Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Leão do Sul
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 17 de junho de 2010

O bonde III

Bonde na Estação da RVC, 1918. - Arquivo Luis Antonio Alencar

Quem teve a felicidade de se transportar utilizando-se do bonde até os fins dos anos de 1947, e ultrapassou meio século de existência, pode ainda recordar para dizer da sensação que sentia até no balanço causado pela trepidação do bonde que vibrava no deslizar dos trilhos. Tão perfeitamente ajustados ao solo como duas listras de ferro que pareciam intermináveis na sua forma perpendicular. Na ardência do sol a pino essas duas listras negras reluziam como se fossem faiscar no calor, capaz de queimar quem ousasse pisar sobre as mesmas descalço. Era o trilho de ferro de intenso brilho e por onde os bondes passavam conduzindo passageiros. Contrariamente, à época invernosa, os trilhos parecia que se escondiam nas pequenas poças e regos d’água formados pelas chuvas caídas ao solo, como se estivesse das nuvens recebendo prenúncio da chegada do inverno; para isso o bonde se munia com o aparato das sanefas brancas listradas de verde, que acionadas verticalmente deslizavam por fresta e fechavam o compartimento de cada banco tornando-o protegido das águas das chuvas. O mesmo ocorria quando o sol estava a pino e muito quente. Embora, às vezes, essa fase invernosa não se prolongasse quase nada, contrariando o período de sua duração, do seu devido tempo, eis que a escassez pluviométrica se acentua e o nosso Ceará vem a sofrer as agruras de uma seca, que no seu império absoluto, expulsa levas e mais levas de nossos irmãos sertanejos que por aqui se achegam à procura de emprego e melhores dias para a família. Mas, mesmo assim, o sofrido cearense que de tudo tira proveito, até do sofrimento e da desgraça atmosférica, para amenizar o sofrimento causado pelo efeito da metereologia, arranja jeito para filosofar, quando resolve emigrar do sertão bravo e toma o trem rumo à Capital. E dentre eles surge sempre o matuto inteligente e astuto que quando desce do trem sabe que chegou à Capital; observa a diferença logo na Estação central, e quer satisfazer a curiosidade de conhecer o tão falado “bonde elétrico” que tem na Cidade e transporta gente, porque até então só conhece além do trem “o lombo dos animais”, automóvel, nem sabe se é “homem ou se é mulher”... Em aqui chegando e descobrindo o bonde verseja no repente: I Eu vim do sertão, pro’ mode vê A capitá do Ceará! Eu vi coisa do árcu da véia! Qu’i faz à genti siarripiá. II Q’uando eu cheguei na estação centrá Vi u’ma luz acendê sem pavio U’ma “gaiola cum nome de bonde”, Qui vinha danada pu riba du trilhu!! III Na casa em qui fui amoitado, Tinha u’ma “tirrina” no pé da mesa O povo cuspia dentro, Meu Deus nunca vi Tama-nhá nogenteza. Daí corria o olhar para cidade baixa, ou seja, a descida do curral das éguas e logo se engraçava de uma “grinfa” já traquejada e levava para dançar no Salão Azul ou no Bola Preta... ou para ver o “Açude do Sr. Boris” - a Praia Formosa. O nosso passageiro ilustre do bonde Via Férrea - é o naturalista, - o cientista Prof. Dias da Rocha, que morou durante 61 (sessenta e um) anos (de 1899 a 1960) na Rua 24 de Maio No 214, há exatamente uma quadra da Praça da Estação Central - entre as ruas Sen. Castro e Silva e Senador Alencar, vizinho à antiga Escola de Artífice do Ceará (esquina da Rua Senador Alencar). Um pouco de sua história: - “Dic. Barão de Studart”. Francisco Dias da Rocha - Filho do negociante português Joaquim Dias da Rocha e D. Francisca de Paula Rocha, nasceu em Fortaleza a 23 de agosto de 1869. Avós paternos: Dr. Maximiliano Dias da Rocha, que dirigiu durante alguns anos o antigo Colégio da Formiga, na cidade do Porto, e foi professor de Latim na mesma cidade, cadeira que obteve por concurso após a revolução de 1820, e D. Maria José Pinheiro Chagas, prima legítima do escritor Pinheiro Chagas. Avós maternos: Professor Francisco de Paula Cavalcanti e D. Cosma Rufina de Pontes. Começou seus estudos em 1880 nos Colégios S. José e Atheneu Cearense, mas teve de os suspender em 1886 para dar um passeio a Europa d’onde voltou no ano seguinte. Tinha o propósito de completar os preparatórios para seguir a carreira de Medicina, o que aliás não realizou a conselho do pai, que via nele o continuador de sua casa comercial. Constrangido, abraçou essa carreira, mas ao mesmo tempo dedicava as horas que lhe sobravam às leituras das Ciências Naturais e à aquisição de espécimes da fauna e flora cearense. Em 1898, deixando o comércio, entregou-se completamente aos estudos das ciências, suas prediletas, e tomaram tal incremento suas coleções que organizou um valioso museu a que deu o nome de “Museu Rocha”, o qual se compõe de seções: Botânica, Arqueologia, Minerologia e Zoologia, e um jardim com coleções de Fougeras, Cactáceas e Aráceas cearenses e de muitas outras plantas. Para maior divulgação das raridades que possui, e como instrumento de estudo, deu início à publicação do Boletim do Museu Rocha. O primeiro número dessa interessante publicação, correspondente a janeiro, foi impresso nas oficinas do Cruzeiro do Norte, editora e Livraria Araújo e distribuído a 6 de junho de 1908. - “Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense pelo Dr. Guilherme Studart - Barão de Studart - Volume Primeiro - 1910. Pág. 292”. O Prof. Dias da Rocha, juntamente com outros estudiosos fundaram em 1916 a Faculdade de Farmácia, da qual foi ao mesmo tempo aluno e professor de Botânica Aplicada à Farmácia e História Natural. Em 1918, mais uma vez, congrega-se com novo grupo para fundar a Escola de Agronomia do Ceará, onde foi seu segundo diretor e professor de Fitopatologia e Botânica, recebendo mais tarde em sua homenagem, o Centro Acadêmico Dias da Rocha, o seu nome e, em seguida, por iniciativa de seus ex-alunos, a herma no pátio da Escola de Agronomia em homenagem aos seus 90 anos - “Zenilo Almada - Revista do Instituto Ceará - vol. 107 - 1993. pág.302”. Ainda em homenagem ao professor Dias da Rocha, foi-lhe concedida a denominação do seu nome numa das ruas do bairro Aldeota, por iniciativa do grande e inesquecível amigo Dr. Raimundo Girão quando secretário de Cultura do Município.

Na foto, um bonde elétrico no centro da capital cearense, em meados do século XX. Na altura do depósito, o bonde dobrava à esquerda e, depois de cerca de 50 metros, na rua 24 de Maio, parava na esquina da rua Castro e Silva. Virava a lança, voltava e parava de novo ao lado da Estação Central, para dar embarque (serviço inverso de quando vinha trazendo passageiros para os trens urbanos) aos passageiros que haviam chegado ou outros usuários que demandavam o centro da cidade. Mais histórias: Um viajante inglês registrou a existência de bondes em Fortaleza na década de 1870, mas outras fontes afirmam que a primeira linha de bondes puxados por cavalos, entre a estação ferroviária e o centro de Fortaleza, foi inaugurada pela Companhia Ferro-Carril do Ceará (FCC) em 25/4/1880, usando bitola de 1.400 mm a mesma usada pela Trilhos Urbanos na linha de bondes a vapor em Recife. A Ferro Carril do Parangaba abriu uma linha para o lado Sul da cidade em 18/10/1894 e a Ferro Carril do Outeiro (FCO) iniciou sua linha no lado Leste de Fortaleza em 24/4/1896. A Ceará Tramway, Light & Power Co., Ltd., registrada em Londres em 11/12/1911, comprou os sistemas da FCC e da FCO e inaugurou a primeira linha de bondes elétricos da capital cearense em 9/10/1913, agora com bitola de 1.435 mm. A linha Parangaba foi fechada em 1918 e não chegou a ser eletrificada. Todos os veículos elétricos de Fortaleza tinham um padrão, com troles: a United Electric construiu 30 em 1912 e dez em 1924. A linha de bondes de Fortaleza foi fechada por problemas elétricos em 19/5/1947 - três semanas após o fechamento do sistema de bondes em Belém. Vinte anos depois, em 25/1/1967, a Companhia de Transportes Coletivos inaugurou duas linhas de trólebus entre o lado Oeste da cidade e o Largo do Carmo.

