Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : José Maria Cardoso
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 29 de junho de 2010

Casa do Português - Vila Santo Antônio de José Maria Cardoso

 A casa em foto de 1979 de Nelson Bezerra.


Nos quarteirões da Avenida João Pessoa alguns casarões antigos resistem ao tempo e guardam fragmentos da história do bairro. Dentre todos eles, merece destaque a Casa do Português, símbolo de ostentação quando foi construído em 1950.  A casa - na realidade Vila Santo Antônio- pertencia a José Maria Cardoso , um rico comerciante português, dono de madeireira fornecedora de lenha para a Light e para os trens da RVC (Rede de Viação Cearense). Por mais que a família crescesse, jamais ocupou todos os espaços do casarão e isso entristecia o proprietário. Há boatos de que Cardoso ficou mais desesperado ainda com o suicídio de seu filho, que saltou do alto da casa que o velho português construíra. Para o velho, o sonho acabou.


Foto da década de 60 - Acervo de Pedro Leite

Postal da casa na década de 50. 

A Casa do Português parece um navio e lembra a história dos navegantes portugueses que desbravaram os mares, que nas palavras de Fernando Pessoa, “tanto do teu sal são lágrimas de Portugal.
Hoje as lágrimas são de abandono do lugar."


Acervo Eônio Fontenele


A casa é ponto de referência de quem mora ou passa todos os dias pela Avenida João Pessoa, no bairro Damas. Data de 1950, quando começou a ser construída, sendo inaugurada em 13 de junho de 1953.


Foto da década de 70. Acervo IBGE

Foto Any Lima

Chamam-na de Casa do Português. Três andares. Duas rampas laterais que davam aos automóveis acesso aos terceiro e quarto andares. Grades de ferro pesado circundam a frente e o lado esquerdo da casa, hoje, cor verde-musgo se misturando com ferrugem como se a casa, que muitos dizem parecer com um navio, estivesse no fundo do mar, sob o ranger dos motores de ônibus da avenida João Pessoa.


Raríssima foto do português José Maria Cardoso


Reportagem da década de 50 - Acervo Renato Pires

O proprietário era português realmente. Deu seu próprio nome, junto ao de um santo, a casa: Vila Santo Antônio de José Maria Cardoso. Sua família, por mais que se espichasse, não completava os cômodos do segunda andar, o único que realmente ocupou. Ainda em vida, alugou os outros dois acima para o empresário Paulo de Tarso, então dono da Boate Portuguesa. Quando morreu, em 1966, aos 72 anos, foi como um rasgo no casco da casa que já não era muito aprumada. No local, depois da boate, abrigou a Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural (Ancar) e a sede da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) de 1965 a 1984, e logo depois: uma oficina, um estacionamento e um cortiço.
A casa então foi vendida em um leilão.


Registro da década de 80 quando a casa abrigava a Ematerce. Acervo Renato Pires

Os atuais proprietários deixaram o aviso de não informar endereços e telefones. Nenhuma reforma foi feita e não há sinais de que algum plano esteja sendo tramado. Comenta-se que seu José Maria Machado (atual dono) queria fazer um shopping, mas os sócios dele não gostaram da ideia.  Salvando a quadra, o terceiro andar e o terraço estão com os escombros espalhados por todo o chão e as paredes pichadas.


A casa em 1954 - Arquivo Nirez

Inauguração da Boite Portuguesa em 1962 - Arquivo Nirez

O edifício está em processo de tombamento, aberto em janeiro de 2006 pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet), por isso mesmo está protegido de reforma que o desfigure ainda mais ou de uma possível demolição. "Alguns arquitetos contestam que aquele edifício seja um patrimônio da cidade, mas ele tem uma arquitetura diferente, é um referencial de espacialidade. As pessoas que se utilizam do espaço tem uma referência nele. É também uma referência da cidade, na década de 60 ele foi postal de Fortaleza", diz Ivone Cordeiro, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico Cultural da Funcet.


Foto da casa publicada no Jornal O Povo em 26 de dezembro de 1970.


O processo deveria ter sido concluído em abril ou maio desse ano, segundo Ivone. Até agora nada foi pensado para o prédio e não se têm planos de uma possível reforma. Em 2005, os arquitetos Napoleão Ferreira e Mário Roque tiveram a ideia de transformar a casa em Centro Cultural. A proposta era a de um centro que integrasse a cidade e o estado com a cultura portuguesa. "A ideia é dar vida aquilo. A cidade está devendo à sua memória. Para mim aquilo é uma arquitetura que impressiona. É sem sombra de dúvida um marco urbano", reafirma Napoleão, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Crédito do texto: Jornal O Povo



O trânsito na Avenida João Pessoa é caótico. Pessoas apressadas, estudantes, trabalhadores, moradores do lugar de nome bucólico: Bairro Damas. O presente de concreto, fumaça da via urbana não lembra o passado não tão distante em que o local era um espaço verde de inúmeros sítios, ideal para os que buscavam tranquilidade e ar puro. O nome Damas é uma homenagem às famílias aristocráticas que construíam ali suas chácaras, afastadas do tumulto do centro da cidade de Fortaleza, que se modernizava e aformoseava mas que perdia o charme provincial.



A Casa do Português é ponto de referência. O prédio, de propriedade particular, é uma construção ousada de 1950 que já abrigou a sede da Ematerce e a Boate Portuguesa - Diário do Nordeste.

Registro em cores dos anos 60 - Carlos Augusto Rocha Cruz

Em 1931 surgiu no Damas o “Ideal Clube”, frequentado pela elite econômica da cidade. Os aristocratas se divertiam no clube que tinha quadra de tênis, piscinas e ringue de patinação. A “mundiça”(ralé) ficava no sereno, no lado de fora, excluída dos esportes requintados das elites. O Ideal Clube ficou no bairro até a década de 60 quando foi transferido para o Meireles.
A principal rota que cruzava o Bairro Damas era a estrada Fortaleza-Porangaba, feita de areia batida. A poeira era intensa com o tráfego de boiadas, carroças e alguns poucos automóveis. Em 1929 o então presidente Washington Luis mandou revestir a estrada de concreto que foi batizada com seu nome. Deposto pela “Revolução de 30”, os novos donos do poder e os “revolucionários de véspera” mudaram o nome do lugar para João Pessoa, em homenagem a um dos líderes do movimento.


Foto Any Lima

A cidade cresceu e os problemas urbanos se manifestaram no Bairro Damas. Com a nova realidade, a Avenida João Pessoa ficou conhecida como “avenida da morte” devido ao grande número de acidentes registrados na via de mão dupla. Em 1982, quando a avenida passou a ter sentido único, com o contra fluxo apenas para transporte coletivo, o número de acidentes diminuiu mas o local ainda é perigoso.


Foto Any Lima

No bairro, o destaque é a casa do português e ainda hoje, o velho casarão estranho com rampa de garagem localizada no teto, é ponto de referência de quem mora ou passa todos os dias pela Avenida João Pessoa.

Texto do professor Evaldo Lima



Comentário de Cristina Cardoso (Uma suposta neta do português) ao texto do Evaldo Lima:

"A historia contada é uma inverdade, realmente esse casarão foi construído para netos e bisnetos eu como neta do português cheguei a morar no casarão até a morte do meu avô eu tinha seis para sete anos e convivi com os meus pais até catorze anos quando eu vim para São Paulo com minha mãe. Meu pai José Maria Cardoso Junior (filho único  de José Maria Cardoso e Antônia Gaia Cardoso, faleceu no ano de 1984, a morte dele foi causada por insuficiência respiratória devido ao tabagismo e não por suicídio  por favor se ñ sabe da historia da família Cardoso não faça comentários mentirosos, se tem curiosidade de saber sobre a realidade da família, em meados de novembro de 2010 sera lançado o livro contando tudo sobre a família Cardoso.O livro se chamará A Casa do Português (momentos de alegrias e tristezas da família) atenciosamente Cristina Cardoso"


Fatos Históricos


Em 13 de junho de 1953, é inaugurada a Vila Santo Antônio, construída por José Maria Cardoso, na Avenida João Pessoa nº 5094, ficando conhecida como a Casa do Português, toda de concreto armado, três andares com subida de carro até o teto.


Nela foram gastos 29 mil sacas de cimento, 540 toneladas de ferro, 180 milhões de tijolos e 40 mil latas de cal.

Depois foi ocupada por várias repartições públicas, começando pela Ancar.

Lá esteve também a Boate Portuguesa.



Em 30 de junho de 1962, inaugura-se a Boate Portuguesa, na Vila Santo Antônio, conhecida como Casa do Português, na avenida João Pessoa nº 5094.

Ficarei aguardando esse livro, deve ser bem interessante...






Fotos internas da casa feitas por Renato Pires:














Em conversa com uma neta do português, ela me contou algumas coisas interessantes sobre a família e a casa:


"Olá Leila!
Bom, meu pai era filho único, José Maria Cardoso Júnior. Eu, Maria Mirian Araújo Cardoso, filha e neta, porque meu pai me adotou aos cinco meses de nascida. Ele era casado com Francisca Nila Araújo, minha mãe. Meu finado avô José Maria Cardoso, o português, eu me lembro que era muito rígido com meus irmãos. A sua mulher, Antonia Gaya Cardoso, minha avó, sempre o respeitou. E depois que ficou viúva, saímos

para morar na avenida João Pessoa, nas casas de meu avô. Se eu não me engano, ele tinha 32 casas de aluguel. Ele deixou toda a herança para o seu único filho, meu pai, o qual me criou com muito amor e carinho. Meu pai se casou três vezes, eu sou da terceira família, mas éramos unidos e morávamos todos no mesmo prédio/casarão. Depois vivemos na João Pessoa, 5174, na casa da esquina. Minha avó com os outros irmãos, no meio da quadra. 
Vivi no casarão até os seis anos, nunca fui até o final dele. Antes tinha uma praça na frente do prédio, de mármore e globos iluminados em toda sua volta, era fascinante. Na entrada do casarão (abaixo) tinha uma capela, a qual meu avô rezava as missas. 

Vivemos uma vida luxuosa, tínhamos chofer, um Ford Landau, três empregadas, uma cozinheira, arrumadeira, uma lavadeira, um fotografo só da família, também um sitio...
Depois meu pai alugou o casarão para ANKA. Era assim que ele dizia.
Meus irmãos:  Maria do Socorro, Maria das Graças, Francisco e José (eram gêmeos e paralíticos, morreram adultos), Maria José e Paulo, Antônia Gaya, Cleia Simone, Francisco Jorge e Francisca Nila, que é a Cristina (já citada), porque meu pai queria Francisca e minha mãe Cristina, então a chamamos de Cristina.
Um dia, Antônia, adolescente, resolve morar em São Paulo. Minha mãe logo veio atrás, porque não vivia sem ela e nos levou para São Paulo enganando a gente, dizendo que voltaríamos, mas isso nunca aconteceu... Meu pai e ela se distanciavam mais um do outro e aquela vida que tínhamos se acabou como uma ventania passageira, todo aquele luxo se foi.
Quem mora em São Paulo é Simone, Antônia e Cristina. Jorge e eu, em Goiânia. 

Hoje somos todos trabalhadores e lutamos para ter algo melhor, mas riqueza só em sonho e até hoje eu queria saber para onde foi tudo aquilo. Virou pó? Minha mãe faleceu já faz 8 anos e meu pai faleceu em Fortaleza, somente com duas pessoas no seu enterro, Tanit do Nascimento, minha ex cunhada e seu ex marido, meu irmão Francisco Jorge.

O dinheiro não é tudo. Meus pais nos ensinaram a ter dignidade e ser honesto, que é o mais importante. O dinheiro não traz felicidade e sim a desigualdade. Assim aprendemos a valorizar cada centavo que entra em nosso bolso e aprendemos que nada cai do céu.

Leila eu vi o vídeo, que dor no coração, eu chorei ao ver a reportagem. Meus irmãos venderam a casa em 1985 e me enviaram Cr$
 1.200. Meu avô José Maria não queria que vendesse, era para usufruto da família. O advogado do meu pai na época, era o doutor Waldizar, ele era advogado da família e fazia todas as transações. Ele conheceu bem a família, não sei se ainda vive. 

Meu pai faleceu de insuficiência respiratória no dia 11 de agosto, se eu não me engano 1984 ou 85. Essa história que ele se matou porque a mulher o traiu é mentira! Minha mãe sempre o respeitou, ela faleceu aos 97 anos." 


Mirian Cardoso


Em outra ocasião, eu perguntei sobre a veracidade da notícia de que a partir de 1994, a casa foi ocupada por dois dos nove herdeiros: Paulo Vicente Cardoso e Maria das Graças Moura Cardoso, e por José Alberto Gomes, amigo dos legatários, que em 2002 ainda morava nesse local. 

Sua resposta:

"É verdade, minha ex cunhada Tanit do Nascimento Cardoso morou um tempo no prédio, não me lembro a data, foi logo após a morte de meu pai. A Graça e o Paulo (meus irmãos), moraram no prédio. A Graça que vendeu o prédio. Assim eu ouvia minha mãe falar. Não sei quem comprou, eu acho que tem um grande mistério nisto tudo. Este dinheiro nunca foi abençoado para ninguém, está todo mundo na mesma!"



Mirian Cardoso


Editado:


O imóvel foi tombado em definitivo em 2012, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza como patrimônio histórico do município.

Em março de 2015, teve início a obra de revitalização pelo atual proprietário, mas a prefeitura embargou a obra por falta de licença. Por se tratar de um bem tombado, há todo um cuidado a ser seguido para manter a originalidade do imóvel, o que parece que não estava acontecendo. No ano anterior, ele já havia sido notificado, pois recebeu permissão de fazer apenas pequenos reparos e simplesmente retirou algumas paredes, modificando assim o projeto original da casa.
A casa do português pertence hoje ao empresário Sérgio Miranda que tem planos de transformar a casa em hotel. Segundo ele, 95% da estrutura do imóvel ainda permanece original.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Povo em 14 de janeiro de 2017, mesmo após decisão da Prefeitura de Fortaleza de embargar a obra em 2015, reparos estavam sendo feitos na casa, que teve os vitrais retirados nos dois pavimentos superiores e algumas grades. Até o letreiro original da construção, onde datava o imóvel de 1950, também foi removido. Como dito anteriormente, a casa, de propriedade privada, já havia passado por reformas há dois anos sem autorização dos órgãos legais, onde paredes na parte superior foram derrubadas durante os serviços. Dessa vez, a movimentação era menor. No local não havia indícios de entulhos ou materiais que indicasse construções civis, no entanto obras estavam sendo realizadas. De acordo com um dos funcionários que atuavam na casa, estavam sendo executados o lixamento das paredes e a retirada de alguns elementos para recuperação. “Sou eu e outra pessoa. Não é serviço grande, porque se fosse não era só nós dois. Essa casa é muito grande”, argumentou o funcionário na época.
Em nota, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) afirmou que as intervenções foram fiscalizadas por equipes técnicas no segundo semestre de 2016, que constataram que os serviços se referiam “a práticas de conservação”.
Editado em 15 de dezembro de 2018:
O equipamento que havia sido vendido em 2014 para o dono do antiquário, empresário Sérgio Miranda, foi, mais recentemente, novamente transferido. Infelizmente, não tenho informações sobre o novo proprietário.
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