Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cine Merceeiros
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cine Merceeiros - 1930


O Cine Merceeiros da Associação dos Merceeiros

No dia 5 de abril de 1914 era fundada, em Fortaleza, a sociedade beneficente Associação dos Merceeiros, que se propunha a desenvolver atividades instrutivas e de defesa dos comerciantes de estivas e miudezas a retalhos e empregados no comércio, entidade que se mantem ainda hoje em pleno funcionamento.

A associação instalaria, dezesseis anos depois, na sua sede à rua Major Facundo, 421, esquina com rua Clarindo de Queirós, na Praça do Carmo, o Cine Merceeiros. A festiva inauguração ocorreu, no sábado, 1º de novembro de 1930, com a comédia A Ver Navios (Why Sailors Go Wrong; Fox Film Corp., 1928, 6 rolos, direção de Henry Lehrman, argumento de William Conselman, cenário de Randall H. Faye, com Sammy Cohen, Ted McNamara, Sally Phipps, Nick Stuart, Jack Pennick e Carl Miller).

O “Correio do Ceará” (3.11.30), registrou assim a inauguração:

INAUGUROU-SE ANTE-HONTEM O CINEMA DOS MERCEEIROS

Ás 19 horas, do dia 1º, na sede da conceituada Associação dos Merceeiros, fez-se a inauguração festiva do Cine Merceeiros, o qual se apresentava com todo o conforto e escrupulosa organização, representando mais um serviço de vulto conseguido pela atual Diretoria do pujante Centro de classe.

Convidados fomos para assistir o acto, e enviamos aos dirigentes os nossos parabéns, bem como toda nossa sympathia.
O cinema a partir dessa data ofereceu uma programação semanal, com filmes já lançados pelo circuito Severiano Ribeirotendo exatamente cinco anos de existência...

Quando comemorava o seu quinto aniversário, na noite de 1º de novembro de 1935, o Cine Merceeiros foi atingido por um incêndio que determinou o fim de suas atividades. Na festiva noite, que a fatalidade marcou, o filme exibido era “Manda Quem Pode" (Disorderly Conduct; Fox Film Corp.,1932, 7.400 pés, direção de John W. Considine, estória e diálogos de William Anthony McGuire, continuidade de Del Andrews, edição de Frank Hull, fotografia Harry Dawe, com Spencer Tracy, Sally Eilers, El Brendel, Ralph Bellamy, Ralph Morgan, Alan Dinehart, Cornelius Keefe, Sally Blane, Nora Lane, Dickie Moore, Claire Maynard, Pat O'Malley, Frank Conroy e Pat Harmon).

Reportando o incêndio que determinava o fim do Cine Merceeiros, o “Correio do Ceará”, no dia 4 de novembro de 1935, publicou a seguinte matéria:

O INCÊNDIO DO CINE MERCEEIROS

UMA COMMEMORAÇÃO FATÍDICA:
MANDA QUEM PÓDE!

Estava commemorando o seu 5º anniversario, o “Cine-Merceeiros” que é um dos mais populares cinemas da capital, quando, na 3ª parte da fita do dia, irrompeu o inesperado fogo, cerca das 9 horas da noite do dia 1º.

A Origem do Incêndio
Começou o fogo na “cabine” no momento em que a fita “quebrava" tendo o operador, no intuito de desembaraçar a pellicula, demorado um pouco a corrente sobre o espelho voltaico, occasionando o calor excessivo sobre o celluloide. Das versões que corriam no momento, esta nos parece mais razoavel. As chammas tomaram violentamente, toda a cabine de madeira, transmitindo as Iabaredas ao forro.
Percebida a realidade do perigo, estabeleceu-se ƒormidavel confusão. A “cabine" que fica atraz da platéa, estando coberta de Iabaredas, impediu a unica porta de acesso ao salão; sendo as inumeras portas laterais todas de “varanda". Ficou a assistencia toda cercada sem sahida rapida.
No primeiro instante, o "elemento masculino” não tergiversou: voou pelas varandas. Mas, num momento de heroica reflexão, numerosos cavalheiros voltaram a acudir o “elemento feminino” que assombrado, gritava tragicamente.
Viu-se, então, “raro trabalho" de salvação: senhoras, senhoritas e crianças carregadas, com viva presteza, por cima das grades de ferro que “avarandam todo o quarteirão” ocupado pelo majestoso palacete da “Associação dos Merceeiros" localizado à rua General Clarindo, entre Major Facundo e Marechal Floriano.

Os Seguros 
Informaram, no momento, de não haver seguros, nem no predio, nem no cinema. O presidente do cine, sr. Ignacio Costa, esteve presente, mostrando-se vivamente surprehendido com o sinistro.

“Manda Quem Pode!"
Era este o titulo da fita que se exhibia na occasião. O povo, seguindo a ação dos Bombeiros, applaudindo a coragem dos soldados e recuando aos estrondos mais fortes, fazia trocadilhos sobre o titulo, alludindo o poder do fogo, deante da lamentavel falta dagua, o que se verificou tres vezes.

A Fita da Bayer
O apparelho synchronizador da fita da Casa Bayer não trabalhava na filmagem da cinta “Manda quem póde".

O sr. José Penha, viajante da Casa Bayer calcula os prejuizos com o incendio do seu apparelho e do film em quantia superior a cincoenta contos de réis.

Ainda sobre o incêndio do Cine-Merceeiros, o “Correio do Ceará", na edição de 5 de novembro, publicou entrevista com o Presidente da Empresa mantenedora do cinema com novos esclarecimentos:

"A causa do fogo não fora propriamente aquela que em nossa noticia anterior julgamos veridica. O motivo real do incendio, assegura-nos o nosso informante - foi uma faísca desprendida da chave de ligação em curto circuito, vindo dita fagulha cahir justamente sobre os pedaços de fita que estavam proximos.
A proposito, lembramos aqui a grandeza de intuitos com que foi creado aquelle cinema.

A Associação dos Merceeiros possue uma importante escola para os filhos de seus associados, e, durante algum tempo, Iuctou com certa difficuldade financeira.
Alguns directores da Associação à frente da qual estava o proprio sr. Ignacio Costa naquelle tempo, lembraram a idéa de montar-se um cinema com o fim de serem empregados os lucros na manutenção da escola.

-Infelizmente queimou-se o nosso cinema, mas felizmente estava no seguro..."

O grande inimigo dos cinemas, o fogo, encerrava a iniciativa da Associação dos Merceeiros, de dar aos seus sócios e à cidade, um cinema alternativo.


(Grafia da época) 

Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado - Parte II


Em dois de julho de 1911, foi inaugurada a sala do Cine-Theatro Polytheama. Pertencia ao supracitado José de Oliveira Rola (foto ao lado) e a seu irmão Joaquim de Oliveira Rola, ambos proprietários da Empresa Rola & Irmãos. No ano de 1922, o Cine-Theatro Polytheama é adquirido por Luiz Severiano Ribeiro, tornando-se apenas sala de cinema. No dia vinte de novembro de 1938, esta sala deixa de funcionar, para que com a sua demolição e de prédios vizinhos fosse construído o Cine São Luiz(¹), que veio a ser inaugurado em 1958.

Um dos mais audaciosos concorrentes de Luiz Severiano Ribeiro chamava-se  Henrique Mesiano. Nascido a 15 de março de 1887, Henrique Mesiano era filho de italianos e entrou no ramo de exibição cinematográfica no ano de 1912, ao assumir o Cine Rio Branco, que era de propriedade da extinta Empresa Muratori & Cia”, da qual fazia parte. 

Com o truste(²) de 1916, Henrique Mesiano tem de fechar o 
Cine Rio Branco, voltando à atividade em 1917, quando, além da reabertura desta sala, mais duas, de sua propriedade, são inauguradas, o Cinema da Estação e o Cine Tiro Cearense, que, apesar da iniciativa empreendedora de Henrique Mesiano, duram pouco tempo. O Cine Rio Branco é fechado em 21 de fevereiro de 1919, por meio de um contrato. 


Henrique Mesiano

Luiz Severiano Ribeiro consolidava-se como um poderoso concorrente. O contrato firmado com Henrique Mesiano afastava-o  por dez anos da atividade cinematográfica, em troca de uma renda fixa mensal.(³)
  
Com os Cines Riche, Polytheama e Majestic-Palace, Luiz Severiano Ribeiro irá consolidar em Fortaleza seus empreendimentos na área cinematográfica. Os seus concorrentes foram superados por meio de contratos de fechamento, foi assim com a família Júlio Pinto, com José de Oliveira Rola e com Henrique Mesiano

Cine Moderno em 1937

Na década de 1920, o Cine Riche é fechado em 11 de novembro de 1921 e o Cine Moderno é inaugurado em 7 de setembro de 1921 (O Cine Riche é fechado com a inauguração do Cine Moderno pois este era melhor estruturado). Além disso, a 19 de março de 1922, ocorre a reinauguração do Polytheama.
Com os Cines Majestic-Palace, Moderno e Polytheama, de propriedade de Severiano Ribeiro, só restavam alguns cinemas ligados à associações religiosas e leigas. Dos cinemas pioneiros, os que permaneceram nos anos de 1920 foram os seguintes: o Cine Polytheama, adquirido em 1922 por Luiz Severiano Ribeiro; o Cine São José, do Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos e o Cine - Theatro Majestic Palace. 
Nesta década, dos cinemas que foram inaugurados, apenas o Cine Moderno e o Cine Polytheama (reinaugurado) eram de propriedade de Severiano Ribeiro. No entanto, os demais cinemas recebiam os filmes de uma única empresa distribuidora, exatamente a de 
Luiz Severiano Ribeiro. Os anos de 1920 são a década de Luiz Severiano Ribeiro, decênio em que este monopoliza a distribuição dos filmes em Fortaleza. Se, por um lado, ele havia eliminado os concorrentes do centro, como Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano, por outro lado, se beneficiava com a existência dos cinemas mantidos por associações religiosas e os de bairro(4), pois estes adquiriam os rolos de filme diretamente de sua empresa.

Com a Primeira Guerra Mundial, o mercado cinematográfico exibidor e distribuidor brasileiro irá sofrer grandes mudanças. É justamente neste momento que Severiano Ribeiro passa a atuar na atividade cinematográfica com domínio na distribuição de filmes. O cinema europeu, em virtude da guerra, entrou em decadência com a redução do seu mercado externo. Tal situação favoreceu a ascensão da indústria cinematográfica norte-americana. No Brasil, em 1915, são instaladas subsidiárias da Universal e da Fox. No ano seguinte, a Paramount abre uma filial no Rio de Janeiro e posteriormente a MGM, a United e a First Nacional também marcam presença no mercado brasileiro. Aproveitando-se da dificuldade de exportação no mercado europeu, as produtoras/distribuidoras dos Estados Unidos passaram a trazer os melhores filmes europeus, comprometendo, desse modo, a atuação dos produtores e importadores brasileiros que adquiriam os filmes diretamente no 
mercado europeu antes da guerra, sem a presença de intermediários. As distribuidoras norte-americanas inovaram também nas técnicas de distribuição cinematográfica ao 
utilizar, por exemplo, o recurso da “linha de exibição”, que consistia em um filme dessas distribuidoras seguir uma linha de salas de exibição com o seu lançamento sendo realizado exclusivamente em uma única sala, preferencialmente a que possuísse ingressos mais caros.

Na capital cearense, sendo a Empresa Luiz Severiano Ribeiro a única distribuidora cinematográfica local, o método da “linha de exibição” realizado pelas distribuidoras norte-americanas passa a ser adotado nos cinemas de Fortaleza. Se pautando na relação centro – periferia, capital – interior, utilizada na forma de distribuição feita pelas distribuidoras dos Estados Unidos, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro definiu os cines Majestic e Moderno como as salas “lançadoras” da cidade. Desta feita, somente após o lançamento dos grandes filmes nestas duas salas, estes poderiam ser exibidos nas demais. 
Antes do monopólio de Severiano Ribeiro, vários grupos faziam a distribuição, como por exemplo, a firma J.R.Staffa, do Rio de Janeiro, que distribuía as fitas para o Cinema Júlio Pinto. No Cine Rio Branco, Henrique Mesiano mantinha contrato de exclusividade com a dinamarquesa Nordisk Film e a francesa Pathé Fréres. O Cine - Theatro Polytheama, quando de propriedade da Empresa Rola & Irmão, possuía contrato com as produtoras norte-americanas. Tal contrato foi feito no ano de 1912 com a firma Angelino Staurile & Ca., do Rio de Janeiro, e possibilitava que a Empresa Rola & Irmão fosse a única no Estado do Ceará a receber as fitas das fábricas Vitagraph e Biograph,  dos Estados Unidos. Em 1913, chega à Fortaleza a Companhia Cinematographica Brasileira que possuía sede na cidade de São Paulo e um capital de 4.000.000$000 (quatro milhões de réis). A citada empresa, criada em 1911 e pertencente a Francisco Serrador, veio para fazer contratos com os proprietários das salas de exibição cinematográfica locais, visando realizar lançamentos simultâneos de grandes filmes. No Cine Rio Branco, por exemplo, foi  exibido o filme italiano Quo Vadis?, enquanto nos cinemas Júlio Pinto e Polytheama foi apresentado o 
também italiano Branco contra Negro.
O próprio Severiano Ribeiro, quando ainda não era um grande exibidor cinematográfico e detentor do monopólio distribuidor, recorria à firmas distribuidoras como a J. R. Staffa, detentora do filme exibido na inauguração do Cine Riche, em 23 de dezembro de 1915(5).

Cine Polytheama e Majestic ao lado da Praça do Ferreira
  
No período de 1905 à 1915, temos no Brasil a presença do representante exclusivo de empresas brasileiras ou os representantes das produtoras – distribuidoras estrangeiras já citadas. Estes homens eram imigrantes europeus como Paschoal Segreto, Francisco Serrador e Jacomo Staffa, responsáveis pela importação tanto de películas quanto de equipamentos cinematográficos. Com o término da Primeira Guerra Mundial, a importação de produtos procedentes da Europa ficou comprometida, possibilitando a ocupação do mercado cinematográfico brasileiro pelas produtoras e distribuidoras norte - americanas. 
O mencionado Jacomo Staffa chegou a comprar com os próprios recursos financeiros filmes estrangeiros em Paris. Posteriormente, ele adquire o direito de exclusividade na revenda dos filmes das produtoras Itália e Film D’art. Além disso, em 1910, ele obtém a exclusividade com a produtora dinamarquesa Nordisk, que era uma das mais importantes empresas cinematográficas deste período quando a supremacia norte-americana ainda não era tão intensa. Este exibidor se fez presente em várias cidades brasileiras, com escritórios em São Paulo, Porto Alegre e Recife, chegando a estabelecer em Nova York e em Paris 
escritórios para aquisição de fitas.

Interior do Cine Majestic Palace

Quando Jacomo R. Staffa falece, Luiz Severiano Ribeiro estava expandindo sua atuação no mercado 
cinematográfico do Rio de Janeiro. Na década de 1920, Severiano Ribeiro comanda o mercado exibidor e 
distribuidor cinematográfico local e parte para outras cidades, com destaque para o Rio de Janeiro, a 
Capital Federal. Nesta década, os grupos distribuidores, como o de J. R. Staffa, são substituídos por um 
distribuidor exclusivo em Fortaleza, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro. 

Ao se mudar para o Rio de Janeiro, em 1926, ele conseguiu ratificar o monopólio distribuidor local. 
Como a capital federal tinha em Francisco Serrador, o artífice da Cinelândia,  o 
grande monopolizador dos cinemas de qualidade, atuando de forma autônoma e 
independente, Luiz Severiano Ribeiro ganha pouco a pouco credibilidade e 

ingressa na associação da Metro-Goldwyn, First National e Empresas 
Cinematográficas Reunidas, criando em 1926 uma nova e poderosa frente para a 
distribuição de filmes no Brasil. Batalhador tenaz, estabelece-se a seguir como 
agente locador de películas trazidas ao Brasil pela Agência Paramount (que 
representava à época a Metro – Goldwyn e a First National) e a Cinematográfica 
Brasileira. É um dos fundadores, em 1926, da sociedade cooperativa de 
exibidores denominada “Circuito Nacional de Exibidores”. No mesmo ano, 
estabelece um acordo com as firmas exibidoras Ponce, Pontes & Cia. e Noriz  & 
Frota, tornando-se a seguir único proprietário do circuito a elas pertencentes. Já 
era então reconhecido pelo controle dos cinemas do Norte do Brasil, quando em 
agosto de 1926, adquiriu no Rio o controle acionário de inúmeros cinemas, 
dentre eles, o Atlântico e Ideal, e fazia sociedade com o Íris, de J. Cruz, Jr


A aposta na distribuição como importante elemento impulsionador do desenvolvimento e êxito da 
atividade cinematográfica foi priorizada também por Severiano Ribeiro. Na capital cearense, nos anos de 
1920, ele exerceu o domínio na distribuição, ampliando tal prática para outras cidades do Brasil até tornar-se um dos maiores nomes do cinema brasileiro, concentrando suas atividades na cidade do Rio de Janeiro, 
de onde comandava seus negócios. 

Por meio de acordos com empresas estrangeiras, em especial norte-americanas, Severiano Ribeiro adquiria 
o direito de exibir filmes destas produtoras. Ao pagar aos fornecedores norte-americanos, ele obtinha 
exclusividade de exibição, possibilitando que os filmes fossem lançados no Cine-Theatro Majestic 
Palace, no Cine Moderno e no Cine Polytheama, para posteriormente serem exibidos nos outros cinemas, 
no caso, os de bairro e os ligados à associações religiosas.  Quanto mais salas de exibição cinematográfica 
tivessem nos bairros e no interior do Estado, melhor para Severiano Ribeiro, pois ele estava aumentado 
seus rendimentos e ampliando seu domínio sobre o mercado cinematográfico. Tal tática era utilizada tanto 
no mercado local quanto em outras cidades do Brasil. 



Barrinhas e Divisórias

¹ A demora no término da construção do Cine São Luiz fez com que a população o incluísse nas “sinfonias inacabadas” de Fortaleza, no caso, as obras do Porto do Mucuripe (1938-1951) e a construção da Catedral (1939-1982). 

² Com relação ao truste de 1916, temos poucas informações. Mas ao que parece foi uma forma de Severiano Ribeiro centralizar em suas mãos gradativamente o controle da exibição cinematográfica local.  Algumas salas ficaram fechadas como foi o caso do Cine Rio Branco, recebendo uma parte do lucro obtido pelas salas em funcionamento. Os cinemas que permaneceram funcionando foram o Polytheama de José Rola e o Riche de Severiano Ribeiro. Para maiores informações ver: LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit., pp. 282-285. De acordo com o Mini Aurélio Século XXI, truste se define por “ acordo ou combinação entre empresas, em geral com o objetivo de restringir a concorrência e 
controlar os preços”. 


³ Na década de 1930, Henrique Mesiano voltou à atividade de exibição cinematográfica na capital cearense, após ter ficado toda a década de 1920 impedido de exibir filmes devido ao contrato firmado com Severiano Ribeiro. Não possuindo mais sua própria sala de exibição cinematográfica, Henrique Mesiano chegou a utilizar o Teatro José de Alencar: “Cinema no Theatro José de Alencar - O conhecido cinematografista Sr. Henrique Mesiano acaba de obter mediante aluguel o Theatro José de Alencar e ali exibirá o grandioso filme ‘Itália’, película natural sobre a vida italiana, suas cidades, panoramas e monumentos. Aguardemos com ansiedade o enunciado filme que certamente fará sucesso em Fortaleza.” O Povo, 28 de janeiro de 1932.

4 Foram inaugurados neste período, além do Cine Moderno, os seguintes cinemas: Cine-Theatro Pio Xem 1922; o Cine Beira Mar, em 1924; o Cine -Theatro Centro Artístico Cearense, em 1926; o Cinema União de Moços Católicos, em 1927; o Cine Grêmio Dramático Familiar, em 1928; o Recreio-Iracema também denominado Cine Recreio, no ano de 1928; o Cinema Paroquial, em 1930; o Cine Merceeiros e o Cine Phenix, ambos em 1930.

O filme exibido na inauguração do Cine Riche foi 'O jockey da Morte', da Vay – Film, de Milão,com argumento, direção e interpretação de Alfred Lind.

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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O cinema e a cidade


No início, os filmes foram exibidos como curiosidades ou peças de entreato nos intervalos de apresentações ao vivo em circos, feiras ou carroças. Essa forma de difusão permaneceria viva em zonas suburbanas ou rurais. Nos grandes centros urbanos dos países industrializados, porém, a exibição de filmes muito cedo se concentrou em casas de espetáculos de variedades, nas quais se podia também comer, beber e dançar, conhecidas como music - halls na Inglaterra, café - concerts na França e vaudevilles ou smoking concerts nos Estados Unidos. O cinema era então uma das atrações entre as outras tantas oferecidas pelos vaudevilles, mas nunca uma atração exclusiva, nem mesmo a principal. A própria duração dos filmes que era de alguns segundos e não mais do que cinco minutos, impedia que se pensasse em sessões exclusivas de cinema nos primeiros anos de cinematógrafo. O preço cobrado pelo ingresso não podia funcionar como mecanismo de seleção do público, pois era ainda muito baixo e coincida de ser o mesmo dos vaudevilles. No período que vai de 1895, data das primeiras exibições públicas do cinematógrafo dos Lumière, até meados da primeira década do século seguinte, os filmes que se faziam compreendiam registros dos próprios números de vaudeville, ou então gags de comicidade popular, contos de fadas, pornografia. Os catálogos dos produtores da época classificavam os filmes produzidos como "paisagens", "notícias", "tomadas de vaudeville", "incidentes", "quadros mágicos", "teasers" (eufemismo para designar a pornografia). 

COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema: espetáculo, narração, domesticação. 
São Paulo: Scritta, 1995 - (Coleção Clássica) e MACHADO, Arlindo. 
Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997 
(Coleção Campo Imagético). 


Em Fortaleza a presença de exibidores ambulantes começa a ocorrer nos últimos anos do 
século XIX se estendo até o início do século XX. As exibições ocorriam em salas adaptadas, 
teatrinhos, na Praça do Ferreira, no Passeio público ou em ruas do centro da cidade como a Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) e a Rua Major Facundo. Algumas exibições eram parte integrante da programação de circos e até o ano de  1908 a exibição não ocorria em espaços exclusivos para o cinema.

Com relação ao cinema, este, em sua origem, era um lazer barato, um divertimento popular, sendo os filmes exibidos em locais como circos, feiras e sendo parte de um espetáculo de variedades. O seu público era composto principalmente por pessoas pobres, “iletradas” e do sexo masculino. Posteriormente, com a sua maior autonomia e crescimento, a exibição cinematográfica deixa de ser uma atividade de exibidores ambulantes para se fixar em salas.

No Brasil, a primeira sessão cinematográfica teria ocorrido na Rua do Ouvidor, número 57, no dia 8 de julho de 1896, na então Capital Federal, a cidade do Rio de Janeiro. As projeções itinerantes existentes nesse período foram levadas a algumas cidades brasileiras, dentre elas, Fortaleza. Tais exibições eram compostas de vistas em movimento, as quais eram feitas geralmente em locais públicos, como cafés, parques de diversão, circos e quermesses. Estas fitas eram geralmente mais uma atração com animais adestrados, como macacos, cães, cobras, acrobatas, jogos, mulheres barbadas e prestidigitadores.

Em 1897, seria inaugurada a primeira sala fixa de exibição cinematográfica no Brasil. Tal inauguração ocorreu no Rio de Janeiro na Rua do Ouvidor, número 141, sendo esta sala denominada inicialmente por “Salão de Novidades” e, posteriormente, vindo a ser chamada “ Salão Paris no Rio,” sendo de propriedade de Paschoal Segreto e Cunha Sales.

A cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na atividade de exibição cinematográfica e no desenvolvimento de uma série de atividades relacionadas ao meio cinematográfico: Pode-se afirmar que a atividade cinematográfica no Brasil teve seu inicio no Rio de Janeiro; não apenas porque na então capital federal foram feitas as primeiras exibições e rodadas as primeiras imagens em películas, mas sim pelo fato dessas ações terem se desenrolado no tempo de maneira contínua e crescente. No rastro dessas atividades surgiram laboratórios e ateliês, textos na imprensa sobre o assunto, empresas representantes de equipamentos cinematográficos, homens dispostos a investir, salas fixas de exibição e técnicos que adquiriam formação e experiência.


A transformação física destes espaços destinados à exibição cinematográfica, assim como, a feitura de novos filmes, foram fundamentais para que um novo público adotasse o cinema como lazer. Famílias, crianças e mulheres, no caso, da elite, adotaram tal espaço, onde até sessões especificas eram destinadas a este novo público.

Rua Barão do Rio Branco, onde em 1909, Henrique Mesiano inaugurou o Cine Rio Branco. A foto é de um ano depois da inauguração - Arquivo Nirez

Em Fortaleza, no ano de 1915, em um anúncio, do “Cine Rio Branco”, pertencente a Henrique Mesiano, esta sala se intitulava como a preferida pelas famílias. O seu público era composto por cavalheiros que pagavam $800 pelo ingresso, senhoras que pagavam $500, menores $400 e o público da geral que também desembolsava $400. Percebemos a valorização de um público “respeitável” onde a presença de cavalheiros, senhoras e crianças da elite comercial da capital cearense, demostra que o cinema possuía um significado diferente de outrora, no caso, do final do século XIX, quando no âmbito mundial, ou mais
precisamente na Europa, as exibições eram realizadas nas periferias, próximos aos cordões industriais, onde a diversão suspeita misturava-se facilmente com a prostituição e a marginalidade. Nesses lugares, o cinematógrafo nasceu e tomou força durante os seus 10 ou 20 primeiros anos.

Em 1915,  o filme que seria exibido no “Cine Rio Branco”, era uma fita policial da 
Aquila – films intitulada Bastarda, dividida em quatro partes. Quando foi exibido este
filme, foi exatamente a data em que o cinema, no âmbito mundial, passou por uma profunda mudança na feitura filmica e nas práticas de exibição cinematográfica como um todo com as inovações realizadas por David Wark Griffith
Vale ressaltar que neste mesmo ano foi que Luiz Severiano Ribeiro entrou na atividade cinematográfica com a inauguração do “Cine Riche”. 

Severiano Ribeiro arrenda o local do Café Riche, realizando projeções diárias em horários sincronizados com o Café. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche, uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado, é inaugurado em dezembro de 1915. Ficava na Rua Guilherme Rocha

Nos Estados Unidos, o cinema constituía-se em um entretenimento de alcance popular, mesmo quando passou a ser considerado uma arte. O cinema tornou-se uma importantíssima atividade econômica após a Primeira Guerra Mundial com a consolidação da indústria norte-americana montada no tripé produção, distribuição, exibição e o declínio da produção cinematográfica européia.
No Brasil, apesar da diferença econômica e social se comparado aos Estados Unidos, algumas tendências foram reproduzidas, no que concerne às práticas de exibição cinematográfica. No caso, o tamanho e o estilo das salas, necessidade imposta pelas próprias companhias que aqui instalaram suas filiais nos anos de 1920.
No Rio de Janeiro, as salas passaram por um processo de enobrecimento de forma mais intensificada a partir de 1924, com a construção do Quarteirão Serrador. No ano seguinte, o mesmo ocorreria em São Paulo:
A evolução da sala de espetáculo cinematográfico brasileira se dá em estreita correlação com as transformações do produto fílmico importado. Surge em função dele e se adapta estruturalmente às suas características técnicas mais salientes. Ainda assim traveste-se aqui e ali de influências locais, seja na arquitetura, seja nas práticas e costumes engendrados em seu interior.


 
O Cine Majestic em 1918 - Acervo de Roberta Freitas

Na capital cearense, o Cine-Theatro Majestic Palace e o Cine Moderno são exemplos de salas luxuosas, uma tendência mundial, adotada aqui por Luiz Severiano Ribeiro visando atender a elite que frequentava os Clubes e o Passeio Público. Estas salas ficavam localizadas na Praça do Ferreira, principal logradouro da cidade. 

Cine Moderno

A supracitada praça era um local que até a década de 1960 concentrava atividades como lazer e trabalho, sendo um ponto de referência urbana para os habitantes da cidade.
A partir dos anos de 1960, este local começou a perder sua hegemonia enquanto espaço de sociabilidade da população.
Quanto à posição de pólo de lazer, tinha de entrar em concorrência com os clubes praianos, com a recém aberta Avenida Beira-Mar, com as próprias praias, a partir de então frequentadas em massa pelas novas gerações: a condição de tribuna política se esvaziara com a mudança das sedes do poder; quanto aos transportes urbanos, ia perdendo gradativamente a situação de centro distribuidor, com a remoção dos terminais para as praças periféricas, mais distantes, de maiores dimensões e contíguas às vias de saída do centro; o horário
noturno sofria também a interferência da televisão...

Praça do Ferreira, vendo-se o Cine teatro Majestic Palace inaugurado em 1917


Ao longo da existência desse logradouro, várias denominações lhe foram dadas: Feira Nova, Largo das Trincheiras, Pedro II, Praça do Ferreira, Municipal e novamente Praça do Ferreira, permanecendo com esta denominação até os dias de hoje.
  
A denominação de “Praça do Ferreira” é em homenagem ao boticário Antônio Rodrigues Ferreira Filho que exerceu cargos políticos de 1842 a 1859 na capital cearense sendo, vereador e Presidente da Municipalidade (Intendente), vindo a falecer em 1859. 
Quando da gestão do Intendente Cel. Guilherme César Rocha, em 1902, a praça foi arborizada e nela foi construído o Jardim 7 de Setembro, que era cercado por grades. Além do seu aspecto físico, a praça era ponto de encontro de intelectuais que circulavam pelos “cafés” (quiosques edificados com madeira) instalados neste logradouro, caso do Café Java e do Café do Comércio, dentre outros que compunham as edificações deste espaço.

Além das salas de exibição cinematográfica, havia uma variada atividade comercial composta por armazéns de estivas, cereais e miudezas, lojas de secos e molhados, lojas de calçados, alfaiatarias, joalherias, tabacarias, casas de fumo, leiteria, restaurantes e cafés. A partir de um mapeamento feito ao longo da década de 1920 identificamos a seguinte composição comercial existente na Praça do Ferreira:

Restaurantes E Cafés 
Restaurante Guerreiro de J. Guerreiro, nº 32
A Gruta de Theophilo Cordeiro, nº 184
Art-Nouveau de Pedro Eugênio & Cia
Café Riche de Jucá & Ramon
Café Avenida de Ellery & Cia
Ponto Chic, nº 42
Café do Commércio, nº 50
Café Iracema de Ludgero Garcia, nº 52.

Lojas de Modas e Confecções 
Estrela do Oriente de V. Soares & Cia
Crysanthemo de M. Guil. me & Irmão, nº 95
Empório da Moda, nº 181/183
Paulo Caminha, nº 197
Sultana de C. Codes, nº 42
Anthero Coelho de Arruda, nº 44

Armazéns de Estivas, Cereais e Miudezas
Loureiro & Cia, nº 181
Luiz Perdigão Bastos, nº 183
V. Castro, nº 187
J. de Oliveira, nº 193
M.C. de Oliveira, n° 205
Leitão e Silva, nº 207-209
Vasconcelos & Cia J. Leopoldino da Silva, nº 199

Além dos supracitados estabelecimentos, também havia na Praça do Ferreira: Salões de Bilhar, Cine “Majestic Palace” de Severiano Ribeiro, nº 204; “Polytheama” de Juvencio Brito, nº 204, Molduras de A. Medeiros, nº 36, Ateliers de Costuras e Confecções de Chapéus: “A Formosa Cearense” sob a direção de D. Maria Celina Sisnando Costa e D. Esther Moreira, nº 205, Ateliers de Retratos a Crayon e a Óleo: “J. Ribeiro” - Diploma de Honra, nº 220, Casas de Fumos: Rua Agostinho, nº 38, Tabacarias: “Polytheama” de J. Bezerra Netto; Theophilo Cordeiro (A Gruta), nº 180; Castello (Café do Commércio) ,nº 48, Alfaiatarias: “Amancio” de V. Amancio Cavalcante, nº 34; “Guimarães” de Alfredo Guimarães, nº32, Livrarias e Papelarias: “Americana” de Souza, Gentil & Cia, nº 186, Lojas de Louças, Vidros e Miudezas: SOUZA, Gentil & Cia, nº 188; Almeida & Cia, nº212, Loja de Ferragens: J. Patrício & Cia, nº 201, Casas 
Exportadoras e Importadoras: J. Lopes & Cia, nº 50, Farmácias e Farmacêuticos: “Pasteur” de Eduardo Bezerra & Cia, nº202; “Galeno” de Joaquim Studart da Fonseca, nº214; “Normal” de Jaime Studart, nº 222.

 

Percebemos que a Praça do Ferreira era um espaço de consumo e serviços o que favorecia a presença de um grande número de pessoas. Isso demostra o quanto era significativo possuir uma sala de cinema neste conceituado logradouro repleto de atividades comerciais.
A presença dos salões de bilhar do Majestic Palace e do Polytheama demostram que, além da sala de exibição cinematográfica, o público tinha a opção de frequentar também estes outros estabelecimentos de diversão e sociabilidade. Ao contrário das salas de cinema que eram frequentadas pelo público de ambos os sexos, os salões de bilhar eram espaços eminentemente masculinos. A presença feminina no espaço público era algo ainda bastante acanhado no início do século XX.
As salas de exibição cinematográfica existentes na “Praça do Ferreira”, nos anos de 1920, ficavam localizadas à rua Major Facundo, formando uma espécie de “quarteirão do cinema¹.
Vale ressaltar que, antes mesmo desta década, a Praça do Ferreira já era o espaço por excelência das salas de cinema. A primeira sala de exibição cinematográfica fixa de Fortaleza, o Cine DiMaio, inaugurado em 1908, pelo italiano Vitor DiMaio, localizava-se neste logradouro. No entanto, de 1908 até 1917, possuir uma sala de exibição cinematográfica na Praça do Ferreira era um privilegio de poucos. No decênio seguinte, apenas Luiz Severiano Ribeiro possuía salas de cinema na Praça do Ferreira, as demais ficavam localizadas em outros pontos da cidade. 
Existia três tipos de salas de exibição cinematográfica existentes nesse período: as salas
comerciais, as de associações leigas e as paroquiais, ligadas à Igreja Católica ou a associações religiosas:


•Comerciais: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama
• Associações leigas: Cine Centro, Cine Dramático Familiar, Cine Recreio Iracema, Cine MerceeirosCine Phenix;
• Paroquiais: Cinema São José, Cinema Pio X, Cinema União dos Moços Católicos, Cine Paroquial.

Na Praça Cristo Redentor ficava localizado o Cinema São José pertencente ao “Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos São José”. Esta associação mantinha uma escola noturna para sócios e crianças pobres, além de possuir uma orquestra com vinte e três músicos. O Cinema São José foi inaugurado em 1917, tendo funcionado até 1941. Possuía 1088 lugares, o mesmo número do Cine-Theatro Majestic Palace. Atualmente o prédio abriga o “Teatro São José”.
Na Avenida Duque de Caxias, esquina com rua Barão de Aratanha, ao lado do Convento dos Capuchinhos foi inaugurado em 1923, o Cinema Pio X, pertencente à Ordem dos Capuchinhos.
Ainda na Avenida Duque de Caxias, mas agora esquina com Avenida Tristão Gonçalves, ficava localizado o Cine Centro, pertencente ao Centro Artístico Cearense, uma sociedade constituída a sete de novembro de 1926. O Cine Centro possuía trezentos lugares tendo como público associados e moradores das proximidades.
Na Rua Barão do Rio Branco, nº 1.826, ficava localizado o Cinema União dos Moços Católicos, que foi inaugurado em 1927. Esta sala de exibição cinematográfica foi instalada em um prédio construído pelo Centro Cívico Epitácio Pessoa

Por iniciativa do Centro Cívico Epitácio Pessoa, a cidade ganhara no dia 27 de junho de 1923, um imponente prédio, á rua Barão do Rio Branco, 1826, que serviria de sede ao Instituto Epitácio Pessoa. Doado à Arquidiocese de Fortaleza, destinou-se ao desenvolvimento de cursos e atividades voltadas à instrução popular.
O prédio sediaria também à organização sócio-religiosa União dos Moços Católicos, que dentre suas inúmeras atividades decidiu pela manutenção de um cinema. Sua programação notadamente popular, de filmes mudos, tem como primeiro registro na imprensa, no dia 4 de dezembro de 1927, a exibição “Fama e Fortuna” ( Fame and Fortune; Fox Film Corp., 1918, 5 rolos, direção de Lynn F. Reynolds, apresentação William Fox, estória de Charles Alden Seltzer, cenário de Bennett R. Cole, com Tom Mix, Kathleen O’Connor, George Nicholis, Charles McHugh, Annette DeFoe, Val Paul, Jack Dill, E. N. Wallock e Clarence Burton).

No ano de 1928 são inauguradas duas salas de exibição cinematográfica, o Cine Dramático Familiar e o Cine Recreio Iracema. A primeira, ficava no prédio do Grêmio Dramático Familiar que havia sido criado pelo teatrólogo cearense Carlos Câmara, em 1918. Tal sala estava localizada no Boulevard Joaquim Távora nº 2.046. A segunda sala, o Cine Recreio Iracema, ficava localizada no Boulevard Visconde de Cauipe, nº1.023, no ponto final da linha do bonde do Benfica. Na década de 1930 tal sala passou a ser conhecida também como Cine Benfica em alusão ao bairro que leva o mesmo nome. 

Cine Benfica, em frente ao Dispensário dos Pobres do Sagrado Coração 
Acervo Ivan Gondim

No ano de 1930 três salas são inauguradas, o Cine Paroquial, o Cine Merceeiros e o Cine Phenix. A Associação Phênix Caixeiral, fundada em 1891, ficava localizada à Rua Municipal (atual Rua Guilherme Rocha) esquina da Rua 24 de maio. Esta associação atuava sobretudo na área educacional e de assistência aos trabalhadores do comércio e aos seus filhos. O seu palacete comportava a sala de exibição cinematográfica e a Escola Fênix Caixeiral.
Com relação ao Cine Merceeiros esta sala de exibição cinematográfica também pertencia a uma associação ligada ao comércio. Era a “Associação dos Merceeiros” que foi fundada em 1914, vindo a inaugurar sua sala de cinema em 1º de novembro de 1930. Esta sala ficava à Rua Major Facundo, esquina com Clarindo de Queirós, na Praça do Carmo.
O Cine Paroquial, inaugurado em seis de setembro de 1930, estava localizado na Rua Coronel Ferraz, ao lado da Igreja Pequeno Grande e próximo à Escola Normal.

Na década de 1920, todas estas salas adquiriam as fitas para projeção em uma única empresa, a de Luiz Severiano Ribeiro que neste decênio tornou-se o nome mais forte da atividade de exibição e distribuição cinematográfica local expandindo seu poderio para o restante do país.



¹As salas que ficavam neste quarteirão eram as seguintes: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama. Com relação ao “Cine Moderno”, o memorialista Edigar de Alencar afirma: “ à sua última sessão, de domingo, acorria toda a sociedade de Fortaleza, que antes espairecia na retreta do Passeio Público. Antes das nove horas, o mundo elegante abandonava o velho logradouro e desembocava pela rua Major Facundo, desfilando pelas inúmeras rodas da calçada das residências dos sírios rumo ao Moderno”. ALENCAR, Edigar de. Fortaleza de ontem e anteontem. Fortaleza: Edições UFC; Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1980, p.47.

Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

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