A linha do bonde Via Férrea, cujo nome deve ter sido atribuído em virtude do fato de estacionar na Praça da Estação Central - rede Ferroviária Cearence (RVC), seu percurso obedecia ao seguinte itinerário: partia da Praça do Ferreira - seguia pela rua Guilherme Rocha entrando à direita na rua Barão do Rio Branco até alcançar a esquina da Santa Casa de Misericórdia, quando entrava à esquerda na Rua Dr. João Moreira, passando em frente à Estação Central (trem) e dobrando à esquerda para estacionar no fim do quarteirão da quadra da antiga Praça Gal. Sampaio, hoje - Praça Castro Carreira, quando inicia a rua 24 de Maio, esquina com Senador Castro e Silva. O retorno obedecia o mesmo percurso. Como se pode fazer idéia, era a menor linha de bonde da Ceará Light existente à época, mas atendia a grande número de passageiros que iam em visita aos doentes da Santa Casa e aos detentos do Casarão da Rua Sen. Jaguaribe - Cadeia Pública, cujos fundos davam para a rua Dr. João Moreira, na quadra da rua Senador Pompeu - (lado nascente) e Gal. Sampaio - (lado poente), no início da descida do Curral - local onde se aglutinava maior número de prostitutas, reduto de boêmios, músicos e cantores, sobretudo, para os que apreciavam os banhos de mar na Praia Formosa. Daí surgiu um barracão de madeira - pintado de cor verde, que servia para guardar roupas e pertences dos banhistas e, com direito a banho com água doce, que mais tarde virou associação para dar início ao grande clube Náutico Atlético Cearense. O bonde Via Férrea atendia aos passageiros que se dirigiam à Santa Casa de Misericórdia e aos reclusos e detentos da Cadeia Pública, que cumpriam pena naquela casa de correção. A pé enxuto desciam os passageiros que iam apanhar ou deixar parentes e amigos na Estação Central, para viagens aos sertões cearenses. Atendia de certa forma a várias camadas sociais. No bonde viajavam as elegantes senhoras enchapeladas e portando guarda-sol, que se dirigiam à Praça do Ferreira para fazer compras, bem como as que para sessões à tarde se dirigiam aos cinemas Majestic, Moderno, Diogo ou, ainda, para tomar sorvete no Eldorado do inesquecível e querido amigo Antônio Figueiredo (“Figueiredão”) que, com D. Márcia Amora, formava uma grande família. A sorveteria “Eldorado” tinha fama por fabricar os melhores sorvetes da cidade, era por isso ponto de encontro dos jovens e de atração da sociedade da época, que para lá se deslocava para saborear os mais típicos sorvetes e lanches de excelente qualidade. O Bar Jangadeiro do Sr. Luís Frota Passos - depois local ocupado pela Farmácia Faladroga é, hoje no mesmo local, loja de tecidos da família Otoch - na rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira. Era o mais requintado bar da época, por manter diariamente uma vesperal animada por conjunto de pau e corda, quase uma orquestra de câmera. A freguesia se compunha de pessoas gradas, pertencentes à camada social de alto coturno, porque dela fazia parte a aristocracia da cidade que, depois, com a chegada dos americanos a esta capital nos anos 40 (tempo de guerra), tomou ares cosmopolitas e se misturou com lindas jovens casadoiras, dando origem às famosas e discriminadas coca-colas (moças faladas da época). Esse envolvimento das moças com os soldados americanos que aqui chegaram e permaneceram por algum tempo despertou certa disputa com alunos do Colégio Militar, que vinham do Sul e eram colocados em segundo plano pelas jovens que se permitiam a namorar soldados americanos. Aqui ainda não se conhecia a bebida Coca-Cola, que foi trazida por eles, e por isso apelidaram de “coca-cola” as jovens que namoravam americanos formando uma extensa lista... Mas deixemos as coca-colas sossegadas e falemos do quarteirão da rua Floriano Peixoto, situado na quadra da Praça do Ferreira, do delicioso caldo de cana do “Merendinha”, da família Quezado, na década de 50, perto da Rotisserie, onde se bebia o melhor caldo de cana, com o infalível pastel - de carne ou queijo - onde quase toda turma do Liceu, que estudava à noite, descia do ônibus Jacareacanga, na alameda situada bem no centro da Praça do Ferreira e corriam rápido para comprar o caldo de cana, esfriando o pastel nos grandes ventiladores, para matar a fome da rapaziada que não tinha tempo de jantar antes das aulas noturnas. Existia também já àquela época um pequeno armazém misto de mercearia e lanchonete - que tanto vendia caldo de cana, pastéis, bolos e outras guloseimas, bem como enlatados finos, ameixas, vinhos, passas e frutas secas vindos da Europa. Era a Leão do Sul - do Sr. Dimas. Mais adiante, em maior proporção, estoque e variedade, a Casa Miscelânea - do Sr. Frota, na qual gerenciava o ilustre advogado Airton Angelim. Mas, do Bar Jangadeiro ficou apenas uma paisagem viva, vista de dentro do bonde pelos passageiros, a contemplar com os olhos aquele belo espetáculo que descortinava a exuberância do requintado ambiente, deixando invejosos os passageiros do bonde que não podiam daquele agradável momento participar. Mas! Não fique triste porque tudo já passou e novos ambientes mais sofisticados e, inusitados, surgiram nessa nossa querida Fortaleza que hoje nem vale a pena lembrar porque “Nada disso nos faz companhia e ainda nos rouba a solidão” como se apregoa!!!

Zenilo Almada Advogado


"vibrava no deslizar dos trilhos" - É mesmo um efeito muito peculiar, obtido principalmente ao viajar-se em carro aberto - como eram os bondes de Fortaleza -, sentindo-se, além dos efeitos vibratórios comentados pelo articulista, a aragem do vento e um “astral” de liberdade muito característico.
"listras negras" - Os trilhos eram, na verdade, da mesma cor dos trilhos de trem, ou seja, da cor do aço polido, ou prateados, mas, devido ao fato de os trilhos de bonde terem fendas, formava-se, às vezes o efeito fotocromático a que alude o articulista.




Veja também:


O bonde - Parte IV (Bonde Soares Moreno)
O bonde - Parte V (Bonde Benfica)
O bonde - Parte VI (Bonde Praia de Iracema)
O bonde - Parte VII (Bonde Prainha) 
O bonde - Parte VIII (Bonde Outeiro)
O bonde - Parte IX (Bonde Alagadiço)
O bonde - Parte X (Bonde Joaquim Távora)
O bonde - Parte XI (Bonde Prado)
O bonde - Parte XII (Bonde José Bonifácio)


Fonte: Artigo publicado no Diário do Nordeste - Fortaleza.
Ceará - Domingo, 17 de novembro de 2002 e fotos Fortal


terça-feira, 9 de março de 2010

Rua Pedro Borges




A Rua Dr. Pedro Borges tem inicio na Praça do Ferreira, mais precisamente na Rua Major Facundo e vai até a Rua Sena Madureira, onde muda o nome para Rua dos Pocinhos; (antigo Beco dos Pocinhos).


A foto antiga data de 1933, época em que era ainda novidade o posto de carros de aluguel "Mazine", do comerciante Waldemar Gomes Freire, conhecido por "Mazine", que durou até o início de década de 60 e que durante toda a sua existência só utilizou carros da marca "Packard". O escritório do posto e garagem Mazine ficava onde é hoje a Casa Pio naquele quarteirão.


Na antiga foto vemos a pavimentação de concreto, os trilhos e fios de bondes e um exemplar de bonde, além de um "auto-ônibus" da "Light". A iluminação pública era feita por combustores a gás carbônico e na foto vemos alguns. No fundo, está, em construção, o prédio que depois abrigaria o bar "O Jangadeiro" de Luiz Frota Passos (onde depois esteve a Farmácia Humanitária) principal nos tempos de guerra.


Fachada da Padaria Lisbonense - Arquivo Nirez


Vizinho, o sobrado de esquina da década de vinte, onde funcionou o "Peixe-frito" ou "Trianon". Na dobra do lado direito da rua Pedro Borges, logo após a esquina onde foi a loja "A Cearense", de Aprígio Coelho de Araújo, que depois (1939) se mudaria para a rua Barão do Rio Branco, destaca-se o sobrado onde funcionava a famosa Padaria Lisbonense, que além do sobrado, ocupava também a casa de três portas vizinha pela direita. Em primeiro plano na foto, um guarda de trânsito característico da época, com quepe, túnica, culote e polainas.


A foto mais recente mostra a grande diferença de época pelos prédios, pela calçada, pelos postes e fios, sinalização, bancas de revistas, calçadões, novas lojas, iluminação a mercúrio, etc. Carnaubeiras enfeitam a nova praça e dois edifícios (espigões) servem de fundo. Na esquina agora estão as Lojas Leblon. Do lado direito temos hoje a Casa Amazônia; a Casa Pio, a Drogajafre, Via Sport e Leão do Sul. Do outro lado, onde foi A Cearense, hoje está uma loja do grupo C. Rolim e onde foi a Padaria Lisbonense hoje é o Shopping Lisbonense.




Fonte - Fortaleza de Ontem e de hoje, Nirez


segunda-feira, 8 de março de 2010

Pastelaria Leão do Sul - Vai um pastel com caldo de cana?


Foto do final da década de 30

Com mais de 90 anos de existência, a Leão do Sul se tornou ponto de encontro e até atrativo turístico da cidade de Fortaleza, vendendo o delicioso pastel com caldo de cana. 

Foi fundada no ano de 1926, na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza, e segundo análise de documentos antigos o primeiro proprietário foi o Sr. A. Silva.

O nome Leão do Sul surgiu desde sua fundação e há duas versões com relação à escolha deste nome: a primeira foi devido a sua localização que fica ao sul da Praça do Ferreira e porque o proprietário era torcedor do time Fortaleza Esporte Clube, e a segunda é que ele era torcedor de um time de futebol do sul do país de mesmo nome.

A Leão do Sul funcionando como Mercearia. Acervo da pastelaria
Na década de 20, o estabelecimento funcionava como uma espécie de mercearia que vendia produtos de primeira linha, além da “merenda”, vendia produtos como: enlatados importados, bacalhau de primeira qualidade, queijos, azeitonas, vinhos, doce de buriti, manteiga da terra, bombons importados, café torrado e moído na hora, dentre outros. Estes produtos depois de vendidos eram embrulhados em papel de rolo e amarrados com cordão, e o banco onde as pessoas sentavam-se para lanchar eram caixotes grandes e vazios dos bacalhaus importados.

Naquela época era comum encontrar senhores de Terno de linho branco e chapéu fazendo suas compras no centro da cidade.



Foto da década de 50

Em 1952, o empreendimento é vendido ao senhor Dimas de Castro e Silva. A administração do “Seu Dimas” como era chamado, ficou marcada pela forma simpática e afável de tratar seus clientes, estava sempre à beira do balcão pronto a atender e prosear. Naquela época a máquina registradora ainda era a manivela e fazia muito barulho ao registrar os produtos vendidos.




Com o passar dos anos, seus filhos também o ajudavam dentro da empresa, mais posteriormente cada um seguiu uma nova profissão independente.

Nesta época, o caldo de cana e o pastel já eram a dupla mais vendida na Leão do Sul. O pastel, que não era feito lá, chegava de bicicleta em latas de gordura coberto com um pano, ainda quentinho, e caldo de cana que saia geladinho da engenhoca, tinha a cana-de-açúcar raspada na hora, antes de ser moída. Muitas vezes fazia fila para se lanchar ali naquele cantinho apertado.



Na década de 50, o pastel e agarapa, eram concorridos pelos jovens que frequentavam a Leão do Sul ao final de cada sessão do Cinema Moderno ou do Cine Majestic. O caldo de cana que jorrava seu suco esverdeado na engenhoca e saia geladinho, concorria com outra bebida famosa da Praça do Ferreira, opega-pinto do Mundico. Esta bebida era um aluá feito de uma raiz conhecida na região. A pastelaria virou ponto de encontro e de paquera das alunas da Escola Justiniano de Serpa, famosa Escola Normal e estudantes do Liceu.

No ano de 1980, Renato Dantas e sua esposa, Maria Dantas, compram a Leão do Sul. Cabe ressaltar que não havia nenhum parentesco entre o primeiro, nem o segundo e o terceiro dono da pastelaria. Como vimos, ao longo dos anos foram vários os proprietários desta empresa, entretanto o nome Leão do Sul permanece até hoje, e no mesmo endereço, Rua Pedro Borges n° 193, Praça do Ferreira, Bairro Centro.

Foto da década de 50

Renato Dantas, um cearense que residiu por muitos anos em São Paulo, retornou a Fortaleza com a finalidade de se estabelecer e adquirir um empreendimento. Então foi ao centro da cidade, sentou-se na Praça do Ferreira e observou o movimento do comércio por completo, viu a movimentada Leão do Sul e seguiu até lá, conversou com o Seu Dimase “apalavraram” a compra do comércio, o que posteriormente foi legalizada.

É interessante lembrar que o Sr. Renato quando moleque entregava “bulim” (biscoito de goma) e doce de caju feito por sua mãe na Leão do Sul.

A partir do terceiro dono, Sr. Renato, algumas coisas mudaram: o pastel passou a ser fabricado no prédio da própria pastelaria, no 2º andar do pavimento superior, que depois de fabricados desciam em bandejas brancas pronto para serem consumidos, nos sabores de carne ou de queijo.


Foto de 1952

A esposa deste novo proprietário Maria Dantas, paulista, começou a fabricar os pasteis com uma receita que era de sua avó mineira. Esta receita foi aprovada pela clientela com sucesso e trouxe rapidez ao processo de fabricação, a massa ficou mais sequinha, crocante e macia ao mesmo tempo.

Apesar da mudança de proprietário, alguns funcionários foram permanecendo nas novas administrações e com o tempo somava-se ao quadro de funcionários do Leão do Sul seus descendentes e irmãos, desta forma tornou-se uma empresa bem familiar.



Com o desenvolvimento e a modernização do centro, alguns comércios foram cedendo lugar a novos empreendimentos, outros resistiam como a farmácia Oswaldo Cruz, a pastelaria Leão do Sul, a Sorveteria Odeon (Depois Itamaraty e hoje Couro Fino) e a Casa Bicho. Para acompanhar tal modernização, a pastelaria faz sua primeira reforma para oferecer mais conforto a seus clientes.

Então os velhos caixotes vazios de bacalhaus que serviam de bancos para os clientes, o balcão escuro e as prateleiras de madeira foram retirados. Foi construído um banco de alvenaria para acolher os clientes e os balcões foram trocados por um estilo mais moderno. Apesar do espaço físico da Leão do Sul ser estreito, a reforma trouxe um aspecto de modernidade, conforto, aconchego, praticidade e limpeza. Novos produtos foram oferecidos como: sanduíches naturais, coxinha, farinha de tapioca pré-cozida do Pará, fécula de batata, açúcar de confeiteiro, banana-seca e uma diversidade maior de bombons, outros foram retirados como, por exemplo, o bacalhau importado.


Foto do final da década de 60

Com o falecimento de Renato Dantas em 1988, sua esposa, Maria Dantas, que já administrava há tempos a empresa, começou a ensinar o ofício do comércio a seu filho mais velho, Dany Dantas que na época tinha apenas 13(treze) anos. A tradição da venda do pastel com caldo de cana era passada a mais uma geração.

Alguns produtos caseiros como a manteiga da terra, o doce de buriti e o colchão de moça, com o passar dos anos deixaram de ser comercializados nessa empresa devido a exigências da Secretaria da Saúde que passou a exigir a legalização dos fabricantes desses produtos. Outras mercadorias também deixaram de ser comercializadas pela diminuição da procura, vez que nos anos 90 houve um crescimento e desenvolvimento de comércios de bairro em Fortaleza, onde podíamos encontrar uma variedade de produtos mais facilmente.



Em 1997, com mais uma reforma no ambiente da pastelaria, houve algumas incrementações maquinarias. A engenhoca, de seu tamanho monstruoso ainda de ferro, que jorrava caldo de cana quando espremia a cana-de-açúcar, e fazia um barulho alto ao girar suas engrenagens, foi substituída por uma máquina de menor porte, silenciosa e toda em aço inox. Isto trouxe mais qualidade ao caldo de cana oferecido, se tornou mais puro, saudável e higiênico, visto que as garapeiras antigas feitas de ferro agregam um sabor diferenciado não tão delicioso ao suco por ser de ferro. Outra inovação da pastelaria foi o acréscimo do pastel de frango em seu cardápio.

Apesar das mudanças realizadas durante os anos, a Leão do Sul manteve o charme da dupla: caldo de cana e pastel, e a gostosa prosa ao pé do balcão. Além de fazer um delicioso e rápido lanche, histórias inusitadas e saudosistas são contadas no balcão da pastelaria, como: a azeitona com caroço, lembranças de namoricos do tempo da Escola Normal, das várias mudanças ocorridas na Praça do Ferreira e dos comércios que existiam por ali e que fecharam com o passar dos anos.
Os filhos do casal Renato Dantas e Maria Dantas foram aos poucos sendo inseridos ao trabalho no comércio, parecia estar no sangue dos descendentes a tendência para ser comerciantes. A matriz hoje em dia é administrada pelo filho mais velho Dany, apesar de sempre ter uma pitadinha administrativa de sua mãe.


Foto de 1969

Nos anos que se seguiram, o “carro chefe” da Leão do Sul, continuou sendo o tradicional e saboroso pastel com o adocicado caldo de cana. Houve várias modificações com relação à produção destes produtos oferecidos no intuito de melhorar a qualidade sempre posta em primeiro lugar.

Os tachos de fritura foram substituídos por fritadeiras potentes e sistemáticas. Ao invés do óleo para fritura, passou a utilizar gordura vegetal e posteriormente uma gordura onde é 0% trans. Ao invés de descer o pastel em bandejas, foi feito um elevador só para o pastel, e assim a empresa foi prosperando.


Foto dos anos 70

No início do século XXI, falava-se muito em revitalização do centro da cidade, recuperação das fachadas de prédios antigos, bem como proporcionar atrativos ao centro da cidade de Fortaleza, pois comerciantes estavam alarmados com a queda no movimento como um todo. Foi proposto e criado pela prefeitura da época, projetos arquitetônicos que buscavam reconstruir detalhes antigos das fachadas dos prédios, para assim resgatar o passado. Foi proposta a retirada das placas afixadas na fachada das empresas para assim destacar a beleza do prédio escondido há tempos.


Foto recente - século XXI


Devido a antiguidade do prédio onde funciona a Leão do Sul matriz, em 2003 a empresa fechou para reforma geral durante 2 (dois) meses, para recuperar da fachada e também reformar internamente. Neste período, muitos achavam que a empresa tinha fechado suas portas, e outros mesmo com o ambiente sendo reformado e a poeira para todo lado, entravam na construção buscando seu lanche predileto. Hora ou outra aparecia um e perguntava: Não sai nem um pastelzinho aí não? E caldo de cana sai? Com esta reforma foi recuperada a fachada do prédio antigo e foi feita uma modernização do ambiente interno, novos balcões de alvenaria com design mais moderno. Isto proporcionou ao cliente uma maior agilidade de atendimento e conforto, apesar do local ser estreito. Uma exposição de fotos antigas do centro foi colocada na parede, onde os clientes podem desfrutar de uma viagem ao passado fazendo seu breve lanche.

Foto de 2012 - Acervo 'No Pátio'

Segundo o gerente da matriz, Guanabara, a empresa criou um laço de ternura entre colaboradores e clientes. Muitos clientes são atraídos não só pelo produto de excelente qualidade, mas pela forma como são tratados pelos colaboradores do local, com um papo agradável. Muitas vezes já se sabe o que o cliente vai querer por sua assiduidade a pastelaria. Há quem diga que se alguém for fazer compras ou resolver algo no centro da cidade e não der uma passadinha na Leão do Sul para comer o pastel ou mesmo tomar só o caldo de cana, não foi ao centro. Parece que ficou faltando alguma coisa, é como diz o ditado: “Ir a Roma e não ver o Papa”.

Aos 79 (setenta e nove) anos de existência, a pastelaria Leão do Sul foi agraciada com o prêmio de “O Melhor Pastel da Cidade de Fortaleza”, pela revista Veja – O melhor de Fortaleza, no ano de 2005. Prêmio este que foram conquistados por mais dois anos consecutivos, ou seja: 2006 e 2007, e batalha-se para que o Leão do Sul continue conquistando mais títulos.

No ano de 2007, a filha caçula de Maria Aparecida Dantas, Kariny Dantas e seu esposo Ricardo, passaram a administrar a filial da Leão do Sul, na Aldeota (Foto ao lado). Com algumas inovações trazem a seus clientes sempre alguma novidade.

Assim como a administração da Leão do Sul sendo passada de pai para filho, tem sido assim também o aprendizado na degustação do crocante pastel com caldo de cana, que tem passado de geração em geração na família cearense.


Em 08 de Novembro do ano de 2010, uma nova filial foi inaugurada. A localização escolhida foi a Av. Bezerra de Menezes 1084, local de grande fluxo e conhecido como um dos grandes corredores comerciais de Fortaleza. O local remete lembrança a matriz, estrutura simples com um balcão de atendimento e um longo banco para sentar e degustar os pastéis com uma refrescante bebida.

Filial da Bezerra de Menezes. Acervo da pastelaria
Depois de quase 6 anos de funcionamento, em agosto de 2016 a filial Bezerra de Menezes encerrou suas atividades. O comércio desta região foi completamente prejudicado devido a nova sinalização nesta avenida da capital tão movimentada. A implantação do corredor de ônibus e a falta de estacionamento foram prejudiciais a circulação das pessoas entre as vias.



Fonte: Site da Leão do Sul

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: