Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Lauro Maia
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Marchinhas - O som dos eternos carnavais


Carnaval da Saudade - Arquivo João Otávio Lobo Neto

Das ingênuas e criativas marchinhas dos anos 30, 40, 50 e 60 às ruidosas músicas da “axé-music”, muitas águas rolaram no Carnaval. A alegria do desfile de de rua e o glamour dos bailes carnavalescos dos clubes elegantes de Fortaleza, nas décadas de 50 e 60, fazem parte apenas da lembrança dos mais nostálgicos. São tempos praticamente esquecidos, que só despertam, na maioria das vezes, o interesse de alguns pesquisadores de nossa história. Os jovens - que hoje se agitam com as “bandas” de barulhentos trios elétricos que ressoam em altos decibéis melodias com letras “sem pé nem cabeça” - nem imaginam como era divertido os carnavais dos confetes e serpentinas, dos pierrots e das colombinas apaixonados.

Lauro Maia e Luiz Assunção foram os pioneiros no cancioneiro carnavalesco do Ceará. Suas canções animaram foliões das escolas e blocos, como o “Cordão das Coca-Colas”, “Prova de Fogo”, “Alfaiates Veteranos”, “Garotos do Frevo”, “Zombando da Lua”, “Escola de Samba Lauro Maia” (depois rebatizada de Escola Luiz Assunção). As músicas de Lauro Maia se consagraram nas vozes de Orlando Silva e dos grupos “4 Azes & 1 Coringa” e “Vocalistas Tropicais” e se tornaram sucessos nacionais.

Carmem Miranda, Lamartine Babo, Emilinha Borba, Virginia Lane, Orlando Silva, Francisco Alves, Ary Barroso, João de Barro, Mário Lago, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro, entre outros nomes da MPB que emprestaram seus talentos a famosos “hits” da música carnavalesca: “Daqui Não Saio”, “Alá-Lá-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “As Pastorinhas”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Taí”, “Saca-Rolha”, “Mamãe, Eu Quero”, “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”. Essas marchinhas se eternizaram ao longo dos tempos e continuam até hoje integrando o repertório musical de bailes que sobrevivem ao modismo das micaretas. Exemplo disso é o Carvanal da Saudade, um autêntico revival dos carnavais que ficaram apenas na lembrança...
     Marcos Saudade

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Qual a importância de Lauro Maia e Luiz Assunção na música cearense e nacional?

     Os dois são importantes, dentro das características de cada um. Lauro Maia, nascido e criado no Benfica, certamente levou mais longe o nome do Ceará porque aproveitou o sucesso de suas composições através de nomes como Orlando Silva, 4 Azes & 1 Coringa, Ciro Monteiro e Vocalistas Tropicais, entre outros. Ao fixar residência no Rio, participou ativamente do Movimento Artístico na década de 1940, sendo inclusive o responsável pelo surgimento do Baião, ao apresentar Luiz Gonzaga a seu cunhado Humberto Teixeira. Luiz Assunção foi um maranhense que se tornou cearense devido a sua grande identificação com a vida da cidade, ele inclusive foi homenageado quando Lauro Maia foi morar no Rio, puseram o nome dele na Escola de Samba Lauro Maia e um grande número de pessoas que conhece a história de nosso carnaval lembra com muita saudade dos grandes desfiles e da música maravilhosa que soava na orquestra da Escola de Samba Luiz Assunção.

     Que contribuição deram ao carnaval cearense?

     Uma contribuição enorme. Antes deles não havia compositores populares criando músicas para as agremiações. Foi Lauro Maia quem iniciou esse ciclo criativo em nossa história carnavalesca. Tanto ele como Luiz Assunção têm até hoje músicas lembradas e que foram compostas para o carnaval de rua, para a Escola de Samba Lauro Maia, depois Luiz Assunção, para a Escola de Samba (hoje Bloco) Prova de Fogo e outros blocos, como O Que Fóe, Galinha, do genial Doutor Bié. O Lauro inclusive foi o primeiro compositor a utilizar o ritmo do nosso Maracatu fora do carnaval, na música Orixá, que tinha versos de Jorge Aires.

     Como foi resgatar a vida e obra de Lauro Maia em livro e disco?

     Sinceramente, este foi um dos projetos mais importantes de toda a minha vida. Primeiro, pela grandiosidade da biografia do Lauro, depois pela beleza e atualidade de sua música e também pela parceria com o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Outra coisa importante deste trabalho foi contar com a participação de todos os artistas que interpretaram músicas de Lauro Maia, é realmente um presente ter Teti, Ednardo, Rodger, Lúcio Ricardo, Fagner, Evaldo Gouveia, Falcão, Ayla Maria, Fernando Néri, César Barreto, David Duarte, Aparecida Silvino... É um disco que me agrada sempre, eu escuto cada vez com mais prazer. Tem um time de músicos de primeira e é todo mundo daqui mesmo.

     O que poderia ser feito para resgatar o carnaval de Fortaleza?

      Deveria haver um maior incentivo por parte da Prefeitura de Fortaleza. Afinal estamos falando de uma festa pública, inserida no calendário de eventos da cidade. Para o nosso carnaval de rua se tornar atrativo do ponto de vista do investimento privado, precisa haver um trabalho muito forte junto às agremiações, é preciso chamar os artistas para participar compondo, cantando, tocando, desenhando, somando com o imenso mundo de gente que trabalha há tantos anos pelo carnaval e tem muito amor pelo que faz. O nosso trabalho à frente da Federação de Blocos Carnavalescos tem sido recuperar a dignidade do carnaval de rua, reinseri-lo na rota dos grandes eventos.

Calé Alencar
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

Quais foram os mais expressivos compositores cearenses de músicas carnavalescas?

     Os mais expressivos compositores de músicas carnavalescas no Ceará foram Euclides Silva Novo, Mozart Brandão, Caetano Acioly, Luiz Assunção, Paulo Neves, Lauro Maia, Irapuan Lima, Mário Filho, Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Milton Santos.

     Que marchinhas mais famosas marcaram os bailes carnavalescos do passado?

     As marchinhas foram importantes no cenário carnavalesco cearense, mas também os sambas figuraram como sucesso.Tivemos "Tabajara", marcha (Silva Novo - Caetano Acioly) 1930; "Adeus, Praia de Iracema", samba (Luiz Assunção) 1954; "Falta de luz", marcha (Irapuan Lima - Mário Filho) 1955; "Dona Fredegunda", marcha (Mário Filho - Milton Santos) 1958; "Meu bem", samba (J. Guimarães - Milton Santos) 1958; etc.

     Que blocos e escolas brilhavam nos carnavais de rua de Fortaleza do passado?

     Os blocos que brilharam no passado foram "Maracatu Ás de Ouro", "Maracatu Rei de Espadas", "Garotos do Frevo", "Escola de Samba Lauro Maia", "Zombando da Lua", "Escola de Samba Luiz Assunção", "Cordão das Coca-Colas", "Alfaiates Veteranos", "Prova de Fogo", etc.

     Como avalia as festas carnavalescas da atualidade?

     O carnaval teve várias fases, a primeira apesar de ser chamada de carnaval era o ENTRUDO, que reinou até início do século XX, onde se dançava valsas vienenses entre outras coisas; a segunda foi a fase de ouro das marchinhas, dos grandes compositores e intérpretes, das grandes músicas e letras e que durou até meados da década de 60; e a atual fase, dividida entre o espetáculo turístico já superado das escolas de samba do Rio de Janeiro e a música atual de maio-de-ano lançada pela Bahia que descaracterizou o carnaval tornando-o muito mais de fora de época que de próprio período. Já não existem músicas feitas para a festa porque a festa já não existe.

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Escola de Samba Luiz Assunção em 1969
Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Quais foram as fases marcantes da produção musical feita para o carnaval?

     As décadas de 30,40 e 50. Principalmente a de 30, apropriadamente chamada de “Fase de Ouro”. A partir da cartelização da economia mundial e a consequente dolarização econômica dos países dependentes da América do Norte, como o próprio México (seu vizinho), o Brasil, Argentina, França, Itália, Portugal e os demais que compõem o Terceiro Mundo, o regionalismo foi para o “bebeléu”. Entregar-se de corpo e alma às coisas e costumes da América do Norte passou a ser sinônimo de progresso. O nacionalismo passou a ser pichado como retrógrado, coisa do passado, etc... Tudo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (1945).

     Quais os mais famosos “hits” carnavalescos?

     Dos anos 30: “Prá Você Gostar de Mim” (Taí), marcha-canção de Joubert de Carvalho, gravada por Carmem Miranda em 1930; “O Teu Cabelo Não Nega”, adaptação de Lamartine Babo, gravada por Castro Barbosa, em 1932; “Linda Morena”, de Lamartine Babo , de 1933, “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda), em 1935; “Pierrot Apaixondo”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, 1936; “Mamãe, Eu Quero”, de Jararaca, 1937; “As Pastorinhas”, João de Barro e Noel Rosa, de 1936 e regravada por Sílvio Caldas para o carnaval de 1938; “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e de Humberto Porto, gravada por Orlando Silva em 1939. 
Dos anos 40: “Dama das Camélias”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravado por Francisco Alves em 1940; “Alá-Lá-Ô”, de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, gravada por Carlos Galhardo, em 1941; “Aí, Que Saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942; “Nós, Os Carecas”, de Roberto Roberti e Arlindo Jr. gravada por Anjos dos Inferno, 1942; “Está Chegando a Hora”, de Henricão e Rubens Campos, gravado por Carmem Costa, 1942; “Atire a Primeira Pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, gravado por Orlando Silva, em 1944; “Cordão dos Puxa-Sacos”, gravado pelos Anjos do Inferno, em 1946; “A Marcha do Balanceio”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira, 1946; “É Com Esse Que Vou”, de Pedro Caetano, gravado por 4 Azes e 1 Coringa, 1948; “Chiquita Bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba, 1949; “General da Banda”, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, gravada por Blecaute. 
Dos anos 50: “Daqui não saio”, de Paquito e Romeu Gentil, gravada pelos Vocalistas Tropicais, 1950 -“Serpetina”, de Haroldo Lobo e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves, em 1950;“Tomara que choro”, de Paquito e Romeu Gentil, pelos Vocalistas Tropicais e Emilinha Borba, em 1951; “Lata D’Água”, de Luiz Antonio e Jota Júnior, gravado por Marlene, em 1952; 

Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval
Centro Dragão o Mar de Arte e cultura

Sassaricando”, de Luiz Antonio e Zé Mário, gravada por Virginia Lane; “Saca-Rôlha, de Zé da Silda.; “Maria Escandalosa”, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; “Vai, Com Jeito Vai”, de João de Barro, gravada por Emilinha Borba, 1957;“Boi da Cara Preta”, de Paquito/Romeu Gentil/Jackson do Pandeiro, 1959.
Dos anos 60: “Me Dá um Dinheiro Aí” , gravada por Moacior Franco, 1960; “Indio Quer Apito”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, em 1961;“A Lua é dos Namorados”, gravada por Ângela Maria, 1961.“Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal. 1964; “Máscara Negra”, de Hildelbrando Pereira Mattos e Zé Ketti, 1967; “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves, gravada por Dalva de Oliveira, 1970.

Christiano Câmara



Crédito: Diário do Nordeste

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lauro Maia - Um compositor versátil


A obra de Lauro Maia é o resultado – como não poderia deixar de ser – do ambiente musical da época aliado ao seu talento tanto musical como versátil entre o popular, o popularesco e o clássico (não erudito).
A música popular brasileira foi e ainda é o reflexo do centro das artes concentrado no Rio de Janeiro e em São Paulo: o primeiro com sua música romântica, o samba jocoso e a marcha carnavalesca; o segundo com sua mazurca, rancheira, valsa e canção com sabor de imigração.
Essas influências aliadas às locais como o folclore, o rural nordestino e ainda a presença jazzística existente em grande maioria de nossos músicos, deram à obra de Lauro Maia um sabor todo especial. As influências são naturais e até benéficas desde que não cheguem a descaracterizar o
regional.
Lauro iniciou sua carreira artística ao final da década de 30, quando pontificavam nacionalmente nomes como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Ary Barroso, Lamartine Babo, João de Barro, Haroldo Lobo, Custódio Mesquita, J. Cascata, Ataulfo Alves, José Maria de Abreu, Assis Valente, Silvino Neto, Dorival Caymmi, Luís Bitencourt e Leonel Azevedo, para citar apenas os mais cotados.
Os instrumentistas eram Luiz Americano, Dante Santoro, Abel Ferreira, Fon-Fon, GarotoLuperce Miranda, Carolina Cardoso de Menezes, Laurindo de Almeida e os já citados Pixinguinha, Benedito Lacerda e Custódio Mesquita.
Aliando suas experiências urbanas com ritmos da terra, Lauro criou, ainda em  Fortaleza, valsas, sambas e marchas com características nossas, além de peças com ritmos e sabor nativos. Ao mudar-se para a então capital federal, Rio de Janeiro, passou a produzir, como exigia a época, músicas de sabor carioca, embora preferisse quase sempre os intérpretes cearenses por estes serem mais identificados com suas composições.
Embora gostasse de exercitar o jazz quando executava, Lauro Maia nunca deixou transparecer em suas produções essa influência, a não ser em uma única composição, o fox Gosto Mais do Swin (César O Que É De César) que, como o próprio título sugere, foi proposital.
Após conseguir as primeiras gravações de suas músicas e estas obterem sucesso em todo o país, preocupou-se em difundir os ritmos sertanejos do nordeste, ao mesmo tempo em que compunha valsas com o sabor da época para cantores como Orlando Silva; sambas e marchas para os carnavais e também os chamados sambas de meio de ano, obtendo aceitação em todas as camadas sociais.

Lauro poderia ter sido o lançador do ritmo baião, pois foi procurado por Luiz Gonzaga para juntos fazerem o lançamento, mas preferiu encaminhar o sanfoneiro pernambucano a seu cunhado Humberto Teixeira, que teve a felicidade de, junto com Gonzaga, alcançar o mais estrondoso sucesso da época, que foi aquele ritmo, obtendo repercussão não só no Brasil mas também em todo o mundo.
Como executante - ele era pianista - infelizmente, Lauro Maia deixou registrados somente alguns acetatos gravados na antiga PRE-9 (Ceará Rádio Clube) e mesmo assim muitas de suas gravações se perderam com o tempo e o descaso.
Lauro Maia foi, portanto, um compositor versátil, eclético, que não se prendeu ao radicalismo dos ritmos nativos nem se entregou aos apelos externos. Fez a fusão do carioca com o cearense, do romântico com o jocoso, do clássico com o banal, produzindo peças da mais legítima Música Popular Brasileira. Música, porque ele era um catedrático em teoria e em sensibilidade; Popular, porque atingia a massa; e Brasileira porque sabia fazer cheirar à terra tudo o que produzia.




Crédito: Livro "O balanceio de Lauro Maia" de Nirez

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