Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : O Libertador
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 25 de março de 2015

25 de Março de 1884 - 131 Anos da Abolição dos Escravos no Ceará


É preciso lembrar para jamais esquecer!!!

Fatos históricos que culminaram para a libertação dos escravos na Terra da Luz em 25 de março de 1884:

Tempo28/04/1742 - O visitador Lino Gomes Correia, ao passar pela vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos lhes dessem o dia de sábado livre para granjearem o sustento e nos dias santos para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A igreja foi reformada em 1753.

Tempo1860 - Fortaleza tinha neste ano 35.373 habitantes, sendo 17.062 homens e 15.450 mulheres livres e 1.767 homens escravos e 1.094 mulheres escravas, existindo apenas 71 eleitores. 

Tempo 28/09/1879 - No 8º aniversário da Lei do Ventre Livre, funda-se, em Fortaleza, na casa nº 100 da Rua Formosa, a Sociedade Perseverança e Porvir, de objetivos comerciais, mas que também visava à emancipação dos escravos.
Mantinha fundo para alforrias de escravos e alimentava o objetivo de fundar outra entidade, que tomasse para si a empresa de arrebentar o ferro das algemas.
Era composta de 10 membros: José Correia do Amaral (José do Amaral) (presidente), José Teodorico de Castro (vice-presidente), Alfredo da Rocha Salgado (Alfredo Salgado) (secretário), Joaquim José de Oliveira Filho (tesoureiro), Antônio Dias Martins Júnior (Antônio Martins), Antônio Cruz Saldanha, José Barros da Silva, Francisco Florêncio de Araújo, Antônio Soares Teixeira Júnior e Manuel Albano Filho.
Foi assim que nasceu outra sociedade, a Cearense Libertadora.




Tempo 08/12/1880 - Instala-se a Sociedade Cearense Libertadora, para a libertação dos escravos, promovida sob os auspícios da associação comercial "Perseverança e Porvir", iniciativa de Antônio da Cruz Saldanha, que teve como primeira diretoria provisória: João Cordeiro "Juarez" (presidente), José Correia do Amaral (José do Amaral) "César" (vice-presidente), Frederico Augusto Borges "Spartacus" (1º secretário), Antônio Bezerra de Sousa Menezes "Risakoff" (2º Secretário), Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal e capitão Justino Francisco Xavier (advogados), João Crisóstomo da Silva Jatahy (tesoureiro), João Martins "Pery", José Joaquim Teles Marrocos (José Marrocos) "Ó Conell", José Caetano da Costa, João Carlos da Silva Jatahy, João Batista Perdigão de Oliveira e Eugênio Marçal.
Por tratar-se de um movimento muito perigoso, cada um tinha seu pseudônimo, que pusemos logo após o nome.
Durante o tempo de duração das sociedades vários outros vultos ingressaram, chegando a 225 associados só na Cearense Libertadora.
A fundação deu-se na casa Rocha Negra, residência da família Marçal, na Rua Formosa (Rua Barão do Rio Branco) hoje nº 1201.


Tempo 30/08/1881 - O movimento abolicionista fecha o porto de Fortaleza ao embarque de escravos, tendo à frente o jangadeiro Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, também conhecido por Chico da Matilde

Tempo 01/01/1883 - Com a presença de José do Patrocínio, que aqui chegara no dia 1º de dezembro do ano anterior, a Vila do Acarape (Redenção) concede plena liberdade a todos os seus escravos, antecipando-se a todas as cidades e vilas do País; e a 24 de maio, grandiosas festas pela libertação dos escravos na Capital da Província. Em todo o Estado, a libertação se daria no ano seguinte.


Tempo 25/03/1884 - O presidente da Província, Manuel Sátiro de Oliveira Dias (Sátiro Dias), decreta a Abolição dos escravos, em todo o território do Ceará. Em Fortaleza foram quatro dias de festas, mas em alguns lugares houve resistência e demorou ainda a libertação geral. 

Tempo 13/05/1888 - Grandes festas populares, em Fortaleza, motivadas pela sanção da Lei Áurea, que libertou os escravos em todo o território nacional.



Como o Ceará libertou seus 30 mil escravos

"Ingleses, franceses, espanhóis, holandeses e portugueses, numa ponta e reinos africanos, noutra, ganharam vendendo e comprando escravos. Era um importante item do comércio internacional na época. Comércio tão sujo como a corrupção dos novos tempos, no Brasil, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão e no Nordestão.

Barão de Studart e Rodolfo Teófilo concordaram que em 25.03.1883, o Ceará contava apenas com 30 mil escravos numa população de 721 mil habitantes. O Censo de 1872 contou 31.913 e o de 1881 24.463 cativos e 7.436 livres. Não eram muitos, pois o Ceará não tinha cana de açúcar, minas e gado que exigissem mão de obra intensiva.


O “Libertador” em 01.01.1884, localizou os 21.516 escravos no Ceará: 

Fortaleza/Messejana, 1.273; Aracati/ União/Jaguaruana, 1.159; Granja/Palma/Coreaú, 1.250; Acaraú, 440; Aquiraz, 449; Acarape/Redenção, 115; Assaré, 512; Barbalha/Missão Velha, 512; Baturité, 789; Canindé/ Pentecoste, 516; Cascavel, 807; Crato, 835; Icó, 731; Ipu, 736; Imperatriz/Itapipoca, 882; Jardim 446; Jaguaribe/ Cachoeira/Solonópole, 608; Limoeiro do Norte, 608; Lavras da Mangabeira, 768; Maranguape/Soure/Caucaia, 847; Maria Pereira/Mombaça, 438; Milagres, 586; Morada Nova, 367; Pedra Branca, 157; Pacatuba, 298; Pereiro, 465; Quixeramobim, 1.924; Quixadá, 298; São Francisco/Itapagé, 427; São Bernardo/Russas, 1.972; Santa Quitéria, 820; Santana do Acaraú, 941; São Mateus/Jucás. 499; Saboeiro/ Brejo Seco/Brejo Santo, 1.130; São João do Príncipe/Tauá/ Arneiroz, 1.956; São Benedito/Ibiapina, 135; Telha/Iguatu, 251; Trairi, 249; Tamboril, 614; Viçosa do Ceará, 323 e Várzea Alegre, 153.



Como Acopiara era então Lages, distrito de Telha/Iguatu, não há precisão sobre quantos acolheu.

“No porto do Ceará não se embarca mais escravos”.

A frase é atribuída a Chico da Matilde, Francisco José do Nascimento, por José do Patrocínio mais tarde batizado Dragão do Mar, jangadeiro de Aracati, prático-mor, prático da barra, convocado por Pedro Artur de Vasconcelos e José Napoleão para trancar o porto a partir de 30.08.1884, por sua liderança junto aos praieiros, não se embarcando e não se desembarcando. Nesta época, não havia atracadouro em Fortaleza. Os navios ficavam ao largo e o desembarque era complexo, através de jangadas e barcos a remo. Em 30.08.1881, Tentaram embarcar 210, mas Dragão do Mar com seus homens impediram. Conflito com os escravocratas, mas a polícia ficou do lado dos jangadeiros. Consequência: Dragão do Mar foi demitido das funções de prático-mor . Houve reações, protestos dos comerciantes, pressões junto ao Governo provincial e denuncias de abusos junto ao governo do Império. Mais tarde, em 1883, Dragão do Mar foi suspenso de suas funções de prático da barra, “resta-me agora fechar as minhas contas com os meus gratuitos e covardes inimigos”.


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Em 30.11.1882, José do Patrocínio, o “Marechal Negro”, líder abolicionista do Rio de Janeiro, desembarcou em Fortaleza, com Alípio Teixeira, seu colega da Gazeta da Tarde, tendo calorosa acolhida da Libertadora, o Centro Abolicionista e do Clube dos Libertos. Num encontro com Dragão do Mar, indagou: “então, o porto está mesmo bloqueado?” A resposta: “não há força neste mundo que o faça reabrir ao tráfico negreiro”. A presença de Patrocínio em Fortaleza teve impacto, com manifestações no Passeio Público, vitrine da pequena cidade. O “Libertador” repercutiu a visita e os abolicionistas marcaram para 1° de dezembro a libertação dos 32 escravos em Acarape/Redenção, iniciando a onda emancipacionista. Começaram a recolher dinheiro para comprar as alforrias. Uma delas , de um conto de réis (1:000$000), veio do Imperador Dom Pedro II para a Sociedade Cearense Libertadora , sacada do Banco do Brasil contra os srs. Pereira Carneiro & Cia, de Pernambuco,

Acarape/Redenção libertou e ficou como símbolo da emancipação, com a presença de José do Patrocínio que retornou ao Rio de Janeiro em 10.01.1883 e que cunhou a expressão que o Ceará era a “Terra da Luz”, que nos acompanha há mais de um século, exprimindo o que vira no Ceará. Daí pra frente, cada município foi repetindo o gesto: Pacatuba, Arrarial/Uruburetama, São Francisco/Itapagé, Imperatriz/ Itapipoca, Canoa/Aracoiaba, Baturité, Icó, Tauá. Maranguape, Aquiraz, Sobral, Trairi, Santa Quitéria, Aracati, Cachoeira, Lavras, Tamboril, Santana, Independência, Camocim, Cascavel, Morada Nova, Acaraú, São Bernardo de Russas , Granja.

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O movimento ganhou impulso. Joaquim Nabuco , de Londres, ao tomar conhecimento do que aconteceria no Ceará em 25 de março de 1885 “Chega-me de diversas partes a noticia de que no dia 25 de março a província do Ceará ficará para sempre, livre da desonra e do opróbrio da escravidão. Não há em nosso passado desde a Independência uma data nacional igual à que a providencia do Ceará vai criar”. E criou. Coube ao presidente da Província , o baiano Sátiro de Oliveira Dias, com muita pompa, ênfase, púrpura da igreja, salvas, bandeiras, flores, trombetas e tiros, na Praça Castro Carreira, anunciar: “A Província do Ceará não possui mais escravos”. O grande ausente foi Dragão do Mar que embarcara para o Rio de Janeiro, em 14 de março, tendo sido recebido por Dom Pedro II. Em Paris, José do Patrocínio reuniu a imprensa francesa, anunciou o feito e leu um cartão de Vitor Hugo: “Uma Província do Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária”.

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Depois do Ceará, o Presidente da Província do Amazonas, o cearense Teodoro Barreto de Farias Souto, fez idêntica proclamação em 20 de junho. Mais tarde, Pará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

É bom que as gerações atuais, tão despolitizadas e anestesiadas pela política de baixo nível das elites brasileiras, tomem conhecimento dos feitos de seus antepassados."

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, 
com base em Djacir Menezes e Raimundo Girão.



Fontes/Créditos: Biblioteca Nacional, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Portal da História do Ceará, Gildásio Sá, Blog Casa do Ceará e pesquisas na internet



terça-feira, 25 de março de 2014

A União trouxe a Liberdade - Ceará Terra da Luz


Jangadeiros usaram suas embarcações para lutar contra a escravidão no Ceará.


"Acompanhados de seus escravos, alguns negociantes aguardavam na Praia do Peixe – atual Iracema – a chegada das jangadas que iriam transportar quatorze cativos numa viagem até o Sul. Aparentemente, a cena era corriqueira, mas, naquela manhã de 27 de janeiro de 1881, todos foram surpreendidos pela atitude dos jangadeiros. Eles se recusaram a pôr os cativos em suas embarcações, num episódio que marcou para sempre a luta contra a escravidão no Ceará.

Desde o período colonial até os tempos do Império, o comércio interno de escravos, ou tráfico interprovincial, era uma constante no atual território brasileiro. Ele envolvia a transferência de cativos de uma região para outra, fosse por compra, troca, venda ou doação. Desde o século XVIII, o escravismo no Ceará foi, em grande parte, resultado desse tipo de negócio. Os escravos, em sua maioria, eram oriundos de províncias vizinhas, como Pernambuco, Maranhão e Bahia, e também vinham da África pelos portos de São Luís e Recife. Mas foi a partir de 1850, com a proibição do tráfico de cativos procedentes do continente africano, que o tráfico interprovincial passou a se intensificar e a ganhar relevância em todo o território do Império brasileiro.

Enquanto traficantes ganhavam cada vez mais dinheiro com esse comércio, começou a ser organizado um movimento abolicionista local, que teve mais força depois que três anos de seca (1877-1879) que se abateram sobre Fortaleza. A estiagem prolongada vitimou principalmente os escravos, que sofreram com a fome e com diversas doenças, e acabaram servindo de moeda corrente em tempos de penúria, transformando-se na salvação de senhores arruinados. Em 1879, um grupo de jovens que não suportava mais ver as humilhações impostas aos cativos que chegavam com as caravanas vindas do interior, resolveu fazer alguma coisa. Influenciados pelas ideias liberais que estavam em voga, eles organizaram uma associação destinada à compra das alforrias de escravas, já que os homens eram a principal mercadoria do comércio interno. A entidade abolicionista criada por esses jovens ficou conhecida como Sociedade Libertadora Perseverança e Porvir.


Segundo informações do livro de atas da associação, na noite de 26 de janeiro de 1881, o abolicionista José do Amaral sugeriu que se tomasse alguma medida para impedir, à força, que continuasse o tráfico de escravos que saía de Fortaleza. O mais curioso nessa história é que estava presente ao encontro um mulato chamado Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, prático-mor do porto, que posteriormente receberia a alcunha de Dragão do Mar. Ele liderava o grupo dos jangadeiros ao lado do negro liberto Antônio Napoleão, que chegara a juntar vintém por vintém para comprar sua alforria, a da família e a dos amigos, gesto que foi determinante para torná-lo muito respeitado entre a classe.

O fato é que ninguém podia imaginar que homens simples afrodescendentes seriam capazes de desafiar uma organização extremamente poderosa. Mas a proposta dos abolicionistas só poderia dar certo com a participação dos jangadeiros. E foi o que ocorreu. Sem eles, que eram os últimos a ter contato com os escravos embarcados, o movimento não teria sucesso.

Napoleão, Nascimento e seus colegas tinham motivos de sobra para aderir a essa causa. Muitos escravos devem ter pedido a eles que não fossem embarcados e relatado terríveis histórias de sofrimento por terem sido separados dos seus. Assistir a esse teatro de horrores provavelmente fez crescer entre os jangadeiros a consciência de que aquela situação precisava mudar. Mas para que pudessem se organizar a ponto de paralisar o tráfico, teve que surgir entre eles um consenso sobre o que representava aquele ato.


Foi na Perseverança e Porvir que a classe encontrou o apoio necessário para acabar com o  transporte de cativos. E reuniu forças para realizar um feito até então inusitado. Tanto que, naquela manhã de 27 de janeiro, os encarregados do embarque de escravos foram surpreendidos com a recusa dos jangadeiros em transportá-los. Diante da situação, conforme foi noticiado no jornal O Libertador, “os negreiros recorreram a todos os expedientes: oferecimento, promessas, suborno, ameaças; tudo, tudo foi baldado”.

A notícia dessa ação dos jangadeiros se espalhou, e as pessoas começaram a se dirigir à praia para ver de perto uma cena inédita. Afinal, um grupo de pescadores pobres, liderados por negros, pardos e mulatos, enfrentava os representantes de uma elite de poderosos comerciantes e traficantes. Segundo O Libertador, “mais de 1,500 homens de todas as classes e condicções” se encontravam ali, acompanhando a resistência dos jangadeiros. Em solidariedade ao protesto, muitos gritavam: “Nos portos do Ceará não se embarca mais escravos!”. O movimento, que se repetiu algumas vezes nos dias seguintes, até 31 de janeiro, ganhava sua primeira batalha.


Meses depois, em 30 de agosto de 1881, haveria uma nova tentativa de embarcar escravos, desta vez para o Norte. Apesar de o presidente da província e o chefe de polícia recém-nomeados apoiarem francamente os negreiros, os jangadeiros obtiveram outra vitória, e o porto de Fortaleza acabou sendo fechado definitivamente para o comércio interno de escravos. Tudo isso com o apoio do tenente-coronel Francisco de Lima e Silva, parente do duque de Caxias, que estava à frente do 15º Batalhão de Infantaria.

Mesmo com todas as mudanças em curso na sociedade cearense, os negreiros ainda eram capazes de dar algumas demonstrações de força. Os abolicionistas podiam ter o suporte do comandante do 15º Batalhão de Infantaria, mas os comerciantes de escravos ainda conseguiam se valer de todos os meios para manter seus lucros. Segundo o Livro de Actas da Sociedade Perseverança e Porvir, chegou a ser ordenado que uma flotilha da Marinha de Guerra fosse enviada para proteger o tráfico e até bombardear a cidade dos revoltosos. Mas, com o tempo, esse esforço acabaria provando ter sido em vão.

Os abolicionistas teriam muito a perder, pois os negreiros fariam de tudo para não deixar nenhum de seus adversários impune, valendo-se de perseguições, medidas repressivas e punições. Segundo o Livro de Actas, Lima e Silva foi removido do seu cargo, assim como o promotor público da capital, Frederico A. Borges, e de dois oficiais da guarda urbana.Além disso, o Dragão do Mar foi destituído de seu posto de prático-mor do porto.


Os acontecimentos no Ceará acompanharam mudanças na legislação a respeito da escravidão em outros cantos do Império. Nas principais províncias do Sudeste, começaram a ser adotadas leis que restringiam a entrada de escravos vindos do Norte, medidas que geraram um movimento com forte participação popular. Com o fechamento do porto de Fortaleza ao tráfico em 1881, a venda de cativos para outras províncias acabou sofrendo um duro e decisivo golpe, fortalecendo a luta abolicionista, que no dia 25 de março de 1884 acabou levando a Província do Ceará a proibir a escravidão. A luta para acabar com o tráfico interprovincial na região, com a fundamental ação dos jangadeiros, saiu vitoriosa, fazendo a “abolição” chegar ao Ceará alguns anos antes da Lei Áurea, de 1888."


José Hilário Ferreira Sobrinho 
(Professor da Faculdade Ateneu no Ceará 
e autor de Abolição no Ceará: 
um novo olhar(Imeph, 2009).

Bibliografia

AMARAL VIEIRA, Roberto Attila do. Um herói sem pedestal – a Abolição e a República no Ceará. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1958.

GONÇALVES, Adelaide; FUNES, Eurípedes. “Abolição – manifestação e herança. A Abolição da Escravatura no Ceará: uma abordagem crítica”. Cadernos do NUDOC nº 1. Fortaleza: Departamento de História/UFC, 1988.

MOREL, Edmar. Vendaval da liberdade: a luta do povo pela abolição. São Paulo: Global, 1988.


 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Liberdade já!


Foi em Fortaleza que começou o movimento de libertação dos escravos. Um grupo de entusiastas formado por João Cordeiro, José do Amaral, Isaac Amaral, Frederico Borges, D. Maria Thomasia e outros, deu o primeiro grito de alarme, em sessão secreta, na qual ficou deliberado que, na semana seguinte, desapareceriam os escravos de A ou B. Com efeito. Cada membro daquele humanitário grupo, procurava entender-se pessoalmente com os cativos e incutia-lhes a idéia de liberdade. "Tome este bilhete e vá apresentar-se ao meu amigo fulano de tal, você não é mais escravo. É tão livre como eu. Somos iguais em tudo". E despedia com carinhoso abraço e forte aperto de mão o seu novo amigo.

João Cordeiro

http://www.arazao.net/images/maria-thomazia.jpg
D. Maria Thomasia

Aos nomes já citados dos libertadores juntaram-se mais os senhores João Lopes Ferreira, Juntiano de Serpa, Antonio Bezerra, D. Elvira Pinho, etc. Deliberaram a criação de um jornal de propaganda, cujo nome foi "O Libertador". Nele expandiam largamente a idéia nova, que em breve invadiria toda a população cearense.


Antônio Bezerra

Já era intensa a corrente libertadora contra os donos de escravos, os quais prevendo perder sua "mercadoria humana", a sua propriedade, procuravam, a todo custo, desfazer-se dela, tentando embarcar seus escravos para as senzalas do sul, empenhando nisto tosa segurança, mas no ponto de embarque, estava preparada fortissima barreira. Era Francisco do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde ou Dragão do Mar. Exercia ele a função de Prático-Mor da Barra. A sua jangada não se rebaixaria, transportando aquela "Mercadoria humana"! Ele opunha-se fortemente ao transporte dos escravos para bordo de qualquer navio.

Libertador - 25 de Março de 1884

Houve luta, e luta renida das autoridades negreiras contra os libertadores. Para tanto, os escravocratas conseguiram a demissão de Frederico Borges do cargo de Promotor público da capital e de Dragão do Mar, por serem libertadores. Mesmo assim, nada conseguiram, porque o povo, em massa, opunha-se contra aquele tráfego humano. Os libertadores cada vez mais, empenhavam maior esforço. A casa das suas sessões era conhecida por "Furna na Rocha Negra" e outra "Furna da Rocha Branca". Ali, lavravam as cartas de liberdade. Em seguida despachavam um portador com a quantia arrecadada, dizendo ser a importância total pela alforria de seu escravo fulano, hoje cidadão brasileiro. O tal negreiro tinha que se conformar porque seu ex-escravo não aparecia mais.

Dragão do Mar

Os conflitos reproduziam-se a cada dia, montavam guarda na praia dia e noite, de modo a não ser possível o embarque de um único escravo sequer. A qualquer hora invadiam o ponto de embarque, viravam jangadas e qualquer outra embarcação que se atrevesse a tentar algum serviço favorável aos negreiros.

Um dia, decidiram libertar todos os escravos em um município próximo. Tomaram o trem e saltaram na Vila do Acarape e uma vez ali, entre grande número de pessoas de todas as classes, depois de eloquentes discursos, declararam livres todos os escravos do município e que para comemorar essa data gloriosa, ficava também mudado o nome do município de vila do Acarape para Redenção. Esse nome de ocasião pegou, e mais tarde, tendo sido elevada a categoria de cidade, foi com o nome de Redenção que perpetuou assim, esse extraordináriop feito.

Em 25 de março de 1884, fizeram eles o mesmo com relação ao municipio da capital, e por fim, com todo o território da então Provincia do Ceará. Os escravos das Provincias vizinhas: Piaui, Pernambuco, Paraiba e Rio Grande do Norte, sabendo não haver mais escravos no Ceará, vinham aqui se refugiar, na certeza de não serem perseguidos.

Na noite de 25 de março fazia gosto ver-se o entusiasmo popular em favor da libertação dos escravos. A capital enchia-se de gente, convidados pelo jornal "O Libertador". A decoração e a iluminação tomaram contas das ruas e residências. Na casa mais pobre, das areias, nos suburbios, via-se, ao menos, uma vela de carnaúba com lanterna de papel de cor, fincada na areia, junto a porta. O municipio do Ceará não tinha mais escravos. Estava livre desta MANCHA.

Fonte: Coisa de cearense e pesquisa de internet
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