Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Perseverança e Porvir
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 25 de março de 2015

25 de Março de 1884 - 131 Anos da Abolição dos Escravos no Ceará


É preciso lembrar para jamais esquecer!!!

Fatos históricos que culminaram para a libertação dos escravos na Terra da Luz em 25 de março de 1884:

Tempo28/04/1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A igreja foi reformada em 1753.

Tempo1860 - Fortaleza tinha neste ano 35.373 habitantes, sendo 17.062 homens e 15.450 mulheres livres e 1.767 homens escravos e 1.094 mulheres escravas, existindo apenas 71 eleitores. 

Tempo 28/09/1879 - No 8º aniversário da Lei do Ventre Livre, funda-se, em Fortaleza, na casa nº 100 da Rua Formosa, a Sociedade Perseverança e Porvir, de objetivos comerciais, mas que também visava à emancipação dos escravos.
Mantinha fundo para alforrias de escravos e alimentava o objetivo de fundar outra entidade, que tomasse para si a empresa de arrebentar o ferro das algemas.
Era composta de 10 membros: José Correia do Amaral (José do Amaral) (presidente), José Teodorico de Castro (vice-presidente), Alfredo da Rocha Salgado (Alfredo Salgado) (secretário), Joaquim José de Oliveira Filho (tesoureiro), Antônio Dias Martins Júnior (Antônio Martins), Antônio Cruz Saldanha, José Barros da Silva, Francisco Florêncio de Araújo, Antônio Soares Teixeira Júnior e Manuel Albano Filho.
Foi assim que nasceu outra sociedade, a Cearense Libertadora.




Tempo 08/12/1880 - Instala-se a Sociedade Cearense Libertadora, para a libertação dos escravos, promovida sob os auspícios da associação comercial "Perseverança e Porvir", iniciativa de Antônio da Cruz Saldanha, que teve como primeira diretoria provisória: João Cordeiro "Juarez" (presidente), José Correia do Amaral (José do Amaral) "César" (vice-presidente), Frederico Augusto Borges "Spartacus" (1º secretário), Antônio Bezerra de Sousa Menezes "Risakoff" (2º Secretário), Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal e capitão Justino Francisco Xavier (advogados), João Crisóstomo da Silva Jatahy (tesoureiro), João Martins "Pery", José Joaquim Teles Marrocos (José Marrocos) "Ó Conell", José Caetano da Costa, João Carlos da Silva Jatahy, João Batista Perdigão de Oliveira e Eugênio Marçal.
Por tratar-se de um movimento muito perigoso, cada um tinha seu pseudônimo, que pusemos logo após o nome.
Durante o tempo de duração das sociedades vários outros vultos ingressaram, chegando a 225 associados só na Cearense Libertadora.
A fundação deu-se na casa Rocha Negra, residência da família Marçal, na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) hoje nº 1201.


Tempo 30/08/1881 - O movimento abolicionista fecha o porto de Fortaleza ao embarque de escravos, tendo à frente o jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, também conhecido por Chico da Matilde

Tempo 01/01/1883 - Com a presença de José do Patrocínio, que aqui chegara no dia 1º de dezembro do ano anterior, a Vila do Acarape (Redenção) concede plena liberdade a todos os seus escravos, antecipando-se a todas as cidades e vilas do País; e a 24 de maio, grandiosas festas pela libertação dos escravos na Capital da Província. Em todo o Estado, a libertação se daria no ano seguinte.


Tempo 25/03/1884 - O presidente da Província, Manuel Sátiro de Oliveira Dias (Sátiro Dias), decreta a Abolição dos escravos, em todo o território do Ceará. Em Fortaleza foram quatro dias de festas, mas em alguns lugares houve resistência e demorou ainda a libertação geral. 

Tempo 13/05/1888 - Grandes festas populares, em Fortaleza, motivadas pela sanção da Lei Áurea, que libertou os escravos em todo o território nacional.



Como o Ceará libertou seus 30 mil escravos

"Ingleses, franceses, espanhóis, holandeses e portugueses, numa ponta e reinos africanos, noutra, ganharam vendendo e comprando escravos. Era um importante item do comércio internacional na época. Comércio tão sujo como a corrupção dos novos tempos, no Brasil, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão e no Nordestão.

Barão de Studart e Rodolfo Teófilo concordaram que em 25.03.1883, o Ceará contava apenas com 30 mil escravos numa população de 721 mil habitantes. O Censo de 1872 contou 31.913 e o de 1881 24.463 cativos e 7.436 livres. Não eram muitos, pois o Ceará não tinha cana de açúcar, minas e gado que exigissem mão de obra intensiva.


O “Libertador” em 01.01.1884, localizou os 21.516 escravos no Ceará: 

Fortaleza/Messejana, 1.273; Aracati/ União/Jaguaruana, 1.159; Granja/Palma/Coreaú, 1.250; Acaraú, 440; Aquiraz, 449; Acarape/Redenção, 115; Assaré, 512; Barbalha/Missão Velha, 512; Baturité, 789; Canindé/ Pentecoste, 516; Cascavel, 807; Crato, 835; Icó, 731; Ipu, 736; Imperatriz/Itapipoca, 882; Jardim 446; Jaguaribe/ Cachoeira/Solonópole, 608; Limoeiro do Norte, 608; Lavras da Mangabeira, 768; Maranguape/Soure/Caucaia, 847; Maria Pereira/Mombaça, 438; Milagres, 586; Morada Nova, 367; Pedra Branca, 157; Pacatuba, 298; Pereiro, 465; Quixeramobim, 1.924; Quixadá, 298; São Francisco/Itapagé, 427; São Bernardo/Russas, 1.972; Santa Quitéria, 820; Santana do Acaraú, 941; São Mateus/Jucás. 499; Saboeiro/ Brejo Seco/Brejo Santo, 1.130; São João do Príncipe/Tauá/ Arneiroz, 1.956; São Benedito/Ibiapina, 135; Telha/Iguatu, 251; Trairi, 249; Tamboril, 614; Viçosa do Ceará, 323 e Várzea Alegre, 153.



Como Acopiara era então Lages, distrito de Telha/Iguatu, não há precisão sobre quantos acolheu.

“No porto do Ceará não se embarca mais escravos”.

A frase é atribuída a Chico da Matilde, Francisco José do Nascimento, por José do Patrocínio mais tarde batizado Dragão do Mar, jangadeiro de Aracati, prático-mor, prático da barra, convocado por Pedro Artur de Vasconcelos e José Napoleão para trancar o porto a partir de 30.08.1884, por sua liderança junto aos praieiros, não se embarcando e não se desembarcando. Nesta época, não havia atracadouro em Fortaleza. Os navios ficavam ao largo e o desembarque era complexo, através de jangadas e barcos a remo. Em 30.08.1881, Tentaram embarcar 210, mas Dragão do Mar com seus homens impediram. Conflito com os escravocratas, mas a polícia ficou do lado dos jangadeiros. Consequência: Dragão do Mar foi demitido das funções de prático-mor . Houve reações, protestos dos comerciantes, pressões junto ao Governo provincial e denuncias de abusos junto ao governo do Império. Mais tarde, em 1883, Dragão do Mar foi suspenso de suas funções de prático da barra, “resta-me agora fechar as minhas contas com os meus gratuitos e covardes inimigos”.


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Em 30.11.1882, José do Patrocínio, o “Marechal Negro”, líder abolicionista do Rio de Janeiro, desembarcou em Fortaleza, com Alípio Teixeira, seu colega da Gazeta da Tarde, tendo calorosa acolhida da Libertadora, o Centro Abolicionista e do Clube dos Libertos. Num encontro com Dragão do Mar, indagou: “então, o porto está mesmo bloqueado?” A resposta: “não há força neste mundo que o faça reabrir ao tráfico negreiro”. A presença de Patrocínio em Fortaleza teve impacto, com manifestações no Passeio Público, vitrine da pequena cidade. O “Libertador” repercutiu a visita e os abolicionistas marcaram para 1° de dezembro a libertação dos 32 escravos em Acarape/Redenção, iniciando a onda emancipacionista. Começaram a recolher dinheiro para comprar as alforrias. Uma delas , de um conto de réis (1:000$000), veio do Imperador Dom Pedro II para a Sociedade Cearense Libertadora , sacada do Banco do Brasil contra os srs. Pereira Carneiro & Cia, de Pernambuco,

Acarape/Redenção libertou e ficou como símbolo da emancipação, com a presença de José do Patrocínio que retornou ao Rio de Janeiro em 10.01.1883 e que cunhou a expressão que o Ceará era a “Terra da Luz”, que nos acompanha há mais de um século, exprimindo o que vira no Ceará. Daí pra frente, cada município foi repetindo o gesto: Pacatuba, Arrarial/Uruburetama, São Francisco/Itapagé, Imperatriz/ Itapipoca, Canoa/Aracoiaba, Baturité, Icó, Tauá. Maranguape, Aquiraz, Sobral, Trairi, Santa Quitéria, Aracati, Cachoeira, Lavras, Tamboril, Santana, Independência, Camocim, Cascavel, Morada Nova, Acaraú, São Bernardo de Russas , Granja.

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O movimento ganhou impulso. Joaquim Nabuco , de Londres, ao tomar conhecimento do que aconteceria no Ceará em 25 de março de 1885 “Chega-me de diversas partes a noticia de que no dia 25 de março a província do Ceará ficará para sempre, livre da desonra e do opróbrio da escravidão. Não há em nosso passado desde a Independência uma data nacional igual à que a providencia do Ceará vai criar”. E criou. Coube ao presidente da Província , o baiano Sátiro de Oliveira Dias, com muita pompa, ênfase, púrpura da igreja, salvas, bandeiras, flores, trombetas e tiros, na Praça Castro Carreira, anunciar: “A Província do Ceará não possui mais escravos”. O grande ausente foi Dragão do Mar que embarcara para o Rio de Janeiro, em 14 de março, tendo sido recebido por Dom Pedro II. Em Paris, José do Patrocínio reuniu a imprensa francesa, anunciou o feito e leu um cartão de Vitor Hugo: “Uma Província do Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária”.

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Depois do Ceará, o Presidente da Província do Amazonas, o cearense Teodoro Barreto de Farias Souto, fez idêntica proclamação em 20 de junho. Mais tarde, Pará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

É bom que as gerações atuais, tão despolitizadas e anestesiadas pela política de baixo nível das elites brasileiras, tomem conhecimento dos feitos de seus antepassados."

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, 
com base em Djacir Menezes e Raimundo Girão.



Fontes/Créditos: Biblioteca Nacional, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Gildásio Sá, Blog Casa do Ceará e pesquisas na internet



terça-feira, 25 de março de 2014

A União trouxe a Liberdade - Ceará Terra da Luz


Jangadeiros usaram suas embarcações para lutar contra a escravidão no Ceará.


"Acompanhados de seus escravos, alguns negociantes aguardavam na Praia do Peixe – atual Iracema – a chegada das jangadas que iriam transportar quatorze cativos numa viagem até o Sul. Aparentemente, a cena era corriqueira, mas, naquela manhã de 27 de janeiro de 1881, todos foram surpreendidos pela atitude dos jangadeiros. Eles se recusaram a pôr os cativos em suas embarcações, num episódio que marcou para sempre a luta contra a escravidão no Ceará.

Desde o período colonial até os tempos do Império, o comércio interno de escravos, ou tráfico interprovincial, era uma constante no atual território brasileiro. Ele envolvia a transferência de cativos de uma região para outra, fosse por compra, troca, venda ou doação. Desde o século XVIII, o escravismo no Ceará foi, em grande parte, resultado desse tipo de negócio. Os escravos, em sua maioria, eram oriundos de províncias vizinhas, como Pernambuco, Maranhão e Bahia, e também vinham da África pelos portos de São Luís e Recife. Mas foi a partir de 1850, com a proibição do tráfico de cativos procedentes do continente africano, que o tráfico interprovincial passou a se intensificar e a ganhar relevância em todo o território do Império brasileiro.

Enquanto traficantes ganhavam cada vez mais dinheiro com esse comércio, começou a ser organizado um movimento abolicionista local, que teve mais força depois que três anos de seca (1877-1879) que se abateram sobre Fortaleza. A estiagem prolongada vitimou principalmente os escravos, que sofreram com a fome e com diversas doenças, e acabaram servindo de moeda corrente em tempos de penúria, transformando-se na salvação de senhores arruinados. Em 1879, um grupo de jovens que não suportava mais ver as humilhações impostas aos cativos que chegavam com as caravanas vindas do interior, resolveu fazer alguma coisa. Influenciados pelas ideias liberais que estavam em voga, eles organizaram uma associação destinada à compra das alforrias de escravas, já que os homens eram a principal mercadoria do comércio interno. A entidade abolicionista criada por esses jovens ficou conhecida como Sociedade Libertadora Perseverança e Porvir.


Segundo informações do livro de atas da associação, na noite de 26 de janeiro de 1881, o abolicionista José do Amaral sugeriu que se tomasse alguma medida para impedir, à força, que continuasse o tráfico de escravos que saía de Fortaleza. O mais curioso nessa história é que estava presente ao encontro um mulato chamado Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, prático-mor do porto, que posteriormente receberia a alcunha de Dragão do Mar. Ele liderava o grupo dos jangadeiros ao lado do negro liberto Antônio Napoleão, que chegara a juntar vintém por vintém para comprar sua alforria, a da família e a dos amigos, gesto que foi determinante para torná-lo muito respeitado entre a classe.

O fato é que ninguém podia imaginar que homens simples afrodescendentes seriam capazes de desafiar uma organização extremamente poderosa. Mas a proposta dos abolicionistas só poderia dar certo com a participação dos jangadeiros. E foi o que ocorreu. Sem eles, que eram os últimos a ter contato com os escravos embarcados, o movimento não teria sucesso.

Napoleão, Nascimento e seus colegas tinham motivos de sobra para aderir a essa causa. Muitos escravos devem ter pedido a eles que não fossem embarcados e relatado terríveis histórias de sofrimento por terem sido separados dos seus. Assistir a esse teatro de horrores provavelmente fez crescer entre os jangadeiros a consciência de que aquela situação precisava mudar. Mas para que pudessem se organizar a ponto de paralisar o tráfico, teve que surgir entre eles um consenso sobre o que representava aquele ato.


Foi na Perseverança e Porvir que a classe encontrou o apoio necessário para acabar com o  transporte de cativos. E reuniu forças para realizar um feito até então inusitado. Tanto que, naquela manhã de 27 de janeiro, os encarregados do embarque de escravos foram surpreendidos com a recusa dos jangadeiros em transportá-los. Diante da situação, conforme foi noticiado no jornal O Libertador, “os negreiros recorreram a todos os expedientes: oferecimento, promessas, suborno, ameaças; tudo, tudo foi baldado”.

A notícia dessa ação dos jangadeiros se espalhou, e as pessoas começaram a se dirigir à praia para ver de perto uma cena inédita. Afinal, um grupo de pescadores pobres, liderados por negros, pardos e mulatos, enfrentava os representantes de uma elite de poderosos comerciantes e traficantes. Segundo O Libertador, “mais de 1,500 homens de todas as classes e condicções” se encontravam ali, acompanhando a resistência dos jangadeiros. Em solidariedade ao protesto, muitos gritavam: “Nos portos do Ceará não se embarca mais escravos!”. O movimento, que se repetiu algumas vezes nos dias seguintes, até 31 de janeiro, ganhava sua primeira batalha.


Meses depois, em 30 de agosto de 1881, haveria uma nova tentativa de embarcar escravos, desta vez para o Norte. Apesar de o presidente da província e o chefe de polícia recém-nomeados apoiarem francamente os negreiros, os jangadeiros obtiveram outra vitória, e o porto de Fortaleza acabou sendo fechado definitivamente para o comércio interno de escravos. Tudo isso com o apoio do tenente-coronel Francisco de Lima e Silva, parente do duque de Caxias, que estava à frente do 15º Batalhão de Infantaria.

Mesmo com todas as mudanças em curso na sociedade cearense, os negreiros ainda eram capazes de dar algumas demonstrações de força. Os abolicionistas podiam ter o suporte do comandante do 15º Batalhão de Infantaria, mas os comerciantes de escravos ainda conseguiam se valer de todos os meios para manter seus lucros. Segundo o Livro de Actas da Sociedade Perseverança e Porvir, chegou a ser ordenado que uma flotilha da Marinha de Guerra fosse enviada para proteger o tráfico e até bombardear a cidade dos revoltosos. Mas, com o tempo, esse esforço acabaria provando ter sido em vão.

Os abolicionistas teriam muito a perder, pois os negreiros fariam de tudo para não deixar nenhum de seus adversários impune, valendo-se de perseguições, medidas repressivas e punições. Segundo o Livro de Actas, Lima e Silva foi removido do seu cargo, assim como o promotor público da capital, Frederico A. Borges, e de dois oficiais da guarda urbana.Além disso, o Dragão do Mar foi destituído de seu posto de prático-mor do porto.


Os acontecimentos no Ceará acompanharam mudanças na legislação a respeito da escravidão em outros cantos do Império. Nas principais províncias do Sudeste, começaram a ser adotadas leis que restringiam a entrada de escravos vindos do Norte, medidas que geraram um movimento com forte participação popular. Com o fechamento do porto de Fortaleza ao tráfico em 1881, a venda de cativos para outras províncias acabou sofrendo um duro e decisivo golpe, fortalecendo a luta abolicionista, que no dia 25 de março de 1884 acabou levando a Província do Ceará a proibir a escravidão. A luta para acabar com o tráfico interprovincial na região, com a fundamental ação dos jangadeiros, saiu vitoriosa, fazendo a “abolição” chegar ao Ceará alguns anos antes da Lei Áurea, de 1888."


José Hilário Ferreira Sobrinho 
(Professor da Faculdade Ateneu no Ceará 
e autor de Abolição no Ceará: 
um novo olhar(Imeph, 2009).

Bibliografia

AMARAL VIEIRA, Roberto Attila do. Um herói sem pedestal – a Abolição e a República no Ceará. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1958.

GONÇALVES, Adelaide; FUNES, Eurípedes. “Abolição – manifestação e herança. A Abolição da Escravatura no Ceará: uma abordagem crítica”. Cadernos do NUDOC nº 1. Fortaleza: Departamento de História/UFC, 1988.

MOREL, Edmar. Vendaval da liberdade: a luta do povo pela abolição. São Paulo: Global, 1988.


 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Perseverança e Porvir - Movimento Abolicionista na Província do Ceará



"O sentimento de ser a última
nação de escravos humilhava
nossa altivez e emulação de país novo".
Joaquim Nabuco

25 de Março de 1884: quatro anos antes da Lei Áurea, a Província do Ceará abolia a escravidão em seu território, sendo imitada, a 10 de Julho, pelo Amazonas. O país seguiria esse exemplo.


Na Província do Ceará a partir de 1850 as ideologias escravistas começaram a ser
contestadas por um maior números de pessoas, dentre elas alguns parlamentares e
abolicionistas. As idéias abolicionistas começam a florescer nos centros urbanos, difundidas
por indivíduos pertencentes a camada média da sociedade: pequenos e médios comerciantes,
advogados, funcionários públicos, professores, enfim, a elite letrada. A modernização ajudou ao desenvolvimento das idéias abolicionistas. Com o progresso dos meios de comunicação –
telégrafo, estradas de ferro, navios a vapor e periódicos ficou mais fácil trocar informações, estimulando a formação da opinião pública.


As idéias abolicionistas ecoaram em todo o Império. A província do Ceará foi a primeira a libertar seus escravos, através da lei provincial, 25 de março de 1884, promulgada por Sátiro Dias, presidente da província na época. Importante papel tiveram as sociedade libertadoras e os abolicionistas na libertação dessa província.

O processo emancipacionista no Ceará, inicia-se de fato, na Segunda metade do século XIX, com uma série de propostas e medidas de parlamentares que visavam o fim gradual da escravidão e sem conflitos. A primeira proposta de emancipação dos cativos na província do Ceará vem com o projeto do deputado provincial Pedro Pereira da Silva Guimarães, que tentou por três vezes consecutivas ver suas propostas aceitas na câmara mas não conseguiu; Posteriormente em 28 de dezembro de 1868, é sancionada a resolução n.º 1.254 pelo presidente da província, Diogo Velho de Cavalcante Albuquerque que autorizava o executivo a custear a alforria de cem escravos nascituros.
A resolução alcançou mais do que pretendia, chegando a alforriar, ao todo, 112 escravos. Segundo Raimundo Girão tal medida contribuiu para o envolvimento de sociedades e associações diversas no envolvimento da causa abolicionista; Surgindo em 25 de maio de 1870 a primeira sociedade libertadora na província do Ceará – a de Baturité e, posteriormente, em 25 de junho do mesmo ano, a de Sobral, denominada Sociedade Libertadora Sobralense. Ambas Compostas, na sua grande maioria, por indivíduos pertencentes aos setores médio e alto da sociedade Cearense . Em 1879 surge a Sociedade Perseverança e Porvir, fundada por 10 sócios, que tinham como principal objetivo “tratar de negócios econômicos e comercias em proveito de seus fundadores, propunha-se, também, a alforriar escravos... ". Essa sociedade foi a progenitora da Sociedade Cearense Libertadora ( S.C.L), fundada um ano depois.

A diretoria provisória da S.C.L foi indicada pelo presidente da Perseverança, José Correia do Amaral, juntamente com os demais sócios diretores. Dos dez indivíduos que compunham a diretoria da Perseverança e Porvir, apenas um se fez presente , enquanto sócio diretor da Libertadora Cearense, José Correia do Amaral, ocupando o cargo de Vice-presidente.

Os sócios diretores da Perseverança e Porvir como os demais das libertadoras citadas, possuíam “ ... prestígio na cidade. Eram numerosas as pessoas de destaque que compareciam as suas reuniões festivas de natureza extraordinária, geralmente nos seus aniversários de fundação. "

Arquivo de Carlos Alberto Salgado

Seus primeiros sócios fundadores e diretores, foram homens ilustres.
Presidente: José Correia do Amaral, cearense, filho de portugueses. O pai era dono de uma casa de ferragens, a primeira do ramo a se instalar em Fortaleza.
Vice-presidente: José Teodorico de Castro, também cearense e comerciante.
Tesoureiro: Joaquim José de Oliveira Filho, livreiro e sócio do pai na Livraria Oliveira.
Secretário: Alfredo Salgado, formado em comércio na Inglaterra, era também intérprete junto ao comércio, cabendo-lhe os negócios realizados nos idiomas inglês, francês e alemão.
Os diretores da Sociedade: Antônio Cruz, comerciante, dono de uma casa de negócios e Barros da Silva, dono de uma casa comercial chamada "Bolsa do Comércio", ambas localizadas em Fortaleza.

Os líderes da causa negra - Arquivo Carlos Alberto Salgado

A princípio a Sociedade não tinha sede própria. Realizava as reuniões em muitos lugares. Somente à partir de 1880, passou a funcionar definitivamente no "Castelo da Rocha Negra", residência de José Correia do Amaral. A Associação era mantida através de contribuição espontânea de seus sócios, como também com uma determinada quantia vinda de cada transação comercial realizada pela Sociedade. Os diretores da Perseverança e Porvir foram responsáveis pelo planejamento e crianção da Sociedade Cearense Libertadora, instalada e inaugurada no dia 08 de Dezembro de 1880 no salão de honras da Assembléia Legislativa da Província.

Fundadores da Sociedade - Arquivo Carlos Alberto Salgado

Nesse dia foram alforriados alguns escravos. Três adultos e três crianças. Maria Correia do Amaral, mãe do presidente da Perseverança e Porvir, alforriou seu escravo Ricardo. O tenente Filipe de Araújo Sampaio, libertou sua escrava Joana. E os membros diretores da Perseverança e Porvir, deram as cartas de liberdade de Filomena com três filhos. Um dos sócios, Antônio Dias Martins, narrou os acontecimentos daquele dia:

"O resultado não poderia ser mais compensador, nem mais auspicioso para nós e para vós - a libertação de três adultos, sendo uma mãe com três filhos, uma mulher e um homem e, mais que tudo, a inscrição de 225 sócios. Se os nossos pequenos esforços produziram tão imenso resultado, vós que encetais a vida da Sociedade Cearense Libertadora, tão cheia de adesões sinceras, tão rica de esperanças e tão santa aspirações, com o vosso elevado conceito e dedicação de patriotas provados e cearenses distintos que sois e que estremeceis o querido torrão natal, vós, como dizíamos, tereis muito maior colheita nesta seara luxuriante que enriquece de patriotismo o coração do generoso e nobre povo cearense."

Um dos sócios da Perseverança, o senhor Antônio Bezerra, por ocasião da fundação da Sociedade Libertadora, declamou:

Moços! Uma grande ideia
Vos anima os corações,
O mais belo dos padrões!
Sim, que vos sobra energia
E tendes n'alma a magia
Que gera as revoluções;
Se a turba não vos entende
Dos moços é que depende
O destino das nações.

Avante, pois, que este século
É o século de grande ação,
Repugna à luz do progresso
A ideia da escravidão;
Bem firmes do vosso posto.

A Pátria de tantas glórias
Que viu-nos livre nascer,
Embora lh'embarque a marcha
Não pode escravos conter;
É tempo que a liberdade
Aos brados da mocidade
Erga os brios da nação,
Que igualados aos direitos
Batidos os preconceitos,
Seja o escravo um cidadão.

Terminada a sessão, os sócios da Sociedade Perseverança e Porvir escolheram a diretoria que iria compor a recém criada Sociedade Libertadora. João Cordeiro ficou como presidente; José Correia do Amaral como vice-presidente; Frederico Borges, 1º secretário; Antônio Bezerra de Menezes, 2º secretário; Advogados: Manuel Portugal e Justino Francisco Xavier; João Crisóstomo da Silva Jataí, tesoureiro; e como procuradores: José Caetano, João Carlos Jataí, João Batista Perdigão e Eugênio Marçal.

Esses indivíduos não eram originários das camadas mais pobres da população cearense, mas também não eram totalmente oriundos e porta vozes exclusivos dos interesses das classes dominantes. Por outro lado, é certo que sua composição social os situaria enquanto membros das camadas mais altas da sociedade. Sua atuação não pode ser explicada exclusivamente em termos de defesa de interesse de classes. Apesar de possuírem estreitos laços de parentescos, que os atavam à famílias proprietárias de terras, sua atuação se dava no contexto urbano. Logo entendemos que esses indivíduos em grande parte eram intelectuais que procuravam legitimar e respaldar cientificamente suas ações e posições em determinadas instituições do saber, como Academia Francesa, Academia Cearense de Letras e posteriormente Instituto Histórico Cearense.

Os membros das Libertadoras Cearenses, especificamente, Sociedade Cearense e Perseverança e Porvir, pertenciam ao meio urbano, faziam parte da elite letrada cujo Pressuposto supunha o engajamento nos ideais europeus.
Para esses abolicionistas, o fim da escravidão levaria o país ao desenvolvimento social, político e econômico.

Segundo Pedro Alberto de Oliveira A Perseverança e Porvir surgiu e desapareceu modesta. Seus associados tinham mais boa vontade do que dinheiro e poder. Não resta dúvida que tinham como principal objetivo auferir rendimentos monetários para seus associados, criada que foi em plena seca de 1877-1879, entretanto, desde seu início, ficou definido, como outra finalidade sua, a libertação de escravos...”. Contudo, mais adiante, no parágrafo seguinte, afirma “ Ao completar um ano de existência, já estava demonstrada a estabilidade e vigor da Perseverança e Porvir. O fim da seca vinha trazendo a província condições propícias ao retorno de suas atividades normais, o que trouxe benefícios aquela cooperativa. "

No dia da solenidade oferecida em homenagem à instalação da Libertadora Cearense, muitas pessoas de outras associações compareceram ao evento: indivíduos pertencentes à Sociedade Cavalheiros do Prazer, membros da Associação Democracia e Extermínio, Gabinete Cearense de Leitura, Sociedade Artística Beneficente Conservadora e aqueles pertencentes à Beneficente Portuguesa 2 de Fevereiro. Nesta ocasião grande parte dos que discursaram enfatizaram temas como progresso e civilização.
O público era bem distinto: bacharéis, intelectuais, estudantes, párocos, médicos, militares e algumas autoridade.

Diversas pessoas contribuíram com o que podiam, o ilustre Dr Picaço ofereceu em adesão à causa da emancipação o produto de benefício da récita da opereta Madame Angot na Munguba, de que é autor, e lhe foi oferecido pelo empresário do Teatro São José e cujo produto deverá ser aplicado à libertação de um escravo.
O francês Pedro Hipólito Girard, dono de um quiosque localizado no Passeio Público, ofereceu o produto da venda de uma noite à causa da liberdade:

"A diretoria da sociedade Cearense Libertadora, de acordo com a da Perseverança e Porvir, resolveu em sessão de 22 de dezembro para findo promover um bazar expositor de prendas para juntar no Passeio Público ao benefício offerecido pelo Sr. P. Hypolito Girard; sendo, de entre os sócios presentes à sessão, nomeada uma comissão composta dos Senhores Antônio Bezerra de Menezes, José Correa do Amaral, José Barros da Silva, José Theodorico de Castro."

A Loja Maçônica Fraternidade Cearense ofereceu 50$000 réis, o cônsul alemão César de La Camp ofereceu 20$000 réis. O periódico Libertador noticiou:

"Às seis horas da tarde do dia 31 de dezembro estava armada no centro do Passeio Público uma barraca[...] onde se achavam exposta todas as prendas colhidas.
Esta profusão de objetos dava uma vista esplendida pela projecção de bello effeito produzido pela iluminaçõe, apresentado cambiantes belissimas.
A illuminação principal foi devida ao illustre engenheiro M. Seddon Morgan, a quem daqui tributamos os nossos cordiaes agradecimentos.
[...]discursos, brindes e hurrahs foram proferidos inspirados na mais ardente idea- a liberdade, na mais perfeita cordialidade - a família, no mais excelso sentimento- o enthusiasmo.
Terminou-se as duas horas da manha(...)
No dia 1 e 2 continuou sempre animado e concorrido o leilão; não sendo possível, porém, concluir a venda de todos os objectos, adiou-se ainda para o dia 5 à noite.
No dia 5 as 5 horas da tarde começou o leilão das últimas prendas, terminando animado, as 9 da manhã..."

A diretoria da Sociedade Cearense Libertadora utilizou a atividade da imprensa enquanto instrumento de divulgação de seus anseios e ideais políticos, sociais e econômicos. Os meios de comunicação foram para esses indivíduos o principal instrumento de transmissão de seus ideais, possibilitando-lhes formar uma opinião pública conivente com seus interesses.

Em 28 de setembro de 1881 foi editado um número especial do O Libertador em comemoração ao aniversário da Perseverança e Porvir, outro no dia 08 de dezembro em comemoração à fundação da Sociedade Cearense Libertadora e mais um em comemoração ao aniversário da Sociedade Libertadora Cearense que fazia um ano de existência.

Até a década de 80 o movimento abolicionista na Província do Ceará sempre foi prudente. A cautela sempre se revelou nas táticas de luta, os abolicionistas sempre procuraram agir dentro da legalidade.

Estava marcado para o dia 27 de Janeiro de 1881 o embarque dos escravos no vapor Espírito Santo com destino ao Rio de Janeiro. Pedro Arthur juntamente com José do Amaral entraram em contato com o liberto José Luís Napoleão, chefe de capatazia no porto e pediram seu auxílio na intervenção do transporte dos escravos para o vapor.
No dia 26, Antônio Bezerra, Isac do Amaral e João Carlos Jataí saíram à noite com a função de aliciarem pessoas para acharem-se na Praia na hora do embarque dos cativos. Se devido algum imprevisto a greve dos jangadeiros não vingassem, essas pessoas causariam tumulto e os escravos fugiriam.
Raimundo Girão afirma que mais de mil e quinhentas pessoas estavam na praia e clamavam:

"No porto do Ceará não se embarca mais escravos!"

Porto antigo de Fortaleza - Arquivo IBGE

Os traficantes buscaram auxílio junto à polícia para tentarem embarcar a "mercadoria", mas de nada adiantou. Diz Girão:

"Apenas, muito cedo, haviam embarcado nove peças, porém dessas os libertadores, por meio legais, retiraram alguma, entre elas, do vapor Pará uma infeliz mãe 'seminua e quase morta de fome', com quatro filhas, despachadas do Maranhão para o Rio de Janeiro - todos desembarcados 'debaixo da bandeira brasileira, ao som da música e ao ribomar de foguetes".

Dragão do Mar

E mais uma vez, no dia 30, os jangadeiros se recusaram a embarcar 38 escravos no vapor Espírito Santo com destino às províncias do Sul do império. O poeta anônimo escreveu:

O nobre jangadeiro Nascimento
Que o povo batizou pelo Dragão,
Na praia foi o nosso salvamento,
Jamais se despertou um só irmão.
Era belo de ver, foi um portento.
Tinha o povo da praia pela mão,
Trancou com chave d'ouro o nosso porto,
De muito desgraçado foi conforto.

Em outro momento, Jataí, Bezerra e Isac ao saber que haviam escravos depositados num determinado estabelecimento, arquitetaram um plano, que seria tocar fogo numa casa ao lado do depósito para chamar a atenção das autoridades e com a distração dos policiais derem fuga aos escravos. Assim, "pela madrugada o incêndio começou. E, ao repicar dos sinos da e da igreja da Prainha, e ainda ao som das cornetas da polícia, o povo se aglomerou em torno. Arrombadas as portas, verificou-se, com maior decepção dos traficantes, constantemente apupados, que a mercadoria havia fugido".

A campanha abolicionista desencadeada na Província do Ceará pelas libertadoras cearenses, principalmente a Sociedade Libertadora Cearense e a Perseverança e Porvir foi um movimento que teve suas especificidades, onde grande parte dos indivíduos pertencentes a essas sociedades possuía a mesma convicção política, mas apresentava posturas e comportamentos bem distintos.

Buscou-se também demonstrar que os membros das libertadoras eram oriundos dos centros urbanos que acreditavam no fim da escravidão enquanto um meio que permitiria o desenvolvimento econômico, político e social do país.
Entendiam ainda que o estado deveria possuir o papel de intervir em questões que envolvessem o direito público.

"Mando, portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nella se contém. O secretário de estado dos negócios da agricultura, commercio e obras publicas a faça imprimir, publicar e correr. Dada no palácio do Rio de Janeiro, aos vinte e oito de setembro de mil oitocentos e setenta e um, quinquagesimo da independencia do Imperio."

Em 28 de Setembro de 1871 foi decretada pela então regente Princesa Isabel a lei de número 2040, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, em nome do Imperador do Brasil, D. Pedro II.

A lei do Ventre Livre permitiu ao escravo dar um grande salto frente ao direito de domínio tido pelos senhores até então, pois a legitimidade da propriedade senhorial foi colocada em xeque.

É possível considerar que a lei de 1871 permitiu aos escravos se apropriarem de alguns direitos, especialmente aqueles referentes à legalização do pecúlio, à permissão de compra de alforria e à proibição de separação das famílias.

Acta da Sessão Magna realizada pela Associação Perseverança e Porvir que celebrou a criação da Sociedade Cearense Libertadora

Aos vinte dias do mez de maio do anno civil de mil oitocentos e oitenta e oito, n'esta cidade de Fortaleza, capital da heroica província do Ceará, em um dos salões do Club Iracema, a uma hora da tarde, o cidadão José Correia do Amaral abrio a presente sessão magna.
Que esta democratica associação, progenitora dessa grande epopeia civica que opulentou a historia patria sob o nome libertadora cearense, solenemente reconhecida ao governo imperial, que fez da vontade nacional a ponte de apoio de seu governo de acção e reacção, vem prestas as suas homenagens de amor e de gratidão aos poderes constituidos que fizeram, pela vez primeira no segundo reinado, da opinião do paíz o mote de ordem para a nova evolução do progresso, da reorganização política e social do povo brazileiro.
A Perseverança e Porvir - que abrio diante da noite do seo paiz escravisado a primeira pagina da libertação do Ceará, que tomou, na fila dos mais fortes da vangarda, lugar perpetuo em todas as lutas d'esses imortais triunphadores, conquistando - posição que lhe assignala a rapida e gloriosa historia d'essa evolução humanitária, que foi começo d'essa grande reforma realisada entre flores e hymnos por honrra nossa e amor da humanidade; vem, agora, com o justo direito que lhe conferem os factos ainda palpitantes de amoção na memoria publica, em pleno dia da glória, diante da confraternização comun de todos os brazileiros, saudar a patria livre e engrandecida perante o congresso civico das nacionalidade.
E justo que aquelles liberrimos carbonarios, que começaram a lucta a evoluiram n'esta esplendida campanha, tendo por armas de combate a penna como espada, a opinião como artilharia o povo como exercito e a imprensa como campo aberto e vasto das vitorias proficuas; é justo, sim, que venham com essa assemblea fortalecida e livre congratular-se com o ponto final do triunfo completo da liberdade...

Perseverança e Porvir - Organizada para negócios economicos a sem fim comercial teve sempre em vista a repulsão do tráfico dos negros e d'essa ideia que faz cohesão natural com a data de sua constituição, veio a creação do peculio para escravos, a libertação por unidade a construção popular da Libertadora, a emacipação dos municipios, a redempção da Província, a abolição total da escravidão no Brasil.

Arquivo Carlos Alberto Salgado

Em 1888, a lei nº 3.353, conhecida por Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, regente do trono durante uma viagem de Dom Pedro II à Europa, concedia finalmente liberdade a todos os escravos.

A Princesa Isabel presente à missa - Arquivo Carlos Alberto Salgado

O povo festeja a abolição: missa campal, 17/05/1888 - Arquivo Carlos Alberto Salgado

Redação de 'O Paiz' - Arquivo Carlos Alberto Salgado


Fontes e créditos: Olhar para além das Efemérides: ser liberto no Ceará/ Caxile, Carlos Rafael Vieira, Revista Nosso Século - Abril Cultural, Carlos Alberto Salgado, Raimundo Girão, IBGE e pesquisas de internet

sábado, 10 de outubro de 2009

Itapuca Villa

Atendendo a pedidos:

"O nosso passageiro ilustre do bonde Soares Moreno é o abolicionista e intérprete comercial Alfredo da Rocha Salgado, morador da grande vivenda "Itapuca Vila", cujo imóvel num estilo primoroso da arquitetura se sobressaía das demais casas e bangalôs da época. Ocupava quase uma quadra das ruas Guilherme Rocha - frente, Princesa Isabel - lado nascente, Tereza Cristina - lado poente e a poucos metros da rua Liberato Barroso."


História do bonde Soares Moreno




Um dos maiores referenciais da cidade” era a Itapuca Villa, em Jacarecanga. Construída em 1915, ocupava a quadra da rua Guilherme Rocha, entre as ruas Princesa Isabel e Tereza Cristina. Foi construída pelo empresário Alfredo Salgado, refletindo uma mansão da Índia-inglesa.

Ficou abandonada durante quase meio século, desde a morte de seu dono, infelizmente mais uma parte de nossa história foi perdida com a demolição de mais esse patrimônio. :(


Todos os materiais para sua construção vieram do exterior inclusive as madeiras. Seu proprietário, Alfredo Salgado, viajava para a Europa com frequência para contratar novos jardineiros. Foi abandonada em 1946.

Em dezembro de 1993, é demolida a tradicional casa construída por Alfredo Salgado, na Rua Guilherme Rocha, a Itapuca Vila, de arquitetura inglesa.

Itapuca em 1974. Acervo Fco de Deus




 Detalhes da Itapuca por M Cals

Um pouco da biografia de Alfredo da Rocha Salgado diz-nos que:


Ele nasceu no dia 01.09.1855 e faleceu em 13.04.1947. Intérprete comercial nas línguas inglesa, francesa e alemã; funcionário da Casa Inglesa constituída por sociedade anônima sob o título - Casa Salgado S.A., de grande atuação na economia cearense, sendo a primeira a montar prensa hidráulica para o enfardamento do algodão no nosso Estado.


Entusiasta das causas nobres, foi abolicionista de primeira linha, dos de frente sem receio. Um dos fundadores da afamada sociedade mercantil "Perseverança e Porvir", em 1879, sob cuja inspiração veio a formar-se a "Cearense Libertadora", que agitaria e levaria até o final a luta vitoriosa da emancipação dos escravos na Terra da Luz. (Famílias de Fortaleza - Dr. Raimundo Girão, 373/375).



No lugar da Itapuca, hoje se encontra o CEJA Professor Gilmar Maia de Sousa, um centro de educação de jovens e adultos:







Fotos antigas: Arquivo Nirez
Recortes de jornais - Fundação Biblioteca Nacional

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: