Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Jumbo
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Center Um parte II - Festa em Fortaleza com a chegada do Jumbo

Por ser o maior dos animais terrestres e impressionar por seu tamanho, o elefante foi acolhido como símbolo do Supermercado Total Jumbo, que também se torna um mito em toda grande cidade onde se instala.
O Total Jumbo terá uma área de 4.500 metros quadrados de mercadorias, expostas a venda no total de 60 mil itens de produtos de boa qualidade, conservados com os melhores requisitos da moderna tecnologia.

Jornal O Povo novembro de 1973

A chegada do supermercado Jumbo foi sem dúvida uma revolução em Fortaleza.


Jornal Correio do Ceará – novembro de 1973

Atendendo a insistentes pedidos, publica-se hoje a foto que deu origem a muitos falatórios: “O Guto Benevides e o elefante”. No flagrante, o paquiderme confere um picolé que lhe é dado.


Para quem leu o post anterior sobre o Center Um, deve lembrar que o Guto Benevides precisou sumir com o Jumbo que chegou antes do previsto, deixando Tasso Jereissati de cabelos em pé. rsrs (Quem não leu, recomendo!!!)



COISAS QUE SÓ ACONTECEM UMA VEZ

Cada época tem, mais ou menos, as pessoas que merece. Bem ou mal, são elas que fazem o tempo. Só bem mais tarde pude perceber a grandiosidade daquele trabalho que fizemos para o lançamento do Center Um.
Existem coisas que só acontecem uma vez: Aquela defesa do Banks na cabeçada do Pelé, na Copa de 70, o clima que a musica dos Beatles criava na nossa geração, a vibração com a queda do Muro de Berlim e, aqui, na nossa terrinha, a Campanha Publicitária do Center Um, que, juntou arte, poesia, música e ousadia. Jamais haverá outra igual.
Ao conseguir juntar Mino, Luíza Teodoro, Ednardo e Frota Neto, alguns dos maiores talentos da minha geração, desde o começo, tive a certeza de que tudo seria festa e que ficaria na cabeça das pessoas como o maior lançamento publicitário que esta cidade já viu.
Anos mais tarde, tal qual Romário na Seleção, fui chamado para ajudar a lançar o Shopping Iguatemi e, confesso, deu saudades do Center Um. A energia era outra. Cada momento tem a chama que merece.


Texto de Guto Benevides


Center Um, Jumbo Pão de Açúcar

Devia ter uns oito anos de idade. Hoje uns trinta e seis. Tinha visto no comercial da televisão, durante o intervalo do Homem do Fundo do Mar. Viu também a foto em uma propaganda de jornal. Ficou louco, não podia deixar de ir. Iam levar um elefante pra inauguração do Center Um - o primeiro shopping do Ceará.

E o que diabo era shopping? Disseram pra ele que era coisa da modernidade, traço de cidade evoluída, progresso. Blá-blá-blá de gente sabida pra comer o dinheiro dos abestado. Tudo bem, o povo besta da aldeia grande não precisaria mais ir ao Centro de Fortaleza, à Rua, pra fazer compra. No coração da Aldeota ia ter tudo em um só lugar. O canelau da arraia miúda, ignorante, que quisesse ser moderno, teria de pegar dois ônibus para ver de perto o charme da civilização. Da periferia ao Centro e de lá, caminhada até a Praça dos Leões pra apanhar qualquer cambão que passasse na Santos Dumont. INPS - via Brahma, Aldeota... Ou então pé-dois até a Emcetur e sinal para o Circular.

O elefante era a grande atração, o garoto propaganda do primeiro supermercado ''Total'' do Ceará: o Jumbo do Pão de Açúcar. Quem fosse pra inauguração podia se candidatar a uma voltinha no lombo do bicho. Menino tava com comichão, fervilhão no fiofó. Correu para o guarda-roupas e retirou da cruzeta a melhor roupa. A única. Só teve um galho, dois. A calça boca-de-sino, herança do Natal de 1973, tava pegando siri. E a camisa mangas compridas, branca, modelo primeira comunhão, havia encolhido, entanguida. O pivete crescera alguns centímetros, franguinho, galalau.




Mas não tinha conversa, ia de qualquer jeito. Marmotoso ou de calção e kichute com cadarços entrançados nas canelas finas. Ia. Era a chance de se sentir Tarzan, Mogli ou Jim das Selvas. Já havia visto um elefante de perto em circo pé-de-chinelo, nas areias de algum campinho em frente a grupos escolares ou da igreja, mas andar em cima de um, nunca. Só em sonho. Sonhava em ir ao Circo Tyane ou ao Garcia. Como a grana era curta, esperava sempre pelos rabos-de-cabra que mexiam com o cotidiano do bairro. Fera, no entanto, só uns vira-latas saltadores ou leão em fim de carreira, loucos pelos gatos do quarteirão. E comiam...


Fortaleza queria deixar de ser Interior, sertão. Mas a inauguração do Center Um acabou sendo uma festa de paróquia. Quermesse. Um grande arraial com a presença do prefeito Vicente Fialho, do governador César Cals, do comandante da 10ª Região Militar, do gato, o pinto, o cachorro, o papagaio e o padre a benzer o recinto. Sim, Tasso Jereissati, o próprio dono do negócio, 25 anos de idade, comandou o leilão, acompanhado pelo pai e a mãe. Abílio Diniz, paletó xadrez, cinza preto, era o exemplo da prosperidade paulista.




Um dos incríveis passeios que Guto fez com o elefante

O elefante, coitado, símbolo da modernidade cearense em 1974, tava de perna inchada de tanto carregar pivete pra cima e pra baixo. De pé-do-ouvido zunindo, tamanha a gritaria da mundiça. ''O novo Center da cidade'', avisava o reclame publicitário, tinha vindo para descentralizar o comércio da capital. ''Um marco na transformação de Fortaleza em metrópole''. A ordem era vender a imagem que o congestionado Centro comercial, em torno da Praça do Ferreira, estava sendo substituído pela Aldeota.





A aldeia grande passava a ser um bairro com vida própria e, num canto só, reuniria 45 lojas, um supermercado da maior cadeia do ramo da América Latina e o moderno Cine Gazeta com 430 lugares. O estacionamento tinha vaga pra 450 fuscas ou kombis, ou gálaxis, brasílias, corcéis, maveriks...Tinha uma Samaritana, Aba Film, Armazém Esplanada, BD Sports, Caixa Econômica Federal, Bem-me-quer, Borogodó Confecções, Carvalho Borjes, Bou Tiko, Casa Parente, Casas Pernambucanas, Cruz e Ouro, Gurgel Cabeleireiros, Hidrel, Iacy Presentes, King Jóias, La Duce, Livraria Feira do Livro, Lojão Anfisa, Loteca Pap's, Sapataria Belém, Farmácia Adjafre, Martha Boutique Infantil, Mil Koisas, Mundialtur, Ocapana...

Menino cansou de ficar feito besta, no sol quente do dia 6 de novembro, esperando na fila pela tão sonhada volta no Jumbo. Rodava o quarteirão e quando chegava algum filho de bacana, ia na frente de todo mundo. Um saco. Tava dando na fraqueza, coisa ruim no juízo. Não ia poder esperar pelas 21 horas, horário da inauguração. 


Arquivo: Correio do Ceará/Renato Pires.

Ficou sabendo que iam servir um coquetel, ocasião da merenda de graça. Resolveu brincar na escada rolante. Subir no automático e descer correndo. Até enjoar. Não era novidade pra ele, o Romcy do Centro tinha uma. Mas não podia perder a viagem, veio de tão longe. Rodolfo Teófilo... Pensou em lanchar no Kom's e Beb's. Resolveu deixar pra outro dia, pra algum dia. Quando crescesse e não tivesse no bolso apenas o certo para pegar os ônibus da volta. Antes de escurecer deu o pira!


Arquivo: Correio do Ceará/Renato Pires.

Noutro dia, ainda ressaqueado do sol, procurou no jornal o paradeiro do elefante e leu a seguinte besteira: ''Para o sr. Tasso Jereissati, incorporador do Center Um, pode-se medir o grau de civilização de uma cidade pela qualidade dos serviços que são postos à disposição do público. Comprar, por exemplo, pode ser um momento de civilização... E por que a patota vai lá? Porque lá no Center Um se encontra tudo o que a gente precisa. Supermercado total com número e variedade de mercadorias jamais vistos juntos, num mesmo estabelecimento. Lojas pra comprar o que a gente ia comprar ''na praça'', agora tudo num confortável e simpático prédio único... Um charme poder dizer: comprei no Center Um...'. Por gostar do Centro de Fortaleza, da Rua, da Praça, menino se sentia meio índio, anticivilizado. O problema, não compreendia, é que o Jumbo morava na Aldeota e não na Praça do Ferreira. Quem tem de 35 pra lá, não me deixa mentir e ainda hoje chama o Pão de Açúcar de Jumbo.

Texto de Demitri Túlio



Imagem capturada do Filme O Homem de Papel de 1976


Leia também a Parte I


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