Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Hospital Mira Y López
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Hospital Mira Y López - 44 Anos



Casa das Missões em 1930 
A Casa das Missões dos Padres Lazaristas holandeses foi aberta em 31 de março de 1927 e, funcionava como alojamento de padres vindos da Europa para trabalhar no Norte e Nordeste do Brasil.
Em 1969 o prédio foi vendido e transformado no Hospital Mira Y López.

Casa das Missões em 1931

Prédio do Hospital Mira Y López é vendido 
(Reportagem do Jornal Diário do Nordeste em agosto de 2012)
"O futuro do Hospital Psiquiátrico Mira Y López, no Benfica, que dispõe de 200 leitos de internação, sendo 160 conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e 40 particulares, é incerto. Funcionários relatam que a direção realizou uma reunião, na semana passada, para anunciar a venda do imóvel e a demissão de todos. Em torno de 100 pessoas cumprem aviso prévio. O que se comenta é que o proprietário teria uma dívida de R$ 7 milhões.
O imóvel deve ser entregue em até dois meses. Há 18 pacientes sem vínculo familiar morando no hospital. Eles devem ser transferidos para duas residências terapêuticas que ainda serão inauguradas.
A unidade só deve funcionar até setembro, pois o prazo dado para entrega do imóvel ao novo dono é de dois meses. Caberá a ele decidir o que será feito do local. Pacientes que possuem vínculo familiar começaram a ter alta. Os demais, conforme informações dos funcionários, serão transferidos para outras unidades. Há dez dias, quando teve início o processo de altas, eram 198 pacientes internados. Ontem, eram 166. Desses, 135 pelo SUS e 31 particulares.

Após sete anos trabalhando na unidade, Francisco Milton, se mostrou inconformado por perder o emprego. "O Mira Y López tem história, são 44 anos de hospital. No dia que eu tive que assinar o meu aviso prévio, me deu uma tristeza. Quem é que gosta de ficar desempregado? E esses pacientes, vão para onde?", indaga, sem saber o que vai fazer quando terminar o aviso prévio.



Foto de 2006. Arquivo Elmo Júnior.
Na tarde de ontem, um paciente de Ibiapina, município localizado a 360 Km da Capital, que sofre de esquizofrenia, teve alta e seria levado para casa por um motorista da Prefeitura, mas não foi, porque o motorista não estava num carro adequado para transportar um paciente no estado que ele se encontrava - caindo do banco e com os joelhos feridos. "Disseram que ele estava normal", justificou o motorista, antes de desistir de levar o homem para casa.
A auxiliar Edilene Maria Sales, 51, que sofre de transtorno bipolar e costuma se internar, em média, três vezes por ano na unidade, estava triste. "Este é o melhor hospital que a gente tem, é uma pena. Se pudesse, reverteria essa situação", sugere.

A coordenadora de saúde mental do Município, Rane Félix, disse que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não foi informada, oficialmente, do fechamento desses 200 leitos. Acrescenta que há dois anos, quando a mesma polêmica veio à tona com a possibilidade de venda do hospital, foi firmado um acordo no qual os proprietários se comprometeram a não fechar a unidade. "Eles disseram que o espaço era muito grande e que iriam transferir os leitos para outro prédio, com estrutura menor".



Foto: Rodrigo Carvalho

Preocupação
A preocupação maior de Rane Félix é com os cerca de 18 moradores da unidade - pacientes crônicos que não têm vínculo familiar e estão há muitos anos no hospital. Estes deverão ser transferidos para as duas residências terapêuticas que serão inauguradas, ainda sem data prevista. Será entregue, ainda, até o fim do mês de agosto, a Unidade de Saúde Mental do José Walter, com 20 leitos. "Os demais vamos redistribuir na rede", diz.
A coordenadora de saúde mental do Município se queixa do curto prazo para transferência dos pacientes: dois meses. "Não vamos 'jogar' para Messejana, já estamos querendo tirar eles de lá. O que a gente tem que fazer é cuidar das pessoas, e não fechar um hospital de uma hora para outra. Dois meses é muito pouco, precisamos de cinco a seis meses para fazer essa transição", frisa."


Reportagem: Luana Lima


Tristeza e revolta


“É com pesar que nós, Maria Stael Torres de Melo Santiago Filha, médica psiquiatra, e Leônia Maria Santiago Cavalcante, psicóloga, estamos vivenciando o fechamento do Hospital Mira Y Lopez, estabelecimento dedicado à saúde mental e idealizado com muito amor pelo nosso pai, Dr. Leão Humberto Montezuma Santiago*, e sócios, Dr. Glauco Bezerra Lôbo e Dr. Roberto Augusto de Mesquita Lôbo. Foram 43 anos de existência, de serviço prestado com dignidade e humanidade à população cearense. É um momento de profunda tristeza e frustração para nós, funcionários e todo o corpo clínico que, durante muito tempo, dedicou-se ao tratamento de portadores de transtorno mental. Essa é a realidade da saúde mental no Brasil. Suas portas estão fechando por falta de condições na manutenção de uma estrutura e atendimento digno aos pacientes. Convém salientar ainda que a verba destinada à instituição sempre foi um descaso. Com diárias irrisórias, dívidas acumularam-se tendo em vista a incapacidade de se manter a infraestrutura do hospital. A doença mental, infelizmente, não dá ibope e nunca foi alvo de promessa por parte dos políticos. Não deve ser surpresa para a Secretaria de Saúde do Ceará o fechamento de mais um hospital psiquiátrico, visto que a condição de funcionamento não vem permitindo a sobrevivência dessas instituições. Esta expressão e revolta, vale dizer, é fruto do amor incondicional de nosso pai pelo paciente em sofrimento psíquico. Emílio Mira Y Lopez, psiquiatra e psicólogo, autor de um grande exemplar denominado "Os 4 Gigantes da Alma - Ira, Poder, Medo e Amor", foi a inspiração para o nome do Hospital Mira Y Lopez. Segundo ele, "a ira, o poder e o medo" são obstáculos para a evolução humana. A realidade é que o poder não oferece condições para que o amor transforme essa triste situação vivenciada por muitos de nós. Que esse momento nos faça refletir sobre o papel e função da instituição hospitalar psiquiátrica na atual conjuntura do suporte e tratamento aos portadores de transtorno mental. Observa-se uma mensagem ambivalente: determina-se a extinção e, ao mesmo tempo, critica-se o fechamento, discurso este esquizofrenizante!”


Stael Torres de Melo Santiago Filha 

Leônia Maria Santiago Cavalcante


Médicos que fizeram a diferença:

  • Dr. Roberto Augusto de Mesquita Lôbo, cearense de Santa Quitéria, psiquiatra renomado, foi fundador diretor do Hospital Psiquiátrico Mira y López, em Fortaleza. 

"Um ser humano de qualidades excepcionais, culto e detentor de um grande conhecimento profissional. Aprendi a admirá-lo desde os meus tempos de estudante de medicina, quando prestei serviços ao Hospital Psiquiátrico Mira y López, do qual Roberto era um dos diretores."






Foto da década de 80, em destaque o Dr. Roberto Lôbo - Foto de Paulo Gurgel 

  • Dr. Airton Monte era envolvido no trabalho psiquiátrico com doentes mentais no Hospital Mira Y Lópes. Natural de Fortaleza, onde nasceu em 1949, Airton Monte era médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará em 1976. 


"Médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará, cronista do jornal O Povo, comentarista de rádio, redator de televisão, letrista, teatrólogo, iniciou-se na revista 'O Saco', onde publicou contos. Um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura.
Publicou “O Grande pânico” (1979), “Homem não chora” (1981), "Alba Sanguínea" (1983) e “Moça com flor na boca” (2005), adotado pelo vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC). Participou de algumas antologias: Os Novos Poetas do Ceará III, Antologia da Nova Poesia Cearense, Verdeversos e 10 Contistas Cearenses. Tem também um livro de poemas."

Diário do Nordeste

Airton Monte faleceu em 10 de setembro de 2012, vítima de câncer.

  • Dr. Heraldo Guedes Lobo.
"Indicaria e indico a todos que precisam de um milagre, que conheçam esse profissional, pois ele claro com a ajuda de Deus me devolveu a alegria de viver... Sou paciente já curada."


 Socorro Farias 
(Já foi interna do Mira Y Lópes)

Hospital Mira Y López - Foto de Herlanio Evangelista
Um prédio histórico que merecia e deveria ser tombado como patrimônio histórico de Fortaleza.
No ano de 2012, o prédio do Hospital Mira Y López foi um dos pedidos pela população para a transformação em bem material.

Quem foi Mira Y López?




Emílio Mira y López foi sociólogo, médico psiquiatra e psicólogo, professor de Psicologia e de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Complutense de Madrid. A sua visão da psicologia está intimamente ligada à fisiologia, já que entendia que os estados mentais estavam relacionados com mudanças musculares com origem nos órgãos sensoriais resultantes da interação com o mundo externo e interno do indivíduo.





Mira y López nasceu em Cuba em 1896, filho de Rafael Mira Merino e de Emilia López García, ambos espanhóis. 



Depois de terminar o bacharelado com brilho, estudou Medicina em Barcelona, onde foi aluno de Augusto Pi i Suñer, professor que sobre ele exerceu uma influência decisiva.


Em 1919, dois anos após obter a licenciatura, venceu o concurso para o lugar de chefe da seção de Psicofisiologia do Instituto de Orientación Profesional de Barcelona, serviço de que chegou a ser diretor em 1926. Entretanto, em Abril de 1922, defendeu na Universidade de Madrid a sua tese doutoral sob o título: Correlaciones somáticas del trabajo mental.
Em 1930, presidiu em Madrid o Congresso Internacional de Psicologia e entre 1932 e 1939 foi diretor e consultor do Instituto Pere Mata de Reus e diretor do Instituto Psicotécnico da Generalidade da Catalunha. Em colaboração com os médicos Alfred Strauss, Adolfo Azoy e Jeroni de Moragas i Gallissà criou La Sageta, a primeira clínica de psiquiatria e avaliação psicológica infantil de Espanha.
Mais tarde foi diretor do centro de orientação e seleção profissional da Escuela del Trabajo e em 1933 venceu o concurso para a cátedra de Psiquiatria da Universidade de Barcelona.

Uma conferência do Dr. Mira Y López em 17 de julho de 1937
No Rio de Janeiro, foi nomeado em 1947 diretor do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), cargo que ocupou até falecer.
Colaborou no Dicionário de Medicina do doutor Manuel Corachán.

Foto de 1949
Toda trajetória de Mira y López colaboraram para o surgimento do PMK, Partindo da Medicina, que o levou à Psiquiatria e depois à Psicologia. As atividades de Mira culminaram num período em que a Espanha estava em grande efervescência cultural. Foi escritor, editorialista, conferencista, brilhante orador, professor de Psiquiatria, de Psicologia (psicologia forense, psicologia experimental, psicopatologia infantil), membro e representante de vários conselhos de Psiquiatria na Espanha e criador de vários testes psicométricos.

Hospital Psiquiátrico "Mira y López", (Santa Fé, Argentina) em 1943. 
É um dos mais importantes do país.
Introduziu-se no campo da Psicologia, trabalhando com orientação profissional, depois com testes de psicotécnicos para seleção de motoristas. Criou seu célebre percepto taquímetro e inventou uma prova rudimentar para estudar a dispersão da atenção numa tarefa psicomotora contínua. Teve a intuição de que esses teste mediam não só a capacidade de atenção, mas também traços emocionais e aspectos da personalidade e de conduta.
Mira se concentrou em estudos nas técnicas expressivas, que se diferenciavam das projetivas por serem testes que não fogem de nosso controle, sendo alterado conforme a vontade consciente.
Inicialmente os métodos eram centrados na análise dos movimentos faciais, mas com o decorrer do tempo Mira sentiu necessário medir outras expressões mais distantes do controle consciente.

Dr. Mira em 1955
Dr. Emilio Mira y López faleceu em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 16 de fevereiro de 1964.

De entre a sua extensa produção escrita, que compreende mais de 30 livros publicados, cerca de 200 trabalhos científicos catalogados e numerosas conferências e cursos ditados, destacam-se as seguintes publicações:


  • El Psico-Anàlisi (1926);
  • Manual de psicología jurídica (1932);
  • Manual de psiquiatría (1935);
  • Psicoterapia; Psicopatología dels estats passionals (1938);
  • Psicología evolutiva del niño y el adolescente (1941);
  • Los fundamentos del psicoanálisis (1943);
  • Cuatro gigantes del alma. El miedo, la ira, el amor y el deber (1947);
  • Educación pre-escolar. Su evolución en Europa, en América y especialmente en la República Argentina;
  • Le psychodiagnostic miocinètique (1951);
  • Psicología experimental (1955);
  • Hacia una vejez joven (1961);
  • La mente enferma (1962);
  • La doctrina psicoanalítica (1963);
  • Psicología de la vida moderna (1963).
  • Futebol e Psicologia (1964) junto a Atahyde Ribeiro da Silva - Editora Civilização Brasileira S.A; Rio de Janeiro - RJ, 1964, 1ª edição;




*Em 15 de abril de 1997, morre, aos 72 anos de idade, o médico psiquiatra Leão Humberto Montezuma Santiago (Leão Santiago), que nas horas vagas era cantor.
Era cearense do Crato onde nasceu a 21 de abril de 1925.

Editado 28/02: Soube ontem que a demolição do prédio já teve início, a parte da entrada pela Avenida da Universidade, praticamente já não existe mais, infelizmente!
É, mais um patrimônio nosso é vendido e nossa história indo para o poço do esquecimento...







Fontes: Diário do Nordeste, Álbum Fortaleza 1931, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo, Wikipédia e http://www.miraylopez.com

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