Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Ceará
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 9 de setembro de 2014

José Moreira da Rocha - O Desembargador Moreira


Desembargador José Moreira da Rocha (Foto ao lado).

1877, primeiro trimestre e nenhum prenúncio de inverno. Os estoques de alimentos do estado estavam praticamente esgotados e a fome se fez presente, com levas e mais levas sucessivas de rurícolas esquálidos e imundos inchando a capital Fortaleza, vindos dos quatro cantos do estado a procura de sobrevivência. Cerca de 7000 escravos são exportados a preços irrisórios para as províncias onde a seca não havia chegado, (esse movimento de escravos chamado de tráfico negreiro inter-provincial viria a cessar no ano de 1881, janeiro, com o grito do líder jangadeiro Dragão do Mar"no Porto do Ceará não se embarcam mais escravos...").
O Presidente da Província Caetano Estelita Cavalcanti Pessoa,a tudo assistia, distribuindo migalhas, impotente a falta de recursos. Já havia apelado para Vossa Alteza o Imperador D.Pedro II, (aliás D.Pedro já havia dado ordens ao Ministro da Agricultura Comércio e Obras Públicas - João Lins Vieira e Cansanção para que assinasse a ordem de serviço para a construção da Estrada de Ferro Camocim-Sobral  justamente no intento de empregar os flagelados da seca), que se mostrou solícito. Mas,a morosidade dos vapores impossibilitava o atendimento que a urgência cobrara.

O ramal de Camocim originalmente foi o trecho inicial da E. F. do Sobral (Camocim-Sobral), aberto nos anos 1881 e 1882. Fotos do acervo do Blog Sobral na História

Com a imensa aglomeração de infelicitados, sem o mínimo de higiene inchando Fortaleza, vieram os surtos epidêmicos, levando a morte de centenas, talvez milhares desses nossos irmãos cearenses. Esse foi o cenário encontrado poucos anos depois da mudança de Sobral para Fortaleza do Comendador José Antônio Moreira da Rocha, pai do Desembargador Moreira, eleito deputado provincial, em eleição passada -10 de março de 1870.

O Comendador, deprimido diante de tanto infortúnio e passividade dos governantes retira-se com a família para Salvador-Bahia. Lá José Moreira da Rocha matricula-se no Ginásio Bahiano, fundado pelo Barão de Macaúnas, onde cursou humanidades, (correspondente hoje ao nosso ensino fundamental). Em 1880, toda a família está de volta a Fortaleza. 

Primeiro Emprego 

Com o curso preparatório, (atual ensino médio) concluído, José Moreira da Rocha emprega-se na Cia.Cearense de Via Férrea de Baturité -1883, como aprendiz de topógrafo, passando depois a aprendiz de tornearia mecânica, sob a chefia de seu irmão-Engenheiro Leopoldo Jorge Moreira da Rocha. No ano seguinte matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou em ciências jurídicas e sociais, em 1908. De volta ao Ceará o bacharel José Moreira da Rocha foi promotor público das Comarcas de PacatubaCanindé e Maranguape, vindo depois a ser nomeado juiz de direito de Maranguape.

Casamento

Contraiu matrimônio em Fortaleza com Abigail Alves do Amaral. Desse enlace nasceram; Dr. Jorge Moreira da RochaCarlos Alberto Moreira da Rocha e Maria Júlia

Nomeação

Verificada uma vaga no Superior Tribunal de Justiça do Ceará, 1908, fora organizada uma lista contendo dez nomes dos juízes de direito com mais de quatro anos de efetivo exercício do cargo, (seis por antiguidade e quatro dos nomes por merecimento). O Dr. Juiz de Direiro José Moreira da Rocha foi escolhido pelo 'dono do Ceará' Presidente do Estado Antônio Pinto Nogueira Accióly, para preencher a vaga de desembargador. 

O Político Moreira da Rocha

A sua primeira experiência com a administração pública ocorreu em 1914, como Secretário dos Negócios da Fazenda, no segundo governo do Cel. Benjamim Liberato Barroso (1914-1916), quando enfrentou as agruras da famosa 'seca do 15'. Em 1916 assume a presidência do estado o também sobralense Engenheiro João Thomé de Saboia e Silva, (fruto da união de seu partido Democrata com o Partido Conservador, que tinha na Zona Norte como chefe político Francisco de Almeida Monte - Chico Monte). Quando da composição de seu secretariado designa para a pasta do Interior e Justiça o juiz sobralense Dr. José Saboya de Albuquerque. No final de 1918 ao nomear como intendente de Fortaleza Rubens Monte, fora o fato que determinou a renúncia de Dr.José Saboya e nomeação para a referida pasta do Desembargador José Moreira da Rocha. 

1.1- A Eleição de 1924: Decorrido o quadriênio de pacificação do governo do insigne jurista e parlamentar Justiniano de Serpa (1920-1923), irromperam novos dissídios na política cearense: os liderados por Pinto Accióly (oligarquia decadente), e os conservadores indicaram o nome de José Accióly para a presidência do estado, e os partidários dos Paula Rodrigues e Moreira da Rocha, então unificados sob o comando do Engenheiro João Thomé de Saboya e Silva, desfraldaram a candidatura do Desembargador José Moreira.
Unindo-se Conservadores e Democratas, tendo firmado um pacto em que se comprometiam mutuamente a aceitar e prestigiar o nome de Moreira da Rocha como postulante à presidência do estado, agora conciliados das divergências existentes entre os dois grupos partidários. Em 12 de maio de 1924 é eleito presidente do estado assumindo a 12 de julho para um mandado de 4 anos (1924-1928).

1.2- Secretariado: O Governo Moreira da Rocha fora composto; Vice-Presidente Dr.Manuelito Moreira, médico clínico obstetra. Secretaria da Saúde, Dr.Amaral Machado,médico. Secretaria de Saneamento e Obras Públicas, Dr.Vitoriano Borges de Melo, engenheiro. Secretaria dos Negócios da Fazenda, Dr. Manoel Theófilo Gaspar de Oliveira, Capitão Médico do Exército, deputado à Assembléia Legislativa do Ceará pelo Partido Conservador, e ex-titular da Secretaria da Fazenda no Governo Justiniano de Serpa. Para a Chefatura de Polícia, Dr.José Pires de Carvalho. Secretario do Interior e Justiça, Dr.José Carlos de Matos Peixoto, e para a Prefeitura de Fortaleza o advogado de Baturité, Dr.Godofredo Maciel.

No centro da foto, vemos José Moreira da Rocha e Padre Cícero

Governo Moreira da Rocha

Logo no início de seu governo, José Moreira da Rocha enfrentou a Legião Cearense do Trabalho, criada pelo então Tenente Severino Sombra; a incursão da Coluna Prestes; a Insurreição de Juazeiro; e até a visita indesejada do bando de lampião o 'Rei do Cangaço'. A tudo reagiu, "assegurando de pronto o restabelecimento da ordem pública, intervindo a polícia com a energia dentro da órbita das suas atribuições, mas sem a quebra do princípio de autoridade, sendo entregues a justiça os autores de crimes praticados nos conflitos desenrolados", conforme Ele próprio, presidente, asseverou em sua mensagem em 1927. 

Realizações

Reforma do código de processo civil e comercial do estado, constante da Lei nº 2420, de 16.10.1926. Reforma da Constituição Estadual, promulgada em 24 de setembro de 1925; Reforma da Legislação eleitoral, através da Lei nº 2327, de 13 de janeiro de 1923; Construção da rede da coleta e tratamento de água de Fortaleza; Construção da rede de esgoto de Fortaleza; Construção do Posto Central de Profilaxia de Doenças Venéreas e da Lepra; Instalação do Conselho penitenciário; Criação do Gabinete Médico Legal; Construção de uma Colônia Correcional Agrícola na Fazenda Três Lagoas, em Sobral, inaugurada a 8 de janeiro de 1928; Construção do Leprosário Canafístula; Construção da ponte de desembarque no Porto de Fortaleza; melhoria dos Campos de Demonstração Agrícola de Sobral, BaturitéQuixeramobimSenador Pompeu; Execução da lei que determinava a eleição de prefeitos municipais, através do voto popular, (até então os mandatários municipais eram nomeados pelo presidente do estado, por isso eram chamados de intendentes).
Enfermo, José Moreira da Rocha renuncia ao mandato a 19 de maio de 1928, assumindo o Presidente da Assembléia Legislativa Professor Eduardo Girão. Faleceu no Rio de Janeiro a 22 de agosto de 1934. Em sua homenagem, importantes logradouros públicos recebem seu nome, tanto em sua terra natal-Sobral, como em Fortaleza

Bibliografia: ARAÚJO, Francisco Sadoc de. Cronologia Sobralense, Vol.III. Sobral: Imprensa Universitária (UVA), 1983. BARROSO, José Parsifal. Uma História da Política do Ceará: (1889-1954). Fortaleza-BNB S.A, 1984. POMPEU SOBRINHO, Thomaz. História das Secas.2. Ed. Mossoró: Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, 1982. ROCHA, José Moreira da (presidente do Estado do Ceará), Mensagem de 1927. Fortaleza, Typografia Gadelha, 1927. Studart, Guilherme (Barão de Studart). Dicionário Bibliográfico Cearense. Fortaleza: Typografia Studart. 

Texto: Santana Júnior 


segunda-feira, 7 de abril de 2014

A Saga dos Jangadeiros - Uma nova aventura (Parte II)


Continuando...



Observamos a facilidade com que esses trabalhadores são recebidos pelo presidente, prática coerente com o personalismo de Vargas e com o trabalhismo.
Enquanto os cinco pescadores enfrentavam o mar e temporais para chegar até a capital federal, o mesmo José Pinto Pereira, o escolhido para assumir a Delegacia de Caça e Pesca, viaja novamente ao RJ e cerca o presidente e seu ministro no Palácio do Catete.
Por três vezes consegue chegar até Vargas e, segundo acentua o jornal, não consegue chegar perto de seu Ministro da Agricultura. Na terceira vez, se misturando a um grupo de estivadores que estavam em audiência com o presidente, travou com esse o seguinte diálogo:

Vargas, espantado, perguntou ao pescador: _“Você ainda está por aqui?
Então, o que resolveu?” Ao que José Pinto Pereira respondeu: _”Pois é,
Presidente, a verdade é que ainda estou esperando. Já estive mais de dez vezes no Ministério e ainda não pude falar com o Ministro. O meu dinheiro está se acabando e eu acho que vou me embora.”

Se, no contexto de 1941, Vargas e sua equipe receberam os jangadeiros em uma audiência pública, ocasião em que mandou abrir os portões de sua residência oficial, o Palácio Guanabara, em dezembro de 1951, encontrou os jangadeiros em uma audiência privada.
Do Rio de Janeiro, os jangadeiros seguem até o Rio Grande do Sul, revelando aos jornalistas o desejo de conhecer São Borja, terra do Presidente Vargas. Ao governador Dorneles Vargas, primo do presidente, entregam um memorial, e seguem cumprindo uma agenda de visitas e festividades promovidas entusiasticamente pelos gaúchos. 

Em tom de desafio, Mestre Jerônimo revela,  orgulhoso, a um jornalista do Rio Grande do Sul que o próximo destino de uma jangada cearense seria os Estados Unidos da América.


De volta ao Ceará, os tripulantes da Nossa Senhora de Assunção se envolvem com a criação do Sindicato dos Pescadores do Ceará, uma das ações do Estado resultante do acerto de contas por ocasião da viagem. 
O presidente substitui o titular da Delegacia de Caça e Pesca no Estado não pelo pescador José Pinto Pereira, alvo de boatos de ter ligação com o Partido Comunista, mas por Stênio Azevedo, um velho amigo dos pescadores, um “amigo graúdo”, é certo, um dos apoiadores do raid de 1951. 
Também acompanham a execução do “plano completo de amparo aos pescadores e regulamentação das respectivas profissões”, que previa, além da sindicalização, o fornecimento de jangadas aos pescadores. O tal plano devia beneficiar Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.


É certo que o elemento impulsionador dessas viagens, ocorridas em 1941 e 1951, é o conhecimento e mesmo a certeza da via direta de entendimento com representantes do governo brasileiro, em especial com o próprio presidente da República

Se Jerônimo e seus companheiros se mostram cansados das promessas, eles ainda demonstram fôlego e confiança nessa via, e apostam nela. Isso faz parte dos ganhos simbólicos dessas viagens que considero de suma importância, especialmente, no fortalecimento da identidade do jangadeiro, dando sinais de reciprocidade na ação do Estado, conferindo aos “porta-vozes”, quatro em 1941 e cinco em 1951, uma legitimidade.

Ser recebido pelo presidente, ficar “ombro a ombro com ele”, como disse Jacaré em 1941, não é pouca coisa.

A liderança política da jangada é transferida para o mestre técnico da embarcação. Na primeira viagem, Jerônimo quase não se manifesta, não usa o microfone nem uma vez, somente em algumas passagens dá algum depoimento. Com a morte de Jacaré, como que por um compromisso moral, é ele quem lidera o grupo, falando aos jornalistas, discursando, tratando com o governador do Ceará, com o presidente da República, enfim...

No começo da década de 1950, a imprensa ainda se mostra sensível à causa dos populares, se colocando como amplificador de suas demandas. 
Os jangadeiros recorrem com frequência a essa via e as viagens não teriam sentido sem a visibilidade proporcionada pelas matérias estampadas nas folhas de jornal de todo o país.

Na viagem de 1951, outro meio de comunicação é bastante mobilizado, inclusive para dar informações sobre o paradeiro dos pescadores; refiro-me ao Rádio Amador.

Os jangadeiros permanecem se valendo de uma dupla estratégia de ação política, combinando-a e acionando-a em momentos que lhes parecem convenientes. Falo da ação de reverência/homenagem e na ação de contestação/protesto. 
Em 1941, em virtude do contexto político, dando provas da negociação da realidade que se opera, o tom de reverência sobressai e é o mais acionado, não tendo consequência o abafamento da contestação.
Jacaré disse a um jornalista do RJ que falou tudo o que queria.


De fato a repercussão política do raid de 1941 foi grande e as denúncias sérias. A escolha do roteiro Fortaleza-Rio Grande do Sul pode ser entendida como representativa da ação de reverência, era uma homenagem ao velho amigo dos pescadores, que queriam conhecer e tocar a terra do Presidente. 

Nesse sentido, participaram de um churrasco na Fazenda Itu, de propriedade do Presidente, e declararam aos jornalistas a disposição de ir até São Borja. Mas não deixaram que suas ações, a viagem arriscada, fossem valorizadas apenas do ponto de vista do feito esportivo.

Em várias ocasiões, Jerônimo tomava para si a palavra e ressaltava os fins políticos que os moviam. 
A vida os obrigava a ser herói, como revelou, mas o que queriam mesmo eram melhores condições de vida para a classe.


Na viagem de 1941, a rede paternalista que cercava os pescadores foi fartamente mobilizada; na de 1951, ela ficou bem mais restrita. Nada de padrinhos, foi outra lição tirada da viagem de 1941. A viagem de 1941 foi um momento importante no aprendizado de classe. Jacaré declarou aos jornalistas que pensava que ia falar em nome dos pescadores do Ceará, mas, ao percorrer o litoral brasileiro e topar com outros “irmãos de palhoça e de sofrimento”, entendeu que falava em nome dos Pescadores do Norte.

Na fala de Jerônimo e dentro das condições de possibilidade dos anos de 1950, era a “classe” que ele e seus companheiros representavam. Não iam mais “pedir direitos” e sim “cobrar” as promessas feitas.

Com a morte do Presidente Vargas, foram silenciadas as vozes dos “pescadores do Norte”?
A pergunta vai ficar, pelo menos por enquanto, sem resposta. Ao invés de respondê-la, informo ao leitor que, em 1958, nas águas desenvolvimentistas do período JK, ainda tremulava a vela de uma jangada, rumo, não aos Estados Unidos, mas a Buenos Aires. O nome da jangada, estampada na branca vela, não era mais a de um santo, mas sim outra homenagem aos trabalhistas: Maria Tereza Goulart, nome da esposa do Vice-presidente João Goulart – um “amigo do presidente Vargas”, como disse um dos tripulantes dessa jangada, o pescador Zé de Lima*

Berenice Abreu de Castro Neves


Fim


*O jornalista Raimundo Caruso entrevistou o pescador Zé de Lima, que viajou juntamente com Mestre Jerônimo até Buenos Aires em 1958. Cf. CARUSO, Raimundo C. Aventuras dos Jangadeiros do Nordeste. Florianópolis: Panan Ed. Culturais, 2004.


Crédito: Berenice Abreu de Castro Neves (Os jangadeiros de Vargas: Reflexões acerca das viagens reivindicatórias de jangadeiros cearenses)


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Bairro Dom Lustosa


O bairro de Fortaleza que vamos ver agora tem o nome de um bispo que se preocupou muito com o social e ajudou na criação de importantes hospitais.

No alto de uma ladeira, a simpática capela de Santa Luzia dá boas vindas a quem visita o bairro Dom Lustosa. A igrejinha, que foi construída pelos próprios moradores nos anos 80, é motivo de orgulho.


As terras que hoje compõe o bairro Dom Lustosa, faziam parte da Parangaba e nesta área transitavam os rebanhos de gado pela estrada Barro Vermenho-Parangaba. Esta estrada ligava o Barro Vermenho (Antônio Bezerra) - Parangaba. Deste período da história ainda é possível de ver o restante desta estrada, que agora é denominada Avenida Matos Dourado(mais conehcida como Perimetral)/Rua Rui Monte, o Sítio Ipanema e outras casas antigas que mostram o passado agrícola deste bairro.


Foto arquivo O Povo

Boa parte destas terras pertenciam a família Pompeu, nas quais ficavam as casa de veraneio da família. Na década de 60/70 de século XX, a família Pompeu, vendeu e loteou estas terras. Como parte deste empreendiemnto foi isntalada uma indústria de tecelagem(Politextil, depois Unitextil e atualmente Santista). Com a construção desta indústria a paisagem natural foi alterada e o riacho que afluía no riacho Alagadiço foi barrado e criou-se assim o Açude da Fábrica.

Com o surgimento e luta política do conselho de moradores do Parque Santa Lúcia(o antigo nome do bairro), o bairro desvinculou-se do bairro Henrique Jorge. Em 1978, com o status de bairro, este ganha um novo nome Dom Lustosa, uma homenagem ao antigo arcebispo de Fortaleza, Dom Antônio de Almeida Lustosa*.

O Pau da Veia

É uma das comunidades mais antigas do bairro e um dos locais mais conhecidos do bairro. Um nome que retorna a Dona Ana, uma moradora que tinha sua casa à margem do riacho Alagadiço ou riacho Genibaú, e que nos anos 50 do século passado, construiu um ponte rustíca de madeira. Com isto criou-se a conexão deste com o bairro Antônio Bezerra, que possibilitou aos moradores fazer suas compras ou vender produtos na famosa feira.

Agora é uma estrutura de concreto contruída pela Prefeitura de Fortaleza, mas a ponte original era apenas de troncos de madeira. A ponte original foi uma iniciativa de uma senhora idosa, e por isso ganhou este nome. 


Nos dias de hoje esta é uma ponte de concreto, mas os moradores guardaram na expressão Pau da Veia, uma homenagem a criadora da primeira ponte.

Outro ponto conhecido do bairro é a bifurcação, o encontro da águas do riacho Cachoeirinha com o riacho do Alagadiço, afluentes do rio Maranguapinho. E ainda o serrote da Vacaria.

A capela de Santa Luzia, bastante conhecida no bairro, foram os moradores que ajudaram a construir.

Ficheiro:Capela Santa Luzia.jpg
Capela de Santa Luzia, na Rua Coronel Francisco Bento, considerado um dos pontos mais altos do bairro

Com cerca de 14 mil moradores, nos dias de hoje o bairro abriga uma feira, na rua Professor Paulo Lopes, que acontece a cada segunda-feira.

Limites do bairro
  • Norte: Riacho do Alagadiço e Avenida Coronel Matos Dourado (com o Antônio Bezerra)
  • Sul: Avenida Senador Fernandes Távora (Henrique Jorge e o Autran Nunes)
  • Leste: Avenida Coronel Matos Dourado (Perimetral, com o Pici e o Henrique Jorge).
  • Oeste: Rua Cardeal Arcoverde, fazendo divisa com Autran Nunes.

Ficheiro:Ficheiro-Rua Eurico Medina.jpg
Rua Eurico Medina, uma das primeiras do bairro, nas proximidades da Avenida Perimetral

Acesso

O bairro tem uma linha de ônibus própria (205 - Dom Lustosa) que sai do terminal Antônio Bezerra, mas também há vários acessos feitos pela Av. Perimetral e pela Av. Senador Fernandes Távora, como 051 e 052 - Grande Circular 1 e 2 respectivamente, 041 e 042 - Av. Paranjana 1 e 2 respectivamente, 097 - Antônio Bezerra/Siqueira, Antônio Bezerra/Lagoa/Parangaba, a linha do bairro Henrique Jorge - 314 (que curiosamente passa pelo início do bairro), 045 - Conjunto Ceará/Papicu via Montese, 076 - Conjunto Ceará/Aldeotae 043 - Conjunto Ceará/Lagoa/Fernandes Távora.


Comércio

No Dom Lustosa são encontrados vários bares (alguns deles existem no local há muito tempo), a rede de farmácias Pague Menos e o supermercado Cometa da rede Super Rede, esses últimos localizados na fronteira com o Henrique Jorge. Também são encontradas várias locadoras e lan-houses, alguns mercadinhos populares, as academias Dinâmica e Irmãs Helena, a empresa de tecidos Unitêxtil, algumas lojas de roupas como Randelle e alguns apartamentos.

Ficheiro:Unitêxtil.jpg
Fábrica Unitêxtil, uma importante indústria no bairro

Instituições

Existem 2 (dois) colégios particulares, Fernão Dias e Getúlio Vargas, e 4 colégios públicos, Justiniano de Serpa (o popular "Maria da Hora"), Ayrton Senna, Paulo Freire (antigo Centro Educacional Demócrito Rocha) e Waldemar Alcântara. Além disso, a população do local ainda tem acesso ao Centro Social Urbano (CSU) César Cals, da Regional III, na fronteira dos bairros Dom Lustosa, Pici e Henrique Jorge, com postos de saúde e várias atividades esportivas e culturais, como natação e break dance. A capela foi iniciativa do padre Almeida. A senhora conhecida como MÃE BIA, filhas, netos e genro, são os verdadeiros fundadores da capelinha. A área foi adquerida junto a prefeitura, pois a faixa da quadra [ruas Francisco Bento, Araujo Lima e Macapá, uns 50 metros lhes pertence]


Quem foi Dom Antônio de Almeida Lustosa

Antônio de Almeida Lustosa nasceu em São João del-Rei-MG em 11 de fevereiro de 1886.

Ingressou na congregação salesiana no dia 29 de janeiro de 1905. Foi ordenado sacerdote no dia 28 de janeiro de 1912, em Taubaté-SP, pelas mãos de Dom Epaminondas Nunes d'Ávila e Silva, bispo de Taubaté-SP.

Como padre salesiano, ensinou filosofia e teologia. Foi mestre de noviços, diretor e vigário.
Ficheiro:Dom Antonio de Almeida Lustosa.jpg

Dom Antônio de Almeida Lustosa toma posse na Arquidiocese de Fortaleza no dia 5 de novembro de 1941.
Em 1952 Dom Almeida Lustosa participou da fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Foi co-fundador do Instituto Josefino.
É o autor dos vitrais que ornamentam a Catedral de Fortaleza.

[Vitrais+Catedral.jpg]
Os vitrais - Crédito da foto: http://monumentoarquiteturaearte.blogspot.com
Participou da fase ante-preparatória do Concílio Vaticano II e do primeiro período (outubro – dezembro 1962) do Concílio.
Papa João XXIII aceitou sua renúncia no dia 16 de fevereiro de 1963. Passou ao título de Arcebispo de Velebusdus (sé titular), à qual renunciou em 1971, passando a ter o título de Arcebispo emérito de Fortaleza.

Dom Lustosa ao inaugurar as instalações da Ceará Rádio CLub
Dom Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo Metropolitano de Fortaleza, benzendo as novas instalações da Ceará Rádio Club - Crédito da fotohttp://www.prenove.com.br
Morte
Dom Lustosa faleceu no dia 14 de agosto de 1974, aos 88 anos de idade, na casa salesiana de Carpina, Pernambuco, Brasil, onde viveu os seus últimos quinze anos. Está sepultado na catedral de Fortaleza, Ceará.

Foto publicada no Almanaque do Ceará, de 1941.  Crédito da foto: http://domlustosaiconografia.blogspot.com/

Em 1993 a Arquidiocese de Fortaleza abriu o processo canônico para sua canonização.
Em Belém do Pará, no dia 1º de janeiro de 2006 o Arcebispo de Belém Dom Orani Tempesta assinou o processo arquidiocesano, remetendo-o para Roma.

Pronunciamento de Dom Lustosa na Rádio Assunção Cearense

Como não evocar aqui em Fortaleza a figura admirável de Dom Antônio de Almeida Lustosa que repousa nesta Catedral e que deixou nesta Diocese a imagem luminosa de um sábio e de um santo. Possa a recordação destes irmãos, e de tantos e tantos outros, que nos precederam com o sinal da fé, estimular-nos mais e mais no serviço do Senhor."
Papa João Paulo II - Discurso aos bispos do Brasil. Fortaleza, 10 de julho de 1980



Fonte: Wikipédia, Tv Verdes Mares

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Arquivo Público do Estado do Ceará



O Arquivo Público do Estado do Ceará tem como função recolher, preservar e divulgar documentos de valor histórico para referência e pesquisa. São correspondências, processos, relatórios, inventários, mapas, plantas e diversos outros documentos, emitidos pelos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e, também, de particulares, desde 1703.



O Arquivo público do Estado do Ceará: instituição vivencia o permanente desafio de armazenar documentos que não param de ser produzidos. Dificuldades vão do espaço físico para armazenar os papeis às precauções contra a umidade e o fogo - Foto de Alex Costa

Dos documentos antigos existentes no Arquivo Público destacam-se: o atestado de óbito do Padre Cícero; as viagens de Matias Beck ao Ceará do século XVIII; o inventário de Tristão Gonçalves e de dona Ana Triste, sua esposa; registros de terras de Fortaleza, do Século XIX. O Arquivo Público emite certidões de documentos cartoriais e transações paleográficas de documentação histórica e monta exposições temáticas.


Exemplares raros de seu acervo


Criado em 1916, o Arquivo Público funcionava na Biblioteca Pública do Estado. A partir de 1921, fez parte da Secretaria do Interior e Justiça. Em 68, vinculou-se definitivamente à Secretaria da Cultura do Estado, embora tenha percorrido vários prédios antes de instalar-se, em 93, na sede atual.
O prédio que abriga hoje o Arquivo Público foi construído em 1880 pela família Fernandes Vieira. O Solar dos Fernandes é um casarão em estilo neoclássico, característico do século XIX, com 15 janelões no térreo e 19 sacadas no pavimento superior, que foi recuperado pela Secretaria da Cultura do Estado.



MISSÃO


Coletar, conservar e difundir a documentação de caráter permanente produzida pela administração pública na esfera executiva, legislativa e judiciária, bem como por instituições públicas e privadas consideradas de interesse público e social, visando preservar a história e memória do Estado.


O Arquivo Público é visitado por fortalezenses, cearenses, brasileiros e até mesmo estrangeiros que desejam ou necessitam conhecer a história do nosso povo. O Arquivo Público do Estado do Ceará abriga cerca de 32 quilômetros de documentos e funciona no Centro de Fortaleza.


Lá é possível pesquisar variados temas, como escravidão, seca, saúde pública, violência, formação política do Ceará, História da Educação, obras públicas, desenvolvimento econômico e urbano, entre outros.


ESTRUTURA 


Parcialmente instalado no Solar dos Fernandes Vieira (esquina das ruas Senador Alencar e Senador Pompeu), desde 1993, o Arquivo Público do Ceará foi criado oficialmente em 1932, inicialmente no Palácio da Luz. Após meio século de diversas mudanças, o acervo sofreu em sua conservação e organização. Ainda assim, a documentação é uma das mais completas dentre a de órgãos similares no País, sobretudo no que diz respeito ao Período Imperial.


Desde a última mudança, a sua antiga sede, na Rua Pinto Madeira, que deveria funcionar como arquivo transitório, local de triagem do material, vem sendo utilizada apenas como depósito de ‘‘um amontoado de papéis velhos, sem valor’’.


Essa é a definição do pesquisador André Frota para um acervo desorganizado, que não tem serventia para ninguém, uma vez que não tem como ser consultado. ‘‘Deve haver um movimento dialético entre o documento e o historiador’’, destaca.


Há também documentos de natureza particular, como é o caso do Acervo da Firma Boris Frères, que retrata a dinâmica das atividades econômicas do Ceará da segunda metade do século XIX a meados do século XX, e do Acervo Virgilio Távora, composto de variada documentação oficial e particular pertencente àquele eminente homem público que governou o Ceará com brilho e honestidade por duas vezes.


Através de uma política de modernização, elaborada de acordo com o novo Regimento, procura o Arquivo Público responder com eficácia aos desafios da modernidade que se lhe defronta, mantendo-se, porém, fiel ao passado cheio de tradições e glorias do povo cearense. Por meio da reorganização de sua vasta documentação, da preservação e informatização de seu acervo, procura o Arquivo Público garantir acesso ao expressivo número de professores, pesquisadores, estudantes e do público em geral que buscam a Instituição.


O Arquivo oferece serviço de pesquisa em documentos antigos

Sobre o Solar Fernandes Vieira:


Situado na confluência das ruas Senador Pompeu e Senador Alencar, o solar foi construído no 3º quartel do século XIX para a residência do deputado Miguel Fernandes Vieira (1819–1879). Adquirido em 1883 pelo Governo Imperial para sediar a Tesouraria da Fazenda, o edifício passou por diversas reformas e ampliações quando sediou instituições públicas, dentre as quais a Receita Federal.
Patrimônio da União, cedido pelo Contrato de Sessão e Uso do Governo Estadual, atualmente o edifício é ocupado pelo Arquivo Público.
A edificação possui dois pavimentos com planta retangular e suas fachadas têm marcações horizontais que definem a linha de piso do primeiro pavimento, além de marcações verticais, em formas de cunhais, em seus vértices. As fachadas apresentam ainda aberturas: portas e janelas, com vedações de fichas de madeira e bandeirola de ferro no pavimento térreo e esquadrias com caixilhos de vidro e venezianas formando balcões com guarda-corpo também em ferro fundido. O edifício apresenta uma platibanda marcada por frisos em todo o seu perímetro.
Protegido pelo Tombo Estadual segundo a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968.





Crédito: secult e Diário do Nordeste

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Estação Central - João Felippe Pereira


Construída em estilo dórico-romano, a estação Central é o ponto de convergência das
 Linhas Troco Norte e Sul, integrando, assim, a malha ferroviária. 


A edificação da Estação de Fortaleza da Estrada de Ferro de Baturité, é projetada e construída com planta do engenheiro Henrique Foglare, no local do antigo cemitério de São Casimiro, praticamente com mão-de-obra dos retirantes da seca de 1877, em terreno que pertencia à sesmaria de Jacarecanga, de procedência da família Torres que fez doação a uma sociedade de oficiais do exército para o exercício de soldados. A Confraria de São José declarou-se dona da região e mais tarde a aforou à via férrea de Baturité. A obra, teve sua pedra fundamental lançada em 30 de novembro de 1873, mas somente foram iniciadas as obras em 1879, sendo, assim, inaugurada em 9 de junho de 1880, em frente ao antigo "Campo da Amélia", mantém-se praticamente inalterada até os dias de hoje.

Foto de 1905

O edifício desenvolvendo-se em um único pavimento, e domina completamente o espaço urbano da praça.
A fachada do bloco central possui colunas sobre pedestal encimado por frontão triangular, e escadaria demarcando o acesso ao interior do edifício. As fachadas contíguas possuem fenestração com aberturas em arco pleno, arrematadas superiormente por cornijas e platibandas.



Quem foi João Felipe

JOÃO FELIPPE PEREIRA


Nascimento: Inhamuns (Tauá)-CE, 1861

Falecimento: Rio de Janeiro (DF)-RJ, 1950

Período no Ministério das Relações Exteriores: 30.06.1893 a 07.10.1893

Arquivo do Itamaraty

Em 1946, quando era Presidente da República o Dr. José Linhares, cearense de Baturité, a Estação Central da RVC passou a ser chamada com o nome de Professor João Felipe, em homenagem ao ilustre engenheiro ferroviário cearense, nascido em Tauá, em 23 de março de 1861. João Felipe Pereira foi Ministro das Relações Exteriores, da Agricultura e Viação e Obras Públicas do Governo do Marechal Floriano Peixoto. Professor da Politécnica do Rio de Janeiro, João Felipe foi também diretor dos Correios e Telégrafos, Inspetor de Obras Públicas do Rio de Janeiro, Presidente do Clube de Engenharia e Prefeito do antigo Distrito Federal


Foto do final do século XIX

Embora especializado em sistemas de águas e esgotos, tendo contratado com o Governo do Estado do Ceará o projeto de construção do sistema de águas e esgotos da Cidade de Fortaleza, o que não chegou a concluir, quando Ministro das Relações Exteriores, o engenheiro João Felipe muito contribuiu para o desenvolvimento das ferrovias no Brasil.


Foto de 1926 - Acervo Sahra Gadelha

RFFSA - Estrada de Ferro de Baturité - Administração


Em 1908 a firma Boris Frères presenteou Fortaleza com dois álbuns impressos na França, mais precisamente em Nice, com dezenas de fotografias de Fortaleza e algumas do interior do Estado. O álbum grande tinha dezesseis páginas com dez fotos cada uma, num total de 160 fotos e o pequeno era exatamente a metade. Entre as fotos, acha-se esta, do prédio da administração da Estrada de Ferro de Baturité, depois Rede de Viação Cearense (RVC), Rede Ferroviária S/A (RFFSA), Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU) e hoje Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), construído no antigo local do Cemitério de São Casimiro.

A fotografia antiga que deve datar de 1905 mostra um prédio com a pintura muito usada antigamente, com listras horizontais de cores contrastantes alternadas. A parte do segundo pavimento era menor que a do primeiro. Em 1922 houve algumas reformas para a comemoração do Centenário da Independência e este bloco foi um dos que sofreram reforma, sendo aumentado o pavimento superior, modificada a entrada, sendo aproveitado do velho prédio as partes básicas.

Naquela época as linhas de trens saíam da Estação João Felipe e dobravam na atual avenida Tristão Gonçalves e por ela seguiam até encontrar-se com os atuais trilhos na altura da Rua Padre Cícero, na época a "parada do Amaral".


Daí a passagem de trilhos na foto antiga. Outra linha saía por trás da Estação e descia até a praia, passando pela Secretaria da Fazenda e Alfândega, indo até a Ponte Metálica. Em 1917 os trilhos começaram a ser colocados no Jacarecanga e depois foram retirados da chamada "Trilho de Ferro", atual Tristão Gonçalves, indo por onde ainda hoje vão, para desafogar o centro da cidade. Ironicamente, o Metrofor vai restabelecer o antigo caminho, só que subterraneamente.

Ainda hoje o prédio é ocupado pela administração da RFFSA - o que resta - e o pátio em frente e ao lado serve de estacionamento para funcionários e visitantes.


Crédito: Ofipro/Portal do Ceará/Nirez

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nos trilhos do tempo

“O primeiro apitar de trem”
No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8.000 fortalezenses - a quase totalidade da população da capital cearense de então! - vieram, meio assombrados, assistir, na rua do Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves, à passagem barulhenta do primeiro trem que andou espantando todo mundo, na via pública, com o seu apitar estridente e esquisito.
Naquela tarde, dava-se a experiência da locomotiva "Fortaleza". Diante da multidão basbaque, o pequenino trem, com um êxito surpreendente, rodou, cinco vezes, seguidamente, sob os mais entusiásticos aplausos, entre a estação Central, localizada no antigo Campo d'Amélia, atual praça Castro Carreira....”
  


Raimundo Menezes - Coisas que o vento levou... 


Estrada de ferro de Baturité

Foi em 25 de março de 1870 que um grupo de empresários ilustres entenderam de impulsionar o desenvolvimento do nosso Estado e, assim, resolveram se reunir e criar uma ferrovia. O Pacto foi firmado entre o Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil, o Bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), o Coronel Joaguim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o negociante inglês Henrique Brocklehurst e o Engenheiro Civil José Pompeu de Albuquerque Cavalcante.
A Companhia Cearense da Vila Férrea de Baturité foi constituída em 25 de julho do mesmo ano. Esta era a empresa para construir um caminho de ferro inicialmente até a Vila de Pacatuba, com um ramal para Maranguape.
Em 1871 foi instalado em Fortaleza o escritório da empresa, tento seu primeiro empregado João da Costa Weyne. O local escolhido para a instalação da estação central foi o antigo Campo D'Amélia, hoje a Praça Castro Carreira, e para a construção do "chalet" para o escritório e as oficinas o antigo Cemitério de São Casimiro. A inauguração aconteceu em 9 de julho de 1870, no Reinado de Dom Pedro II, tento como o diretor da Estrada o Engenheiro Amarílio de Vasconcelos.
Em 1º de julho de 1873 deu-se o assentamento dos primeiros trilhos, com a Locomotiva de Fortaleza andando sobre eles em agosto. Foi concluído em 14 de setembro de 1873 o primeiro trecho entre Fortaleza e Arronches, hoje Parangaba, sendo ele inaugurado em 29 de novembro. A primeira viagem que o trem fez sobre aquele trecho teve como tripulação o maquinista José da Rocha e Silva, foguista Henrique Pedro da Silva, chefe de trem Eloy Alves Ribeiro e guarda-freio Marcelino Leite.



De um tempo em que os trens do interior transportavam passageiros além das cargas, o Ceará chegou a possuir 58 estações ferroviárias, perfazendo um total de 600 km. Isso é o que conta o arquiteto José Capelo Filho, dono de um acervo impressionante com mais de 4000 fotografias, que outrora pertenceram a Mister Hull. "Conheci a mulher de Julian, filho de Mister Hull com uma cearense, que queria doar os álbuns depois que o marido faleceu, então eu fiquei. As mapotecas, esses móveis, também comprei dela", explica Capelo, apontando para as mobílias de seu escritório, as quais hoje abrigam livros, documentos e relíquias sobre a história do Ceará.

Mister Hull
Com o material em mãos, o arquiteto reuniu as imagens, ao lado de sua esposa, a também arquiteta Lidia Sarmiento, com o objetivo de registrar informações valiosas durante o processo de restauração das estações ferroviárias, com base em dados reais, ou simplesmente conhecer mais sobre a história do Ceará. Algumas estações, aponta com tristeza, estão abandonadas, perderam detalhes valiosos, como arremates do telhado, ou se encontram perdidas no meio da vegetação que tomou conta da paisagem.

"Cada imagem será acompanhada por um registro gráfico e iconográfico, com informações sobre a data de inauguração das estações, altitude, posição quilométrica, o nome anterior e o atual. Além disso, há desenhos de plantas, que encontrei no acervo de Mister Hull", explica. Tanto detalhamento é fruto da obsessão do ilustre gerente de estrada de ferro, que hoje dá nome a uma das avenidas de Fortaleza. Por trás das imagens, é possível se deparar com um senso de organização de quem queria registrar pessoas, animais, detalhes de casas, além de outras informações, anotadas também em índice. Nos livros, a marca registrada do colecionador retrata a preocupação em apontar a origem do acervo.

"Tenho também documentos importantes como o balanço anual da estrada de ferro de Baturité, de 1912 a 1915, com informações sobre a arrecadação, o número de vagões...", descreve. Outro livro, entre os achados, é do Engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha, onde se observam dados, descrições sobre a economia de municípios e localidades do Ceará. "Já aí se pensava, por exemplo, em ligar o Ceará ao Sul da República. Havia também a preocupação em minorar os efeitos da seca e desenvolver a lavoura e a indústria do estado".

História

"No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8000 fortalezenses - a quase totalidade da população da capital cearense de então! - vieram, meio assombrados, assistir, na rua do Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves, à passagem barulhenta do primeiro trem que andou espantando todo mundo, na via pública, com o seu apitar estridente e esquisito".

A passagem do texto de Raimundo Menezes, em "Crônicas Históricas da Fortaleza Antiga", retrata a cena ocorrida no Campo D´Amélia, atual Praça Castro Carreira ou da Estação, por ter sido escolhida para abrigar a estação central da Estrada de Ferro de Baturité. Durante a inauguração, o trem fez algumas viagens, acompanhadas de aplausos da população.

Um engenheiro que gostava de colecionar imagens

O arquiteto José Capelo Filho conta que o inglês Francis Reginald Hull, ou Mister Hull, como é mais conhecido, chegou ao Ceará em 1913, nomeado para o cargo de Superintendente Geral da Brazil North Eastern Railway, arrendatária da Rede Ferroviária Cearense, para explorar o serviço de trem. Era uma criação da South American Railway Construction Company Limited. Além da ocupação como engenheiro ferroviário e hidráulico, Mister Hull dividia seu tempo fotografando, colecionando cartões-postais, contando a história dos locais por onde passava por meio das imagens, muitas delas hoje no arquivo do arquiteto. Curioso, estudou as secas do estado, quando descobriu a ligação do fenômeno com as explosões solares, que ocorrem com uma variação sazonal de 9 a 11 anos. Um quadro com o gráfico, inclusive, encontra-se no escritório de Capelo. Segundo o arquiteto, o inglês ainda era dono da biblioteca mais importante do Brasil do ponto de vista de documentação do período colonial.

Mister Hull


Ceará nos trilhos


Os trens estabelecem os caminhos do progresso cearense, provocam mudanças na sociedade e criam uma nova paisagem. Em “Estradas de Ferro no Ceará”, Francisco de Assis Lima e José Hamilton Pereira remexem o baú do transporte ferroviário no Estado, mergulham na memória, e revelam uma história feita de desafios, sonhos, construções ousadas e prédios que o tempo se encarregaria de fornecer valor histórico.

A primeira concessão para a construção de estradas de ferro no Ceará deu-se com um decreto de 1857, em um empreendimento que deveria construir e explorar uma via férrea a qual, partindo de Camocim e imediações de Granja, seguiria para o Ipu, passando por Sobral. Um projeto arquivado. Outro marco da história ferroviária cearense data de 1968, quando foi apresentado o projeto de uma linha ferroviária ligando Fortaleza à vila de Pacatuba, com um ramal para a cidade de Maranguape. Outro projeto que não saiu do papel.

Só dois anos depois, nasceria o projeto da primeira estrada de ferro construída no Ceará, a Via Férrea de Baturité. E, em 13 de março de 1873, chegavam a Fortaleza as primeiras locomotivas, desembarcadas no trapiche do Poço das Dragas (antigo porto). “O prédio da estação ainda estava em obras quando recebeu as máquinas à vapor que, sendo arrastadas por tração animal com a afixação de trilhos portáteis, foram transformadas num show de apresentação, ao desfilarem pela Rua da Ponte (Alberto Nepomuceno) e Travessa das Flores (Castro e Silva) até a Praça da Estação, explicam os autores.

Um novo “espetáculo” aconteceu cinco meses depois, quando a locomotiva “A Fortaleza” rodou cinco vezes - desta vez com os próprios motores - da Estação Central até a parada “Chico Manoel”, no Cruzamento das Trincheiras, atual Liberato Barroso. O primeiro trecho da ferrovia, ligando o Centro ao Distrito de Arronches (Parangaba), ficou pronto em setembro de 1873, quando, com restrições, uma locomotiva e alguns vagões chegaram, pela primeira vez, a Parangaba.

Em seguida, foram inauguradas as estações de Mondubim, Maranguape e Maracanaú (1875) e Monguba e Pacatuba (1876). O governo imperial encampou a ferrovia em 1878 e estabeleceu algumas mudanças no projeto original, além de ordenar a construção de uma nova estrada ligando o porto de Camocim até Sobral e o início dos estudos para a construção da nova estação central, que seria inaugurada em 1880.Registros fotográficos

A obra traz registros fotográficos históricos de estradas sendo construídas, das festas de inauguração no Ceará, das pontes e estações mais importantes no caminho dos trens. Algumas fotos ganham mais valor por retratarem estações que foram demolidas com o tempo, como a de Maracanaú, e de paisagens de um Ceará que não existe mais. Mas a maioria das fotos é de construções que resistem ao tempo. São registros das pontes sobre os rios Acarape, Aracoiaba, Quixeramobim, Putiú, Jaguaribe e de belas estações, como as de Camocim (1913), Missão Velha (1926).


Crédito: Diário do Nordeste e Ofipro 

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