sábado, 31 de dezembro de 2016

Excelsior Hotel - 85 anos





Em 31 de dezembro de 1931, há exatos 85 anos, surgia em Fortaleza o primeiro arranha-céu da cidade, inspirado em um edifício de Milão na Itália. Utilizava na sua estrutura, alvenaria¹ de tijolos e trilhos² de trem.
De estilo eclético, teve toda a sua decoração interna aos cuidados de Pierina Rossi, que utilizou materiais importados da Europa.
Só para se ter uma ideia, as paredes do prédio chegam a 80 centímetro de largura. Um gigante de sete andares!



Excelsior inaugurado!

O hotel Excelsior foi por muitos anos um dos principais hotéis da cidade, sendo pioneiro não só na capital, mas em todo o norte e nordeste. Para o hotel, só o melhor, como os elevadores Otis, empresa à época já famosa em Nova York e hoje, líder mundial no setor.





O hotel contava com um restaurante requintado a lá carte e de sua cozinha, saiam pratos brasileiros e estrangeiros. Também possuía barbearia, manicure, vasto terraço para dança e recepções e até salões para exposições, tendo recebido exposição de desenhos e pinturas do artista plástico Raimundo Brandão Cela (Raimundo Cela) em 1941.
Em 1953, o hotel fecha as portas pela primeira vez, quando em 27 de novembro daquele ano o último hóspede deixa o hotel, que permanece fechado por quatro anos para reforma, reabrindo em 09 de dezembro de 1957. Em outubro de 1964, após 33 anos de atividade, cerra novamente suas portas, sendo reaberto de forma esporádica apenas para eventos especiais. Em 1987, com a desculpa de uma nova reforma, o hotel é fechado em definitivo e hoje apenas as crianças do Natal de luz adentram os quartos do antigo hotel. Atualmente, em seu interior funciona apenas a imobiliária do único herdeiro, Sr. Janos Fuzesi, sobrinho de Emílio Hinko (segundo marido de Pierina Rossi, que foi casada com Plácido de Carvalho) e o restaurante Paidégua, de comidas típicas, no primeiro andar.
Emílio Hinko se 'vangloriava' das iniciais coincidirem com as do seu nome, como se o prédio estivesse predestinado a ser dele no futuro!





"...Localizado no lado poente da Praça do Ferreira, no cruzamento da rua Guilherme Rocha com Major Facundo (à época, rua da Palma e rua Municipal, respectivamente), seu idealizador foi o grande capitalista Plácido de Carvalho.
Vários hóspedes famosos transitaram por seus salões: Orson Wells, a cantora lírica brasileira Balduína de Moreira Sayão (Bidu Sayão)
, Nelson Gonçalves, o tenor Tito Shipe, o rei Pelé, George Obrier, Francisco Alves 'o cantor das multidões', Haroldo Silva, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, Altemar Dutra, Amélia Earhart (a aviadora do filme 'Uma Noite no Museu') que foi a primeira mulher a cruzar o Atlântico em vôo solo e outros tantos hóspedes...
No terraço, acima do 7º andar, havia o Bar Americano com sua paisagem de serra, sertão e mar. Era uma atração à parte...
O terraço ficou famoso pelas festas da alta sociedade, principalmente o baile 'Carnaval do Sétimo Céu', como era conhecido pela sociedade cearense. Era a época do lança perfume, dos paletós brancos, dos confetes e serpentinas... Tempos que não voltam mais!
Ao lado direito do corredor de entrada do restaurante fica a barbearia do hotel com sua porta envidraçada de cristal e suas três charmosas cadeiras de ferro fundido e couro e sua louça e azulejos em verde esmeralda.
Foi por décadas ponto de encontro, de conversas singulares e bastante calorosas...
Os dois elevadores em madeira de lei com suas portas sanfonadas e adornados internamente com espelhos de cristais bisotados, ainda resistem ao tempo.
Um porão há, por debaixo da recepção, para a manutenção deles e, vale dizer, se fosse dividido por vidraças, daria uma bela duma adega, se bem climatizada fosse...

De suas grossas muretas (platibanda), pode-se descansar os cotovelos e saborear as serras de Maranguape e Pacatuba como também toda a praia com seus mares a perder de vista...
Da praça, de um ponto em que se avista as duas faces do prédio, damos de cara com as sacadas do salão do restaurante...
São em número de 14 portas-janela sendo 5 do lado da praça e 8 pela rua que dá acesso à portaria.
A principal é a do frontão do prédio, sendo esta a maior e mais bem posicionada!
De frente a ela fica uma mesa redonda de pura muiracatiara, eleita pelos clientes 'fãs do Excelsior' como o ponto mais nobre e glamouroso de todo o centro da capital cearense!!!
Logo na entrada, o pesado e belo portão da recepção nos recebe imponente com dois lustres ao teto e um balcão de madeira em L marchetado de discretos desenhos...
Ao fundo os dois elevadores com seus marcadores de andar em pêndulo invertido...
Sejam bem-vindo ao restô Paidégua!"


Enéas Aguiar 
(Proprietário do Restô Paidégua)

Detalhes:  

 

















¹ Segundo o amigo Nirez, importante memorialista de nossa cidade, ao contrário do que se afirma, o prédio não é de alvenaria, pois tem armação de concreto desde o seu alicerce. A ideia inicial de Plácido era realmente construir todo o prédio em alvenaria, mas o projeto foi descartado por Natali Rossi e o prédio que já se encontrava no segundo andar, foi desfeito e a obra concluída em concreto armado e trilhos de trem. Mas, como a propaganda é a alma do negócio, a fama continua. Até hoje, ele é conhecido como "O maior prédio em alvenaria do mundo!"

² De acordo com o pesquisador e ex-ferroviário, Assis Lima, os trilhos usados não foram de trens. As ferragens para a construção do prédio vieram da Polônia, juntamente com uma encomenda para a estrada de ferro de Baturité, que à época já era denominada RVC. A encomenda chegou em 1929. Fonte: Relatório da RVC de 1929, criminosamente destruído em 1998 por ser entregue às intempéries de prédio com telhado comprometido. As chuvas de 98 levou os insensíveis dirigentes da ferrovia a colocarem "papéis velhos" no lixo.¬¬


Veja todas as fotos:

Excelsior em detalhes
Excelsior em detalhes - Parte II
Excelsior em detalhes - Parte III


Fotos: Rodolfo de Oliveira Paiva
Créditos: Nirez, Enéas Aguiar, Nely de Carvalho (Outros Roteiros) e arquivos pessoais.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A padaria do Português Augusto Pinho




Imagem meramente ilustrativa

Na calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles) no finalzinho da Rua Dona Maroquinha (Vila São José), ficava uma montanha de lenhas que era para alimentação térmica, dos fornos da PANIFICADORA POPULAR, cujos serviços iam noite adentro. No lado Sul do prédio com dois andares e de 50 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada com cimento armado. Designavam-se essas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes que iam serem carregados com pães novinhos e crocantes. Naquela época o pão bengala era a semolina. Tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada. Os clientes eram mercearias como ainda posso me lembrar: bodega do Edmilson, do Luís Carvalho (Na Avenida Tenente Lisboa), Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do Mercadinho da Via Férrea e seu Ozanan; saía também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai eu querem escrever outra coisa... O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog.

Na fachada amarela, era onde ficava a Padaria.

Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde. As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961. Eu fui um, dos que carregaram caixotes na cabeça com um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro era o PinheiroCabeça Branca” e o Nogueira Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Eu infanto-juvenil, magro, com aparente subnutrição nunca saía sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida. Papai nunca soube dessa. Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de Bacana. Lá dentro com uma mão na massa e outra na lenha tínhamos: O Riba, O Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Eu era o Pirulito Americano. Foi o Nazareno “Pai da Mata” que me rotulou e pegou! Ê, molecagem. Intenso era o movimento na calçada da fábrica do português, e uma chaminé bufando fumaça preta poluía a Avenidinha Sul e, inquietava às vezes os animais ali amarrados. A espera era pouca. A noite na calçada quando livre, era parte de nosso lazer. Era a brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.


Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia, muitas vezes, Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento. Aos sábados pela tardinha, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para a garotada, preparando-os para a primeira comunhão, cujo evento ocorrera na Igreja dos Navegantes, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor em 1967. O Frei Memória havia feito a confissão, no Grupo Escolar Sales Campos com o aval do Monsenhor Hélio Campos. Desse modo escrevo com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos. Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins. Matou o lugar. Seu Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou. Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável, passou a ser um fracionado monstrengo com uma adaptação não planejada para residências. Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde nossas brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Dr Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ficam apenas com os que cultuam o passado. Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


Leia também:
Memórias de menino - O descanso da Vila


Imagem relacionada



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O caso Balalaika - Fortaleza 1942



Às 6 horas e 45 minutos da manhã do dia 04 de agosto de 1942, Fortaleza assistia perplexa a um impressionante  desastre aéreo. O jovem desportista, aluno do curso de pilotagem, Edgildo Giordano (mais conhecido por Balalaika), de apenas dezesseis anos de idade, pilotava o avião Visconde de Taunay, um "Pipper Cub" pertencente ao Aero Clube do Ceará¹, quando o avião caiu no quarteirão entre a Avenida Santos Dumont, Rua Costa Barros, Avenida Dom Luís (Hoje Avenida Dom Manuel) e Rua 25 de Março

O avião de Balalaika fazia evoluções sobre a Avenida Santos Dumont, quando sobrevoava as casas residenciais de nº 187 e 189, quando caiu em "piquet", entre os dois quintais, ficando completamente espatifado. Surgiram lendas em torno do acontecido, entre elas a de que Balalaika teria brigado com a namorada e suicidou-se jogando o aparelho que pilotava no quintal de sua amada, na Avenida Dom Manuel

Jornal O Povo de 04 de agosto de 1942

Segundo noticiou o jornal O Povo daquele mesmo dia, Balalaika (foto ao lado) teve morte imediata no próprio local do desastre, para onde acorreram numerosos populares.
Assim que tiveram ciência do terrível desastre, compareceram ao local um carro da Assistência Municipal e quatro do Corpo de Bombeiros, um dos quais removeu o corpo. No local, algumas autoridades estavam presentes: Dr. Rui de Almeida Monte, Secretário de polícia e Segurança Pública , Dr. Pompeu Gomes de Matos, Delegado de Investigação e Capturas, Dr. Fran Martins, diretor do DEIP e várias outras.

O sepultamento ocorreu no mesmo dia, às 16 horas e 30 minutos saindo o féretro da sede do Aero Clube do Ceará, à rua Sena Madureira, 865

O avião sinistrado foi doado em 1941 ao Aero Clube pela Sul-América Capitalização.
Balalaika era aluno do Aero Clube desde o dia 1º de junho de 1941, tendo iniciado o seu curso de piloto civil a 29 de abril de 1942. Ele tinha pouco mais de oito horas de vôo "solo", o que não recomendava afastar-se da área de exercício, em torno do próprio campo de aviação.  

Aero Clube 

 Colégio São João onde estudava Adgildo. Acervo Tania Maria Sousa

Edgildo Giordano era filho adotivo do Sr. Joaquim de Lima, residente à Avenida Dom Manuel, 447. Era aluno do segundo ano do ginásio no Colégio São João e esportista muito conhecido na cidade, tendo conquistado o segundo lugar na Prova Heróica² dos cinco mil metros a nado, desde o Mucuripe até o Viaduto Moreira da Rocha (Ponte Metálica).
Balalaika era amazonense³, residindo em Fortaleza há vários anos.

Ao lado, uma foto do livro Trilhas da Saudade

Em 25 de outubro de 1942, o Aero Clube do Ceará fez Romaria à sepultura de Edgildo Giordano. Na mesma ocasião, visitaram também a de outros aviadores, como a do Tenente Roma, do Dr. José Pestana e Farias Primo. No seu discurso, o Dr. João Calmon lembrou também os nomes de Chico Távora e Fausto Amarante.  

A rua 25 de março - Arquivo Nirez 

Uma das casas que teve seu quintal atingido pelo avião de Balalaika, foi este sobrado da foto. O castelo (sobrado) ficava na Dom Manuel, entre a Avenida Santos Dumont e a Rua Costa Barros, no chamado lado da sombra. 

O acidente narrado por uma testemunha ocular:  

 
 Trecho do livro Trilhas da saudade de Mundinha Negreiros de Andrade. 
Agradecimento ao amigo Maia Filho pela gentileza!

"Naquele dia e hora, eu estava de saída para o Colégio Cearense, quando fui surpreendido pelo vôo rasante do Balalaika, que terminou de encontro ao muro de um quintal, da 25 de Março, quase com a Av. Santos Dumont e que, por ironia, confrontava com a sua residência. Ele era um jovem da melhor aparência, exímio nadador, tendo-se classificado em segundo lugar, na última Prova Heróica. Lembro-me de o ter visto, pela última vez, quando de seus exercícios físicos, em plena Praia de Iracema, em uma noite enluarada. Naquela época recuada, era comum a frequência de muitas pessoas, à praia mais linda de Fortaleza.
O seu cognome - Balalaika - deve-se à trilha sonora do filme do mesmo nome, cuja interpretação artística era de Nelson Eddy, coadjuvado pela atriz Ilona Massey, na inauguração do Cine Diogo, no dia 7 de setembro de 1940. Era comum ouvi-lo cantando aquela canção...

Assim, a vida de Balalaika ou Edgildo Giordano, como queiram, foi tão fugaz quanto sói acontecer a um meteoro: uma estrela cadente de grande brilho, mas de curta duração."


Irmes Gottlieb
(Diário do Nordeste - 05 de junho de 2004) 

Cartaz do programa de inauguração do Cine Diogo com o filme Balalaika - Arquivo Nirez

Escola Normal


"O que ocorreu na verdade, foi o que em aeronáutica chama-se "stall" (estol) em baixa altitude. Balalaika sobrevoava a Escola Normal e chegou a acenar para as alunas que faziam ginástica no pátio da escola. Era pouco mais de sete da manhã. O estol (ou perda de sustentação) ocorre quando há uma elevação excessiva do ângulo de ataque da asa, o que faz com que a aeronave perca sustentação e consequentemente, altitude. Quando em altitude suficiente é perfeitamente recuperável. No caso, o Piper estava quase em voo rasante. As chances de recuperação eram mínimas. O corpo ficou totalmente carbonizado. Um triste acidente!" 




Annita Giordano

Pouco se sabe sobre Edgildo Giordano de Araújo (Balalaika) e muito menos, sobre sua família adotiva, mas em conversa com a prima e com o sobrinho biológico, descobri algumas coisas que podem ser de ajuda para que a gente consiga encontrar algumas respostas!


Casamento de Annita e José Vitor.


Annita Giordano e José Vitor de Araújo 'Bezerra' (alguns dizem que o sobrenome Bezerra, foi acrescentado por ele ao seu nome original), eram pais biológicos de Edgildo.
Numa viagem para Fortaleza (teria fugido do marido?), não sei se grávida ou se Edgildo já era um recém nascido, Annita decide não mais retornar ao Acre, onde lá deixou o filho mais velho Edmar Giordano de Araújo (foto ao lado) e  o marido José Vitor. Na ausência da mãe, Edmar foi criado pela avó.

Na capital cearense, ela conhece Joaquim de Lima, então Interventor do Ipu.* Mesmo casados, eles se envolvem e Joaquim assume a criança.

Em conversa com sua irmã Lídia, Annita contava que Joaquim se afeiçoou ao menino e que Balaika era muito apegado ao pai adotivo. Joaquim era um homem de posses e deu estudos e uma boa vida ao filho.


No Acre, a família ficou sabendo que Annita estava vivendo com um homem muito rico, que era prefeito.
Sua mãe ainda lhe visitou algumas vezes em Fortaleza!

*Joaquim de Oliveira Lima governou o Ipu de outubro de 1930 a abril de 1935.
Em 1929 houve eleições para prefeito. Apresentaram-se dois candidatos. O vencedor, porém, em função da chamada “Revolução de 1930” não assumiu o poder. Com o movimento de outubro de 1930, os Estados passaram a ser governados por interventores. Estes, por sua vez, indicavam, nos municípios, os governantes, também chamado de interventores. Joaquim Lima foi o indicado para governar o município de Ipu.
Faleceu vítima de ataque cardíaco no dia 16 de agosto de 1967.

 Leia a biografia de Joaquim de Oliveira Lima no Blog do professor Francisco Melo

Annita em Fortaleza em 1931

Os anos passaram...

Certo dia, o
Gran Circus Americano Buffalo Bill passa por Fortaleza e Annita conhece o acrobata do globo da Morte. Apaixonada por Augusto Stevanovich (o acrobata), Annita resolveu fugir com o circo, deixando o filho Edgildo com o Sr. Joaquim, que já o amava como filho e que de certo cuidaria muito bem do menino. Deve ter pesado também a dificuldade que seria para uma criança viver sem rumo, de cidade em cidade.



A última notícia que se tem de Annita, é uma carta escrita por ela, datada de 1938, escrita em Milão, endereçada para sua mãe. Ao final da carta, ela assinava:  ANITA GIORDANO STEVANOVICH (Foi através dessa carta que chegou-se ao GRAN CIRCUS AMERICANO,  pertencente aos STEVANOVICH).
 

De acordo com o neto Edgildo Sobrinho, se ainda estiver viva, Annita tem hoje por volta de 114 anos


 Gran Circus Americano Buffalo Bill

Sobre a carta

" O conteúdo era de saudades e lamentações e ela citava um apelido, DILO.  Eu imaginava ser um erro de grafia, que ela queria dizer DIDO (que poderia ser o apelido familiar de Balalaika - Dido é o meu apelido familiar). 
Era DILO mesmo, que segundo levantou minha prima, tratava-se de AUGUSTO STEVANOVICH, um acrobata do globo da Morte, do Gran Circus Americano Buffalo Bill, circo este que a vovó fugiu com ele, quando passou pelo Acre, apaixonada pelo acrobata. Na fuga ela levou o filho recém-nascido, Edgildo, deixando o outro mais velho, Edmar (meu pai) com o seu marido, José Vitor de Araújo Bezerra. Meu pai foi criado pela avó dele, Joaninha. Edgildo foi adotado por uma família de Fortaleza, que deveria ser abastada, visto o histórico dele: Campeão de natação, piloto aos dezesseis anos..." 


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho**

** Observação: Algumas informações diferem, mas é compreensível, Edgildo Sobrinho era muito pequeno quando tomou conhecimento de toda essa história.


O acrobata do globo da Morte:

DILO (AUGUSTO STEVANOVICH) faleceu em 1948, aos 38 anos. Foi sepultado no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro
Provavelmente, Annita estava no Brasil nessa época.
Dilo morreu no Rio quando negociava a vinda do circo ao Brasil (Nessa época, ele era diretor do circo).  

 Túmulo de Augusto Stevanovich. Detalhe para o Globo da morte.
 

Túmulo de Augusto Stevanovich
 
Edmar - O irmão

Edmar Giordano de Araújo, ficou com o pai no Acre, sendo criado pela avó.
Em homenagem ao irmão, batizou um de seus filhos com o nome de Edgildo Giordano.
Morreu em 1954, aos 32 anos, num acidente de carro no Acre.
Com a morte do marido, a viúva se muda com os seis filhos para Natal.



Edmar Giordano de Araújo



 ¹ O Aero clube do Ceará foi fundado com o nome de Aero Clube Cearense, no dia 07 de abril do ano de 1929, em nobre solenidade que contou com a presença do Governador do estado do Ceará. Logo depois de fundado, ficou por alguns anos sem nenhuma atividade, uma vez que naquela época, a aviação na América do Sul ainda vivia uma fase de quase nenhum progresso, especialmente no setor civil. No dia 02 de dezembro de 1937, praticamente fundava-se, pela segunda vez, em nossa Capital, uma sociedade que se destinava a incrementar, em nosso meio civil, a aviação de turismo a exemplo das grandes cidades do sul do país. Surgia o Aero Clube do Ceará. Nesta segunda tentativa, muitos entusiastas, representados por personalidades da escola de aviação militar, que foram na realidade os verdadeiros incentivadores da fundação do Aero Clube do Ceará, lançaram-se num movimento de real valor em favor do progresso da nossa aviação. Em cooperação com os militares, na realização dessa patriótica obra, destacaram-se civis que não pouparam esforços no sentido de ver realizado o sonho da mocidade cearense, que almejava asas para voar. Os primeiros passos da vida do Aero Clube do Ceará foram cheios de empecilhos, que aos poucos foram vencidos, e com apenas seis anos de atividade, já tinha “brevetado” cerca de 100 pilotos. Sua primeira sede ficava dentro da Base Aérea de Fortaleza, onde à época, operava o Centro de Formação de Pilotos de Caça da também, recém criada Força Aérea Brasileira (FAB). A Base Aérea permitiu ao Aero Clube do Ceará durante um longo período, a utilização de sua pista.

² A prova heróica dos 5 mil metros a nado, foi realizada em 02 de março de 1941.


³  "Edgildo consta como se fosse amazonense, creio que ele tenha nascido no Acre. A não ser que vovó tenha ido para Manaus, para ter o filho. Falo isso porque era comum mamãe falar que pai tinha nascido no Ceará e morreu no Acre. Edgildo tinha nascido no Acre e morreu no Ceará."


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho   




ATENÇÃO:

ESSA POSTAGEM, POR SE TRATAR DE POST INVESTIGATIVO, SERÁ EDITADO SEMPRE QUE HOUVER MAIORES INFORMAÇÕES!!!



Créditos: Jornal O Povo - Edição de 04 de agosto de 1942, Diário do Nordeste - Coluna Opinião (Irmes Gottlieb) de 05 de junho de 2004, Revista Instituto do Ceará-1962, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Livro "Trilhas da Saudade" de Mundinha Negreiros de Andrade e Site oficial do Aero Clube.

Agradecimentos: Glória Perez, Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho, Maia Filho e Lucas Júnior.