Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Bloco Prova de Fogo
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



Mostrando postagens com marcador Bloco Prova de Fogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bloco Prova de Fogo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Das antigas - O carnaval da chiquita bacana



Até o  Theatro José de Alencar já caiu na folia!


No Brasil, quando se fala em Carnaval, lembra-se logo de três Estados: Rio, Bahia e Pernambuco. Mesmo sem ter esta tradição carnavalesca e incorporado a festa de outras regiões, o Ceará também tem sua história de folia. Sobretudo nas décadas de 30, 40 e 50, Fortaleza foi palco de desfiles de blocos e corsos de automóveis, além de bailes sofisticados em clubes da capital.

Turma do Círculo Militar no Carnaval do Náutico em 1972 - Foto Rodrigo Gurgel
Arquivo Totonho Laprovitera

     De acordo com o memorialista Nirez, na década de 30, o ponto principal de festejos era a Praça do Ferreira. Em 1935, foi criado o mais antigo bloco de Fortaleza: o “Prova de Fogo”. Nos anos 40, surgiram os bailes noturnos na avenida Senador Pompeu. O Theatro José de Alencar também abriu as portas para os foliões durante uns cinco anos. Mas a rapaziada acabava quebrando muitas cadeiras e, por conta disso, toda a alegria acabou suspensa naquele local.

     Depois, a concentração passou para o Passeio Público, percorrendo as ruas Major Facundo e Senador Pompeu, uma das mais festejadas nos anos 50. Como era uma rua residencial, os proprietários das casas colocavam as cadeiras nas calçadas para apreciar o espetáculo. O resto das pessoas se aglomeravam em pé, jogando confetes, serpentinas e lança-perfume.

Baile de Carnaval do Ideal Clube na década de 30/40 - Acervo Marcelo Bonavides de Castro

     Era bem comum os homens se vestirem de mulher e caírem na folia, como no “Cordão das Coca-Colas”, que fazia referência às cearenses que se encantaram com os americanos presentes no Estado, na época da II Guerra. O bloco dos sujos também ficou marcante. Na opinião do memorialista Marciano Lopes, era “uma democracia”. Todos se misturavam e dançavam juntos.

     O jornalista José Augusto Lopes aponta que a rapaziada ficava ansiosa para ver o “caminhão das prostitutas”, lá das “Pensões Alegres”. Aquelas mulheres da vida, mas de alto nível, desfilavam com fantasias bem ornamentadas. Brincadeiras de mau-gosto com elas? Que nada. As jovens eram aplaudidas. Havia muito respeito, destaca o jornalista. No corso de automóveis, os carnavalescos também esbanjavam luxo nas fantasias.

     Naquela alegria toda, também era oportuno fazer referências aos políticos da época. Mas tudo de forma bem sutil, sem agredir a moral de ninguém. Até existia uma portaria policial, proibindo sátiras aos políticos e ao clero. Mas os foliões sabiam brincar com o tema, chegando a tirar risos mesmo do presidente Getúlio Vargas, segundo aponta Marciano Lopes.

Inocência dos antigos carnavais - Livro Ah, Fortaleza!

     José Augusto lembra de um episódio engraçado. O governador do Ceará na época, Faustino Albuquerque de Souza, batizou uma vaca, de seu sítio em Pacatuba, com o nome de “Chiquita Bacana”, a famosa canção interpretada por Emilinha Borba. Um dia, ele tirou uma foto de pijama ao lado de sua vaca.

     Como era um adversário político da Rádio Iracema, acrescenta Nirez, a rádio fez uma paródia da música, na voz de Zé Lisboa. José Augusto Lopes conta que os foliões se vestiam de pijama ou colocavam uma máscara de vaca na cabeça e cantavam: “Chiquita Bacana / lá de Pacatuba/ dá leite para o Faustino e que leite cutuba (...) / Presidencialista/ foi o seu destino/ bezerro não encosta / quem manda é o Faustino”...

     “Havia uma sátira aos preconceitos”, afirma o jornalista, que também lembra dos foliões fantasiados com um barrigão e uma faixa: “Amar foi minha ruína”, título de um filme da época.No livro “A Subversão Pelo Riso: O Carnaval Carioca da Belle Époque ao Tempo de Vargas”, a escritora Rachel Soihet fez toda uma pesquisa sobre a festa mais popular do Brasil. A tese central do livro é justamente a resistência das manifestações carnavalescas às investidas da classe dominante em domesticá-las.

Concentração na Praça do Ferreira, todos esperando o Corso carnavalesco.

     Cheios de entusiasmo e irreverência, os blocos desfilavam pelas ruas, aplaudidos pela população festeira. A Rádio Clube e a Rádio Iracema, as únicas do Estado na época, conforme aponta Nirez, colocavam palanques para julgarem os blocos. O mais aplaudido pelo povo era o vitorioso.

     Quando a concentração carnavalesca passou para a avenida Aguanambi, em 1963, começou o declínio da festa em Fortaleza, de acordo com José Augusto Lopes. Na tentativa de sistematizar muito os blocos e transformá-los em escolas de samba parecidas com as do Rio de Janeiro, o carnaval na capital foi definhando.

     “Na época, eu escrevia no jornal, advertindo o que iria acontecer. Mas ninguém me considerou. O resultado é que o carnaval cearense acabou”, diz Nirez. “Organizaram demais e tirou a espontaneidade”, acrescenta Marciano Lopes.

Carnaval da Saudade do Náutico Atlético Cearense em 1970
Arquivo João Otávio Lobo Neto

     O mesmo pesquisador destaca que um dos motivos da fuga para o interior era o alto custo das festas nos clubes. Como muita gente não tinha condições financeiras de acompanhar os bailes, então, partiam para outras cidades do Estado. Aproveitando o fato, as prefeituras locais começaram a investir nas festas carnavalescas.

     Marciano Lopes também ressalta que o Ceará nunca teve uma tradição de Carnaval. “O que houve foi um arremedo de carnaval”, diz. Isso porque não há no Estado uma presença da cultura negra, como existe no Rio, na Bahia e em Pernambuco. “O cearense não tem ginga, não tem o espírito do folião que veio da cultura negra. O cearense é mais frio, mais mecânico. Fui duas vezes a este carnaval fora de época. São semblantes tristes. Não há vibração. Estão ali porque é um modismo”, afirma o memorialista. José Augusto Lopes acredita que o último carnaval do Brasil ainda é o de Pernambuco. Já os dois memorialistas acham que não existe mais nenhum. “A Bahia desvirtuou o carnaval de todo o Nordeste. O Carnaval foi um círculo que acabou”, destaca Marciano Lopes.


Reportagem de Helena Vasconcelos (Diário do Nordeste)

Bloco Prova de Fogo - 78 anos de história


Cadê Joana, que não vem com a sopa? 
E Mariana, que não traz a minha roupa? 
Não posso mais esperar, estou aflito 
Onde está o meu apito? O meu apito? 
Já é hora do prova de fogo sair 
Até já vieram me chamar 
E eu ainda estou nessa agonia logo no primeiro dia 
Será que eu vou faltar 
Joana, Mariana, eu tenho que a batucada marcar  

Bati Na Porta (Lauro Maia) 

Prova de Fogo - O único bloco de Fortaleza que se conservou tradicional - Nirez

Assim como outras cidades, Fortaleza conheceu o carnaval dos entrudos, das batalhas de confete e serpentina, dos bailes em clubes elegantes, dos desfiles de carros luxuosos e das apresentações de manifestações populares nas ruas, como os blocos de Carnaval, de pré-carnaval e os maracatus.

Bloco Prova de Fogo em 1942 - Arquivo Josi Ladislau

O primeiro bloco a surgir no carnaval fortalezense foi o Prova de Fogo, em 1935. 
Há 78 anos, o bloco participa do carnaval de rua da capital cearense.

Em 21 de janeiro de 1935, é fundado o bloco carnavalesco Prova de Fogo, pelos sargentos do Exército, Otacílio Anselmo*, Carlos Alenquer e Luís Freitas e os comerciários Alderi Pereira e Edson Viana Maranhão (Edson Maranhão).

Em 03 de março do mesmo ano, o bloco faz sua estréia no carnaval cearense. O Prova de Fogo ainda hoje abrilhanta a avenida do carnaval de Fortaleza.


Sr. Waldemar, componente do Bloco Prova de Fogo - 1942
Arquivo Josi Ladislau

O samba "Bati na Porta”, de Lauro Maia em parceria com Humberto Teixeira, foi o hino de guerra do Prova de Fogo no carnaval de 1942:

Bati na porta que cansei

Chamei, chamei, chamei

Ninguém, ninguém me respondeu

E eu fiquei com cara de judeu 

(Qual é, ô meu?)

Voltei, voltei e fiquei contrariado

Tomei, tomei o caminho errado

Agora ando bebendo demais

Independente disso eu sou um bom rapaz.

O bloco Prova de Fogo, é um dos mais tradicionais do Carnaval de rua de Fortaleza.

O Carnaval de 06 de fevereiro de 2005, inicia-se o desfile carnavalesco com o tema "Fortaleza Bela é Prova de Fogo", homenagem ao bloco que faria um desfile comemorativo de 70 anos de fundação, na Avenida Domingos Olímpio.

Desfilaram 8 (oito) maracatus: Vozes d'África, Nação Iracema, Rei Zumbi, Nação Baobab, Rei de Paus, Az de Ouro, Kizumba e Nação Fortaleza
As escolas de samba: Imperadores da Parquelândia, Imperadores da Bela Vista, Ideal, Unidos do Acaracuzinho e Corte no Samba
E os blocos: Garotos do Parque, Garotos do Benfica, Fuxico do Mexe-Mexe, Unidos da Vila e o grande homenageado da noite: Prova de Fogo.




Arquivo Nirez

Em 09 de fevereiro, saiu o resultado do desfile: A agremiação Maracatu Rei de Paus é bicampeã do Carnaval 2005, na categoria Maracatu, com nota 10 em todos os quesitos de avaliação.
A vice-campeã é o Maracatu Vozes d´África.
Em terceiro lugar ficou o Maracatu Az de Ouro.
Da categoria blocos e cordões, As Bruxas conquistam a primeira colocação, seguida do bloco Garotos do Benfica.
O bloco Prova de Fogo que estava completando 70 anos de fundação, e foi considerado "hors-concours".
Na categoria escola de samba, a Escola de Samba Unidos do Acaracuzinho é octacampeã e a Escola de Samba Império Ideal é a vice-campeã.

Arquivo Nirez

No Carnaval de 2007, o bloco provou que a tradição faz a diferença. Último a entrar na Domingos Olímpio, nas primeiras horas de terça-feira, a resposta do público veio de imediato, aplaudindo o cortejo de pé. Com mais de 400 integrantes, o bloco mostrou que estava se renovando a cada ano.
Na época, o passista Francisco de Paula, então com 67 anos, contava que já desfilou em maracatus e, há 7, estava no Prova de Fogo. “Essa tradição não pode acabar”. O baliza Edilberto Queiroz, então com 58 anos, há mais de 30 fazia evoluções à frente do bloco. Ele prometeu lutar pela continuidade do bloco, fundado em 1935.

A comissão de frente, era formada por crianças como Lucas, 6 anos, e, Nícolas  2 anos, filhos de um dos integrantes da diretoria do bloco, Elenilton Lima de Sousa, é sinal de que o bloco terá vida longa.

Curiosidade

Você sabia que existe uma Escola de Samba paulista chamada Prova de Fogo em homenagem ao bloco cearense?




Foto grcesprovadefogo

Tudo começou em um piquenique organizado por Celso e Cristina de Lima em Interlagos, no dia 21 de abril de 1974, reunindo jogadores e torcedores do Santista Futebol Clube. A ideia para a formação da escola de samba partiu de Akimilson de Oliveira Câmara, o Ceará, que sugeriu o nome 'Prova de Fogo', 
uma homenagem ao bloco cearense. A partir daí, aconteceram algumas reuniões na casa de Dona Valdevina, na Vila Mangalot, Pirituba. Dois meses depois do piquenique foi plantada a primeira semente do samba em Pirituba, com a fundação do Grêmio Recreativo escola de Samba Prova de Fogo em 16 de junho de 1974. Ceará foi eleito o primeiro presidente da escola de samba.

Foto Renato Cipriano

Em 1975 a escola apresentou-se pela primeira vez no Grupo Pleiteante. O belo desfile na Rua 12 de Outubro, na Lapa, rendeu à agremiação o título de campeã e uma vaga no Grupo 3. Após a apresentação de 1980, com um enredo sobre histórias de caboclos, a escola passou a integrar o Grupo 2. Ao longo da sua história, a Prova de Fogo apresentou enredos marcantes, como Caboclo, Meninos de Rua, Circo, Magia Cigana, entre outros.



*Otacílio Anselmo e Silva – Escritor e antigo componente da banda de música do 23º BC - Exército) foi o fundador do 1º Bloco de Carnaval da cidade de Fortaleza. O Prova de Fogo, bloco este de tamanha tradição no Carnaval cearense até hoje. O nome do bloco “Prova de Fogo” é citado na música 'Bati Na Porta', de Lauro Maia, gravada pelo grupo musical Quatro Ases & um Coringa, pela Odeon.

Antônio Marrocos


Leila Nobre


Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, http://www.provadefogo.com.br, Diário do Nordeste, Nirez

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: