Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : O quebra-quebra de 42
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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Quebra-Quebra de 1942



“Passeata da Vitória” promovida pelo Centro Estudantil no dia 09 de Agosto de 1942 (alguns dias antes do 
Quebra-Quebra) - Foto de Thomaz Pompeu


Em 18 de agosto de 1942 acontece o chamado quebra-quebra, em represália ao afundamento de vários navios mercantes brasileiros na costa brasileira, torpedeados por submarinos italianos e alemães.
Estabelecimentos de alemães, italianos e japoneses são depredados, assaltados e incendiados pelo povo revoltado.
Até estrangeiros que nada tinham a ver com o "eixo" foram "punidos" por terem nomes complicados.
Na voragem foram incendiadas as lojas A Pernambucana e Casa Veneza e a firma Paschen & Companhia.
A Padaria Italiana muda seu nome para Padaria Nordestina, durante a revolta popular.



Foto do livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez


Foto do livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Nirez

O dia 18 de agosto de 1942 parecia ser mais um dia comum no Brasil do Estado Novo, que assistia, sem maior envolvimento, à Segunda Guerra Mundial. O afundamento de seis navios brasileiros por submarinos alemães não havia gerado ainda nenhuma resposta do governo de Getúlio Vargas às forças do Eixo (formado por Alemanha, Itália e Japão). A população, inconformada com tamanha afronta dos alemães, toma suas próprias providências e sai às ruas para quebrar todos os estabelecimentos comerciais que tivessem alguma ligação com os países que passara a considerar inimigos. Acontece, então, o Quebra-Quebra de 42.


Motoristas participam da passeata.


Em meio à algazarra na Praça do Ferreira, onde se avolumava uma pequena multidão em
frente à coluna da hora, ouve-se o grito "Estão quebrando a padaria do Espanhol!". Assim teria começado, na capital Fortalezense, o chamado Quebra-Quebra. 




Em meio àquela confusão, estava Thomaz Pompeu Gomes de Matos, que fez várias fotografias do movimento popular. O fato não foi muito comentado pelos jornais da época, que preferiram não dar repercussão a um caso de desordem pública em plena ditadura. Assim, os principais registros da revolta, acontecida dois dias antes de o Brasil entrar oficialmente na Segunda Guerra, foram as imagens feitas pelo jovem. Para não ir contra os interesses do governo ditatorial, Thomaz Pompeu negou por muito tempo a autoria das fotos, que só foram divulgadas na década de 1980, na coluna de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) no jornal O Povo.

Loja A Pernambucana sendo consumida pelo fogo.


A algazarra na Praça do Ferreira


No jornal O Nordeste, do dia 19 de agosto, em edital na primeira página, comenta-se sobre a Grande massa de povo, ontem, durante quase todo o dia, principalmente depois das 10 horas, veio as ruas em manifestações coletivas de desagravo à covarde agressão dos piratas nazistas à Marinha mercante Nacional.

Considerando justificável e inevitável às repercussões dos afundamentos na multidão, a população agora deveria se colocar dentro dos imperativos do patriotismo e manter-se confiante nos labores do alto poder nacional. Obedecendo aos apelos das autoridades visando calma, ordem e disciplina. “Passou-se o tempo dos devancios faciosos, das intrigas partidárias, das rivalidades mesquinhas. O que se quer, o que o poder público reclama é a união de todos os brasileiros[...]



Missa pelos mortos de naufrágios de navios brasileiros.


Nesse dia a cidade “acorda” com uma Missa realizada na Igreja do Patrocínio, onde uma grande multidão se concentra abarrotando-se em frente as suas portas. Pela mesma atenção ao luto nacional, as aulas da faculdade de direito foram suspensas. Um informante privilegiado descreve o clímax dos acontecimentos:

[...] A revolta popular aumentava de minuto a minuto. Vi várias mulheres chorando durante a Missa. Nesse clima de revolta e indiguinação fomos para a Faculdade de Direito e lá nos reunimos em frente ao prédio onde oradores falaram concitando o Governo Federal a declarar Guerra à Alemanha.[...]
Mais ou menos às 10:30 saímos em passeata [...] e [chegamos] a velha praça do Ferreira. [...]Por onde íamos passando a fileira ia aumentando consideravelmente. Quando atingimos a Coluna, ali já se encontrava uma compacta multidão a gritar “morra Hitler e seus asseclas!”. Vários oradores se fizeram ouvir [...] [avultando] o número de manifestantes face ao fechamento do comércio as 11:00 horas como era de hábito na época. Nisso, no meio da multidão ouve-se um grito: “Estão quebrando a padaria do Espanhol!”. [...] Foi o início do quebra-quebra.






Nesse mesmo alvoroço acabaram sendo quebradas e incendiadas outras casas comerciais como as Lojas Pernambucanas, Camisaria Álvaro, Jardim Japonês da família Fujita.
O Jornal Correio do Ceará noticiava: "Acompanhados de grande massa popular, ao som de estrepitosos foguetes e empunhando cartazes de propaganda democrática, os estudantes rumaram para a Praça do Ferreira, onde já se havia formado  um grupo numerosíssimo de pessoas. A entrada do cortejo cívico no principal logradouro da cidade foi triunfal, ouvindo-se ensurdecedoras aclamações aos nomes dos presidentes Vargas e Roosevelt, de Churchill e De Gaulle e as nações unidas, cujos heróicos combatentes derramaram o seu sangue em holocausto da Liberdade."

"O Quebra-quebra de 1942 em Fortaleza", acúmulo de gente na Rua Floriano Peixoto.


Seria algo como um espelho do que realmente aconteceu. Nessas fotos, podemos detectar um grande número de pessoas fardadas mostrando o ativismo dos estudantes daquela época, a adesão dos vários grupos sociais (estudantes, professores, motoristas, organizações católicas como a Cruz de Cristo, etc) erguendo os seus cartazes e faixas que acabam se juntando em um só grito de condenação ao nazi fascismo dos países do eixo.


Estudantes participam de passeata.


Tanto pelo temor de se ser envolvido em alguma querela policial, como por motivos de constrangimento pessoal com pessoas próximas, essas fotografias foram guardadas em foro íntimo no arquivo pessoal do Sr. Thomaz Pompeu, tendo sido mostradas apenas para familiares e amigos próximos até o começo da década de 80.

O primeiro suporte, onde as fotos ganham uma divulgação mais ampla, é a página do jornal O povo intitulada Pesquisa e Comunicação, datada no dia 22 de Agosto de 1982, escrita pelo memorialista e colecionador Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez).



 
Álbum com as fotos do Quebra-Quebra organizado pelo
Sr.Thomaz Pompeu Gomes de Matos.

Reduzido a um foro íntimo, mas com grande audiência dos pesquisadores depois da divulgação no jornal, o segundo suporte é o álbum de fotografias organizado, também no começo dos anos 80, pelo próprio Thomaz Pompeu.

O Álbum – que hoje se encontra na reserva técnica do Memorial da Cultura Cearense – possui uma capa dura, vermelha e em letras douradas, no canto inferior direito, está o nome do seu antigo proprietário; na lombada, também em dourado, encontra-se um nome em caixa-alta: Quebra-Quebra de 18-08-1942. É possível julgar o livro pela capa, assim observamos o cuidado e carinho especial que o Sr. Thomaz tem por esse acontecimento.



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Fontes: Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez,  
A trama fotográfica do Quebra-Quebra de 1942 de Carlos Renato Araújo FREIRE
 e Blog Coisa de Cearense 



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