colocavam palanques para julgarem os blocos. O mais aplaudido pelo povo era o vitorioso.

     Quando a concentração carnavalesca passou para a avenida Aguanambi, em 1963, começou o declínio da festa em Fortaleza, de acordo com José Augusto Lopes. Na tentativa de sistematizar muito os blocos e transformá-los em escolas de samba parecidas com as do Rio de Janeiro, o carnaval na capital foi definhando.

     “Na época, eu escrevia no jornal, advertindo o que iria acontecer. Mas ninguém me considerou. O resultado é que o carnaval cearense acabou”, diz Nirez. “Organizaram demais e tirou a espontaneidade”, acrescenta Marciano Lopes.

Carnaval da Saudade do Náutico Atlético Cearense em 1970
Arquivo João Otávio Lobo Neto

     O mesmo pesquisador destaca que um dos motivos da fuga para o interior era o alto custo das festas nos clubes. Como muita gente não tinha condições financeiras de acompanhar os bailes, então, partiam para outras cidades do Estado. Aproveitando o fato, as prefeituras locais começaram a investir nas festas carnavalescas.

     Marciano Lopes também ressalta que o Ceará nunca teve uma tradição de Carnaval. “O que houve foi um arremedo de carnaval”, diz. Isso porque não há no Estado uma presença da cultura negra, como existe no Rio, na Bahia e em Pernambuco. “O cearense não tem ginga, não tem o espírito do folião que veio da cultura negra. O cearense é mais frio, mais mecânico. Fui duas vezes a este carnaval fora de época. São semblantes tristes. Não há vibração. Estão ali porque é um modismo”, afirma o memorialista. José Augusto Lopes acredita que o último carnaval do Brasil ainda é o de Pernambuco. Já os dois memorialistas acham que não existe mais nenhum. “A Bahia desvirtuou o carnaval de todo o Nordeste. O Carnaval foi um círculo que acabou”, destaca Marciano Lopes.


Reportagem de Helena Vasconcelos (Diário do Nordeste)

Bloco Prova de Fogo - 78 anos de história


Cadê Joana, que não vem com a sopa? 
E Mariana, que não traz a minha roupa? 
Não posso mais esperar, estou aflito 
Onde está o meu apito? O meu apito? 
Já é hora do prova de fogo sair 
Até já vieram me chamar 
E eu ainda estou nessa agonia logo no primeiro dia 
Será que eu vou faltar 
Joana, Mariana, eu tenho que a batucada marcar  

Bati Na Porta (Lauro Maia) 

Prova de Fogo - O único bloco de Fortaleza que se conservou tradicional - Nirez

Assim como outras cidades, Fortaleza conheceu o carnaval dos entrudos, das batalhas de confete e serpentina, dos bailes em clubes elegantes, dos desfiles de carros luxuosos e das apresentações de manifestações populares nas ruas, como os blocos de Carnaval, de pré-carnaval e os maracatus.

Bloco Prova de Fogo em 1942 - Arquivo Josi Ladislau

O primeiro bloco a surgir no carnaval fortalezense foi o Prova de Fogo, em 1935. 
Há 78 anos, o bloco participa do carnaval de rua da capital cearense.

Em 21 de janeiro de 1935, é fundado o bloco carnavalesco Prova de Fogo, pelos sargentos do Exército, Otacílio Anselmo*, Carlos Alenquer e Luís Freitas e os comerciários Alderi Pereira e Edson Viana Maranhão (Edson Maranhão).

Em 03 de março do mesmo ano, o bloco faz sua estréia no carnaval cearense. O Prova de Fogo ainda hoje abrilhanta a avenida do carnaval de Fortaleza.


Sr. Waldemar, componente do Bloco Prova de Fogo - 1942
Arquivo Josi Ladislau

O samba "Bati na Porta”, de Lauro Maia em parceria com Humberto Teixeira, foi o hino de guerra do Prova de Fogo no carnaval de 1942:

Bati na porta que cansei

Chamei, chamei, chamei

Ninguém, ninguém me respondeu

E eu fiquei com cara de judeu 

(Qual é, ô meu?)

Voltei, voltei e fiquei contrariado

Tomei, tomei o caminho errado

Agora ando bebendo demais

Independente disso eu sou um bom rapaz.

O bloco Prova de Fogo, é um dos mais tradicionais do Carnaval de rua de Fortaleza.

O Carnaval de 06 de fevereiro de 2005, inicia-se o desfile carnavalesco com o tema "Fortaleza Bela é Prova de Fogo", homenagem ao bloco que faria um desfile comemorativo de 70 anos de fundação, na Avenida Domingos Olímpio.

Desfilaram 8 (oito) maracatus: Vozes d'África, Nação Iracema, Rei Zumbi, Nação Baobab, Rei de Paus, Az de Ouro, Kizumba e Nação Fortaleza
As escolas de samba: Imperadores da Parquelândia, Imperadores da Bela Vista, Ideal, Unidos do Acaracuzinho e Corte no Samba
E os blocos: Garotos do Parque, Garotos do Benfica, Fuxico do Mexe-Mexe, Unidos da Vila e o grande homenageado da noite: Prova de Fogo.




Arquivo Nirez

Em 09 de fevereiro, saiu o resultado do desfile: A agremiação Maracatu Rei de Paus é bicampeã do Carnaval 2005, na categoria Maracatu, com nota 10 em todos os quesitos de avaliação.
A vice-campeã é o Maracatu Vozes d´África.
Em terceiro lugar ficou o Maracatu Az de Ouro.
Da categoria blocos e cordões, As Bruxas conquistam a primeira colocação, seguida do bloco Garotos do Benfica.
O bloco Prova de Fogo que estava completando 70 anos de fundação, e foi considerado "hors-concours".
Na categoria escola de samba, a Escola de Samba Unidos do Acaracuzinho é octacampeã e a Escola de Samba Império Ideal é a vice-campeã.

Arquivo Nirez

No Carnaval de 2007, o bloco provou que a tradição faz a diferença. Último a entrar na Domingos Olímpio, nas primeiras horas de terça-feira, a resposta do público veio de imediato, aplaudindo o cortejo de pé. Com mais de 400 integrantes, o bloco mostrou que estava se renovando a cada ano.
Na época, o passista Francisco de Paula, então com 67 anos, contava que já desfilou em maracatus e, há 7, estava no Prova de Fogo. “Essa tradição não pode acabar”. O baliza Edilberto Queiroz, então com 58 anos, há mais de 30 fazia evoluções à frente do bloco. Ele prometeu lutar pela continuidade do bloco, fundado em 1935.

A comissão de frente, era formada por crianças como Lucas, 6 anos, e, Nícolas  2 anos, filhos de um dos integrantes da diretoria do bloco, Elenilton Lima de Sousa, é sinal de que o bloco terá vida longa.

Curiosidade

Você sabia que existe uma Escola de Samba paulista chamada Prova de Fogo em homenagem ao bloco cearense?




Foto grcesprovadefogo

Tudo começou em um piquenique organizado por Celso e Cristina de Lima em Interlagos, no dia 21 de abril de 1974, reunindo jogadores e torcedores do Santista Futebol Clube. A ideia para a formação da escola de samba partiu de Akimilson de Oliveira Câmara, o Ceará, que sugeriu o nome 'Prova de Fogo', 
uma homenagem ao bloco cearense. A partir daí, aconteceram algumas reuniões na casa de Dona Valdevina, na Vila Mangalot, Pirituba. Dois meses depois do piquenique foi plantada a primeira semente do samba em Pirituba, com a fundação do Grêmio Recreativo escola de Samba Prova de Fogo em 16 de junho de 1974. Ceará foi eleito o primeiro presidente da escola de samba.

Foto Renato Cipriano

Em 1975 a escola apresentou-se pela primeira vez no Grupo Pleiteante. O belo desfile na Rua 12 de Outubro, na Lapa, rendeu à agremiação o título de campeã e uma vaga no Grupo 3. Após a apresentação de 1980, com um enredo sobre histórias de caboclos, a escola passou a integrar o Grupo 2. Ao longo da sua história, a Prova de Fogo apresentou enredos marcantes, como Caboclo, Meninos de Rua, Circo, Magia Cigana, entre outros.



*Otacílio Anselmo e Silva – Escritor e antigo componente da banda de música do 23º BC - Exército) foi o fundador do 1º Bloco de Carnaval da cidade de Fortaleza. O Prova de Fogo, bloco este de tamanha tradição no Carnaval cearense até hoje. O nome do bloco “Prova de Fogo” é citado na música 'Bati Na Porta', de Lauro Maia, gravada pelo grupo musical Quatro Ases & um Coringa, pela Odeon.

Antônio Marrocos


Leila Nobre


Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, http://www.provadefogo.com.br, Diário do Nordeste, Nirez

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Carnaval no centro da cidade


Preparação para o Corso na Avenida Dom Manuel na década de 60. Carlos Juaçaba

A rua é larga e a calçada é pra lá de larga. A gente vê árvore, vê os pássaros... O vento faz a árvore chorar. E algum chuvisco que vinha de atrevido, não nos pegava porque as árvores protegiam. O Carnaval é Duque de Caxias, se mudar o Carnaval daquele trecho acabou.*

No trecho destacado da entrevista, percebemos o modo como o compositor Luiz Assunção liga os festejos carnavalescos ao Centro da cidade de Fortalezaressaltando aquele espaço como locus imprescindível para a permanência ativa do carnaval. A Av. Duque de Caxias, uma das artérias mais importantes do Centro de Fortaleza, serviu como passarela para o Carnaval durante muito tempo. Os desfiles tinham a sua concentração muitas vezes no Passeio Público, percorriam algumas ruas do centro até chegarem nas arquibancadas montadas na Avenida Duque de Caxias. 


A Avenida Duque de Caxias - Arquivo Nirez

O Carnaval se insere nas práticas culturais da cidade como um fenômeno essencialmente urbano. No caso de Fortaleza  foi o  centro da cidade, desde o século XIX, onde se brincou o Carnaval de rua. Ao buscar uma compreensão das festas carnavalescas ocorridas no Ceará, no período, percebo uma série de disputas em torno dos lugares de festejos tradicionais. Por muitas vezes esses locais foram sendo modificados. A partir da década de 1990 os desfiles foram levados para a Domingos Olímpio. Hoje esse é o local oficial dos desfiles de Blocos, Maracatus e Escolas de Samba em Fortaleza.


Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Desde o início do século XX os modos de habitar, as atividades de comércio e lazer sofrem significativos processos de modernização,  ocorrendo assim um processo cada vez maior de descentralização.  Em diferentes temporalidades, a Prefeitura de Fortaleza interfere,  na realização do carnaval, construindo significados modernizantes na festa. De outro lado os blocos, cordões, maracatus e os próprios foliões tentam se adequar a essas novas configurações das festas. As ruas, novas avenidas, praças e vias, com  as suas  mudanças, exerciam influências sobre a configuração dos folguedos ocorridos no período.


Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Nas diversas leituras feitas sobre o Carnaval de Fortaleza, percebo que o Centro da Cidade foi o palco principal daquela festa durante muitos anos. Mesmo com o crescimento do Carnaval dos Clubes, que foi recorrente durante as décadas de 30, 40 e 50, as ruas do centro continuaram sendo palco para os festejos. Na cidade, desde o início do século XX os folguedos eram festejado nas ruas e nos clubes. As tensões em torno dos festejos podem ser percebidas nas críticas da imprensa local, colocado em segundo plano pelos jornais, o chamado “carnaval de rua” acontecia no Centro de Fortaleza com uma significativa participação da população.
Ao observarmos o centro de Fortaleza hoje, vemos que em alguns poucos casos ele se enquadra no Calendário Festivo da cidade. Poucas são as manifestações culturais festivas que tem esse espaço da cidade como local principal**.  Diferente do que era observado durante grande parte do século XX quando as ruas centrais, juntamente com suas praças eram os locais onde se festejavam as festas carnavalescas.



Diversos trabalhos de historiadores, sociólogos e antropólogos nos mostram um panorama diferente em relação à existência de um carnaval em Fortaleza ao longo do Século XX. Carlos Henrique Moura Barbosa em seu trabalho de pesquisa mostra uma cidade bastante envolvida com os festejos carnavalescos nas décadas de 1920 e 1930. 
Festas que ocorriam nas ruas e nos clubes da cidade. Em seu trabalho o autor traça um 
perfil dos sujeitos que praticavam os festejos carnavalescos na cidade e destaca o centro 
de Fortaleza, na década de 1920, como um dos principais locais de festejo:

"A Praça do Ferreira, durante os dias de carnaval, era o ponto de concentração dos mais diferentes foliões. Essa praça, nas horas dedicadas a Momo, constituía-se em um espaço onde os brincantes iam para ver e para ser vistos. Ao atentar para esse logradouro, enxergam-se os diferentes carnavais presentes nos diferentes espaços da cidade e, também, as interações que ocorriam na praça entre os mais diferentes sujeitos."(BARBOSA, 2011, p. 46)

Concentração na Praça do Ferreira, todos esperando o Corso carnavalesco.

Durante o todo o século XX ocorrem diversas modificações e transformações nos modos de se brincar o carnaval de Rua em Fortaleza. No período analisado pelo pesquisador Carlos Henrique (A decadência de Momo ou outros carnavais?), e ainda em algumas décadas depois, o período momino,  era festejado nas ruas e praças do centro da cidade. Nesse momento trabalhado pelo autor, já se percebe a presença de uma população menos favorecida no carnaval, o que foi se intensificando durante os as décadas seguintes.
Além do patrimônio material, as ruas são constituídas por um conjunto patrimonial imaterial que com suas passeatas, feiras, festas e carnavais formam  a identidade de uma cidade. E é através do estudo dessas festas que se pode entender o patrimônio cultural como um espaço de memória. Dessa forma é necessária atenção aos modos de diversão coletiva e como os fortalezenses  buscam novas formas de lazer e sociabilidade, organizando assim  o seu carnaval. É necessária também atenção às modificações ocorridas nos locais dos desfiles organizados pela Prefeitura Municipal
Ao fim dos anos 60 o carnaval organizado pela prefeitura estava sendo realizados quase 
todos os anos na Avenida Duque de Caxias, no centro da cidade. 

Praça do Ferreira em 2010: o "Concentra mais não sai" é um dos mais tradicionais blocos de Fortaleza - Arquivo Diário do Nordeste

O carnaval era vivenciado no centro da cidade. O itinerário que os Blocos, Escolas de Samba, Ranchos e Maracatus faziam, tendo a Praça do Ferreira como o seu ponto de saída e de chegada, mostram o centro povoado com os festejos. Essa forma do desfile, com o corso alternando o seu percurso entre ruas largas, ruas estreitas e praças nos dão uma impressão de uma proximidade maior da população, permitindo uma maior interação e contato com as agremiações que desfilavam. 

Folia em frente a Coluna da Hora - 2011
Arquivo Diário do Nordeste

Atentamos agora para um novo momento, principalmente o início da década de 1970, em que o espaço do carnaval fortalezense vem sendo experimentado por diversos sujeitos. Os brincantes dos folguedos fazem parte dos mais diversos extratos sociais, que mesmo sem serem bem vistos ocupavam os espaços, buscando o seu lugar no meio das brincadeiras do carnaval. Em algumas oportunidades os jornais mostravam preocupação com as mudanças e como os foliões iriam ter acesso aos festejos. Como em 1975, quando a Tribuna do Ceará traz o seguinte texto:
"Mais longínqua ainda a época em que as vias públicas eram ornamentadas a capricho..., a Praça do Ferreira era o coração da folia, qual sempre foi o da cidade.  Sem nos atermos a maiores indagações, poderíamos lembrar, inclusive, que o afastamento dos locais dos desfiles, que dantes eram nas ruas centrais, cooperou efetivamente para amortecer o ímpeto de muita gente. 
Dificilmente um habitante de Antônio Bezerra, por exemplo, se entusiasma com a perspectiva de atravessar a cidade lado a lado para ir brincar hoje, na Aguanambi
Dir-se-á que o fato não é relevante. Entretanto não deixa de ter sua importância. Mesmo nestes tempos difíceis, uma coisa é alguém ir assistir a um corso na Senador Pompeu ou na Duque de Caxias e outra é deslocar-se para pontos distantes, obrigado a tomar mais de um ônibus numa cidade precariamente servida como a nossa." (Coluna Coisas do Carnaval, publicada em 12 de fevereiro de 1975).

O Bloco Matou a Pau...ta! é formado por jornalistas cearenses - 2011
Arquivo Diário do Nordeste

Em 1976, tem destaque nos jornais a proibição do Presidente da Federação dos Blocos quanto a saída nas ruas da Charanga do Gumercindo(Notícia publicada em 13 de fevereiro de 1976. De acordo com o jornal essa charanga saía há mais de 10 anos no carnaval de Fortaleza, e tinha por característica não possuir filiação com nenhum bloco, escola de samba ou maracatu)Segundo o jornal o Presidente alegou que “os componentes da charanga costumavam brigar com os demais componentes de blocos carnavalescos, além de criarem confusões com foliões dos chamados bloco dos sujos”

Na foto, a Charanga do Gumercindo fazendo festa no PV. Na foto, integrantes com instrumentos musicais. Bem ao centro, de chapéu e bigode, Gumercindo Gondim recebe o abraço do sorridente Jaime. (Acervo de Elcias Ferreira).

A retirada dessa “Charanga do Gumercindo” dos desfiles, mostra a forma como eram as disputas em  torno dos locais de desfile. Esse espaço destinado às Escolas de Samba, Maracatus, Cordões e Ranchos recebia também os sujos, que não estavam ligados a nenhuma agremiação. Para as autoridades o papel da população era somente o de assistir aos desfiles. A Charanga transitava nesse espaço destinado ao desfile, também sem estar ligada a nenhuma agremiação, convidando a população para a avenida.  Para Silva (2008, p. 29) “a incorporação dos segmentos populares implicou para as elites pensar esses campos culturais, a partir de uma única dimensão”. O modo pensado pelas elites era o de submeter os folguedos populares aos seus valores, buscando a aceitação de um modelo único de carnaval. Para Silva (2008, p. 30) esse processo ocorre em cidades como São Paulo, se completando na década de 1960.

Festa comumente alçada a símbolo nacional, o carnaval desperta as mais variadas lembranças e sentimentos. As memórias sobre a festa carnavalesca são tão múltiplas quanto as suas formas de ser festejada. O Carnaval Brasileiro está longe de ter uma unidade em sua forma e concepção. Nas diversas regiões, estados ou cidades brasileiras encontramos diferentes formas de se festejar o período momino. Assim encontramos nos festejos os mais diversos espectadores, brincantes, foliões e trabalhadores. Atualmente, para muitos moradores a cidade de Fortaleza o que caracteriza o Carnaval são os desfiles de maracatus na Avenida Domingos Olímpio, fazendo parecer que na cidade não há carnaval de rua. 

Maracatu Az de Ouro em desfile de 1950 - Arquivo Nirez

Outro discurso corrente é que o carnaval, em nosso estado, acontece somente nas cidades do interior, principalmente nas praias. Identificamos também a ideia de que Fortaleza, no carnaval, é um ótimo local para o descanso, atraindo assim pessoas que não gostam de muita folia.

O carnaval passa por momentos de nascimentos e renascimentos. Em alguns momentos ele parece mais forte e em outros parece nem existir. O que determina essa ideia que se tem sobre os festejos são as batalhas pela memória que se travam na sociedade. A manipulação desse processo de lembrar e esquecer, será determinante na luta pelo poder sobre a festa.(FERREIRA, 2005, pág 298).

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Assim, é pertinente interpretar o que significava para os brincantes do carnaval estar participando dessa festa no século XX. Estamos em contato com uma Fortaleza que está se modernizando,  e o centro, aos poucos, vai deixando de ser seu principal local de moradia. O carnaval precisa ser entendido como espaço de lazer e como uma prática de sociabilidade dessa população. Sujeitos que tinham no período momino também uma forma de se mostrar nas ruas e buscar nesses locais sua forma de festejar, articulando temporalidades e espacialidades. Buscando assim o seu lugar no carnaval e na cidade que se modifica. 

*O trecho foi retirado de uma entrevista cedida à Rádio Universitária FM, feita no ano de 1982, para o Programa Coisas Nossas. Nela, Luiz Assunção fala, além de outros assuntos, de suas impressões sobre o carnaval de Fortaleza daquele ano (1982). Luiz Assunção, além de trabalhar em Rádios da Cidade, como a Ceará Rádio Clube, foi compositor de vários sambas, marchas, valsas e baiões. Além disso, tem um papel importante no Carnaval Cearense. Foi componente da Escola de Samba Lauro Maia, que desfilava nos carnavais da Cidade. Em 1945 emprestou o seu nome para a Escola de Samba Lauro Maia, que nesse ano passa a se chamar Luiz Assunção. Com essa denominação a Escola de Samba veio a ser campeã do Carnaval nos anos de 1946 a 1949.




**Blocos de pré-carnaval ainda conseguem levar grande público à Praça do Ferreira, por exemplo o Concentra Mas não sai” que consegue um público de vinte mil pessoas.






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O Carnaval no centro da cidade: Mudanças e Permanências no local da festa em Fortaleza.
Tiago Cavalcante Porto

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