Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Jornais de Fortaleza
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Notícias de carnaval da Fortaleza antiga


Coisa boa é viajar no tempo e apreciar como as coisas mudaram... Com o carnaval não foi diferente... Vamos dar um pulinho na Fortaleza antiga? Vamos curtir os antigos bailes e as notícias que foram parar nos jornais na época da folia! 





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Carnaval no Passeio Público e uma confusão em família. 
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Jornal A Esquerda de 1928. Clique para ampliar

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sábado, 24 de janeiro de 2015

Club Cearense - O primeiro clube de Fortaleza


Os clubes sociais recreativos foram criados pelos ingleses no século XIX. Formaram-se a partir de uma associação de pessoas reunidas, em lugares permanentes, com um objetivo comum - como os oficiais, que, retornando à Londres das guerras napoleônicas, buscavam um lugar de encontro para refeições e reminiscências. Até 1883, os clubes eram, em geral, restritos aos homens, quando, então, surgiram aqueles exclusivamente femininos. 


Expressão da sociabilidade e da utilização do tempo de lazer, os clubes representaram, no princípio, um privilégio das classes economicamente favorecidas. Com a diminuição das horas de trabalho e uma melhor distribuição da riqueza, surgiu, no século XX, um grande número destas associações, oferecendo atividades recreativas e culturais aos associados, os clubes atuam como agentes socializadores do lazer.

A partir de 1831, Fortaleza passou a manter relações comerciais regulares com a Europa. Para aqui vieram ingleses, portugueses, alemães e franceses que, estabelecendo-se nesta cidade, abastaram-se com seu comércio. 

Muitos destes estrangeiros tornaram-se parte do corpo diplomático. Como representantes dos vice-consulados estrangeiros no Ceará, uniram-se às importantes famílias da terra. Nessa época, a cidade desenvolveu sua integração com o capitalismo internacional, consolidando-se como centro político e econômico do Ceará. Foram os ingleses que construíram, em Fortaleza, os portos, os desembarcadouros (como a conhecida “Ponte dos Ingleses”) e a Via-Férrea. Trouxeram a iluminação da cidade com hidrogênio carbonado (The Ceará Gás Company Limited), o seu abastecimento de água (Ceará Water Work Co. Ltd.) e a eletricidade para o transporte coletivo dos bondes e para a iluminação elétrica de Fortaleza (The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd).

O baile de inauguração do Club Cearense

Antes da existência dos clubes, as reuniões da alta sociedade de Fortaleza aconteciam em seus salões residenciais. Formada por pessoas de sólida posição econômica, dispondo de condições de lazer e refinamento cultural nos grandes centros do Velho Mundo, a elite fortalezense, associando-se aos europeus aqui radicados, fundou no dia 19 de abril de 1867, copiado do modelo inglês, o seu primeiro clube: o Club Cearense. Inaugurado com deslumbrante baile* no dia 7 de setembro do mesmo ano, num sobrado residencial da rua Senador Pompeu, de propriedade de Dona Manuela Vieira, o Club Cearense posteriormente se instalaria defronte ao Passeio Público, emoldurando o logradouro mais elegante da cidade. Primeiramente, ocupou o prédio da esquina da rua Floriano Peixoto, que serviria, mais tarde, ao Hotel do Norte, depois pertencente à Coelce


Belíssimo prédio situado em frente ao Passeio Público, na esquina das ruas Floriano Peixoto e Dr. João Moreira. Segundo endereço do Club Cearense.




A seguir, ocupou o belo palacete na entrada da rua Major Facundo, que aparece num croqui** feito por Gustavo Barroso, reproduzido, a partir do seu livro de memórias. Este palacete serviria, depois de reformado, ao Palace Hotel, sendo hoje a sede da Associação Comercial do Ceará

O Club Cearense era frequentado pelas famílias mais destacadas de Fortaleza. Promovia encontros regulares de amigos e parentes, conversações, leituras, jogos de bilhar francês, recitais de poesia, apresentações musicais e deslumbrantes bailes. O Club Cearense conquistou, como escreveu Raimundo Girão, “o ápice do nosso aprimoramento social, com os seus salões sempre a giorno, com os seus jogos de recreação, a finura de seus dirigentes, o fausto de suas partidas dançantes”

Depois o Club Cearense ocupou o belo palacete na esquina da rua Major Facundo com Dr. João Moreira, em frente ao Passeio Público.



Nascido no tempo do Segundo Reinado, o Club Cearense contava, entre seus associados, com titulares do Império, representantes consulares, comendadores, magistrados e médicos famosos da cidade, além dos mais ricos proprietários da terra. Para o pesquisador da história de Fortaleza, os sócios do Club Cearense representavam, com segurança, as figuras mais destacadas do Ceará no século XIX. Apesar do seu prestígio, o Club Cearense não superou as dificuldades financeiras nos tempos republicanos, cerrando suas portas na passagem do século XX.


Vanius Meton Gadelha Vieira



*O baile de inauguração foi iluminado por lampiões a gás hidrogênio carbonado. O clube surgiu da necessidade de congregar a gente elegante da terra. Seus jogos de salão, bailes e o luxo dos seus associados ofereceram a Fortaleza a formação do primeiro e mais importante reduto social da aristocracia da época. Muitos sócios do Club Cearense pertenciam à Associação Comercial do Ceará, inaugurada um ano antes do clube. Eram administradores, comendadores, representantes de consulados estrangeiros, juízes, vereadores.

** Croqui de Gustavo Barroso:



Fatos Históricos do Club Cearense:

  • 19/abril/1867 - Surge o Club Cearense na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) nº 50 (antigo), iniciando suas festas no dia sete de setembro num sobrado da Rua Senador Pompeu, pertencente a Manuela Vieira. Depois esteve no prédio da esquina da Rua Dr. João Moreira com Rua Major Facundo (hoje Associação Comercial) e depois na esquina da mesma Rua João Moreira com Rua Floriano Peixoto. Seu primeiro presidente foi Vitoriano Augusto Borges.

  • 07/setembro/1867 - Primeira festa realizada pelo Club Cearense, no sobrado na esquina da Rua da Misericórdia (hoje Rua João Moreira) com Rua Boa Vista (hoje Rua Floriano Peixoto). Sua sede ficava na Rua Formosa (hoje Rua Barão do Rio Branco) nº 50, ocasião em que houve a primeira experiência com a iluminação com lampiões a gás hidrogênio carbonado.

  • Janeiro/1901 - Extingue-se o Club Cearense.

Fonte: Cronologia de Fortaleza - Nirez









sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Nos palcos de Fortaleza - Parte II



Abram as cortinas da cidade: o processo de construção do teatro oficial de
Fortaleza.


Alfim temos um teatro, depois de tantos projetos vãmente elaborados, de tantas iniciativas perdidas e de tantos tentames malogrados. Está satisfeita a necessidade que quotidianamente se acentuava num relevo imperiosamente clamante. Temos um teatro, é certo, e todos nós o vemos, materialmente considerado. O teatro, porém, não está só na sua arquitetura está sobretudo na sua moral, no espírito que o deve dominar. (
Discurso inaugural do Theatro José de Alencar feito por Júlio César da Fonseca Filho. In COSTA, Marcelo Farias. Teatro na terra da luz. Fortaleza: Edições UFC, 1985. p. 92-93. )

Em 1859, o Presidente da Província do Ceará, João Silveira de Sousa, prevendo a precocidade do projeto afirma: “contra semelhante obra se levantarão centenas de objeções, entre elas a da necessidade de tratar-se antes da abertura de estradas, do melhoramento de portos, da construção de açudes, da colonização, de escolas normais etc”


Tiveram novas tentativas de efetivar a construção do teatro oficial nos anos de 1872 e 1891, mas não passaram de especulações, pois reafirmavam o discurso de 1859, a inviabilidade desse projeto devido às finanças e às obras consideradas prioritárias, estas muitas vezes relacionadas com as intempéries climáticas, ou seja, a seca. O primeiro projeto a sair das especulações e ser posto no papel, mas não sendo finalizado, aconteceu sob a presidência de José Freire Bezerril. As obras de construção do Teatro oficial de Fortaleza foram autorizadas pela Lei nº 144 de 25 de agosto de 1894, 10 sendo escolhido Isaac Amaral para fazer à obra, na Praça do Patrocínio, onde foi posta a pedra fundamental e tinha como matéria-prima, pela primeira vez no Ceará, alvenaria e cimento. Mas o teatro oficial só foi construído no governo acciolino com a denominação de Theatro José de Alencar

O processo de edificação deste teatro foi alvo de disputas políticas entre os oposicionistas e situacionistas do governo acciolino, sendo que em tais conflitos podemos perceber quais as concepções de teatro possuíam o governo, os jornalistas, os intelectuais, ou seja, a elite da sociedade fortalezense. 


Antonio Pinto Nogueira Accioly assume o governo em 1896 e rescinde o
contrato com Isaac Amaral prometendo dar continuidade à obra. Em 1902, Pedro Augusto Borges, então Presidente do Estado e correligionário de Nogueira Accioly, autoriza o subsídio de 50:000$000 para edificação de um teatro para capital, não sendo efetivada. Apenas em 1904, que Nogueira Accioly retornou ao projeto de construção de um teatro oficial da cidade de Fortaleza. Segundo os relatórios do Estado, o Ceará estava sofrendo com os períodos de seca e o orçamento destinado às obras públicas era aplicado no enfretamento desta, assim, Accioly justificava a não efetivação da obra
iniciada sob o governo de José Freire Bezerril.

A lei nº 768 de 20 de agosto de 1904 autorizou a construção do teatro oficial para a cidade de Fortaleza, permitindo o Estado realizar qualquer operação de crédito, se necessário for e despender a quantia de quatrocentos contos de reis.


A construção do teatro oficial seria uma forma de impulsionar a vida artística na capital cearense, assim as companhias dramáticas vindas de fora teriam um local definido para se apresentarem, pois nem sempre os teatros existentes tinham condições de recebê-las, além disso, as agremiações e companhias dramáticas cearenses teriam um espaço para o seu desenvolvimento. Essa era a expectativa da imprensa cearense, assim, como de Nogueira Accioly,pois seus argumentos em defesa da edificação do teatro foram: “da necessidade e dos resultados indiretos que as diversões artísticas podem trazer ao nosso desenvolvimento social”. (
Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Ceará em 1º de julho de 1908 ).

Mas obras iniciaram-se somente a 06 de junho de 1908, segundo consta na
pintura no foyer e seguiram dois anos ininterruptos. A localização foi definida ao lado do prédio da Escola Normal, não mais no meio da praça. O início das obras foi um ponto de controvérsia entre os acciolinos e opositores, o jornal A República escreve a 03 de junho de 1908 respondendo seu opositor O unitario: “Até agora, ao contrário do que affirmou hontem <> as obras do theatro não foram iniciadas, pelo que o decrépito rábula não pode saber se o serviço vai sendo feito mediante concurrencia ou não.” O jornal ainda acrescenta: “(...) dentre pessoas insuspeitas ao fellicitario, o seu sobrinho Sr. Aurélio Brígido, que foi o encarregado do transporte da parte metallica do Theatro, da alfândega para o ponto em que terá de ser construído.” O jornal é irônico ao falar de pessoas insuspeitas, dentre estas o sobrinho de João Brígido, proprietário do O unitario, trabalhando na construção do teatro.


Outras críticas dos oposicionistas em relação à edificação do Theatro José de Alencar são referentes ao emprego de parentes e amigos no projeto e aos gastos públicos para efetivação deste. As obras foram administradas diretamente pelo poder público, sob a direção de Raimundo Borges Filho, este genro do Nogueira Accioly e oficial do Exército. A planta geral do teatro foi projetada pelo amigo do Presidente da Província, o 1º tenente e engenheiro Bernardo José de Mello, também professor de desenho do Liceu do Ceará e autor dos projetos do Asilo de Mendicidade e de algumas residências de Fortaleza. Assim, o jornal O unitario afirma:


(...) o snr. Accioly, (...), foi espiar à semana passada a obra do theatro, que seo genro está fazendo, ajudado de seo superior e ajudante, todavia 
– engenheiro capitão Bernardo. O digno sogro foi recebido por ambos á porta do edifício, que ainda não tem porta, como auqelles ainda não teem carta de engenheiro. (...) fazia falta o mestre José Morcego, como o tem pretendido o Unitário! O velho comediante sabe mui bem o que deve ser uma casa de comedias, alem de que também trabalha em dramas, e nasceo para o palco.

O jornal Unitário provoca o governo ao atacar Raimundo Borges e Bernardo José de Mello, mencionando que estes não têm carta de engenheiro, ou seja, foram contratados para realização da obra por serem genro e amigo de Accioly, respectivamente. Nos últimos anos do governo acciolino, as disputas políticas ficaram cada vez mais acirradas e a construção do Theatro José de Alencar se encontrava no meio deste conflito, sendo alvo de críticas dos oposicionistas. O jornal O Unitario, também, ironiza os gastos excessivos na construção do Theatro José de Alencar ao escrever que Accioly “sahio agradavelmente impressionado de vêr que aquillo tem deixado muito dinheiro, e promette muito mais.” 

O custo de toda a obra alcançou o valor de 553,084$497, previsto inicialmente em torno de 400 mil réis. A arquitetura de ferro tomava conta do Ceará nas construções das pontes metálicas e no Mercado da carne em Fortaleza, na Estrada de ferro de Baturité, entre outras obras. O que não foi diferente na construção do teatro oficial, este recebeu uma estrutura de ferro importada da Europa através da firma Boris Frères junto à empresa escocesa Walter MacFarlane & Co
Os engenheiros desta firma projetaram a estrutura metálica da platéia, ou seja, a parte mais importante da arquitetura do teatro. O Garoto, jornal oposicionista, refere-se a essa estrutura de ferro de forma irônica, pois
considerava os seus gastos desnecessários, como também criticava as influências estrangeiras na capital cearense: “Teatro de Ferro; Reportagem d’o Garoto sobre o nosso teatro de ferro, que já chegou das oropicas, ó ferro!”.


Com o decorrer das obras a decoração do teatro ficou a cargo dos “artistas”
Herculano Ramos, arquiteto mineiro e pintou o primeiro pano da boca; Ramos Cotôco, pintor, desenhista, caricaturista, poeta e compositor, ficou responsável pela pintura dos nomes das obras do José de Alencar sobre as grades das frisas, além das decorações em volta dos retratos de José de Alencar e Carlos Gomes e as figuras femininas no teto do foyer; João Vicente, pintor cearense responsável pela pintura imitando mármore de
carrara nas paredes da boca de cena; Gustavo Barroso, escritor, desenhista e
caricaturista, ajudou na pintura do primeiro pano de boca; Jacinto Matos, pernambucano que pintou os florões no forro da sala de espetáculo e o medalhão acima da porta de saída para o pátio com o nome do autor do projeto; José de Paula Barros pintou os retratos de José de Alencar e Carlos Gomes no teto do foyer e a representação das três artes (pintura, música e drama) e Rodolfo Amoedo, carioca que pintou o tímpano da boca de cena. (BENEDITO, 1999, p. 13). 


O teatro À Italiana foi paradigma para todo o mundo, inclusive o Theatro José de Alencar. “O teatro a italiana foi concebido como lugar fechado, elitista, quase secreto dentro da cidade. (...) Ambiente privado da aristocracia e da burguesia nascente, ao qual o povo pouco tem acesso, em sua sala de espetáculos as elites desfilam seus privilégios e seu prestígio social.” (BARROSO, 2002, p. 17-18). 

Seguindo a proposta de Oswald Barroso, o Theatro José de Alencar, em sua estrutura arquitetônica, propôs uma hierarquia social, mas não se propunha ser um local “secreto dentro da cidade”, ao contrário, era para ser visto e admirado, inclusive pelas ditas massas. Segundo o Relatório do Estado, o espaço dos espectadores dividiu-se da seguinte maneira: A terceira secção (...) é disposta assim: 1º pavimento térreo ocupado pelas cadeiras (1ª e 2ª ordem) com corredores laterais e ampla vista para o jardim; 2º pavimento das frizas, ou anphitheatro, e forma e ferradura, sacando do plano dos camarotes cerca de 2m80; 3º pavimento dos camarotes, em número de 19 ao todo (destinando-se o do centro ao Presidente da Província do Estado) com vastos
corredores lateraes; 4º pavimento das torrinhas ou geraes. (
Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa do Ceará em 1910 pelo Presidente do Estado Antonio Pinto Nogueira Accioly.)



Portanto, a platéia possuía seu local definido, os comerciantes, os jornalistas, os políticos, os funcionários públicos, os trabalhadores, cada qual sabiam onde eram seus espaços, ressaltando a hierarquia social dentro do teatro. A inauguração do Theatro José de Alencar ocorreu em 17 de junho de 1910, sob a música da Banda Sinfônica do Batalhão de Segurança e o discurso inaugural ficou a cargo de Júlio César da Fonseca Filho (COSTA, 1972, p.28). 

O Theatro José de Alencar tornou-se a mais importante casa de espetáculos da cidade de Fortaleza, recebendo grandes produções e artistas brasileiros
e estrangeiros. Sua arquitetura opulenta no período da construção, destaca-se pela estrutura de ferro e pelos padrões do ecletismo, tendo como destaque a Art Nouveau e o Neoclássico. Homenageia o mais famoso romancista cearense, José de Alencar, que ficou conhecido por obras como Iracema, O Guarani, As Minas de Prata, O Sertanejo, Senhora e Lucíola entre outras. 

Assim, o prédio do Theatro José de Alencar transformou o espaço visual da cidade, além de proporcionar outras perspectivas sobre a prática teatral em Fortaleza.
“A cidade”, dizia Marsílio Ficino, “não é feita de pedras, mas de homens.” São os homens que atribuem um valor às pedras e todos os homens, não apenas os arqueólogos ou os literários. Devemos, portanto, levar em conta, não o valor em si, mas a atribuição de valor, não importa quem o faça e a que título seja feita. (...) É preciso prescindir, portanto, do que parece óbvio e ver como ocorre, em todos os níveis culturais, a atribuição de valor aos dados visuais da cidade. (ARGAN, 1993, p. 228). 


Deste modo, os discursos jornalísticos foram atribuídos valores ao Theatro José de Alencar, que perpassam pela sua estrutura, pela peças encenadas em seu palco, pelos artistas, pelos seus frequentadores e assim por diante. Neste sentido, Argan propõe uma relação entre função e valor, onde “não há função sem valor, nem valor sem função”, assim, indica dois tipos de valor: valor da função e função do valor. O Theatro José de Alencar é percebido, julgado e vivido conforme seu dinamismo funcional ou a contemplo, assim, tal prédio tem significados diferentes para sujeitos diversos, sendo que “nada de mais errado do que identificar a função e o significado de um edifício no
contexto urbano. A função não outorga o significado, mas simplesmente a razão de ser”
(ARGAN, 1993, p. 229-230). Mas não é apenas o prédio do Theatro José de Alencar que possui valores, função ou significados, tais atribuições podem ser percebidas nas peças encenadas em seu palco. “O teatro tem uma história específica, capítulo essencial da história da produção cultural da humanidade. Nesta trajetória o que mais tem sido modificado é o próprio significado da atividade teatral: sua função social” (PEIXOTO,
1980, p.11-12). 


Neste sentido, a função social provoca alterações na forma de conceber e realizar o teatro:

Muitas vezes negando princípios e técnicas que pouco antes pareciam essenciais e indispensáveis. Frequentemente transformando o processo narrativo e mesmo os processos interpretação e encenação. É
irrecusável que, dentro de certos limites, formas artísticas acabam criando novas formas artísticas. (...) o que se transforma na vida social e real dos homens é que determina modificações nas concepções filosóficas como nas representações artísticas (PEIXOTO, 1980, p. 11-12). 

A forma do teatro relaciona-se com aspectos culturais e sociais do local onde
está sendo produzido, assim, não se tem uma forma única da atividade teatral, existem muitas formas para o teatro acontecer. O teatro é formado pelo espaço, autores, atores, músicos, produtores, diretores, ajudantes e pelo público. Estes componentes podem produzir uma tragédia, uma comédia, um monólogo, uma ópera, uma opereta, um musical e assim por diante, ou seja, diversas formas de espetáculos teatrais, que mudam conforme o público. 


Portanto, os valores atribuídos ao Theatro José de Alencar estão relacionados com a própria prática teatral, ao mesmo tempo, que ganha contornos sociais, morfológicos e políticos. Desta maneira, o Theatro José de Alencar pode ser 
percebido como um marco da cidade de Fortaleza, pois “a característica essencial de um marco viável (...) é sua singularidade, o contraste com seu contexto ou seu plano de fundo” (LYNCH, 1997, p. 112). 

Como também pode ser entendido como uma “arquitetura monumental”, que é “a expressão do poder, este poder exibe-se na reunião de custosos materiais de construção e de todos os recursos da arte, bem como num domínio de todos os estilos de acessórios sagrados” (MUMFORD, 1998, p. 78).

O monumento é um traço característico da construção do espaço tanto na dimensão sagrada quando naquela aqui definida como de representação. A exigência de construir um espaço sagrado ou de representação pertence à função desempenhada pela legitimação (...) O espaço de representação ilustra os universos simbólicos: os valores, isto é, a estrutura de referência sobre o qual fundamenta a ordem institucional. (BETTANINI, 1982, p. 96-97). 

Segundo Bettanini, o espaço de representação produz significados para legitimar a cultura administrada pela ordem institucional, que pode ser percebida em órgãos como os periódicos, em lugares como as praças, em monumentos como estátuas, ou mesmo teatros. Para oligarquia acciolina, o Theatro José de Alencar tornou-se uma das principais obras realizadas, seguindo a estrutura do teatro italiano e utilizando as novas técnicas da arquitetura, assim colocava de forma concreta a sua defesa do desenvolvimento social e cultural. Desta forma, tornando-se um espaço não só de sociabilidade e prática teatral, mas como também um espaço de representação do governo acciolino.


Camila Imaculada Silveira Lima 

Mestranda em História pela Universidade Estadual do Ceará


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