Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Alfredo Salgado
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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sábado, 10 de agosto de 2019

Memórias da Itapuca Villa...

Villa Itapuca   
"Casa de Alfredo Salgado. Era assim que nós jovens e crianças conhecíamos aquele "sobrado" monumental situado na rua Guilherme Rocha, entre Princesa Isabel e Tereza Cristina.
 Aquele casarão sempre encantou meus olhos e despertou minha curiosidade em conhecê-lo em todos os seus detalhes, principalmente ao ouvir de minha madrinha que ali era o ponto de encontro aos domingos, de seus amigos de juventude para passearem apreciando as belezas de seu jardim.
Certo dia, quando eu estudava no Colégio Justiniano de Serpa ( 1971 ) resolvemos eu e uma amiga, gazearmos a aula e irmos conhecer de perto a tal "casa", já que ela também tinha o mesmo fascínio pela mesma. Ao chegarmos em frente, ficamos envolvidas por uma indescritível emoção, vendo aquelas grades e portões monumentais, batemos palmas, chamando alguém. A casa estava rodeada por um matagal quase de nossa altura, mostrando apenas um caminho acimentado até sua varanda. No fundo do quintal, do lado direito de onde estávamos, havia um casebre lá no cantinho do muro, de onde saiu um morador ao nosso encontro para saber o que queríamos.
 Explicamos, ele relutou um pouco mas diante de nossa insistência, permitiu nosso acesso, aconselhando cautela!

É indescritível a emoção que sentíamos a cada passo em que nos aproximávamos daquele sonho prestes a ser realizado. Na parte térrea não logramos muito êxito pois as portas (alturas imensas para nós) estavam todas trancadas. Foi decepcionante, porém, ao chegarmos no andar de cima onde o piso e as grades eram todos em madeira, o homem falou que seria muito perigoso por causa do desgaste do tempo, mas como jovem não possui noção de perigo, insistimos e ele cedeu, aconselhando cautela. A cada passo que dávamos naquele piso, a madeira rangia. Firmávamos o pé para ver se o piso aguentava nosso peso e seguíamos em frente. 

Chegamos a uma porta na lateral direita da casa, onde na mesma, havia uma brecha! Olhamos através dessa brecha  e para mim foi uma das visões que jamais esqueci: um salão imenso, com várias colunas revestidas de mármore e no encontro entre o forro e a parede, havia uma espécie de sanca decorada com rosas e flores em alto relevo, bem coloridas. Foi algo que vi e até hoje ao lembrar, fico encantada, imaginando as reuniões e festas que aconteciam naquele ambiente. Queríamos explorar mais, tudo ao redor, mas o caseiro não nos permitiu, alegando o perigo que corríamos. Mesmo com o pouco que vimos, voltamos felizes para casa.
Certo dia, já adulta, ao passar no ônibus em frente a esse "meu monumento", chorei, ao ver tratores fazendo sua demolição!"

                                                                 Maria de Fátima Aguiar


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segunda-feira, 22 de junho de 2015

O silêncio do Gigante

O Glamour de uma Época Dourada

"As pessoas que circulam pela rua Guilherme Rocha, esquina com a rua Major Facundo, e olham para o lado direito onde está localizado o maior edifício de alvenaria do mundo, não sabem da história deste prédio que por muitos anos foi o Excelsior; o melhor hotel dos anos 30 e 40.

O prédio está localizado entre as ruas Guilherme Rocha e Major Facundo, centro de Fortaleza. No local onde existia o sobrado do Comendador José Antonio Machado, tinha três andares, sendo o mais alto e antigo da época. Este sobrado foi construído pelo engenheiro Coronel Conrado de Niemeyer, lá funcionou o Hotel Central e o Café Riche, um dos mais famosos da cidade, seus proprietários eram: Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado, o lugar era frequentado por poetas, escritores e intelectuais da época, funcionou de 1913 a 1926.



Construção do Excelsior Hotel, em 1929




Depois de sua demolição em 1927, deu lugar ao Hotel Excelsior, construído por Natali Rossi, pertencia ao comerciante Plácido de Carvalho, proprietário do Castelo do Plácido que ficava onde está circunscrita hoje a Praça da CEART (Centro de Artesanato). Construído em estilo eclético foi o primeiro arranha-céu da cidade de Fortaleza e o primeiro exemplar de arquitetura hoteleira da época, entrando para a história como o primeiro hotel de nível Internacional da região Nordeste.

O Excelsior foi construído com alvenaria e argamassa com cal, pilares e viga de trilhos*, tem 7 andares e foi inaugurado em 31 de dezembro de 1931 com a presença de personalidades ilustres do estado. Com a morte de seu proprietário Plácido de Carvalho, ocorrida em 3 de junho de 1935, seu corpo foi velado no rol do próprio hotel, com isto o prédio ficou sendo
administrado por sua esposa, Pierina Giovanni Carvalho, que em 1938 casou-se com o arquiteto húngaro Emílio Hinko.


Cartão postal  Excelsior Hotel


Na década de 1930, período em que o Excelsior foi construído, a Capital cearense ainda vivenciava o clima da virada do século XX- Arquivo Nirez

Entre seus mais famosos hóspedes podemos citar os cantores, Bidu Saião e o tenor Tito Shipe, George Obrier, o Diretor Teatral Joracy Camargo, cantor das multidões Francisco Alves, Haroldo Silva, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Pelé, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, além de outros grandes nomes nacionais e internacionais.


 


No seu 7º andar funcionava o famoso Bar Americano com sua paisagem de serra e sertão juntos formando uma imensa obra de e arte. O terraço ficou famoso pelas festas da alta sociedade, entre elas podemos destacar os famosos bailes de carnaval da época, que era chamado de “O CARNAVAL DO SÉTIMO CÉU”, como eram conhecido pela sociedade cearense. Este baile carnavalesco era tão famoso que no período momino vinha pessoas de vários cantos do país para participar desta festa carnavalesca, onde o lança perfume, confetes, serpentinas, pierrô e colombinas tomavam conta do 7º andar, tudo isto ao som das famosas orquestras Tabajara, PRE-9 e Severino Araújo entre outras.



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O hotel estava sempre lotado por comerciantes, artistas e visitantes com seus paletós brancos dando um ar nobre ao lugar transformando o velho Excelsior no maior ponto de encontro da época entrelaçado com a Praça do Ferreira. Em 1958, Pierina falece e o prédio passa para seu marido Emílio Hinko, seu herdeiro. Em 1975, Emilio vai morar no hotel, ocupando o 4º andar onde realiza uma grande reforma no hotel, com a introdução de novas tecnologias como Televisão, aparelhos de ar condicionados, telefone e banheiros em todos seus quartos.
 

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Fechado em 31 de dezembro de 1987, sob pretexto de reforma temporária, permanece assim
até os dias de hoje. Depois de fechado permaneceu apenas com um hóspede, seu proprietário Emílio Hinko que morou no 4º andar até seu falecimento aos 101 anos em janeiro de 2002. 

A cidade de Fortaleza perde uma das últimas testemunhas da construção e da história viva do Excelsior. O prédio atualmente pertence ao sobrinho de Hinko, Janos Fuzesi.


Antiga propaganda do Hotel Excelsior - Acervo Raimundo Gomes




Com sua morte, seu último hóspede foi embora deixando um vazio nos luxuosos quartos, ficando silencioso o velho Excelsior. O hotel continua imponente, lúcido com suas paredes repletas de histórias de um passado de luxo, beleza onde permanece vivo na lembrança de quem conheceu seus momentos de gloria e esplendor como o seu Bessa, vendedor ambulante que há 47 anos esta estabelecido na entrado do Excelsior, ele fala com saudade da época de ouro; “O Hotel estava sempre lotado com artistas, comerciantes, lembro das noitadas do Excelsior como se fosse hoje. Com a morte do seu proprietário tudo ficou ainda mais abandonado e hoje isso é uma solidão”


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Hoje o saudoso Excelsior é utilizado pelo Clube Diretores Lojistas (CDL) para o Natal de Luz, onde varias crianças ocupam as janelas dos seus quartos durante os finais de tarde do mês de dezembro.
Não como hóspedes, mas sim para embelezar o velho Excelsior, formando um coral infantil de 120 crianças que cantaram musicas natalina para um público que durante várias horas voltaram seus olhares para o gigante adormecido.

Valentim Santos
(Professor, Historiador e Sociólogo)


Interessante

A mobília do hotel veio da Europa (Os lençóis e toalhas de mesa em linho irlandês, móveis e lustre no estilo Art-Nouveau e piano de cauda Donner para o salão de jantar).
Ao todo, tinha 120 apartamentos e 13 suítes. 



*De acordo com o pesquisador e ex-ferroviário, Assis Lima, os trilhos usados não foram de trens. As ferragens para a construção do prédio vieram da Polônia, juntamente com uma encomenda para a estrada de ferro de Baturité, que à época já era denominada RVC. A encomenda chegou em 1929. Fonte: Relatório da RVC de 1929, criminosamente destruído em 1998 por ser entregue às intempéries de prédio com telhado comprometido. As chuvas de 98 levou os insensíveis dirigentes da ferrovia a colocarem "papéis velhos" no lixo.¬¬



Crédito dos jornais: Portal do Ceará - Gildácio Sá



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado



O ingresso de Severiano Ribeiro na área da exibição cinematográfica ocorreu com a inauguração do Cine Riche, no dia 23 de dezembro de 1915. Este cinema estava localizado justamente onde, em 1908, Victor 
DiMaio havia instalado a primeira sala de exibição cinematográfica de Fortaleza, o Cine DiMaio. O sócio de Luiz Severiano Ribeiro era Alfredo Salgado, empresário e homem de negócios, que mais tarde irá 
investir no Cine - Theatro Majestic Palace
Alfredo Salgado foi um importante nome na luta pela abolição da escravatura. Nascido em Fortaleza, no 
dia 1º de setembro de 1855, era filho de Francisco Luís Salgado e Virgínia da Rocha Salgado. Aos 
quatorze anos de idade, vai estudar na Inglaterra, graduando-se em Comércio. Alfredo Salgado trabalhou na Casa Inglesa, uma filial cearense da firma Singlehurst & Cia., de Liverpool. Durante muitos anos foi intérprete no comércio local dos idiomas alemão, francês e inglês, sendo respeitado em seu meio social. 
Alfredo Salgado foi membro da Sociedade Perseverança e Porvir, dedicada à luta pela Abolição da Escravatura e transformada posteriormente na Sociedade Cearense Libertadora.  


Ele compartilhava suas idéias abolicionistas no Clube Iracema, cuja inauguração ocorreu em 1884, ano da Abolição da Escravidão no Ceará. Este clube era “...muito mais que um mero espaço para diversões refinadas, pois logo se transformou em um núcleo irradiador de expressivos movimentos sócio - políticos e círculos de saber em Fortaleza no final do século passado”. (Sebastião Rogério Ponte)

Transitando nestes espaços de lazer e fazendo parte da elite comercial da cidade, Alfredo Salgado era respeitado em seu meio social além de ser uma das figuras mais destacadas da cidade. Como ressalta o historiador Raimundo Girão, o cearense Alfredo Salgado era “Finamente educado, cavalheiroso, sempre brumelicamente trajado, mesmo durante 
a velhice, gozou de grande relevo social, e no seio das classes comerciais manteve-se como figura de alto acatamento “.


A presença de Alfredo Salgado, como investidor na área de cinema, mostra uma mudança em relação aos primeiros exibidores no país –estrangeiros, como por exemplo, os italianos Vitor DiMaio e Paschoal Segreto. Estes exibidores de outrora geralmente eram homens de posses medianas e ligados ao ramo da 
diversão. 
Vitor DiMaio, na condição de exibidor ambulante, esteve em várias cidades brasileiras e também chegou a instalar salas fixas de cinema, como foi o caso do já referido Cine DiMaio. Este pioneiro, nascido em Nápoles, a 14 de abril de 1852, dedicou-se ao cinema por toda vida chegando à velhice pobre e doente, vindo a falecer no dia 21 de abril de 1926, em Fortaleza, no Café Art – Nouveau, no mesmo prédio onde havia instalado o Cine DiMaio
Paschoal Segreto, imigrante pobre vindo da Itália, foi o primeiro grande empresário voltado para o entretenimento no Brasil. Junto com seu irmão Gaetano, chega ao Brasil em 1883, iniciando uma trajetória de bastante sucesso no ramo das diversões. Pioneiro, funda a primeira empresa de porte e de nome nacional do setor, a mitológica EMPRESA PASCHOAL SEGRETO, que Paschoal nunca formalizou e só foi registrada depois de sua morte. Paschoal observa o sucesso das exibições irregulares do cinematográfico realizadas no Rio e mesmo com a instabilidade da energia por vezes prejudicando a nitidez das sessões, resolve investir no negócio. Em 31 de julho de 1897, em sociedade com Cunha Salesfunda na privilegiada rua do Ouvidor o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, a primeira sala “fixa” de exibição cinematográfica do país. Com o extraordinário sucesso de público do SALÃO, o cinema seria a menina dos olhos de Paschoal, investimento no qual apostaria antes que qualquer outro aqui. Também com o cinema ficaria conhecido e daria uma nova dimensão a seus negócios. Duplamente pioneiro, além de importar fitas para a programação 
regular da sala, manda seu irmão Afonso para o exterior comprar e aprender a manejar um equipamento cinematográfico. Em agosto de 1898, um incêndio destrói por completo o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, assim como o resto, os dois outros andares onde os Segreto guardavam equipamentos e estoques e moravam. No entanto, o prédio estava no seguro, e, depois de contestado, Paschoal é pago e, em janeiro de 1889, reabre o cinematógrafo, já sem a parceria de Cunha Sales, que leva seus negócios para Petrópolis, onde era menos notório.


Afonso Segreto junto aos primeiros projetores 

Estando ligado ao ramo da diversão, Paschoal Segreto era um tipo de exibidor cinematográfico característico deste período inicial do cinema. A Empresa Paschoal Segreto marcou presença na capital cearense no ano de 1904 em uma breve temporada de 26 de novembro a 11 de dezembro.¹
Com relação a Alfredo Salgado, ele fazia parte daquela classe média que havia ascendido como elite na virada do século XIX para o XX. Por qual motivo ele investiu em cinema? O que significa sua inserção na atividade cinematográfica em parceria com Severiano Ribeiro? O fato do cinema ser um capital novo que passava a circular na cidade e as mudanças ocorridas com o cinema no âmbito mundial podem nos ajudar a entender a presença de Alfredo Salgado como sócio investidor de Luiz Severiano Ribeiro


Quando em 1915, Alfredo Salgado fez parceria com Severiano Ribeiro na criação do Cine Riche, buscava obter lucro com a atividade cinematográfica em um momento onde estavam ocorrendo mudanças significativas nas práticas de exibição cinematográfica em termos mundiais. À partir deste ano, a indústria cinematográfica visava atingir um público consumidor burguês, isto é, um público distinto daquele de outrora quando o cinema era um divertimento barato e voltado para o público masculino. 


O Cine Riche funcionava no mesmo prédio onde antes esteve o 
Café Riche, na Guilherme Rocha, ao lado da Praça do Ferreira

As mudanças nas práticas de exibição visavam atender a um público elitizado, abonado financeiramente, que passava a ter no cinema um elemento de diferenciação social. Vale ressaltar que a presença do público feminino passa a ser valorizada com a feitura de produções cinematográficas voltadas para as mulheres. O cinema mudou seu formato de exibição, deixando de ser uma simples curiosidade popular para atrair um novo público “...com as possibilidades narrativas abertas pela linguagem cinematográfica a atividade 
tende a se dignificar através das novas histórias que passa a contar, atraindo o público burguês, o que demanda mudanças nas práticas de exibição.” (SCHVARZMAN, Sheila. Op. Cit., p. 154)

Em Fortaleza, a elite composta por médicos, advogados, jornalistas, professores e sobretudo comerciantes, era o grupo social que passava a ter no cinema um lugar de distinção social. Certamente visando lucrar com este novo público consumidor e possuidor de capital, tendo a frente a elite comercial,  é que Alfredo Salgado, que já era um grande comerciante, passa a negociar com Luiz Severiano Ribeiro. Assim sendo, Alfredo Salgado investia nas salas de cinema, enquanto Severiano Ribeiro ficava responsável pela gestão do empreendimento. 



Apostando nesse novo público, em 1915, com o Cine Riche e, em 1917, com o Cine Theatro Majestic Palace, Alfredo Salgado e Severiano Ribeiro fizeram uma parceria que favoreceu a consolidação deste último como grande nome da atividade cinematográfica. Ao se aliar a Alfredo Salgado, Luiz Severiano Ribeiro fazia parceria com uma importante figura da sociedade cearense, o que lhe dava mais credibilidade e inserção neste grupo social influente da cidade. 
Ao entrar na atividade de exibição cinematográfica, Luiz Severiano Ribeiro não se contentou em ser apenas mais um proprietário de sala de exibição cinematográfica, ele queria ser o principal. E conseguiu, obtendo além disso, o monopólio na distribuição dos filmes.


Com relação aos seus concorrentes, Severiano Ribeiro adotou como prática pagar mensalmente para que estes mantivessem seus cinemas fechados. Os contratos de fechamento eram pelo prazo de dez anos. Os exibidores Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano eram os concorrentes que aos poucos foram sendo superados por Luiz Severiano Ribeiro. 
Júlio Pinto nasceu em Icó, no interior do Ceará, e era membro de uma tradicional família ligada à política cearense. A área de atuação de Júlio Pinto era o comércio e a indústria, sendo ele, um respeitável nome da sociedade de Fortaleza atuando do final do século XIX até o início do século XX, quando veio a falecer. O seu ingresso na atividade cinematográfica ocorreu com o patrocínio do Cassino Cearense, que pertencia a Empresa Carvalho & Cia, cuja instalação ocorreu em 1º de junho de 1909, com a utilização do equipamento “Stereopticon” Após a temporada do Stereopticon, logo a seguir, no dia 18 de setembro de 
1909, é definitivamente inaugurado o Cinema Júlio Pinto, cuja divulgação publicitária alterna-se com a denominação de Cassino Cearense. Ao ato inaugural tinha-se o prestígio da presença do Presidente Dr. Nogueira Aciolyautoridades do Estado.


A presença do político Antônio Pinto Nogueira Acioly na inauguração do Cinema Júlio Pinto é motivada pelos vínculos familiares que uniam o Presidente do Estado, Nogueira Acioly, e o exibidor cinematográfico, Júlio Pinto (foto ao lado). Além disso, em todo o Brasil era comum a presença de autoridades nas sessões inaugurais dos mais conceituados cinemas das capitais brasileiras.


Em 1916, com a morte de Júlio Pinto e a forte presença de Luiz Severiano Ribeiro na atividade cinematográfica, o Cine Júlio Pinto declina sendo fechado no início de 1920. 
José de Oliveira Rola, proprietário do Cine-Theatro Polytheama, foi outro concorrente de Luiz Severiano Ribeiro antes da década de 1920. Nascido no município de Trairí, no interior cearense, este exibidor 
cinematográfico era um comerciante que atuava sobretudo nos empreendimentos ligados ao lazer, como 
foi o caso da Maison Art-Nouveau
A José Rola a cidade deve, no início do século, um dos seus mais distintos estabelecimentos: a Maison Art-Nouveau, que instala com o genro Fiuza Pequeno, um misto de restaurante e café, ponto obrigatório de reunião da juventude, e que também abrigaria o primeiro cinema fixo de Fortaleza, o Cinema DiMaio.


Maison Art-Nouveau na Rua Major Facundo em 1904

¹LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit.., p.99-101: Apenas o nome de Afonso Segreto é mencionado nos anúncios, ao passo que não é possível afirmar se Paschoal Segreto também esteve em Fortaleza. A área de atuação de Paschoal Segreto era a cidade do Rio de Janeiro, logo ele não foi um exibidor fixo cearense.

Continua...
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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Firma Salgado, Filho & Cia - Uma grande firma cearense



Fachada do edifício

A firma Salgado, Filho & Cia., é uma das mais antigas e acreditada do comércio cearense, havendo passado por diversas denominações, tem como sócios, os senhores Alfredo Salgado, José Salgado e Eurico Salgado Duarte. Tendo tido antigamente uma seção bancária, hoje se ocupa exclusivamente do comércio exportador, para o que, em junho de 1929 fez instalar em sua sede, poderosa prensa de fabricação inglesa. 



Tal iniciativa veio trazer ao comércio cearense um grande e proveitoso estímulo, pois, serviu de exemplo a outros que logo em seguida instalaram novas prensas.


Alfredo Salgado, que honramos esta página com sua fotografia, possue mais de cinquenta anos de atividade comercial, festivamente há pouco comemorados, recebendo, nessa ocasião, inequívocas demostrações de alto apreço em que o tem a classe comercial, na qual é um dos mais prestigiosos representantes.


Espírito esclarecido e inteligente, Alfredo Salgado é um perfeito gentleman, tendo o seu  nome ligado ao movimento libertador, como um dos dirigentes na "Cearense Libertadora". 


A Prensa hidráulica



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Crédito: Álbum de Fortaleza - 1931

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Luiz Severiano Ribeiro - Uma vocação comercial incontestável




São Luiz, Odeon, Moderno, Majestic, Palácio. Por trás das maiores salas de cinema, havia um único homem: Luiz Severiano Ribeiro. Fundador da rede de exibição que por décadas foi a maior do país (hoje perde para o grupo estrangeiro Cinemark), o empresário cearense viveu entre 1885 e 1974. Através de uma terceira geração de descendentes, seu legado empresarial chega aos dias de hoje com mais de 200 salas no país. Elas atingem números surreais, como a marca de 15 milhões de espectadores por ano.



Luiz Severiano Ribeiro nasceu em Baturité, Ceará, 3 de junho de 1886 - Foi o fundador do Grupo Severiano Ribeiro.

Filho do médico Luiz Severiano Ribeiro e Maria Felícia Caracas, teve como nome de batismo "Luiz Severiano Ribeiro Filho" e teve duas irmãs: Alice e Maria.
Aos 10 anos de idade vai estudar no Seminário Episcopal de Fortaleza (Seminário da Prainha) na Praia Formosa. Apesar de ser religioso, não tinha vocação para o sacerdócio e fugiu do Seminário. Aos 18 anos de idade é embarcado para o Rio de Janeiro e matriculado na Faculdade de Medicina.
Em 1904, decepcionado com a medicina diante da morte da mãe, Severiano Ribeiro abandonou os estudos e logo voltou e estabeleceu-se no Ceará.
Com a morte do pai em 1916, ele excluiu "Filho" do seu nome.

Com uma vocação comercial incontestável, Luiz Severiano Ribeiro antes de entrar no mercado de cinema, teve uma livraria, um empório em Fortaleza e outro em Recife, além de hotéis, cafés e outros empreendimentos. À frente de seu tempo, em 1914, Ribeiro decidiu criar uma nova empresa nos moldes de uma holding, a fim de centralizar a administração de todos os seus negócios. Seu primeiro contato com a projeção de imagens aconteceu no circo Pery¹, quando ainda era jovem. A partir de 1908, quando foi inaugurado o primeiro cinema fixo de Fortaleza (o Cinematographo Art-Noveau², do italiano Victor Di Maio), passou a acompanhar o ramo de exibição de filmes. Um ano após promover grande reforma no Art-Noveau, sufocado pela forte concorrência, Di Maio deixa o Ceará. Severiano Ribeiro arrenda o local, realizando projeções diárias em horários sincronizados com o Café Riche. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche, uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado, é inaugurado em dezembro de 1915. Luiz Severiano Ribeiro não considerou o Riche como seu primeiro cinema. A terrível seca daquele ano, aliado à concorrência acirrada e à oferta precária de filmes deixou o mercado em uma situação difícil. O empresário foi em busca de uma solução e apresentou uma estratégia que considerava a melhor para aquecer o capital de giro das empresas: arrendar os cinemas pelo período mínimo de cinco anos, pagando uma renda fixa aos proprietários, mas com a condição dos demais exibidores não abrirem outro cinema em Fortaleza ou imediações.

Sobrado do Comendador Machado, demolido para a construção do Excelsior Hotel. No andar térreo funcionava o Café Riche. Nos andares superiores, o Hotel Central

Década de 20
Luiz Severiano Ribeiro se estabelece no Rio de Janeiro, alugando um palacete de três andares para a sua família. À frente de seu tempo, associa-se à Americana Metro, fechando a primeira joint venture da história do grupo. No acordo, a companhia fica responsável pelas reformas das casas e pelo fornecimento de filmes, enquanto a empresa brasileira ficava a cargo do arrendamento e administração dos cinemas. A parceria durou quatro anos e foi desfeita em comum acordo. É inaugurado o cine Odeon, no Centro do Rio. E, o Cine Palácio (Cinelândia, RJ) torna-se o primeiro cinema carioca a exibir um filme sonoro.

Década de 30
Severiano Ribeiro, junto a outros exibidores cariocas, funda o Sindicato Cinematográfico dos Exibidores e é eleito presidente. É inaugurado na Praça Duque de Caxias, hoje Largo do Machado, o cinema São Luiz. Com capacidade para 1.794 espectadores, a sua abertura marcou a história da cidade. A sala foi a primeira a exibir lançamentos fora do centro do Rio, desenhando um novo cenário na geografia do mercado de exibição. Localizado próximo ao Palácio do Catete (residência oficial do então presidente Getúlio Vargas), o cinema foi decorado com todos os requintes a que se tinha direito, misturando a imponência do mármore aos cristais e espelhos tão em voga na época. Já a sala de projeção foi inspirada na do Radio City, de Nova Iorque. O empreendimento consumiu todas as economias de Luiz Severiano Ribeiro, que investiu pesado para erguer um dos mais bonitos palácios cinematográficos do Rio de Janeiro.

Em 3 de setembro de 1938, "Bloqueio", com Henry Fonda, mostra pela primeira vez aos cariocas o que o Roxy (Copacabana/RJ) oferecia. A sala permitia, além da exibição de filmes, a apresentação de espetáculos de variedades. O palco do Roxy possuía duas escadas laterais e um fosso destinado às orquestras.


Década de 40
O cine Rex (Fortaleza) é reaberto como uma empresa de Luiz Severiano. O filme "O Sabotador", de Alfred Hitchcock, leva o público ao delírio. Os freqüentadores do local eram chamados de "geração Rex". O ator José Lewgoy passou por um momento inesquecível no cine São Luiz (RJ), no lançamento de "Carnaval de Fogo". Desconhecido até então, o ator entrou tranqüilamente para assistir ao filme, mas na saída, teve que ser escoltado pela polícia. Os fãs alvoroçados, mais de mil pessoas, queriam um autógrafo a todo custo.

O sabotador - 1942



Década de 50

Inauguração do São Luiz de Fortaleza

João Bezerra Lima e Luiz Severiano Ribeiro-1956

O Palácio foi cenário de mais uma evolução da indústria cinematográfica. Nesta década, lançava com exclusividade no Brasil o cinemascope, com o filme "O Manto Sagrado". Inaugurados os cines São Luiz de Recife, São Luiz de Fortaleza - a obra demorou 20 anos para ser finalizada - e Leblon (RJ). O São Luiz de Fortaleza foi uma homenagem pessoal de Severiano Ribeiro para a cidade. No de Recife, o destaque é um mural do renomado artista Lula Cardoso Ayres no saguão do local. Segunda joint venture na trajetória da empresa. A parceria com a Fox Films era para operar dois cinemas: Palácio, no Rio de Janeiro, e Marrocos, em São Paulo (sociedade com Lucídio Seravolo). O roqueiro Bill Halley levou a platéia do Rian (RJ) ao delírio na apresentação do filme "No Balanço das Horas" (Rock Around The Clock). O público assistiu a produção, dançando o rock and roll e transformando o cinema em uma pista de dança.

 

No balanço das horas

Década de 60
O cine Roxy mostra para seus freqüentadores a tela em curva do cinerama. No São Luiz (RJ), na avant premiére do "O Pagador de Promessas" (vencedor do Festival de Cannes), a platéia ficou emocionada com a chegada do diretor Anselmo Duarte, o elenco do filme, juntos com o produtor Osvaldo Massaini, que carregava a Palma de Ouro. Eles foram recebidos ao som de mais de mil vozes cantando o hino nacional. O cine Majestic³, no Ceará, primeiro do grupo, é destruído por um incêndio.


Década de 70
Dois cinemas de rua passam por reformas e são divididos em duas salas de projeção: Leblon e Palácio (RJ). Falecimento de Luiz Severiano Ribeiro (Faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de Dezembro de 1974).

Década de 80
Com as obras de construção do metrô no Rio de Janeiro, o São Luiz acabou sendo fechado e demolido. Logo no ano seguinte, começou a ser construído o edifício São Luiz e o cinema foi reaberto. Começou a migração dos cinemas de rua para dentro dos shoppings centers. Criada a terceira joint venture: a Paris-Severiano Ribeiro, com o lançamento do primeiro multiplex brasileiro, com oito salas no Park Shopping, de Brasília.

Década de 90

Carlos Guimarães de Matos Jr e Luiz Severiano Ribeiro Júnior na Festa Coruja de Ouro em 1973 no Cine Palácio no Rio de Janeiro - Crédito da Foto

O Roxy (RJ) passa por uma reforma e reabre com três salas de exibição. Neste mesmo ano, Luiz Severiano Ribeiro Júnior falece. O grupo e a UCI fecham uma parceria e inauguram os cinemas Recife Shopping (de 10 salas) e o Shopping Tacaruna (oito salas), formando a quarta joint venture.

Anos 2000
O cine São Luiz (RJ) passa por uma reforma e reabre em janeiro do ano seguinte completamente remodelado: com mais duas salas, totalizando quatro, o Café São Luiz, novas bilheterias e bomboniéres. O grupo estréia em São Paulo com uma nova marca, que passa a dar nome aos seus cinemas equipados com tecnologia de última geração. Lançamento da marca Kinoplex no Shopping Parque D. Pedro, em Campinas, em um complexo com 15 salas de projeção. Em seguida, o Severiano Ribeiro abre seu primeiro empreendimento na capital, o Kinoplex Itaim. Inaugura também o Kinoplex Praia da Costa, em Vila Velha (ES) e o cinema no Shopping Iguatemi, de Fortaleza, em parceria com a UCI. Em 2006, a marca Kinoplex estréia no Rio de Janeiro: em julho abriu o Kinoplex Nova América, na zona norte; e em dezembro, o Kinoplex Leblon, na zona sul da cidade. No início deste ano, o Severiano Ribeiro abriu UCI Kinoplex, na zona norte do Rio de Janeiro. O cinema é equipado com a tecnologia 3D.



Grupo Severiano Ribeiro - 90 anos

O grupo surgiu nas mãos de Luiz Severiano Ribeiro, em Fortaleza no ano de 1917 com a inauguração do Majestic, primeiro grande cinema da cidade. Posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro, alugando um palacete de três andares para sua morada. Logo associa-se à Metro-Goldwyn-Mayer. Pelo acordo, a companhia americana fica responsável pelas reformas das casas e fornecimento de filmes, enquanto a empresa brasileira ficava a cargo do arrendamento e administração dos cinemas. O primeiro cinema próprio foi o Cine Odeon, no Centro do Rio. Depois veio o Cine Palácio, tendo sido este o primeiro cinema carioca a exibir um filme com som.

Severiano Ribeiro ergueu um verdadeiro império de salas de exibição espalhadas pelo país; sua trajetória é contada em livro lançado pela Record - Crédito: Quadro mágico


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¹Circo Pery

A lona do circense Anchises Pery, localizado na esquina das ruas General Sampaio e das Flores (atual Castro e Silva), em Fortaleza, foi o local do seu primeiro contato com a arte cinematogrática.

²O Cinematographo Art-Noveau e o Café Riche

Em 1908, quando foi inaugurado o primeiro cinema fixo de Fortaleza: o Cinematographo Art-Noveau, do italiano Victor Di Maio, Luiz Severiano Ribeiro passou a acompanhar o ramo de exibição de filmes. Um ano depois ele arrendou este cinema com a saída de Di Maio de Fortaleza.
Sob sua direção ele realiza projeções diárias em horários sincronizados com o Café Riche. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche foi inaugurado em dezembro de 1915, com uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado.

³Cine Majestic (o início do Grupo Severiano Ribeiro)

Em 14 de julho de 1917, Luiz severiano Ribeiro inaugura o Cine Majestic em Fortaleza, primeiro grande cinema da cidade.


Crédito: O Nordeste.com, You Tube, Wikipédia e pesquisas de internet

domingo, 26 de setembro de 2010

Ceará - Terra da Luz




O Ceará é conhecido pelo cognome de Terra da Luz. Muita gente julga que é devido ao seu forte sol tropical. Nada disso. Esse honroso título, dado por José do Patrocínio, se deve ao fato da então província ter abolido a escravatura antes do Brasil. Na verdade o povo cearense nunca gostou mesmo de escravizar os seus semelhantes e a prova disso é que muitos senhores de escravos libertaram os seus negros ainda antes de 25 de março de 1884, data em que, sem dar a menor satisfação a D.Pedro II, o Ceará libertou, definitivamente, os seus escravos.

José do Patrocínio

Antes, porém, foram promovidas muitas campanhas abolicionistas lideradas por João Cordeiro, líder do movimento abolicionista no Ceará que ao lado dos igualmente bravos Antônio Bezerra e José do Amaral, lutaram para libertar, pelo menos o Ceará, da vergonha da escravidão.

José do Amaral

Os lideres sempre tiveram o apoio e o carinho do povo. No entanto, a primeira ação prática e drástica para acabar com a escravatura, foi de Francisco José do Nascimento, até então apelidado por Chico da Matilde e que depois seria chamado de "Dragão do Mar". Francisco José era um mercador de escravos que, depois de convencido pelos abolicionistas, num rompante bem cearense, afirmou que nunca mais embarcaria nenhum escravo para o Ceará e nem permitiria que ninguém o fizesse. Isso aconteceu em 30 de agosto de 1881. Com a atitude do mercador, tornou-se impossível receber ou embarcar escravos no porto do Ceará. Por esse gesto heroico  Francisco José do Nascimento foi cognominado de "Dragão do Mar", nome que é hoje dado a um centro de cultura e a uma rádio de Fortaleza.

Jornal O Povo - Domingo, 25 de Março de 1984

O Ceará comemora hoje um dos maiores acontecimentos da nossa história, o centenário da abolição de seus escravos, fato este ocorrido em 25 de Março de 1884, e antecedendo, em quatro anos, a lei Áurea da Princesa Isabel, que extinguia a escravidão no Brasil.

Documento original da lei Áurea


A importante resolução provincial teve vasta repercussão em todo o império, passando o Ceará a ser conhecido por "Terra da Luz" e caracterizando mais uma vez com tão nobre gesto, o amor do povo cearense pela liberdade, tal como já havia acontecido em outros movimentos nacionalistas.

Há muito que se fazia campanha em todo o Brasil pela emancipação da raça negra, que desde os tempos coloniais construia com seu suor o progresso de nossa pátria, embora sofrendo as agruras do cativeiro, sem ter seu direito à liberdade, reconhecido pelas nossas leis.

Alfredo Salgado


Coube à terra de Iracema a primazia de declarar livre os nossos escravos, graças ao movimento encetado pelos intelectuais, através da Associação Libertadora Cearense,em favor de tão justa causa. Entre os seus componentes registramos com satisfação a presença do ilustre conterrâneo Antônio Bezerra - O historiador, nome respeitado na historiografia cearense e um dos líderes do movimento abolicionista.


Antônio Dias Martins

A igreja cearense não ficou omissa ao magno acontecimento e na grande concentração realizada em Fortaleza, onde foi declarado: "NÃO HÁ MAIS ESCRAVOS NO CEARÁ", ali se encontravam o bispo Diocesano Dom Joaquim José Vieira e o seu ilustre antecessor, Dom Luís Antônio dos Santos, então arcebispo-primaz da Bahia, que veio prestigiar tão importante solução.



Dom Luís Antônio dos Santos

O apoio dos primeiros bispos não ficou restrito apenas à presença de ambos naquela concentração cívica; eles também enviaram mensagens de congratulações à Libertadora Cearense e ao nosso povo, pela decorrência do auspicioso evento.


Membros da Libertadora Cearense

Fazemos questão de transcrever aqueles valiosos pronunciamentos, tal como o fez há exatamente meio século o jornal O NORDESTE, órgão oficial da arquidiocese de Fortaleza e há alguns anos fora de circulação.
Revendo a antiga Diocese, "esposa dos meus primeiros amores", como se manifestou em sua carta pastoral de despedidas ao povo cearense, Dom Luís Antônio dos Santos, que aqui se encontrava também procurando os bons ares para melhoria de sua saúde um tanto abalada, escreveu na oportunidade a seguinte mensagem:

   "Convidado pela ilustre Associação Libertadora Cearense - para escrever algumas palavras, a fim de serem transcritas em seu jornal por ocasião do memorável dia 25 de março, pesa-me que incômodos de saúde não me permitam externar os sentimentos que inundam meu coração em relação ao grande, nobre e único fato que verdadeiramente torma esta Província - a primeira do Império; entretanto, posso chamar feliz a mesma enfermidade, que me proporcionou ocasião para pessoalemnte assistir ao acontecimento que, registrado nos fastos do Império do Brasil, passará a posteridade com honra dos que tiveram o assombroso cometimento, que forte e suavemente fez escrever as palavras - NÃO HÁ MAIS ESCRAVOS NO CEARÁ.
   Eu te saúdo, pois, oh Ceará!
   Possam as outras tuas irmãs do Império, imitando o teu generoso exemplo, levantar grito civilizador da Liberdade, nobilíssima ideia que a igreja sempre proclamou.
   Faço votos para que aquelas Provícias, que me são mais caras, como a em que tenho o berço, e a em que tenho minha residência oficial, sigam de perto os teus passos na senda do progresso.
São estes os desejos do amigo do Ceará.
Luís, Arcebispo da Bahia."

Dom Joaquim José Vieira, segundo bispo de Fortaleza, contava apenas um mês e um dia de episcopado, (pois tomara posse da então Diocese em 25 de Fevereiro de 1884), quando escreveu esta mensagem de regozijo pela libertação dos escravos da Província:


   "Parabéns ao Ceará,
Já não é uma utopia, é uma realidade a redenção dos cativos na Província do Ceará;
Nem uma gota só de sangue se derramou, nem a ordem social se pertubou! Muito bem, caros diocesanos!

   A religião e a pátria não podem ser indiferentes a este fato, esta reservará uma página de sua história para nela registrá-lo."


Fernando Câmara


Agradecimento ao amigo Carlos Alberto Salgado que gentilmente me enviou
essa importante matéria de 1984.


Fonte: Jornal O Povo e pesquisas na internet

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