Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Parque Pajeú
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O Pajeú vai despejar no...Poço da Draga

"O Riacho Pajeú, já nomeado Marajaik (devido a existência das palmeiras que ali cresciam), ou riacho das palmeiras, durante a invasão Holandesa, foi posteriormente chamado de Ipojuca e Riacho da Telha, antes de ser batizado com seu nome atual. Mesmo a grafia do nome atual mudou, de Pajehú, no início do século XIX para a moderna forma adotada nos primórdios do século XX.

Hoje o nome do riacho não aparece nas representações cartográficas de maior circulação, como guias turísticos ou mesmo o Google Maps. No Plano Diretor de Fortaleza apenas alguns trechos curtos do riacho são marcados e nomeados, ficando a maior parcela do curso d’água desassistida das leis. Também o curto trecho do Parque Pajeú vem assistindo à mudança de seu nome próprio. Há alguns anos, com a adoção do espaço pela Câmara dos Dirigentes Logistas, passou a ser mais popularmente conhecida como Praça da CDL."   (Cecília Andrade - Arquiteta e urbanista)


Sempre que chove, alguns pontos da cidade vira um rio, mas o que muitas pessoas não imaginam, é que um riacho encontra-se sufocado, desmatado, impermeabilizado e em boa parte, enterrado em um jazigo de concreto. Aterraram o riacho Pajeú e hoje, a natureza só está cobrando o que é seu de direito!

“Cobertos e esquecidos, antigos cursos d’água ainda correm através da cidade, enterrados em grandes tubulações, canais primários de um sistema de drenagem subterrâneo. Seu ruído abafado pode ser ouvido sob as ruas após uma chuva pesada; eles são invisíveis, mas sua contribuição potencial às enchentes à jusante não é, todavia, diminuída, e sim, aumentada.”(Spirn, 1995)

"Em um dia de forte chuva, as memórias da cidade são ativadas. Memórias de rios, de várzeas, de mato, dos terrenos baldios e dos alagados… Aquilo que parecia uma simples lembrança distante de um córrego inofensivo, rebaixado, contido e invisibilizado, ganha com a pressão da chuva a fúria titânica de uma enxurrada.


 

O rio subterrâneo do inconsciente vence as forças que o aprisionaram num porão de concreto e irrompe na superfície. O rio recalcado retorna na forma de doença – a água podre do Pajeú é regurgitada dos bueiros, as bocas de lobo vomitam o rio e as ruas são tomadas pela enchente, lixo, ratos, baratas e toda a fauna que lhe restou.

E como acontece a cada forte chuva, reaparecem junto com o riacho as mesmas imagens de carros boiando, de ônibus-anfíbios, pessoas ilhadas em altas calçadas…"  (Cecília Andrade - Arquiteta e urbanista)





Em 1918, começaram a canalizar o rio para "ajudar" no crescimento da cidade. Esse crescimento sem limites e sem um bom planejamento, atingiu o espaço do manancial. Na administração de Lúcio Alcântara, 3.360,00 metros do Pajeú foi canalizado e seu leito modificado, seu curso desviado e sua fauna e flora perdidos. O que vemos hoje, em nada lembra o rio que observamos no mapa (primeira imagem), que abastecia a pequena vila que crescia próxima a sua margem. Como legado de sua gestão, Lúcio Alcântara entrega a 1ª etapa do Parque Pajeú, entre a rua Pinto Madeira e a Avenida DomManuel. As obras realizadas compreendiam a canalização do tipo canal aberto em pedra arrumada e canal fechado em concreto armado, o que equivale à cerca de 70% da extensão das margens do corpo hídrico.




O texto, encontrado em: FORTALEZA: Administração Lúcio Alcântara (março 1979/maio 1982), avalia ainda o resultado das obras e o "benefício" atingido, especialmente na Zona Central:

 […] notadamente nas áreas próximas ao Parque Cidade da criança, e da zona de comércio atacadista da avenida Conde D’Eu. Repercussão expressiva é o efeito obtido para a humanização da Zona Central, através da realização da obra de drenagem, integrada à implantação do Parque Pajeú e às reformas do Bosque do Paço Municipal. Altamente beneficiadas foram, também, as áreas marginais à Avenida Heráclito Graça, no trecho entre a Avenida Barão de Studart e a Rua João Cordeiro, e as áreas marginais à Rua João Carvalho, entre a Avenida Barão de Studart e Barão de Aracati. (FORTALEZA, 1982)

E comemora que infere-se ser da ordem de 31.775 habitantes a população diretamente beneficiada por esta realização, sendo a superfície drenada através destas obras de 456,70 hectares.




Os desvios do leito original que estranhamente parecem ser tão difíceis de precisar ficam esclarecidos nesse trecho:

 No trecho compreendido entre a avenida Dom Manuel e o Paço Municipal, as obras de canalização do Riacho foram feitas parte em canal aberto, de menor vazão, sobre o leito original e parte numa variante desse percurso original, em canal fechado que se desenvolveu sob trechos das Ruas 25 de Março e Costa Barros. […] (FORTALEZA, 1982)

O texto indica também que o Riacho foi desviado de seu leito original para a Avenida Alberto Nepomuceno, desenvolvendo-se em canal fechado a partir do ponto em que atinge essa Avenida até o mar, no Poço da Draga



Diante de tudo que já foi dito, não podemos deixar de mencionar o caso do Edifício Pajeú (notem a homenagem😟), da Firma Carneiro e Gentil, atual prédio do Tribunal de Contas do Estado do Ceará, inaugurado em 1949 com pompas e bênçãos. Pois bem, os proprietários  já haviam canalizado o riacho em seu lote (enterrando o rio sob bela lápide do edifício), fato lamentado pelo Engenheiro civil e sanitário Alcy Leitão em matéria no Jornal O Nordeste (LEITÃO, 1955), não pelo rio em si, mas porque tais intervenções impossibilitariam, como ficou muito claro nos dias correntes, a limpeza do fundo de vale, incorrendo em obstruções ainda mais problemáticas por não terem sido os canais calculados para a “medida justa” e resultando em alagamentos.

Com o crescimento da cidade para a Aldeota, o riacho foi sendo, como previa Leitão, sepultado em cada lote individual.

E o riacho vai sumindo gradativamente ...


No  Poço da Draga fica a desembocadura do riacho no mar: uma área alagadiça drenada por vários anéis de concreto, donde uma réstia de mangue permanece.
"Dezenas de documentos cartográficos desde o século XVII até o início do século XX apresentam claramente o traçado do riacho Pajeú. São mapas de engenheiros holandeses, franceses, portugueses, ingleses…são cartas de navegação, levantamentos para fins de exploração de minérios, localizações exatas para fins de defesas, plantas para planejamento, planos para execução de portos, projetos para expansão urbana."  (Cecília Andrade - Arquiteta e urbanista)



"Até os primeiros anos do século passado, os documentos mostram claramente o ponto em que o corpo d’água, hoje canalizado e escondido, faz uma inflexão à esquerda, após a quadra onde hoje se encontra edificado o Mercado Central, passando em frente ao Fortede Nossa Senhora da Assunção e depois correndo em direção norte até a foz. É de se notar que nos mapas mais antigos o Forte era banhado pelo oceano e que a área onde se encontram hoje tanto a INACE quanto a comunidade do Poço da Draga foram conquistadas do mar durante algumas décadas.


Por outro lado, os mapas da segunda metade do século passado tratam de não representar o percurso completo do riacho, que já estava canalizado, e, em alguns pontos, subterrâneo. Eles silenciam o riacho em prol do desenvolvimento urbano. Assim, gradativamente o Pajeú desaparece nos mapas recentes. Desaparece das imagens dos mapas. Desaparece do imaginário. O riacho que até além de 1850 era essencial a manutenção da vida na cidade, durante o século passado vai sendo convertido em uma cloaca máxima."  (Cecília Andrade - Arquiteta e urbanista)





"Já há algum tempo, alguns peritos, principalmente dos órgãos públicos e escritórios de planejamento, relatam uma certa controvérsia a respeito do trajeto e da localização da foz do riacho Pajeú. Essa controvérsia se deveria a falta de documentação para fundamentar qualquer alegação precisa em posse do Estado ou Município. Outros peritos ou intelectuais específicos vêm defender, com base num “rastro de vegetação”, a existência de um braço do Pajeú à direita da Av.Alberto Nepomuceno, de forma contrária a toda a documentação cartográfica ainda existente.





Se aceitarmos que o riacho mudou seu curso, podemos indagar que força geológica silenciosa e extraordinária poderia alterar a inflexão do riacho drasticamente em algumas décadas: segundo a teoria do Antropoceno, a era geológica atual seria caracterizada pelas modificações talvez irreversíveis que o homem provoca ao meio. (Cecília Andrade - Arquiteta e urbanista)

A INACE possui mapas antigos que apontam do estuário do Pajeú. É possível observar  a canalização que mudou o curso dessa foz para a continuação da Av. Alberto Nepomuceno, mais de cem metros à direita do trajeto natural do leito do riacho, bem no centro da planta da indústria e condizente com o mapa de drenagem da cidade de 1992. O "outro braço" do rio passa dentro da comunidade do Poço da Draga,  a 500 metros do leito original e escoa para o mar, por baixo de um dos galpões da empresa.
O riacho mudou-se completamente para o território da comunidade, baseado nesse novo discurso de verdade, ignorando quase quatro séculos de documentos.


Créditos: Cecília Andrade (Arquiteta e urbanista, mestranda em Artes pelo PPGArtes – UFC), Anne Whistorn Spirn - O Jardim de Granito. A natureza no desenho da cidade.
Tradução de Paulo Renato Mesquita Pellegrino. São Paulo: Edusp, 1995, Livro O Siara na rota dos Neerlandeses, de J. Terto de Amorim. Disponível
AQUI.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Cidade da Criança - Escola Alba Frota


A Escola Alba Frota foi a primeira iniciativa de educação infantil do Estado do Ceará. Criada em 1938 sob o nome Cidade da Criança, localizava-se no antigo Parque da 
Independência, no centro da cidade de Fortaleza, e tinha como objetivo oferecer educação às crianças de 3 a 6 anos.
Em 1996, mudou-se para a Praça da Câmara dos Lojistas (Parque Pajeú).

Prédio da escolinha

Este estabelecimento está subordinado administrativamente à Secretaria Municipal de Educação e Assistência Social (SEDAS), órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza, e à Secretaria Regional II, instância administrativa da Prefeitura. Oferece apenas educação infantil, funcionando em dois turnos: manhã e tarde.


Desfile da escolinha Alba Frota, no Parque das Crianças. Na foto, o jornalista PC Norões e a prima Elaine -Arquivo do Blog do Laprovitera


Os alunos são oriundos de diferentes bairros da cidade, mesmo distantes da escola. Segundo relatos de mãe e da diretora, os pais preferem trazer os filhos para uma instituição que consideram de qualidade porque as crianças aprendem a ler rapidamente. A escola aceita, inclusive, crianças com Necessidades Educacionais Especiais.


Escolinha Alba Frota, no Parque das Crianças em 1938 - Assis Lima



Arquivo Nirez

Com relação à parte administrativa, a escola segue uma legislação interna e a orientação da 
Secretaria Regional II e da SEDAS. Tem autonomia para desenvolver ações de arrecadação de recursos financeiros, podendo empregá-los de acordo com a real necessidade do momento. Do ponto de vista jurídico, quando a escola tem alguma dúvida quanto à tomada de decisão, consulta a Assessoria Jurídica da própria Regional. 
A escola goza de maior autonomia no campo pedagógico, porque é a única que oferece educação infantil, no bairro onde se localiza. Pela sua especificidade, ela tem autonomia de adaptar o conteúdo sugerido pela Secretaria Regional ou pela SEDAS, inclusive podendo acrescentar outros conteúdos. Os professores, portanto, possuem  autonomia para desenvolver o processo ensino aprendizagem. 


Quadrinha das crianças no Parque da Liberdade - Blanchard Girão


A maior parte dos não-docentes da Escola Alba Frota está constituída por mulheres.
Elas ocupam os cargos de maior hierarquia na escola: direção, supervisão e orientação, secretaria  e biblioteca. Os homens apresentam formação de nível médio e ocupam cargos de serviços gerais e outros.

Fazendo parte da história da educação cearense, a Escola Alba Frota destaca-se como uma escola pública de educação infantil que, reconhecidamente, oferece um ensino de qualidade.


A militante do PSOL Noélia Brito (à dir.) ao lado de sua irmã Norminha nos áureos tempos da Escolinha Alba Frota - Como a fardinha era bonita!


"Foi nessa tradicional escola da Prefeitura de Fortaleza que eu aprendi a ler e a escrever. Foi lá que cursei o que, na minha época chamavam de Jardim I, Jardim II e Alfabetização, quando fui apresentada à "Cartilha da Talita" e depois eu me formei "Doutora do ABC", com direito a diplominha e tudo...
...Que lugar maravilhoso existiu ali um dia nos meus tempos de criança, quando, durante o recreio podíamos, inclusive, passear em meio a plantas, obras de arte e num zoológico e isso tudo numa escola municipal..."  
Noélia Brito (Militante do PSOL )





Alunos da Escolinha Alba Frota em 1961/62 - Acervo Sônia Lúcia Machado


No dia 28 de janeiro de 1938, foi criada, dentro do Parque da Independência, a Cidade da Criança, escola de ensino pré-primário sob direção da professora Zilda Martins Rodrigues.
Instalou-se no dia 26 de maio.



Cidade da Criança em 1968. Acervo William Beuttenmuller
Hoje tem o nome de Escola Infantil Alba Frota e está no Parque Pajeú. 

O povo confunde as denominações, misturando o parque e a escola, chamando-o, erradamente de "Parque das Crianças". 


O fundador da escolinha Cidade da Criança, foi o Dr. Raimundo Alencar Araripe, que foi Prefeito de Fortaleza no período de 1936 a 1945.
Preocupado com a problemática educacional, o Dr. Raimundo Alencar Araripe criou o Serviço de Educação Infantil, baseado no Decreto/Lei nº 367, de 28/01/1938, com a seguinte organização didática:

Ensino pré-primário, jardim de infância de 3 a 6 anos, turno da manhã.
Parque de recreio para criança de 7 a 14 anos, no turno da tarde, com atividades variadas.




 

Raimundo de Alencar Araripe, Getúlio Vargas e a professora Zilda Martins Rodrigues no Parque da Independência, onde funcionava a Cidade da Criança.

Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez


Getúlio Vargas entre o interventor Menezes Pimentel e a professora Alba Frota. A esquerda, de paletó branco, está o prefeito Raimundo de Alencar Araripe. Ano 1940
Em 10 de outubro de 1967, de acordo com o Decreto/Lei nº 2962, surge uma nova denominação: Escola Alba Frota, por sugestão da escritora cearense Raquel de Queiroz.

Sala de aula da então Cidade da Criança (CC). Acervo pessoal de Shirley Cruz

Aluninho Nonato Pontes da
escolinha Alba Frota em foto de 1953.
Ao fundo vemos o Teatro José de Alencar.
Acervo Ana Lídia
A EMEIF Alba Frota atualmente realiza atendimento às crianças na faixa etária de 3 a 6 anos de idade, busca cumprir duas funções indispensáveis: o cuidar e o educar, complementando a ação da família e da comunidade. Lembramos que cuidar aqui não se relaciona somente em cuidados com a higiene física, mas também ao importante papel na disseminação de informações que levem família e sociedade a melhor compreender e atender à criança pequena.
Sendo assim, a EMEIF Alba Frota considera a infância como um período de suma importância para o desenvolvimento infantil sendo prioridade para este período, a interação da criança com crianças da mesma idade, de idades diferentes, com adultos, com outras crianças e o meio em geral.




Acervo pessoal Jackson Marley

Fachada da Escola no Parque Pajeú - Fique de Olho


A professora Alba Frota

Alba de Mesquita Frota nasceu em 17 de setembro de 1906, no Sítio Maraponga, em Parangaba, filha de Otávio Menescal da Frota e Maria de Mesquita Frota.

Estudou, desde o curso primário, no Colégio Imaculada Conceição, de onde saiu professora em 27 de novembro de 1925, fazendo parte da primeira turma de diplomadas, depois da equiparação daquele educandário à Escola Normal pedro II, do Rio de Janeiro.

Foi professora da Cidade da Criança e mais tarde nomeada diretora em substituição à D. Zilda Martins Rodrigues.


Blog da Escola


Dedicou-se, então, exclusivamente e com maior amor àquela escola que hoje tem seu nome.

Alba Frota foi professora, jornalista, cronista, poetisa, secretária executiva da UFC, Membro da Casa Juvenal Galeno, e figura de relevo da intelectualidade cearense. 


Biblioteca da Escolinha Alba Frota (recém inaugurada) - Fique de Olho



Arquivo Blog Fique de Olho


Em 18 de julho de 1967, morre em desastre aeronáutico, em Fortaleza, juntamente com o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que na véspera tinha vindo ao nosso Estado pela primeira vez depois que havia deixado a Presidência da República. O ex-presidente, que fora de trólei a Quixadá, retornava de avião, quando ocorre o choque deste com um avião da FAB antes de sua aterrissagem nesta capital.
Perecem também os companheiros de viagem, o irmão do marechal Castelo Branco, Cândido, o major Manuel Nepomuceno de Assis e o piloto Celso Tinoco, que sobrevive por algumas horas após o acidente.
Escapa o filho do piloto Emílio Celso, que é hospitalizado.


Quinze dias após o acidente, a escritora Raquel de Queiroz escreveu uma crônica, expressando toda sua dor pela perda da grande amiga:


Raquel e Alba
Acervo Rachel de Queiroz/IMS
ALBINHA 

Nesta grande desgraça, para o Brasil e para os seus amigos, que foi a morte do presidente Castelo Branco, sofri uma dor a mais, uma dor bem funda: entre os passageiros do fatal avião estava Alba Frota, a amiga de infância, de mocidade e já agora de velhice, a companheira de colégio desde o primeiro ao último normal, a colaboradora, a presença querida e fiel: só uma palavra pode dizer o que Alba foi para mim: a irmã.

Alma mais gentil jamais Deus pôs neste mundo. Tinha o instinto da amizade, o dom precioso da lealdade e da fidelidade. Nunca faltou a um amigo, aliás, creio que nunca faltou a ninguém - amigo, conhecido ou até inimigo. Inimigo não dela, mas de algum de nós, que ela cultivava escondido da gente, até que o transformava em amigo também.

Ah, Albinha, que posso dizer a você, nesta hora? Mas sei que lhe devo este testemunho, o que faço ainda chorando. Mas você estranharia a falta de palavras escritas de jornal, comemorando a partida. Quantas vezes não me advertiu - "Você está devendo uma crônica a fulano que morreu" - até me telegrafava, exigindo. Sem ser ela própria uma escritora, tinha por toda expressão literária uma devoção quase religiosa. Eu lhe dizia brincando que papel impresso era para ela como palha benta - e era verdade. Mormente papel impresso com texto de um dos seus inúmeros amigos escritores. E sem ser uma criadora, como disse, fez mais pelas letras e pelas artes de que muita gente de nome celebrado. O apoio que dava aos artistas pobres, obscuros, na fase difícil do assalto à fama. Quanto pintor que hoje tem nome, não lhe deve os primeiros estímulos, as palavras de confiança, a apresentação a um patrono, a venda de um quadro em hora de aperto. Quanto escritor ou poeta, em crise de desânimo, não voltou mais otimista à sua tarefa, depois de uma boa conversa, de um cafezinho, de uma discussão com a "Albinha".

A velha casa da Aldeota, que os amigos chamavam brincando a "Mansão da donzela", era um refúgio para muita alma perdida, para muito coração atormentado. Era um pequeno museu - paredes, armários, vitrinas e prateleiras transbordando de quadros, esculturas, santos, peças folclóricas, objetos antigos, bricabraque, que acumulara ao longo da vida - presentes de artistas amigos, lembranças de viagem. Que era outra paixão dela, viajar. Hoje não sei se terei coragem de entrar mais naquela casa, ver tudo aquilo tão marcado por ela - e o papelório, o meu papelório todo, de que ela se fizera depositária, e colecionava e defendia com feroz cuidado!

Quando chegou aqui em casa, no grupo de amigos, foi uma alegria, uma surpresa. De longe, antes de descer do carro, já gritava coisas atrapalhadas, enquanto a gente corria para a abraçar. Passou a última noite de vida - inaugurando um quarto novo onde não dormira ninguém. Eu vim acomodá-la, dei-lhe cigarro e cinzeiro, ajeitei a luz, exigi que pusesse um cobertor, ameaçando-a com o frio da madrugada.

Acordei ouvindo a sua voz na sala - madrugadora e alvoroçada, como era sempre quando tinha que viajar. Enquanto lhe servia o café ainda insisti em que não fosse de avião, seguisse para Fortaleza no trole motor, que voltava vazio. Ela riu, disse que não, que no avião chegaria mais depressa.

Chegou mais depressa, sim, Albinha. Chegou mais depressa no céu, em que você acreditava com fé humilde. Afinal, lá mesmo é que é o seu lugar.


Fonte: Correio do Ceará


Arquivo Blog Fique de Olho



Crédito: Blog da Escola, Fique de Olho, Levantamento do custo-aluno-ano em escolas de educação básica que oferecem condições para oferta de um ensino de qualidade - UECE, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez, Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) - 1986 e 2010

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Parque Pajeú - Praça da CDL



Em 09 de novembro de 1977, o prefeito Evandro Ayres de Moura sanciona lei autorizando a construção da Avenida Parque Pajeú, que teve concorrência pública em 12/12 na Empresa Municipal de Urbanização de Fortaleza - Emurf.
Era para iniciar na Avenida Dom Manuel, atravessar a Rua Pinto Madeira e ir até a Rua do Pocinho


A primeira etapa foi inaugurada no dia 16 de outu
bro de 1981. O trecho compreendido entre a Avenida Dom Manuel, a Rua Pinto Madeira e a Vila Romero, na Avenida Visconde do Rio Branco, nada tinha a ver com a avenida antes projetada e anunciada, que atravessaria o Centro da Cidade.


Parque Pajeú em 1981 - Foto Gentil Barreira

 

O Parque Pajeú foi criado em 1982 como fruto da urbanização das margens do Riacho Pajeú. A partir de 1997 a Prefeitura de Fortaleza, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e os artistas plásticos cearenses, transformaram o parque em uma grande área de exposição permanente de esculturas. Decreto Nº 5565/80 de 24/04/1980 – Declaração de Utilidade Pública para desapropriação.

A extensão proposta no começo, ia muito além do que ali está configurado estendendo-se até a foz do Pajeú na Praia de Iracema.


 
Arquivo do Blog Inventário Ambiental de Fortaleza

Em 1997, a Prefeitura de Fortaleza juntamente com vários artistas plásticos, criaram um novo espaço cultural abrigando diversas esculturas buscando uma maior valorização da história cearense.

O Parque das Esculturas, como também é conhecido, conta com uma área de aproximadamente, 15.335 metros quadrados.


 
Arquivo do Blog Inventário Ambiental de Fortaleza

O Riacho Pajeú corre integralmente em Fortaleza.

"Pajeú" é um termo de origem tupi, significando "rio do curandeiro", através da junção de paîé ("curandeiro") e 'y' ("água, rio"). O riacho já foi chamado de Rio Marajaik, na época da ocupação holandesa, no século XVII. Posteriormente, chamou-se Rio Ipojuca, Rio da Telha e, finalmente, obteve sua denominação atual.


Foto de Herlanio Evangelista

Foto de Herlanio Evangelista

O Pajeú nasce próximo às ruas Silva Paulet, José Vilar, Bárbara de Alencar e Dona Alexandrina e percorre quase 5 000 metros até chegar ao mar, na Praia Formosa (Praia de Iracema). Sua foz fica no "Poço da Draga", onde atualmente existe o estaleiro Indústria Naval do Ceará. Existem ainda algumas áreas abertas do riacho, mas a maior parte está canalizada em galerias subterrâneas. O Riacho Pajeú encontra-se exposto em área urbanizadas atrás do Mercado Central de Fortaleza, no bosque da Prefeitura de Fortaleza e no Parque Pajeú. Existem outras áreas abertas do riacho, mas que não são áreas públicas.

A canalização do riacho foi efetuada em 1918, pela antiga "Diretoria de Obras Públicas". No bosque do Paço Municipal, o riacho é monitorado e limpo.




Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez, Wikipédia e Inventário Ambiental de Fortaleza


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