Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Arraial Moura Brasil
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Instituto Médico Legal (IML) - Atual Coordenadoria de Medicina Legal

Em 10 de novembro de 1986, durante o governo Gonzaga Mota, o Instituto Médico Legal (IML), que até então se localizava na Parquelândia, foi transferido para o bairro Moura Brasil.

Bom, mas vamos voltar um pouco mais no tempo e aprender um pouco sobre a história e a importância desse Instituto para o povo cearense.

No Ceará, a Medicina Legal advêm desde o período colonial, passa pelo período imperial e já no período republicano é instalado o Gabinete Médico-Legal. Porém, um marco é registrado na década de 1950, quando é decretada a lei estadual 8.102/1956, que criou o Instituto Médico Legal (IML). Nesse período, o trabalho é desenvolvido por meio de parceria firmada entre o Governo do Estado e a Universidade do Ceará (atual Universidade Federal do Ceará - UFC). 

As necrópsias eram realizadas nas dependências da primeira sede do curso médico, no Centro de Fortaleza. Já os exames de lesão corporal eram realizados nas delegacias e os de violência sexual, na maternidade estadual.

O então Gabinete Médico-Legal 

Prédio do primeiro Instituto Médico Legal (IML), centro de Fortaleza, rua Liberato Barroso, ao lado do Teatro José de Alencar 

Somente na década de 1970, buscou-se edificação em local exclusivo. Então, em 1975, o prédio destinado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) – que funcionava no bairro Parquelândia – torna-se a sede do IML. Por ser muito próximo às residências e por ter uma estrutura precária, em 1984, é iniciada a construção do novo IML, inaugurado dois anos depois, na sede onde atualmente funciona a Perícia Forense do Ceará (Pefoce). O marco da medicina legal cearense surge com a inauguração do IML Walter Porto, em 10 de novembro de 1986. No local, eram realizados os exames tanto no vivo, quanto no morto.

Sede do IML na Parquelândia

A partir dos anos 2000, surgem os desafios enfrentados em todo o país, como a expansão dos serviços periciais. Também é nesse período que se inicia o processo de interiorização da medicina legal em núcleos específicos da Perícia. Então, em 2008, foi instinto o IML e surgiu a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) dentro da estrutura da Pefoce, órgão independente da Polícia Civil, dotado de autonomia administrativa e financeira, vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Maquete do prédio sede do IML no Moura Brasil - 
Foto de outubro de 1985. Acervo Daniel Chaves

Construção do prédio sede do Instituto Médico Legal no bairro Moura Brasil, em 1985. Acervo Daniel Chaves

Na Perícia Forense do Ceará (Pefoce), os profissionais da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) executam inúmeras funções essenciais para o desvendar de um crime ou uma situação suspeita que tenha resultado em morte ou não. O que poucas pessoas sabem a respeito da profissão é que os médicos peritos legistas realizam a maior parte das perícias em pessoas vivas, sendo elas vítimas ou suspeitas de delitos. 
Entre as perícias em pessoas vivas, os médicos peritos legistas atuam na realização de exames de lesão corporal, exame de embriaguez, exames de violência doméstica, exame de acidentes de trânsito, perícias para constatação de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), exames em crimes sexuais, exames cautelares em custodiados, exames de sanidade mental e perícias indiretas em prontuários.

Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil.  Acervo Daniel Chaves


Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil.
Acervo Daniel Chaves

Na Comel, que é uma das maiores coordenadorias existentes na Pefoce, existem núcleos com equipes de psiquiatria, odontologia, antropologia, tanatologia forense, traumatologia forense e de atendimento especial de mulheres crianças e adolescentes vítimas de violência. Por ser a coordenadoria que realiza exame no ser humano vivo, tem o seu funcionamento 24 horas por dia, “devido à necessidade de ser contínuo e sem interrupção, para atender tanto a demanda pertinente, quanto para garantir a proteção dos direitos fundamentais do custodiado seja que hora for”, explica o médico perito legista e coordenador de Medicina Legal, Hugo Leandro.

Construção do prédio sede do IML no Moura Brasil em setembro de 1986.
Acervo Daniel Chaves

Prédio sede do IML recém inaugurado em novembro de 1986.
Acervo Daniel Chaves

Um dos exames mais frequentes realizados na Comel é o exame de lesão corporal, que pode ser dividido em três situações. A primeira delas é o exame realizado o mais próximo possível do dia do ocorrido, para que se registre as lesões que são encontradas e se vincule ao fato alegado. Existe ainda o exame de sanidade de lesão corporal para saber se há sequelas ou não daquele fato ocorrido, e se aquela sequela gerou alguma limitação física na pessoa, que possa vir a ser usado para determinação ou agravamento de pena ou para classificar dentro da gravidade da lesão (uma lesão que o afaste do trabalho por mais de 30 dias ou afastamento definitivo devido a perda de alguma função). Por fim, existe o exame de lesão corporal cautelar, que é realizado em pessoas que estão sob a custódia do Estado. Esse mesmo exame é feito em quem é preso ou solto, ou ainda no momento em que é transferido e que ocorre algo enquanto ele está sob a guarda do Estado.



Fonte: Livro “Corpus Delicti – Medicina Legal no Ceará”. Autores: médicos legistas Renato Evando Moreira Filho e Sangelo Abreu, https://www.pefoce.ce.gov.br/, Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Das antigas - Vacinogênio Rodolfo Teófilo


 Vacinogênio Rodolpho Theóphilo - Assis Lima

"O Pirambu ainda não existia, embora no Álbum de Vistas publicado em 1908, nos mostre a Praia Vila dos Pescadores, que ficou constatado como Arpoadores. A urbanização do Grande Pirambu só viria com a seca de 1932, onde passaram a existir campos de concentração, e com a segregação dos retirantes, formou-se um povoado, mas com a coisa ainda desordenada. Foi graças ao empenho do Padre Hélio Campos, que a coisa tomou formato, e o bairro foi urbanizado. Bom, até então a filantropia permeava no Aldeamento Moura Brasil. Foi lá onde Rodolfo Teófilo, voluntariamente realizou sua missão em ajudar o próximo.


 Praia do Arpoador - IBGE

Foi construído bem próximo da linha do Bonde do Jacarecanga, o Vacinogênio Rodolfo Teófilo, de onde ele podia melhor assistir a grande demanda, no Morro do Moinho* no Jacarecanga.
A avenida na época denominava-se Tomaz Pompeu, mas que com a extinção dos bondes em 1947, o trecho fora reformado e passou a levar o nome do industrial Pedro Philomeno Gomes, bem como a Rua Tijubana ficou como Francisco Lorda. A Rua Senador Alencar que ia até o inicio da Vila Operário da Fabrica São José, fora interrompida.


Cruzamento da Avenida Francisco Sá com a hoje Avenida Filomeno Gomes. Nirez

Com a inauguração de mais hospitais em Fortaleza e leprosários, o Vacinogênio foi desativado, servindo o prédio por sua assepsia como uma espécie de necrotério. Depois com a derrubada de casas, tanto pela Estrada de Ferro, como a pedido da Prefeitura para aumentar o Cemitério São João Batista, a casa ficou como depósito de material de construção. O autor destas linhas ainda alcançou essa edificação que desapareceu, junto com uma casa de Força da Companhia Light em 1969. Tudo hoje é o muro do Cemitério."

Assis Lima
(Radialista/Escritor)

*Morro do Moinho: Local hoje onde se encontra o Instituto Médico Legal (IML)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Curral das Éguas por Descartes Gadelha



Em 1990, o desenhista Descartes Gadelha, trouxe a tona e reviveu o mundo oculto do "Curral" (o "Curral das Éguas") dos Anos 30; do Arraial Moura Brasil dos Anos 40; do "Cinzas" dos Anos 50; do "Pirambú" dos Anos 60; do "Farol" dos Anos 60 e 70; do "Centro" de todas as décadas das do 1900's. Descartes conseguiu captar em suas telas, com coerência e representatividade, a mudança social de cenário do tráfego metropolitano dos anos 70 e condensar os efeitos da "mídia" dos anos 80 e reuniu tudo isso na Exposição "De um alguém para outro alguém".

Segundo Descartes: O termo "De um alguém para outro alguém", foi colhido na década de 60 na Amplificadora Brasil (instalada na região do baixo meretrício chamada "Curral das Éguas", no bairro do Arraial Moura Brasil), popularmente chamada de irradiadora e que prestava importante serviço de comunicação à comunidade.

Era comum ouvir-se mensagens sonoras como estas:

"Esta linda página musical vai de um alguém para outro alguém que está muito arrependido" ou "esta mimosa joia musical é uma solicitação de um alguém para outro alguém que oferece ao seu próprio coração ferido e que outro alguém sabe quem é".

Gadelha narra suas impressões sobre o meio ambiente de prostituição do qual tem referência desde pequeno, quando morava na Castro e Silva, rua circundante da zona considerada promíscua.


Destoando da opinião geral, Gadelha sempre observou os habitantes do curral pelo lado filosófico - como ensinava seu pai - um místico que via naquele lugar um estágio da condição humana ou da evolução de algumas pessoas. Ultrapassada a barreira do preconceito foi mais fácil conviver sem remorsos ou cobranças com as mulheres que sobreviviam das casas de recursos e com a nostalgia de ruas, vielas e casas bem pintadas rodeadas pelo mar, luar, a Estação de trem, a Santa Casa de Misericórdia, o Passeio Público e a antiga Cadeia pública.

Do "Curral das Éguas", Descartes captou a alma das prostitutas, dos bêbados, dos gigolôs e dos agenciadores de garotas que formavam uma grande família uma espécie de tribo urbana a abrigar as mulheres imprestáveis às grandes pensões. Descartes relembra a trajetória percorrida pelas meretrizes nos lupanares. "As prostitutas de antigamente, ao contrário de hoje, praticamente não tinham escolha. Depois do defloramento não seguido do casamento as mulheres eram obrigadas a sustentarem-se e a única opção eram as pensões ou casa de recursos".

Zé Tatá de baiana ajuda seu amigo "Tereza" com os adereços. Carnaval de 1942

A via crúcis seguida pelas "meninas" era guiada, inexoravelmente, pela decadência. "Elas começaram nas grandes pensões como a Fascinação, na esquina da Senador Alencar com Castro e Silva que tinha como marca registrada a música Fascinação na voz de Carlos Galhardo. Outra casa considerada "classe A" era a Hollywood, onde se encontrava as novidades que apareciam na praça. Garotas com 18 anos, recém-acolhidas pela dona da pensão. Da Fascinação e Hollywood as mulheres desciam para a América, Los Angeles ou Califórnia. De lá para o Zé Tatá ou o Oitão Preto, quando as mulheres atingiam 25 anos, já estavam no Curral.
"Esse movimento de decadência e de descida era natural e encarado como inevitável", afirma Gadelha. No Curral, elas arranjavam velhos para sustentá-las até mais ou menos uns 35 anos e, depois disso, tornavam-se cafezeiras, boleiras e executavam pequenos serviços. As prostitutas, segundo a pesquisa empírica, com base na vivência de Gadelha, nunca morriam velhas. "Elas não passavam dos 50 anos, talvez pelas condições de vida, alimentação e, principalmente, pela grande quantidade de bebida que consumiam".
Na hora da morte, conta Gadelha, revelava-se o momento mais fraterno e religioso da comunidade. Quando a companheira não tinha dinheiro para ser enterrada, as prostitutas se cotizavam e iam deixar o dinheiro na seda da amplificadora Brasil que passava todo o dia tocando a Ave-Maria, de Shunbert, na voz de Vicente Celestino. O código era tão perfeito que ao se ouvir a música, todos no Arraial sabiam da morte da prostituta, a ser velada na Capela de Santa Terezinha, construída pelas mulheres-damas, hoje o único marco referencial da extinta comunidade.



A extinção do "Curral das Éguas" e a dispersão de seus moradores foi causada pela expansão da cidade e a construção, na década de 70, da Avenida Castelo Branco, a conhecida Leste-Oeste. Segundo Gadelha, não havia necessidade da destruição do Curral. "O Curral era uma tradição da cidade, o lado romântico e ingênuo da prostituição, muito diferente das casas de hoje".

O fim das vilas e das casas de madeira, papelão ou sacos plásticos, que delineavam o quadro surrealista, digno de Hieronymus Bosch e Peter Bruegel, deslocou seus habitantes para outras regiões da cidade também conhecidas zonas de prostituição como o "Farol do Mucuripe", a Barra do Ceará e algumas ruas do centro. Com o deslocamento, frisou o pintor, foi desmantelada toda a organização social da cidade e houve um estágio de decadência generalizada das prostitutas.

Nos anos 60, não se ouvia falar em cocaína. Usava-se pouca maconha e muito álcool.

Segundo Gadelha a prostituição é fenômeno comum a todas as sociedades. Desde tempos imemoriais. Assim, de antemão, estamos todos redimidos dos currais e faróis que ameaçam com sifilítica pestilência os alicerces morais de nossa civilização ocidental e cristã. Convenhamos, porém, que nós soubemos acrescentar perversos, ingredientes a esse fenômeno social, tornando imoral o que poderia ser apenas amoral.
A prostituição nasce da hipocrisia de famílias ditas austeras, virtuosas, mas que encorajam a iniciação sexual dos seus filhos com criadinhas trazidas do Interior. Nasce do machismo que ainda condena ao limbo, em certos meios, a mãe solteira. Nasce da pobreza absurda em que vivem milhões de brasileiros, amontoados em completa promiscuidade, sem teto, sem pão, sem lei e sem grei.


Antiga rua Santa Terezinha no Arraial Moura Brasil - Demolida para passagem da Av. Leste-Oeste


Descartes mostra a "zona" e também os frutos do seu ventre: os meninos de rua que se atiram ávidos sobre o carro, onde um casal burguês aguarda apenas o sinal abrir para dar as costas novamente à miséria. O desdém da mulher que lê o horóscopo e do seu acompanhante, escondido atrás de escuras lentes, é o mesmo da nossa sociedade.
Diante dos dramas humanos que nos cercam, preferimos mergulhar na quimera do zodíaco, no mundo do faz-de-conta, onde a solução de todos os problemas está escrito nas estrelas. Confrontados em colocar um par de óculos escuros e pisar fundo no acelerador, deixando para trás a cinza, a esquina, o beco, o farol, o curral, ou qualquer outro lugar onde se diz que a mulher leva vida fácil. Ou vida alegre.

DESCARTES GADELHA
(Fortaleza – CE 1943)

Desenhista, pintor e escultor. Participou de importantes mostras coletivas, destacando-se “A Paisagem Cearense”, no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1963), “Pintores do Nordeste”, no Museu do Unhão (Salvador – BA 1963), “Lirismo Brasileiro” (Tel-Aviv 1965), “O Circo”, no paço das Artes (São Paulo – SP 1978) e “12 Artistas de Seis Países Latino-Americanos”, na Casa do Congresso de Angostura (CaracasVenezuela 1982). Obteve prêmio no XIV Salão Municipal de Abril (Fortaleza – CE 1964), nos I e II Salões Nacionais de Artes Plásticas do Ceará e no 1º Salão de Artes Plásticas do BNB-Clube, todos em Fortaleza (CE), nas décadas de 70 e 80. Individualmente, realizou diversas exposições, destacando-se em importância: Galeria Goeldi (Rio de Janeiro – RJ 1966), Galeria Samambaia (São Paulo – SP 1968), Instituto Goethe (Salvador – BA 1974) e as expressivas mostras “Catadores do Jangurussu”, no MAUC-UFC (Fortaleza –CE 1986), “De um Alguém para Outro Alguém”, também no MAUC-UFC (Fortaleza – CE 1990) e a mega-exposição “Cicatrizes Submersas” – com mais de 100 pinturas a óleo de média e grande dimensões, além de esculturas, cerâmicas, gravuras e desenhos, retratando a saga do beato Antônio Conselheiro nos sertões do Nordeste do Brasil e seu epílogo em Canudos -, realizada no Palácio da Abolição (Fortaleza – CE 1997) e posteriormente, em 1999, na reinauguração do Museu de Arte da UFC, local onde as obras se encontram, incorporadas ao acervo do museu por doação do próprio artista. Numa linguagem expressionista, Descartes Gadelha retrata em sua obra a cultura, a religiosidade e os problemas sociais comuns ao Ceará, sua terra natal, e ao Nordeste do Brasil.

(Fonte: Firmeza, N. & Montezuma, L. Dicionário das Artes Plásticas do Ceará. Fortaleza: Oboé, 2003)

Crédito: http://www.mauc.ufc.br/
Telas: Descartes Gadelha



quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Curral das Éguas


Rua Franco Rabelo, que hoje fica no leito da Avenida Leste-Oeste. Lá se concentrava o baixo meretrício, um tipo de cabarés da mais baixa classe. Arquivo Nirez



"Fortaleza viveu um triste episódio em seu passado, que deixou marcas de discriminação em sua história. Foi a criação do Curral das Éguas - a Cinza, para onde foram mandadas, por força policial, todas as prostitutas do Centro da cidade. A Cinza, ficava na descida da Rua Franco Rabelo, no morro achatado que fica defronte ao Marina Hotel.
Ali, algumas ruas foram arrancadas para a construção da Av. Leste-Oeste. Morar na Cinza, era o equivalente a viver entre marginais, drogados, prostitutas, ladrões e gatunos. Sim, também existiam pessoas de bem, como em qualquer local, mas o lugar era conhecido e descrito com o portal do inferno.
Ao tempo que a Cinza foi criada, foram também, as Pensões Alegres, onde prostitutas - jovens em flor - passaram a habitar. Eram instaladas por seus amantes no segundo andar dos casarões do Centro, que ficaram desabitados, quando a burguesia que ali residia, mudou-se para a Praia de Iracema, Jacarecanga e Gentilândia, os novos bairros nobres da cidade."


O "Curral das Éguas", era onde mancebos despertados pela sexualidade se entregavam ao amor da "Mulher do Fado".

O "Salão Bola Preta" do carioca Almada tinha características próprias e idênticas aos salões de dança do Rio de Janeiro, embora com proporções desiguais; mesmo assim, "odaliscas" mais saltitantes se esbaldavam aos sons de instrumentos de percussão, de sons metálicos e sopro (trompete, trombone de vara e saxofone), cuja harmonia ressoava os mais afinados tons com acompanhamento da sanfona (acordeão). Bailarinos, com passos singulares e acrobáticos, arremessavam as "damas da noite" para o alto, com grande destreza e malabarismo, causando aos espectadores espetáculos circense pondo em prática libações em profusão contagiantes, nos copos de vinho.

O salão despertava arrebatadora atenção dos frequentadores, cujos rodopios entre casais traduziam-se no compasso do samba ou qualquer ritmo dançante, verdadeira apoteose infindável entre pares com admirável exuberância entre os mesmos. A música entoada nos diversos tons sonorizava com o menestrel da noite no clarão da luz de combustão de carbureto previamente ligado com antecedência, para iluminar o embalo da orquestra, nos intervalos da mudança dos ritmos e musicas previamente ensaiadas para execução e, deleite dos frequentadores do Curral das Éguas, lugar de fascinante orgia sem tempo para terminar os momentos de prazer, suspirado por desejos incontidos nos salões dançantes do famoso prostíbulo.

Dos mais longínquos recantos do Ceará, os sertanejos que por aqui nunca vindos ficavam deslumbrados com aquela paisagem cheia de aventuras, efusivos momentos com as "mariposas" que repentinamente os atraia com afagos e, da mais inesperada candidez esquecendo por algumas horas a crueza do torrão natal de agruras e solidão, distante do canto da cauã, bem-te-vi, galo de campina, rouxinol, canários, graúnas, curió, entre outros que embelezam a natureza.

Esta era a delegacia da Rua Franco Rabelo, antro de prostituição que foi absorvido pela Avenida Leste-Oeste. Ficava entre a travessa Baturité e a Praça do Cristo Redentor. 
Arquivo Nirez

O "Curral das Éguas", por ser lugar de baixo meretrício, era mantido por severas ordens policial, do delegado Rodrigues e Comissário "Chico da Usina" que ajudava na manutenção do respeito às "borboletas noturnas", fazia a vigilância ostensiva do baixo meretrício até alta madrugada quando os parceiros se aproximavam para "forrar" o estômago com panelada ou suculento caldo preparado das vísceras do boi para substituir outro tipo de jantar.

O respeito à ordem pública mantida por Delegado Rodrigues, previa de tamanha segurança, para evitar desmandos e arruaças comuns nos ambientes onde impera a prostituição e excessos de bebidas alcoólicas ingeridas muitas vezes às escondidas fora dos horários permitido por ordem da Secretaria de Segurança Pública.

A foto é de 1958 e esses casebres que vemos, na época eram chamados de "mocambos" (invasões de terras). Acervo Lucas Jr

O público

O jocoso é que certos comerciantes, no seu jeito astuto para burlar a lei, colocavam, nos "bules de café", cachaça, para vender nas xícaras de café às escondidas... Bebiam como se fosse café ingerido sem direito a fazer "cara feia", de quem bebe álcool... Sem direito a tira-gosto, servia com rapidez, demonstrando como se estivesse bebendo café... Era verdadeira Lei-seca.

Essa proibição caso desobedecida e se pegado em flagrante, iria parar no xadrez até o dia seguinte, quando era liberado relaxado o flagrante se encarregava de higienizar o local da carceragem onde dormira com os demais infratores.

Espaço emblemático

O Salão Bola Preta do carioca Almada era o mais importante salão de dança do Curral das Éguas. Com coreto de madeira fixado na parede do mesmo, onde comportava 8 (oito) figurantes com instrumentos de "pau e corda" e sopro, abemolando. O som volatilizado com reduzida luz do gás de carbureto se expandia por todo o salão onde "mariposas" saltitantes faziam acrobacias corporais com parceiros metidos a almofadinhas imitavam as "danças carioca" arremessando as "horizontais" para o alto, amparando-as com as mãos na cintura num eterno rebolado de sons e balanceios harmonizados pelos remelexos das cadeiras e quadris, digno de ser apreciado. Outro salão também famoso e mais antigo do baixo meretrício era o "Salão Azul" de propriedade de José Vitalino como era conhecida tal figura. Cidadão de idade avançada, que vivia de alugar ou arrendar prédios no Arraial Moura Brasil, para explorar o ramo de salão dançantes e bar.

Ali também era mais um espaço do lenocínio da cidade de Fortaleza nas décadas de 40, 50 até 1960, quando se iniciou a transferência do mulherio para a praia do Farol, Cais do Porto, Mucuripe, Serviluz, Castelo Encantado e adjacências. O imóvel, adaptado a esses fins, tinha entrada amparada por cabine ou caixa, onde era cobrado o ingresso para ter acesso ao salão quando iniciasse a contradança com a "dama da noite" à espera dos participantes do forró, cujos trajes sumários atraiam os que ali se dirigiam para demonstração dos ritmos, samba, foxtrote, rumba, bolero, samba-canção, valsa e o mais afamado tango - um dos ritmos mais apreciados à época.

Zenilo Almada

Quem recorda?

Bar da Alegria
FascinaçãoBarba azulSenaforzão, Flores Perfumadas, Galeria do Amor, Cabaré da Mãe Tônia, 90,  Zé bombom, Cabaré da Leila, Renascença ClubeUberlândia, Cabaré da Chaguinha...



Fonte: Zenilo Almada (Diário do Nordeste)



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Capela de Santa Teresinha


A Igrejinha no bairro Arraial Moura Brasil muito antes da construção da Avenida Presidente Castelo Branco

Tombamento Municipal de 1986.
Localização: Av. Leste-Oeste

HISTÓRICO IGREJA SANTA TERESINHA

Esta situada em área do bairro popular chamado Arraial Moura Brasil ( que também já foi CinzaCurral), antes da abertura da Avenida Leste-Oeste. Foi preservada da demolição por intenso movimento popular promovido pela população local. É Patrimônio Histórico Municipal da Cidade. Teve sua construção iniciada em 14 de novembro de 1926
pela iniciativa dos pescadores e moradores do bairro liderados por Delmiro e João Pernanbuco. Foi inaugurada no dia 28 de fevereiro de 1928. Com a construção de uma nova igreja (Santa Edwirgens), a pequena igreja de Santa Teresinha deixou de ter funções religiosas e passou a abrigar atividades sociais esporádicas.

Estamos na antiga rua Santa Teresinha, em frente a igrejinha de mesmo nome, no Arraial Moura Brasil. em 1936/37. A rua sumiu com a construção da Av. Leste-Oeste. Ápio Pontes

Estamos no Arraial Moura Brasil, antigo Morro do Moinho, em 1970. No meio da miséria, uma comunidade que descia até a Capela de Santa Teresinha. Foto: Correio do Ceará/Acervo Lucas. 


Descrição:

A Igrejinha tem características arquitetônicas singelas e bastante despojada. Sua importância, entretanto, deriva da marcante conotação popular. Composta de nave única, sacristia e torre sineira incorporada a fachada principal. Com pequenas dimensões, possui ainda, cobertura em duas águas com telhado de telha capa e canal. A estrutura de coberta é composta por tesouras madeira com um desenho singular em forma de “X “, linhas, caibros e ripas. Destaca-se a singeleza da sua fachada principal - Oeste - de composição formal simples, com abertura encimada por verga em arco pleno, dois coruchéus laterais com elementos decorativos góticos flamejantes, adornos com volutas sobre o frontão e campanário central com cruz ao centro arrematam o mesmo. A figura do Espirito Santo esta representada ao centro do frontão e coroando o arco do campanário. Foi acrescida na sua parte posterior com uma sala com mezanino e banheiro. Com a abertura da Avenida Leste-Oeste, que foi construída em uma cota mais alta, a Igrejinha se encontra hoje em uma cota mais baixa, portanto deprimida em relação a paisagem que a circunda.



Essa igreja é a prova de que com o esforço e a luta da comunidade é possível se evitar tanta demolição do patrimônio da nossa cidade!

Essa capela desde a sua edificação tornou-se um símbolo cultural.



 02 de dezembro de 1946 - Na administração do prefeito Romeu Coelho Martins (Romeu Martins), a praça existente em frente à Igreja de Santa Teresinha, no Arraial Moura Brasil, recebe a denominação oficial de Praça Araripe Júnior, embora o povo a chamasse de "Praça Santa Teresinha".
Com a abertura da Avenida Presidente Castelo Branco, a praça desapareceu, restando apenas a igrejinha. Cronologia Ilustrada de Fortaleza

Fonte: Ofipro

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A antiga Praia Formosa


Uma das fotos mais antigas de Fortaleza. Trecho da antiga Praia Formosa onde hoje situa-se o Marina Park Hotel. Vemos a linha férrea que seguia para o porto.
Desde a década de 1920 até inicio dos anos 1960, a então Praia Formosa era habitada por pescadores e por pessoas de classe média, que ali se instalavam devido à facilidade de acesso à Praça do Ferreira – ponto de convergência de todo o comércio de Fortaleza, repartições públicas, linhas de ônibus e de bondes, correios, bancos, etc. O trajeto entre a Praia e a Praça do Ferreira era cumprido a pé.

Arquivo Nirez


Praia Formosa em 1905

Ao longo desse tempo a Praia Formosa sempre foi uma área bastante movimentada, com destaque para os anos 1940, quando por ali transitavam as moças que habitavam o “Curral das Éguas”; também circulavam jovens solteiras de boas famílias, que frequentavam o cassino dos americanos (no lugar do atual Estoril), ou ainda, o “La Conga” que ficava na descida da Rua Barão do Rio Branco, já na beira do mar. O La Conga era tipo uma boate, e servia de ponto de encontro dos soldados americanos que ficaram aquartelados na cidade no tempo da guerra.


Rara imagem de 1911

Estima-se que, entre 1943 e 1946, um total de 50 mil americanos tenha passado por Fortaleza.
Para suas distrações se faziam acompanhar das famosas “Coca-colas”, como ficaram conhecidas as moças de Fortaleza que namoravam os americanos, mesmo sem conhecer o idioma.
Bastava saber dançar e dizer algumas palavras que permitisse os mais rápidos relacionamentos.

Na descida do Passeio Público em direção a praia estava o “Bar São Jorge”, palco de muitas desventuras humanas, e por esse motivo, muito conhecido da crônica policial da cidade.



Nas redondezas se aglomerava grande número de operários que trabalhavam na antiga “Light”, lugar que acumulava enorme quantidade de cinza das caldeiras que forneciam eletricidade a Fortaleza.
Mais tarde o lugar passou a ser chamado pejorativamente de “Cinzas”.



A praia em 1927

Praia Formosa em 1929 com a primeira sede do Náutico 

No Arraial Moura Brasil, na descida da ladeira da Rua General Sampaio, ao lado da Estação Central e da Casa de Detenção (Encetur), em direção a Praia Formosa, ficava o muito famoso “Curral das Éguas”, local onde desde 1920, muitos rapazes, de todas as classes sociais, se iniciavam nas artes amorosas.



Ladeira da Rua General Sampaio, que terminava na Praia Formosa.


" Essa ladeira é onde nascia a rua General Sampaio formando a bucólica praia Formosa. Hoje, nada existe dessas casas. O avanço do mar a Leste Oeste modificaram por completa esta paisagem. Hoje neste local está o viaduto que dar acesso a Leste Oeste e também ao Hotel Marina Park. Esse era o bairro Arraial Moura Brasil, onde existiam ruas famosas como a Braga Torres. O que restou a muito custo, foi a Igrejinha de Santa Teresinha. A fotografia é da década de 40. Nesse tempo a praia Formosa, era um ambiente sadio e alegre. Fortaleza avançava em todos os sentidos... muitos anos passaram... e esse local tornou-se marginalizado, ficando conhecido como Curral das Éguas, de baixa categoria, muitos crimes houveram ali." Nirez


"Antiga rua Santa Terezinha na altura do número 500 no Arraial Moura Brasil, que foi demolida para passagem da Av. Leste-Oeste. Este beco que vemos no bar que tem a placa do refrigerante Crush laranja é a entrada do famoso terreiro de umbanda da dona Biléu. Neste local hoje está a estátua da santa Edwiges." Raimundo Barros



A igrejinha foi o que restou da antiga rua depois que foi aberta a Avenida Presidente Castelo Branco, apelidada imediatamente de Leste-Oeste, porque segue paralela à margem do Oceano.
As casas, estilo chalés situados à esquerda de quem descia a rua General Sampaio, estavam sempre feericamente iluminados. As mulheres, de todos os tipos, vinham de todo o estado do Ceará, boa parte delas fugindo das secas e da carência de oportunidades em suas cidades, para “fazer a vida” e assumir a profissão.


Vista aérea de 1938/39 vendo-se ao fundo a antiga Praia Formosa

Na pensão onde fixavam residência, a primeira providência da madame (a dona da pensão) era levar a “mariposa” a Chefatura de policia onde era registrada, com prontuário de ocorrência sanitária, obrigada a comparecer mensalmente para obter visto na carteira, e para ser examinada para saber se tinha contraído “doença do mundo” ou “curuba”, um tipo de sarna muito comum na época.
Os homens solteiros, casados, comprometidos, ricos, pobres, pretos ou brancos, frequentavam o local às escondidas, cuidando para evitar as “doenças do mundo” dada a inexistência de preservativos ou camisinhas.

Foto de 1973

A praia na década de 70
Os que pegavam alguma doença venérea, consultavam urologistas de confiança em busca da cura, tudo no maior segredo, evitando-se chegar ao conhecimento das famílias e namoradas, porque tal ocorrência podia decretar até o fim do casamento, se fosse descoberta.


Postal anos 70

O trottoir* era o ponto alto do assédio: as “damas da noite” vestiam-se com roupas de sedas chamativas, subiam e desciam a ladeira da rua General Sampaio, a fim de atrair os fregueses que se postavam na parte alta da rua, ou que estavam nos botequins da área.
Arranjado o parceiro, levavam para o quarto do lupanar reservado para o oficio, que não durava nem meia hora. Findo o encontro, a mulher já saía do quarto com traje diferente do que usara antes para não ser reconhecida pelos circunstantes, e recomeçava a lide de subir e descer a ladeira.
Ao lado do curral havia outras pensões, o Oitão Pretoe a Pensão da Olímpia, ambas de categorias superiores e separadas do público que frequentava o curral.



Praia Formosa sem o Marina Park Hotel - Carlos Juaçaba

Postal anos 90, já com o Hotel Marina Park
Muitas foram as promessas do poder publico e de entidades da iniciativa privada, de mudar a tradição de uso e ocupação da Praia Formosa (hoje chamada de Praia de Iracema). Campanhas de revitalização para integrar a área ao contexto sócio-cultural de Fortaleza e atrair maior movimentação de visitantes são quase constantes.
Em alguns trechos, até que esse objetivo foi parcial e relativamente alcançado. Mas o trecho onde se situavam até a década de 1960 as atividades acima relatadas, continua sendo até os dias atuais, área onde reinam a insegurança, a prostituição e o tráfico de drogas. 



Trecho da praia Formosa ontem

E hoje

Formosa era uma praia com areia batida e mar sereno. Era um pequeno trecho de terra entre as praias de Iracema e da Leste-Oeste ou como falavam antigamente, Praia da Jacarecanga.


A praia e o seu entorno hoje:



Mara Hope encalhado na antiga Praia Formosa

Do Marina Park, hospedes tem o mar como paisagem de seus quartos.  Foto Flávio Florido


 Foto Flávio Florido

Oitão Preto hoje - Foto Flávio Florido


Como um troféu, a propaganda no site oficial do hotel diz: 

"Literalmente banhado pelo mar, o Marina Park Hotel, além dos 200 metros da aconchegante Praia Formosa inserida em seu perímetro, é dotada de uma moderna Marina com capacidade para 150 embarcações..."






Curiosidades:


  • Em 6 de março de 1985, um forte temporal à noite, com maré alta, rompeu as amarras do Mara Hope, que encontrava-se ancorado no Porto do Mucuripe com problemas mecânicos. A embarcação derivou 1,6 km até encalhar em um banco de areia na Praia Formosa, ao lado do estaleiro da Indústria Naval do Ceará.

*Trottoir é o caminhar que as prostitutas fazem quando ficam a espera de seus clientes.


NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: