Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Hidráulica da Vila São José


Foto de uma das caixas d’água da Rua Leda e lá atrás a do Seu Telles. 

"Água é vida!
E por ser um termo tão usado parece ficar redundante. Estudos revelam que a doença hídrica não é pela água em si, mas devido o mau uso ou conservação. Existe o institucional que é voltado para recursos hídricos: Funceme, Cogerh, Cagece e os Institutos de análises, além de setores de pesquisas de Universidades e/ou Faculdades. Às vezes por faltar estudo técnico, certos projetos de edifícios, bem como conjuntos habitacionais sacrificam a Companhia fornecedora de água, porque se faz necessário a mesma atender as novas demandas. Na minha Vila São José, o recurso hídrico só foi importado a partir de 1963, quando o Coronel Philomeno autorizou as vias de pedras toscas serem escavadas pelo Saagec (Serviço de Água e Esgoto do Estado do Ceará). Era chegada a famosa água do Acarape. Chafarizes com cacimbões ao lado ou abaixo da base forneciam água para a Vila Operária.
O primeiro construído foi na Rua Maria Estela, primeira rua também construída em 1926. Recebia o líquido precioso da Fábrica São José, proveniente de um poço profundo defronte a Estamparia de acabamento das toalhas. A tubulação de 100 mm transpassava o Rio Jacarecanga. Era sustentado por duas bases de cimento armado. Depois na entrada da Vila, pelo lado Sul fim da Rua Dona Maroquinha, esquina com a Rua Maria Isabel, a segunda caixa d’água. Era um reservatório de 50 mil litros, com altura de 20 metros. Tinha um espaço retangular onde tinha duas casas arredondadas parecendo duas ocas, de cor cinza, erguida com tijolos batidos e cobertas com telhas do Maracanaú. Uma dessas casas era acompanhando a base do reservatório que deveria abastecer as residências por gravidade. A outra era conhecida como Casinha da Bomba. Tinha a bomba hidráulica impulsionada por um motor de 10 cavalos, alimentado com 380 Volts puxados por uma correia de 1,5 metros. A chave elétrica era do tipo faca com fusíveis de cartucho ambos fabricados pela Westinghouse - USA.
O bombeiro era o Antônio e o eletricista seu Mozart. O Telles que herdaria aquele pedaço para fazer um bar, era o fiscal do Coronel proprietário. Segundo meu pai Valdemar, essa primeira etapa funcionou até 1966, porém, houve um aditivo para atender as construções da segunda etapa da Vila São José em 1946, onde meu genitor foi servente de pedreiro (Tenho sempre a honra de dizer que meu pai, matuto vindo de Jucás, analfabeto, começou na Capital assim e depois foi galvanizando elevados e quando faleceu em 9 de abril de 1984, já estava aposentado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, como administrador em Nível Superior).

O primeiro reservatório dessa segunda fase foi na Avenidinha, pelo Norte ao lado da Via Férrea de Baturité da RVC. O cacimbão localizava-se à sombra de uma das castanholeiras, que eram em numero de duas. Essas sexagenárias árvores lá ainda estão, menos a caixa d’água e a cacimba em forma de disco voador. Na construção já mencionada e lá se foi 70 anos, tinha na Rua Leda dois reservatórios. Não os alcancei funcionando, mas cheguei a ver todas as instalações com canos vencidos pela corrosão e válvulas brecadas pelo desuso. Os motores já haviam sido retirados restando a base abandonada com parafusos ereto e ranhuras avariadas. O poço na casa do Chico sete cão na outra Avenidinha sentido Sul, não sei se era público, mas lá tinha um portão para a rua. Essa não me lembrei de perguntar ao meu velho. Pessoas inteligentes criam oportunidades. Tomando conhecimento dessa demanda reprimida, um empresário cujo nome não me ocorre, começou a vender água em carros pipa vinda de um poço profundo do bairro Floresta. Os baldes de zinco com capacidade para dez litros custavam Crn$ 0,50 (cinquenta centavos do cruzeiro novo) moeda que circulou tão logo fora criado o Banco Central do Brasil no Governo Castelo Branco.

Os caminhões GMC funcionavam à base de manivela. Ah, Já ia me esquecendo, as carroças do Mestre Carlos, que por apelidar seus animais, tornou-se também tipo popular na Vila São José. A carroça Pombo Roxo era tracionada pela Margarida (burra branca); a Pombo Cardo era com a Rosinha (burra avermelhada) e tinha o cavalo Gaspar que morreu.
Garoto ainda travesso, ajudei o Mestre Carlos nessas entregas. Sob a forma de Empresa de Economia Mista, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece foi criada através da Lei 9.499, de 20 de julho de 1971, e absorveu o Saagec, bem como todas essas peripécias com água. Tudo desapareceu. Cesar Cal’s e Vicente Fialho modernizaram esse sistema em todo o Jacarecanga, ao qual por sua vez, Adauto Bezerra fez a parte de esgoto. Na Vila o homem dos esgotos era o Pedro velho, um protagonista comparado aos carregadores de Quimoas na Fortaleza antiga.
Quanto ao tratamento e atendimento de águas, nunca se ouviu falar em conta. Era uma cortesia do Coronel Philomeno aos seus operários. A Light/Conefor essas tinham e com péssimo atendimento, em um prédio histórico no Passeio Público. O Coronel tinha consciência da utilidade do líquido precioso, e dispensava de seus empregados. Água era o que não faltava. A vila só não foi mais ornamentada, culpa nossa que pisávamos na grama. A placa estava lá, mas servia de alvo para os travessos. Essa Vila do Jacarecanga pobre tem muitas histórias."

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


Leia também:
Memórias de menino - O descanso da Vila


Imagem relacionada

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Os ônibus do Oscar Pedreira


Hoje se fala muito em Mobilidade Urbana, termo técnico gerado por simulação computacional em que, a engenharia de tráfego se apoia para resolver problemas de trânsito. Certos gestores até tira bônus perante condutores particulares e/ou coletivos, para lograrem êxito em suas pretensões políticas. Trabalhar na estética é melhor do que na infraestrutura, pois, esgoto não dá voto! 

Querem um exemplo histórico? 
Quem se lembra de alguma obra do Governo Adauto Bezerra? O que muitos vão dizer é que é o único Coronel vivo daquele trio do regime militar. Não, meus amigos! Os quatro anos na frente do Estado foi drenando Fortaleza, e jogando todas as manilhas no Interceptor Oceânico, e trazendo pedras da Monguba para fazer o espigão de retenção das águas oceânicas do meu Jacarecanga. Isso tem um custo tremendo, mas não dá voto. Observaram que em eleição direta para o Governo do Estado em 1986, ele foi derrotado por Tasso? Não estou como partidário e sim como observador político. Mas isso é outra história... 

Foto acima: Oscar Pedreira em destaque


 
Ao tempo do empresário Oscar Pedreira, ele tão bem servia as linhas de sua concessão adquirida na gestão de Álvaro Weyne (1928), que certos veículos saíam batendo da Vila São José para o Centro, mas ele jamais suprimiu algum horário por falta de passageiros. Tão logo construiu sua Vila Operária (1926), sua preocupação número um, foi o deslocamento dos moradores para o Centro da cidade. A garagem e escritório da Empresa Pedreira Ltda era próximo ao Liceu, na Avenida Francisco Sá ao lado de sua mansão que, em homenagem a Sra. Francisca Pedreira, sua esposa, denominou-se VILA QUINQUINHA, afinal na intimidade ele a chamava de Quinha, corruptela de Francisquinha. O galpão era alto. Lá os ônibus pernoitavam, passavam por revisão e abastecimento. A armação de sustentação do teto era de tesouras confeccionadas com madeiras de lei. Existia uma bomba de combustível abastecida pela Atlantic, e dois mecânicos habilitados para conduzirem carros grandes para a época. Faziam serviços de funilaria, elétricos, pinturas e quando a coisa era mais complicada, seu Oscar chamava técnicos da GMC e Chevrolet

O Posto Clipper da Avenida Francisco Sá, foi instalado em 1952 com a intervenção de Oscar Jataí Pedreira.

Falando em Atlantic, o povo do Jacarecanga deve ao Oscar Pedreira a instalação do Posto Clipper em 1951. O mesmo era na esquina da Avenida Francisco Sá com a Via Férrea. A Atlantic em 1993 foi absorvida pela Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga

Os primeiros combustíveis chegados ao Ceará remota de 1909, mas os vapores que aqui fundeavam no Poço das Dragas e Barra do Ceará, traziam em invólucros tipo tanquinhos derivados de petróleo. Era uma tensão muito grande do Capitão e, dos moços de convés em trazer essa carga. Oscar pedreira era um importador para abastecimento de seus coletivos. A partir de 1950, foi que se estabeleceu no Mucuripe a Shell Mix primeira distribuidora do ramo. Como apelido era o predominante na Vila São José e eu me lembro de já ter escrito sobre isso, nem os ônibus escaparam de nossa molecagem. Existiam na empresa sete veículos com motores pra fora: O número 1 era o do João Pilão (careca com cabeça de pilão), recebeu batismo nosso. Veiculo de marca GMC, só tinha uma entrada e perto da manivela da abertura da porta, tinha o ficheiro. O cobrador ia de banco em banco, com as cédulas entre os dedos. Quem ia pagando recebia uma ficha. O número 2 era o Portiguinho, ou seja o vidro traseiro era duas janelinhas para visão do condutor, e era guiado por Pedro Alegria”. Ele era igual a geladeira de restaurante, só vivia se abrindo. Nós íamos ao Centro de graça. O número 3 fazia a linha Brasil Oiticica indo ao Carlito Pamplona. Este fazia ponto final na Rua Frei Teobaldo, defronte ao comércio 4444 na esquina da Avenida Francisco Sá (nunca se soube quem era o condutor). O número 4, por seu comprimento, cara de jacaré, recebeu o nome de Pajelão, e o motorista era o Araújo Bigode de Nós Todos. Faleceu subitamente em 1968, e aí, em respeito, passou a ser Seu Araújo. O número 5 era um semelhante ao de hoje, com porta no meio, e sem cobrador. O condutor era Seu José, o Zezinho afobado, só andava adiantado. O número 6 era chamado oDifícil e só fazia a linha do Carlito Pamplona. Vez por outra entrava na Linha Jacarecanga indo a Vila São José. Motorista: Bigodinho Fresquim. Parecia com Dom Diego do seriado Zorro com Guy Willians. O número 7 era carro reserva, e fazia conforme a necessidade as duas linhas. Então em súmula a distribuição era assim: quatro carros faziam a linha do Jacarecanga, dois para o Carlito Pamplona e um reserva. 
Aí fica uma indagação: Por que o Carlito Pamplona, mesmo sendo mais longe, tinha veículos de menos? A justificativa era que o bairro era assistido por outras empresas. Era concorrido pelas linhas Barra do Ceará, Jardim Iracema, Floresta, Coelho Fonseca e Jardim Petrópolis (cidade do Petróleo, o petróleo chagava por ali), hoje é Goiabeiras

A Brasil Oiticica 

Os ônibus do Pedreira tem histórias!
Essa é apenas uma, conte a sua!
O terminal do Centro, segundo meu pai, era no Abrigo Central, indo em seguida para a Praça Jose de Alencar em 1965. 

Atenção: Quem tem seu papai, pergunte as coisas, não espere o arquivo se queimar!
Com o crescimento oeste, e abertura de avenidas, Jacarecanga foi ficando saturado com as linhas mais diversas. Por conta disso, desapareceram as linhas do Jacarecanga e Navegantes (Braga Torres); em seguida Carlito Pamplona. Em 1973 a frota foi renovada com carros de motor interno de carroceria Grassi, mas não deu mais para acompanhar. Oscar Jataí Pedreira morre em 1977. A viúva foi "Aldeotizar" com os filhos... Os carros foram vendidos juntamente com a Vila Quinquinha. Em seu local é erguido um majestoso edifício, e nunca mais circulou ônibus pela Vila São José

Agora vem o nostálgico: As lembranças daqueles onibuzinhos verdes, os motoristas já nos deixaram, e nada se compara a velocidade de nossa mente, quando retorna ao passado. Pena que não volta!

Assis Lima
(Jornalista/Radialista) 




sábado, 3 de dezembro de 2016

Memórias de menino - O descanso da Vila


Inicio da então rua José Bastos, avenida onde fica a Escola Sales Campos.

Era tardinha. 
Chegávamos do Grupo Escolar Sales Campos* e ao atravessarmos a linha férrea de Sobral, podíamos ver por detrás da firma Machado Araújo a frouxa e amarelada luz do astro rei, espalhando seus últimos raios, se despedindo do dia que nos deu. (Graças a Deus!). Na Vila São José era uníssono nos aparelhos receptores de rádio, o som da banda de Oswaldo Borba na execução do frevo 'Aguenta o Cordão' de Livino Ferreira, que havia sido gravada para o carnaval de 1960. Era Wilson Machado no microfone da Pre-9 se despedindo no programa Disque M para a Música.

Outro ângulo da José Bastos. Esse cidadão na foto é o François (Françoá), tipo popular do bairro pelo "Famoso Caldo do Françoá. Ele dizia: "Venha tomar do meu caldo que é que nem raiz de benjamim, levanta até calçamento". Entre seus clientes, estava o saudoso radialista Jurandi Mitoso.


Vemos o Muro da Extinta Firma Machado Araújo e o Centro de Saúde Carlos Ribeiro.
  
Em seguida viria Ulisses Silva, também já falecido, com o Alô Sertão com a voz caricaturada do Coronel Ludgero. O dia enegreceu. Após trocado de roupa, abandono de material escolar e tomada de café Baturité com tapioca... Rua, para brincar. Não precisa estudar medicina para compreender que quando o corpo está em movimento, a mente fica em repouso. Só bastava o primeiro demonstrar prontidão e a meninada já estava reunida. A lua aos poucos fazia um lindo desenho, saindo em forma de grande bola de prata por detrás dos galpões da Fábrica São José, gerando um espetáculo quando a chaminé da usina fazia uma linha preta no calçamento na rua Central da Vila, a rua Coronel Philomeno. Tinha o pula pula imaginário naquela sombra, por a companheira das noites que brinca com as estrelas ali fazia, enquanto ali ficava. Eram poucos os aparelhos de televisão para sintonizarem a TV Ceará Canal 2 dos Diários Associados, fazendo com que tivessem mais gente nas calçadas. E tome a vida alheia!!! Os portes de madeira de lei carregavam a fiação da Conefor (Coelce-ENEL) e, a cada esquina uma arandela triste com lâmpadas incandescente de pouca potência. As bodegas do seu João Lima Passos, do Assis do Gás e seu Dioclécio fechavam as 20h, ficando em funcionamento modo industrial a padaria do Seu Augusto Português

Curva da Vila São José

Os padeiros entravam de noite à dentro, porque uma rural Willys partia às 4 hs para abastecer a Padaria Triunfo, que ficava baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro de Fortaleza. Nas avenidinhas (Praças da Vila) tinha o trinta e um na manja; passarinho ninho cobra no buraco; mamão pobre mamão maduro; Eu sou pobre demavé mavé; Barra Bandeira etc...Aos perdedores um tremendo sabacu. O que era interessante é que ninguém se intrigava por essa punição. Isso fazia parte do ritual travesso. Minha mãe com os ouvidos aguçados nas Radionovelas através de um Semp valvulado tipo Cara de Gato, e meu pai no programa do Themístocles de Castro e Silva "Quando a Saudade Apertar" num radinho a pilha cochilando sob a fresca da noite na calçada. Ele não gostava de dividir sua audição com conversas paralelas, até porque naquela época os programas de rádio tinha conteúdo. Hoje eu tenho vergonha até de dizer que sou radialista. - Meu Deus! Dez da noite. Papai só bastava se perfilar na Praça e negro chega batia os pés na bunda na carreira pra casa. Tomávamos banho e aí era que íamos para o jantar. Talvez minha mãe queria até se deitar, mas não podia porque ainda tinha sua última tarefa (como se fosse poucas as do dia), em nos alimentar. Não tínhamos ideia deste sacrifício dado aos nossos pais. 
´
Sentido inverso

Vila São José

Sabe amigos, só com o passar do tempo é que percebemos que a vida é uma colheita. Nossos filhos hoje muitas vezes nos desobedecem, e aí nos lembramos de que isso é uma dívida que a infância deixou em aberto. Bom todos em casa e já as redes armadas! Ainda íamos contar histórias/estórias até as onze e aos poucos adormecíamos. Era assim que a Vila São José dormia. Tamanho era o silêncio que ouvíamos alguns vizinhos mais corujão ainda ouvindo a musica Acalanto de Dorival Caymmi, que era o sufixo da TV Ceará no fechamento e mais: quando a maré estava cheia se ouvia o Marulho das Vagas na Praia do Pirambu. Por baixo da porta de entrada de nossa casa, um clarão como se fosse um relâmpago em noite chuvosa. Não e não. Era a lua já bem alto no Céu, emitindo sua claridade para não deixar nossa rua na solidão.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)

Gif

*Inaugurada em 17 de fevereiro de 1952, com o nome de Escolas Reunidas Sales Campos, no governo do Dr. Raul Barbosa, sendo Secretário de Educação o Dr. Waldemar Alcântara. Funcionava na rua São Serafim, S/N, no Bairro Nossa Senhora das Graças (Grande Pirambu).


Em data de 6 de novembro de 1954, por ato do então Governador do Estado, Dr. Stênio Gomes da Silva a Escola foi elevada à categoria de GRUPO ESCOLAR e passou a funcionar na rua Jacinto de Matos, 730, atualmente Av. José BastosJacarecanga.

A Escola hoje, conta com um total de 512 alunos, distribuídos em dois turnos: manhã e tarde com o ensino fundamental e médio. São 28 professores, 12 funcionários (agentes administrativos, auxiliares administrativos e pessoal de serviço); e um Núcleo Gestor composto de uma Diretora, duas Coordenações e uma Secretária.

Seu espaço físico na época era pequeno e contava apenas com 8 salas de aula, Sala da Direção, Secretaria, cozinha e banheiros masculinos e femininos.
Hoje, são 10 salas de aula, Sala da Diretora , Sala da Coordenação,1 Centro de Multimeios, Sala dos Professores, Secretaria, banheiro dos professores e funcionários, banheiro dos alunos, Almoxarifado, Banco de Livro, Depósito de material, Depósito da Merenda, Cozinha, dois pátios, Sala do Grêmio e Laboratórios de Ciências e de Informática.



Imagem relacionada

sábado, 26 de novembro de 2016

A vacaria do velho Alves e o riacho Jacarecanga



Mansão de José Pinto

Dentre os points da gurizada da Vila São José do meu tempo, o mato verdejante sob o espetacular voo da garça branca ao lado do riacho Jacarecanga, pela passagem sob a ponte da rua São Paulo/Monsenhor Dantas, servia de uma espécie de acampamento. A improvisação do local era à sombra de uma grande goiabeira ladeada ao muro da mansão de Acrísio Moreira da Rocha e outra com vários degraus que ficava pela avenida Francisco Sá (Foto ao lado), que era da família de José Pinto do Carmo. Era riquíssima a flora no entorno do então belíssimo riacho. O coqueiral era intenso, mas ninguém tinha coragem de subir, até porque um militar dos bombeiros nos assombrou dizendo: “O menino que subir nesse pé de coco vai parar no Juizado de Menor”


Na realidade aquele homem queria era nos proteger de possíveis acidentes, porque menino não tem noção dos perigos. Ora o Glauco cueca lá na goiabeira deslizou e fraturou um braço! 

(Ao lado, casa de Acrísio Moreira da Rocha).

Defronte ao nosso Quilombo (liberdade de casa kkkk), observa-se a Vacaria do Seu Alves. Um velho careca com orelhas avantajada, e tinha seu curral com sua criação em número de 30 cabeças. Ela ficava ao nordeste do riacho, e era um concorrente dos laticínios Maranguape e Cila. Tudo lá era caseiro, mas de boa qualidade. Um fato inusitado era uma espécie de rancor ou tom, sei lá, nós tínhamos era medo do velho!!! - “Mil”. Referia-se a nota amarela de Pedro Alvares Cabral. Era assim que ele respondia aos que perguntavam pelo preço do litro de leite. Nunca foi visto os dentes daquele homem, que já beirava os 70 anos. 

"Era ao lado do galpão que ficava o matagal que era nosso quilombo." Assis Lima


Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. "Antes de ser aterro sanitário e fábrica de muriçocas." Assis Lima

Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. 

Aquele pedacinho do Jacarecanga tem muitas histórias, mas não são coisas que contamos, e sim que a topografia e edificações ratificam. O verdadeiro arquivo é sua etnologia sob a égide topográfica. Quem já ouviu falar no Lazareto de Jacarecanga? Pois bem, no canto noroeste e estamos falando do riacho, ficava uma caixa d’água em ruinas e por detrás um cacimbão. Após conversa com ex-provedores da Santa Casa de Misericórdia, aquela era o recurso hídrico para o Lazareto. Portanto todos passam despercebidos por ignorância. Eu fui uns dos que contemplaram no inicio da década dos anos de 1970, quando da construção da Autoviária São Vicente de Paula, que era na avenida Francisco Sá quase defronte ao SAPS, vi várias ossadas humana. A garagem de ônibus do Seu Carlos, sogro do cantor Vilemar Damasceno, foi erguida no Campo de Baturité que no primeiro quartel do século XIX havia funcionado ao lado da futura Cajubraz, o Lazareto. O quadrilátero para o leitor compreender melhor era: Ao Leste rua Adriano Martins; Sul rua Adolfo Campelo; Oeste Dona Maroquinha e ao Norte rua Monsenhor Dantas. Voltando... À noite, para nós meninos, era aquele local um terror. Mas durante o dia e pela manhã, com cuidado, ainda se podia tomar banho, pela aparente limpidez das águas correntes. Pescávamos por hobbie. Quando chegou no “Morro do Ouro” a Cobica, fábrica que trabalhava com beneficiamento de castanhas de caju, começou o desastre ambiental no riacho. Os peixes foram desaparecendo, e com a proliferação de moradores nas beiradas com ligações sanitárias para o mesmo, morreu o resto. Ainda bem que crescemos! Um muro hoje apagou literalmente a paisagem, tendo agora um residencial antagônico ao exórdio, ficando no lendário dos cinquentões que ali brincaram, as lembranças. Qualquer local traça seu próprio destino, obedecendo às transformações paisagísticas ou sociológicas. É pena que nem todos são sensíveis ao seu passado, ou no engasgo da realidade atual, não sabem contar...


Leia também:

Morro do Ouro - O morro sem ouro



Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



Resultado de imagem para leila nobre
   

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ordenamento urbano e a saudade...




A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento, fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da administração do Senador Alencar (1834-1837), a quem a cidade deve imensamente, estava atribuída também à fiscalização do Presidente da Câmara, o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira. O mesmo colocava a filantropia em primeiro e, política em segundo. 
Morando em um casarão, quando em Fortaleza chegou, sua casa que era de três portas, não dava para atender a demanda de pessoas enfermas, e foi com esses méritos que o mesmo já havia caído na graça do povo. A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai à tangente até as primeiras serras na hoje Região Metropolitana. 

Rua Senador Pompeu em 1940. Arquivo Nirez 

Praça do Ferreira em 1910. Destaque para o Café Iracema.

Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos. Do chamado coração da cidade (Praça do Ferreira), observam-se as quadras de ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster, e as pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que não tem sossego. 

Antigas edificações de Fortaleza

Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento desses locais, senão o Centro vai morrer. Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dar como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em numero de duas. O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios (ainda assisti partidas entre Usina São José X Usina Ceará, Messejana X José de Alencar, dentre outros). Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil - Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1966. 

Vista da cidade no início dos anos 40.

A cidade e seu traçado. Nesse postal, temos uma vista aérea parcial do Benfica nos anos 30, com destaque para a Avenida da Universidade (à direita). 
Acervo MarcosSiebra 

Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia a Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele. Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar. A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal, quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho. Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as ultimas palavra de José de Alencar no romance Iracema: “Tudo passa sobre a terra”.


Leia também:

Ruas e praças de Fortaleza


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio


Resultado de imagem para leila nobre

domingo, 6 de novembro de 2016

Jacarecanga - Até seu solo faz história



PRÉ-HISTÓRIA DA VILA SÃO JOSÉ NO JACARECANGA 

A mata verde e viçosa ornamentada pelo espetacular voo da garça branca era cortada pelas límpidas águas do Rio Jacarecanga, que descendo como afluente das Serras de Pacatuba e Maranguape, ia desaguar na praia do Pirambu, nas terras que pertenceriam aos Moraes Correia. A única interferência do curso destas águas era um morro que, topograficamente localizado segundo manuscritos do Ceará Colonial, em local onde passa a Via férrea. Lenda ou não, a Sesmaria levou o nome de Jacarecanga de onde se extrai Jacaré + Canga= Cabeça de Jacaré, do Tupy Guarani. A história ou estória narra que os indígenas faziam canoagem ou a nado, diziam: “Vamos para a cabeça do Jacaré”, que era o morrinho no centro das águas. O liquido precioso era volumoso e profundo, com perfeitas condições para caça e pesca.

Avenida Francisco Sá

Largo do Jacarecanga - Praça Gustavo Barroso (Do Liceu)

A vegetação era do tipo flora alimentícia. Acredita-se que os indígenas remanescentes de Jacaúna plantavam lavoura de sobrevivência. O manguezal, cajueiros, Oiticica, Juazeiro, pé de mamão, graviolas e o pastoreio (animais de serviço como cavalo, jumento não fazem parte da fauna brasileira). A partir de 1700, começaram as invasões e aí a história tomou outro rumo, aí sim apareceu animais de serviço e domésticos. Os nativos ou viravam escravos ou eram exterminados pelos famigerados exploradores (não chamo de colonizadores). A primeira coisa que fizeram foi recrutar via escravidão, os indefesos contra armas de fogo para trabalhos forçados. Aí o meio ambiente começou a sofrer impacto ambiental. A primeira via construída no Jacarecanga Colonial, foi a carroçável Estrada do Jacarecanga ligando o litoral a uma primitiva Taba que, após ser destruída como se fosse uma espécie de quilombo, se chamaria Largo do Jacarecanga (hoje a Praça Gustavo Barroso, do Liceu). Lá começou a se estabelecer as famílias de posse. Depois, os ancestrais do Coronel Antônio Joaquim Carvalho se empolgaram e abriram também com mão de obra escrava outra artéria ligando suas terras também a esse Point da Nobreza. Era a Estrada do Urubu, que fora aproveitada a partir de 1815 para as construções dos Lazaretos de Jacarecanga e Lagoa Funda. É atualmente a Avenida Francisco Sá. Esse foi nos primórdios o primeiro atravessamento que sofreu o Rio Jacarecanga, com a presença de alvarengas para oferecer condições de travessia de carroças e charretes, e o cocheiro que se virasse, pois, o Coronel nem se mexia. A história remota assim.

 
Avenida Filomeno Gomes

Avenida Francisco Sá

O Jacarecanga foi explorado e a posteriori provou que sempre existiu a Aristocracia e o Proletariado. Vocês já repararam que os casarões da Avenida Philomeno Gomes e Francisco Sá já respiraram ar de Belle Époque? Assim como existe duas Fortalezas, existem dois Jacarecangas. O tempo tem resposta pra tudo, mas foi o Rio que fez com que percebêssemos tudo isso. A parte alta é a lembrada, porque somos quando estamos. O Coronel Philomeno Gomes adquiriu essas terras no primeiro quartel do século XX. Homem visionário, apesar de rígido com seus subalternos, construiu a Fábrica Gomes & Cia Ltda em concomitância com a Vila operária. A Usina São José na parte alta e a Vila na baixa, cujas conclusões datam de 1926. Agora, convém salientar de que originalmente a Vilazinha não era essa que lá está. A Vila São José no exordial era umas casas formando um L, ou seja, as Ruas Maria Estela e Isabel. Ficou muita vegetação nativa, com uma arborização impressionante. O lençol freático era cristalino e tinha um chafariz (o primeiro) onde em 1917 passaria a Linha Férrea de Sobral; Tão bom era o liquido, que recebeu o batismo de “Poço de São Jacó”. Com a urbanização da cidade que ainda hoje avança numa velocidade tremenda, o Rio Jacarecanga foi estreitando devido a perca de volume d’água e depois veio à poluição, sendo complementada em 1934 com uma ponte sobre o Riacho pela Avenida de 5 de Julho (Francisco Sá) e aí veio o descalabro. O frescor da natureza foi sendo reduzido.

 Fábrica São José

 Escola de Aprendizes Marinheiros

 Jacarecanga e a Escola de Aprendizes Marinheiros nos anos 50. IBGE

A Escola de Aprendizes Marinheiros de nossa Marinha do Brasil já havia chegado em 1908, ocupando o terreno do Curtume do agropecuarista Francisco Lorda e, o matagal da parte baixa ao oeste do Rio foi ocupado com residências. O Coronel Philomeno mandara construir em 1946 um segundo lote de casas, e foi nesta fase de construção que com mão de obra não qualificada, MEU SAUDOSO PAI VALDEMAR ALVES DE LIMA, matuto do Município de Jucás, semialfabetizado, nascido no Sítio Peixe em 1924 lá chegou. A Vila São José é assentada sobre a maior riqueza ecológica da Fortaleza Colonial. Vegetação nativa, lavoura de sobrevivência, comunidade pacífica e água à vontade.
 

"Jacarecanga, Jacarecanga um Rio que fez o Bairro nunca mudar de nome. Até seu solo faz história. Lá está a minha Vila São José, embora mutilada, mas ninguém pode negar seu passado. É meu berço."

Assis Lima


sábado, 29 de outubro de 2016

O Palácio do Bispo e a Igreja da Sé


Antiga igreja de São José - Última missa.


A então Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (2005-2013) foi quem assinou a ordem de serviço para a reforma do Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo, cuja primeira grande reforma foi feita em 1913, quando Manezinho do Bispo era o porteiro. Referido prédio é patrimônio do Município desde 1973, pelo que ocorreu o tombamento. A Chefia do Executivo Municipal transferiu novamente o Paço Municipal para o Centro. Busquemos recuar no tempo. Aos 16 de fevereiro de 1699, veio de Portugal uma Ordem Régia que determinava a construção de uma igreja, que seria a primeira Capela-Mor da Matriz de Fortaleza. Localizada com a frente para a cidade, e com Riacho Pajeú passando a alguns metros por detrás, sua construção foi iniciada somente 48 anos depois.

Nossa catedral foi inaugurada em 1978



Concluída em 1795, em 1820 foi demolida, e com festa para a cidade Fortaleza, aos 2 de abril de 1854 foi inaugurada a Igreja de São José. Com a posse do primeiro Bispo do Ceará, Dom Luís Antonio dos Santos (foto ao lado), a antiga Matriz aos 29 de setembro de 1861, foi transformada em Catedral. Esse templo ficou erguido até 1938, quando aos 11 de setembro foi realizada a última missa. Um ano após, foi lançada a pedra fundamental do majestoso templo, que depois de quarenta anos lá está. Por detrás dessa igreja, no segundo quartel do século XIX, e nas margens do Pajeú, foi construído um palacete pela família do Comendador Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, na rua das Almas, hoje rua São José. Adquirido pela Igreja católica, esse palacete passou a ser abrigo dos Bispos, surgindo a partir de então a nomenclatura “Palácio do Bispo”, afinal o mesmo passou a pertencer ao episcopado, quando o mesmo fora entregue aos 21 de junho de 1860, embora o bispado já tivesse sido criado, conforme a lei estadual nº. 693 de 10 de agosto de 1853. Esse prédio funcionava, além da residência do Bispo, como uma espécie de Secretaria de Ação Social, pois, diversos registros fotográficos e relatórios ratificam que os pobres se enfileiravam em busca de ajuda.


Hoje são várias as modificações no local, com pavimentação asfáltica, trânsito maluco; a rua da Escadinha (Baturité) só não desapareceu por conta da resistência do saudoso pesquisador Christiano Câmara que era um geógrafo sentimental. O riacho Pajeú, que outrora era uma veia significativa, está atualmente como um vaso capilar e poluído. Eu pensei que essa atitude da Prefeitura de Fortaleza naquele 2008, tivesse sido um prenuncio para que o poder público voltasse a funcionar no Centro da Cidade, tal qual a histórica capital, João Pessoa. Até pouco depois da Revolução de 1930, denominava-se Parayba do Norte, no estado da Paraíba, e nunca a sede dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário e repartições correlatas saíram do Centro. Que história é essa de querer revitalizar o Centro somente com a volta dos moradores?


Bônus:




Leia também:

Patrimônio Histórico: Palácio do Bispo - Por Leila Nobre


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: