Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : 2023
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domingo, 5 de março de 2023

O dia dos mil mortos

 

"No décimo dia de dezembro de 1878, há 140 anos, Fortaleza viveu o dia mais trágico de sua história. Era o segundo dos três anos da pior estiagem sobre a qual há registros. Flagelados perambulavam pela Capital da então província. A aglomeração, a fome, as condições sanitárias criaram ambiente para a proliferação de doenças. Instaurou-se a epidemia de varíola. Em um só dia, 1.004 cadáveres foram sepultados. A data ficou marcada de forma sinistra na história da cidade como "o Dia dos Mil Mortos"."  Érico Firmo (Jornal O Povo)


Poema de Hélder Campos sobre o fatídico dia:

O DIA DOS MIL MORTOSA grande epidemia de varíola 1877/1879

Desde os mais remotos tempos

Até os dias atuais,

Convivemos com doenças,

Muitas delas bem fatais,

De grande letalidade,

Independente da idade,

Com resultados mortais.


Felizmente para todos,

Foi gigante a evolução,

Da ciência como um todo,

Para o bem do cidadão,

Que se sentiu amparado,

Algo que lá no passado,

Era outra situação.


Agora irei versejar,

Falando da epidemia,

Que devastou Fortaleza,

Matando mil num só dia,

Tempo de grande terror,

Intensa tristeza e dor,

E inacabável agonia.


Mais de cento e quarenta anos,

Do tal acontecimento,

Em nossa amada cidade,

Palco do horrível momento,

Bem triste de sua história,

Lembrança mais do que inglória,

A causar tanto lamento.


Era mil e oitocentos,

E setenta e sete o ano,

Que a nossa Terra da Luz,

Sofreu forte desengano,

Pois pesada epidemia,

A milhares atingia,

Em horripilante plano.


O estado do Ceará,

Por todos é conhecido

Como a terra da estiagem,

De um povo mais que sofrido,

Que pena com a sequidão,

No litoral ou sertão,

Em ritual dolorido.


O fenômeno da chuva,

É incomum neste lugar,

A seca forte e inclemente,

Chega aqui sem avisar,

Mora aqui, se estabelece,

E não adianta prece,

Já que veio pra ficar.


Varíola esse era o nome,

Desse mal devastador,

Também chamada bexiga,

Que causava chaga e dor,

Rapidamente matava,

Ou no mínimo prostrava.

Foi um ambiente de horror.

Operários do sanear localizam parte do cemitério histórico, onde foram enterrados os mortos pela varíola que assolou Fortaleza. Crédito: Edvard Jr

Naquele tempo a cidade,

Quase não tinha hospital.

Para tratar desse tipo,

De enfermidade fatal,

E pra onde eram levados,

Os pobres contaminados,

Dessa mazela letal.


Montaram uns lazaretos,

Leprosários conhecidos.

Hospitais improvisados,

Para esses seres sofridos.

Era pavorosa cena,

Dava realmente pena,

Ver os pobres desvalidos.


E a perigosa varíola,

Foi se intensificando,

Pela falta de cuidados,

Gente se contaminando,

Muito luto aconteceu,

Pois muita morte ocorreu,

E tudo o mais se agravando.


Rumavam pra Fortaleza,

Deste estado, a capital,

A procura de alimento,

De obterem algum sinal,

Que aliviasse o sofrer,

E que pudessem viver,

De modo mais racional.


Mais de cem mil sertanejos

Migraram pra esta cidade,

Fugindo da intempérie

Mesmo que contra a vontade,

A fome e a sede constante,

Era um mal mais que agravante

De real intensidade.


Só trinta mil habitantes,

Possuía Fortaleza,

Nesses anos mencionados

E um cenário de tristeza,

Foi aos poucos se montando,

Com os retirantes chegando,

Logo se teve a certeza.


Nossa cidade não tinha,

Nenhuma preparação,

Pra receber tanta gente,

Pois faltava condição,

De oferecer moradia,

E também vida sadia,

A toda essa multidão.


Parte desses retirantes,

Vieram a se concentrar

Lá na Praça da Estação,

Um conhecido lugar,

Desejavam atenção,

E justa alimentação,

Pois queriam trabalhar.


Só que essa aglomeração,

Foi ficando insuportável,

O acúmulo de pessoas,

Não era nada invejável,

E tudo foi piorando,

Com mais pessoas chegando

Em campo bem deplorável.


Revoltas aconteceram,

Com a carência de alimento,

O governo não podia,

Dar a todos o sustento,

Muitos roubos ocorreram,

Pilhagens se sucederam,

Num lamentável momento.


Como nada é tão ruim,

Que não possa piorar,

Uma doença horrível

Foi ali se instalar.

Um mal de efeito terrível,

Enfermidade temível,

Muita dor veio causar.


Apenas um cemitério

Naquele tempo existia,

Qualquer cristão que morresse,

Só nele se enterraria,

E foi grande o sofrimento,

Imensa dor e lamento,

Com aquilo que acontecia.


Só pra se ter uma ideia,

Dos mortos, a quantidade,

Em apenas um só dia,

Foi gigante a mortandade,

Mil e quatro sepultados,

Infelizes enterrados,

Nessa tal calamidade.


Pra tanto sepultamento

Precisaram contratar,

Coveiros e mais coveiros,

Para esse povo enterrar,

Era um macabro cenário,

Mais que tristonho calvário,

Difícil de imaginar.


Muitos litros de aguardente,

Aqueles homens bebiam,

Pra aguentar o mau-cheiro

Dos mortos que apodreciam

E devido à exposição,

Desses homens em ação,

Dezenas adoeciam.


E mesmo assim o lazareto,

Continuava a receber,

Doentes e mais doentes,

Com muitos vindo a morrer,

Nunca antes nessa cidade,

Viu-se essa fatalidade,

Dessa forma acontecer.


Era tão grande o problema

Que tiveram que apelar,

Mais lazaretos fizeram,

Para mais gente ajudar,

Pois era imensa a procura,

E gigantesca a amargura

Difícil de acreditar.


Essa seca dos três setes,

Foram anos de pavor,

Além da falta de chuva,

Esse episódio de horror,

Com tanta gente morrendo,

Tantas famílias sofrendo,

Vivenciando essa dor.


Mas agora o panorama,

Por certo é bem diferente,

Do vivido no passado

E a saúde é mais presente,

No auxílio à população,

Que precisa dessa ação,

Sobretudo o mais carente.



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