sábado, 11 de fevereiro de 2012

Damas - Um bairro rico em lembranças



Entre as vantagens do bairro está a localização. Próximo ao Montese e ao Centro, o bairro ainda é visto como "tranquilo".

Estrada de Porangaba -1919

Bairro tradicional que surgiu do intercâmbio entre o centro de Fortaleza e a sede do antigo distrito da Parangaba.

O Damas acolhia as chácaras das famílias abastadas da Capital cearense, nas décadas de 1930, 40 e 50, que fugiam do tumulto do Centro da Cidade. Era o local onde descansavam as "damas" da aristocracia daquela época. Daí o nome. Um desses sítios se transformou no Instituto Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos Humanos, o Imparh.Tem como eixo principal a Avenida João Pessoa onde se encontram importantes equipamentos como a Casa do Português, o Pólo de Lazer Gustavo Braga, o Colégio Juvenal de Carvalho, a Faculdade Cearense e o Campo do Ceará.

A fumaça da via urbana não lembra um passado não tão distante em que o local era um espaço verde de inúmeras sítios, ideal para os que buscavam tranquilidade e ar puro. O nome Damas é uma homenagem às famílias aristocráticas que construíam ali suas chácaras, afastadas do tumulto do centro da cidade de Fortaleza, que se modernizava e aformoseava mas que perdia o charme provincial.

Chácara em Parangaba onde funcionou o Grupo Escolar de Porangaba - Arquivo Nirez

Em 1931 surgiu no Damas o “Ideal Clube”, frequentado pela elite econômica da cidade. Os aristocratas se divertiam no clube que tinha quadra de tênis, piscinas e rinque de patinação. A “mundiça” ficava no sereno, no lado de fora, excluída dos esportes requintados das elites. O Ideal Clube ficou no bairro até a década de 60 quando foi transferido para o local da sede atual, no Meireles.

A principal rota que cruzava o Bairro Damas era a estrada Fortaleza-Porangaba, feita de areia batida. A poeira era intensa com o tráfego de boiadas, carroças e alguns poucos automóveis. Em 1929 o então presidente Washington Luis mandou revestir a estrada de concreto que foi batizada com seu nome. Deposto pela “Revolução de 30”, os novos donos do poder e os “revolucionários de véspera” mudaram o nome do lugar para João Pessoa, em homenagem a um dos líderes do movimento.

Av. João Pessoa - Arquivo Nirez

Concreto na Avenida João Pessoa

A cidade cresceu e os problemas urbanos se manifestaram no Bairro Damas. Com a nova realidade, a Avenida João Pessoa ficou conhecida como “avenida da morte” devido ao grande número de acidentes registrados na via de mão dupla. Em 1982, quando a avenida passou a ter sentido único, com o contra-fluxo apenas para transporte coletivo, o número de acidentes diminuiu mas o local ainda é perigoso.
Nos quarteirões da Avenida João Pessoa alguns casarões antigos resistem ao tempo e guardam fragmentos da história do bairro. Dentre todos eles, merece destaque a Casa do Português, símbolo de ostentação quando foi construído em 1950.

Arquivo Nirez

Ainda hoje, o velho casarão estranho com rampa de garagem localizada no teto, é ponto de referência de quem mora ou passa todos os dias pela Avenida João Pessoa. A casa - na realidade Vila Santo Antônio - pertencia a José Maria Cardoso, um rico comerciante português, dono de madeireira fornecedora de lenha para a Light e para os trens da RVC (Rede de Viação Cearense). Por mais que a família crescesse jamais ocupou todos os espaços do casarão e isso entristecia o proprietário. 

A casa acabou alugada para outro empresário luso, Paulo de Tarso, que instalou ali a Boate Portuguesa. O local depois abrigou a sede da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) de 1965 a 1984, e logo depois: uma oficina, um estacionamento e um cortiço.

O edifício foi tombado como patrimônio histórico municipal pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet) e está protegido de reforma que o desfigure. Alguns urbanistas questionam que o prédio seja um patrimônio da cidade. No entanto, ele é referencial identitário da nossa sensibilidade urbana, possui uma arquitetura especial e única e já foi cartão postal de Fortaleza em décadas passadas. Em 2005 , os arquitetos Napoleão Ferreira e Mário Roque tiveram a idéia de transformar a casa em Centro Cultural. A proposta era a de um centro que integrasse a cidade e o estado com a cultura portuguesa.

A Casa do Português parece um navio e lembra a história dos navegantes portugueses que desbravaram os mares, que nas palavras de Fernando Pessoa, “tanto do teu sal são lágrimas de Portugal.” Hoje as lágrimas são de abandono do lugar.

Vantagens

"É bem localizado, próximo ao Centro e ao Montese". Essa é uma das vantagens do bairro, destacada pelo professor de Educação Física Felipe Figueiredo de Lima, morador há 26 anos. Alguns se derretem em elogios. "Aqui é um sonho, uma beleza. O bairro é muito calmo e tranquilo", afirma a comerciante que mora há dez anos no local, Lídia Teixeira.

A calmaria é um dos atrativos do bairro, segundo a maioria dos moradores que não quer deixar o local em hipótese nenhuma. Uma das mais antigas moradoras, a pensionista de 88 anos Adalgisa Flora de Lima, afirma que vai morrer no lugar.

Mas nem só de bonanças vive o bairro Damas. Junto com o progresso, veio a violência. O local que hoje concentra diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, como farmácias, bancos, lojas, padarias e bares, é também um lugar tomado pelos assaltos. "É a desvantagem do local", observa o professor. Porém, os moradores acrescentam que a violência não chega a afastar as pessoas. "Tem em todo lugar de Fortaleza", destaca a líder comunitária Maria Aíla Ribeiro.

Adalgisa lembra que, quando chegou ao bairro, em 1946, era tudo areia e mato e existiam apenas oito casas. "Os carros atolavam. Hoje temos banco, todo tipo de comércio e facilidades. Mas também tem muito ladrão", conta.




x_3c14c9ad


Fonte: Blog do Prof. Evaldo Lima e Diário do Nordeste

8 comentários:

  1. Parabéns Leila! Belíssimo e 'Nobre' este seu trabalho.
    Adorei o seu blog.
    Deveriam existir mais blogs de divulgação das belezas artisticas/culturais dos Estados deste Brasilzão tão rico de cultura e muito pouco explorada, muito menos do que a cultura brasileira merece.
    O Estado do Ceará além de riquezas arquitetônicas e naturais, é o Estado que mais artistas tem dado ao País, principalmente humoristas de grande 'gabarito'.
    Mais uma vez parabéns.
    Montanhas de felicidades pra vc Leila e pro Ceará onde tenho vários amigos e outros residindo no Rio de Janeiro, são naturais daí.
    Bjs
    Anna D'Castro
    ***
    2 dos meus blogs que te convido a visitar:
    *Poesia:
    www.floreselvagens.blogspot.com
    *Prosa:
    www.palavrasemente.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigada, Anna!:)

    Amei seu comentário, fiquei muito feliz mesmo!!!

    Será um imenso prazer conhecer seus blogs.

    Um caloroso abraço \o/

    ResponderExcluir
  3. parabens,é um trabalho belissimo que voce vez,precisamos conhecer mais sobre nossa bela fortaleza.sou encatada pela historia de fortaleza,mas nunca havia encontrado um conteudo tão completo quanto o seu.muito obrigado!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu q agradeço seu comentário e suas palavras, Patricia! :)

      Um forte abraço

      Excluir
  4. Amei seu blog! Sou moradora do bairro e achei as informações de boa qualidade! Parabéns!

    ResponderExcluir
  5. A chácara onde funcionou o Grupo Escolar de Porangaba ainda existe?

    ResponderExcluir
  6. ADROALDO BANDEIRA PINHEIRO,Maravilhoso,pena que não vejo nenhuma publicação(quando se fala sobre o bairro Damas antigo)comentando sobre a antiga panificadora confiança que ficava na esquina da Av João Pessoa com a antiga Pedro Teixeira,hoje Rua Ceará.

    ResponderExcluir