Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Riacho Jacarecanga - Antigo Timbó
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sábado, 17 de novembro de 2012

Riacho Jacarecanga - Antigo Timbó


Álbum Vistas do Ceará 1908

O riacho Jacarecanga nasce (segundo Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982) nas proximidades do cruzamento da Avenida Bezerra de Menezes com a Rua 14 de Abril, local onde acaba o Rio Pajeú e sua foz localiza-se na Praia do Kartódromo

Avenida Bezerra de Menezes

Por volta da década de 80, o riacho Jacarecanga tornou-se de grande importância na região por localizar-se em um bairro Nobre. Ele era considerado uma área de lazer do Bairro Jacarecanga de Fortaleza, onde as pessoas aproveitavam a limpidez do riacho e tomavam banhos refrescantes em dias ensolarados. Aproveitava-se o riacho para a prática de pesca de peixes ornamentais e entretenimento dos moradores. 

Em 1915, devido a seca no sertão nordestino, registrou-se a grande migração de sertanejos do interior do Ceará para a capital em busca de melhor qualidade de vida. A migração prejudicou o crescimento ordenado da cidade, favorecendo o aparecimento de moradias irregulares. Com isso, pessoas de condições socioeconômicas desfavoráveis começaram a ocupar as proximidades do bairro Jacarecanga, deslocando a elite para o bairro Aldeota

Nessa época, a praia era conhecida como Praia do Kartódromo

A praia lotada...e essa areia vermelha... Essa é a praia da Leste (ou Praia do Jacarecanga) e a areia vermelha (piçara) era o aterro feito na construção da Av. Leste Oeste. Nessa época não tinha ainda as barracas e nem o péssimo cheiro da estação de tratamento da Cagece.

No final da década de 1980 e início da década de 1990, instalou-se na Praia do Jacarecanga (Leste-Oeste) uma Estação de Tratamento de Esgotos. Logo, esses acontecimentos influenciaram bastante para que houvesse uma grande desvalorização do bairro, com a instalação definitiva de uma população de menor poder aquisitivo e escolaridade, além da desassistência pelos órgãos público-governamentais. 
A partir de então, residia no local não mais a elite, mas os pobres que não reconheciam seus direitos perante o governo e que assim não reivindicavam as condições básicas de vida como, por exemplo, o saneamento básico da referida área. Deu-se início aos depósitos de entulho no leito do riacho e esgotos clandestinos com desembocadura no córrego em questão.

O riacho Jacarecanga foi sendo degradado ambientalmente. A mata ciliar desmatada para ocupação das moradias irregulares, que em tempos chuvosos, eram inundadas, facilitou o assoreamento do seu leito, eutrofização das águas do riacho e a proliferação de vetores como insetos, ratos e caramujos, responsáveis por riscos à saúde humana.

Lagoa (riacho) Jacarecanga em foto do Álbum Vistas do Ceará 1908.

A foz do riacho Jacarecanga, que antigamente chamava-se Timbó, já era registrado pelos holandeses, quando estes estiveram no Ceará (Mapa de Fortaleza de 1649).

Às margens esquerda e foz deste foi construído em 1749 uma fortificação militar Reduto de Jacarecanga*, neste mesmo local nos dias de hoje localiza-se a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará.
Com a expansão territorial de Fortaleza no século XIX, as margens do riacho Jacarecanga começa a ser consolidada como um bairro com casas de veraneio e igrejas ou conventos, como o Instituto Bom Pastor.

Localizado em parte na Avenida Francisco Sá, nas proximidades do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, o riacho Jacarecanga apresenta-se como uma grande fonte histórica para o bairro que lhe dera nome.
Durante várias décadas, o riacho Jacarecanga apresentou-se como uma rica fonte de sustento para a população do bairro, que pescavam em abundância os peixes das mais variadas espécies, algumas delas ornamentais. O riacho também foi uma área de lazer para os moradores que diariamente banhavam-se em suas águas.
Entretanto, ao iniciar-se o século XX, com a situação apresentada no Ceará, em virtude das migrações de povos do interior, o riacho acabou por ter suas margens indevidamente ocupadas por construções irregulares. Tal ocupação resultou em um processo negativo, uma vez que a mata ciliar que dava proteção fora desmatada, deixando as condições estruturais do solo em um índice de tal fragilidade que formou-se blocos de terra no leito do riacho, levando a uma gradual diminuição do nível das águas.
Não só esse processo levou a uma deterioração do riacho, o acúmulo de dejetos produzidos pelos migrantes as margens do riacho foi aumentando de tal forma que acabaram sendo carregados juntamente com os deslizamentos de terra, depositando-se nas águas do riacho e acarretando, consequentemente, um processo contaminativo das águas.

Foto Sbpcnet.org

Hoje o riacho passa por uma acentuada degradação ambiental, está com o seu leito muito poluído, suas margens estão cobertas por entulhos, exala um odor muito forte, provocado pelo lançamento de esgotos, dentre outros problemas. O riacho Jacarecanga apresenta-se como uma fonte de depósito de resíduos dos mais diferentes tipos: orgânicos, plásticos, domésticos, etc.
O riacho tem uma extensão de 2,02 km. Há um índice de contaminação de 16000 coliformes fecais (micro-organismos presentes em águas contaminadas) por 100 ml (TONIATTI, Mariana – O POVO online).

Crédito da foto: http://connepi.ifal.edu.br

A população que mora ao redor do riacho reclama muito porque os órgãos públicos não realizam obras de revitalização do córrego em questão, o que seria de extrema importância para melhorar as condições de vida da área em estudo. Contudo, a própria população ainda persiste nos hábitos de depositar lixo doméstico nas margens, escoar seus esgotos para o leito do riacho, desmatar a mata ciliar, realizar queimadas de lixo, dentre outros.

Atualmente, o riacho poderia até ser um local de lazer para a população, servindo inclusive como fonte de renda para alguns, mas devido às ações contínuas de degradação ambiental,
decorrentes de ações antrópicas irresponsáveis, foi mais um exemplo claro do desrespeito e desvalorização ao meio ambiente.
No riacho Jacarecanga o descaso ambiental assumiu patamares alarmantes. Há uma grande quantidade de lixo nas margens e águas do riacho.

Esgoto doméstico despejado no leito do Riacho Jacarecanga - Crédito da foto: Connepi2009

Segundo comentários da reportagem realizada pelo jornal Diário do Nordeste em 27 de Dezembro de 2007  "Com os canais e riachos cheios de lixo, a chegada das chuvas é um alerta para a população e para o poder público. Diversos mananciais da Cidade, em áreas onde é comum acontecer inundações e alagamentos, estão tomadas por lixo, vegetação e entulho. A pior situação, no entanto, acontece no riacho Jacarecanga, com tanto lixo que a quantidade de água que circula não é suficiente para escoá-lo". 

Os moradores da região são responsáveis pela maior parte dos resíduos encontrados no local. Entretanto, constata-se que os moradores vivem um paradoxo, pois justificam suas ações afirmando que a falta de coleta de lixo e a carência financeira os levam a jogar seus detritos nas margens do riacho e até mesmo dentro de seu leito, ao mesmo tempo em que afirmam a importância da conservação das condições da qualidade de vida de todas as espécies da área do riacho. A população torna-se responsável direto pela situação que se encontra atualmente o querido riacho Jacarecanga.

*O Reduto de Jacarecanga, incorretamente grafado por BARRETO (1958) como Reduto de Jarecamara, localizava-se em Jacarecanga.
É uma estrutura citada por BARRETTO, que informa tratar-se de fortificação existindo em 1749, artilhada com duas peças.
Posteriormente, instalou-se no bairro da Prainha a recém-criada Companhia de Aprendizes-Marinheiros, em 26 de novembro de 1864. Em 1 de Outubro de 1908, mudou-se para o bairro de Jacarecanga, onde permanece até hoje.



Impactos ambientais no riacho Jacarecanga e a importância da educação ambiental dos Ribeirinhos - Referências Bibliográficas:  
BRASIL, Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003. Conselho Nacional de Recursos Hídricos 
BRASIL, Decreto n°15274 de 25 de maio de 1982. Disponível em - www.semace.ce.gov.br. Acessado em 30/07/2009 
D’ABRONZO, Giuliano Pereira. A importância da água. Disponível em www.tribunatp.com.br. Acessado 
em 7/07/2009 
DACOSTA, Ana Carolina Oliveira.  Desperdício de água cresce. Disponível em www.recantodasletras.com.br. Acessado em 27/07/2009 
GOBBET, Cassiano.  Água contaminada. Disponível em  www.ambientebrasil.com. Acessado em 2 de 
agosto de 2009 
SALES, José.  Inventário ambiental, comentário do Caderno CIDADE, do jornal Diário do Nordeste. 
Disponível em www.inventarioambientalfortaleza.blogspot.com. Acessado em 7/07/2009
TONIATTI, Mariana. Ciência e Saúde. Disponível em www.opovo.com.br. Acessado em 7/07/2009. 

5 comentários:

  1. No começo de 2014 a Prefeitura Municipal de Fortaleza, inicia o processo de limpeza do Riacho Jacarecanga na administração do atual Prefeito Roberto Cláudio! Viva!

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  2. Impressionante o quão é descarado o racismo da autora. "Esses migrantes" são seus conterrâneos e passaram pelos piores flagelos. O problema não é a seca, mas a cerca. Não é culpa da população, mas descaso do Estado, que sequer leva saneamento básico e coleta de lixo decente para o povo.

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    1. Não acho que a autora do artigo 'Impactos ambientais no riacho Jacarecanga e a importância da educação ambiental dos Ribeirinhos' tenha cometido aporofobia, mesmo assim, substituí o "esses" por "pelos".
      Obrigada pelo comentário!

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