Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sábado, 2 de outubro de 2021

Mulheres da borracha – Núcleo do Porangabussu

Composição com recortes fotográficos. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

“Fumar e chorar eram os meus únicos confortos desde que você foi embora”

Era assim que D. Elcídia Galvão se queixava em carta escrita ao marido, soldado da borracha, sobre a proibição de fumar imposta no Núcleo de Famílias do Porangabussu (atual Rodolfo Teófilo).

Os milhares de trabalhadores nordestinos recrutados para trabalhar na região amazônica na extração da borracha, em 1943, assinaram um contrato de encaminhamento. Neste, eles poderiam optar pela assistência que o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, SEMTA, oferecia para suas famílias que ficavam no nordeste. Muitas mulheres e filhos desses trabalhadores permaneceram em hospedarias improvisadas, chamadas de “Núcleos” esperando o momento em que iriam novamente reunir suas famílias, como foi o caso do Núcleo de Famílias do Porangabussu.

Sede do SEMTA, Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Longe dos maridos, entre pessoas estranhas e tendo que seguir normas específicas, estas mulheres escreveram cartas a seus esposos. Cartas contando sobre angústias sofridas, revelando saudades e desejos, pressionando o retorno dos seus maridos e com várias queixas, como é o caso da carta de D. Elcídia, a qual denuncia a proibição de fumo dentro do núcleo, feita pelo médico responsável e a perda de um de seus únicos consolos.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - Semta foi um órgão brasileiro criado em 1943, como parte dos Acordos de Washington, tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e transporte de nordestinos para a extração da borracha na Amazônia, com o intuito de fornecer matéria-prima para os aliados da II Guerra Mundial.

O Semta fazia parte do Departamento Nacional de Imigração (DNI), do governo de Getúlio Vargas. Era financiado por um fundo especial da Rubber Development Corporation, um fundo criado com o selamento dos Acordos de Washington.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

Tinha como objetivo principal o recrutamento, encaminhamento, colocação e à assistência de trabalhadores (e famílias destes) nos seringais da região Amazônica.

Sediado no nordeste, em Fortaleza, funcionou no Palácio do Comércio a sua sede administrativa. Já os campos de alojamento ficavam no Prado (atualmente Benfica) e no Alagadiço (atualmente São Gerardo). 

Já para as mulheres e famílias dos homens casados, existia um alojamento que ficava no Porangabussu, local da construção do antigo Hospital das Clínicas, hoje Hospital Universitário Walter Cantídio.

Cine Diogo. Foto Aba-Film, Fortaleza, 1943.
Foto: Acervo MAUC - UFC.

O Ceará foi escolhido como centro operacional deste serviço por diversas razões. Entre elas: A safra agrícola cearense de 1942/43 estava perdida devida a seca de 1942/43.

O governo Vargas e o governo estadual temiam manifestações em massa da população do interior cearense, como a Invasão de Flagelados na seca de 1915, ou o movimento político-social-religioso do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto da década de 30, bem como a reimplantação da trágica estratégia dos Campos de Concentração no Ceará (mais conhecidos como Os Currais do Governo) de 1932/1933.

Praça José de Alencar - Saída de um comboio para Amazonas em 1943. Acervo Ivan Gondim

Os cearenses se adaptariam melhor com a população local do Norte e com os índios, pelo fato de um grande contingente de cearenses já havia imigrado para a Amazônia no Primeiro Ciclo Econômico da Borracha (final do século XIX e começo do século XX), e o fato de que a população cearense teve quase nada da influência da cultura da escravidão (diga-se, racialismo integralista que via nos mamelucos do interior cearense maiores similaridades com os mamelucos e nativos da Amazônia ocidental, ao contrário de outros lugares do Nordeste e mesmo do Sudeste também).

Os soldados da borracha ao lado do Teatro José de Alencar. Assis Lima

Segundo o historiador Frederico de Castro Neves, tudo parece crer que a política de migração para o Norte foi uma estratégia governamental para desafogar os equipamentos urbanos da enorme pressão exercida pelos milhares de retirantes sem teto, sem alimento, sem saúde. Nesse aspecto, a migração se mostrava como uma forma de apaziguar os problemas causados pela seca no Nordeste, além de se constituir como outra forma de exploração da mão-de-obra retirante.

Dessa forma, para recrutar mão-de-obra e transportá-la para os seringais, a CME institui o SEMTA. Ele não estava ligado diretamente nem ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio nem ao Ministério da Agricultura, funcionou durante 12 meses, dirigido por Paulo Assis Ribeiro, engenheiro e geógrafo, e em 14 de setembro de 1943 foi substituído pelo CAETA (Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia).


Caminhões do SEMTA estacionados na Praça José de Alencar em 1943. Detalhe para a Igreja do Patrocínio e o antigo edifício da Fênix Caixeiral. Arquivo Assis.

Experiências de migração entre o Nordeste e Norte podem ser bastante observadas mesmo antes da Segunda Guerra Mundial. Porém, o SEMTA era um serviço especial sob o formato administrativo do Estado Novo inaugura um novo discurso de migração, a mobilização dos trabalhadores para outro front da guerra, os seringais.

Continua...


Fonte: Rodolfo Teófilo/Leila Nobre - Fortaleza: Secultfor, 2016. (Coleção Pajeú)


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O histórico Mondubim


No final do século XIX, na recém-inaugurada Estrada de Ferro de Baturité, a “Maria Fumaça” passa próxima às margens da lagoa do Mondubim e traz consigo pessoas, mercadorias, comércio e desenvolvimento à região com o mesmo nome. 

Primeira viagem do Trem Turístico do Ceará. O maquinista Vicente e o auxiliar Dario posam ao lado da velha "Maria Fumaça" de Baturité. Acervo O Povo.

Primeira Estação do bairro

Praça Venefrido Melo, a praça do Mondubim
em 1937. Arquivo Nirez
A lagoa do Mondubim, principal atração do bairro, faz parte da bacia do Rio Ceará, onde os índios habitantes do local pescavam e caçavam. Ao lado da Lagoa foi construído uma capela e depois, no centro da então vila, a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em 1908, e em frente a igreja, um chafariz. Em 1875, foi construído a estação de trem da Estrada de Ferro de Baturité, o que estimulou a economia desta localidade que ficou baseada em orlarias. Infelizmente, a primeira estação de trem do bairro já foi demolida.

Mondubim. Arquivo Assis Lima

O Mondubim, de acordo com o turismólogo Gerson Linhares, já constava em mapas antigos de Fortaleza, utilizados por portugueses após a expulsão dos holandeses do Ceará. 

O Mondubim Velho, como é conhecido o núcleo original do bairro, apresentava disposição espacias simples, de cidade interiorana, com um canteiro (Praça Venefrido Melo) no centro e habitações ao seu redor. No início, a região era ocupada por chácaras e fazendas.Este desenho foi alterado nos anos 1970 do século XX, quando as duas ruas ao lado do canteiro foram usada como vias da Av. Perimentral.

De acordo com o IBGE, Mondubim é um distrito de Fortaleza, criado em 04 de dezembro de 1933*, pelo Decreto Estadual n.º 1.156.



O jornal O POVO, de 1948, traçava o perfil de um bairro para “aonde levávamos em veraneio a família e cujos ares devem ter a mesma tonicidade daquela frutinha oleaginosa que, no Piauí e outros estados no Norte, se chama mudubim e é, ao final das contas, o amendoim baiano...” O texto também descreve um bairro de “climas estáveis e das temperaturas que acomodam a própria alma”.

Interessante salientar que, foi nas proximidades da linha férrea, que foram erguidas as mais antigas construções do bairro.


o Núcleo Central do bairro fica entre os trilhos do Metrofor e o conhecido “balão do Mondubim” - localizado no cruzamento das avenidas Wenefrido Melo (Perimetral) e Godofredo Maciel.


Mondubim nos anos 50. Acervo Carlos Juaçaba

É nesse perímetro que está localizada a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Antes, possuía uma bela praça em frente a entrada principal. “Eu relembrarei o pátio gramado da igreja, verde o ano inteiro, que vinha do patamar, pregueado de degraus solícitos e se estendia molemente para as bordas da linha-férrea”, descreve Mário Sobreira de Andrade no texto Velho Mondubim, publicado na seção Literatura de ontem e de hoje, em 1944.

Conjunto Mondubim financiado pelo IAPC - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, em 1955. Na época, os comerciários de Fortaleza associados aos sindicatos vinculados ao IAPC, desde os estudos preliminares, se mostraram contra a localização do Conjunto em área tão distante do centro comercial, tida em meados de 1950, como zona rural. Localização: Avenida Presidente Costa e Silva, 1807. Acervo William Beuttenmuller


Em 2001, a antiga igrejinha perde o posto para a nova matriz, mais ampla e batizada com o mesmo nome. Porém, o templo mais antigo do bairro é a Capela de Santo Antônio, construída em 1879 e, hoje, localizada ao lado do Cuca do Mondubim.

Aos poucos, o bairro foi crescendo... 


Noticias do Mondubim do passado:




*De acordo com o livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), o Mondubim é elevado a condição de distrito em 1951 e a sub-prefeitura é instalada em 1957.


Fonte: O Povo/ Cronologia Ilustrada de Fortaleza / Hemeroteca Digital Brasileira.


domingo, 12 de setembro de 2021

As atividades de lazer em Fortaleza na época da Belle Époque - Parte II


Passeio Público - Álbum vistas do Ceará de 1908.

A Belle Époque mudou o cotidiano e os hábitos dos fortalezenses no final do século XIX e isso representou um novo modo de lazer inspirados também nos modelos europeus, mais especificamente Paris que era a capital modelo.

Em 1880, é inaugurado o Passeio Público na então Praça dos Mártires,

O Passeio Público, por sua vez, surgiu para satisfazer o desejo por uma área exclusiva de lazer público que Fortaleza carecia e outras grandes cidades brasileiras já possuíam. Deveria ser um espaço florido, arejado, reservado apenas para fruição daqueles “belos tempos”[...]. (PONTE, 2007, p.170).

Passeio Público - Álbum vistas do Ceará de 1908.

Neste momento, o Passeio Público torna-se “obrigatório no cotidiano da vida fortalezense” (CORDEIRO, 2007, p.138). Isso porque foi um equipamento construído para representar este período e o afrancesamento da cidade, nas palavras de Sebastião Ponte, “um éden a servir de passarela para o desfile de elegantes e palco para o exercício de uma sociabilidade europeizada”. (PONTE, 2009, p.73)

Como afirma o autor Silva e Filho em seu livro Fortaleza imagens da cidade, o Passeio Público representava “indícios da influência europeia nas formas de lazer e interação social de Fortaleza”.

Ainda seguindo esta afirmativa, de acordo com Ponte (2010):

Localizado no perímetro central e com ampla vista para o mar, o Passeio tornou-se de pronto a principal área de lazer e sociabilidade, até que despontassem outras tentadoras opções a partir do século XX, como o Theatro José de Alencar (1910) e os cine Majestic e Moderno (1917 e 1921, respectivamente). 


Passeio Público - Álbum vistas do Ceará de 1908.

De fato o logradouro era a principal referencia de lazer da cidade naqueles anos, afirmação que pode ser confirmada pelo autor Oliveira Paiva, que faz referencias ao lazer no romance A Afilhada mencionando as “novenas na Prainha e a ida ao Passeio Público” (OLIVEIRA PAIVA apud CORDEIRO, 2007, p.138).

Casal Zé de Góes e Beatriz
no Passeio Público em 1928.
Acervo Sérgio Roberto

Naqueles últimos anos do século XIX, a cidade tinha ganhado a iluminação a gás, sinônimo de progresso e modernização que nas palavras de Raimundo Menezes até “os mais letrados achavam que aquilo era um enorme surto de progresso para a nossa capital, que marchava, a passos largos, na retaguarda das grandes cidades do país” [...]. (MENEZES apud, SILVA E FILHO, 2004, p.90).

Chama-se atenção para o fato de a iluminação a gás ter sido de grande importância para iluminar os principais logradouros da cidade, principalmente o Passeio Público, considerado a mais elegante área de lazer urbano do período. 

A influência do passeio público pode ser percebida no romance A Normalista de Adolfo Caminha, o autor faz algumas menções do logradouro e numa delas ele afirma:

Toda uma geração nascente, ávida de emoções, cansada d’uma vida sedentária e monótona, ia espairecer no Passeio Público aos domingos e quintas-feiras, gratuitamente, sem ter que pagar dez tostões por uma entrada, como no teatro e no circo. [...]. 

Apenas quem não tivesse dois vinténs estava proibido de sentar-se, porque nesses dias, as cadeiras eram alugadas, havia assinaturas baratas. (CAMINHA, 1997, p.89).

Passeio Público em 1893. Vemos os membros de uma expedição científica britânica da Royal Astronomical Society. Acervo Carlos Augusto

O autor Sebastião Ponte também faz menção a esta particularidade do passeio, quando afirma que este era uma:

Atração imperdível às quintas e domingos, o Passeio lotava-se de gente elegante para mostrar as últimas modas chegadas do dernierbateau (último navio) vindo da Europa. A banda municipal embalava os namoros, os flertes e o borboletear de um lado para o outro dos passantes.(PONTE, 2007,p. 170).

Foto de 1908 do Passeio Público - Avenida Caio Prado.

A propósito, tamanha era a influência do Passeio Público no lazer da cidade, que logo cedo se tornou um dos mais conhecidos cartões postais de Fortaleza.

Foi no Passeio que se desenvolveram atividades como o footing (passeio a pé), o meeting (encontro entre pessoas) e flert (flerte, paquera), aliás não só estas atividades mas também as atividades esportivas tinham prática assegurada nas dependências do logradouro, especialmente a patinação (graças à construção de uma pista adequada, o skating- rink) e corridas de bicicletas. 

Pista de patinação construída no Passeio Público durante a administração do Major Tibúrcio Cavalcante.

No entanto, apesar de o Passeio Público representar o ponto de encontro da sociedade de Fortaleza e local para prática de suas atividades de lazer, o logradouro deixava claro que havia ali uma separação entre classes. O Passeio possuía três planos, sendo que o primeiro plano, o mais embelezado ficou como palco para deleite das elites, enquanto o segundo e o terceiro (menos aformoseados) foram ocupados, respectivamente pelas camadas médias e populares. 

Estamos em 1962/1964, vendo-se o 2º plano do Passeio Público ainda não ocupado pelo Quartel da 10ª RM. Acervo Iphan

Ao fundo vemos o anexo da Sefaz em construção-Iphan

Embora destinado ao lazer, o Passeio mantinha normas que disciplinavam seus frequentadores, como a exigência de belos trajes e boas maneiras. Sua própria constituição espacial significa um permanente exercício de discriminação simbólica, pois as diferentes classes sociais ocupavam planos separados no jardim. 

Esta divisão do Passeio se dava por meio das alamedas, denominadas avenidas, eram elas: Caio Prado, Carapinima e Mororó. A primeira, Avenida Caio Prado, ficava de frente para o mar, era o lado das elites, já a Avenida Carapinima ficava de frente para a Santa Casa enquanto que ultima era mais próxima do calçamento da Rua João Moreira.

Passeio Público - Álbum vistas do Ceará de 1908.

No romance A Normalista o autor chama a atenção para esta divisão das avenidas em alguns trechos do livro e também descreve um pouco do cotidiano das três. Um destes trechos diz o seguinte em relação a Avenida Caio Prado:

A avenida Caio Prado tinha o aspecto fantástico d’um terraço oriental onde passeassem princesas e odaliscas sob um céu de prata polido, com sua filas de combustores azuis, encarnados e verdes, com suas esfinges... Senhoras de braço dado, em toillettes garridas, iam e vinham no macadame, arrastando os pés, ao compasso da música, conversando alto, entrechocando-se, numa promiscuidade interessante de cores, que tinham reflexos vivos ao luar. D’um lado ed’outro da avenida estendiam-se duas alas de cadeiras ocupadas por gente de ambos os sexos, na maior parte curiosos que assistiam tranquilamente ao vaivém continuo dos passeantes. (CAMINHA, 1997, p.86).

Quanto a Avenida Carapinima o autor faz a seguinte descrição:

E dirigiram-se para a avenida Carapinima, ensombrada pelos castanheiros, que formavam uma como abobada compacta de ramagens através da qual o luar coava-se aqui e ali, pelas clareiras.

Puseram-se por ali a esperar, em pé defronte dos gnomos de louça, à beira dos reservatórios d’água onde cruzavam gansos e marrequinhas vadias que grasnavam alegremente inundadas de luar ou, caminhando devagar, iam contando os minutos, enquanto a música, no coreto, executava trechos alegres de operetas em voga. (CAMINHA, 1997, p.88).

Passeio Público - Avenida Mororó. Álbum Vistas do Ceará em 1908.

Já a última alameda, denominada Avenida Mororó o autor confirma que esta era destinada as camadas mais populares:

Na Mororó, mais larga que as outras, havia uma promiscuidade franca de raparigas de todas as classes: criadinhas morenas e rechonchudas, com os seus vestidos brancos de ver a Deus, de avental, conduzindo crianças, filhas de famílias pobres em trajes domingueiros, muito alegres na sua encantadora obscuridade; mulheres de vida livre sacudindo os quadris descarnados, com ademanes característicos, perseguidas por uma troça de sujeitos pulhas que se punham a lhes dizer gracinhas insulsas. (CAMINHA, 1997, p. 88).

Passeio Público - Avenida Padre Mororó em 1925.

Enfim, apesar de toda esta segregação de classes o Passeio foi durante muito tempo o logradouro referencia do lazer e sociabilidade de todas as classes até os anos 30, até que começou a sofrer concorrência de outras atrações como o cinema, os clubes e os banhos de mar. Mas é impossível deixar de reconhecer a importância que este logradouro teve por muitos anos na capital e que este foi símbolo da Belle Époque, construído exclusivamente para representar este período.

Continua...


Veja a Parte I AQUI

Parte III


Crédito: Artigo 'As atividades de lazer na Fortaleza Belle Époque' de Kamylla Barboza Evaristo

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

As atividades de lazer em Fortaleza na época da Belle Époque ´Parte I

 

Lagoa do Garrote no Parque da Liberdade. Arquivo Nirez

Em 1865 e 1870, entra em cena um novo código de posturas de Fortaleza, estes tinham por objetivo prever normas disciplinares a população e impor medidas saneadoras, principalmente aos mais pobres, que era vistos como os agentes insalubres da cidade.

O código de 1870, era um instrumento de disciplina e permitia vislumbrar os efeitos limitados da remodelação espacial no controle das condutas.

Algumas medidas que o código impôs foram mencionadas por Campos, no código de 1865, além de mencionar “alinhamento, limpeza, desempachamento das ruas, praças”, traz também disciplinarização de “os curtumes, salgadeiras, estabelecimento de fabricas, depósitos, manufacturas, e tudo quanto possa alterar a salubridade pública”. (CAMPOS COSTA, 2002 p.67).


Lagoa do Garrote nos anos 30

Além disso, o código de 1870 trazia um artigo com o título: “Medidas Preventivas”, que mencionava sobre “bulhas, vozerias obscenidades e ofensas a moral” e proibia as pessoas de se banharem a luz do dia na lagoa do Garrote ou no Pajeú, por exemplo, ou outros lugares expostos sob pena de punição.

De fato, afastar os pobres era o principal objetivo das elites, pois estas os viam como:

Ignorantes, sujos doentes e perigosos e por isso os discriminavam. Os ricos achavam que a população pobre enfeava o embelezamento e a modernização que estavam realizando em Fortaleza para o próprio bem estar, lazer e cultura. Aos pobres era dificultado o acesso aos melhoramentos implementados nas cidades naquele período. (SOUZA; PONTE; LOPES, 2007, p.80).


Riacho Pajeú - Acervo O Povo

É exatamente neste cenário que o afrancesamento invade totalmente a cidade e muda completamente o cotidiano de seus habitantes...

Como outras cidades que se desejavam civilizadas, Fortaleza tinha Paris como referencia de modernidade. Assim, a capital foi arrebatada por uma febre de afrancesamento. Ser moderno era acompanhar as modas vindas de Paris, usar expressões em francês, abrir lojas com nomes franceses [...]. (PONTE, 2009, p.76)

Era comum que as pessoas usassem expressões em francês para se cumprimentarem, as lojas tinham nomes franceses, as roupas eram totalmente inspiradas na moda francesa. Um fato curioso chama a atenção para esta onda de afrancesamento na cidade. Havia no centro da cidade um quiosque de vender garapa de cana-de-açúcar. Seu dono era conhecido como Bembém Garapeira, famoso por sua irreverência e humor. Com o afrancesamento da cidade por todos os lados, de tanto ouvir falar na França, Bembém resolveu ir até lá e conferir de pertinho o porque de todo aquele alvoroço em Fortaleza. Juntou dinheiro e viajou até Paris. O relato mais famoso da viagem de Bembém foi feitor por Otacílio de Azevedo e diz o seguinte:

Bembém foi e voltou radiante. Lamentava apenas ter ido tarde, não podendo assistir à decapitação de Maria Antonieta... “Aquilo é que é cidade! Dizia entusiasmado – No hotel onde me hospedei todo mundo falando fui obrigado a escrever meu nome. Como a língua era outra, escrevi:’ BienBien’ e, mais embaixo: ‘Garapiére’. E completava: ‘Olhe, lá eu só andava com um homem chamado Cicerone, que sabia português como eu. Terra adiantada aquela: todo mundo falando francês, até mesmo os carregadores Chapeados, as mulheres do povo e as crianças! ‘Bembém não se cansava de falar da França e completava declarando que lá, a única palavra que ouvira em português fora ‘mercibocu’... A conselho de um intelectual ‘perverso’, mandou imprimir um cartão para distribuir com amigos e fregueses: BIEN – BIEN – GARAPIÉRE – Fortaleza – Ceará. (AZEVEDO apud PONTE, 2010, p.156).


Registro de 1907, da antiga Praça José de Alencar, com a Garapeira do Bembém e o Mercado de Ferro. Hoje é a conhecida Praça dos correios (Praça Waldemar Falcão).

No Rio de Janeiro o aformoseamento e embelezamento dos logradouros fez com que o governo tomasse como medida o Bota- Abaixo, expulsando os pobres dos cortiços, que em seguida foram demolidos. Esta medida foi vista como símbolo de civilização, e em todos os cantos circulava a manchete “o Rio civiliza-se”, este fato em Fortaleza é semelhante com as construções dos Asilos da Mendicidade e da Parangaba, para abrigar mendigos, refugiados, loucos e outras figuras que representassem insalubridade a cidade e pudessem afastá-los do perímetro central, que agora estava reservado ao desfrute das elites que começavam a criar o hábito de sair de casa. Com isso pretendia-se manter os pobres sob o olhar vigilante da repressão, e em 1925, era publicado um artigo na revista Jandaia com o título “Fortaleza civiliza-se”.

As duas cidades por terem climas quentes, também foram cenários para o desfile de trajes que foram criados para serem usados na Europa, mas mesmo tendo que encarar o calor, a elite o fazia com classe não importando o desconforto que sentiam.

Tanto Rio como Fortaleza possuíam Passeio Público, embora na fala de José Pereira, um dos personagens de A Normalista, o dos cariocas não se comparava ao da capital cearense em beleza, e afirmava: “O Passeio Público? dizia ele; o Passeio Público é um dos mais belos do Brasil e a coisa mais bem feita que o Ceará possui. Que vista, [..] Nem o Passeio Público do Rio de Janeiro!”.(CAMINHA, 1997, p.89).

Outro fato bem semelhante foi os surtos da epidemia de varíola que contaminaram as cidades, no Rio de Janeiro chegou-se ao impressionante índice de 52/1000 mortes enquanto que Fortaleza o surto gigantesco da doença chegou a enterrar mais de 1000 pessoas em um dia, ocorrência que ficou conhecida como o dia dos mil mortos.

O Dia dos Mil Mortos - Em 1877, em um intervalo de apenas dois meses, morreram, em Fortaleza, 23.378 pessoas e, no ano seguinte, 24.849, vítimas da varíola que atingia os habitantes da cidade e os retirantes da seca que ocorreu na época. A cidade estava lotada de retirantes. Em um só dia, chegaram a ser enterradas 1004 pessoas, vítimas da assombrosa doença; era o dia 10 de dezembro de 1878, que ficou conhecido como “o Dia dos Mil Mortos”. Foto: 1877 - Flagelados na Estação de Iguatu.


A semelhança entre as duas capitais é tanta que fica até difícil encontrar algo a que as diferencie, a não ser pelo fato de o Rio de Janeiro ser a capital do Brasil.

Mas, embora fosse capital, Fortaleza destacou-se por decretar a vacina obrigatória contra a varíola em 1892, fato que só ocorreria 12 anos depois no Rio de Janeiro e que provocou a Revolta da Vacina.

A conclusão que se chega é que tanto Rio de Janeiro quanto Fortaleza tiveram suas semelhanças e diferenças em relação ao período, mas fica claro que as semelhanças entre as duas cidades são bem maiores quando compara-se as capitais.


Parte II

Parte III


Crédito: Artigo 'As atividades de lazer na Fortaleza Belle Époque' de Kamylla Barboza Evaristo



quarta-feira, 7 de julho de 2021

30 anos da Mega imóveis com Inovação

 

Sócios-fundadores: Tarcísio Porto e Walmar Costa


Como tudo na vida passa rápido, assim, também o foi para a MEGA IMÓVEIS, que completa em 2021 seus 30 anos de história de empresa consolidada, genuinamente cearense e de primeira geração, tendo como sócios-fundadores Tarcísio Porto e Walmar Costa, com cinco sedes estrategicamente localizadas na cidade de Fortaleza e uma em Juazeiro de Norte (CE), acompanhando todo o crescimento pujante da Região do Cariri.

Desde o início de suas atividades no ano de 1991, através da instalação de sua primeira sede, localizada na Avenida Bezerra de Menezes, zona oeste desta Capital, a missão e o propósito perseguidos por seus Diretores sempre foi a busca incansável da satisfação ao cliente inquilino e proprietário, mirando garantir-lhes mais facilidades e praticidade na hora de alugar e vender imóvel, investindo, para tanto, nas melhores ferramentas e tecnologias necessárias.

Assim, tendo vivenciado a empresa, durante essas três décadas, todas as fases de evolução no seu segmento até chegar na maior transformação digital dos últimos anos, com o consumidor buscando cada vez mais facilidades ao contratar serviços, que se acentuou de forma expressiva, neste momento pandêmico, a MEGA IMÓVEIS, reconhecida com uma das mais tradicionais imobiliárias do estado do Ceará, vem se notabilizando como uma das poucas que consegue dar a melhor resposta na simplificação do processo de locação. Como efeito disso, segundo o sócio-diretor Tarcísio Porto, aquela burocracia sofrida pelo interessado em alugar imóvel, como na sua localização e acesso, no trabalho exaustivo de encontrar fiador, aliada a perda de tempo em cartórios, afirma ele, que tudo isso é coisa do passado recente, pois, todo esse caminho, do atendimento até a assinatura do contrato, resolve-se de forma virtual e célere na empresa.

Nessa linha de avanço tecnológico, a MEGA IMÓVEIS foi a 1ª imobiliária do Estado do Ceará a adotar o omnichannel, uma estratégia de atendimento que integra todos os canais de comunicação online da empresa, o que representa não só uma inovação, mas também, uma resposta à demanda por uma experiência de atendimento mais completa e com menos barreiras. Com isso, é possível estreitar e aprimorar a relação com os clientes e garantir mais celeridade e eficiência.

