Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Vila São José
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 10 de abril de 2018

Os Gritantes Vendedores da Vila São José


Era gostoso o amanhecer na Vila São José nos dias de verão. A estrela D’alva ainda não tinha sida ofuscada pelo alaranjado raio do astro-rei, dando-se para ouvir o suar das ondas em dias de mar bravio no Pirambu; ouvia-se o sussurro deliciante do refrescante vento assobiando no encontro da instalação elétrica dos fios da então Conefor (hoje Enel); pela inércia a compressão eólico fazia deitar galhos finos das árvores mais altas. O barulho só começava às 6 h quando a Fábrica São José iniciava suas atividades nos teares (tecelagem) e os trens suburbanos da RFFSA apitavam, e aí começava a poluição sonora, mandando paulatinamente ir embora o sossego noturno.
Os pássaros rolinhas (caldo de feijão e cascavel), com seu melancólico e redundante cântico de modo uníssono, se alegravam pousados na linha telegráfica do trem na linha de Baturité, nos impondo responsabilidade. Agora, tinha algo atípico que culminou em típico na cultura peculiar de nossa Vila Operária.

Os Gritantes vendedores de porta. O primeiro era o homem da tapioca: “Tapiiooooca”. Por muitos anos ouvi essa voz, mas eu estudava no Grupo Escolar Sales Campos no turno da tarde; não via meu pai sair para o trabalho e minha mãe fazia tapioca também. Se levantar cedo pra que? Na rede ficava. Um dia por curiosidade e lembro que até espantei minha mãe. Saí pra calçada e de calção, assanhado, declinei meu olhar para a Rua Coronel Philomeno, e o homem ainda ia passar. Ele estava na rua Dona Bela quando subitamente entrou um cidadão alto, moreno, chapéu de palha e um caixote todo forrado com palhas de bananeira. Era o tapioqueiro. O homem da verdura só vinha perto das 7 horas. Esse eu vi e reconheci, pois era o pai da secretária do lar (seu nome agora me escapa), mas trabalhava na casa do Wilson Buchão que era gerente da desaparecida Lanchonete Miscelânea na Praça do Ferreira, vizinho ao Posto Mazine na Fortaleza antiga.

Sem hora prevista vinha o homem do “Meeeeeeeel”. Equilibrava com uma rodia um vasilhame tipo leiteira e vendia seu produto natural: “Hoje é de jandaíra, é das Italianas” e por aí ia. Hoje a nutrição policia-nos devido doenças tipo diabete. Ao meio dia e já fardado para ir ao Grupo Escolar (eu cursava a 3ª série do primário - 1968), então chegava o Fedorento do Picolé. Foi rotulado por esse apelido, devido o causticante sol que o fazia transpirar sem a assepsia nas axilas. Era um quarentão de pele morena, e que estacionava a carroça debaixo do único Fícus-benjamim existente na Vila São José, e que fora derrubado em 1975. Falo com precisão porque essa árvore, plantada em 1926, ficava defronte ao numero 43, na Rua Coronel Filomeno, meu berço. A exata, nessa hora a colossal chaminé da Usina São José expelia a descarga da caldeira que ficava na estamparia, e no céu da Vila ficava uma nuvem de fumaça branca não poluente, que devido a altura não atingia as casas, mas que vivenciávamos uma espécie de eclipse, pois o dia mudava de cor. A noite tinha mais dois vendedores de picolé. Um que dizia: “ Mel, mé Mel” e era distribuidor dos gelados da Sorveteria Gury; O Ceará era o outro que largava a carroça e começa a se estrebuchar no chão, quando alguém dizia que ele era torcedor do Fortaleza, rivalidade no futebol cearense. Antes de passar a Novela Antônio Maria com Sérgio Cardoso na TV Ceará Canal 2, emissora única e afiliada da Rede Tupy de Televisão, vinha o vendedor de chegadinho e a sua chamada era com o triângulo.

Eram folhas crocantes de trigo e outros produtos que pareciam folhas de pé de castanhola assadas. Aos fins de semana tinha o pipoqueiro que morava na Rua Padre Mororó, quase defronte ao Santa Cruz Sport Club. Sua chamada era: “Pipoqueirooooo, chegou o cheiroso!!!”. A noite era o vendedor de Algodão doce. Como ele pouco falava, levou pela corriola o nome de “Caladinho”. Eram demais as opções de vendas e a Vila São José era movimentada. Os nossos pais que se aguentasse. Naquele tempo se dizia: Trabalhar por conta própria, hoje é Integrante do mercado informal. Todo trabalho é digno, e não fazia vergonha gritar pra vender, diferentemente de hoje, que para vender é preciso ter público alvo, logística e custo benefício. O trabalho hoje exige uma formatação, uma didática. Milhares de brasileiros se contentam com empregos mesquinhos, parcos salários e condições de vida inferiores, porque levam uma existência por hábitos de negligência, inexatidão, impontualidade, tudo pela falta de vontade, Mas era bom naqueles anos no final da década de 1960 e em ênfase para os meninos travessos que, nasceram e cresceram na inesquecível Vila São José. Quem hoje chega lá, se lembra do último parágrafo do romance Iracema de José de Alencar: TUDO PASSA SOBRE A TERRA.

Texto: Assis Lima

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Vila São José


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio






Ilustrações:
casinhas: GooseFrol
Vendedor: S.Martinho
Pipoqueiro: PintarColorir

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Memórias de menino - Dias de chuva na Vila São José





"Somente quando crescemos é que o tempo nos responde, o quanto pesa a responsabilidade em ser um chefe de família. Nesta estação chuvosa (não digo invernosa) o que o organismo pede é que durmamos um pouco mais, e na meninice nem sequer abríamos os olhos para o salutar e fraternoBom dia com a benção de Deus para aquele que cotidianamente sai entre os percalços da natureza, a fim de cumprir sua labuta obedecendo seu dever de consciência. 

Em minha humilde casa de operário, só quem dormia nos quartos em separado, eram minhas quatro irmãs, porque o macharal era espalhado na casa com as redes nos compartimentos, e tendo que dividir um armador para dois punhos. Nove horas era o nosso café, mas mãe é mãe, e nos deixava à vontade. Ela já estava acordada desde cedo, para atender meu pai na saída. 
Ainda sob à garoa, íamos para um típico lazer em dias de chuva. A areia tinha que está em volume e úmida, onde se lançava uma peça de arame grosso ou ferro trefilado ao chão fazendo riscados em que se encontravam os triângulos ou que picotasse um peixe que se desenhava. Exigia-se muita atenção e coordenação motora, senão o acidente era inevitável. Em alguma casa na Rua Maria Luíza, alguém era fã do Roberto Carlos, e as músicas eram: É Proibido Fumar, Brucutu, Minha História de Amor... 



Hoje não se vê mais graça para essa brincadeira. O “Modernismo”, a televisão como escola de violência, as redes sociais desvirtua e muito o sentido, e com a inversão de valores as pessoas deixam de ser gente para ser contato ou coisa. Ninguém quer mais o olho no olho, corpo a corpo para o diálogo. A boa vizinhança foi acabada, e a televisão acabou dentro de casa. A brincadeira do ferrinho foi embora pro passado; todas as vezes que chove, minha mente salta para as castanholas da Avenidinha da via férrea que lá ainda estão. Os transeuntes pisam no local onde outrora foi palco de alegria e competição, em nossa dispensação da inocência. 
Ao entardecer as arandelas da Conefor com sua triste e amarelada luz incandescente eram ligadas e íamos para o jantar. O que nos fazia ainda permanecer na rua era a tomada de banho nas bicas, mas quando começava os trovões e relâmpagos nos recolhíamos. O único espetáculo existente nessa hora era sonoro, quando alguma composição ferroviária passava circulando a Vila. Ocorria o gemido dos pesados rodeiros do trem sobre o trilho molhado, naquela curva de 90 graus. O silencio era predominante na vila, afinal, o operariado é antagônico e prefere seu asilo. As chuvas fortes nos atemorizavam, mas sabendo que meu pai já estava em casa, a tranquilidade nos adormecia."

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O dia que a ponte desabou!




A parte marcada (em laranja) na imagem foi o tamanho da cratera. Assis Lima

"Estávamos numa manhã chuvosa, naquele abril de 1967. Os ônibus do Oscar Pedreira dentro da Vila São José havia mudado sua rota; todos os veículos estavam adentrando pela Rua Dona Maroquinha, no sentido inverso fazendo ponto final, justamente na Rua Júlio Cesar e Leda por onde os coletivos entravam. Os operários da Fábrica São José, desviaram seu trajeto tornando periculosa a passagem transitando por entre os trilhos da Via Férrea, único recurso para chegar ao trabalho. Isso desorientou de certa forma os moradores e com a publicidade veio à tona: A ponte que nós havíamos batizado nº3 sobre o Riacho Jacarecanga (foto ao lado), com as fortes chuvas que havia trasbordado pelos bueiros levou o aterro com pedras toscas, ficando uma cratera em plena via pública (a Ponte nº 1 era na Francisco Sá e a nº2 na Rua São Paulo (Monsenhor Dantas).


O Coronel Philomeno havia determinado (em plena ditadura Vargas) com o Padre Pio, então pároco dos Navegantes, a que todas as procissões de 4 de outubro dedicadas a São Francisco, passassem pela ruas de sua vila operária. Mas, numa festividade religiosa deste porte, vem gente de todos os bairros periféricos. Nesse dia do desabamento da ponte, o mar de cabeças humanas fora só com moradores da vila.

A ponte ainda em madeira.

A construção em concreto.

Nossa comunidade virou cidade fantasma. Só teve uma vítima fatal:“o feroz” um cão, animal de estimação do Seu Ernesto e Dona Ivanilde. A correnteza levou o bichinho. O pranto foi intenso. O Corpo de Bombeiros Sapadores, depois só Corpo de Bombeiros (Sapadores é que não se admite voluntários) foi acionado fazendo um cordão de isolamento, evitando mais desmoronamento e dando mais segurança aos curiosos que para lá se dirigiam. Ninguém ousava se aproximar do limite de segurança, haja vista ser forte o fluxo de água, levando o que encontrasse pelo caminho. As águas delineavam o curso por o descontrole, passando sob a ponte ferroviária, passando ao lado do campo de futebol da Escola de Aprendizes Marinheiros, ornamentava ao noroeste da Marinha um matagal para exercícios militares, indo desaguar no chamado pela pirambuzada de “Corrente”, ao lado da casa de praia da ilustre família Moraes Correia. A ponte caiu, ocasionando três dias de interrupção. Os bombeiros só liberaram para reconstrução, quando as chuvas amenizaram. O empresário Oscar Pedreira e o Cel. Philomeno foram parceiros de Murilo Borges, Prefeito de Fortaleza à época, e a evidência se deixa falar. Se algum dia esse local foi bem visitado, foi nessa circunstância. Feito a amarração com ferro e cimento, foi colocado areia e barro que fora amassado com aquelas máquinas, tipo rolo usadas em pavimentação asfáltica. Como o cheiro estava insuportável, a meninada começou a fazer miniaturas daquelas máquinas com latas de leite e areia, apelidando-as de “Rola Bosta”. Bem, após a nivelação de areia, colocaram pedras toscas. O trânsito normalizou e os transeuntes voltaram a palmilhação. O local ficou conhecido como Baixo da Ponte, devido aos dois níveis: Carros e Trens. Foi o maior acontecimento ocorrido na Vila São José que mexeu com o trânsito, percurso à pé das pessoas, trens passando com velocidade reduzida, ocupação do Corpo de Bombeiros e a presença do Poder Público."

 Assis Lima
(Radialista/jornalista)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

As ruas da Vila São José - Reminiscências


Foto acervo Assis Lima

"As Ruas da Vila São José tinham mobilidade, pois, cada uma delas nos levava a um destino útil. Mercearias, cabeleireiros, vendedores autônomos, até mesmo o pai do Mário Teobaldo, cidadão que era freguês do seu Dioclécio famoso por vender alpista e painço, para alimentar seus animais e o aviário. A via de exorbitante afluência era a Dona Bela, existindo três paradas dos ônibus do Pedreira que trafegavam no sentido Leste Oeste, bem no seio da Vila operária e com, as três únicas mercearias do Bairro.

Igreja dos Navegantes

A mercearia do Dioclécio (já citado), do Seu João Lima Passos e do Assis do Gás, avô do Catita. A pianista da Igreja dos Navegantes lá morava e era grande o seu número de admiradores, assim como os meninos nada gostavam de um morador defronte a uma das bodegas: era um funcionário da Secretaria de Segurança que era locado no Juizado de Menores. Seu bigodão dava ainda mais moral. Defronte a casa da pianista, era um abatedouro clandestino fundo de quintal. Seu Vicente do bode fazia seu abate, que era concorrido com o Chicó pai do Zé Boneco na beira da linha do trem, ao lado da casa da Maria Pé de Bicho. A Rua Maria Luiza era famosa por ter o privilégio da arborização e a Avenidinha da via férrea. O Pantaleão era um contador de estórias, bem como Dona Elizete que posava à sombra do pé de castanhola com outras desocupadas, e vamos cortar a vida alheia. Nessa, os transeuntes eram os praianos, os religiosos, e a coisa se intensificavam aos sábados com o povo que, pela manhã ia para feira nos Navegantes e, à tardinha o tradicional Racha dos pais de família. E haja vaia, quando a poeira levantava. Já na Maria Isabel tinha no começo a Avenidinha da Cajubraz, a casa do Chico Sete Cão, o Bar do Telles e bem no meio, em casas primitivas a oficina de rebobinagem de motores “O Dedé” pai da Vera Doida, do Chico Bocora e o Zé Pé de Pato. No final em bifurcação T com a Maria Estela era notória a Sapataria Adegerson. Muitos meninos nus nessa rua, e devido a algazarras e a brincadeira do triângulo na área molhada, foi batizada Rua do Papouco. Os líderes dessa promiscuidade eram o Pierre Sujo e o Daniel Oião. Funcionou nessa rua em que morava O Bodinho Bicheiro, Cesinha Fala Fino e Uma Escolinha particular no número 41 e que agora me foge o nome.

Cruzamento da Avenida Francisco Sá com a hoje Avenida Filomeno Gomes. Assis Lima

A Coronel Philomeno era a minha e diga-se de passagem, a mais movimentada em termos de brincadeiras. Tinha duas tropas: A “Meninos do Mato” (a nossa) e a dos “Abestados” que faziam brincadeiras sem graça. Vez por outra o Pedro Jaime “Pedro Velho” era visto nas manilhas do esgoto. O Baiano era um cidadão Baixo, gordo, torcedor pelo Bahia, e foi quem criou a filha do Pedro Velho. Até enquanto morei ali, nunca a Gracinha, Maria das Graças era seu nome, nunca ela soube que Pedro Jaime era seu pai biológico. Seu Esteves Bahia atendeu ao pedido do Pedro e assim o fez. A Pilta foi outra. Hoje mora nos Estados Unidos e também não conviveu com seu pai, que a filha de Dona Fátima nunca disse. Bem no Centro da Vila no sentido Norte Sul tinha a Travessa São Francisco. Nunca recebeu o nome de rua, pelo fato de existir apenas três casas erguidas em terreno de quintais, porém, viam-se dois oitões de casa em sentido perpendicular. Numa delas morava o Adalto Berruga. Leda era chamada Rua dos Chafarizes tal qual a José Avelino na Fortaleza antiga. Tinha reservatórios em número de dois e padronizado, objetivando atender a demanda na segunda etapa da Vila São José. Lá era a entrada dos ônibus em segundo trajeto. O primeiro era na Júlio Cesar. Agora me deixa falar de uma rua estranha. A Santana era uma travessa, com um fícus-benjamim e uma castanholeira. Poucas casas, moradores antagônicos, apenas sabe lá qual o local ouvia-se um som de algum aparelho de rádio, mas de onde vinha o som? O local era morto sem chamativo. Nessa rua os meninos dormiam cedo e em noite chuvosas tomávamos banho correndo de bica em bica, mas no silêncio da Rua Santana as goteiras choravam, jogando água na coxia, e em declive rápido ia desaguar no Riacho Jacarecanga. Era uma aversão entrar naquela rua. Era como se existisse uma testemunha ocular de plantão, acusando de algo que cometemos, e que não nos lembramos."

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A padaria do Português Augusto Pinho




Imagem meramente ilustrativa

Na calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles) no finalzinho da Rua Dona Maroquinha (Vila São José), ficava uma montanha de lenhas que era para alimentação térmica, dos fornos da PANIFICADORA POPULAR, cujos serviços iam noite adentro. No lado Sul do prédio com dois andares e de 50 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada com cimento armado. Designavam-se essas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes que iam serem carregados com pães novinhos e crocantes. Naquela época o pão bengala era a semolina. Tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada. Os clientes eram mercearias como ainda posso me lembrar: bodega do Edmilson, do Luís Carvalho (Na Avenida Tenente Lisboa), Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do Mercadinho da Via Férrea e seu Ozanan; saía também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai eu querem escrever outra coisa... O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog.

Na fachada amarela, era onde ficava a Padaria.

Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde. As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961. Eu fui um, dos que carregaram caixotes na cabeça com um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro era o PinheiroCabeça Branca” e o Nogueira Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Eu infanto-juvenil, magro, com aparente subnutrição nunca saía sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida. Papai nunca soube dessa. Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de Bacana. Lá dentro com uma mão na massa e outra na lenha tínhamos: O Riba, O Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Eu era o Pirulito Americano. Foi o Nazareno “Pai da Mata” que me rotulou e pegou! Ê, molecagem. Intenso era o movimento na calçada da fábrica do português, e uma chaminé bufando fumaça preta poluía a Avenidinha Sul e, inquietava às vezes os animais ali amarrados. A espera era pouca. A noite na calçada quando livre, era parte de nosso lazer. Era a brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.


Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia, muitas vezes, Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento. Aos sábados pela tardinha, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para a garotada, preparando-os para a primeira comunhão, cujo evento ocorrera na Igreja dos Navegantes, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor em 1967. O Frei Memória havia feito a confissão, no Grupo Escolar Sales Campos com o aval do Monsenhor Hélio Campos. Desse modo escrevo com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos. Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins. Matou o lugar. Seu Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou. Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável, passou a ser um fracionado monstrengo com uma adaptação não planejada para residências. Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde nossas brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Dr Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ficam apenas com os que cultuam o passado. Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Hidráulica da Vila São José


Foto de uma das caixas d’água da Rua Leda e lá atrás a do Seu Telles. 

"Água é vida!
E por ser um termo tão usado parece ficar redundante. Estudos revelam que a doença hídrica não é pela água em si, mas devido o mau uso ou conservação. Existe o institucional que é voltado para recursos hídricos: Funceme, Cogerh, Cagece e os Institutos de análises, além de setores de pesquisas de Universidades e/ou Faculdades. Às vezes por faltar estudo técnico, certos projetos de edifícios, bem como conjuntos habitacionais sacrificam a Companhia fornecedora de água, porque se faz necessário a mesma atender as novas demandas. Na minha Vila São José, o recurso hídrico só foi importado a partir de 1963, quando o Coronel Philomeno autorizou as vias de pedras toscas serem escavadas pelo Saagec (Serviço de Água e Esgoto do Estado do Ceará). Era chegada a famosa água do Acarape. Chafarizes com cacimbões ao lado ou abaixo da base forneciam água para a Vila Operária.
O primeiro construído foi na Rua Maria Estela, primeira rua também construída em 1926. Recebia o líquido precioso da Fábrica São José, proveniente de um poço profundo defronte a Estamparia de acabamento das toalhas. A tubulação de 100 mm transpassava o Rio Jacarecanga. Era sustentado por duas bases de cimento armado. Depois na entrada da Vila, pelo lado Sul fim da Rua Dona Maroquinha, esquina com a Rua Maria Isabel, a segunda caixa d’água. Era um reservatório de 50 mil litros, com altura de 20 metros. Tinha um espaço retangular onde tinha duas casas arredondadas parecendo duas ocas, de cor cinza, erguida com tijolos batidos e cobertas com telhas do Maracanaú. Uma dessas casas era acompanhando a base do reservatório que deveria abastecer as residências por gravidade. A outra era conhecida como Casinha da Bomba. Tinha a bomba hidráulica impulsionada por um motor de 10 cavalos, alimentado com 380 Volts puxados por uma correia de 1,5 metros. A chave elétrica era do tipo faca com fusíveis de cartucho ambos fabricados pela Westinghouse - USA.
O bombeiro era o Antônio e o eletricista seu Mozart. O Telles que herdaria aquele pedaço para fazer um bar, era o fiscal do Coronel proprietário. Segundo meu pai Valdemar, essa primeira etapa funcionou até 1966, porém, houve um aditivo para atender as construções da segunda etapa da Vila São José em 1946, onde meu genitor foi servente de pedreiro (Tenho sempre a honra de dizer que meu pai, matuto vindo de Jucás, analfabeto, começou na Capital assim e depois foi galvanizando elevados e quando faleceu em 9 de abril de 1984, já estava aposentado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, como administrador em Nível Superior).

O primeiro reservatório dessa segunda fase foi na Avenidinha, pelo Norte ao lado da Via Férrea de Baturité da RVC. O cacimbão localizava-se à sombra de uma das castanholeiras, que eram em numero de duas. Essas sexagenárias árvores lá ainda estão, menos a caixa d’água e a cacimba em forma de disco voador. Na construção já mencionada e lá se foi 70 anos, tinha na Rua Leda dois reservatórios. Não os alcancei funcionando, mas cheguei a ver todas as instalações com canos vencidos pela corrosão e válvulas brecadas pelo desuso. Os motores já haviam sido retirados restando a base abandonada com parafusos ereto e ranhuras avariadas. O poço na casa do Chico sete cão na outra Avenidinha sentido Sul, não sei se era público, mas lá tinha um portão para a rua. Essa não me lembrei de perguntar ao meu velho. Pessoas inteligentes criam oportunidades. Tomando conhecimento dessa demanda reprimida, um empresário cujo nome não me ocorre, começou a vender água em carros pipa vinda de um poço profundo do bairro Floresta. Os baldes de zinco com capacidade para dez litros custavam Crn$ 0,50 (cinquenta centavos do cruzeiro novo) moeda que circulou tão logo fora criado o Banco Central do Brasil no Governo Castelo Branco.

Os caminhões GMC funcionavam à base de manivela. Ah, Já ia me esquecendo, as carroças do Mestre Carlos, que por apelidar seus animais, tornou-se também tipo popular na Vila São José. A carroça Pombo Roxo era tracionada pela Margarida (burra branca); a Pombo Cardo era com a Rosinha (burra avermelhada) e tinha o cavalo Gaspar que morreu.
Garoto ainda travesso, ajudei o Mestre Carlos nessas entregas. Sob a forma de Empresa de Economia Mista, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece foi criada através da Lei 9.499, de 20 de julho de 1971, e absorveu o Saagec, bem como todas essas peripécias com água. Tudo desapareceu. Cesar Cal’s e Vicente Fialho modernizaram esse sistema em todo o Jacarecanga, ao qual por sua vez, Adauto Bezerra fez a parte de esgoto. Na Vila o homem dos esgotos era o Pedro velho, um protagonista comparado aos carregadores de Quimoas na Fortaleza antiga.
Quanto ao tratamento e atendimento de águas, nunca se ouviu falar em conta. Era uma cortesia do Coronel Philomeno aos seus operários. A Light/Conefor essas tinham e com péssimo atendimento, em um prédio histórico no Passeio Público. O Coronel tinha consciência da utilidade do líquido precioso, e dispensava de seus empregados. Água era o que não faltava. A vila só não foi mais ornamentada, culpa nossa que pisávamos na grama. A placa estava lá, mas servia de alvo para os travessos. Essa Vila do Jacarecanga pobre tem muitas histórias."

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Os ônibus do Oscar Pedreira


Hoje se fala muito em Mobilidade Urbana, termo técnico gerado por simulação computacional em que, a engenharia de tráfego se apoia para resolver problemas de trânsito. Certos gestores até tira bônus perante condutores particulares e/ou coletivos, para lograrem êxito em suas pretensões políticas. Trabalhar na estética é melhor do que na infraestrutura, pois, esgoto não dá voto! 

Querem um exemplo histórico? 
Quem se lembra de alguma obra do Governo Adauto Bezerra? O que muitos vão dizer é que é o único Coronel vivo daquele trio do regime militar. Não, meus amigos! Os quatro anos na frente do Estado foi drenando Fortaleza, e jogando todas as manilhas no Interceptor Oceânico, e trazendo pedras da Monguba para fazer o espigão de retenção das águas oceânicas do meu Jacarecanga. Isso tem um custo tremendo, mas não dá voto. Observaram que em eleição direta para o Governo do Estado em 1986, ele foi derrotado por Tasso? Não estou como partidário e sim como observador político. Mas isso é outra história... 

Foto acima: Oscar Pedreira em destaque


 
Ao tempo do empresário Oscar Pedreira, ele tão bem servia as linhas de sua concessão adquirida na gestão de Álvaro Weyne (1928), que certos veículos saíam batendo da Vila São José para o Centro, mas ele jamais suprimiu algum horário por falta de passageiros. Tão logo construiu sua Vila Operária (1926), sua preocupação número um, foi o deslocamento dos moradores para o Centro da cidade. A garagem e escritório da Empresa Pedreira Ltda era próximo ao Liceu, na Avenida Francisco Sá ao lado de sua mansão que, em homenagem a Sra. Francisca Pedreira, sua esposa, denominou-se VILA QUINQUINHA, afinal na intimidade ele a chamava de Quinha, corruptela de Francisquinha. O galpão era alto. Lá os ônibus pernoitavam, passavam por revisão e abastecimento. A armação de sustentação do teto era de tesouras confeccionadas com madeiras de lei. Existia uma bomba de combustível abastecida pela Atlantic, e dois mecânicos habilitados para conduzirem carros grandes para a época. Faziam serviços de funilaria, elétricos, pinturas e quando a coisa era mais complicada, seu Oscar chamava técnicos da GMC e Chevrolet

O Posto Clipper da Avenida Francisco Sá, foi instalado em 1952 com a intervenção de Oscar Jataí Pedreira.

Falando em Atlantic, o povo do Jacarecanga deve ao Oscar Pedreira a instalação do Posto Clipper em 1951. O mesmo era na esquina da Avenida Francisco Sá com a Via Férrea. A Atlantic em 1993 foi absorvida pela Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga

Os primeiros combustíveis chegados ao Ceará remota de 1909, mas os vapores que aqui fundeavam no Poço das Dragas e Barra do Ceará, traziam em invólucros tipo tanquinhos derivados de petróleo. Era uma tensão muito grande do Capitão e, dos moços de convés em trazer essa carga. Oscar pedreira era um importador para abastecimento de seus coletivos. A partir de 1950, foi que se estabeleceu no Mucuripe a Shell Mix primeira distribuidora do ramo. Como apelido era o predominante na Vila São José e eu me lembro de já ter escrito sobre isso, nem os ônibus escaparam de nossa molecagem. Existiam na empresa sete veículos com motores pra fora: O número 1 era o do João Pilão (careca com cabeça de pilão), recebeu batismo nosso. Veiculo de marca GMC, só tinha uma entrada e perto da manivela da abertura da porta, tinha o ficheiro. O cobrador ia de banco em banco, com as cédulas entre os dedos. Quem ia pagando recebia uma ficha. O número 2 era o Portiguinho, ou seja o vidro traseiro era duas janelinhas para visão do condutor, e era guiado por Pedro Alegria”. Ele era igual a geladeira de restaurante, só vivia se abrindo. Nós íamos ao Centro de graça. O número 3 fazia a linha Brasil Oiticica indo ao Carlito Pamplona. Este fazia ponto final na Rua Frei Teobaldo, defronte ao comércio 4444 na esquina da Avenida Francisco Sá (nunca se soube quem era o condutor). O número 4, por seu comprimento, cara de jacaré, recebeu o nome de Pajelão, e o motorista era o Araújo Bigode de Nós Todos. Faleceu subitamente em 1968, e aí, em respeito, passou a ser Seu Araújo. O número 5 era um semelhante ao de hoje, com porta no meio, e sem cobrador. O condutor era Seu José, o Zezinho afobado, só andava adiantado. O número 6 era chamado oDifícil e só fazia a linha do Carlito Pamplona. Vez por outra entrava na Linha Jacarecanga indo a Vila São José. Motorista: Bigodinho Fresquim. Parecia com Dom Diego do seriado Zorro com Guy Willians. O número 7 era carro reserva, e fazia conforme a necessidade as duas linhas. Então em súmula a distribuição era assim: quatro carros faziam a linha do Jacarecanga, dois para o Carlito Pamplona e um reserva. 
Aí fica uma indagação: Por que o Carlito Pamplona, mesmo sendo mais longe, tinha veículos de menos? A justificativa era que o bairro era assistido por outras empresas. Era concorrido pelas linhas Barra do Ceará, Jardim Iracema, Floresta, Coelho Fonseca e Jardim Petrópolis (cidade do Petróleo, o petróleo chagava por ali), hoje é Goiabeiras

A Brasil Oiticica 

Os ônibus do Pedreira tem histórias!
Essa é apenas uma, conte a sua!
O terminal do Centro, segundo meu pai, era no Abrigo Central, indo em seguida para a Praça Jose de Alencar em 1965. 

Atenção: Quem tem seu papai, pergunte as coisas, não espere o arquivo se queimar!
Com o crescimento oeste, e abertura de avenidas, Jacarecanga foi ficando saturado com as linhas mais diversas. Por conta disso, desapareceram as linhas do Jacarecanga e Navegantes (Braga Torres); em seguida Carlito Pamplona. Em 1973 a frota foi renovada com carros de motor interno de carroceria Grassi, mas não deu mais para acompanhar. Oscar Jataí Pedreira morre em 1977. A viúva foi "Aldeotizar" com os filhos... Os carros foram vendidos juntamente com a Vila Quinquinha. Em seu local é erguido um majestoso edifício, e nunca mais circulou ônibus pela Vila São José

Agora vem o nostálgico: As lembranças daqueles onibuzinhos verdes, os motoristas já nos deixaram, e nada se compara a velocidade de nossa mente, quando retorna ao passado. Pena que não volta!

Assis Lima
(Jornalista/Radialista) 




sábado, 3 de dezembro de 2016

Memórias de menino - O descanso da Vila


Inicio da então rua José Bastos, avenida onde fica a Escola Sales Campos.

Era tardinha. 
Chegávamos do Grupo Escolar Sales Campos* e ao atravessarmos a linha férrea de Sobral, podíamos ver por detrás da firma Machado Araújo a frouxa e amarelada luz do astro rei, espalhando seus últimos raios, se despedindo do dia que nos deu. (Graças a Deus!). Na Vila São José era uníssono nos aparelhos receptores de rádio, o som da banda de Oswaldo Borba na execução do frevo 'Aguenta o Cordão' de Livino Ferreira, que havia sido gravada para o carnaval de 1960. Era Wilson Machado no microfone da Pre-9 se despedindo no programa Disque M para a Música.

Outro ângulo da José Bastos. Esse cidadão na foto é o François (Françoá), tipo popular do bairro pelo "Famoso Caldo do Françoá. Ele dizia: "Venha tomar do meu caldo que é que nem raiz de benjamim, levanta até calçamento". Entre seus clientes, estava o saudoso radialista Jurandi Mitoso.


Vemos o Muro da Extinta Firma Machado Araújo e o Centro de Saúde Carlos Ribeiro.
  
Em seguida viria Ulisses Silva, também já falecido, com o Alô Sertão com a voz caricaturada do Coronel Ludgero. O dia enegreceu. Após trocado de roupa, abandono de material escolar e tomada de café Baturité com tapioca... Rua, para brincar. Não precisa estudar medicina para compreender que quando o corpo está em movimento, a mente fica em repouso. Só bastava o primeiro demonstrar prontidão e a meninada já estava reunida. A lua aos poucos fazia um lindo desenho, saindo em forma de grande bola de prata por detrás dos galpões da Fábrica São José, gerando um espetáculo quando a chaminé da usina fazia uma linha preta no calçamento na rua Central da Vila, a rua Coronel Philomeno. Tinha o pula pula imaginário naquela sombra, por a companheira das noites que brinca com as estrelas ali fazia, enquanto ali ficava. Eram poucos os aparelhos de televisão para sintonizarem a TV Ceará Canal 2 dos Diários Associados, fazendo com que tivessem mais gente nas calçadas. E tome a vida alheia!!! Os portes de madeira de lei carregavam a fiação da Conefor (Coelce-ENEL) e, a cada esquina uma arandela triste com lâmpadas incandescente de pouca potência. As bodegas do seu João Lima Passos, do Assis do Gás e seu Dioclécio fechavam as 20h, ficando em funcionamento modo industrial a padaria do Seu Augusto Português

Curva da Vila São José

Os padeiros entravam de noite à dentro, porque uma rural Willys partia às 4 hs para abastecer a Padaria Triunfo, que ficava baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro de Fortaleza. Nas avenidinhas (Praças da Vila) tinha o trinta e um na manja; passarinho ninho cobra no buraco; mamão pobre mamão maduro; Eu sou pobre demavé mavé; Barra Bandeira etc...Aos perdedores um tremendo sabacu. O que era interessante é que ninguém se intrigava por essa punição. Isso fazia parte do ritual travesso. Minha mãe com os ouvidos aguçados nas Radionovelas através de um Semp valvulado tipo Cara de Gato, e meu pai no programa do Themístocles de Castro e Silva "Quando a Saudade Apertar" num radinho a pilha cochilando sob a fresca da noite na calçada. Ele não gostava de dividir sua audição com conversas paralelas, até porque naquela época os programas de rádio tinha conteúdo. Hoje eu tenho vergonha até de dizer que sou radialista. - Meu Deus! Dez da noite. Papai só bastava se perfilar na Praça e negro chega batia os pés na bunda na carreira pra casa. Tomávamos banho e aí era que íamos para o jantar. Talvez minha mãe queria até se deitar, mas não podia porque ainda tinha sua última tarefa (como se fosse poucas as do dia), em nos alimentar. Não tínhamos ideia deste sacrifício dado aos nossos pais. 
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Sentido inverso

Vila São José

Sabe amigos, só com o passar do tempo é que percebemos que a vida é uma colheita. Nossos filhos hoje muitas vezes nos desobedecem, e aí nos lembramos de que isso é uma dívida que a infância deixou em aberto. Bom todos em casa e já as redes armadas! Ainda íamos contar histórias/estórias até as onze e aos poucos adormecíamos. Era assim que a Vila São José dormia. Tamanho era o silêncio que ouvíamos alguns vizinhos mais corujão ainda ouvindo a musica Acalanto de Dorival Caymmi, que era o sufixo da TV Ceará no fechamento e mais: quando a maré estava cheia se ouvia o Marulho das Vagas na Praia do Pirambu. Por baixo da porta de entrada de nossa casa, um clarão como se fosse um relâmpago em noite chuvosa. Não e não. Era a lua já bem alto no Céu, emitindo sua claridade para não deixar nossa rua na solidão.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)

Gif

*Inaugurada em 17 de fevereiro de 1952, com o nome de Escolas Reunidas Sales Campos, no governo do Dr. Raul Barbosa, sendo Secretário de Educação o Dr. Waldemar Alcântara. Funcionava na rua São Serafim, S/N, no Bairro Nossa Senhora das Graças (Grande Pirambu).


Em data de 6 de novembro de 1954, por ato do então Governador do Estado, Dr. Stênio Gomes da Silva a Escola foi elevada à categoria de GRUPO ESCOLAR e passou a funcionar na rua Jacinto de Matos, 730, atualmente Av. José BastosJacarecanga.

A Escola hoje, conta com um total de 512 alunos, distribuídos em dois turnos: manhã e tarde com o ensino fundamental e médio. São 28 professores, 12 funcionários (agentes administrativos, auxiliares administrativos e pessoal de serviço); e um Núcleo Gestor composto de uma Diretora, duas Coordenações e uma Secretária.

Seu espaço físico na época era pequeno e contava apenas com 8 salas de aula, Sala da Direção, Secretaria, cozinha e banheiros masculinos e femininos.
Hoje, são 10 salas de aula, Sala da Diretora , Sala da Coordenação,1 Centro de Multimeios, Sala dos Professores, Secretaria, banheiro dos professores e funcionários, banheiro dos alunos, Almoxarifado, Banco de Livro, Depósito de material, Depósito da Merenda, Cozinha, dois pátios, Sala do Grêmio e Laboratórios de Ciências e de Informática.



Imagem relacionada

sábado, 26 de novembro de 2016

A vacaria do velho Alves e o riacho Jacarecanga



Mansão de José Pinto

Dentre os points da gurizada da Vila São José do meu tempo, o mato verdejante sob o espetacular voo da garça branca ao lado do riacho Jacarecanga, pela passagem sob a ponte da rua São Paulo/Monsenhor Dantas, servia de uma espécie de acampamento. A improvisação do local era à sombra de uma grande goiabeira ladeada ao muro da mansão de Acrísio Moreira da Rocha e outra com vários degraus que ficava pela avenida Francisco Sá (Foto ao lado), que era da família de José Pinto do Carmo. Era riquíssima a flora no entorno do então belíssimo riacho. O coqueiral era intenso, mas ninguém tinha coragem de subir, até porque um militar dos bombeiros nos assombrou dizendo: “O menino que subir nesse pé de coco vai parar no Juizado de Menor”


Na realidade aquele homem queria era nos proteger de possíveis acidentes, porque menino não tem noção dos perigos. Ora o Glauco cueca lá na goiabeira deslizou e fraturou um braço! 

(Ao lado, casa de Acrísio Moreira da Rocha).

Defronte ao nosso Quilombo (liberdade de casa kkkk), observa-se a Vacaria do Seu Alves. Um velho careca com orelhas avantajada, e tinha seu curral com sua criação em número de 30 cabeças. Ela ficava ao nordeste do riacho, e era um concorrente dos laticínios Maranguape e Cila. Tudo lá era caseiro, mas de boa qualidade. Um fato inusitado era uma espécie de rancor ou tom, sei lá, nós tínhamos era medo do velho!!! - “Mil”. Referia-se a nota amarela de Pedro Alvares Cabral. Era assim que ele respondia aos que perguntavam pelo preço do litro de leite. Nunca foi visto os dentes daquele homem, que já beirava os 70 anos. 

"Era ao lado do galpão que ficava o matagal que era nosso quilombo." Assis Lima


Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. "Antes de ser aterro sanitário e fábrica de muriçocas." Assis Lima

Construção da ponte em concreto sobre o riacho Jacarecanga. 

Aquele pedacinho do Jacarecanga tem muitas histórias, mas não são coisas que contamos, e sim que a topografia e edificações ratificam. O verdadeiro arquivo é sua etnologia sob a égide topográfica. Quem já ouviu falar no Lazareto de Jacarecanga? Pois bem, no canto noroeste e estamos falando do riacho, ficava uma caixa d’água em ruinas e por detrás um cacimbão. Após conversa com ex-provedores da Santa Casa de Misericórdia, aquela era o recurso hídrico para o Lazareto. Portanto todos passam despercebidos por ignorância. Eu fui uns dos que contemplaram no inicio da década dos anos de 1970, quando da construção da Autoviária São Vicente de Paula, que era na avenida Francisco Sá quase defronte ao SAPS, vi várias ossadas humana. A garagem de ônibus do Seu Carlos, sogro do cantor Vilemar Damasceno, foi erguida no Campo de Baturité que no primeiro quartel do século XIX havia funcionado ao lado da futura Cajubraz, o Lazareto. O quadrilátero para o leitor compreender melhor era: Ao Leste rua Adriano Martins; Sul rua Adolfo Campelo; Oeste Dona Maroquinha e ao Norte rua Monsenhor Dantas. Voltando... À noite, para nós meninos, era aquele local um terror. Mas durante o dia e pela manhã, com cuidado, ainda se podia tomar banho, pela aparente limpidez das águas correntes. Pescávamos por hobbie. Quando chegou no “Morro do Ouro” a Cobica, fábrica que trabalhava com beneficiamento de castanhas de caju, começou o desastre ambiental no riacho. Os peixes foram desaparecendo, e com a proliferação de moradores nas beiradas com ligações sanitárias para o mesmo, morreu o resto. Ainda bem que crescemos! Um muro hoje apagou literalmente a paisagem, tendo agora um residencial antagônico ao exórdio, ficando no lendário dos cinquentões que ali brincaram, as lembranças. Qualquer local traça seu próprio destino, obedecendo às transformações paisagísticas ou sociológicas. É pena que nem todos são sensíveis ao seu passado, ou no engasgo da realidade atual, não sabem contar...


Leia também:

Morro do Ouro - O morro sem ouro



Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio



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