Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Mercado da Aerolândia
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A arquitetura do ferro em Fortaleza



A segunda metade do século XIX e início do século XX foram de grande impacto na vida da cidade, pois diversos equipamentos foram instalados e mudanças importantes ocorreram:

Criação das linhas de navio a vapor de Fortaleza para o Rio de Janeiro e Europa (1866); o surgimento do sistema de canalização pública (1867); a criação das linhas de bondes (1880); o telégrafo submarino que ligava a cidade ao sul do país e a Europa (1882), o telefone (1883) e a construção do Mercado da Carne (1897), importado da França. Também tivemos acontecimentos importantes como o Plano da Cidade de Fortaleza e Subúrbios de Adolfo Herbster (1875) complementado em 1888, bem como a aprovação do Código de Postura (1893) deram um novo impulso à capital com relação ao seu traçado e ordenamento. A construção da 
Igreja do Pequeno Grande (1903) e a instalação do Teatro José de Alencar (1910).


Esse conjunto de acontecimentos representavam evidências que o processo civilizador capitalista se implantava no Ceará e na Capital.

De acordo com a historiadora Cacilda Teixeira Costa, a partir do final do século XIX passou a existir um consenso mundial quanto ao repertório de edifícios públicos que as cidades deveriam ter para serem verdadeiramente “uma cidade”. Construídos na maior escala possível a cada cidade constavam basicamente de uma prefeitura ou palácio do governo, um fórum, uma bolsa de valores, uma ópera ou um grande teatro, um museu ou uma galeria de arte, uma ou mais estações ferroviárias, mercados, uma alfândega (caso se tratasse de um porto) e, se fosse capital do país, uma câmara e um senado, e um ou mais ministérios. Todas as cidades deveriam ter ao menos um parque público, na maior dimensão possível, e quando houvesse condições para isso, um jardim zoológico. Além disso, os novos costumes exigiam lojas, banhos públicos, restaurantes, cafés e salões de chá, instalações sanitárias, artefatos de iluminação.


As obras arquitetônicas dos engenheiros do século XIX baseavam-se amplamente no emprego do ferro. A história do ferro como material de utilidade mais que meramente auxiliar na arquitetura inicia-se durante a Revolução Industrial, depois de 1750, ao se descobrir uma maneira de produzi-lo industrialmente. Logo se fizeram tentativas de substituir a madeira ou a pedra pelo ferro. As vantagens do ferro e também do vidro eram evidentes para mercados cobertos e estações ferroviárias, dois tipos de construção trazidos para primeiro plano pelo extraordinário aumento da população urbana nos princípios do século XIX e pela crescente troca de materiais e de produtos entre as fábricas e as cidades.

Ainda segundo a historiadora, nesse entendimento, no período compreendido entre a segunda metade do século XIX e início do século XX, houve no Brasil uma grande importação de edifícios e complementos de ferro, pré-fabricados nas indústrias europeias, empregados para os mais variados fins, desde teatros, mercados, estações ferroviárias e quiosques, até fontes, postes de iluminação e todo tipo de acessórios de construção, cuja procedência variava entre Grã-Bretanha, França, Bélgica e Alemanha.

Através do porto de Fortaleza se dava a exportação de matérias-primas e a importação de produtos industrializados do continente europeu. Com a inauguração da Estação Central de Fortaleza, em 1880, surgia também pela primeira vez uma estrutura de ferro pré-fabricada¹ em uma edificação na cidade. Contudo, Fortaleza passou por um período de pouco investimento em sua infraestrutura, um pouco antes, durante a grande seca (1877-1879); e logo após, em 1880, retoma os investimentos no seu aformoseamento e novas construções urbanas.

A cidade assistiu a implantação de edificações inteiramente pré-fabricadas em ferro, importadas da Europa, num momento, talvez único, em que edificações completas se tornaram produtos industrializados, vendidos através de catálogos, como mercadorias. Três edificações, o Mercado da Carne² (1897), a Igreja do Pequeno Grande (1903) e o Teatro José de Alencar (1910), ainda existentes na cidade de Fortaleza, são representantes da arquitetura do ferro.

Arquivo Nirez

Página do Catálogo Guillot Pelletier com exemplo de mercado de ferro.
Fonte: www.delcampe.net

Conforme o historiador Sebastião Rogério Ponte, um grande estudioso da historiografia cearense, desde 1840, Fortaleza passou a deter a exclusividade do movimento exportador-importador, sendo assim o principal entreposto comercial da região. Diante dessa expansão econômica e urbana da cidade, os poderes públicos, as elites enriquecidas e os setores intelectuais realizaram um significativo conjunto de reformas urbanas capaz de alinhar a cidade aos códigos de civilização, usando como referência os padrões materiais e estéticos dos grandes centros urbanos europeus.

Estrutura de ferro da Igreja do Pequeno Grande.
Acervo de Maria Claudia Vidal Lima Silva.

Estrutura de ferro da Igreja do Pequeno Grande.
Acervo de Maria Claudia Vidal Lima Silva.

Sobretudo através de estratégicas medidas embelezadoras, saneadoras e higienistas para ordenar seu espaço e disciplinar sua população. A “civilização” enfim chegara a Fortaleza.
Mas não bastaria apenas dotar a cidade de equipamentos e serviços modernos: era necessário “civilizar e “domesticar” a população, acima de tudo os setores populares, “cujos hábitos e costumes eram tidos como rudes e selvagens pelos agentes daquele processo civilizador”.

No Brasil, dentre os edifícios pré-fabricados em ferro importados, nenhum tipo foi tão útil e tão disseminado quanto os mercados públicos. No período compreendido entre a segunda metade do século XIX e início do século XX, houve no Brasil uma grande importação de complementos e edifícios de ferro pré-fabricados, produzidos nas indústrias europeias, empregados para os mais variados fins, desde teatros, mercados, estações ferroviárias e quiosques, até fontes, postes de iluminação e todo tipo de acessórios de construção, cuja procedência variava entre Grã-Bretanha, França, Bélgica e Alemanha. Exemplares semelhantes ocorreram na mesma época, também em várias outras partes do mundo, como: Argentina, Peru, Chile, Uruguai, Paraguai, México, Vietnã, Índia, Marrocos, Austrália, África do Sul, Caribe, entre outros.

Como nessa época a siderurgia brasileira ainda não era capaz de tal produção em ferro, as construções foram importados para resolver demandas relativas ao crescimento, aformoseamento das cidades e muitas vezes eram entendidas como símbolo de progresso. Ao importar os produtor europeus, o Brasil recebia objetos “modernos”, frutos de uma tecnologia de ponta na época, sem que o país tivesse vivido o processo de industrialização e modernização.

Ilustração do Teatro José de Alencar no Suplemento especial Walter MacFarlane
Arquivo do IPHAN-CE.

Além das mudanças sócio-econômicas, as transformações tecnológicas ocorridas durante a segunda metade do século XIX provocaram também, modificações nos modos de habitar e construir. Com a instalação de ferrovias e linhas de navegação, novas condições de transporte no país, vieram permitir o surgimento desse novo fenômeno, edifícios importados e produzidos pela indústria.

[...] Fabricados nos países europeus, vinham desmontados, em partes, nos porões dos navios. A importação era completa, pois compreendiam de estruturas e vedações até coberturas, escadas e peças de acabamento, que eram aqui montadas, conforme as instruções e desenhos que as acompanhavam. [...] As peças, numeradas, facilitavam a montagem, tornando-a mais rápida e dispensavam em parte a mão-de-obra especializada no local (REIS FILHO, 1983: 156).

A importação de edifícios pré-fabricados de ferro não se deu, uniformemente pelo território nacional, como também, não se localizou especificamente em uma cidade ou região e nem tão pouco em grandes proporções. Essencialmente, esse tipo de edificação ocorreu em regiões beneficiadas pelo rápido crescimento econômico, subordinado à exportação de produtos agrícolas, tais como açúcar, algodão, café e borracha. Essas edificações metálicas ocorreram principalmente nos atuais estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Pará e Amazonas, mais especificamente em suas capitais, respectivamente, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Belém e Manaus. Nessas cidades e regiões aconteceu um intenso crescimento econômico na época. Porém, algumas dessas regiões tiveram um progresso econômico tardio, mas de intenso vigor, principalmente a partir do início do século XIX.

As fundições começaram a editar catálogos a partir do final da década de 1830, tanto na Grã-Bretanha, quanto no continente. Mas foi entre 1840 e 1870, o período de maior esplendor dessas publicações, em que as empresas de fundição ofereciam uma extraordinária série de produtos de ferro fundido, reunidos em catálogos ou álbuns comerciais com centenas de páginas ilustradas.
Os catálogos constituíam uma grande despesa para as fundições, tanto pelo custo de produção quanto pela necessidade de aumentar o número de modelos, que diversas vezes saiam de moda antes de serem reproduzidos o suficiente para se pagarem. Esses modelos ou protótipos exigiam mão de obra especializada, sobretudo dos moldadores, o que os encarecia demasiadamente.

Páginas de um dos Catálogos:





Trazia, ainda nos seus exemplos, os desenhos das vistas exterior e interior da platéia do Teatro José de Alencar, inaugurado em Fortaleza em 1910, como também algumas obras arquitetônicas completas escolhidas entre muitas apresentadas neste rico suplemento, desde mercados, casas, quiosques para venda de refrescos, coretos, jardins de inverno, fontes públicas, fachadas de edificações; além de equipamentos e peças de ferro em geral, como escadas, portões, grades, guarda-corpos, marquises, pias, banheiras, canos e equipamentos de esgotos.

Dificilmente poderia se imaginar como seriam as fachadas dos sobrados de cidades brasileiras sem as varandas de ferro fundido que as vestiam. As peças de ferro chegavam por mar, por trem ou eram transportadas por terra através de distâncias enormes.




¹ Cobertas das plataformas internas da Estação Central, construída segundo projeto do engenheiro austríaco Henrique Foglare.

² O local original onde foi montada a edificação, já não mais o possui. Atualmente encontra-se separado em dois Mercados independentes, um fica na Aldeota, denominado Mercado dos Pinhões, e o outro, o Mercado da Aerolândia, em bairro de mesmo nome. A estrutura de cobertura da rua, que ligava os dois pavilhões se perdeu depois da separação, no início da década de 1930.

Continua...


Crédito: Uma Revolução no tempo das trocas: Arquitetura do ferro na cidade de Fortaleza (1860-1910) - Maria Claudia Vidal Lima Silva
Fotos: Arquivo Nirez, Arquivo do Iphan, Arquivo do site e Acervo de Maria Cláudia.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Mercado Público - Recordações



É impossível desassociar o movimento de mercado ou feiras livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias aos que estão defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante. O negócio é vender.

Praça Carolina em foto de 1893 do fotógrafo inglês Sir Benjamin Stone

O Mercado em 1925

O primeiro mercado livre de que há registro no centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.
O segundo, com planta do Engenheiro português Silva Paulet teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o Mercado Central na rua Cond'Eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.

Acervo Caroline Gurgel

O Mercado em 1913. Arquivo Nilson Cruz

Pois bem, a Fortaleza Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês! 


O Mercado de ferro na Praça São Sebastião em 1955. Acervo Clóvis Acário Maciel

Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Pinhões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.

Ao lado: Vendedor de potes de barro no Mercado de Fortaleza em 1915. Arquivo Nilson Cruz

No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu pai, fiscal Valdemar de Lima à época a serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatório de irregularidades, mas parece que a resistência do povão neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no popular Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “Sobral” e “Iguatú”.
Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos do bairro São Gerardo. Outros hoje são integrados ao Terminal de Antonio Bezerra.

O Mercado da Carne em 1913. Arquivo Nilson Cruz

A construção do novo Mercado São Sebastião resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a tradicional Padre Mororó. É só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio - Sesc...



Radialista

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aerolândia


A pracinha da Aerolândia é o ponto de encontro dos moradores do bairro. A BR-116 é uma das grandes referências do bairro, assim como a avenida Raul Barbosa.
Fácil de encontrar. Difícil em Fortaleza quem não saiba onde fica a Aerolândia. O nome é uma referência à proximidade com a base áerea. Esta é a terra do ar. Surgiu exatamente por conta da construção da base.


Os primeiros moradores foram pedreiros, carpinteiros e serventes que foram trabalhar na obra, na década de 1930. Nesta época, a região era chamada de Campo de Aviação. Até hoje o bairro tem muitos moradores que trabalharam na base. O engenheiro, Hélvecio Veiga, foi sargento. “As pessoas começaram a se instalar aqui em meados de 1936. Como a base aérea era aqui, criaram o nome Aerolândia”, conta ele.


Exatamente por esse motivo, quase todas as ruas do bairro tem algum tipo de patente. “Isso é em virtude de militares da Força Aérea Brasileira que estiveram aqui. Muitos participaram inclusive da Segunda Guerra Mundial”, conta o militar.

O bairro conta com várias vias de acesso, sendo a mais importante delas a rodovia federal BR-116. É considerado por muitos moradores bem localizado. 

Pelas ruas do bairro, casas simples e moradores que mantem velhos hábitos. Como o de comprar água da carroça que passa todos os dias pela manhã. Mesmo depois que chegou a água encanada na década de 1960.


Há 50 anos, a Aerolândia reunia o comércio da região. Era local de compras para os que moravam do outro lado do rio, no Luciano Cavalcante e nas Salinas. E por ser vizinho ao rio Cocó, o bairro sempre sofreu com inundações. Algumas continuam na memória dos mais antigos. A dona-de-casa, Angelita dos Santos fala de uma história que aconteceu em 1962. “Houve uma enchente em que um galo ficou em cima de uma casa. Ele cantava, cantava, para ver se conseguia sair de lá”, lembra Angelita.


Angelita é muito amiga de Maria Luiza Oliveira, que há 40 anos vive na Aerolandia. Ela chegou quando o bairro foi loteado e ocupado. “Não tinha rua. Não. Eram casas aqui e acolá. Era cheio de buraco”, conta ela.


O maior desenvolvimento da Aerolandia foi na década de 80, com a BR-116 e a construção da Raul Barbosa à margem do rio Cocó.


"Como toda localidade, a Aerolândia é cheia de histórias pitorescas, engraçadas e humanas. Tem seus personagens próprios que animaram e ainda animam o dia-a-dia da região, engrandecendo-a sobremaneira", enfatiza Francisco Caminha.


Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração foi construída em 1954. Tornou-se paróquia 16 anos depois, em 1970

Foi na década de 1930 que iniciaram as obras de construção da Base Aérea de Fortaleza, quando pedreiros, carpinteiros e serventes da obra ocuparam a região, que era chamada de Campo de Aviação.


Em seguida, muitos militares da Força Aérea Brasileira chegaram ao local pela proximidade com a Base Área. Não é por acaso que a maioria das ruas do bairro carrega consigo uma homenagem aos militares que moraram no local, como as ruas Capitão Aragão, Tenente Maia e Capitão Vasconcelos.


"Quando meu avô chegou aqui, tudo era um matagal", contou o funcionário público Marcel Régis Moreira da Costa. Seu avô, o militar Plácido Moreira da Costa, tornou-se morador da Aerolândia na década de 1940. "Ele já faleceu, mas minha avó mora até hoje na mesma casa, na Rua Capitão Clóvis Maia. Vivi os meus 28 anos aqui, casei-me e continuo morando aqui. Gosto muito", afirmou ele.


Mas os avanços da Cidade trouxeram para o bairro uma mancha em sua história: a violência. Limitado, em parte, pelo Canal do Lagamar e pelo cruzamento das avenidas Raul Barbosa e Murillo Borges, o bairro vive momentos de insegurança. Mas, segundo Marcel, nos últimos anos, as coisas melhoraram um pouco. "A chegada do Ronda do Quarteirão amenizou a violência e deu uma sensação de segurança maior nas ruas".


Até hoje, o bairro ainda guarda alguns costumes do passado. Apesar da violência, muitos ainda têm o hábito de conversar nas calçadas até mais tarde com os vizinhos. Outra prática antiga dos moradores é a de comprar água de poço da carroça, que passa pelas ruas todos os dias pela manhã.


Lazer


A pracinha do bairro e a quadra de esportes, localizada ao lado do Mercado da Aerolândia, ainda são os principais locais de lazer dos moradores. A antiga moradora Eunice Uchoa, 69 anos, frequenta a praça até três vezes por semana para aulas de ginástica dadas pelo professor Maninho, pelo programa Academia na Comunidade, da Prefeitura. "É direcionado para os idosos, mas vai gente de todas as idades", disse Eunice.


O pátio da Igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração, inaugurada em 1954, é ponto de encontro de jovens após as missas. Seja para assistir às celebrações ou não, o templo, localizado na Rua Capitão Uruguai, é muito frequentado pelos moradores. Foi lá que Marcondes Tenório conheceu a esposa, uns 20 anos atrás, quando costumava ir até a calçada da igreja para saber onde seria a "tertúlia" do fim de semana. "Tinha festa quase todos os sábados e domingos na casa de algum morador. Hoje, isso não existe mais. Mas eu conheci minha esposa na igreja mesmo. Nós nos casamos lá depois", acrescentou.


Há dois meses, um novo espaço de lazer foi inaugurado na região. Mesmo que já não seja dentro dos limites do bairro, o espaço construído com a urbanização do rio Cocó, na Avenida Raul Barbosa, é muito frequentado pelos moradores da Aerolândia. Basta atravessar a avenida para aproveitar a área, que conta com pista de skate, ilhas de descanso para coopistas, bancos, campo de futebol e playground. "Muitos jovens estão frequentando o lugar. De manhã, já tem muita gente fazendo caminhada. Tenho a intenção de começar a caminhar lá também", disse Marcondes.


Localização


Tanto para Marcel, que mora há 28 anos na Aerolândia, como para Marcondes, que mora lá há 30, o que há de melhor no bairro é a localização. "A Aerolândia é um bairro muito bem localizado. É só chegar na BR-116 que dá para ir a qualquer ponto da cidade de ônibus", contou Marcel. Segundo informações dos itinerários das linhas de ônibus de Fortaleza, disponíveis no site da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), 29 linhas passam pela BR-116. Além disso, uma passarela construída sobre a praça do bairro facilita a passagem dos pedestres.


Referência histórica


Construído na década de 1940 (Na Praça Paula Pessoa - São Sebastião), o Mercado da Aerolândia é coberto por uma estrutura de ferro fundido, importada da França, remanescente do Mercado da Carne. Esse antigo mercado, construído em 1896 na área central da Cidade, foi desmontado, e a estrutura de cobertura, considerada de extremo valor histórico para o Município, foi dividida e deu origem aos mercados da Aerolândia e dos Pinhões. Na época, os 50 boxes do Mercado da Aerolândia vendiam frutas, legumes e verduras, além de cortes de carne, peixes frescos e miudezas em geral. O local, que tinha seus boxes disputados pelos permissionários, possui apenas três boxes funcionando nos dias de hoje.


Importante: O Mercado de Ferro foi desmontado em 1937 sendo dividido em duas partes indo uma para a Praça Paula Pessoa (São Sebastião) e a outra metade para a Aldeota, na Praça Visconde de Pelotas (Pinhões).
A parte da Praça São Sebastião foi desmontada em 1968 e levada para a Aerolândia onde ainda se encontra.

A foto de aproximadamente 1942 a 1944 da Praça Paula Pessoa, é da época da inauguração do Mercado São Sebastião (A parte que depois foi para a Aerolândia). 

Estamos na Clarindo de Queiroz olhando na direção da Padre Ibiapina. o mercado São Sebastião, à época, feito de ferro, fazia pouco tempo que havia sido inaugurado e estava justamente à esquerdo por trás do fotógrafo.  Arquivo Nirez



Mercado tombado sofre com abandono


Com mais de 70 anos de existência, o Mercado da Aerolândia foi tombado como patrimônio histórico pela Prefeitura de Fortaleza em 2008. Mas, de lá para cá, o restauro necessário do local ainda não foi feito. Moradores ouvem falar de um projeto de transformá-lo num espaço cultural e de pequenos negócios, mas não há prazos e nada de concreto.

A foto mostra o mercadinho do bairro da Aerolândia, em 31/07/1970. Nesta data, este era o único mercado com todos os boxes ocupados. Seus concorrentes, as feiras livres e os mercantis ficavam distantes. Arquivo O Povo


Apesar de ser um prédio tombado, a situação real do mercado é bem vergonhosa. O telhado do prédio já nem existe mais em alguns pontos. Os banheiros funcionam precariamente, e a manutenção da estrutura dos boxes, quase todos fechados, é praticamente inexistente.


O local não tem vigia, embora esteja localizado numa área considerada perigosa. Apenas três permissionários "teimam" em trabalhar no local, entre eles, a vendedora Alda Ferreira Moura, de 84 anos. Ela lembra que lá se vendia de tudo, numa época em que não existiam as grandes redes de supermercado e o local era o destino principal dos moradores quando queriam comprar frutas, verduras, carnes e peixes.


Desestímulo


"Era difícil conseguir um boxe aqui antigamente. Tinha lista de espera. A uma hora dessas, há 25 anos, tinha muita gente por aqui comprando. Agora, está assim. Às vezes, eu me pergunto por que ainda venho trabalhar aqui", afirmou. Apesar de desestimulada, Alda ainda tem esperanças de ver o mercado restaurado e com mais movimento. Ainda restam alguns clientes da época em que instalou a sua pequena mercearia no local. "Continuo não só por necessidade, porque o lucro é muito pequeno. É por gostar de trabalhar mesmo", disse Alda.


O funcionário público Marcel Régis Moreira da Costa também era frequentador do mercado, quando era pequeno. "É muito triste ver o mercado assim. Eu vinha muito aqui quando era moleque. Existe um projeto de transformá-lo num centro cultural, mas ele nunca saiu do papel". Segundo ele, uma feira bem movimentada é realizada todas as quintas-feiras, ao redor do antigo mercado. "A feira surgiu para suprir a ausência dele (do mercado)", explicou.


Segundo a Secretaria Executiva Regional (SER) VI, um projeto para a realização de obras de restauro em toda a estrutura do mercado foi desenvolvido. Após o levantamento dos custos, a Regional deve buscar os recursos necessários para a execução. Pela assessoria de imprensa, a SER VI afirmou, ainda, que o Distrito de Meio Ambiente realiza serviços de limpeza nas áreas internas e externas do mercado diariamente.



Estrutura de ferro do Mercado da Aerolândia e telhado estão comprometidos 


O Mercado da Aerolândia, cuja construção remonta ao fim do século XIX, é um retrato vivo do descaso das autoridades para com o patrimônio histórico e arquitetônico da Cidade. Abandonado, o local parece uma sucata, já que sua estrutura é de ferro, além de ter sofrido descaracterização na sua concepção original, devido à interferência dos permissionários. Apesar de questionado, por não garantir preservação e conservação de um bem, a Prefeitura Municipal de Fortaleza lança mão ao mecanismo do tombamento.


Mercado enfrenta descaracterização

Tombar é diferente de preservar. O tombamento é um ato que basta uma assinatura no papel, não importando a situação em que se encontre o imóvel, como é o caso do Mercado da Aerolândia, cujas características originais já foram alteradas. A Prefeitura prevê um projeto de restauração, que significa, muitas vezes, recompor camadas que não existem mais, sendo reinventadas.

Algumas partes do telhado foram levadas pelo vento, assim como faltam pedaços de ferro na sua estrutura. “Mandei emplacar (forrar com alvenaria) o meu box”, acrescenta Francisco de Assis Barbosa, confirmando a intervenção feita no imóvel. Faltam partes do piso original. 


Crédito: CETV, Diário do Nordeste, Cronologia Ilustrada de Fortaleza do Nirez e pesquisas na internet

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