Inovação, sempre foi uma palavra de uso diário e prática constante dentro da empresa. O sócio-diretor Walmar Costa vaticina como exemplos de avanços e simplificações nos serviços disponibilizados aos seus clientes, os seguintes produtos:

1) Assinatura digital dos seus contratos, sem custos e deslocamentos necessários a cartórios, gerando rapidez e agilidade a todos que desejam alugar um imóvel;

2) Novas modalidades de garantia, além das tradicionais fiança pessoal e caução em dinheiro, a empresa apresenta as seguintes alternativas oferecidas aos seus pretensos locatários, tais como:

● Fiança Credpago - Análise de cadastro em menos de 1 minuto pela startup Credpago, com as menores taxas de mercado para o locatário, cuja efetivação poderá ocorrer através de boleto, transferência PIX e cartão de crédito;

● Seguro Fiança das seguradoras Liberty Seguros e Porto Seguro – Análise cadastral, simples, rápida e segura para o inquilino, que só precisa informar seus dados básicos, com resultado em poucos segundos;

3) Parceria com as empresas Picpay e Parcelinha Digital – A Mega Imóveis foi a primeira imobiliária do Ceará a firmar uma parceria com a PicPay, em meio ao momento delicado da pandemia do Covid 19 em 2020. Diante da aceitação da solução, logo em seguida, surgiu uma nova aliança com a empresa Parcelinha Digital, ambas disponibilizadas aos seus clientes inquilinos, que, por opção espontânea, poderão se livrar de uma eventual inadimplência indesejável e momentânea, mediante o seu pagamento em até 12 parcelas;

4) Adiantamento do aluguel aos proprietários em até 12 meses – Trata-se de mais uma parceria estabelecida pela empresa com a Securitizadora Bold Finance, que permite aos proprietários clientes da Mega Imóveis, terem adiantados os seus alugueis já contratados, em até 12 meses, sem precisar apresentar qualquer garantia, além das seguintes vantagens:

a) Zero risco de inadimplência, pois, se o inquilino não pagar, o proprietário não será cobrado;

b) A antecipação dos aluguéis é isenta de tributação;

c) Todo o processo de contratação é 100% digital, rápido e desprovido de qualquer burocracia;

5) Consultoria imobiliária Mega Prime – Os clientes Mega Imóveis contam com uma equipe especializada para tratar da gestão de imóveis, capacitada para lhes dar todo o suporte consultivo na melhor rentabilidade do seu patrimônio;

6) Equipe de manutenção – A empresa realiza o acompanhamento dos imóveis desocupados em sua carteira, a fim de avaliar a necessidade de possíveis reparos ou melhoramentos, objetivando facilitar e abreviar a sua locação, contando, para isso, com uma equipe técnica interna que cataloga os melhores profissionais para realização de tais serviços e com menor custo de orçamento;

7) Convênios – A Mega Imóveis agrega em sua estrutura um setor que trata dos convênios firmados com as entidades mais conceituadas em nosso estado, objetivando captar junto às empresas da construção civil as melhores ofertas e condições de negócios para os seus associados, além de outros benefícios previstos em contrato.

E não pensem que as novidades da MEGA IMÓVEIS 30 anos param por aqui, dizem os sócios Tarcísio Porto e Walmar Costa, que além da união societária sólida e amizade entre ambos, que supera o tempo de existência empresarial, pensam e comungam no pensamento de fé e otimismo que sempre reinou durante a trajetória da empresa, “que dias melhores sempre estarão por vir”, principalmente, depois de quase dois anos da pior crise mundial da saúde dos últimos 100 anos. E que venham mais 30 anos com muita saúde, inovação e expansão!

E, por último, os sócios não poderiam deixar de registrar os seus agradecimentos a Deus, o Senhor do Universo, por essa longa e perseverante caminhada até aqui, aos familiares que, com compreensão assimilaram as suas ausências nos momentos de trabalho mais prolongados, a todos os funcionários e colaboradores que vestem a camisa MEGA IMÓVEIS na labuta diária, além de expressar um destaque especial a todos os clientes e amigos que confiam na marca MEGA IMÓVEIS desde 25 de fevereiro de 1991. Muito obrigado!


➟ Sede Aldeota - Avenida Dom Luís, 300 - Lojas 138 a 140 – Aldeota;
 Sede Bezerra - Avenida Bezerra de Menezes, 2080 – B São Gerardo;
➟ Sede Montese - Avenida Professor Gomes de Matos, 692 – Montese;
 Sede Sul - Avenida Edilson Brasil Soares, 770 - Loja 1 - Edson Queiroz;
➟ Sede Cariri - Rua Catulo da Paixão Cearense, 135 - Loja 03 - Triângulo - Juazeiro do Norte/CE;
➟ Mega Prime - Avenida Dom Luís, 300 - l. 154 – Aldeota.

www.megaimoveis.com | 3055.1111 - 98613.1111




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segunda-feira, 5 de julho de 2021

Das Antigas - Os carregadores de Quimoas

Otacílio de Azevedo, em seu livro Fortaleza Descalça, nos conta que, antigamente, quando a capital cearense não tinha esgotos e quase não tinha calçamento, a não ser nas proximidades da Praça do do Ferreira, era costume de quase todas as residências encher de detritos fecais enormes barris de madeira (cuja exclusividade de fabricação parecia pertencer a Samuel Carão) e mandarem atirar o malcheiroso conteúdo nas proximidades da praia. Eram levados à cabeça por homens acostumados a esse anti-higiênico mister. Sim, acreditem!
Não faltava gente para executar esse malcheiroso trabalho de limpeza.  Em troca de algumas poucas moedas, os desempregados e sem tetos passavam de casa em casa recolhendo os restos da digestão dos outros.  Desciam rua abaixo, em direção ao mar, carregando na cabeça a fetidez da riqueza.  Muitos tinham que se embriagar, para poder suportar aquele trabalho sujo. 

Quimoeiro na antiga rua Formosa (Barão do Rio Branco) em 1915.

E lá saiam, rua afora, os Carregadores de Quimoas (era o nome que se dava ao depósito), enchendo da maior fedentina os lugares por onde passavam. Aquele horrendo vasilhame era uma séria ameaça não só à saúde, mas também aos brios de uma província que se dizia civilizada.

Cruzavam-se nas ruas os estranhos carregadores. E quando, cansados e bêbados, descansavam a barrica nas calçadas ou num providencial batente que lhes servisse de apoio…

À passagem dos quimoeiros havia grandes correrias, de homens, mulheres e crianças agarradas e arrastadas pelos pais. Portas e janelas fechavam-se com estrépito.
Quimoeiro na rua Floriano Peixoto, antiga rua Pitombeira
na década de 20.

Num tom de certo deboche, recheado de adjetivos substantivados, Otacílio de Azevedo narra o triste episódio de “Pisa-Macio”, um dos mais populares carregadores daquele malcheiroso lixo. 
"Certa ocasião, o “Pisa-Macio”, um dos mais populares quimoeiros, sujeito baixo e entroncado, amarelo, com profundas olheiras arroxeadas, passando com uma quimoa frente à Santa Casa de Misericórdia, quase morreu asfixiado; é que o vasilhame, muito velho e cheio demais, deslocou o seu fundo. A cabeça da vítima mergulhou completamente na matéria fétida. Diante daquela terrível situação, o infeliz corria, caía e levantava-se às tontas com a cabeça coberta pela barrica. Uma freira da Santa Casa, apiedada, arranjou dois trabalhadores que tiraram da cabeça do desgraçado, aos pedaços, a barrica arrebentada. A freira levou a vítima e mandou dar-lhe uma lavagem na cabeça. Três dias depois, o “Pisa-Macio” era cadáver."

Quimoeiro na então rua Pitombeira, atual Floriano Peixoto.

Ladeira do Gasômetro - Arquivo Nirez

De onde quer que partissem, os quimoeiros passavam obrigatoriamente pela frente da Santa Casa, descendo o calçamento que dava no velho Gasômetro, rumo à praia. Ali chegando, o fétido carregamento era atirado ao mar, a barrica lavada e o homem voltava, passando pela antiga Rua Formosa, hoje Barão do Rio Branco.

Matéria do Jornal A Razão de 22 de fevereiro de 1930


Do tempo dos
"Tigres" 


Talvez você não saiba, mas essa "prática" vem desde o Brasil Império. Sim, durante o Brasil Império, o país era o maior território escravagista do Ocidente, com quase 5 milhões de africanos escravizados. Tal número representa cerca de 40% do total embarcado para as Américas.

Com a mão de obra escrava sendo utilizada em larga escala, foram os cativos, apelidados de "tigres", os responsáveis pelo recolhimento e despejo da urina e fezes de muitos moradores das cidades durante cerca de 300 anos.

Nessa época, a maior parte das casas não contava com banheiros, água corrente ou algum outro tipo de instalação sanitária. Por isso, os moradores das antigas cidades faziam as necessidades em penicos e outros recipientes de metal ou porcelana. Esses objetos ficavam sob as camas ou em armários até a manhã seguinte, quando eram esvaziados em grandes tonéis que comportavam todos os dejetos dos moradores da casa. Os grandes tonéis, por sua vez, eram carregados nas costas por escravos, que os levavam até o mar ou a algum rio e por lá os despejavam.
Parte do conteúdo, que continha ureia e amônia, vazava dos tonéis e deixava marcas brancas sobre a pele negra, parecidas com listras. Por essa reação química, as marcas se pareciam com as do animal — daí o apelido em tom pejorativo dos "tigres" ou "tigrados".

O cheiro dos tonéis, obviamente, não era agradável e fazia com que as pessoas não se aproximassem dos "tigres" enquanto os carregavam.

A pele ficava listrada, com alternância de faixas pretas e outras descoloridas pela ação química dos dejetos. 





Otacílio de Azevedo, In: Fortaleza Descalça – Coleção Alagadiço Novo – Universidade Federal do Ceará – UFC – 2ª edição – 1992. / BBC News|Brasil


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: