Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Pensões
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Zé Tatá - O Grande Chalaça que entrou no folclore da cidade


"Quem conheceu Zé Tatá, que aqui nesta cidade residiu desde os fins dos anos quarenta até os anos noventa, e teve a calidez do convívio momentâneo e apaixonante de 

um cabaré, sentiu realizado o desejo ou frustrada a vontade, por não ter conhecido e participado das noites na zona, soube distinguir que o sussurro do impacto causado na paróquia, era maior do que o próprio pecado que já não era original, mas patrocinado pelo amor consagrado no impulso misto de virtude e pecado, que em nós pecadores se instalava como morada, tudo comandado pela força da mocidade, iniciada na infância, para realizar essa vontade quando se atinge a maioridade.

Era rumo à Pensão do Zé Tatá que toda juventude se dirigia como quem faz o caminho da roça em direção ao cortiço, como as abelhas, fazendo revoadas em torno dos mancebos, se acasalando naquele colmeal aconchegante do amor.

Zé Tatá, pessoa simples, era pouco alfabetizado, mas de tino comercial muito aguçado, o que lhe deu condição de administrar suas casas noturnas, porque era sobretudo uma figura hilariante, conhecedor de boa parte da sociedade Fortalezense, que lá frequentava e nutria suas paixões pelas desencaminhadoras odaliscas que dos diversos recantos dos Estados de Pará, Maranhão, Piauí, Recife e até do Rio de Janeiro, aqui chagavam para inquietar os corações dos cearenses desprevenidos da picada do “cupido”.

Sua maior lembrança ficou no nosso folclore, ao se dar nome de TATAZÃO ao famoso viaduto da Avenida Alberto Nepomuceno, esquina com a rua José Avelino - antiga rua Mesquita, que marcou a última morada na mencionada rua José Avelino n.° 156, quase esquina com a citada Avenida Alberto Nepomuceno.


Hoje, no viaduto Tatazão, uma multidão passa de carro por cima e outros tantos veículos por baixo, e alguém até dorme debaixo dele.

Funcionou inicialmente como casa noturna, na Rua Major Facundo entre as ruas Senador Alencar e São Paulo, em cima do prédio onde ficava Agência Admiral de Peças de Motores, “A pensão Ubirajara, depois transferiu-se para um sobradão antigo, com escadaria de madeira, Pensão Tabariz na rua Pessoa Anta n.° 120, em cima do prédio da Booth Line, onde mantinha música ao vivo, composta de vários instrumentos, sanfona, bandolim, cavaquinho, maracas, pandeiro e instrumentos de sopro, como saxofone e flauta, que faziam uma boa orquestra e se dançava até às 3 horas da manhã ao sons de samba, rumba, bolero, samba canção, valsa e fox. Mesmo dançando “colado”, o cavalheiro aguardava o momento próprio, quando se recolhia para curtir as carícias manifestadas no salão, dando “cheiro na orelha em busca do cangote da parceira”.

O prédio da rua Major Facundo com Senador Alencar em dois tempos, 1910 e 1975 - Nirez e Nelson Bezerra respectivamente


Foi na Pensão Tabariz que obteve talvez maior êxito no ramo, pela exuberância do local, frequência e mulheril que lá se hospedava. Depois Zé Tatá, abriu a Pensão Hollywood, na rua Barão do Rio Branco, em cima de uma Cooperativa com resumido espaço que não dava para dançar.


As pessoas mais relacionadas com Zé Tatá eram as colegas Marion, que se dedicava a arte de pedicure, Marlene, Paulete e o famoso Tereza que com ele trabalhou durante muitos anos e foi talvez a maior e a mais fiel amizade que teve, e ainda hoje vive, ostentando os seus oitenta e uns “biscoitinhos” de existência morando na Praia do Futuro e com o mesmo ramo de negócio.

Zé Tatá era versátil, acompanhava passo a passo os eventos que nessa cidade se desenrolavam, participando ativamente dos festejos carnavalescos. Assim durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas, que no seu porte de “homão” ocupava, no bloco, proeminente posição, recebendo calorosos aplausos de todos quanto assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorrendo a Avenida Duque de Caxias até alcançar a Avenida Padre Ibiapina, quando fazia o retorno pelas mesmas avenidas até a Praça do Cristo Redentor, na Igreja da Prainha. Era, para seu gáudio, momento de delírio e ardente satisfação, receber e retribuir os aplausos que do povo partiam em forma de manifestação e de apreço pelos trajes primorosamente trabalhados para ornar a fantasia.

Gazeta de Notícias - 30 de janeiro de 1957

Com o passar dos tempos, não participava mais do “Bloco das Baianas” mas, alugava um caminhão alegórico e, com pequeno número de músicos e instrumentos de sopro, fazia no corso a exibição de seu plantel que residia no “chateau”, cujas mulheres eram suas comensais e durante a noite faziam “salão”, como profissão, na conquista do amor à primeira vista trocando carícias e, em contra partida, tendo remunerado o seu tempo.

Era o amor sensação, amor volúpia, bem parecido com o que se vê nas atuais novelas exibidas em horário nobre, despertando na juventude o que deveria ter o tempo certo, apropriado, para tais explicitações.

Zé Tatá era muito extrovertido, bem humorado, às vezes, irônico, um tanto satírico. Seus ditos procuravam a hilaridade condizente, no bom sentido, com os histriões fesceninos.

Aqui não se quer discutir ou tecer considerações ou dúvidas quanto a sua masculinidade, mas lembrar a figura humana, por ser igual aos demais seres, do “chalaceador”, que de forma espirituosa deixou vivas recordações nesta cidade, que o acolheu como cidadão passando a fazer parte do folclore cearense recebendo seu pseudônimo, o batismo de um viaduto, “O Tatazão”. Era do seu temperamento dizer gracejos animando os frequentadores de sua casa noturna, onde imperava a alegria, com danças e folguedos, virando alegoria, após viver nesta cidade, por mais de oitenta anos, vindo de Sobral, sua terra natal, entrando assim, no conjunto das tradições do povo, expresso em costumes espalhados na população.

Assim, aquela figura exótica, cuja estatura de aproximados dois metros de altura, com quase 120Kg de massa corpórea, traços fisionômicos corretos, de prolongada calvície, de cor parda, semblante alegre, caminhar compassado, sem muita afetação, bem trajado, com sandálias quase femininas, mas com roupa adequada. Trazia o pescoço ornamentado por correntes de puro ouro, relógio no pulso e anéis com pedras preciosas.

Arquivo Nirez

Aquele homão despertava certa curiosidade a todos quantos com ele cruzassem no centro da cidade, e porque nos anos 50 cinquenta, pouca gente ousava bater papo ou mesmo trocar palavras com Tatá, pois o simples cumprimento, poderia ser comprometedor e deixar dúvidas... ou denunciar alguma preferência...

Enfim todos receavam e se preveniam de por em dúvida, naqueles idos tempos, a boa reputação. Temiam o refrão “quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele” ou “dize com quem andas, que te direi que és!” Se fosse visto ou flagrado pelos filhos de “Candinha”, estava frito e com a cotação abaixo da crítica.

Ah, sociedade retrógrada, exigente, muitas vezes era hipócrita com os seres humanos. Afinal não têm culpa de terem nascido homossexuais ou lésbicas. Biologicamente não se auto-principiaram. Já nasceram assim e por isso não deixam de ser criaturas como todos nós. Têm tudo que nós temos e às vezes virtudes que nem todos têm.

E essa discriminação que existia não só para ele, mas se estendia até para as grinfas que moravam nas “pensões altas”, do centro da cidade, e eram também excluídas da sociedade.

Quase não saiam pela cidade para fazer compras, porque as jóias e o vestuário eram vendidos na própria pensão. Quando saiam, apanhavam o carro na porta da pensão e os motoristas aguardavam na porta da loja, quase sempre sapataria - enquanto experimentavam sapatos, sandálias etc, tudo com muita rapidez.

Se, por ventura encontrassem alguém conhecido, faziam questão de não cumprimentar guardando a maior distância para não serem identificadas por seus michês, ou frequentadores dos salões.

Assim nessa pesquisa - um personagem diferente dos tradicionais - dos que também se dedicavam a manter pensões alegres ou casas noturnas, que tradicionalmente - se intitulavam - as pensões altas, por serem localizadas sempre no andar superior dos prédios antigos do centro da cidade, que foram residências das tradicionais famílias, de viscondes,
de barões, de comerciantes, enfim pessoas de fino trato, que formavam a requintada classe alta da sociedade alencarina.

Desse tempo o que se ouve dizer é que as moças com longos vestidos, com anquinhas, corpetes, cabelos com penteado de cócó, com longos pentes, fivelas e travessas cravejadas de pedras, prendiam os cabelos no alto da cabeça dando um ar senhoril às damas e senescal aos cidadãos, que vestidos com casimira inglesa nos diversos tons e cores sem se falar do excelente tecido de linho inglês, paletó preto ou azul marinho, calça bege ou riscado, ou mesmo almofadinha, jaquetão, traduziam o hábito de vestir da época dos que se dirigiam ao Passeio Público, passeando pelas alamedas da Avenida Caio Prado - local reservado na quadra, para as famílias gradas. Havia no Passeio Público, junto ao centro da praça, outra alameda que se destinava à camada social de “gente do povo”, evitando que houvesse a mistura das classes sociais. Uma chamada classe “rica” e na outra classe “pobre” ou dos empregados domésticos.


Com a retirada da banda que fazia retretas e das famílias nobres que residiam no centro da cidade, os casarões deram lugar aos estabelecimentos comerciais situadas nas principais ruas do centro.

Como exemplo cito o do meu bisavô - português Joaquim Dias da Rocha, comerciante que permaneceu por muitos anos na rua Major Facundo antiga rua da Palma, com Senador Alencar - antiga rua das Hortas, no fundo do Banco Frota Gentil- hoje Edifício Jangada, com Armazém de Secos e Molhados produtos vindos dos diversos países da Europa ainda no início do século XIX.

Eram estas ruas no lado norte do centro nervoso do alto comércio de Fortaleza, composto das mais importantes firmas comerciais, que predominavam abastecendo a capital e às diversas cidades do Ceará, no comercio atacadista e no retalho, desde os móveis de fabricação da
Áustria, Inglaterra, Portugal, França, como tecidos, pianos, instrumentos musicais, perfumes, ferragens e etc.

Como tudo na vida tem o seu tempo certo e sofre mutações com o passar do tempo, os casarões do centro da cidade foram ocupados por pensões alegres - e as mariposas ou famosas raparigas tomaram lugar “sentando praça”, como se costuma dizer, depois que entram na vida mundana.

Antes do Zé Tatá, existiam outros locais destinados às libações, como a pensão da Amélia Campos a mais famosa e outras de menor procura -Maria Cabelão” gaguinha - Irinete Alves Cabral, Oitão Preto e tantas outras. Já no dourados anos sessenta.

Prédio em frente a Padaria Lisbonense - Próximo a Praça do Ferreira

Aqueles casarões antigos do centro da cidade que outrora abrigavam nobres famílias, foram pouco a pouco se transformando em lupanares alojando as grinfas que provinham dos mais longínquos recantos do Estado e estados vizinhos, que infestavam o mercado da nossa urbe para retalhar amores a granel nos mais variados apetites masculinos.

Zé Tatá, figura de retórica a tudo assistia manifestando seu hilariante humor, animando a todos. No salão a contra-dança era com uma das comensais de sua preferência para estimular aos que participavam daquela alegria mundana, não só para mancebos, mas para respeitáveis senhores daqui da nossa paróquia ou oriundos das distantes cidades do nosso sertão cearense, que quando por lá apareciam, eram verdadeiros termômetros das boas safras algodoeiras, de sementes de mamonas, cera de carnaúba, peles e couros que faziam a receita do nosso Tesouro, manifestada pela exportação para o Sul do país e outros países, os nossos apreciados e divulgados produtos.

Dessa forma o Cabaré do Zé Tatá, também participava dessa fartura econômica, vendo os coronéis (pessoas abastadas do sertão) que lá se aboletavam formando grandes mesas num festival de raparigas que dançavam, pulavam de alegria bebendo tudo que tinham direito, comandadas pelo coronel, que simploriamente vestido no seu dolman, chinelos de rabicho e chapéu de bombucacho, dominava aquele ambiente festivo “do jeito que o diabo gosta”...

Entre os vivas e aplausos quem mais atirada fosse, ganhava o coronel, cuja preferência, a estas alturas, já não se dava conta e dizia - “o que cair na rede é peixe”...

Até porque toda aquela exultação era fruto de uma boa negociação de um agricultor que realizara entre os grandes atacadistas da “praia” como eram conhecidos os comerciantes de peles, couros, algodão e sementes que se situavam nas ruas José Avelino, Pessoa Anta, Dragão do Mar, Boris, Senador Almino, Almirante Jaceguai e outras ruas próximas.

As mariposas elegantemente vestidas de “soirée” nos tons vermelho, preto, azul, amarelo, verde, róseo mais espalhafatosos e berrantes - era no que se diz hoje - “no tom cheguei!”... “Para abafar”... e enfezar a turma...

Mas era por demais interessante frequentar a casa do Zé Tatá - por ser na sua exuberância, local para divertimento de toda faixa etária, onde todos se distraiam esquecendo o tempo passar. Ainda não se conhecia tão vulgarmente o “Stress”, a hipertensão, e principalmente a
tão conhecida “depressão”. Existia de vez em quando a melancolia ou tristeza que após uns tragos de bebida, boa música e uma odalisca de lado ia embora dando lugar à alegria para cantar a música da trilha musical da novela Da cor do pecado, segundo meu estimado amigo Dr. Bosco Câmara, curioso musicófilo no bom sentido, me diz ser de autoria de Bororó - Alberto de Castro Simões da Silva(1898-1986) - descendente direto da Marquesa de Santos - amante de D. Pedro II, gravação original de 1939, interpretado por Silvio Caldas:

Esse corpo moreno/ Cheiroso e gostoso/ Que você tem/ É um corpo delgado/ Da cor do pecado/ Que faz tão bem/ Esse beijo molhado/ Escandalizado que você me deu/ Tem sabor diferente/ Que a boca da gente/ jamais esqueceu/ Quando você me responde/ Umas coisas com graça/ A vergonha se esconde/ Porque se revela/ A maldade da raça/ Esse cheiro de mato/ Tem cheiro de fato/ Saudade tristeza/ Esta simples beleza/ Teu corpo moreno; morena enlouquece/ Eu não sei bem porque/ Só sinto na vida/ O que vem de você.
Zé Tatá - homenzarrão era também muito disposto, respeitado por todos que conheciam sua fama, por não ser morredor. Era um tipo destemido e extrovertido, ninguém nunca o via abichornado, estava sempre satisfeito com a vida e de nada se queixava, vivia em paz consigo
mesmo, assim diziam todos que a sua casa frequentavam bem como as suas amigas hóspedes. Cumpria com seriedade as obrigações comerciais que assumia, daí porque todos lhe creditavam no comercio local, granjeando bom conceito que o distinguia como ótimo pagador das dívidas por ele contraídas.

Arquivo Nirez

Na Boate Tabariz - Zé Tatá era quem abria a festa rodopiando no salão ao som da orquestra de pau, corda e sopro, escalando uma dançarina-noturna que bem pudesse representar o cabaré, na contra-dança.
Essa se chamava Francisca - conhecida pela alcunha deChica ou na sua falta - Das Doresou Clébia que eram conhecidas como pés de ouro...

De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e não demorava muito o cabaré se inflamava com as músicas nos seus diversos ritmos - desde samba, samba-canção, bolero, fox, baião, valsa, terminando sempre com o famoso tango na voz de Carlos Gardel.

O cancioneiro predominado por Chico Alves, Nelson GonçalvesAlcides Gerardi, Ciro Monteiro, Luis Gonzaga, Erivelto Martins, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e o cearense Carlos Augusto interprete de “Vitrine”, “Negue o seu amor” e varias composições de Adelino Moreira, cuja família composta de vários cantores, a partir de sua mãe Nenen Bandeira detentora de linda voz, Cleide e Adamir Moura (irmãs-vocalistas) e Henriqueta Moura que inaugurou a rádio P.R.E. 9, juntamente com os cantores José Jataí, Hildemar Torres, José Lisboa, Terezinha Holanda, as Três Marias, filhas da Professora de Música Maria de Lourdes
Gondim
, Mário Alves - Trio Nagô, Zuíla Aquiles, Keyla Vidigal, Maria Guilhermina e Telma Regina, que formavam o grande elenco de artistas cearenses, sem esquecer os grandes compositores Lauro Maia, Evaldo Gouveia e Aleardo Freitas.

Um detalhe que merece realce, diz respeito à gente boa que frequentava o seu cabaré, e se por ventura com ele cruzasse nas ruas do Centro da cidade ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia ou simplesmente acenava com o olhar num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer, evitando enxovalhar o bom nome e a reputação da pessoa com quem falava...

Era próprio do provincianismo que dominava a nossa cidade cheia de preconceitos ou atavismo. Parecia até que a indigitada pessoa era portadora de doença, cujo mau poderia pegar até num simples cumprimento. Tudo causava horror e admiração diante do pieguismo e primitivismo cultural e social da nossa gente naquela época.

Hoje tudo mudou. É tudo tão diferente. Parece até que houve inversão de valores, que só Freud poderia explicar com exatidão essa transformação do entendimento racional das pessoas que antes se escondiam por detrás de pseudo moralismo e hoje já se expõem com exagero dando lugar às insinuações malévolas. Será por depuração da sociedade ou, mesmo evolução dos tempos? Deixemos esses questionamentos para os estudiosos no assunto, os sexólogos, psicólogos ou médicos psiquiatras que tão bem sabem se desincumbir da missão.

Aqui se tem em mente, lembrar tipos, episódios, pessoas e coisas que marcaram no passado seus jeitos, construindo nesta nossa querida cidade, marcos indeléveis que devem ultrapassar o tempo, não deixando a memória morrer no esquecimento, trazendo até subsídios de qualquer ordem que possam interessar aos historiadores, antropólogos, arqueólogos e demais interessados no passar dos tempos.

Por isso, em evidência, um ser humano - Zé Tatá, que durante décadas e mais décadas preencheu com hilaridade o folclore cearense."

Zenilo Almada

Bônus: A Pensão do Zé Tatá - Luizinho de Irauçuba


Causos na Pensão do Zé Tatá

“Nosso saudoso Zé Tatá, sobralense ilustre, dono de uma pensão alegre que guardava e garantia o trabalho de meninas de vida...vamos dizer...livre pra não falar fácil (fácil?)

Pois bem. Veio do Recife para Fortaleza um time de futebol e no time um carinha metido a besta, desses pernambucanos que no passado achavam que o mundo começava e terminava entre as doenças do Capibaribe e do Beberibe.

Depois do jogo procurou um lupanar e foi cair na Pensão do Zé Tatá.

Bebeu, dançou, foi pro quarto com uma das meninas, apalpou desagradavelmente outras tantas e no fim botou boneco. Não queria pagar.

Era coisa de três horas da manhã e o tal cavalheiro começou a esculhambar com todo mundo, gritando que no Ceará não tinha homem, que macho ali só tinha ele e que não ia pagar coisa nenhuma e essas coisas que todo bonequeiro faz. Uma das meninas foi acordar o Zé Tatá e contou.

Tatá subiu nos tamancos e foi ao salão. Quando o valentão viu aquele armário (quase dois metros de altura por dois de largura e pelo menos um de fundos) tentou afinar. Zé Tatá limitou-se a dar-lhe uma patada que jogou o tal pernambucano na metade da escada já gemendo de dor. Zé desceu e foi chutando o besta até a porta. Lá embaixo, com o cara de cara amassada, costela quebrada, coração parando.


Zé Tatá pegou o cabra pelas bitacas, e deu-lhe a porrada de misericórdia, não sem antes avisar; Vá seu corno. E diga lá no Recife que no Ceará levou uma surra de um Viado.


Leia também:

Zé Tatá - O Rei da noite
Fonte: O Bonde e outras recordações - Zenilo Almada/ http://macariobatista.blogspot.com.br/
Youtube - Canal Lando CDs

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Zé Tatá - O Rei da noite


José Vicente de Carvalho era empresário da noite. Possuía várias casas noturnas em Fortaleza, como as pensões Ubirajara, Hollywood e Tabariz*. As casas ganharam nome e fama, ficando na história boemia da cidade. 
Zé Tatá foi o primeiro homem de Fortaleza a assumir sua homossexualidade, anunciando a quem quisesse ouvir que gostava, sim, de homem.
Com quase dois metros de altura e pesando uns 120 quilos, ele era figura de destaque no carnaval de rua. Desfilava no bloco das baianas, vestido de Carmem Miranda. Ele era de uma época em que ser homossexual era coisa do outro mundo. Pois era assumido. Usava sandálias femininas e andava se requebrando, distribuindo simpatia de leste a oeste, sob o olhar curioso das pessoas. Nunca um gaiato teve coragem de fazer piada ou soltar uma pilhéria.
Sua fama de brigão atravessou as divisas do Ceará.


Zé Tatá de baiana ajuda seu amigo "Tereza" com os adereços no carnaval de 1942.
Acervo Diário do Nordeste

"Era conhecido por exigir respeito e não tolerar desrespeitos à sua pessoa. Zé Tatá garantia, por meio da fama de valente, a liberdade de circular pelas ruas do Centro da cidade sem ser importunado pela molecagem cearense. A força física era seu salvo-conduto para ir e vir livre das zombarias contra sua homossexualidade assumida."  Érika Meneses

Participava ativamente das festas carnavalescas. Durante o período momino se fantasiava e fazia parte do Bloco das Baianas. Com seu porte gigantesco, vestido à La Carmem Miranda, ocupava posição de destaque no bloco, recebendo calorosos aplausos de quantos assistiam o corso que se iniciava na Avenida Dom Manuel, percorria a Avenida Duque de Caxias e ia até a Avenida Padre Ibiapina.

Na rua, o homenzarrão despertava a curiosidade de todos, quando circulava sua figura portentosa pelo centro da cidade, sem jamais ser importunado com vaias, assovios, piadas ou pilhérias – uma espécie de marca registrada do centro de Fortaleza – isto porque, o homossexual mais assumido da época, tinha também o seu lado macho e, quando entrava num entrevero, não levava desvantagem. Com fama de brigão e de não levar desaforo para casa, Zé Tatá atravessava o quartel general do Ceará moleque – a Praça do Ferreira – sob olhares curiosos e bocas bem fechadas.

Ficção e realidade se misturam...

A História de Zé Tatá
(Fato fictício real) 
Fortaleza, 1950.

"Zé Tatá era um negrão de mais de um metro e noventa. Chamava atenção, por onde passava, por ser um homem, negro, forte, alto e belissimamente vestido de mulher. Ninguém tinha coragem de dizer qualquer coisa que ofendesse a integridade moral de Zé Tatá (Foto ao lado do Arquivo Nirez).

Mas vamos ao início da história deste personagem sobralense que, nos anos 50 e mais, era a rainha do Carnaval de Rua de Fortaleza : Zé Tatá 
nasceu em Sobral. Aos 2 anos de idade perdeu seu pai, vítima de acidente. Filho único de mãe viúva, foi criado em Fortaleza num conjunto habitacional do Exército do Brasil. Sua mãe ganhava uma modesta pensão e tinha que trabalhar como empregada doméstica pra criar seu filho amado. Zé, como era conhecido pelos colegas, estudou no Colégio Marista, onde também ganhou o apelido de Tatá. Dizem que, quando ele ficava nervoso ao ser repreendido pela professora, dizia: 
- Ta! Ta! Dai virou o Zé Tatá.

Quando menino, passou por todas as fases, foi levado, brigão, namorador... Sempre foi um aluno mediano, mas esforçado. Na adolescência, descobriu que era diferente dos outros meninos. No início, achou estranho, mas rapidamente gostou da ideia. Ele se destacava em todas as atividades que fazia: era ótimo lutador, jogava futebol e queria participar de tudo que envolvia contato físico com os garotos.

Quando estava com 19 anos, foi convidado para se fantasiar de mulher e sair com um grupo de amigos pra desfilar no Carnaval do centro de Fortaleza. Pediu ajuda a sua mãe, que não estranhou, pois aquilo era costume de Carnaval. Ele, então, se montou e se transformou numa mulher de quase dois metros de altura. Salto altíssimo, vestido longo e maquiagem impecável. Decidiu não usar peruca, deixou seu cabelo natural, bem batido, como deve usar um militar. Foi o dia mais feliz na vida de Zé Tata. Lá foi ele realizado, se sentido uma dama. Porém, na vida, nem tudo são flores e, logo que chegou ao centro, uma turma de machões bêbados resolveram brigar com os rapazes.

- Vamos dar porrada nessas raparigas que não gosto de viado, alguém gritou.

Começou aquela pancadaria. Zé Tatá vinha mais atrás e quando chegou perto viu os amigos dele sendo surrados por um bando de bêbados gritando ofensas. O sangue de Zé Tatá nunca ficou tão quente, deu um grito e partiu pra briga. Eram mais de vinte homens cercando Zé Tatá. O primeiro que chegou perto levou um chute na cara, o salto alto de Tatá arrancou sangue do dito cujo que já caiu semimorto. Os outros, vendo aquele negrão enorme ficaram sem saber o que fazer. Zé Tatá partiu feroz para cima deles, derrubando um por um com socos, pontapés, cabeçadas, pernadas... Quando a polícia chegou, o quadro era de trinta homens no chão e uma bicha enorme, gritando, chorando e batendo em quem chegasse perto. Foi preciso mais de dez policiais para conter a ira de Zé Tatá que foi preso e autuado como agressor e perturbador da ordem pública. Ninguém mais foi preso. Só não foi pior porque o Raimundo, um dos amigos que apanharam, defendeu Tatá.

- Vocês não podem fazer isso, ele foi um herói, salvou nossas vidas. Explicou Raimundo para o delegado.

Zé passou a noite na cadeia e foi libertado no outro dia. Sua mãe ficou muito triste, dizem que, por desgosto, morreu duas semanas depois de enfarto. Zé Tata nunca falava da morte de sua mãe, mas todo mundo sabia que ele se culpava. 

O que ninguém sabia é que no dia que Zé Tatá saiu da cadeia, Raimundo foi recebê-lo. Os dois se olharam e se abraçaram. Zé sentiu que naquele abraço havia mais que amizade. Foram andando e começou a chover muito, para se protegerem da chuva, entraram em um pequeno galpão abandonado. Ficaram ali conversando, até que Raimundo arriscou um beijo na boca e Tatá não resistiu. Era a primeira vez que estava beijando um homem. Ali mesmo fizeram juras de amor eterno.

Após a morte da mãe, Raimundo então foi morar com ele. Todo mundo achou estranho, mas ninguém teve coragem de falar nada. Na intimidade, os dois estavam casados. 
Quando surgiram os rumores de que Zé Tatá e Raimundo tinham se juntado e eram gays, Zé tomou uma decisão para acabar com a fofoca, que deixou Raimundo com medo.

- Raimundo, de hoje em diante, a noite, eu só saio vestido com roupas femininas.
Dito e feito, no intimo era uma vontade de Zé, que achara uma oportunidade. Imaginem o escândalo causado, saiu até na imprensa. Todos conheciam a fama de bom de briga e tinham medo do "Grande Negrão", ninguém falava nada. Sempre que Zé Tatá chegava aos recintos noturnos, todo mundo olhava com admiração e respeito. Muitas vezes ele tinha que usar da força e deu porrada em muito bêbado abusado, tendo sido preso por agressão inúmeras vezes. Raimundo, no início, ficava meio sem jeito, mas ele era apaixonado por Zé Tatá e os dois eram um casal feliz.

Um belo dia, aconteceu uma coisa que Zé chamou de presente. Alguém deixou em uma caixa, na porta de sua casa, um bebê de poucos meses de idade, uma menina. Zé e Raimundo pegaram para criar aquele neném e deram-lhe o nome de Ísis. Os dois cuidavam de Ísis como se fossem mães. No aniversário de um ano, Zé preparou uma festa e chamou os amigos e vizinhos.



Todos foram ao aniversario da menina e levaram presentes caros. Ninguém queria encrenca com Zé Tatá. A menina Ísis, cresceu feliz, aos cuidados destes dois homens. Eles a puseram pra estudar nos melhores colégios da cidade. O tempo passou, Ísis cresceu e formou-se em medicina. "Eram uma atípica família brasileira".

Raimundo morreu aos 70 anos. Zé Tatá viveu ainda dez anos sentindo muita saudade de seu companheiro da vida inteira. Era o sonho dele morar no Rio de Janeiro, em Copacabana e Ísis realizou esse sonho, mudando-se para lá com ele. Sua filha cuidou dele até os últimos dias de vida. 
Zé morreu, no Rio, aos 89 anos de idade, vítima de saudade da vida...

Quando se aposentou, Ísis comprou um modesto apartamento na Rua Figueiredo Magalhães, onde mora até hoje.
Copacabana, 2008"


*A Boate Tabariz ficava na Rua Pessoa Anta, 120, onde mantinha música ao vivo. Foi neste estabelecimento que Zé Tatá obteve maior êxito no ramo, pela exuberância do local e pela grande frequência.


Na Boate Tabariz – Zé Tatá era quem abria as festas, rodopiando no salão, escalando para seu par uma dançarina que bem pudesse representar o cabaré. A escolhida era quase sempre uma certa Francisca ou na falta desta, Das Dores ou Clébia. De repente todos os presentes começavam a dançar com muita animação e o cabaré se inflamava com as músicas de diversos ritmos.


Um aspecto que era rigorosamente observado pelo proprietário, dizia respeito aos frequentadores dos seus cabarés, que se porventura, com ele cruzassem nas ruas do centro de Fortaleza ou no Mercado Central, onde diariamente fazia suas compras, demonstrava que não conhecia, ou simplesmente acenava com o olhar, num cumprimento cauteloso, para não ser notado por outras pessoas nem comprometer o nome e a reputação do cliente.


Conforme Nirez, em 06 de dezembro de 1971, segundo determinação do Secretário de Segurança, todos os cabarés deveriam desaparecer do centro de Fortaleza.
A providência começaria pela Boate Fascinação, à rua Major Facundo nº 152; em seguida, a Boate Elite, na rua Floriano Peixoto nº 225; a Boate Miami, rua Major Facundo nº 170; a Boate Emília, rua Pedro Borges nº 130 e a Boate Zé Tatá, rua General Bezerril nº 150.
Posteriormente sairiam as demais.

Em 09 de agosto de 1973, tem inicio a derrubada de antigos imóveis situados na Avenida Alberto Nepomuceno, no cruzamento com a Avenida da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que corre ao lado da 10ª RM, para dar lugar às obras de construção de um dos primeiros viadutos de Fortaleza, que ligará a Avenida Marechal Castelo Branco (Leste-Oeste) à rua Franco Rabelo.
Após sua inauguração recebeu o nome oficial de Viaduto da FEB (Avenida Alberto Nepomuceno, esquina com a Rua José Avelino – antiga Rua Mesquita), mas ficou conhecido popularmente como "Tatasão", alusão ao vulto popular Zé Tatá.


Fontes/Créditos: http://www.recantodasletras.com.br/Autores.com.br/ http://blog.jornalpequeno.com.br/ Livro O Bonde e Outras Recordações de Zenilo Almada/ Portal da História do Ceará - Gildásio Sá



quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Curral das Éguas


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez



"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."


O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".

O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.

O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.

Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.

Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. 
Arquivo Nirez

O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.

O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr

O público

O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.

Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.

Espaço emblemático

O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.

Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.

Zenilo Almada

Quem recorda?

Bar da Alegria
FascinaçãoBarba azulSenaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90,  Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença ClubeUberlândia, Cabaré da Chaguinha...



Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Pensão Familiar


A Pensão Familiar - Clique para ampliar - Arquivo Nirez

No dia 01 de julho de 1914  foi instalada, em casa na Rua Barão do Rio Branco nº 187 (antigo), proximidades hoje, dos fundos do Cine São Luís, a Pensão Familiar, da firma Cordeiro & Companhia, de Mme.
Emma Adelia Ruedin Gonthier e João Cordeiro de Almeida.
Anos depois pertenceu a Elisa Barbosa.



Conforme o folheto, a Pensão possuía ótimos apartamentos para viajantes e famílias de tratamento. Com um especial serviço culinário, muito asseio e o máximo respeito - Clique para ampliar

No dia 21 de novembro de 1914, mesmo ano de sua inauguração, um fato lamentável aconteceu na Pensão Familiar, foi Assassinado a faca, por José Arnaud Brígido, o Dr. João Demétrio de Menezes, redator do Diário do Ceará, de A. C. Mendes.

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Crédito: Portal da história do Ceará

terça-feira, 28 de junho de 2011

As pensões da cidade


Já quase não se ouve falar nas mulheres das pensões altas ou alegres, como eram conhecidas na década de 1950. Suas proprietárias foram morrendo e as ´borboletas noturnas´ foram banidas para outros locais fora do perímetro central, mas continuaram seus encontros para deleite da juventude da época, renovado sempre o plantel. Busquemos um pouco no espaço das ´odaliscas´ e façamos um percurso ao Centro da cidade, à noite, para vermos onde elas ficavam costumeiramente encasteladas a esperar um parceiro de qualquer idade, embora houvesse as preferências no íntimo, para vender amor a retalho... e a quem melhor pagasse, ou atender às solicitações íntimas.

Embora em crônica passada tenha em breve abordagem comentada sobre as casas noturnas, bordéis, casa de cômodo denunciando feito cortiço, nos idos anos de 1940 aos anos 1970, aos jovens que se iniciavam na vida sexual .Assim, persuadido por diversos amigos, mesmo despretensioso por não ser o último abencerrage do perscrutado para falar sobre os cabarés dos anos 1950 a 1970.

Apenas para atender persuasão dos mesmos e satisfazer a curiosidade de quem nada sabe o porquê de tão elevado número de casas de recurso das ´damas da noite´, que tornava alegre a cidade, pelas diárias festas nas ´boites´, ´pensões altas´, ´casas das grinfas´, ´viveiro de borboletas noturnas´, eram nomes para uma infindável nomenclatura das pensões das ´mulheres fatais´, ´marafonas´, ´mariposas´ que vinha desde o longínquo sertão cearense, outros Estados e até outros países, e, aqui ´sentar praça!...´ como se dizia naqueles idos tempo dos anos 1940.

De preferência o Centro da cidade foi o local mais procurado para elas, e, em aqui chegando a ´madame´ que recebia, com certa manifestação de apreço das outras ´borboletas noturnas´, já veteranas na casa. O cuidado maior da madame da pensão era não deixar permanecer no prostíbulo, menor de idade, como segurança - medida de precaução, só maior de idade.

De logo, era levada para se apresentar na Chefatura de Polícia, onde ficava fichada e em seguida fazia exame ginecológico, evitando transmitir aos jovens iniciantes, preocupante ´gonorréia´ e outras doenças infecciosas que grassavam naquela época aos desprevenidos ou outras tipos conhecidas comumente como ´doenças do mundo´, ´doenças dos famosos´, ´doença venérea´ e mazelas, porque nem se falava no uso da camisinha. Como conseqüência toda cortesã que ´sentava praça´ era rigorosamente fichada no Departamento de Diversões e Costumes da Secretaria de Polícia, para registro de sua permanecia do local, ou, servindo de anotações de antecedentes de sua vida pregressa, e proteção de segurança pessoal.

Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, a Licença de Funcionamento do lupanar era cassada por inobservar às ordens da Policia.

A jovem após exame ginecológico, preenchida a Ficha de Cadastro junto à autoridade policial, regularizava situação de prostituta, uma vez cadastrada, tinha assegurada a permanência na pensão onde estivesse, tudo com autorização da proprietária do cabaré e o visto da Delegacia de Costumes - da Chefatura de Policia - hoje, Secretaria de Segurança Pública. Tudo isso para satisfazer o desejo utópico do momento de transe, aliado ao apetite de cortejar a dama da noite, - a odalisca que quando se aproximava do cortesão, cujos olhos se transformavam em festa de atração mútua.

A cidade de Fortaleza esse quadrilátero perfeito, traçado por Adolfo Herbster, quando prefeito, agrupando avenidas, ruas, travessas, becos e vilas, serviu para atender a preferência dos primeiros habitantes que aqui se instalaram, quer no comércio, quer para residência muitas delas mista - comércio e residência, no caso da Rua Senador Pompeu - antiga Rua D´Amélia
, mas também para abrigar as doidivanas...



Rua Senador Pompeu - Foto de 1958


Pois nesse quadrilátero da cidade se estabeleceram as mais requisitadas pensões das ´andorinhas´, ´marafonas´, ´messalinas´, ´biscas´, ´chinas´, ´damas´, ´éguas´, ´fadistas´, ´mariposas´, ´moças do fado´, ´mulheres da comédia´, ´grinfas´, ´fuampas´, ´meretrizes´, ´cangatinas´, ´prostitutas´, ´horizontais´, ´mulheres de vida fácil´ e outros chulos que postadas na porta dos ´cortiços´ ou ´cabeça de porco´ aguardavam o freguês para fazer uma boa gamação - hoje ´barato legal´. Tudo sob mais auspiciosos segredos para que não transpirasse no seio das gradas famílias, que a tudo ocultava de forma sepulcral. Era assim como um verdadeiro ´sepulcro caiado´ os encontros previamente marcados com uma meretriz das ´pensões altas´ do Centro com os senhores maduros de idade.
Fazendo um percurso pelo Centro da cidade, recordando as coisas que o tempo levou, subindo e descendo velhas escadas de casarões que antes abrigavam famílias ilustres hoje lembranças guardadas no peito. Dos tempos mais recuados, vem a ´Pensão da Amélia Campos´, defronte a Padaria Lisbonense, na Rua Dr. Pedro Borges - Beco dos Pocinhos -a mais antiga.


Era em frente a então Padaria Lisbonense (Hoje Shopping) que ficava a Pensão da Amélia Campos


Na rua Governador Sampaio, Nº 80, permaneceu por mais de uma década a ´Pensão Boite da 80´, que importava as mais chiques mulheres do Sul, sob a orientação do ´caraxué´ que atendia pela alcunha de ´Paulete´; na rua Conde D´Eu, diagonal para a Catedral, tinha um prédio antigo com escadaria de madeira e três andares, na esquina da Travessa Crato, onde funcionou durante muito tempo a ´Pensão Paraibana´, que no início dos anos 1950 pegou fogo; na rua Conde D´Eu - a ´Pensão da Graça´, de propriedade de duas irmãs paraenses; pela Travessa Crato, perto da Praça da Sé, a ´Pensão do Zé Tatá´; seguindo a Travessa Crato, esquina com a rua Floriano Peixoto, a casa da estimada Cristalina - ´Pensão Cristal´;


Rua Conde D'Eu - Anos 40


Na rua Major Facundo Nº 154/156, primeiro quarteirão entre a rua Senador Castro e Silva com rua Senador Alencar - sobrado do Dr. José Lourenço de Castro e Silva, com três andares, mais antigo prédio de Fortaleza, tombado pela Secretaria de Cultura do Ceará e restaurado em 2006, pelo Governo do Estado.

Neste local, funcionou dentre outras a Loja - Casa das sombrinhas e guarda-chuva do Sr. Antonio Correia, onde também fazia conserto de sombrinhas... Depois a ´Boite Miami Beach´ - ocupava a parte dos altos com entrada pela porta principal; anteriormente funcionou nos anos 1950 a ´Pensão Marajá´; vizinho, a ´Boite Fascinação´, rua Major Facundo, Nº 160, ambas de propriedade de Maria Medeiros - conhecida por Mariinha, com amplas dependências que se assemelhava a um pequeno hotel, com perfeita estrutura arquitetônica; na rua Major Facundo, entre a rua Guilherme Rocha e rua São Paulo, funcionou a ´Pensão Estrela´, da madame Generosa, sobradão com quatro janelões de frente, de propriedade do Sr. Sólon; ainda na rua Major Facundo com a rua Senador Alencar, a ´Pensão América´, da conhecida Madame Nininha.



Zenilo Almada


Fonte: Diário do Nordeste

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: