Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Rua do Seminário
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Prainha de outrora...


Igreja da Prainha em 1935
Nossa outrora hígida capital desfrutava de tranquilidade nos bairro, onde conviviam harmoniosamente famílias abastadas e carentes. As Cambirimbas e a Tijubana eram aglomerados da classe mais pobre, existentes respectivamente ao lado das espaçosas residências do velho Alagadiço e de Jacarecanga. A Cachorra Magra se agregava ao Benfica, bairro descoberto pelas famílias ricas da cidade. E, ao simplório bairro do Outeiro, trecho da cidade sito a leste do Riacho Pajeú e alcançando por ínvios caminhos, quais eram o Corredor do Bispo (atual rua Rufino de Alencar), o Beco do Pocinho e o início da futura Pinto Madeira, se agregava a Prainha, alcançada pela antiga rua da Praia (atual Pessoa Anta) e habitada por "gente boa" da terra. 


Seminário e igreja da Prainha em 1906 - Arquivo Assis de Lima

Nele nasceu e viveu algum tempo o grande cearense e maior crítico literário nacional da passada centúria Araripe Júnior, cuja moradia localizarei para a posteridade. E foi ele palco das peraltices de outro grande conterrâneo nosso, por via das frequentes andanças pela casa de parentes seus, o inesquecível Gustavo Barroso.


Foto da época da Inauguração da torre do Cristo Redentor em 1922. As casinhas que vemos, são da Rua Rufino de Alencar. Nirez

O bairro da Prainha compreendia não somente a parte que fica abaixo da colina onde nossa cidade se assenta mas se estendia à porção de cima, que dava frente para o areal hoje correspondente à Praça Cristo Redentor e ao início da rua do Seminário, atualmente Avenida Monsenhor Tabosa


Foto do Álbum de Vistas do Ceará de 1908

As casas à esquerda formam a Rua Rufino de Alencar que vem do lado da Catedral e quando chega na Rua Boris faz a abertura de um ângulo para formar a praça. A foto na realidade é o areal do que seria futuramente a Praça do Cristo Redentor. Arquivo Nirez

Na esquina noroeste da rua Boris, hoje reduzida em sua extensão em decorrência da demolição da face norte da desaparecida rua Franco Rabelo, e a atual Avenida Presidente Castelo Branco, que o povo chama de Leste-Oeste, existia um velho solar pertencente ao coronel Solon da Costa e Silva, nascido em Pacatuba e comerciante em Fortaleza, proprietário da Empresa Ferro-Carril de nossa cidade (que explorava o serviço de bondes de tração animal), sucedia em 1914 pela Ceará Light (concessionária do serviço de bondes de tração elétrica). O coronel Solon, que deu seu nome a uma rua da cidade, era pai de meu querido professor de inglês no Liceu do Ceará, Mozart Solon, e avô do Pe. Fred Solon, sacerdote jesuíta muito popular entre as novas gerações de fortalezenses. O belo prédio a que me referi foi em parte demolido para o alargamento da referida artéria, hoje crismada com o respeitável nome do primeiro Presidente da República após a Revolução de março de 1964.


A rua do Seminário em 1890 - Nirez

A Casa Boris

Descendo a ladeira da rua Boris, vamos encontrar ainda hoje o edifício que abriga a Casa Boris, aqui estabelecida no século passado e de grande importância econômica e social, a ponto de o povo dizer que o mar era o "açude do Boris".


Foto colhida pela objetiva da Aba Film no ano de 1938. A partir da esquerda, a mansão que foi de Luiz Borges da Cunha e Maria Pio de Castro, que ficava na Rua Franco Rabelo, em frente à Praça, seguida da casa construída por José Pio de Morais e Castro e Angélica Borges Pio de Castro, depois ocupada pelo inglês Francis Reginald Hull (Mr. Hull), meio encoberta por uma árvore; a Avenida Monsenhor Tabosa, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o Seminário Arquidiocesano. Na frente, a praça, com a torre que lhe deu o nome. Arquivo Nirez

Voltando à porção elevada da Prainha, visualizávamos, ao lado do belo prédio em que se abriga a Biblioteca Pública, a casa de nº 317 da desaparecida rua Franco Rabelo, no início da Avenida Presidente Castelo Branco. Tratava-se do primeiro bungalow construído em Fortaleza, iniciativa de Manuel Pio.


Ladeira da Prainha e residência de Mister Hull -Nirez

Vizinho a esse prédio existia outro fazendo esquina com a atual rua Almirante Jaceguai, que integra a Ladeira da Prainha, onde os bondes estacavam pela impossibilidade de subi-la. Nele residiu José Pio, irmão do proprietário do bungalow vizinho, e sua estampa consta do Álbum de Fortaleza editado em 1908. Depois foi residência de Francis Hull, cônsul inglês em nossa terra e gerente da Ceará Light, homem curioso de nossas angústias climáticas e autor de estudos sobre a problemática das secas, merecendo por isso batizar importante artéria de nossa terra. Esse prédio foi demolido e o correspondente terreno serve atualmente de estacionamento de automóveis ou atividade correlata.


O bonde Prainha na Avenida Pessoa Anta

Olhando em diagonal para a Praça Cristo Redentor e de frente para a Igreja da Conceição da Prainha (conhecida como Igreja do Seminário), localiza-se o prédio outrora residência do Barão de São Leonardo. Corresponde atualmente aos números 5, 15 e 23 da Avenida Monsenhor Tabosa, chamada antes de rua do Seminário. O Barão de São Leonardo, hoje denominando rua de nossa capital, chamava-se Leonardo Ferreira Marques e nascera em Mombaça.


Vista aérea da década de 20/30 - Arquivo Nirez

Vizinho à casa do Barão situava-se outra que tem hoje o nº 39 onde residia no início do século corrente  o grande poeta cearense que batizou rua da cidade e foi "degradado" por um vereador de passada legislatura, que quis homenagear o pai do dono de um posto de gasolina ali situado... José Albano, membro de família fidalga chefiada pelo Barão de Aratanha, nasceu em casa situada na esquina noroeste das ruas Visconde de Saboia e Coronel Ferraz, mas morava então na Prainha. Descia ele a ladeira do bonde da mesma denominação para, juntamente com o futuro deputado federal e jornalista Luis Cavalcante Sucupira, banhar-se nas ondas que quebravam nas areias da futura Praia de Iracema, então Praia do Peixe.


Praia de Iracema em 1930


Fonte: Prainha, um bairro decadente - Mozart Soriano Aderaldo

terça-feira, 12 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte Final


Monsenhor Tabosa vista do Praia Centro Hotel - Foto Reuton

Até a década de 60, a Avenida Monsenhor Tabosa era apenas residencial, com belas casas construídas na década de 20. Em 1972, com a inauguração e o sucesso da loja de sapatos Tamancolândia, a avenida passou a atrair cada vez mais lojas de produtos regionais e logo depois de confecções. A Monsenhor Tabosa, estava se tornando um pólo de moda e de atração para os turistas sem se dar conta. A partir daí, quando se fala na avenida, todos associam ao comércio e ao turismo.

Carnaubeira da Av Monsenhor Tabosa - Foto Paulo Targino Moreira Lima

Foto de Tony Rib

Em 1992, a avenida ganhou uma nova cara. A rua que era de mão dupla passou a ser de um só sentido. Substituíram o asfalto por calçamento para amenizar o calor e plantaram carnaubeiras que ao balançarem simulam o som da chuva. Daquelas butiques dos anos 70, quase nada restou. Mas, a Monsenhor Tabosa, entra no século XXI, mantendo o título de passarela da moda do Ceará

Loja Zant - Foto R.mello

Foto de Marisa Turassi

A localidade tem se tornado alvo de investimentos milionários. Segundo a Imobiliária Marcelino Freitas, os preços e a procura estão subindo muito rápido. No ano passado o aumento foi de aproximadamente 21,3% nos valores. Este ano, a previsão é que este percentual aumente ainda mais. A procura, também teve um aumento significativo de 30%.

 
A Monsenhor Tabosa vista do Hotel Blue Tree Towers, no 1º plano o Sebrae - Foto Paulo Yuji Takarada

A avenida que tem tradição comercial a mais de quatro décadas, está atraindo cada vez mais moradores, segundo a Imobiliária Luciano Cavalcante. Formando assim, uma verdadeira malha camuflada entre moradores, lojas, hotéis, restaurantes, postos de gasolina, camelôs, centros de cultura e turismo, entre outros empreendimentos. Pouco a pouco, os prédios residenciais estão ganhando mais espaço. 

Foto de Rodolfo Carlos da Silveira


“O preço dos apartamentos variam de 140 mil a 500 mil, dependendo do tamanho do imóvel e de sua localização na avenida”. É o que diz Rafaela Vasconcelos, 29 anos, funcionária da Imobiliária Magno Muniz. A procura de imóveis na avenida e em seus arredores, sejam comerciais ou não, se deve principalmente à comodidade e praticidade que o local oferece. Sua localização é privilegiada. Fica próximo da praia de Iracema, do Centro, de restaurantes, farmácias e supermercados. 

Foto de Marisa Turassi

Foto de Marisa Turassi

Dona Maria Leopoldina Cavalcante da Silva, 52, mora na avenida há mais de cinco anos. E é com muita satisfação, que ela fala dos benefícios e das mudanças que ocorreram durante esses anos. Segundo ela, o local é seguro e bom para se viver, devido a toda a sua diversidade.

Shopping Monsenhor Tabosa -  Foto de Marisa Turassi 

Seminário - Foto de Paulo César

Balança mas não cai

No começo da década de 70, leves terremotos abalaram alguns estados brasileiros, Incluindo o Ceará. “Eu senti a rede se tremendo, mas num instante parou”, confirma Wilka Galvão. Na rua onde mora, Monsenhor Tabosa, o abalo sísmico foi sentido e assustou a vizinhança. Inclusive “certas moças”, como ela frisa. Wilka refere-se a algumas prostitutas que moravam num prédio vizinho à sua casa. Quando sentiram o tremor de terra todas correram, e como bons cearenses, os vizinhos iniciaram a chacota ao prédio: “Esse ai balança mas não cai!”. A partir de então estava lançado o apelido. A aposentada aponta que o prédio mudou de nome, mas pelas redondezas a forma como é conhecido ainda deve permanecer por um bom tempo...




Parte III
 
Artigo: Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma 
(Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

domingo, 10 de junho de 2012

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte III


Praça Cristo Redentor, vendo-se ao fundo a Igreja da Prainha - Arquivo Nirez

Por essência, o povo compôs a alma da avenida, dos fundadores aos habitantes atuais...

Descobrir a história de uma rua e da região que a cerca não é tarefa fácil. Documentos históricos são raros e quando encontrados, são pouco organizados. O Arquivo Público do Estado do Ceará (localizado na RuaSenador Pompeu, 648, Centro) abriga pilhas de papéis seculares. O maior problema é a falta de esquematização, o que dificulta a pesquisa. 

Nas largas calçadas, depois da esquina da Rua Senador Almino, pães de queijo e salgados atraem a atenção dos passantes. Saindo de um estreito corredor da casa onde moram desde que nasceram, as irmãs Leda Maria e Rosângela Braga vendem seus quitutes. Elas logo advertem:  Todo mundo tá viajando, vai ser difícil encontrar alguém pra falar disso (do passado)”. Mas, conversa vai, conversa vem, algumas indicações de nomes surgem. 

Uma colega das irmãs, Lúcia Mendonça, ainda comenta sobre uma tia antiga que lembrava de velhas histórias da rua. Uma delas dizia que a maré alta chegava a lavar as costas da igrejinha. A frente da igreja, nesse período, estava virada para Avenida Dom Manuel. Do outro lado da rua, um almoço quente e barato é servido àqueles de menor poder aquisitivo. É a lanchonete do Luiz. Lá, há 47 anos mora o comerciante Luiz Antônio Alves de Souza, residente desde que nasceu. Em meio aos trocados do caixa, atendendo um e outro pagante, ele expõe as lembranças e relatos que a mãe citava. No início da década de 20 a mãe de Luiz, Maria Lúcia, é uma das fundadoras da avenida. Quando ela adquiri a propriedade, nem mesmo os quarteirões estavam formados. Luiz relembra até os tempos de menino e os jogos de bola pela velha Monsenhor Tabosa. Ele relata que muitos dos moradores à época eram comerciantes, trabalhavam no Centro, na Rua Conde D’eu. Já a mãe começa vendendo artesanato e alugando o ponto para lojas. 
Aqui é um ponto bom, resolvi ficar”, responde o comerciante, atendendo aos clientes ansiosos pelo troco.

“Ainda tem família, mas é intocada”, revela Braz da Silva, referindo-se a antiga Rua do Seminário. Ele mora na Travessa Aracoiaba, oficialmente Ademar de Arruda, com a mulher Terezinha Andrade da Silva. A casa é simples, interiorana. De grande riqueza só mesmo o diamante das bodas – 60 anos de casados. A mulher mora ali desde que nasceu, em 1929. A rua em que mora é paralela à Monsenhor Tabosa e também já foi conhecida como Rua do Bagaço. Dona Terezinha explica que é por causa das casas construídas com bagaço de cana-de-açúcar.

O simpático casal de idosos conhece as imediações, mas não saem como antes. A filha Francisca Maria Andrade é quem aproveita a proximidade do centro comercial para fazer suas compras mais necessárias. “Ah, antigamente na Monsenhor só morava ‘gente chique’. Antes é que morava gente mais humilde”, recorda Francisca. D. Terezinha some por um espaço de tempo da sala. Quando volta, traz o documento amarelado, quase em pedaços, ilustrando que o terreno, onde ela mora hoje, fora da Igreja. O papel, datado de 1957, simboliza o pagamento dos fóros, quantias pagas anualmente a Arquidiocese, por metro quadrado de terra. “Era uma mixaria, a gente pagava na Igreja da Sé, indica a dona de casa.

Sapateiro de oito décadas vividas, Braz da Silva, remonta aos clubes da vizinhança, onde ia jogar bola pelo dia, e se divertir dançando e bebendo pela noite. Enumera alguns exemplos, Clube Vila Bancária, Idealzinho, Canto do Rio, Clube Massapeense, Onze Cearense e a Baixa do Veado. Entre a Monsenhor Tabosa e a Nogueira Acioly, encontra-se a Praça da Graviola, que segundo o casal, “tem até apartamentos”. A comunidade é antiga. Na infância, D. Terezinha já ouvia falar dela, e apesar dos preconceitos sociais embutidos, a praça – ou favela - “é também lugar de famílias trabalhadoras e honestas”. Voltando para a Monsenhor Tabosa, a procura é agora pelo seu Tarcísio Pedro de Oliveira, ou o Tarcísio Lanches. Perguntando em lojas das proximidades, uma vendedora é enfática: “Aquele ignorante? Se fosse você nem ia falar com ele”. Talvez por falta de conhecimento ou por fofocas implicantes, a moça não tenha um contato direto com o conhecido comerciante daquelas bandas. Tarcísio recebe os fregueses calorosamente, e não é diferente quando se trata em contar um pouco do que lembra ao longo dos 51 anos de Monsenhor Tabosa. “Tinha muitos portuários, caminhoneiros, operários e vendedores”, rememora. A lanchonete que mantém com a esposa, era do pai que veio de Cascavel. Conta ainda que a rua possuía um campo de futebol no estilo de sítio, com muitas bananeiras e coqueiros. Haviam três bodegas principais: 
a do Seu pai, a de Seu Antônio e a de Seu Carlinho. Quando ia para a missa, os padres contavam acerca da história da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha e com ela a do personagem Monsenhor Tabosa. Para um pouco de atender os clientes, e busca em seus guardados uma valise empoeirada, o texto que o sacerdote entregava. Destaca também a centralidade da rua na cidade: “Nós vivemos perto de tudo, perto do mar, perto do Centro. Aqui ninguém precisa ter carro”, considera. 

Uma das últimas remanescentes dos primeiros habitantes da Monsenhor Tabosa se encontra em uma casa que atravessa o quarteirão. D. Vilca Galvão, sentada na mesa da cozinha, reconsidera todo o passado para traçar a linha de vida naquele lugar. “Meu pai era industrial”, lembra-se quando fala da padaria do pai: A Confeitaria Galvão. O pessoal da estiva - serviço de carregamento e descarregamento de navios no porto - ocupava algumas casas da Rua que era toda em calçamento até o Ideal. Aliás a moradora de 78 anos reclama que “o asfalto suja muito”. Relembra as novenas realizadas no Seminário pelo Padre Arruda que eram a grande festa daquele tempo. As moças de vinte anos de idade nem sabiam o que era beijo, exulta. Lecionou no Colégio de Mister Hull, até o seu fechamento entre 1955 e 1960. Em Geografia Estética de Fortaleza, Raimundo Girão apresenta que onde é o atual Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, já existiu um estacionamento. Nas lembranças de Dona Vilca, tais dados históricos não se confirmam. Por último ela assevera que a avenida “é muito calma, (os moradores mais novos) não são nem daqui, vem de fora”.

Qual a cara da Monsenhor Tabosa? 

Os badalos da igreja do Seminário da Prainha ecoam misturando-se ao som das buzinas como uma forma de resistência de uma cidade que não há mais. Quase que imperceptível, o barulho persistente do ventos nas folhas das carnaubeiras tira os olhos do transito caótico das 18h de uma segunda-feira... 

O Seminário - Arquivo Nirez

Então qual era a verdadeira Monsenhor Tabosa? Passarela da moda, Centro Comercial ou seria Centro Artesanal? Todas essas repostas correntes que sempre enquadravam-se para designar aquela avenida naquele momento não foram suficientes. Havia algo mais ali. O badalar do sino da igreja ressaltava uma outra Monsenhor Tabosa. No passado a presença do Seminário era tão forte para aquele logradouro que até já foi usado para sua denominação: Rua do Seminário. Com casas erguidas em terrenos da igreja a influência religiosa na avenida é inegável e está presente até hoje. A substituição do nome por Monsenhor Tabosa, homenageando um sacerdote que dedicou sua vida aos doentes e pobres, é mais uma forma de reafirmar a história da rua em meio aos shoppings e lojas que proliferam pela avenida.
Outro prédio que se destaca em meio às lojas é o SEBRAE, onde são promovidos cursos profissionalizantes além de eventos culturais, como a feira da música. Além de claro, o Centro Cultural Dragão do Mar, que apesar de localizar-se na avenida é inegável sua influência na região. O Centro Cultural, batizado com o nome do pescador que é o símbolo do fim da escravidão no Ceará, aumenta o número de frequentadores da Avenida, que junto ao Dragão do Mar torna-se um ponto turístico do cidade. Apesar do seu aspecto comercial ser o mais usado para justificar a alta frequência de turistas, é inegável que um passeio pela Avenida também seja um passeio pela história da cidade e os aspectos que identificam o povo cearense, como a religiosidade.



O espaço hoje ocupado pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Foto da déc. de 20 ou 30. Arquivo Nirez


Foto de Rick Foth


Religiosidade esta, fortemente marcada na avenida. No alto de uma coluna ao meio da praça, que também se localiza um Teatro que leva o nome de São José, está a estátua de Cristo Redentor. A Praça do Cristo Redentor, é cercada por árvores e táxis. 

Foto da época da Inauguração da torre do Cristo Redentor - 1922 - As casinhas são na 
Rua Rufino de Alencar. Arquivo Nirez
Abrigando o museu do Maracatu o Teatro, de nome cristão, ostenta, singelamente, a nossa miscigenação. 
Na Monsenhor Tabosa, também se encontra a biblioteca Pública Estadual (Governador Menezes Pimentel). 

Inauguração do novo prédio da Biblioteca Pública na Praça do Cristo Redentor, vendo-se Renato Braga, general Teles Pinheiro, Raimundo Girão, Parsifal Barroso, Antônio Martins Filho e José Lins Albuquerque. Foto Estúdio Eln - Arquivo Nirez


Foto de Edimar Bento


A Avenida Monsenhor Tabosa não pode ser taxada meramente como um centro comercial. Ela é muito mais importante que isso, é na verdade uma idiossincrasia nossa. Nela estão presentes elementos peculiares da nossa formação. Olhar a Avenida e elementos ao seu redor, que a ajudam a compor aquele cenário, sempre lembrado como um lugar comercial e de trânsito caótico, é olhar para a composição de uma identidade cultural que insiste em existir mesmo sendo ignorada.


A cara da Monsenhor Tabosa, apesar de maquiada por lojas, continua sendo uma expressão da formação de uma gente, de uma história que, sem termos consciência, nos pertence. A cara da Monsenhor Tabosa, é a minha, é a sua cara.




Parte I

Parte II


Crédito: Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, 
Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

Avenida Monsenhor Tabosa - Antiga Rua do Seminário - Parte II


Fatos Históricos da Rua/Avenida:

Fábrica Miramar - Arquivo Nirez

Essa é a Fábrica MiramarInstalações Industriais de Brasil de Matos & Cia., produtora do Café Sertanejo e do Café Baturité e os carros são da mercearia "A Brasileira", do mesmo proprietário.

"A Fábrica Miramar de Ernesto Brasil de Matos & Cia. ficava na Avenida Monsenhor Tabosa no tempo em que só existiam casas de morada e o Seminário Arquiepiscopal, por volta de 1930. Na época o porto de Fortaleza era a Ponte Metálica." Nirez

Em 1936, a Rua do Seminário muda o nome para Avenida Monsenhor Tabosa, homenagem ao Monsenhor Antônio Tabosa Braga*, falecido em 12 de abril do ano anterior.
Projeto do vereador Valdemar Cabral Caracas (Valdemar Caracas).



Ideal Clube na Av. Monsenhor Tabosa, 1381


Em 30 de julho de 1939, lançamento, às 10h, da pedra fundamental da sede do Ideal Clube, na atual Avenida Monsenhor Tabosa nº 1381, na Praia de Iracema, em prédio projetado pelo arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman.



No dia 15 de agosto de 1950, é inaugurada em Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa, nº 1054, uma fábrica da bebida Coca-Cola, da firma Fortaleza Refrigerantes S. A., do Grupo Sérgio Filomeno, a primeira no gênero em nossa Capital.
As pessoas ficavam na grande janela de vidro vendo a máquina de encher e tampar as garrafas.



Fábrica da Coca-Cola na Avenida Monsenhor Tabosa - 1950

Em setembro de 1950, é fundado o Maracatu Az de Espada, por José Orestes Cavalcante e Eli Bessa, no decorrer de uma reunião realizada em uma casa da Altamira - a ladeira da rua João Cordeiro, na Praia de Iracema, entre a Avenida Monsenhor Tabosa e a Avenida Aquidabã (atual Avenida Historiador Raimundo Girão).

No dia 30 de março de 1972, o prefeito Vicente Cavalcante Fialho reúne-se com os secretários Antônio Lemenhe, de Urbanismo; e Amauri de Castro e Silva, do Planejamento; e a professora, Aldaci Nogueira Barbosa Mota (Aldaci Barbosa), da Fundação do Serviço Social, a fim de tratar da formação da equipe que fará os estudos da continuação da Avenida Monsenhor Tabosa até a Barra do Ceará.
Foi o primeiro passo para construção da Avenida Marechal Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste).

Em 30 de outubro de 1976, é inaugurada a terceira filial das Casas A Fortaleza, na Avenida Monsenhor Tabosa nºs 1109/11, esquina com Rua Barão de Aracati, propriedade de Salomão Boutala.

A Avenida Monsenhor Tabosa é interditada no dia 22 de agosto de 1992, para obras de melhoramentos visando transformá-la num centro de atração turística.
Foram prometidos melhoramentos no fluxo do tráfego e mehor estacionamento, mas o que se viu foi o estrangulamento da via que tornou-se quase intransitável.
No mesmo ano, em 18 de dezembro, é entregue ao povo de Fortaleza a nova Avenida Monsenhor Tabosa, após completa reforma que a deixou mais estreita e com estacionamentos que dificultam a passagem pela mesma. 

Depois das obras, a avenida ganhou uma nova cara. A rua que era de mão dupla passou a ser de um só sentido. Substituíram o asfalto por calçamento para amenizar o calor e plantaram carnaubeiras que ao balançarem simulam o som da chuva. Daquelas butiques dos anos 70, quase nada restou. Mas, a Monsenhor Tabosa, entrou no século XXI, mantendo o título de passarela da moda do Ceará.

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*Antônio Tabosa Braga, nasceu em Itapipoca, a 19 de dezembro de 1874.  Aos 13 anos, foi estudar no Seminário da Prainha, que também formou o bispo Dom Manuel, seu superior e amigo. Foi incansável na luta pelos mais pobres, tendo dedicado seu trabalho pastoral aos hansenianos. No morro do Croatá (próximo de onde hoje fica o cemitério São João Batista), o padre Tabosa construiu um leprosário. Depois, com apoio do industrial Antônio Diogo de Siqueira, instalou o Leprosário Antônio Diogo, inaugurado em 1928. Sobre ele, escreveu Leonardo Mota, em seu inédito estudo da vida eclesiástica do Ceará: ''Na seca de 1915, se revelou a mais eloquente das vozes que se ergueram a favor dos flagelados''

Parte interna do Seminário da Prainha - Foto de Lizza Bathory

Monsenhor Tabosa morreu em 1935. A avenida batizada com seu nome chamava-se Rua do Seminário, e foi uma das primeiras do antigo bairro da Prainha.


 Fotos da Avenida

A Av. Monsenhor Tabosa hoje - Foto de Paulexpert

Foto Viny321

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Paulo Targino Moreira

Foto de Rubens Craveiro

A Avenida Monsenhor Tabosa é bem ao estilo de Beverly Hills


Veja a primeira parte AQUI 


Fontes: Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo e Monsenhor Tabosa de Corpo e Alma (Alan Regis Dantas, Iana Susan, Ônica Carvalho, Lucianny Motta, Fernando Falcão e Sâmila Braga)

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: