Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Praça Castro Carreira, a Praça da Estação
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



sábado, 24 de julho de 2010

Praça Castro Carreira, a Praça da Estação



Foto 1909

Ao andar no Centro de Fortaleza, é difícil encontrar alguém que informe onde fica a Praça Castro Carreira. Isto se dá porque na preferência popular, ela é conhecida como Praça da Estação. Com 11.517,00 m², é limitada pelas ruas General Sampaio, 24 de Maio, Dr. João Moreira e Castro e Silva. A maioria das pessoas que sobe e desce dos ônibus diariamente no terminal, que fica no meio da praça, não imagina o valor histórico contido naquele prédio, tão próximo. Do ponto de vista da história, a Estação Ferroviária Engenheiro João Felipe foi construída entre os anos 1879 e 1880, em estilo neoclássico.
O prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico do Ceará.
Em 1871 tem início a história deste lugar, com a construção da estação central, do chalé para os escritórios e das oficinas da Companhia Cearense da Vila Férrea de Baturité. O primeiro trecho entre Fortaleza e Arronches, hoje Parangaba, foi concluído em 1873. A Estrada de Ferro de Sobral foi iniciada em 1878 e, em 1910, tanto a Estrada de Ferro de Baturité, quanto a Estrada de Ferro de Sobral são arrendadas à South American Rallway. Anos depois, em 1915, com o contrato rompido, passa a ser chamada Rede de Viação Cearense e volta a ser dirigida pelo governo da União. Em 30 de novembro de 1873 nasce oficialmente a primeira Estação de Fortaleza, a Estrada de Ferro de Baturité.

A Praça em 24/05/1900

É curioso, mas poucos sabem que a segunda e definitiva estação foi construída no local do antigo Cemitério de São Casimiro, com mão-de-obra dos retirantes da seca de 1877. Foi inaugurada em 9 de julho de 1880, no Reinado de Dom Pedro II. Ainda hoje, quem entra no hall do prédio da estação, logo após a escadaria, do lado direito, e olha para cima, verá em letras antigas os dizeres: “Reinado de Dom Pedro II¨.
O sapateiro Daniel Pinheiro Bezerra, que aparenta ter 75 anos, lembra, saudoso, da praça que costumava frequentar desde que tinha 6 anos, quando vendia maxixe na feira livre. Sim, a Praça da Estação já foi uma enorme feira livre, onde se comercializava de tudo, de frutas e verduras a utensílios domésticos, e até animais. “Como a feira dos pássaros, sabe?”, relembra Lôro.
É assim que Daniel é chamado, carinhosamente, Lôro. Seus olhos azuis contrastam com a pele queimada pelo sol, com rugas profundas que marcam seus anos de luta, sofrimento, de pura sobrevivência. Há 25 anos Lôro trabalha como sapateiro, no mesmo lugar, com a mesma cadeira de ferro antiga. As cadeiras, aliás, são registradas na Regional da Secretaria de Serviço Urbano, onde o proprietário recebe uma carteirinha. “Tá vendo aquela outra cadeira ali? Eu comprei para o meu filho. O dono dela morreu e a família vendeu para mim. Os mais antigos, como eu, já morreram. O último era dono daquela outra cadeira abandonada. A família não está nem aí, e ninguém mais trabalhou nela.
Lôro compara, e diz que nunca mais a clientela foi a mesma. Lembra que a Praça da Estação já foi bem frequentada; as pessoas eram muito bem vestidas; todos os homens usavam calça comprida e sapato social. “Hoje a praça é cheia de malandro. Antigamente não tinha essas coisas de andar de bermuda e chinelo”, reclama. Próximo de onde Lôro estava, passa Luís Ribeiro, aposentado da Rede Ferroviária. Ele faz questão de parar para cumprimentar o Lôro. Pouco tempo antes estive com Ribeiro, na Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará localizada na esquina da praça. Ali eles se reúnem todos os dias para jogar conversa fora, tomar um cafezinho e se divertir jogando. Também é possível mergulhar no passado e sentir como era a atmosfera daquela praça anos atrás.
Agente da Estação, Luís Ribeiro, 64 anos, trabalhou em todos os setores, de telegrafista a agente comercial, cargo de que se orgulha muito. Isso porque, segundo ele, ao deixar de beber, começou a estudar, conseguiu melhor formação e subiu de cargo, tornando-se agente comercial.
Trabalhou 36 anos na Estação. Viu toda a evolução da praça, de feira livre a parque de diversões e por último e, até hoje, terminal de ônibus.
No meio da conversa chega Antonio Serafim, companheiro de trabalho de Luís. Vestindo camisa e calça social, assim como todos os outros aposentados, Antonio, 71 anos, fumava um cigarro atrás do outro. Não falou muito, mas concordava e sorria com as histórias que Luís contava.
Ele trabalhou como foguista e maquinista. Viajava para São Luís, Crato, Teresina e Recife”, recorda Luís, empolgado.



Orgulhoso, Antônio ainda completou: “por 31 anos trabalhei; todos os meus cinco irmãos também trabalharam na mesma função, mas só sobrou um irmão”. Segundo Luís, a da Estação era uma das praças mais importantes e bem frequentadas da cidade. Todas as empresas de ônibus interestaduais nos anos 1960 ficavam ali, ao redor da praça. “Dava gosto de ver as pessoas bem arrumadas que circulavam pela praça, que desciam na Estação e frequentavam o centro da cidade. O maior crime foi extinguir as estradas de ferro. A estrada levou progresso, cultura para o interior”, lembra, com saudosismo, o aposentado que fez parte deste crescimento.
Em frente à Associação dos Aposentados fica o Centro de Turismo do Estado, conhecido como Emcetur.
Na edificação foi inaugurada uma prisão imperial, em 1866, que funcionou até 1970. “Foi toda construída de areia de rio, com óleo de baleia e as portas de ferro fundido vieram todas da Escócia”, conta um simpático aposentado, conhecedor profundo do local. Por ironia ou não, nas portas principais há flechas no topo que apontam para cinco corações. O sapateiro Lôro disse
que na época em que a prisão funcionava, bem na esquina da praça, havia janelinhas com grades, de onde os presos jogavam latinhas para a calçada por meio de um fio. As pessoas que passavam colocavam dinheiro, cigarros. Hoje a antiga Cadeia Pública abriga lojinhas de artesanato, renda e confecção, além do Museu de Minerais do Ceará e o Museu de Arte e Cultura Populares.

A Praça em 1963 - Lucas Jr

Há rumores entre os comerciantes de que no local há estranhas passagens secretas escondidas sob o piso da histórica edificação.
Ao longo do tempo, o cenário mudou bastante. Hoje a praça é tomada por ambulantes que vendem de tudo: frutas, verduras, raspadinhas, jogo do bicho, vale-transporte.
Figura curiosa, o dono da barraquinha de churrasquinhos, Ricardo, é o típico conversador. Por temer a fiscalização, prefere não se identificar. Há quatro anos vende espetinhos na Praça da Estação, e todo santo dia começa a montar seu carrinho às quatro horas da tarde.
Além dele, outras quatro pessoas vendem espetinho, mas o do Ricardo tem um diferencial: acompanha baião de dois e custa um Real. “O movimento começa às cinco da tarde e vai até por volta das oito horas. Acabou o trem, já era; só dá ladrão”, avisa. Depois de muita insistência,
contou como batizou seu carrinho, “Churrasquinho do Maluco”. Não queria dizer, também por medo da fiscalização, que proibiu a venda de bebida alcoólica. O nome foi dado pelos frequentadores que tomam cachaça. “Não há como não vender pinga. Perco a clientela. A maioria quer uma pinguinha para acompanhar o churrasco. Há sexta-feira em que vendo 19 litros de pinga e chego a vender 200 espetinhos”, revela Ricardo. A noite vai chegando e o movimento de pessoas e ônibus aos poucos vai diminuindo. A Praça da Estação, ou melhor, a Praça Castro Carreira vai seguindo seu destino, guardando antigas lembranças do passado e revelando novas realidades do presente.



Saiba mais


Nomes anteriores e resumo histórico:

Campo D´Amélia (1830) em homenagem a imperatriz D´Amália de Lenchtmeberg. Se chamou também do Senador Carreira , 1822, da Via Férrea 1890 e Castro Carreira a partir de 1932.
Era um campo onde as tropas coloniais e depois as imperiais treinavam as sua milicias, e também donde fazia seus esportes de cavalhadas e torneios hípicos da argolinha. Do lado poente estava o cemitério de São Casimiro e no lado leste o dos protestantes ingleses.
Desde 1971 com a construção da estrada de ferro de Baturité recebeu o nome popular de “Praça da Estação”. Havia no centro da mesma uma estátua do General Sampaio em fundida de bronze, sobre pedestal esculpido em Fortaleza, em granito Cearense. Foi inaugurada em 1900 na data do nascimento do Patrono da Infantaria (hoje a estátua esta localizada em frente ao Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção )

Cronologia:

1870 – Construção da Estada de Ferro de Baturité
1871 – Primeira locomotiva chamada Fortaleza.
1873 – Inauguração da Estação Central.
1880 – O “Chalet” da diretoria e oficina.


Crédito: Patricia Nielsen e pesquisas na internet.

5 comentários:

  1. Muito lindo, o prédio da Estação!!!
    Quase todas as férias de julho pegávamos, aí, o trem para Baturité, onde tínhamos família.
    O trem saia às 5 da matina.
    A praça é imensa e agora, com as obras do metrô,
    aquilo está um caos.

    Muito interesante,as entrevistas.
    Muito boa matéria, Leila.
    Bom domingo, amiga!

    ResponderExcluir
  2. A primeira vez que entrei no prédio da Estação, fiquei deslumbrada, é enorme e muito bonito mesmo.

    Obrigada linda, pra ti tbm :)

    ResponderExcluir
  3. Adoro esse espaço. Me informo bastante e só lamento não poder copiar e transferir, a curto prazo, pois uso muitos textos expostos aqui para elaborar atividades e aulas sobre a história de nossa cidade. Parabéns pelo trabalho. Belíssimo.

    ResponderExcluir

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: