Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Messejana
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



Mostrando postagens com marcador Messejana. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Messejana. Mostrar todas as postagens

sábado, 9 de outubro de 2021

Messejana - Quando os caminhos eram veredas

 

O. Justa 1919

O processo de assentamento das populações que mais tarde dariam origem a Messejana teve início quando o território cearense recebeu as primeiras incursões organizadas, tanto a mando da Coroa Portuguesa, quanto pela Igreja Católica. Cada incursão tinha objetivos diferentes e, ao longo do caminho, deparava-se com diversas etnias, nativas ou recém-chegadas, de outros pontos do território brasileiro, principalmente do Nordeste.

Em meio a essa diversidade, destacava-se a população de nome Potiguara, estabelecida no litoral cearense depois de enfrentar inúmeros conflitos na região onde hoje está situado o estado do Rio Grande do Norte. Dessa presença é atribuída a expressão Ceará, nome dado mais tarde ao rio que fica na divisa entre Fortaleza e o município de Caucaia, expressão trazida por eles, replicando nome de rio existente em sua terra natal.

Antiga Estrada de Messejana


No entanto, uma das principais concentrações de nativos entre o final do século XVI e início do século XVII dava-se na Serra da Ibiapaba, interstício entre o Ceará e o Maranhão. Este último contando com significativa presença francesa, fato motivador do envio da expedição de Pero Coelho às veredas cearenses, cujo intuito era o de garantir o julgo português sobre aquela estratégica região.

Essa tentativa, ocorrida a partir de 1603, logrou certo êxito, principalmente ao derrotar os inimigos de seu intento em algumas batalhas. Contudo, a condição não lhe era favorável devido à escassez de recursos para sobrevivência, falta de estrutura e clima hostil, fatores que somados à tentativa de dar sequência à sua campanha, visando a expulsão dos franceses do Maranhão, tenha resultado na
mitigação de suas forças, obrigando-o a retornar com seu séquito para a região próxima ao Rio Ceará.

Estrada de Messejana - O. Justa 1919

No esteio desse insucesso, seguiu outra malograda expedição quatro anos depois, agora comandada por padres jesuítas sob o pretexto de “ganhar almas” para a
Igreja Católica. Tendo à frente os Padres Luís Figueira Francisco Pinto, essa tentativa de instituir um processo de “civilização” desembarcou na foz do Rio Jaguaribe, em fevereiro de 1607, iniciando ali uma longa jornada de um mês, culminando com sua chegada à enseada do Pará, região próxima ao atual município de Parucuru. Ali, eles passaram cinco dias juntos a alguns índios, preparando-se para a subida da Serra da Ibiapaba, com objetivos específicos,
e sempre focados nos interesses da Coroa Portuguesa.

A Messejana dos anos 20. Acervo Museu da Imagem e do Som


Depois de outra extenuante caminhada, o grupo liderado pelos religiosos alcançou a região da Serra da Ibiapaba, onde adensavam-se várias etnias. Lá, os padres
passaram a aprofundar os seus trabalhos de catequese.
Infelizmente, no início de 1608, um ataque desferido por índios Tocarijus resulta na morte do Padre Francisco Pinto e, consequentemente, na fuga antecipada do Padre Luís Figueira para a mesma região onde a combalida expedição de Pero Coelho estivera anos atrás.
Estabelecido após o infortúnio e martírio do colega, o Padre Luís Figueira organiza um pequeno ajuntamento que ele denomina em seus relatos de “Aldeia de São Lourenço”, por ter sido fundada no dia em que o dito santo é homenageado pela Igreja Católica. Esse refúgio serviu de abrigo ao padre até o seu embarque,
deixando para trás as lembranças daquela infeliz viagem, tudo exposto no documento intitulado “A Relação do Maranhão”.


As duas tentativas desastrosas de estabelecer o domínio 
português no Ceará não contribuíram substancialmente para indicar o início de um processo de povoamento denso da região, tendo em vista que antes do europeu já habitavam aqui populações nativas e recém-chegadas, como é o caso da etnia Potiguara.  
Apenas entre 1611 e 1612, com o retorno de Martim Soares Moreno ao Ceará como seu Capitão-Mor, observa-se o florescimento da ocupação do litoral a partir da construção, por obra do próprio Martim, de uma ermida em homenagem a Nossa Senhora do Amparo e de um fortim na embocadura do rio Ceará, passando essa edificação a servir como um dos pontos de ancoragem daquele litoral.


Esse estabelecimento português acontece de forma mais tranquila devido à relação amistosa entre o fidalgo português e o chefe Jacaúna, liderança dos potiguaras em
território cearense, conhecida por Martim Soares Moreno desde a sua passagem junto à comitiva de Pero Coelho, amizade cultivada devido à forma como o Capitão-Mor respeitava seu povo, o que era facilitado pelo conhecimento que tinha da língua dos índios.
Jacaúna e seu povo foram trazidos da região do rio Jaguaribe até o Forte, a convite de Martim, para habitarem próximos ao rio Ceará, onde ficava a base de operação da ocupação portuguesa. O objetivo era ajudar na construção das estruturas necessárias para a manutenção da população e resguardar a região contra o ataque de tribos arredias à presença estrangeira. A aldeia de Jacaúna distava do referido
Forte cerca de meia légua, aproximadamente três quilômetros, onde hoje temos a fronteira entre o bairro da Floresta e Álvaro Weyne, em Fortaleza.

Antiga Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Seguido a esse momento, em 1613, Martim Soares Moreno deixa o Ceará para se dedicar a outras missões em nome da Coroa Portuguesa, só retornando em 1621,
passando então mais uma década junto ao amigo Jacaúna, repelindo ataques às tentativas de afirmação portuguesa na região. Em 1631, Martim deixa em definitivo o Ceará para combater a ameaça holandesa que avançava sobre os interesses lusitanos.
É notável a participação potiguara nos acontecimentos que movimentaram o início do século XVII no litoral cearense, contribuindo em muito nos primeiros passos dados a caminho da consolidação do adensamento da região. De forma menos agressiva, essa etnia mantinha relações de negócios com os portugueses desde as tensões no Rio Grande do Norte, fato que ajuda a estabelecer o julgo colonial no Ceará. Contudo, dentro desse grupo social e cultural brotou o interesse em afastar os portugueses, tendo como causa o histórico de massacres e humilhações, 
inclusive por meio da escravidão contra os índios.

Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Nesse cenário, fortalece-se a figura de Amanay, ou Algodão, filho de Jacaúna, que opera junto aos holandeses e outras lideranças nativas, formando uma aliança cujo resultado é a expulsão dos portugueses do Ceará no ano de 1637 e, por conseguinte, a tomada do Forte de São Sebastião, na Barra do rio Ceará. Nesse momento, inaugura-se um período que duraria até 1644, quando ocorre um grande massacre de holandeses por conta da insatisfação dos índios e em represália as mesmas práticas utilizadas pelos portugueses contra suas populações.
Depois de vários conflitos, o lugar do Forte é transferido pelo holandês Mathias Beck para a atual localização da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, situada às margens do majestoso Rio Pajeú, que naquela época corria de beira à beira, fato esse acontecido em 1649.

Estrada de Messejana. O. Justa 1919

Nessa altura, Portugal atua para restaurar sua primazia. Para tanto, aproveita as falhas cometidas pelos invasores do momento para incitar as tribos, promovendo,
assim, a desestabilização do domínio holandês, fato esse dado por encerrado no ano de 1654, devolvendo o controle daquelas terras à Coroa Portuguesa. Por conta disso, algumas populações que apoiaram os holandeses no primeiro momento, inclusive os potiguaras de Amanay, mantêm-se afastadas da região do forte, possivelmente com receio de novas represálias por parte dos portugueses.

Nesse meio tempo, visando evitar os problemas que envolviam um cenário de conflito e tensão, a Coroa Portuguesa se previne contra novas rebeldias, impedindo
qualquer atividade que pudesse configurar revanche contra os apoiadores dos holandeses, sem deixar de manter as estratégias de controle destinadas aos povos nativos. Esse novo contexto favorece a organização do território cearense,
culminando com o surgimento bem definido das três aldeias do forte: Parangaba, Paupina e Caucaia.


Messejana / Edmar Freitas - Fortaleza: Secultfor, 2014. Coleção Pajeú


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Diploma perdido - Geraldo Duarte




Enfocamos, aqui, acontecimento registrado no início do ano sessenta, século passado. Novamente, lembrados com saudades, o engenheiro Clóvis de Araújo Janja e o mestre de obras Manuel do Montserrat. Trabalhos do Serviço de Abastecimento d’água, do Dnocs, no distrito de Messejana.

Execução do projeto da rede abastecedora local, aprovado pela direção geral do Departamento. Na fase de assentamento das tubulações, fez-se verificado clamoroso erro técnico. Não havia projetado um ramal para atender ao hospital-maternidade. Dr. Clóvis Janja procurou o engenheiro seu chefe e do SAD, cientificando-lhe e requerendo providências para a correção. Nenhuma solução assomou. Em comentário e protesto, Montserrat externou: “Se eu fosse engenheiro, podia perder meu diploma, mas não ficava assim!”.

Dia seguinte, Janja chamou o mestre e a mim e disse-nos: “Ontem, em casa, procurei por todos os lugares meu diploma e não achei! Cheguei à conclusão de que o perdi! Portanto, vamos utilizar os tubos da reserva técnica e fazer um desvio para a maternidade!”. Deu sonora gargalhada, acendeu um cigarro que sempre pendia na boca e determinou rápida ação. Inexistiu resposta aos ofícios visando à reparação. Aquele chefe, mesmo contrário à alteração, silenciou. A extensão foi executada por Montserrat e sua turma de campo, servindo aos socorridos naquela unidade de saúde pública. Sem dúvidas, até hoje, os encanamentos tubulares ainda permanecem enterrados na área.

Quem sabe, Janja, Montserrat e os operários, de há muito moradores do Oriente Eterno, estejam a gargalhar com este artiguete...

Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mudança nos nomes dos bairros


O crescimento urbano gerou a substituição dos antigos nomes dos bairros por denominações mais modernas e atuais

No rol das confusões entre os bairros, a memória e a modernidade travam uma luta diária. Enquanto as novas gerações conhecem nomes como Antônio Bezerra, Aldeota, Meireles, Bairro de Fátima, Castelão e Messejana, moradores mais antigos lembram do Outeiro, do Lagamar, da Praia do Peixe, da Estância e do Mata Galinha. Mesmo com os nomes antigos em desuso, a simples lembrança é significativa para a identificação da população com o bairro.


Bairro Aldeota em 1973 - Foto de Nelson Bezerra

O memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, foi testemunha da mudança de nome de muitos bairros e também do desaparecimento de alguns deles por conta do crescimento de outros. O Porangabussu virou Rodolfo Teófilo, o Coqueirinho e o Campo do Pio se tornaram Parquelândia; o Outeiro passou a ser Aldeota; a Pirocaia ganhou o nome de Montese, etc. 

Nirez lembra de bairros que praticamente desapareceram do mapa da cidade, ou melhor, cujos nomes dificilmente se escuta hoje em dia. A Vila Monteiro, por exemplo, foi incorporada ao Joaquim Távora, o mesmo aconteceu com a vizinha Vila Zoraide. O bairro Tauape é outro exemplo, conta o memorialista. Identificado com a Lagoa do Tauape, no momento em que o manancial foi aterrado para a construção do canal do Jardim América, o nome do bairro praticamente desapareceu junto com as águas.

Foto ao lado do Bairro Meireles - Travessa Acaraú (Vila Bancária) em 1967. Foto de Cláudio Santos

Outro fato interessante relembrado pelo pesquisador é o caso da Piedade, bairro que nunca existiu. “As pessoas chamavam o bairro de Piedade por causa da igreja da Piedade, mas ele não existia”, lembra. Os casos são muitos, assim como as denominações. “Alguns nomes sobrevivem pela força da tradição, do poder político, outros não”, reflete a Dra. em Ciências Sociais Marinina Gruska Benevides
A nomenclatura de um bairro não é apenas uma questão estética, explica a professora. O nome que é dado a uma unidade urbana é resultado de um momento histórico e da organização da sociedade nesse dado período.

Portanto, por trás da mudança de nome de um bairro há vários fatores, como interesses sociais e políticos. Marinina Gruska observa que, anteriormente, as denominações das unidades da cidade eram escolhidas a partir de nomes da fauna e flora regionais (Coqueirinho - atual Parquelândia); das atividades econômicas que caracterizavam uma dada região (Brasil Oiticica, atual Carlito Pamplona); da tradição indígena (Pirocaia - hoje Montese) e também pelos marcos de sociabilidade da área (Açude João Lopes - hoje Monte Castelo).


Bairro  Monte Castelo em 1993

Esses nomes, continua a professora, refletiam a perspectiva histórica de uma sociedade coletivista. Com a modernidade e a ascensão dos valores individualistas, as nomenclaturas foram substituídas por nomes de personalidades, pessoas que tiveram importância para o bairro, indivíduos de poder e influência política ou que desempenharam um papel representativo na sociedade.

Assim, vemos surgir bairros como Edson Queiroz (industrial), Antônio Bezerra (escritor), Farias Brito (filósofo), etc. A professora explica que, para além das homenagens, a troca do nome de um bairro reflete uma relação política. “Apagando o nome de um bairro você apaga a memória de um povo que não se quer lembrar por diversos motivos”, reflete. Por outro lado, a ideia da mudança das denominações dos espaços da cidade são anunciadas como traços da modernidade.


Bairro Edson Queiroz em 1981 - Acervo O Povo

É o caso, por exemplo, do bairro Aeroporto. Localizado em uma área que até os anos 60 era conhecida apenas por Vila União, com a chegada do equipamento, o local passou a ser chamada de Bairro do Aeroporto. No entanto, com a transferência do terminal de passageiros para outro lugar, o nome Aeroporto praticamente caiu em desuso e a Vila União voltou a ser referência na cidade.

Consenso

Para a presidente da Federação de Bairros e Favelas, Gorete Fernandes, a mudança, seja do nome de uma rua ou bairro, não pode ser feita à revelia da população. “Tem que partir do debate, do desejo da população, precisa haver discussão”, afirma.

Ela explica que as trocas sem o consentimento da população geram problemas na entrega de correspondências e podem promover o distanciamento da comunidade. Para que a mudança seja democrática, Gorete Fernandes observa que é necessária a realização de audiências públicas e a coleta de um abaixo-assinado, que deve conter, no mínimo, 50% de assinaturas dos moradores.

Foi assim que se deu a denominação do atual Planalto Ayrton Senna. A comunidade, formada a partir de ocupações de terras, era conhecida como Pantanal. Em 2001, a população se organizou e votou pela escolha do nome atual do local. A troca foi uma forma de quebrar o estigma de violência e pobreza que a área carregava perante os outros moradores da cidade.

Benfica e Jacarecanga resistem às mudanças



Antigo Cartão Postal do bairro Benfica no início do Seculo XX.
Crédito: Carlos Augusto Rocha Cruz

Muitos bairros da cidade foram atingidos pela síndrome da mudança de nome, mas alguns deles, os mais tradicionais, permaneceram com a mesma nomenclatura ao longo dos anos, em uma demonstração de resistência simbólica. O Benfica e o Jacarecanga são exemplos de permanência. Bairros residenciais, durante muito tempo foram habitados pela classe dominante da Capital. No Jacarecanga, as chácaras e palacetes das famílias abastadas eram edificadas a partir das tendências arquitetônicas européias. Um dos exemplos disso, era a casa do intelectual Thomaz Pompeu Sobrinho, inspirada na arquitetura italiana. No entanto, a partir de 1930, com a chegada das fábricas ao bairro, essas famílias se mudaram para o lado leste da cidade e o Jacarecanga entrou em decadência. Apesar da impiedade do tempo, ainda é possível encontrar prédios que mantêm a estrutura original e relembram o tempo de opulência do bairro. Já o Benfica, corredor cultural que abriga o Campus de Humanidades da UFC, ainda guarda o tom residencial e tem como principal ícone de seus tempos áureos o prédio que hoje abriga a Reitoria da UFC, a mansão que pertenceu à família Gentil.



Bairro do Jacarecanga em 1972

Planejamento urbano

No século XIX, o Centro era o núcleo comercial e habitacional da cidade. Com o passar do tempo, ele começou a inchar e as pessoas a buscar outros espaços com maior qualidade de vida. A população, então, migrou para os sítios e áreas mais distantes em que encontravam atrativos como vegetação, mas também vias e um mínimo de infra-estrutura.

Nas décadas de 1920 a 1950, surge o fenômeno das unidades de vizinhança, que eram círculos urbanos vizinhos ao Centro. A expansão dessas áreas acaba gerando o conceito de polarização, que corresponde ao crescimento de uma unidade em relação a outra.



Bairro do Centro no início dos anos 60

Na década de 1960, observamos o desenvolvimento das policentralidades , quando o Centro não é mais o coração da cidade e as unidades de vizinhança ficam independentes. Em Fortaleza, esse processo está associado à facilidade de transporte e à mobilidade da população.

Com a policentralidade, cada bairro passa a ter uso e atrativo diferentes para a população. O planejamento urbano tem o papel exatamente de gerir esse crescimento dos bairros. O planejamento tem que zelar para que os bairros cresçam de uma forma homogênea.

Se essas ferramentas de controle urbano não forem eficazes, os bairros acabam crescendo de forma desordenada e ganhando grandes proporções.

A policentralidade é um fenômeno natural que ocorre com intensidade nos países em desenvolvimento, onde o planejamento urbano é complexo. Temos que ter noção de que o planejamento e ordenamento da cidade não é uma responsabilidade apenas do poder público, mas também da sociedade civil, afinal, somos todos agentes desse espaço urbano.


Naiana Rodrigues


Leia também:



Crédito: Diário do Nordeste

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O nascimento de Messejana II


Lagoa de Messejana - Foto de Chico Monteiro

Messejana originou-se de uma aldeia de índios Potiguaras que, segundo o historiador cearense Antônio Bezerra, no seu livro, "Algumas Origens do Ceará", já existia antes da chegada do capitão-mor Pero Coelho de Souza em 1603.
Em 1607, procedentes de Pernambuco e em trânsito para o Maranhão, chegavam ao Ceará, os padres Francisco Pinto e Luís Figueira, missionários da Companhia de Jesus. Eles desembarcaram próximo à foz do rio Jaguaribe em companhia de alguns índios cristianizados. (O Pe. Francisco Pinto já era conhecido e querido dos índios locais, tendo em vista haver estado entre eles em missão catequética). De Jaguaribe rumaram a pé, sempre afastados da costa, seguindo a rota que os indígenas conheciam para alcançar o Maranhão. À medida que caminhavam, "Iam reforçando a comitiva de novos selvagens parentes ou conhecidos que já vinham agregados a ela". Chegando à primeira aldeia potiguara, que mais tarde receberia o nome de São Sebastião da Paupina, os missionários se "limitaram apenas em comunicar-se com os índios e instruí-­los, e os deixando sossegados, prosseguiram viagem".


Conforme o Barão de Studart, na sua obra "Francisco Pinto e Luis Figueira", no dia 11 de janeiro de 1608, o Pe. Francisco Pinto era trucidado pelos índios Tocajirus. Diante disso, o Pe. Luís Figueira desistiu de prosseguir viagem e, a 19 de agosto desse mesmo ano embarcou para o Rio Grande do Norte. Escreveu o livro "Relação Maranhão", narrando a dramática viagem que fizera a Ibiapaba com o Pe. Francisco Pinto, resultando na morte deste.
De acordo ainda com o Barão de Studart na "Revista do Instituto Histórico do Ceará", Tomo XXXVIII, na seca de 1612, os índios do Jaguaribe, acreditando que o Pe. Pinto, por milagre, poderia fazer chover, foram a Ibiapaba, examinaram-lhe os ossos e "os trouxeram para umas aldeias de índios". "O chefe Potiguara, Felipe Camarão, beijou e abraçou reverentemente os despojos e fez construir uma igrejinha especial para onde foram levados num andor em procissão e ali sepultados" (esta igrejinha parece ser a primeira igreja de Messejana no local onde é hoje o centro de formação).
Segundo o historiador jesuíta Serafim Leite, citado por Aires de Montana na "Revista do Instituto Histórico do Ceará", a palavra Paupina seria a aglutinação do nome de Padre Pinto (Pai Pina), tratamento que os selvagens dispensavam à memória do grande missionário.

Essa foto é da década de 20.
Vemos a praça e a igreja de Messejana. Arquivo Nirez

Conforme Guilherme Studart , em "História do Ceará", o nome Paupina foi substituído por Vila Nova Real de Messejana da América, inaugurada em 10 de janeiro de 1760, conforme ata assinada pelo Desembargador Ouvidor Geral da Comarca de Pernambuco Bernardo Coelho da Gama Casco, juiz executor da diligência. A palavra Messejana, segundo José de Alencar ("Iracema", 2ª edição), é de origem Tupi e significa "Lagoa ao abandono" e deve ser escrita com C - Mecejana . Todavia, é um vocábulo de origem portuguesa, tendo que ser escrito com SS. – Messejana.
Foi a partir de 1870 que teve o início o processo de urbanização, transformando a vila em município, mas uma outra recolocou Messejana novamente na condição anterior até 1921, quando Justiniano de Serpa a rebaixou de novo a distrito. Vários fatores ajudaram a desenvolver o referido distrito: o comércio, a produção de algodão e o seu escoamento para Fortaleza para ser exportado, o trabalho de libertação dos escravos de Messejana, fato este graças à "Sociedade das Libertadoras Cearenses", movimento que teve participação efetiva de mulheres da terra de Iracema.
O bairro também foi berço de nomes ilustres como o escritor José Martiniano de Alencar e o ex-presidente Castelo Branco.
A primitiva freguesia de Messejana foi criada pelo Bispo de Olinda, Dom Francisco Xavier Aranha, a 05 de fevereiro de 1759, e inaugurada a 10 de janeiro de 1760, com a criação da vila nova real de Messejana da América, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, invocação esta já adotada pelos jesuítas desde a edificação da capela primitiva construída pelos mesmos em 1750. Perdurou como Freguesia durante 90 anos.
A quatro de agosto de 1849, pela lei 485, a freguesia de Messejana juntamente com o vigário Pe. Pedro Antunes de Alencar foi transferida para Maranguape sob a invocação de Nossa Senhora da Penha. A igreja matriz da freguesia Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Messejana, passou mais de duas décadas como simples capela, assistida pelo vigário de Maranguape e seus auxiliares que eram enviados a Messejana a fim de suprirem as deficiências maiores.
A atual Paróquia de Messejana é proveniente da lei 1445 de 12/10/ 1871, porém, só instituída canonicamente a 20 de fevereiro de 1873, conforme provisão episcopal de D. Luis Antonio dos Santos.
Em 1938, assume a paróquia de Messejana o Pe. Francisco Pereira da Silva que permanecendo por mais de 40 anos, foi autor de grandes empreendimentos: Reforma da Igreja abrindo uma arcada maior, entre a nave e o altar-mor, montagem do relógio na torre, construção do salão Paroquial inaugurado a 31/08/1954 com o nome Pio X, em homenagem ao Papa, construção da casa Paroquial, hoje secretaria paroquial e o Patronato Pe. Luiz Barbosa Moreira.

Em 1990, assume a Paróquia o Pe. José Maria Cavalcante. Em 1991, Pe. Álvaro e Pe. Ribamar foram residir no Parque S. Miguel e o Pe. Gilson Soares foi nomeado vigário paroquial de Messejana. Frei Martins (OFM) e o grupo de jovens iniciaram um trabalho de presença na Lagoa Redonda. Neste mesmo ano pela decisão da Assembléia Paroquial e depois regional a Paróquia de Messejana foi descentralizada em sete áreas pastorais: Palmeiras, Barroso, Guajeru, Lagoa Redonda, Pisando no Chão Novo (São Miguel, São Bernardo), área da BR e área Centro (Matriz).

Lagoa de Messejana - Foto de Chico Monteiro

Em 1760, Messejana foi elevada à categoria de Vila, passando a denominar-se Vila Nova Real de Messejana da América. De lá para cá seu crescimento foi desenfreado em todos os setores. Messejana é berço do famoso escritor José de Alencar, que muito orgulho traz para esta terra. Como ponto turístico, a Casa de José de Alencar é mantida em perfeitas condições, além de um museu histórico no local.

Lagoa de Messejana - Chico Monteiro

Messejana na atualidade

As mudanças de Messejana nunca cessaram e seu crescimento também. Sua população atual gira em torno de 45 mil habitantes e tem sua economia, principalmente, voltada para o comércio, que vem em um contínuo desenvolvimento, gerando mais emprego e renda para a população local. 
Em Messejana pode se encontrar praticamente tudo.  Na área da Educação existem bons colégios, atendendo à demanda de toda a população. Para o lazer, inúmeras churrascarias, restaurantes e casas de shows, além de incontáveis mercearias, bons supermercados e mercadinhos, muitas farmácias e agências dos principais bancos. O comércio de eletrodomésticos marca presença acentuada, com as principais lojas de Fortaleza marcando presença em Messejana. 

As indústrias de castanha, bebidas e confecções da área também estão em pleno desenvolvimento. Na área de Saúde existem o "Frotinha" (Unidade hospitalar do Instituto Dr. José Frota) o "Gonzaguinha", inaugurado no governo Gonzaga Mota, o Waldemar de Alcântara, além de outros hospitais e postos de saúde. Destaque especial para o Hospital do Coração, unidade hospitalar de referência, conhecida nacionalmente pelos serviços de alta qualidade e tecnologia que oferece ao público local e de todo o Brasil e pela competência dos profissionais que ali trabalham. 

Há que se reportar ainda, a tradicional Feira Livre de Messejana, que acontece há muitos anos aos domingos, a qual proporciona centenas de empregos diretos para feirantes além de mais 3 mil empregos indiretos. Em Messejana, que significa "lagoa abandonada", em tupi-guarani, nasceu e viveu o grande romancista José de Alencar. Diz a história que às margens da lagoa de Messejana José de Alencar se inspirou para escrever sua primeira obra, o romance Iracema, que lhe trouxe consagração. A Lagoa de Messejana recebeu melhorias no setor de urbanização recentemente, tornando-a uma das principais áreas de lazer do bairro, atraindo visitantes de toda a cidade e muitos turistas. Com a implantação da Estátua de Iracema, idealizada pelo arquiteto Leonardo Fontenele, a personagem tomou forma transformando-se no principal ícone do bairro. Com 13 metros de altura e um visual espetacular a Iracema está totalmente incorporada à paisagem de Messejana.
A Casa de José de Alencar também é um dos pontos turísticos de Messejana. Tem sua estrutura original preservada até os dias atuais. Nesse ponto histórico e cultural possui um museu onde consta um acervo composto por livros, fotografias, quadros e objetos pessoais do autor, além de restaurante aberto ao público. Vale a pena conhecer
Foto do blog Mínimo Ajuste

Pinacoteca - Arquivo http://www.cja.ufc.b

Martim e Iracema - Arquivo http://www.cja.ufc.br

As praias do litoral leste e as Tapioqueiras

Messejana é ponto de passagem para as belíssimas praias do litoral Leste. Saindo de Fortaleza pela CE-040, no prolongamento da Avenida Washington Soares, começa tudo de bom que a Terra da Luz tem para mostrar aos seus visitantes.

Na direção leste da capital cearense, após Messejana, você vai encontrar um conjunto de paisagens que a natureza guardou para você. São falésias com suas areias coloridas, praias lindíssimas e fontes de água doce para refrescar no verão ensolarado do Ceará. São quase 200 quilômetros do litoral leste com praias tão lindas que algumas viraram cenários de programas exibidos pela Rede Globo, inclusive novelas. 

Iracema na Lagoa de Messejana - Foto de Chico Monteiro

Sem dúvida, locais inesquecíveis, por onde você vai poder ver e sentir de perto este cenário mágico e o vento e a brisa do mar soprando paz e calmaria. É lá que estão as famosas praias como Prainha, Praia do Presídio (um dos carnavais mais animados do Ceará), Iguape, Barro Preto, Canoa Quebrada, Morro Branco, Porto das Dunas, Caponga e muitas outras belíssimas praias para você se encantar e curtir muito o sol do Ceará. Parada obrigatória no retorno das praias é o Centro das Tapioqueiras, local onde são servidas tapiocas de vários e deliciosos sabores, café com leite e outras guloseimas. Neste Centro também funciona uma Feira de Artesanato, que beneficia 19 artesãos. O espaço para o artesanato significa um meio de sobrevivência para as donas-de-casa da Paupina. No local são vendidas pintura em tela, bijuterias feitas de sementes, bolsas, renda de bilro, bonecas de pano e roupas. 

Esclarecimento importante:

Recebi e-mail do historiador Felipe Neto com importantes informações sobre Messejana:

"Com relação a fundação da Aldeia de Paupina pelo Pe. Fco. Pinto e Luiz Figueira esse é um erro que vem sendo cometido há muito tempo graças a conjecturas feitas no passado quando se buscava laurear a atuação dos grupos religiosos no que diz respeito a colonização. As missões catequéticas tiveram fundamental papel, mas de outras formas e em outros épocas e contextos.

No diário sobre a vinda ao Ceará escrito pelo Pe. Luiz Figueira não se faz menção textual a Paupina ou Parangaba. Outra questão é seu ponto de parada antes de seguir para Ibiapaba. Não é certo que a tribo que primeiro recebeu os Pe. foi a estacionada no que hoje chamamos de Paupina pois esse encontro ocorreu na região do Jaguaribe.

Antes do periodo holandês (1637-1654) não há documento ou menção em cartas dessa nomenclatura Aldeia de S. Sebastião da Paupina que só passa a ser mencionado depois de 1680. As aldeias do ceará se formaram após a atuação de Martins Soares Moreno a partir de 1611. Desse povoamento que depois foi removido para o que hoje conhecemos como Mondubim se formou o Arraial do bom Jesus da Parangaba. Desse grande descimento se formaram a Aldeia de Paupina e Caucaia ainda no seculo XVII.

Portanto, não se sabe exatamente, ainda quando foi fundada a Aldeia de Paupina, pelo não do que eu tenha encontrado. Ainda sobre Fco. Pinto e Luiz Figueira este último funda uma comunidade próximo a Barra do Ceará com o nome Aldeia de S. Lourenço, mas nunca Parangaba ou Paupina.

Com relação ao nome Paupina este jamais foi corruptela de Fco. Pinto. Paupina significa Lagoa descoberta ou limpa.

Como messejanense peço, por conta da audiência que seu blog tem, que ajude na recomposição dos fatos para que a historia não fique deturpada."

Felipe Neto é Historiador formado pela UECE. Nascido e criado em Messejana, onde ainda mora.
Autor do livro “Muito Além dos Muros do Forte: as dinâmicas que propiciam a anexação do antigo município de Messejana à Fortaleza em 1921 e os seus desdobramentos.


Leia a parte I AQUI



quarta-feira, 1 de junho de 2011

O nascimento de Messejana


Foto de Chico Monteiro

Messejana foi criada como “freguesia” no dia 1º de janeiro de 1760 pelo Governo de Pernambuco, com o nome de Vila Nova Real de Messejana da Américaassim estabelecida pelos primeiros jesuítas que aqui chegaram.  Logo depois foi sancionada a Lei 83, pelo então presidente José Martiniano de Alencar, instituindo uma primeira administração composta pelo Vigário com seu Coadjutor, os dois Padres seculares: Padre Manuel Pegado de Siqueira Cortez e Padre Caetano Ferreira da Silva.

Mediante Alvará datado de 08 de maio de 1758, o Governador de Pernambuco elevou Paupina à categoria de Vila, sendo a mesma inaugurada em 1º de janeiro de 1760.

Foto não datada da lagoa de Messejana. Acervo Carlos Juaçaba

Na época, Messejana foi a quarta vila de uma série de inaugurações. Antes dela haviam sido inauguradas as vilas de Viçosa (07-07-1759), Caucaia (15-10-1759) e Arronches - hoje Parangaba (25-10-1759).

Estrada de Messejana em 1919 do fotógrafo O. justa.

É certo que, antes da inauguração da vila, houve muitos acontecimentos, como: a passagem da Comitiva de Pero Coelho que rumava para a Capitania do Maranhão, a passagem, ainda que de forma rápida, dos Padres jesuítas Francisco Pinto e Luis Figueiras, além, é claro, da nominação oficial dada a Aldeia de Paupina, por ordem do Governador Geral Francisco Bezerra de Menezes através de Carta Régia datada de 18 de março de 1663. Este ato oficial denomina a então aldeia, com o nome de Aldeia de São Sebastião da Paupina. Portanto, 1607 não representa, de forma alguma, o ano de fundação de Messejana. Nada confirma isso.


Praça de Messejana em 1940. Na época da foto, a praça chamava-se 
Conselheiro Tristão. Arquivo Nirez

Os Padres Francisco Pinto e Luis Figueiras passaram pouco tempo na Aldeia, que já existia. Não há registros de nenhum marco ou documento escrito dando conta da fundação de Messejana àquela data.


A Messejana dos anos 20 - Acervo MIS

Oficialmente podemos contar com duas datas a serem comemoradas:

1) 18 de março – dia em que a Carta Régia foi escrita denominando de Aldeia de São Sebastião da Paupina, a então aldeia potiguara, fato ocorrido em 18 de março de 1663.

2) 1º de janeiro – data da inauguração da Vila de Messejana, até então aldeia de São Sebastião da Paupina, passando a se chamar daí em diante de Vila Nova Real de Messejana da América. Fato ocorrido em 1º de janeiro 1760.


Sitio da família Dummar à margem da Lagoa de Messejana. Foto dos anos 50.

Esclarecimento importante:

Recebi e-mail do historiador Felipe Neto com importantes informações sobre Messejana:


"Com relação a fundação da Aldeia de Paupina pelo Pe. Fco. Pinto e Luiz Figueira esse é um erro que vem sendo cometido há muito tempo graças a conjecturas feitas no passado quando se buscava laurear a atuação dos grupos religiosos no que diz respeito a colonização. As missões catequéticas tiveram fundamental papel, mas de outras formas e em outros épocas e contextos.

Estrada de Messejana em 1919 do fotógrafo O. justa.

Mercado de Messejana - Arquivo Nirez

No diário sobre a vinda ao Ceará escrito pelo Pe. Luiz Figueira não se faz menção textual a Paupina ou Parangaba. Outra questão é seu ponto de parada antes de seguir para Ibiapaba. Não é certo que a tribo que primeiro recebeu os Pe. foi a estacionada no que hoje chamamos de Paupina pois esse encontro ocorreu na região do Jaguaribe.

Antes do período holandês (1637-1654) não há documento ou menção em cartas dessa nomenclatura Aldeia de S. Sebastião da Paupina que só passa a ser mencionado depois de 1680. As aldeias do ceará se formaram após a atuação de Martim Soares Moreno a partir de 1611. Desse povoamento que depois foi removido para o que hoje conhecemos como Mondubim se formou o Arraial do Bom Jesus da Parangaba. Desse grande descimento se formaram a Aldeia de Paupina e Caucaia ainda no seculo XVII.

Igreja matriz de Messejana em 1974. Arquivo O Povo

Portanto, não se sabe exatamente, ainda quando foi fundada a Aldeia de Paupina, pelo não do que eu tenha encontrado. Ainda sobre Fco. Pinto e Luiz Figueira este último funda uma comunidade próximo a Barra do Ceará com o nome Aldeia de S. Lourenço, mas nunca Parangaba ou Paupina.

Com relação ao nome Paupina este jamais foi corruptela de Fco. Pinto. Paupina significa Lagoa descoberta ou limpa.

Como mecejanense peço, por conta da audiência que seu blog tem, que ajude na recomposição dos fatos para que a historia não fique deturpada."


Felipe Neto é Historiador formado pela UECE. Nascido e criado em Messejana, onde ainda mora.
Autor do livro “Muito Além dos Muros do Forte: as dinâmicas que propiciam a anexação do antigo município de Messejana à Fortaleza em 1921 e os seus desdobramentos


Leia a Parte II AQUI


Fonte: Portal Messejana


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: