Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Vídeos
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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terça-feira, 8 de junho de 2021

Deixa eu te contar...


Em 1941, Manuel Olímpio Meira (Mais conhecido por Jacaré) e mais três jangadeiros - Mestre Jerônimo (Jerônimo André de Souza), Tatá (Raimundo Correia Lima) e Manuel Preto (Manuel Pereira da Silva) - saíram do Ceará com destino ao Rio de Janeiro. Foram reivindicar junto ao Governo de Getúlio Vargas, melhores condições para a comunidade de pescadores de sua região, tentando fazer com que sua profissão fosse reconhecida e os pescadores pudessem obter seus direitos trabalhistas.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

A saga de Rodolfo Teófilo no combate a varíola

Rodolfo Teófilo foi um grande farmacêutico, que presenciou toda a trajetória da terrível epidemia de varíola que o Ceará jamais tinha visto que foi a de 1878. Indignado por conta do descaso do poder público, ele se propõe a combater a varíola com os próprios recursos. Tendo aprendido a produzir a vacina ele passa a imunizar a população pelo sertão a fora, montado em um cavalo, tenta barrar a proliferação da doença. Vacina esta que foi descoberta em 1796, pelo médico inglês Edward Jenner. Este fato repercutiu por todo o mundo civilizado, que há séculos perdiam vidas por conta da varíola.







Crédito: Seara da Ciência
Pedro Magalhães (Professor da Faculdade de Medicina da UFC)


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Fortaleza 294 anos

Em 13 de abril de 1726, Fortaleza era elevada à categoria de vila...


Para comemorar a data, fiz esse vídeo, um pequeno resumo, especialmente pensando nas nossas crianças, pois é pensando no hoje que construímos nosso futuro, inclusive o futuro da cidade! :)


sábado, 17 de setembro de 2016

Vila São José - Jacarecanga



Vila São José - Jacarecanga- Rua Maria Luiza -Casas construídas para trabalhadores da Fábrica São José. (Leia o comentário ao final do texto)

NOSTALGITE 

"Hoje amanheci com saudade da minha Vila São José, no ex-aristocrático Jacarecanga. A Vila como era popularmente conhecida, em cada casa era a extensão de outra, pois, seus primitivos moradores eram como uma família. Existiam grupos, mas não com sectarismo nefasto, ou rivalidade indígena tal qual Fortaleza x Ceará com torcidas organizadas. Existiam quatro entradas para a Vila São José, a Vivenda operária da fábrica de tecidos do Cel. Pedro Philomeno. A primeira era no beira linha, onde se passava defronte a Usina São José (fábrica). Os slogans eram Redes Philomeno “Durma bem e Viva Feliz” e o outro era: Toalhas São José enxugam e não molham”. Já ia mudando de assunto...

Vila São José. Meus primos Victor e César e vizinhos - Cruz Júnior

A outra entrada para a Vila era a Rua Monsenhor Dantas, aí existia um ar de aristocracia: Casa do Acrisio Moreira, e muitos bangalôs e na beira da ponte sobre o riacho Jacarecanga, no lado sul mato, leste a vacaria do Véi Alves e no oeste a cacimba do Cirilo que poucos sabem da historicidade daquele cacimbão: abastecia o Lazareto de Jacarecanga no segundo quartel do século XIX. A terceira entrada para a Vila era na Rua Adriano Martins que tinha o Campo de Baturité e finalmente a quarta que era a Rua Dona Maroquinha, homenagem à mãe do Coronel Dono de tudo. O Ícone de entrada era a caixa d’água do Seu Telles, mas antes apreciávamos as quadras que em 1965 uma foi ocupada pela Cajubraz, e na esquina da Rua Adolfo Campelo a bodega do Seu Ozanan. Por detrás ficava o Mercadinho e a Vila onde morava o Abelardo Sapateiro. Era maravilhosa a Vila São José que eu vivi. Os moradores ou eram operários e funcionários não subalternos da fábrica, ou funcionário público indicados por políticos, que respeitavam e tinham amizade com o Cel. Philomeno. 

 
A Fábrica de tecidos São José em 1957. IBGE

O Deputado Dorian Sampaio foi morador desta vila. Tinha perifericamente dois canteiros que receberam o nome de Avenidinhas, e tinha pés de castanhola. Os mais velhos, respeitavam as brincadeiras dos meninos. Hoje quando palmilho em meu berço, não vejo mais nada. Moradores antagônicos, crianças abandonaram brincadeiras de roda, para conversas infanto-juvenil virtual que é um perigo. A fábrica fechou em 1976, e com ela foi uma emigração social. Por onde anda meus colegas de infância? Sei que alguns já nos deixaram, como o Paulo pionque, Glauco Cueca, Jesus pea de fumo, Elder, Eldair e Messsim (precocemente) , Zé Maria das raias... Os de mais idade: seu Zé Bento, Telles, João Lima bodegueiro, Fernando de Branco, Clebão, José da Mundoca, e tantos outros. Ah! Encontrei o Miltão e seu irmão Ivo em Beberibe. Há! Vila São José, muitos de teus prédios deixaram de existir. Não existe mais as casa de sua entrada primitiva, até a casa que nasci foi ao chão. O barulho do trem que passava por ali foi ao silêncio. Só tem trem agora para Caucaia e passa por onde existia a mercearia do Edmilson. Já já eu falo mais sobre Jacarecanga..."

Assis Lima
(radialista)


Foto publicada no jornal Tribuna do Ceará em junho de 1967. Acervo Lucas

"Essa é a casa de Dona Isaura que era viuva de um mestre de linha da RVC. Na divisão das linhas Baturité e Sobral ficava a Mercearia do Edmilsom. A casa que fica no canto era da família do Gregório, cujo Dono trabalhava na Fabrica Arakem. O Francisco e o Sérgio Gregório estudaram comigo no Grupo Escolar Sales Campos na Entrada do Bairro Pirambu." Assis Lima

Localização da casa hoje:

A primeira foto é o local onde ficava a extinta casa e a segunda num ângulo mais distante - Assis Lima

Acervo Lucas

"Esta visão é de quem está na via férrea. Esse ferro era para evitar tráfego de carros. As pedras toscas soltas não era obra e sim devido ao desnível.Esse é o Início da rua Monsenhor Dantas. Lembra que eu falei das quadras e que uma fora ocupada pela Cajubraz? Então, aquelas paredes é da Cajubraz, que transversalmente passa a rua Dona Maroquinha seguindo à direita da foto para a Avenida Francisco Sá."  Assis Lima 

A fábrica no auge (Arquivo Nirez) e na decadência (Alex Mendes).

Bônus:

Vídeo da Fábrica São José.
Crédito: Philomeno Gomes Jr.
Agradecimento:Isabel Pires





A molecagem e os tipos populares da Vila São José - Jacarecanga

"A Vila São José não sei hoje, mas era um povoado moleque algo típico da cultura cearense. Era uma comunidade cômica, onde poucos eram conhecidos pelos verdadeiros nomes. Apelido tinha que ter, senão não era da Vila. Dentre os que eram apelidados, o que mais se destacavam tornava-se tipo popular. Ah! Que saudade daqueles anos de 1960, início dos de 1970 (A Fábrica de tecidos fechou em 1976). Dos que minha memória ainda não apagou, posso me lembrar do Bico de Papagaio (Videlmon); Maluquinho (Wilson); Cueca (Glauco); Fede a C....(Pereirinha); Fifi (Carlos); Piongue (Paulo); Morcego (Jorge); Manteiga (Marcos); Quinquim (Francisco); Patola (Fábio); Bambulê (Dedé da Raimunda); Burraldo (Seu Lázaro); Pirulito (Assis, eu); Saquim de Arroz (Olavo); Feijão (Flávio); Lery (Marquim); O Morte (Moisés); Passão (Pedro); Osso da Pá (Seu Valdemar); Orelhão (Ricardo); Tapioca (Elias); Ceroto (Eduardo); Geladeira (Waldir); Cabeção (Oto); C... de Grude (João Negão, sem racismo); Pé Cagado (Manuel coiote); Fala Fino 1 (Cesinha); Fala Fino 2 (Carlito); Boca de Fumo (Luís) lembrando que, nada de coisa ruim como hoje, era porque ele falava mascando. Prosseguindo... Irmãs Maisena; Pajeú (Nancy); Malagueta (Cesar); Bocão (Tito); Vai Pra Merda (Edvar); Batata (José); Chico Tripa (Francisco); Bocora (Francisco); Pé de Pato (Jose); Prego Nu (Hélio); Filho da Mutuca (Vandir); Os doidos Marcos e Vera, mas eram mentalmente saudáveis, apenas com atitudes atípicas. Muduba (Edilson); Dibanquinha (Lucia); Zambeta (Elisabete); Japonês (Cesar); Jumento (Charles); Patino (Valdemar); Dedão (Alsenete); Macacão (Francisco do Seu Antônio Perna dura); Bacurau (Jorge); Klebão Alma (Kleber); Boca de Piano (Antônio); Colorau (Jorge); O Sal (Seu João); Wanderléia (Dona Elsa); Zé da Mundoca (Seu José); Patola (Fábio); Castanha Preta (Jorge); Quinha (Francisca); Boneco (José); Chico menino nu (Francisco); Cajuina (Toinho); Cara de bêbado (Valter); Bebida Falsa (Quincas); Canário (Geraldo), e três que nunca soubemos o nome: Ourivinga, Firme e o Ziquilino. Agora se tornaram personagens populares, na Vila São José, nessa parte pobre do Jacarecanga, e eu me orgulho de hoje ser Jornalista, Turismólogo, ferroviário de carreira, e vivo nas ondas do Rádio, vindo desse proletariado, e não da Aristocracia das ruas e entorno da Praça do Liceu/Guilherme Rocha/Francisco Sá. Vamos com os personagens: Edgar cara de gato, Chiquim perna de Alicate; Ana chupa dedo; Loudinha jumenta cabeluda; Luciano pedra de calçamento; Miltão mãozona; Dona Maria dos Ovos; Pedro do Encosta; Daniel Oião; Edson Patitaca; Beto Macaco; Pedro Véi das fossas; José pifite; Priqt.....de Onça; Chico ferro doido; Adgerson sapateiro; Raimundinho fon fon; Chico sete cão; Sérgio trepinha; Nilo boca de privada; Cabo Xuxa; Zinebra; Fontenele pantaleão; Fedorento do Picolé e o Cheiroso pipoqueiro. A Vila São José era isso. Operários e filhos de operários, assim como eu, tinha uma só linguagem, mas predominava o dialeto do apelido. Nasci e morei lá 23 anos e, nunca ouvi dizer que houvesse gente intrigado. Quando alguém era procurado, o apelido levava o procurador em cima do endereço. Todos brincavam e os mais maduros, ficavam nas calçadas. Minha mãe ainda hoje tímida, era ligada nas novelas da PRE9. Quer dizer, existia vida coletiva. A noite era nosso encontro na calçada da padaria do português Augusto, também proprietário da Padaria Triunfo no Centro da Cidade, baixos do Edifício do mesmo nome. Reuniam-se pelo menos 30 meninos por noite. Eu só faltava, quando tirava nota baixa do Grupo Escolar Sales Campos e ficava em casa de castigo. Fui uma vez visitar meu berço, não conheci ninguém da época. Que boas lembranças, que tempo aquele! Hoje, as pessoas destratam até por redes sociais e se intrigam até com a "sala do Fuxico", apelido que eu dou ao famoso e líder de uso: WhatsApp. Crescemos e a vida foi traçando o próprio destino. Evoco a frase de Machado de Assis: “Cada Coisa Pertence ao seu Tempo”.

Assis Lima

"O pé de castanhola que falei é esse que aparece no canto. O muro na calçada era o fundo do quintal da Viúva Isaura. Seu marido era funcionário da RVC. A mercearia que aparece na Rua Júlio Cesar/Maria Luíza era do Seu Olavo. A Caixa d'água era na rua Leda e nos baixos era o depósito do Rosimiro, hoje na Rua Jacinto de Matos "Organização Gonçalves". Meu saudoso pai Valdemar de Lima, trabalhou de servente pedreiro nestas construções em 1946. As primeiras casa datam de 1926, e eu nasci na Rua Cel. Philomeno nº43 hoje desaparecida devido a outra construção.
Esta foto foi colhida do terceiro andar do único edifício existente. Edificio em que abrigou no térreo os Supermercados CHIBE (Chico Philomeno e Beatriz), e quem lá residiu de 1970 a 1980, quando o CREA o condenou, meu Tio Cazuza."   Assis Lima



Assis Lima é radialista, idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio.

domingo, 17 de julho de 2016

Estoril -Antiga Vila Morena (Vídeo)

 

Ícone da “boemia” da Praia de Iracema, a antiga Vila Morena, ou residência dos Porto, foi construída pelo comerciante pernambucano, descendente de portugueses, José Magalhães Porto, entre 1920 e 1925, e foi a primeira construção de destaque da então Praia do Peixe. O português desafiou os conselhos de amigos, que o alertavam sobre os perigos da praia, com suas ondas fortes. A teimosia fez com que ali instalasse sua moradia. O nome, como era usual à época, foi dedicado à esposa, Francisca Frota Porto, conhecida como ‘Morena’. A residência conservava ao redor um belo jardim onde também eram criadas algumas aves. Dizem que foi a primeira moradia com piscina de Fortaleza…


Veja a matéria completa no Vós



Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

Sobrado do Dr. José Lourenço - História e Vídeo

Tido como a primeira edificação de três andares do Ceará, o sobrado do médico sanitarista Dr. José Lourenço de Castro Silva foi construído na segunda metade do século XIX, na então Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo, para servir de residência e de consultório.

Dr. José Lourenço era natural de Aracati, nascido em 1808. Formou-se médico no Rio de Janeiro. Em seu sobrado, mantinha no térreo o consultório, onde clinicava à moda popular e nos andares superiores, vivia com a família. Morador de uma Fortaleza em clara expansão, sua casa era sinônimo de status e poder, construída numa época intitulada pelos cronistas como o mais longo período sem estiagem da história de Fortaleza [1846 a 1876 – A construção do sobrado data desse intervalo], em que a cidade se consolidou como capital, esvaziando Aracati, até então porto, entreposto comercial, sede de oficinas de charqueadas e ponto de ligação com Pernambuco, a quem fomos atrelados, politicamente, até 1799. Empolgada com o rápido crescimento de Fortaleza, as famílias abastadas começam a modernizar a cidade, construindo suas casas nos moldes dos padrões europeus. 

Conforme o professor de Mestrado em História Social da UFC, Gilmar de Carvalho, o sobrado era uma espécie de farol que irradiava a ordem médica, representado pelo seu proprietário, Doutor José Lourenço, uma figura respeitável na província, do ponto de vista de sua credibilidade como médico e de sua ética como homem público. Era o mais alto, esguio e, por isso mesmo, elegante. Trazia uma escultura em seu topo, da qual restaram apenas vestígios de mármore. Provavelmente uma figura mitológica, mas não se tem totalmente certeza como esclarece o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, Liberal de Castro. José Lourenço faleceu em 13 de agosto de 1874 em Fortaleza.
O sobrado na década de 70. Foto de Nelson Bezerra
No ano seguinte à morte do médico, a família alugou o sobrado ao Tribunal de Relação do Ceará (repartição judicial hoje correspondente ao Tribunal de Justiça do Estado), que funcionou no local por longos anos. Depois abrigou (por breve período) a Prefeitura Municipal de Fortaleza, uma oficina de marcenaria, bordel, casa de sombrinhas... Tudo isso pode ser encontrado, não apenas na crônica histórica ou nos anúncios de jornais, mas nas paredes, como inscrições que camadas de tintas superpostas deixam entrever no trabalho paciente do restaurador.
Fortaleza, 13 de agosto de 1874. Jornal Fraternidade, maçom, comunica o falecimento do seu membro, médico mais famoso da época, José Lourenço de Castro e Silva. Ele se tratava no seu sítio em Messejana.  Acervo Lucas
Foto de Isabela Rodrigues

Pintura em uma das paredes do sobrado, quando este funcionou como bordel. Foto de Claudecir Azevedo
A situação lamentável que estava o sobrado.
Situado no número 154/156 da Rua Major Facundo, foi protegido pelo tombo estadual (segundo a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968) em 2004 pela Secretaria de Cultura do Ceará. Dois anos depois, o Governo do Estado, com apoio do Instituto Oi Futuro, começa o trabalho de restauração, tendo a frente o arquiteto Domingos Linheiro, que repaginou cores e formas do belíssimo imóvel. A restauração também contou com o auxílio dos alunos da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu. Era devolvido a Fortaleza o luxuoso casarão, de traços neoclássicos, ornado por azulejos, florões e rosáceas e telhado prismático de quatro águas. A fachada principal é coroada com um frontão triangular, com o tímpano preenchido por motivos ornamentais fitomórficos, e apresenta janelas de rasgo e de peito envoltas em arcos plenos nos segundo e terceiro pavimentos, respectivamente. A edificação se destaca também pelo tratamento dado às fachadas laterais, que possuem janelas que dão para telhados vizinhos e cornijas acompanhadas por frisos de azulejos, algo atípico para um sobrado unido às suas divisas.

O Sobrado antes da restauração. Foto: José Rodrigues
O Sobrado antes da restauração. Foto: José Rodrigues
O Sobrado antes da restauração. Foto: José Rodrigues
O Sobrado antes da restauração. Foto: José Rodrigues
Foto: José Rodrigues

Foto: José Rodrigues
O pleito amparou-se nos seguintes fatos para solicitar o tombo do sobrado:

° Evidente mérito arquitetônico da edificação.

° Valioso exemplar remanescente de uma tipologia
arquitetônica quase desaparecida na cidade.

° Precariedade na conservação do imóvel.

° Referência para a história judiciária do Ceará.

° Recentes entendimentos feitos para aquisição do imóvel pelo Governo Estadual, sem dúvida, em face das razões acima arroladas.

O trabalho de restauração foi difícil, pois muitas das técnicas construtivas do Sobrado se perderam com o passar do tempo. Azulejos tiveram de ser refeitos, o mosaico hidráulico era de procedência europeia, o lodo cobria detalhes e engastes, parte da pintura decorativa interna precisou ser refeita, o tempo corroeu as tábuas corridas e fez interferências que precisavam ser corrigidas para que tivéssemos o Sobrado de volta ao seu esplendor, explicou à época Domingos Linheiro, o arquiteto que coordenou os trabalhos.

Foto: Isabela Rodrigues
Em 31 de julho de 2007, o Sobrado Dr. José Lourenço é inaugurado ao público com nova identidade: um novo Centro Cultural aglutinador das artes visuais do Ceará. O espaço abriga salas para exposição, auditório e café, consolidando-se como local de convivência e difusão das artes visuais, possibilitando o acesso gratuito da população a uma programação comprometida com a criatividade artística e a inclusão cultural. 

Foto: Isabela Rodrigues

Foto: José Rodrigues
Teve como primeira exposição, a 4ª Mostra Cariri das Artes, intitulada “O Cariri Aqui!”. Nela, obras de artistas nascidos ou radicados na sub-região cearense foram reunidas. Na ocasião, também houve o lançamento do livro “O sobrado do Dr. José Lourenço”, organizado pelo pesquisador Gilmar de Carvalho e realizado pela Associação dos Amigos do Museu do Ceará. A publicação traz fotos das etapas da restauração, textos de renomados estudiosos cearenses sobre o ilustre médico, além da reflexão sobre os múltiplos usos do sobrado e sua significação.

Com seus mais de 150 anos, o sobrado é uma espécie de sentinela do tempo!

Horário de visitação:

Terça à sexta-feira das 09h às 19h
Sábado das 10h às 19h
Domingo das 10h às 14h.


Entrada Gratuita.



Texto publicado originalmente na minha coluna no Vós.
Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Palácio do Bispo - Paço Municipal




Casarão construído na primeira metade do século XIX pelo Sargento Mor e comerciante português Antônio Francisco da Silva, que lá instalou o seu armazém de alimentos. O prédio depois foi vendido ao comendador e rico negociador, Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, proprietário até 1860. Foi um dos primeiros casarões de Fortaleza, originalmente de linhas neoclássicas. O sobrado destacava-se pelas aberturas encimadas com arcos plenos, apresentando uma predominância de cheios sobre vazios e um aspecto compacto, este expresso pelos altos muros que cercavam a edificação. Situado a Rua das Almas – Hoje Rua São José, entre as ruas Rufino de Alencar e Costa Barros.

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Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

terça-feira, 21 de junho de 2016

Palácio da Luz - Academia Cearense de Letras (Vídeo)


 

Construído com o auxilio de mão-de-obra indígena, o Palácio da Luz serviu inicialmente de residência ao capitão-mor Antônio de Castro Viana. Pertenceu posteriormente à Câmara Municipal, sendo depois vendido ao Estado para abrigar o Governo, pela Provisão Régia de 27 de julho de 1814.

Edificação do século XIX, o Palácio é um polígono com frentes para a rua Sena Madureira, Praça General Tibúrcio e Rua do Rosário e fundos para a rua Guilherme Rocha.



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Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe

O Centenário prédio do Museu da Indústria

 

 


O prédio já abrigou clube, Hotel e até a primeira sorveteria do Ceará.
Um museu, muitas histórias!

Durante o período imperial, mais precisamente em 1871, foi construído o belo sobrado da Rua Dr. João Moreira, 143 (esquina com a Rua Floriano Peixoto). Situado em frente ao Passeio Público, emoldurando o logradouro mais elegante da cidade, foi inicialmente a segunda sede do primeiro clube social de Fortaleza, o Sociedade União Cearense (Club Cearense), que antes esteve instalado num sobrado residencial na rua senador Pompeu.


Veja a matéria completa no Vós



Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e equipe



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Edificações que contam a história de Fortaleza



 

Nos últimos 80 anos vimos a cidade crescer vertiginosa. Alguns prédios ficaram como verdadeiras joias, testemunhas da passagem do tempo. Vamos conhecer um pouco mais sobre o Excelsior Hotel, Instituto Dr. José Frota, Náutico Atlético Cearense, Edifício Clóvis Beviláqua, Palácio da Abolição, Shopping Center Iguatemi, Mercado Central e Centro de Eventos do Ceará.

Veja a matéria completa no Vós



Crédito: Vós

Agradecimento especial: Paulo Maranfon e Ronaldo Moreira (Café)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Casarão dos Gondim - Rua General Sampaio


"No imóvel da rua General Sampaio, a aposentada Maria Guilhermina Gondim, de 91 anos, não esconde o desejo de reformular o lar onde nasceu. Lá o acúmulo de histórias e lembranças, somam-se às altas despesas para manutenção da residência, que possui 16 cômodos. “Eu bem que quero ajeitar, mas não tem como. Esse imóvel é uma herança de família. Hoje 35 herdeiros disputam esta casa. Apesar da minha vontade, é complicado. Pintaria, reformaria as portas, deixaria tudo direitinho porque foi aqui que nasci e me criei. Sou de um tempo que tudo em volta era diferente e apenas nossa casa resistiu”, completou."    

Jornal O Estado de 02 de agosto de 2012
 
Casamento de Guilhermina (Iaiá) e Arlindo Gondim, proprietários do casarão.
Fonte: Arquivo da família Gondim.

Arlindo Granjeiro Gondim construiu o seu casarão da rua General Sampaio (entre a Pedro I e a Avenida Duque de Caxias, então Boulevard Duque de Caxias) entre 1910 e 1912. A casa é elevada, possui porão e tem entrada lateral com escada de acesso em mármore branco. 

"Vovô dizia assim – "Eu vou mandar construir a casa que dê pra rua”. E diziam assim pra ele: – "faça um pouco elevada, porque esse terreno é um pouco úmido". Parece que tinha uma lagoa lá pra trás, não sei onde é, eu sei que o terreno era um pouco úmido. Chamavam meu avô de Coronel, porque nesse tempo, não tinha um negócio de chamar de Coronel quem tinha uma certa posição? Era Coronel Arlindo, que era também o nome do meu irmão mais velho, Arlindo. A Iaiá cuidava muito da casa, a minha avó e o meu avô. Todo ano quase ela mandava limpar e tinham todos os enfeites, era uma cor diferente, ela disse que era bege com "café-com-leite". Mas... agora está diferente. A minha avó ficou morando nesta casa desde que ela foi construída, até falecer. [...] Ela deixou pra mamãe, o testamento, todos já sabiam como era. A mamãe preferiu alugar. De imediato a mamãe não morou aqui, nós morarmos aqui um tempo, porque o vovô era louco pela mamãe e pelo piano, a mamãe tocava quase toda noite pra ele ouvir, então mamãe morava ali, mas era mesmo que morar aqui! Agora a mamãe ficou com a casa e não quis vir logo pra cá, [...] então, quis alugar. [...] Ela alugou a casa. Ela alugou uma pra morar, e alugou esta aqui. Por que esta casa era muito grande e alugava bem, dava pra pagar o aluguel da outra e ainda sobrava [...]. Quando a dona quis vender a casa que ela alugava pra morar, a mamãe disse ao meu irmão que morava aqui: “- Meu filho, agora você já está bem, agora eu quero a minha casa!” – ai nós voltamos pra cá (risos...)! E estamos até hoje, ela faleceu aqui. [...] uma época roubaram as instalações todinhas, antes dos médicos alugarem. [...] Levaram toda a iluminação, era antiga, aqueles candelabros de cristais, toda a instalação! [...] Roubaram tudinho, era tudo de cobre! Tinham lustres aqui na copa, tinham lustres lá na sala, foi tudo!" 
Relato de Maria Guilhermina Gondim.


Arlindo Gondim foi um bem sucedido comerciante, proprietário de marmoraria e de uma Companhia de Bondes Puxados a Burro. A casa, feita para a esposa Iaiá, hoje é ocupada pelas herdeiras (netas). 
No antigo jardim, funciona um estacionamento e o imóvel centenário, está desgastado pelo tempo! 

"Mais uma manhã agitada de sábado no bairro do Centro de Fortaleza. Ao passar pela Rua General Sampaio, lado da sombra da tarde, logo após cruzar a Avenida Duque de Caxias, à altura do número 1406, percebi um casarão com marcos estilísticos do inicio do século XX.

Fachada principal do casarão. Foto de 2007 de Aline Mesquita.

Com uma câmera fotográfica em punho, em busca de edifícios que foram construídos para fins comerciais e institucionais no mesmo bairro, procedia com um levantamento que serviria para pesquisa com objeto bem definido e diferente deste.


De uso residencial, porão elevado e platibandas adornadas, a edificação tem estilo Eclético e elementos Art Déco em sua fachada. Possui acesso principal pela lateral, onde há uma bela escada esculpida toda ela e também seu corre-mão em mármore do tipo Carrara. As esquadrias seguem um ritmo harmônico sequencial e são arrematadas em forma de arco pleno, na parte superior por adornos feitos nessas e também na fachada. Tema que se repete formalmente em seus subsequentes vitrais coloridos dispostos nas bandeiras das portas.

Escada principal de acesso do casarão. Foto de 2007 de Aline Mesquita. 

Possui uma varanda posterior dando acesso a uma grande área a qual sugere que havia um jardim. Destaque para a enorme esquadria contínua, feita em “trelicinhas” de madeira, que faz o fechamento da parte que parecia ser reservada para copa e cozinha. É sem duvida um dos exemplares da maior elegância que se construiu ali. De maior importância arquitetônica, estilística e patrimonial dentre as residências antigas do Centro.

Logo me chamou à atenção a originalidade com que ainda se mantinham suas fachadas. Implantada sem recuo frontal e lateral sul, com frentes para a Rua General Sampaio e para uma área que denuncia a proto-existência de um amplo jardim, obedece a uma forma de implantação da edificação dentro do lote que se remete àquela praticada a partir da segunda metade do século XIX. Forma essa que introduzia elementos paisagísticos à arquitetura residencial, o que até então não era comum.

Esquadrias laterais do casarão. Foto de 2007 de Aline Mesquita.

Até mesmo o gradil e as esquadrias de madeira ainda se mantinham aparentemente originais. Não resisti. Apesar de nada ter a ver com o meu objeto de pesquisa na ocasião, coloquei-me a fotografar. Comecei a fazê-lo ainda do outro lado da rua, fui me aproximando, no sentido de obter melhores ângulos. Quando percebi estava do outro lado da calcada, já adentrando os limites do terreno que se encontrava quase todo ele “ocupado” por um estacionamento, deixando livre apenas a área da edificação.

Detalhe das bandeiras das esquadrias da fachada, decoradas em vitrais coloridos, repetindo o tema em relevo. Foto de 2007 de Aline Mesquita.

À primeira vista o velho casarão parecia estar abandonado, mas logo me surpreendi ao perceber que muito de sua arquitetura original era mantida, então como estar assim e abandonado ao mesmo tempo? Pois repare que se deixar uma casa vazia, abandonada, essa em pouco tempo cede às ruínas. Enquanto que, por mais antiga que ela seja, ao se ter um morador que nela habite, dela cuide e com ela se relacione, consegue atravessar séculos de existência sem tombar. Um dá vida ao outro, numa relação de protocooperação quase simbiótica.


Detalhe da esquadria da fachada dos fundos confeccionada em treliças de madeira. Foto de 2007 de Aline Mesquita.


Ao lado: Detalhe da implantação da edificação dentro do lote.

Segunda impressão: ao perceber o estacionamento que ali estava disperso por toda a área externa do casarão até então de portas cerradas, pensei que lamentavelmente todo ele logo viria ao chão, junto com suas lembranças, quando se fizesse a compra do terreno pelo dono do empreendimento “invasor”.

Abre-se uma janela, surge uma senhora e com ela uma terceira hipótese me veio à mente: poderia ter sido alugada como “casa de cômodos”¹, o que ocorre muito frequentemente com esse tipo de edificação mais antiga nos centros urbanos das cidades. Foi o que aconteceu com muitas das casas antigas e espaçosas na Rua Thereza Cristina, no mesmo bairro.

Detalhe das esquadrias em madeira e do guarda-corpo originais. Foto de 2007 de Aline Mesquita.

Após registrar os detalhes mais perceptíveis a certa distância, como portas, cornijas¹¹ e janelas, coloquei-me a fotografar em detalhe o belíssimo corrimão que, assim como toda a escada de acesso principal da qual ele faz parte, havia sido esculpido em mármore do tipo Carrara, trazido da Itália.

Assim como Octavien - personagem do romance de Gautier - ao retornar à noite à Pompéia e perceber que ela pulsava em vida, e, “[...] extremamente surpreso, perguntou-se se dormia em pé e caminhava num sonho. Interrogou-se seriamente para saber se a loucura não fazia dançar diante dele as suas alucinações; mas foi forçado a reconhecer que não estava dormindo nem era louco [...]”; (GAUTIER, 1999. Paginas 42-43.) assim também me surpreendi quando essa senhora abriu a porta e me convidou simpaticamente a entrar, revelando como o interior daquele monumento era espantosamente ainda mais rico que o exterior, já ligeiramente registrado. Era como a viagem de Octavien. Estava em outra época certamente, na época das cantoras de rádio, dos concertos e programas clássicos com piano, dos saraus na Casa de Juvenal Galeno.

Detalhe do lavatório esculpido em mármore Carrara. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Detalhe da porta do oratório em madeira trabalhada. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Tudo ali me transportava para um novo e antigo tempo: o das memórias daquela família, tão bem resguardadas pelas irmãs que ainda se mantinham igualmente firmes, como o casarão da Rua General Sampaio. Sigo com uma breve descrição do ambiente encantador, para que o leitor se familiarize e possa embarcar nessa viagem instantânea pelo tempo.

Detalhes - gabinete, piso em lambris de madeira, bandeira das portas internas talhadas na madeira. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Detalhe dos quartos interligados. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Ao subir a escadaria esculpida, depara-se primeiramente com uma grande porta feita de madeira, a do acesso principal, encerrada com bandeiras adornadas em arco pleno, contendo vitrais coloridos. Ao abri-la, existe um hall de entrada que ainda mantém a chapeleira à espera de tais acessórios. Logo em frente, uma portinha talhada também na madeira que lembra os antigos confessionários, e dá acesso ao também antigo oratório de Iaiá¹¹¹. À esquerda, um pequeno gabinete iluminado e arejado pelas grandes portas de fechamento duplo em madeira, dispostas lateralmente pela fachada com frente para a via pública. A sala de visitas, onde fica o piano, faz limites em forma de “L” com o gabinete e o oratório.

Os netos de Iaiá e Arlindo. Foto capturada do vídeo "O Casarão" de Maurício Cals

O assoalho em lambris de madeira natural está presente em todos os quartos da casa e também na sala. Pela circulação, um belo e antigo mosaico. Nas áreas molhadas (cozinha, banheiros e lavanderia), azulejos.
Todos os quartos são interligados entre si, através de portas comunicantes e meias-paredes e também se abrem para o corredor, o qual se estende até a copa. Destaque para uma relíquia disposta na parede lateral de um desses quartos, pelo lado da circulação, antes de se chegar à copa: um magnífico lavatório esculpido no mesmo mármore da escada de acesso principal.

Detalhe do piano na sala de visitas. Foto de 2007 de Aline Mesquita

A Compositora e pianista cearense Maria de Lourdes Hermes Gondim. Foto capturada do vídeo "O Casarão" de Maurício Cals

O forro, também em madeira, tem em suas bordas uma moldura adornada e detalhes em treliças para que se dissipe o calor, que é amenizado pelo “pé-direito”(Distância medida entre o piso acabado e o teto (forro) de um ambiente.) alto e pelo jardim para o qual todas as portas da casa se abriam. Portas essas trabalhadas na madeira, com duplo fechamento: o mais externo com partes em venezianas móveis e o mais interno com portinholas do tipo painel cego.
Pelas paredes, fotografias emolduradas seguem uma lógica conceitual escolhida, posto que no corredor de entrada se dispõem as que fazem referência aos casamentos de todos os filhos de Dona Lourdinha (A Sra. Maria de Lourdes Hermes Gondim (Foto ao lado do livro de Linda Gondim - Uma dama da Belle Époque de Fortaleza), filha de Iaiá, de quem herdou o casarão). Logo em seguida, acima do piano, pai e mãe, ainda noivos. 

Segundo o que me relatou D. Guilhermina (Foto ao lado - Maria Guilhermina Gondim, ou “tia Mina”, como costuma ser chamada na família. Neta da Sra. Guilhermina Gondim, ‟Iaiá‟, para quem foi construído o casarão onde mora hoje com sua irmã Maria Thereza Gondim. Foto do livro Coisas que o tempo levou - A Era do rádio no Ceará de Marciano Lopes),  as fotografias de ambos sempre se encontram dispostas lado a lado, obedecendo à época em que foram feitas. Dessa forma, quando há uma fotografia de Dona Lourdinha ainda jovem, há também uma de seu esposo do mesmo período, ambos ainda solteiros. E quando há uma fotografia dela já viúva, não há uma dele acompanhando esta.

Detalhe do forro – bordas e preenchimento em madeira. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Por toda a casa, móveis seculares, alguns deles ainda do tempo de Iaiá. Na sala de visitas, o piano. Um pouco mais recente; data da década de 1930. Aquele que o precedia, e no qual Dona Lourdinha tocava para a família, certa vez viajou com todos para as férias em Mondumbim. Causou o maior alvoroço. Imagino que tamanha aventura deverá ter sido levar um piano na bagagem das férias, junto com os muitos filhos e suas malas. E ainda mais de trem! Como se não fossem suficientes todas essas emoções, havia um detalhe especial: Mondumbim jamais tinha visto nem ouvido um piano. Diz-se que vinha gente de todas as partes de lá para ouvir Dona Lourdinha tocar.

"[...] Lá no Mondumbim, nós tínhamos uma casa de veraneio, papai mandou fazer uma casa num sítio que a gente tinha, ali: tinha a estação de trem, depois tinha o primeiro sítio, o segundo sítio, à direita, era logo o nosso. Ia levantando assim, ficava bonitinha a casa! Porque ficava assim, “alteando”. 
Relato de Maria Guilhermina Gondim.

Porta rasgada com guarda-corpo externo e bandeiras em vitrais coloridos.
Foto de 2007 de Aline Mesquita

Segundo me relatou tia Mina (acostumei-me a assim chamá-la, de tanto ouvir e também a pedido dela mesma), ele foi vendido porque se encontrava tão antigo que “a afinação não segurava mais”, não valia mais a pena consertá-lo. Também, depois de uma viagem de trem, convenhamos!

Cristaleira em madeira marchetada e espelho com acabamento bisotado. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Armário guarda-roupas da Iaiá. Foto de 2007 de Aline Mesquita

Foto capturada do vídeo "O Casarão" de Maurício Cals

Na copa, a mesa de Iaiá foi doada ou vendida a alguém da família, e no lugar desta se encontra uma outra, também antiga, que “Duzuza” (Sr. José Leite Gondim, esposo de Maria de Lourdes H. Gondim),  como era chamado na família, adquiriu comprando-a de seu grande amigo Firmeza. Foram colegas de profissão no Liceu do Ceará, onde lecionaram e onde os filhos estudaram juntos; e vizinhos de frente no Mondumbim, onde tinham casas de veraneio. Descobri mais tarde (justamente por conta dessa mesa) que esse amigo ao qual se referia tratava-se do pai de “Estriguinhas”¹¹¹¹, tão conhecido memorialista de nossa cidade, e colega de Liceu e de infância de tia Mina e suas irmãs."
Aline Mesquita Martins Rosa

Lindo vídeo intitulado "O Casarão" de Maurício Cals, feito em agosto de 2003 e publicado originalmente em 29 de agosto de 2008:


Relatos de Maria Guilhermina Gondim - Uma das herdeiras do casarão:

[...] Papai quando veio do Seminário começou a conhecer a família, ir às casas da família; visitando e visitando; e quando visitou o vovô Arlindo, meu avô, que era o dono dessa casa, conheceu a mamãe. Ele ficava com receio de vir aqui, a mamãe era só uma e tinha-se muito respeito, naquele tempo, aos mais velhos. Tinha uma tia, irmã da minha avó, casada com um irmão do meu pai, tia Clarinha. Ela era viúva, então ele ia lá, conversava com a tia e as primas, mas de olho aqui! Vinha mais lá, e aqui menos.

[...] À praia, eu lembro bem que a gente adorava! A praia era mais forte como hoje, mas ninguém tomava banho não, só foi tomar banho, mais já mocinhas. Só pra dar uma volta, ir até lá de bonde. Era bom! Era aqui mesmo, na Praia de Iracema. O papai mostrava o Seminário: “- Olha, eu passei oito anos aqui!” – e dava uma voltinha no bonde, era muito bom!

[...] Canto estudou só eu. Andou aqui uma professora do Rio de Janeiro e a mamãe foi convidada, mas não podia ir pro Conservatório porque ela não tinha tempo. Ai a mamãe disse: “- Vai, Guilhermina, você vai!” e eu fiz esse curso no Conservatório, que ainda era lá perto do Passeio Público, com a professora Marina Menezes. Era uma cantora clássica carioca, uma senhora. E as aulas dela, tão engraçadas! A gente fazia: “Aaaaaaa...”, as primeiras, ai, com os sons de piano, tinham as escalas: “Aaaaaaa...” e depois tinham arpejos, que era: “Aa-aaaaa”. Ai vai dando os tons e a gente vai cantando, e cantando – cantando não, só dando as notas.

[...] Antes da gente começar a cantar, a mamãe já tocava num programa. Tinha um na hora do almoço da “Cearense”, a loja enorme, era muito afamada, era do Sr. Aprígio, que era nosso vizinho lá da Rua Assunção, o Sr. Aprígio Coelho de Araújo. Era ali naquela esquina, a loja, enorme!

[...] Quando começou a TV eles me convidaram. Nem pagavam, nem tinha transporte, nem nada. Daí eu ainda fui, mas disse à mamãe que era longe. Se tivessem ao menos um transporte! Então eu fui, mas comecei a me esquivar. Ai também, sabe, o ambiente não era muito... Era pesado, um pouco pejorativo. 

O Estacionamento



Meu irmão quis vir do Rio Grande do Sul, nesta época, idealizou este estacionamento e a mamãe aceitou. Derrubou as árvores e fez. Ai tudo era árvore, no tempo da Iaiá, era jardim, sabe, era lindo! E tinha tudo: coco-babão, tangerina, cajaranas! Menina, eram tantas, tinha tanta fruta que era um horror! Mas daí, pra fazer o estacionamento, tiraram as árvores, tiraram tudo; e ai está o estacionamento.




Gif

¹ O mesmo que pensão, pequeno hotel de caráter familiar, onde as pessoas alugam os quartos a preços mais acessíveis, e onde mora uma família, geralmente proprietária desse bem, que não dispondo de condições financeiras para mantê-lo, transformam sua tipologia de uso como tal.

¹¹ Conjunto de molduras salientes que servem de arremate superior às obras de arquitetura.

¹¹¹ Apelido carinhoso cujo qual todos se referem à matriarca da família, para quem foi construída a residência, entre 1910 e 1912, a Sra. Guilhermina Gondim.

¹¹¹¹ Como o chamam na família Gondim. Nilo de Brito Firmeza é historiador, artista plástico, odontólogo e memorialista. Entre outros feitos, como diversas exposições nos Salões de Abril, mantém, juntamente com sua esposa e também artista plástica, a Sra. Nice, o “Mini-museu Firmeza” localizado no sitio da família, em Mondumbim, onde atualmente reside o casal.

EDITADO EM 15/07/2017:

Observação:
De acordo com Rosana Maria Aguiar Gondim,
a senhora Maria de Lourdes Hermes Gondim não era filha única, tinha um irmão chamado José Hermes Gondim que era casado com Henriqueta Machado Gondim, filha de Manoel Firmino Bandeira e D. Maria das Dores Machado Bandeira (Dorinha). Eles tiveram 8 filhos: Edmar Machado Gondim, Arlindo Machado Gondim, Maurício Machado Gondim, Murillo Gondim (que morou anos no casarão com a avó (já viúva), José Henrique Machado Gondim, Pedro Machado Gondim, Paulo Machado Gondim e Maria Hirtes Gondim Gregorious, todos netos do casal Arlindo Granjeiro Gondim e Guilhermina Monteiro Gondim (Iaiá).

:( EDITADO EM 21/07/2021:

No último final de semana, dia 17/07, aconteceu a demolição ilegal do casarão.  Por que ilegal? Porque o imóvel estava em tombamento provisório, o que significa que já não poderia sofrer mudanças estruturais. O casarão sucumbiu na calada da noite! :( 
Revoltante!!!

Foto: Lauriberto

Foto: Jornal O Povo

Foto: Jornal O Povo

A bisneta de Arlindo, a socióloga Linda Gondim - que também é professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) com doutorado em Planejamento Urbano, em entrevista ao Jornal Diário do Nordeste,  lamentou a perda de um patrimônio da história da sua família e da cidade: "Foi uma surpresa, e devastadora".

"Confirma um descaso muito grande pelo patrimônio material e imaterial também. Inclusive, você vê os imóveis sendo desfigurados, a propósito de conservarem, restaurarem. A multa para quem faz a demolição é muito baixa, é irrisória. Os compradores preferem pagar a multa e derrubar. E, geralmente fazem isso na calada da noite, sexta-feira à noite, e durante o fim de semana. E foi desse jeito que aconteceu com o Casarão: na sexta-feira, iniciou e, no sábado de manhã, foi concluída a demolição."
LINDA GONDIM
(Socióloga)


Crédito - Dissertação HISTÓRIA DAS CASAS COMO HISTÓRIA DA CIDADE de Aline Mesquita Martins Rosa, submetida à Coordenação do Mestrado em História e Culturas da Universidade Estadual do Ceará – UECE

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