Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Aprendizes Marinheiro
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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sábado, 29 de setembro de 2012

Avenida Pessoa Anta - Rua da Praia


Serviço de arrasamento das dunas, para o prolongamento da rua da Praia - Década de 30

A Avenida Pessoa Anta que até então era apenas um caminho chamado "Caminho da praia", foi surgindo com a chegada do progresso e dos históricos prédios, passando a chamar-se Rua da Praia em 1932.
A avenida foi urbanizada em 1931-32, na gestão do major Tibúrcio Cavalcanti.
O nome da avenida é uma homenagem a João de Andrade Pessoa Anta (1787-1825), mártir da Revolução de 1824, no Ceará. Foi bacamartado no dia 30 de abril de 1825.


As construções da rua da Praia. Novos edifícios comerciais também passam a despontar na zona costeira da cidade. Acervo - As Construções, 1928.


Já recebeu também o nome de Rua da Alfândega.

No local onde antes era apenas um terreno baldio cheio de árvores, quando a avenida ainda não existia, instala-se a Alfândega de Fortaleza em 01 de julho de 1812, criada por alvará de 1810, sendo logo suprimida em 20 de setembro de 1834.
Mas a construção do prédio de pedras ainda não havia se iniciado, existindo no local apenas o terreno. 


Rua da Praia aberta sobre as dunas foi um importante melhoramento na gestão do Major Tibúrcio Cavalcanti - Década de 30

Fatos Históricos da Avenida:

Em 26 de novembro de 1864, a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará é criada pelo decreto nº 3.347 assinado pelo então ministro da Marinha Francisco Xavier Pinto Lima e pelo Imperador D. Pedro II, com o nome de Companhia de Aprendizes Marinheiros.
Sua instalação deu-se a 31/03/1865 na Rua da Praia (Pessoa Anta) em casas pertencentes ao Barão de Ibiapaba.
Depois se mudou para a Avenida Alberto Nepomuceno.
Em 1908 foi para o Jacarecanga, no local onde hoje se encontra.
Foi extinta pelo decreto 20.607 de 05/11/1931, sendo restaurada em 1940.



1875 - Fundada em Fortaleza a firma J. Lopes & Cia(Casa J. Lopes), do coronel Jesuíno Lopes de Maria, na Praça do Ferreira nº 50 (antigo), e Rua da Alfândega (Pessoa Anta) nºs 25/27, importadores e exportadores.
Depois (1937) mudou-se para edifício próprio na mesma rua nº 290, entre a Rua São Paulo e Rua Senador Alencar, com frente também para a Rua Barão do Rio Branco nº 795, projeto do arquiteto Emílio Hinko e construção do engenheiro Alberto Façanha de Sá (Alberto Sá). 


Pátio de armazenagem da Alfândega a céu aberto - Foto de Junho de 1913 e Maio de 1911 - Acervo Ofipro

Antes de o prédio ser construído, a Alfândega funcionou em prédio modesto na Praça Almirante Saldanha.
A construção iniciou-se e o prédio foi inaugurado no dia 15/07/1891, passando a funcionar ali não apenas a Alfândega, mas também a Guardamoria do Estado.
A construção esteve a cargo da Ceará Harbour Corporation Ltd., sob direção dos engenheiros Tobias Lauriano Figueira de Melo e Ricardo Lange.
Até o prédio foram levados trilhos dos bondes de tração animal e dos trens, para carga e descarga de mercadorias.
Na administração do Interventor Luís Cavalcanti Sucupira (Luís Sucupira), entre 1941 e 1945, o prédio sofreu reformas, entre elas a construção do andar superior que existia apenas na parte dianteira.
Lá passou a funcionar a Receita Federal, hoje na Rua Barão de Aracati.

A rua da Praia (Pessoa Anta) já pavimentada - Década de 30

07 de setembro de 1886 - A Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará inaugura-se em prédio na Rua da Praia, pertencente ao negociante José Maria da Silveira, onde depois funcionou a Escola de Aprendizes Artífices e desde 1927 funciona em novo prédio, a Recebedoria do Estado, hoje Secretaria da Fazenda.

10 de agosto de 1887 - Após algumas modificações, reinaugura-se o ramal da Estrada de Ferro de Baturité que vai até a Alfândega (na Avenida Pessoa Anta).

Fachada da Firma Salgado, Filho & Cia

1891 - Instalou-se, na Rua da Praia (Avenida Pessoa Anta) nºs 1/13, esquina com Avenida Almirante Tamandaré, na Praça Almirante Saldanha, a firma Holderness & Salgado, sucessores de Singlehurst & Comp., que depois mudou para Salgado, Rogers & Ciae em 1921 passou a denominar-se Salgado, Filho & Cia.
São exportadores de peles de cabra e carneiro, algodão e cera de carnaúba.

Fachada da Firma Salgado, Filho & Cia

11 de novembro de 1909 - Criada a Escola de Aprendizes Artífices do Ceará pelo Decreto 7.649.
Instalou-se em 24/05/1910, na Rua da Praia, mudando-se depois para a Praça Marquês do Herval (hoje Praça José de Alencar).
Se transformaria na Escola Industrial de Fortaleza, na Escola Técnica Federal do Cearáe depois no Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará - Cefet-Ce.
Atualmente está na Avenida 13 de Maio nº 2081, Benfica, tendo uma filial na Aldeota, na Rua Nogueira Acioli nº 621.


12 de janeiro de 1914 - Inaugurada a linha de bondes de tração elétrica da linha da Praia, dia em que circulou pela última vez um bonde de tração animal (puxado por burros), sendo o último da linha do Alagadiço, guiado pelo bolieiro Fialho.
O caminho de ida da linha da Praia era pela Rua Floriano Peixoto, Rua Castro e Silva, Praça da Sé, Avenida Alberto Nepomuceno, Avenida Pessoa Anta, Avenida Almirante Tamandaré e Rua Tabajaras, voltando pelas mesmas vias até a Praça da Sé, onde toma a Rua Sobral, Rua General Bezerril e Rua Guilherme Rocha, chegando na Praça do Ferreira.

08 de julho de 1924 - Lançada a pedra fundamental do edifício da Secretaria da Fazenda, na Rua da Praia, época em que já estavam concluídas as fundações.


Pátio de armazenagem da Alfândega a céu aberto - Foto da primeira década do século XX.

27 de junho de 1925 - Lei municipal muda o nome da Rua da Praia, que passa a denominar-se Avenida Pessoa Anta, homenagem ao coronel João de Andrade Pessoa Anta, um dos sacrificados em 1825, no Centenário de sua morte.

24 de julho de 1926 - Inaugura-se, às 15h, na Rua da Alfândega (Pessoa Anta) nº 14 (antigo) a Fábrica São Bernardo, para beneficiamento de algodão e extração de féculas, da firma Gonçalves Jucá.

27 de novembro de 1927 - Inaugurado o prédio da Secretaria da Fazenda, na Rua da Praia, às 16h, na administração do desembargador José Moreira da Rocha.
O prédio foi benzido pelo monsenhor Antônio Tabosa Braga (Monsenhor Tabosa).
O projeto é do arquiteto José Gonçalves da Justa.

Fotografia do final do século XIX

03 de agosto de 1929 - Inaugura-se, na Rua da Alfândega (Avenida Pessoa Anta), esquina com a Rua Almirante Jaceguai, na Praça Almirante Barroso, a Fábrica Myrian, da firma C. N. Pamplona & Cia., primeiro estabelecimento no Ceará a extrair óleo de oiticica através de maquinaria apropriada.

Fachada da Fábrica Myrian do Álbum Fortaleza 1931

01 de julho de 1933 - Fundada a firma Paschen & Companhia, na Avenida Pessoa Anta nº 73 (antigo), formada dos sócios Ernesto Paschen e Hermann Schimmelpfeng, alemães que tratavam de exportação e importação.
Eram representantes da Norddeutscher Lloyd, Bremen (navios), da Lufthansa, do Zeppelin e do Syndicato Condor Ltda.

10 de agosto de 1976 - O Museu de Minerais do Ceará Professor Odorico Rodrigues de Albuquerque, do Departamento de Minas da Secretaria de Obras e Serviços Públicos do Estado, inaugura sua nova sede, na Avenida Pessoa Anta nº 274.

A segunda foto é do final do século XIX

28 de janeiro de 1978 - O prédio da Receita Federal, na Avenida Pessoa Anta, sofre um incêndio de grandes proporções, com início às 20h, provocado por um curto-circuito que destrói metade do segundo bloco.
É o antigo prédio da Alfândega, aquele todo de pedra. Em outubro do ano seguinte a Receita mudou-se.


01 de novembro de 1979 - A Superintendência e a Delegacia da Receita Federal mudam-se do prédio da Avenida Pessoa Anta nº 287 (antigo prédio da Alfândega - hoje CAIXA Cultural Fortaleza), para o novo edifício, no quarteirão entre a Rua Pereira Filgueiras, Rua Carlos Vasconcelos, Rua Iracema, com frente para a Rua Barão de Aracati nº 287.

06 de julho de 1993 - A Tyresoles do Ceará inaugura o Parque industrial de recauchutagem e Centro de caminhões Goodyear no km 18,5 da BR-116, no Eusébio e mais duas lojas, uma na Avenida Pessoa Anta nº 14 e outra na Ceasa de Maracanaú


07 de agosto de 1998 - Aberto o Centro Cultural Dragão do Mar, na Rua Dragão do Mar nº 81, no bairro da Praia de Iracema, compreendendo vários quarteirões entre a Rua Boris, Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste), Rua Almirante Jaceguai e Avenida Pessoa Anta, mas sua inauguração realizou-se posteriormente, quando estava totalmente pronto.
Hoje chama-se Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.


Créditos: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Álbum Fortaleza 1931 e Arquivo Nirez

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um Herói chamado João Nogueira Jucá


Acervo Luciano Hortêncio

Quando o estudante João Nogueira Jucá morreu, no dia 11 de agosto de 1959, faltavam três meses para completar 18 anos. Ele era um jovem calado, de um coração imenso, humano. Por isso, a família e os amigos não estranharam a atitude que tomou ao entrar no prédio em chamas para salvar doentes que estavam internados na Casa de Saúde César Cals, hoje, Hospital Geral César Cals (HGCC). Apesar da gravidade do seu quadro, em nenhum momento se arrependeu do que fez. "Ele dizia que seu corpo queimava como brasa".

O Major do corpo de bombeiros, José de Melo Neto, observa que João Nogueira Jucá tinha dentro de si um espírito militar e vestiu-se desse espírito para ajudar quem precisava. Ele lembra que o estudante vinha de uma aula de halterofilismo quando se deparou com a tragédia. "Com desprendimento entrou nas chamas para salvar vidas".

O militar ressalta que o ato do estudante foi de muita coragem.


Acervo Luciano Hortêncio

O Estudante João Nogueira Jucá nasceu em Fortaleza, no dia 24 de Novembro de 1941, sendo seus pais o Desembargador José Jucá Filho e a Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá. Estudou nos colégios Rui Barbosa, Cearense, Sete de Setembro, Fênix Caixeiral e São João. Seu maior sonho era ser oficial da Marinha do Brasil. Daí o entusiasmo pelo esporte, sobretudo a natação.

No dia 04 de Agosto de 1959, às 14 horas, voltava em companhia de um colega da aula de halterofilismo. Ao passarem em frente à Casa de Saúde César Cals, na Praça da Lagoinha (Capistrano de Abreu) perceberam um incêndio. Convidou o amigo para ajudá-lo a salvar as pessoas que se encontravam no interior do hospital. O outro, no entanto, achando perigosa a empreitada, recusou a proposta. João Nogueira Jucá e vários outros abnegados se lançaram ao fogo. O nosso jovem salvou vários recém-nascidos, depois suas mães, que já estavam em situação dramática. Muitas eram as enfermeiras que pediam para que ele parasse com aquele esforço, pois a cada pessoa que trazia mais eram visíveis as queimaduras em seu corpo. Uma senhora implorou-lhe para que fosse buscar o seu bebê que ficara lá dentro. Ele lançou-se mais uma vez às chamas e trouxe a criança com vida. Novamente uma enfermeira tentou impedi-lo de cruzar o fogo, argumentando que não tinha mais ninguém nas enfermarias, mas ele disse: “Ainda tem na indigência”. Voltou com uma pessoa nos braços atingida pelo fogo. Numa dessas idas e vindas, explodiu um tubo de oxigênio que estava próximo e o nosso jovem foi duramente atingido. 

Santinho de sétimo dia de João Nogueira Jucá - Acervo Marrocos Anselmo Jr

Naquele momento, às 16 horas, sua mãe, passando em frente, viu pessoas retirando um corpo envolto em um colete, com diversas queimaduras, mas nunca poderia imaginar que era o próprio filho. Chegando em casa, na hora do jantar, enquanto comentava o fato com os filhos e o esposo, o telefone toca e alguém comunica que seu filho estava na Assistência Municipal (hoje é o Instituto Dr. José Frota - IJF). A partir desse dia seus pais não voltaram mais para casa. O estudante foi visitado pelo então governador Parcifal Barroso, que disse, com os olhos cheios de lágrimas: “João, o povo do Ceará lhe agradece”. Já às portas da morte João Nogueira Jucá disse para o pai, contrariado com a perda do filho mais novo: “Não, pai, faria tudo de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco”. Logo depois morreu. Este fato ocorreu na madrugada de 11 de agosto de 1959, tendo o nosso jovem 17 anos de idade.

 Os sofrimento dos pais diante do corpo do filho

Considerando a necessidade de referência humanística que motivem os nossos jovens na luta em defesa da vida é que, este gesto de João Nogueira Jucá, tem que permanecer sempre vivo na mente e no coração de todos nós. 

João - O primeiro bombeiro honorário do Ceará

VIDA E MORTE DE JOÃO NOGUEIRA JUCÁ

Nas investigações procedidas, conforme ordem do Sr. Cel BM Fernando César Sales Furlani, Comandante do Corpo de Bombeiros, sobre a vida e a morte do estudante JOÃO NOGUEIRA JUCÁ, pelo fato ocorrido no incêndio do dia 04 de agosto de 1959, nas dependências da Maternidade Dr. César Cals, na Praça da Lagoinha, em Fortaleza, em que resultaram em inúmeras pessoas feridas e 04(quatro) mortas, e no destaque principal o heroísmo do jovem aluno do então Colégio São João, chegou-se ao seguinte resultado histórico:

João Nogueira Jucá, nascido em Fortaleza, no dia 24 de novembro de 1941 na Casa de Saúde São Raimundo, filho do Desembargador José Jucá Filho e da Professora Maria Nogueira de Menezes Jucá.

Seus primeiros 5(cinco) anos de vida, foram passados na antiga cidade de São Francisco, hoje Itapajé, no nosso Estado, onde seu pai exercia o cargo de Juiz Municipal e sua mãe o de Professora do Grupo Escolar. Sendo seu pai promovido a outra entrância profissional, teve que morar na cidade de Lavras da Mangabeira, no ano de 1946. Alfabetizado por sua mãe, iniciou o Curso primário na mesma cidade, onde ficou até 1948, quando veio definitivamente para Fortaleza



Acervo Luciano Hortêncio
 
Na Capital, continuou os estudos, frequentando sucessivamente, os Colégios Fênix Caixeiral e 7 de Setembro. O curso ginasial foi feito no Colégio Cearense, iniciando o científico no Colégio São João.
Segundo depoimentos de seus familiares e amigos, João, na adolescência, tinha um complexo de inferioridade por ser excessivamente magro e alto desproporcionalmente, atingindo a altura de 1,83m. A custa de constantes e religiosos exercícios, prática de esporte, conseguiu quase que a perfeição corporal, tornando-se um atleta, com uma compleição física avantajada, de causar inveja e afastar de uma vez por todas com o complexo que tanto atormentava os jovens da época.
Moço inteligente, aspecto superior e fidalguesco, tinha uma personalidade altiva e impressionante. Sua vocação, como sempre repetia quase que obsessivamente, era de ser Oficial da Marinha do Brasil. E para esse mister, não parava de se preparar com afinco.

No fim do mês de julho de 1959, de volta das férias, num sítio em Messejana, de sua família, seu pai, homem austero, perguntou-lhe qual sua reação ao ver um empregado que havia sido soterrado dentro de uma cacimba, morrendo sem o pronto socorro, muito mais por sua falta: e ele respondeu, com voz tronitoante: "Pai, estou com raiva de mim mesmo porque não cheguei na hora, senão aquele homem não teria morrido!"


Exímio nadador, tinha por hábito duas vezes por semana, nadar na praia de Jacarecanga até o Cais do Porto, dizendo que era para testar sua forma física, ou, numa eventualidade qualquer, que fosse necessário empregar sua destreza como nadador acostumado às grandes refregas.

O Desembargador José Jucá Filho, foi morar com seus 03(três) filhos, José Jucá Neto, Jovina Jucá e João, o mais moço, nas proximidades da Maternidade Dr. César Cals, ou mais precisamente, na Avenida do Imperador. E essa distância, geograficamente curta, fez com que, no dia 04 de agosto de 1959, o Jovem estudante, João Nogueira Jucá passasse pôr ali, naquela tarde, quando os relógios dos passantes registravam 14:20hs. Um ribombar pavoroso de repente eclodiu, assustando os frequentadores da Praça da Lagoinha e pondo-os para longe de onde vinha a explosão. Num instante labaredas de fogo riscavam o ar já espalhando o terror nos assistentes, e ameaçando os internos da maternidade, que já em pânico procuravam salvar suas vidas.


João, neste momento, lançou-se decidido dentro do hospital, sentindo que alguma coisa precisava ser feita urgentemente. Não se importou com as sucessivas explosões e as chamas que lhe ardiam no corpo, pois, segundo ele, não sentiu nem viu fogo algum. Não soube quantos recém-nascidos salvou, apenas que foram muitos. Não contou quantas parturientes salvou, apenas lamenta que muitas ficaram feridas e outras morreram, Nem ao menos ouviu os gritos histéricos de advertência de que sua vida estava em perigo, se ouviu, contou ele para os seus irmãos e os seus pais, que desobedeceu. O que ele ouviu, já com o corpo em chamas, foi uma mulher gritar para ele de joelhos: "Por favor, meu filhinho ficou lá, salve-o pelo Amor de Deus!"E lançou-se às chamas novamente, trazendo o recém-nascido nos braços. Já desfalecido, mas insistente na luta, uma enfermeira, correu aos seus braços e impediu-o de que entrasse novamente, dizendo: "meu filho, você já retirou todo mundo das enfermarias, não tem mais ninguém", e ele sem parar, já deformado pelas queimaduras correu olhando para a moça dizendo:” ainda tem na indigência", voltou em seguida, trazendo mais outra pessoa nos braços carcomidos pelo fogo.

Foto feita da página do livro que retrata os principais fatos da história do Ceará

Quando não mais existia ninguém dentro das enfermarias, desobedecendo sempre as advertências, até da Guarnição do Corpo de Bombeiros, João caiu, sendo levado às pressas para a Assistência Municipal. Seu estado, considerado gravíssimo constatado que fora consumido pelo fogo, 80%(oitenta por cento) do seu corpo, ficando, irreconhecível, portanto, sua pele, alva e fina, havia ficado totalmente preta. Na agonia de todo sofrimento, João às vezes, perdia a lucidez e proferia coisas dignas de serem registradas: "sou Oficial da Marinha! Vou salvá-los do naufrágio! Quando recuperava a consciência dizia, ao ser interrogado por seu pai, quando perguntava se não se arrependia do que tinha feito: "Não, pai, faria de novo, e me orgulho do que fiz! Acho que ainda fiz pouco. Já às portas da morte receberá a visita do então Governador Dr. Parsifal Barroso. Este, como homem humilde que era, estando João com todo corpo envolto em ataduras e supurando a pele tostada, falou com voz pausada e mansa: "João, você me conhece?" e ele respondeu: "quem não conhece o senhor, Dr. Parsifal, obrigado pela visita!" Parsifal, então, comovido, retirou de seu braço a atadura úmida e beijou-lhe a mão. Em seguida, com os olhos em lágrimas, disse veementemente: "João o Povo do Ceará lhe agradece, venho em nome dele, e você não está só, caro amigo!"

Em suave resignação, João foi aos poucos perdendo os sentidos e veio a falecer no dia 11 de agosto de 1959, sendo reverenciado por todos os Cearenses, tendo sempre ao seu lado seus pais e irmãos. Conscientes, eles dizem que João não morreu, tornou-se um herói e um mártir.

Dia do Estudante: 11 de Agosto

Homenagem aos Heróis do Incêndio da Casa de Saúde César Cals - 04 de agosto de 1959.

MENSAGEM DO COMANDANTE DO CORPO DE BOMBEIROS - CEL BM FERNANDO CÉSAR SALES FURLANI.

Na tarde de 04 de agosto de 1959, Fortaleza, a "Loura desposada do Sol, dormitava à sombra dos Palmares", sentindo-se tranquila, pois com 05(cinco) boas viaturas adquiridas há pouco, e mais 08(oito) regulares, o Corpo de Bombeiros velava por sua segurança. A Casa de Saúde César Cals, desenvolvia seus meritórios afazeres de rotina, quando irrompeu o incêndio.

Mais de uma centena de doentes, parturientes e criancinhas, com a capacidade de locomoção prejudicada, foram postos em risco imediato de vida. Foi dado o alarme. Os Bombeiros foram chamados. Foi dada a ordem de evacuação. Muitos voluntários ajudaram, a maioria estudantes. O incêndio foi combatido com eficiência por homens bem equipados. Mas ao final foi a desolação. 04(Quatro) mortos, mais de 50(cinquenta) feridos, 20(vinte) hospitalizados com graves lesões, inclusive 02(dois) Bombeiros. Destruição de parte do prédio e material do hospital, com grandes prejuízos. 

 O Busto de João Nogueira na Praça da Lagoinha foi transferido e hoje se encontra em frente o Quartel do Corpo de Bombeiros.

A Cidade chorou!

Porém em meio às lágrimas de dor e à desolação da destruição, a alma da população levantou-se orgulhosa e sobranceira. Ficou satisfeita com seus filhos bravos, com sua juventude impetuosa, generosa e heroica.

A cidade alegrou-se!

Todos se curvaram junto ao leito de João Nogueira Jucá, estudante de 18(dezoito) anos, gravemente ferido nos exaustivos trabalhos de evacuação das vítimas do incêndio. O estudante como símbolo da Juventude Cearense, encarnou o ideal grandioso de solidariedade humana. Passava pela Praça da Lagoinha, sentiu a aflição dos enfermos, e com muitos companheiros, trabalhou com afinco em arrancá-los das garras pavorosas do fogo.

A cidade emocionou-se de gratidão.

Busto do estudante na Praça da Lagoinha

Mas João Nogueira Jucá, não morreu no dia do estudante, 11 de agosto. Entrou na imortalidade como um símbolo do estudante Cearense. Foi imortalizado no bronze e foi imortalizado nos nossos corações. O Corpo de Bombeiros que o viu incorporar-se voluntariamente à Guarnição de combate ao Incêndio do hospital, faz questão de contá-lo em suas fileiras.

João você é Bombeiro; você é a letra viva do nosso hino: "Voluntário da morte na paz, é na guerra indomável leão". Você é uma ponte firme a unir o Estudante ao bombeiro. Que o seu exemplo fogoso de abnegação, incendeie o ideal do estudante, que o Bombeiro só fez atiçar.



Curiosidade: O pai de João, após o incidente, foi abatido por uma tristeza que manteve até a morte, em 1968. A mãe morreu em 1985.


Fonte: Portal militar, Jornal O Povo,Câmara Municipal de Fortaleza, Suaveolens

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Jacarecanga, esquecida?


Escola de aprendizes marinheiros

Quem vê o bairro de Jacarecanga dominado pelo comércio e pelo descaso talvez nem imagine a opulência que essa região representava para Fortaleza no começo do século 20. Passar pelo cruzamento da avenida Francisco Sá com a Filomeno Gomes é como colocar um pé no passado e não desgrudar o outro do presente. O paralelo é inevitável: as grandes casas antigas disputam o espaço com os prédios e vários estabelecimentos comerciais, como lojas de roupas, lanchonetes e mercadinhos.


Corpo de bombeiros

No passado, Jacarecanga foi o refúgio das elites fortalezenses à conturbação do centro da cidade. Nos primeiros anos do século 20, o Centro foi transformado de bairro residencial para bairro misto, com cada vez mais comércios e serviços. Essa mudança começou a incomodar os burgueses da cidade. Como alternativa, surge Jacarecanga, um bairro próximo à praia, com uma boa brisa, um ótimo local para construir sítios e casas monumentais.

Rapidamente, Barões, Ministros, grandes fazendeiros e aristocratas da cidade começaram a se deslocar para Jacarecanga, e o bairro foi se urbanizando. Mas esse status de “opulência” só se estendeu até a década de 1930. O motivo? A chegada do operariado da cidade. Indústrias, comércios e cortiços começaram a ser construídos na região, e, novamente, as elites se deslocam – dessa vez, para os bairros Benfica, Praia de Iracema e Aldeota. Hoje, Jacarecanga se divide em área industrial, residencial e de comércio, exibindo ainda algumas edificações que marcaram uma época.
Alguém que passa um olhar despercebido talvez não veja esse contraste entre passado e presente. Mas é importante ressaltar: ele existe. O colégio Liceu do Ceará, na praça Gustavo Barroso, é um dos exemplos mais fortes. Deteriorado por uma erosão de vandalismo e descaso, a escola está acabada – e não apenas do ponto de vista infra-estrutural. Um colégio que, antigamente, era conhecido pela sua excelência e responsabilidade, hoje não representa mais do que uma escola pública no meio de tantas outras. “Muitos alunos saíam do colégio direto para as universidades, sem precisar fazer cursinho para entrar”, diz Raimundo Alves Pinheiro, que foi estudante do Liceu e mora no bairro desde 1984.

Raimundo tem hoje 64 anos e demonstrou conhecer muito da história de Jacarecanga. Foi ele que apresentou Dona Lêda, outra moradora do bairro. Ela é filha do ex-prefeito Manuel Cordeiro Neto, que governou Fortaleza entre os anos de 1959 e 1963 e construiu uma casa na avenida Filomeno Gomes. Aos 82 anos de idade, Dona Lêda ainda lembra a época em que pegava um bonde nessa mesma via para ir ao colégio. Naquele tempo, as mulheres estudavam em colégio de freiras, e os homens – os que podiam – estudavam no Liceu.

Nem mesmo Dona Lêda, que mora na região há mais de 50 anos, sabia que o bairro, antes conhecido como Fernandes Vieira, completou 164 anos. A data passou em branco, assim como tem passado os cuidados com o patrimônio histórico.

No bairro, existem quatro tipos de casarões: aqueles que foram fechados, outros abandonados, os que foram transformados em repartições públicas e os que continuam sob os cuidados dos próprios moradores – alguns cuidando bem, outros nem tanto. Na verdade, para completar o elenco, ainda existiria um quinto tipo: as grandes casas que hoje nem existem mais, que tiveram suas estruturas originais completamente modificadas para dar lugar a novos empreendimentos.

As casas fechadas são tão fechadas que se torna quase impossível localizar seus donos. Apesar de um morador aqui e outro acolá dizer que conhece o dono de tal casa, não se pode saber ao certo quem seja esse “suspeito”. Para os imóveis abandonados, a situação piora. Sem donos nem cuidados, eles são transformados em berço de vandalismo, sofrendo pichações, em pura degradação.

Entretanto, alguns moradores só não cuidam mais de suas casas porque não podem. Dona Maria Luíza mora sozinha com o seu cachorro em um dos casarões mais famosos do bairro – conhecido como “Casa da Normandia”.



A residência, que também fica na avenida Filomeno Gomes, pertenceu ao ex-ministro Raimundo Brasil Pinheiro de Melo, pai de Maria Luiza. Segundo ela, o ex-ministro tirou o modelo de uma revista alemã e começou comandar a construção em 1920. A casa só foi totalmente terminada em 1928, quando a família finalmente se mudou. Alguns detalhes foram perdidos com o tempo: o muro foi alteado, o mastro no cume da casa foi retirado, o quintal sofreu reforma para abrigar um Buffet e parte da construção original do hall da casa foi destruída.

Seja pela falta de cuidados, seja pela incapacidade de cuidar, muitas dessas grandes casas estão sendo vendidas para o governo, que utiliza os espaços para instalar repartições púbicas. De certa forma, isso acaba se transformando em uma boa alternativa para o descaso. Em Jacarecanga, existe uma grande casa que espelha bem essa alternativa: a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.

Outro casarão que felizmente foi reformado foi um que fica na Guilherme Rocha



Ela não tinha teto, não tinha nada. Mas, diferente da casa cantada um dia por Toquinho e Vinícius de Moraes, a graça dela era outra. Ela sobreviveu, na contramão da Fortaleza que se vai para abrigar espigões - sejam de domicílios, sejam de comércios. Foi necessário um investimento de R$ 92,5 mil para conservar-lhe a graça e devolver-lhe vida de novo. Há cerca de três meses, quem mora ou transita pelo bairro Jacarecanga ganhou de presente a preservação de um pedaço da memória da Cidade. O local agora é sede do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica).

Também como a casa de Toquinho e Vinícius, o imóvel recém-recuperado do Jacarecanga foi feito "com muito esmero". Mas, desta vez, nada de "Rua dos Bobos". O número é 1.469, na rua Guilherme Rocha, esquina com a rua Conselheiro Estelita. A casa de dois pavimentos, em estilo colonial, já teve vários proprietários. Por lá, já viveram membros da família Divino de Carvalho, da Asfor, da Quezado. Foi até da dona Glorinha Pestana, a parteira oficial das imediações. Abandonado, o belo imóvel amargou vários anos ruins. Hospedou a pobreza, a fome, a marginalidade. A recuperação do casarão foi promovida pela Prefeitura, através da Secretaria Executiva Regional II e sob o acompanhamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura (Seinf).

O órgão informa uma idade aparente de 48 anos para a casa, mas vizinhos antigos dão conta: ela surgiu na década de 30. Desapropriado em março de 2004, a reforma da gestão anterior, ainda na era Juraci Magalhães, foi paralisada durante vários anos, quando virou refúgio para moradores de rua. No vai-e-vem de moradores, pelo menos 20 famílias já chegaram a se instalar por ali. Quando as obras foram retomadas em julho do ano passado, o prédio se encontrava totalmente depredado e sua estrutura exposta às variações climáticas. As pichações eram o "enfeite" do que restou da casa.

Teresa Diana Campelo Divino de Carvalho hoje tem 70 anos e é só alegria. É testemunha de uma época em que Fortaleza tinha outras feições, assim como o endereço na rua Guilherme Rocha. A aposentada rememora. A casa que abriga hoje o Comdica foi um presente de casamento para Laís de Azevedo Divino de Carvalho. Doação do pai, João Hipólito de Azevedo, conhecido diretor da antiga Escola Normal. Dona Teresa casou com o filho de Laís, Márcio, e ganhou um pedacinho do terreno, onde até hoje mora.

A reforma e revitalização da casa que hoje abriga a sede do Comdica ressuscita o diário das recordações de dona Teresa. Nele, um passeio pela memória do bairro. "No antigo Jacarecanga todos eram muito amigos, botavam as cadeiras na calçada, sentavam-se. As crianças ficavam por ali. Não tinha essa violência de hoje. Dá uma pena tanta casa bonita por aqui. A Laís (de Azevedo) tinha muito amor pela casa dela. Nosso pessoal (em Fortaleza) costuma não ter memória".



Fonte: Jornal O Povo/Terra dos casarões e pesquisa de internet

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