Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Piscininha da Praia de Iracema
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 24 de abril de 2019

A expansão urbana de Fortaleza: O desinteresse da cidade pelo mar - Parte II

Vista da Praia Formosa na altura do atual Moura Brasil.O trilho levava ao porto na Praia de Iracema. Foto da 1ª metade do século XX. Acervo Carlos Augusto Rocha
Praia de Iracema em 1936. Acervo Lucas Jr
Fortaleza descobre o mar

A partir do século XX, com movimento de tomada de consciência no domínio da literatura, permitiu-se incorporação lenta e gradual das praias, notadamente com a adoção de novas práticas marítimas surgidas na Europa: os banhos de mar, as caminhadas na praia e o veraneio. A considerável faixa de praia de Fortaleza passa a ser o novo ponto de encontro da cidade, além de despertar o interesse dos veranistas mais abastados.
Este lento movimento da cidade em direção à zona costeira cresce no tempo, com a incorporação gradual e progressiva de áreas anteriormente ocupadas por populações pobres, gerando conflitos entre as camadas da sociedade fortalezense, suscitando a expulsão da classe menos abastada. Em Fortaleza constitui-se este movimento no início do século XX, com a descoberta da Praia de Iracema como área de lazer e veraneio.

Praia de Iracema em 1938
A praia ainda era dos jangadeiros.
A valorização do litoral como parte integrante da cidade é algo recente na história do desenvolvimento de Fortaleza. A relação da cidade com o litoral surge a partir da instalação do Porto nas intermediações da Praia de Iracema. Porém, a presença dos moradores mais abastados era evitada, por ser ocupada pela população de baixa renda.
Além disso, a localização da zona de meretrício nas redondezas do Porto, e a ocupação das dunas que margeiam o litoral em direção norte/nordeste por favelas foram, sem dúvida, fatores que levaram durante algum tempo ao desinteresse dos fortalezenses pelo litoral com a finalidade de aí se fixar.

Vista do Cais da Praia de Iracema, então porto de Fortaleza em 1935. Robert S. Platt
Aos poucos o imaginário social dos fortalezenses sobre o mar é modificado em virtude das descobertas de novas práticas marítimas. No Meireles são criados sítios para o tratamento da tuberculose. Uma outra prática marítima diz respeito às serenatas realizadas sobre as dunas próximas a área central da cidade.
Porém, as práticas marítimas citadas não foram capazes de possibilitar a litoralização da zona de praia de Fortaleza, pois o tratamento da tuberculose não aconteceu exclusivamente no litoral e as serenatas eram atividades pontuais de lazer.
Somente com a descoberta de novas práticas marítimas, como os banhos de mar, que o  litoral passa a ser valorizado como lugar de lazer. Este movimento de valorização do litoral muda o olhar da elite de Fortaleza em relação à zona de praia, notadamente a Praia de Iracema, que deixa de ser o lugar da simples contemplação e adquire maior importância com os banhos de mar. Este movimento definirá uma nova caracterização social, demográfica e urbanística desta zona, com o deslocamento da população e a mudança dos usos, resultante da presença de veranistas.
Com a descoberta dessas novas práticas marítimas, a Praia de Iracema passa a competir com outras áreas de lazer da cidade, como a Praça do Ferreira e o Passeio Público.
A Praia passa a ser o lugar da sociabilidade por excelência. Um paradigma de alteridade tão forte que sobrepõe a lógica da centralidade do plano em xadrez de Herbster, reconstruindo a cidade em torno de uma autorreferência do vivido social.

Praia de Iracema na década de 30. Imagens de Bangalôs de frente para o mar. Arquivo Nirez
Acervo Ângela Gurgel
Um fator determinante, que veio facilitar o deslocamento da população para aquela área foi a instalação da linha de bonde na Rua Tabajara em 1927, ligando a Praia de Iracema a área central da cidade, consolidando aquela zona de praia como área de lazer e veraneio.
Um marco do início da fixação de moradia da elite é a construção da residência “Vila Morena”, atual Estoril, do comerciante pernambucano José Magalhães Porto, marcando o início da urbanização da área. Com a chegada da elite, vinda da área central da cidade, para a realização de práticas de lazer e veraneio na Praia de Iracema, a permanência da população de baixa renda passa a ser inviável, devido à especulação imobiliária, aumentando o valor do solo naquela área, gerando expulsão da população pobre.


Acervo Ângela Gurgel
Vale destacar, que a descoberta da praia pela elite não corresponderá a uma reorientação do crescimento de Fortaleza para as zonas de praia, pois se trata simplesmente de uma política pontual de urbanização da Praia de Iracema, em resposta à demanda da população das proximidades por banhos de mar. A partir da década de 1930 a elite passa a construir Bangalôs na Praia de Iracema para desfrutar melhor os banhos de mar. Este tipo de
construção, próximo à zona de descanso das jangadas, mostra a influência da cultura europeia na cidade, expressada não somente na arquitetura, mas também nos hábitos da população.
Praia de Iracema na década de 20.  As mulheres são das famílias Caminha, Pompeu e Moreira Rocha. Arquivo Gerard Boris. Fonte: Livro Ah, Fortaleza (2006).
Acervo Ângela Gurgel
Desde o final do século XIX, a Praça do Ferreira disputava com o Passeio Público à preferência de principal espaço de lazer da classe abastada fortalezense. Até a década de 1930 o entrono da Praça do Ferreira configurava-se como um reflexo da dinâmica da própria cidade, encontrando-se em seu entorno as mais diversas funções. Além dos edifícios representativos do poder público, do comércio, dos hotéis e do setor residencial, a função lazer se manifestava através dos cinemas, cafés e clubes. Porém, com a descoberta do mar pelos moradores mais abastados, estes passam a descobrir a praia como local de lazer e de deleite visual. No que concerne este processo de ocupação da orla marítima de Fortaleza, Rocha Júnior, (1984, p. 4) afirma:

Acervo Ângela Gurgel
A Praia de Iracema, até então local de “jogo de caipira, pinga e facada de pescada” adquire novas funções urbanas. A Praia, constituída por jangadeiros com suas casas de palha, com suas areias muito limpas e repletas de coqueiros, desperta a cobiça dos urbanistas mais abastados.
Um dos primeiros foi o coronel Porto, comerciante vindo de Recife, que em 1926 inaugura o seu palacete eclético, onde hoje funciona o restaurante Estoril. Em torno da casa dos Portos, novos pequenos palacetes se levantam, formando aos poucos um ensaio de feição eclética onde se
destacam os telhados de telha francesa [...]

O interesse pela praia cresce... Praia de Iracema na década de 30.
Bangalôs na Praia de Iracema por volta de 1940, quando o mar começava a destruir as edificações à beira-mar. 
Náutico em 1929, ano de sua fundação. Arquivo Nirez
Essa afirmação evidencia que aos poucos alguns equipamentos de lazer passam a se instalar na faixa litorânea. Já em 1929, o clube Náutico Atlético Cearense tinha sua primeira sede instalada na Praia Formosa, nas imediações da Ponte Metálica. Ao mesmo tempo em que a Praia de Iracema marcava o inicio de sua trajetória como ponto de encontro e recreação da cidade.
Destacando este momento de incremento de equipamentos de lazer, destaca um antigo morador da área, o Senhor Ozarias Ferreira Lima:

Na Praia de Iracema surgiu muita coisa bonita, surgiram muitos balneários naquela época, eles eram ótimos para o fim de semana. Balneário naquela época [1944] eram os locais onde se guardava as roupas e os objetos pessoais, deixava dentro de uma caixa de madeira numerada e descia para a praia. No fim do dia ia lá tomar banho para tirar o sal do corpo, pois lá tinha várias duchas. No período da Guerra, quando o Estoril era para a diversão dos americanos, surgiram vários bares e restaurantes no entorno dele. Havia o Bar São Jorge que mesmo tendo fama de ser meio perigoso [...], atraía gente de todo canto de Fortaleza, principalmente o pessoal que morava ou trabalhava pelo Centro.



Defesa da Praia de Iracema em 1949.
Era visível que a Praia de Iracema vivia seu período áureo. A Praia passa a ser destacada na música e na literatura dado o modo como se inseriu no cotidiano da cidade, Ozarias Ferreira destaca também que:

Quebra-mar da Praia de Iracema.
As jangadas da Praia dos Amores passaram a ter que concorrer espaço na praia com os bangalôs e bares que surgiam a toda parte. Na Ponte Metálica só chegava agora navios enormes, por causa da Segunda Guerra. E quando esses navios chegavam era uma festa, pois como os navios não atracavam na ponte, os jangadeiros eram chamados para ajudar a ir pegar o pessoal que vinham nos navios. A Praia realmente atraía muita gente. A Senador Pompeu e a Barão do Rio Branco eram as ruas que mais facilitavam o acesso dos que estavam no Centro para o Mar. Pela manhã tinha os banhos na praia e as peladas, eu mesmo era do time da rua Dragão do Mar, porque o futebol já era muito popular naquela época, naquela região da Praia tinha o time do América, que era um dos grandes da cidade. A Ponte Metálica além de servir pro porto servia também pra pesca, além de ser muito bom para dar saltos no mar. Naquele tempo não havia essa história de surf por aqui não, a moda era brincar de carretilha, onde a gente pegava um bom pedaço de madeira e ficava deitado nela deslizando nas ondas. A noite tinha as serestas, que varavam a madrugada.
Tudo só começou a piorar quando surgiu os quebra mares, que arrasou com a Praia, no começo não foi tão ruim, porque tinha um quebra-mar que formava uma grande poça d’água quando a maré subia, que a gente chamava de Piscininha.

Praia de Iracema anos 50.
Praia de Iracema em 1982, vendo-se a piscininha. Gentil Barreira
Praia de Iracema nos anos 90. Foto do Livro Fortaleza, 27 Graus.
A área do Poço da Draga, destacado por ser uma área de meretrício de Fortaleza, é destacada pela senhora Maria José Ferreira Lima, como um local com pontos de lazer:

Apesar do Poço das Dragas ser esquecido ou deixado de lado por muita gente, acho que pelo fato de as cinzas das caldeiras da Light serem jogadas lá, ia muita gente, ou que morava na Barão do Rio Branco ou que trabalhava na RVC, já que estes tinham mais contato por lá, pois vendiam lenha tanto para a Light quanto para as mulheres que moravam no Curral das Puta. Esse pessoal aproveitava a maré baixa para brincar um pouco na praia, principalmente jogar futebol. A Praia do Paredão, como algumas pessoas chamavam aquela região por causa de um enorme muro construído contornando o estaleiro, nunca atraiu muita gente, mas quem queria encontrava diversão.


As Três Marias - Regina Célia, Bidu Reis e Hednar Martins na Praia de Iracema. Acervo Luciano Hortêncio
Porém, o uso da Praia de Iracema para as práticas marítimas é efêmero, pois com a transferência do Porto do Poço das Dragas para o Mucuripe, além de resultar no abandono e consequente deterioração dos armazéns das Dragas, provocou uma série de problemas ambientais, tendo a área preferencial para banho na Praia de Iracema sendo violentamente atingida pela corrente da costa, resultando na erosão da praia. A privilegiada paisagem praiana é destruída, resultando apenas pequenos trechos da praia com balneabilidade.

Praia de Iracema vendo-se um Bangalô destruído em decorrência do avanço do mar. Fonte: Arquivo Nirez
Os abastados vão buscar na periferia, notadamente a zona leste da cidade, área para lazer e moradia. A respeito das práticas marítimas e a decadência ocorridas na Praia de Iracema entre as décadas de 1940 a 1950, um ex-morador do bairro, Walter Matos, relata:

A Praia de Iracema era uma área muito dinâmica pro lazer. Havia inicialmente maioria de homens, que iam para aquela área em busca de prostitutas, era uma espécie de Passeio Público daquela época. Com o passar do tempo, as mulheres de família passaram a frequentar a Praia dos Amores, só que homens e mulheres tomavam banho em lugares distintos, era falta de respeito um homem tomar banho com a mulher da frente de todo mundo. A Praia de Iracema atraía muita gente do Centro da cidade, pois como o Poço das Dragas, que era pra ser a praia da população do Centro estava quase que todo ocupado com as atividades do Porto, não dava para tomar banho de mar. Principalmente nos finais de semana, o bonde Praia de Iracema, que saía da Praça do Ferreira e ia até a Igrejinha da Praia de Iracema, vinha lotado de gente vinda do Centro que queria passear pela praia, era moda naquela época. Esta ficando tão famosa quanto a Praça do Ferreira. Quando eu era pequeno, ia a Praia para brincar na Piscininha, um espelho de água do mar formado por um paredão de pedra que ficava próximo ao Estoril. Era tudo muito divertido.
Pegávamos um pedaço de madeira e íamos brincar de carretilha na Piscininha, deslizando na água. O ponto de encontro das crianças naquela praia era aquele lugar. Por falar em Estoril, ele tinha uma função muito diferente do que é hoje em dia. Ele servia naquela época como ponto de encontro dos marinheiros americanos no período da 2ª Guerra Mundial.
Todo mundo queira ir lá conhecer eles, pois não era todo dia que aparecia tanta gente vinda de longe com notícias sobre a Guerra, porque as notícias demoravam muito para chegar por aqui, só tínhamos o rádio para saber das novidades no mundo. Tinha gente que dizia ver submarinos e bombas dos alemães na Paria de Iracema. A Praia de Iracema era um lugar muito bom de viver, pena que durou pouco. Muita gente ficou assustada com a força do mar um tempo depois que retiraram o Porto do Poço das Dragas para colocar na Ponta do Mucuripe. As casas da Praia de Iracema que eram muito bonitas, parecendo aquelas que víamos em fotos da Europa, foram todas destruídas pelas ressacas do mar, a Piscininha sumiu e a parte de areia também.

Praia de Iracema em 1953. Livro Caravelas, jangadas e navios - Uma Historia Portuária, de Rodolfo Espínola.
Em meados da década de 50, a Praia e a área central de Fortaleza passam por intensa degradação estrutural, como a falta de pavimentação das ruas, sistema de esgotamento sanitário e coleta regular de lixo.
Essa decadência proporcionou a construção de uma imagem negativa da área. Além da perda do dinamismo recreativo, a praia de Iracema perde sua função econômica. A instalação do porto do Mucuripe resultou também na estagnação do comércio da área em frente ao núcleo central, com o deslocamento dos armazéns e depósitos para as novas docas. Era mais uma etapa no processamento da paisagem litorânea pelo qual passava a praia de
Iracema. Banhistas, clubes e restaurantes ao buscarem ouras praias, traziam de modo mais visível o processo de diferenciação espacial e a segregação residencial pelo qual passa a cidade. Sem a praia do lazer do catraieiro do porto e do prazer dos ricos, passava a ocorrer de modo mais intenso fato semelhante ao que ocorria no espaço urbano de Fortaleza, tendo a partir daquela situação a efetivação das praias dos ricos e dos pobres, distribuindo a população pelo nível de renda.

Praia de Iracema na década de 70. Foto de Nelson Bezerra.
A partir da década de 1970 a Praia de Iracema, através de movimento iniciado na Europa, passa a se fortalecer enquanto área de exaltação as artes e a boemia, com hábitos especificamente noturnos. Essa nova utilização do espaço intensifica-se  a partir dos anos 1980, por meio da instalação de variados restaurantes, dando uma dimensão mais comercial e nova dinâmica para a área, diferenciando-se do domínio residencial da década de 1950.


Primeiro dia de funcionamento do Pirata Bar em 21/11/1986.
Entre essas novas instalações o Pirata Bar, inaugurado em 1986, ganha destaque nacional, com a promoção de festas às segundas-feiras, tendo como principal atração o forró. As festas passam a ter grande divulgação, aumentando o fluxo de turistas para a Praia de Iracema.
Na década de 1990, novos equipamentos paisagísticos e de lazer da cidade, como a reforma da Ponte dos Ingleses, o calçadão e o Centro Dragão do Mar surgem no contexto de revalorização da Praia de Iracema, reconfigurando um cenário urbano com o objetivo de espetacularização com vistas ao turismo.

Nesses períodos mencionados, a área central de Fortaleza passa a amargar um expressivo abandono em suas atividades, pois estas eram voltadas para uma demanda populacional que passa a não mais frequentar a área. Com a não permanência de moradores mais abastados, devido o mesmo passar a ter uma função social voltada agora predominantemente para as atividades comerciais da classe menos abastada, se tem uma cisão entre esta área com as práticas marítimas.


Leia também a Parte I


Fontes: A cidade e o mar: considerações sobre a memória das relações entre Fortaleza e o ambiente litorâneo - Fábio de Oliveira Matos. 
DANTAS, Eustógio Wanderley. Mar à vista: estudo da maritimidade em Fortaleza. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 2002. 
BARROSO, Gustavo. Terra do sol: natureza e costumes do Norte. Rio de Janeiro: Benjamim Aguila, 1912.  
LINHARES, Paulo. Cidade de água e sal: por uma antropologia do litoral do Nordeste sem cana e sem açúcar. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1992.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Um passeio na história pela Praia de Iracema - Literatura de Cordel (Parte V)



Praia de Iracema em 1956. Acervo Fátima Porto Belém


Luís Antonio de Aragão




APRESENTANDO AMIGOS E MORADORES DA PRAIA DE IRACEMA

É Ernani Barreira
Nosso Desembargador
Helio Rola e seus murais
Vescencio é bom editor.
No Estoril Cláudio Pereira,
Sua mesa era a primeira
Ali foi o frequentador



Arquivo Nirez

Dirige, Francisca a AMPI
Dedé e Acrísio presentes,
Vital, Marçal, Ascânio
E Edmundo, são pés-quentes
As bancas de Miti e Pedo
Abertas são muito cedo
Dando notícias recentes



O Poço da Draga - Arquivo Nirez

Poço da Draga é Iracema
A história é quem conhece
Valdomiro e Tapiocas,
Valmir, Fuampa, quem esquece?
San, Urso, Geralda, Paulão
João Brito, a Associação
Aplauso bem merece

Adeus Jamu e Peixoto
Tem, Cristina e Paulinho,
Jeová, Edílson e Caubi
Madalena e Betinho
Ronaldo, se foi Zezinho,
Pipiu, o mundo é moinho
Eurico, a vida é carinho



 Família do poeta Juvenal Galeno na praia de Iracema

Dunga Odakan, poeta
Serrão vive a cantar
Carlinhos Palhano, artistas
Gegê, fez bem comprovar
De Francesco Vicente,
Zeno fez “Canto da gente”
E Audifax, “Iracemar”

José Tarcisio, artista
No corredor do Dragão
Fez ali bela passagem
Da vida, continuação
D’Costa, poeta, cantor
Mágico das telas, pintor
Os dois, um só coração



Os jangadeiros cearenses homenagearam a memoria de Juvenal Galeno no 30º dia de sua morte, promovendo tocante solenidade em plena praia de Iracema. 
Jornal Correio do Ceará de 30/03/1952


Augusto, Paulo, Bastião
Petrônio, William Doutor
Bombinha, Quinquinha e Misso,
Banana é bom jogador
Baiaca, de Gato, sócio
Com Zé Guedes, o negócio
Não precisa fiador

D. Maisinha e Claúdios
Vicente, Ernani, Celsinho
Douglas, corvo, Pantico
César, Fernando, Chiquinho
Dandão e Marina daqui
Socorro, Milena e Caubi
Seu Ivã, nos curou tudinho




10 de maio 1936 - Homenagem prestada à memória de Juvenal Galeno, realizada pelos pescadores e jangadeiros cearenses ao seu eterno cantor na praia de Iracema.

Jandira, Anselmo, Caubi
Por Ted e Jabá, se sente
Puraquê, Capão e Leco;
Mário e Luis, docemente
Passaram a outras vidas
Elias, tais pessoas queridas
Eram gente da gente

Trave pequena de pedras
A Praia toda rachada
Na quadra ou piscininha
A canela se descascava
Perna de pau ou craque
Vibrava defesa e ataque
Só o gol interessava



Iracema em 1950- Arquivo Nirez

Ari, Odilon, Joel e Léo
“Tadeus”, Airton e Miltão
“Nenéns”, Jean, Góes, Rui
Veri, Marinho, Chico, João
Dedé, Wilson, Paninho
Kleber, Z’Aires, Netinho
Toin, Luciano e Elmir Gavião

Celina, Noima e Lurdes,
Umberto, Boiadinha
Vanda, Celsa, Mazéveras
Norma, Vitória, Verinha,
Maranguape de apreço
Ozinco, alguém esqueço?
Perdão à Praia todinha

Lúcio e Fernando o Surf
Com Bibita incentivaram
Zé Edson, Wilson, Aragão
“Banda Iracema” formaram
Mestre Pio na bateria
Na quadra da noite ao dia
Todos no bairro dançaram


Praia de Iracema em 1982 - Gentil Barreira

Jornalzinho “A Voz do Catra”
D’um grupo Catraieiro
Homem da torre sabia
A vida do povo inteiro
E a “Rainha da Madeira”
Não gostou da brincadeira
E o jornal foi prisioneiro

Na Sauna, Cultura Física
Turma boa ia malhar
Coco verde gelado
João, seu facão a cortar
Futebol com Noé e Cordeiro
Não havia jogo inteiro
O pau era certo cantar

Aurílio Gurgel o nome
Daquele da boemia
Responsável e respeitável
Dumaresq conhecia
Jânio e Lincoln, com atitude,
Valdêncio o clube não mude
“Casa é do Mincharia



Arquivo Fortaleza Nobre

Dos Mercadinhos São Luís
Na praia já fez teto
Uma bela família
Pessoal muito correto
Com Deus Ramalho está
Tem Fernando e Cacá
Lembranças mando pro Neto

D’Iracema se avista
Bar da Dona Mocinha,
Primeira Dama do Samba
Até no Rio é Rainha
Vinte e cinco anos são
Do Bar dela, que é Leão
Sabe a Fortal todinha



Raimundo Fagner

Bênçãos quero pedir
Fagner e Belchior,
SávioDílsonEdnardo
E tudo o que é cantador,
Bernardo, cultura viva,
Com Marreco e Beija-Flôr



Belchior

Viaja o bom revisor
Professor Túlio Monteiro
Com Klevisson na Jangada
Que o vento leva ligeiro
Zé Maria cordelista
Poeta e repentista
É também um passageiro

Jornalista Carlos Paiva
Em espírito presente
Airton Monte escreveu
Uma crônica inteligente
Gervásio Paula em abril
Narrou queda do Estoril
Em reportagem envolvente




Secretários de Cultura
O poeta Barros Pinho
FUNCET na praia faz
Um trabalho de carinho
Do estado, Claudia Leitão
Aqui o grande “Dragão”
Em Iracema fez seu ninho

Dr. Lúcio, Governador
Dr. Juraci, Prefeito
O som de poucos bares
Muito mal a nós tem feito
Alguns fogem das lutas
Culpando as prostitutas
Isto é um grande defeito

Existe a Lei do Silêncio
É do Código Brasileiro
Foi feita para ser cumprida
Por nós ou pelo estrangeiro
Quem pensa que o Alvará
Anarquizar direito dá
Tem que ser preso primeiro.



LOUVAÇÃO A IRACEMA

Rua Ildefonso Albano
Dois bairros faz divisar
Meireles e Iracema
Praias do lindo lugar
Meireles, vento conduz
Iracema, sol reluz
São as estrelas-do-mar




Antiga sede do Círculo militar de Fortaleza na esquina da Avenida Raimundo Girão c/ Rua Ildefonso Albano - Acervo Cepimar

Atrás do Poço da Draga
Praia nasce à beira-mar
Vai a Ildefonso Albano
Até Monsenhor encontrar
O "Dragão" aparecendo
Ladeira se vai descendo
Com a índia a caminhar

Os nomes belos das ruas
Raimundo Girão criou
Assim nossos indígenas
O mesmo homenageou
Aquidabã Avenida
Que foi substituída
Por quem lhe historiou

São todas assim chamadas
TijipióPotiguaras
TupiArarius
CaririsTabajaras
GrairasGuanacés
Pacajus,Tremembés
Itapipoca e Jucás, raras

Há vinte anos estive
Com o Luiz Assunção
Que no piano tocou
Aquela linda canção
“Adeus Praia de Iracema”
Música mais que poema
Um hino de adoração




Tenho amor por Iracema
Ao mar digo meus queixumes
Do tempo que não é mais
Dos que já foram costumes
Dos males que a rodeiam
Das ilusões que a enfeitam
Do bairro tenho ciúmes

Iracema não confunde
Empresário e aventureiro
O primeiro aqui produz
É nosso companheiro
Pedimos ao segundo
Explorador do sub mundo
Vá embora “Raparigueiro!”

É a praia de Iracema
Capital de Fortaleza
Onde o verde-azul do mar
Sob o sol tem mais beleza
A Virgem dos Lábios de Mel
Com a Lua num painel
A moldura é a natureza

Navegando com Praianos
Inspiradores do tema
Numa jangada de versos
O Cordel traçou seu lema
Preservando na memória
UM PASSEIO NA HISTÓRIA
PELA PRAIA DE IRACEMA.

FIM

Leia Também:


Crédito: http://www.nehscfortaleza.com/




quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Um passeio na história pela Praia de Iracema - Literatura de Cordel (Parte IV)


As casinhas dos pescadores da então Praia do Peixe, atual Iracema

Luís Antonio de Aragão

PISCININHA

Tentando conter maré
Construiu-se um quebra-mar
Que começou lá na ponte
No “Lido” foi terminar
A água que transpassava
Uma depressão formava
Bem rasa e bem circular




Com isso Coronel Porto
Essa chance aproveitou
E no pequeno declive
Mais ainda ele cavou
Dizem que a índia sereia
Em noite de Lua Cheia
No local banho tomou



Praia de Iracema nos anos 90. Foto do livro Fortaleza, 27 Graus.


Dentro do leito macio
A criançada brincava
O famoso racha havia
Depois que a maré secava
E a brisa lenta à tardinha
Em volta da Piscininha
Benzia quem se amava

Agora é um mar de lama
Cheia de pedras cortantes
De bueiros e esgotos.
Em lugar dos mais fascinantes
É preciso uma limpeza
Pra resgatar a beleza
Da Piscininha de antes


Piscininha sendo aterrada. Crédito: Daniel Costa

MARCOS HISTÓRICOS E ESCOLAS


Grupo de rapazes jogando bola ao cair da tarde na Praia de Iracema. Acervo Clóvis Acário

Primeiro, Hotel Pacajús
Batista foi o pioneiro
Depois, o Plaza Hotel
Philomeno empreiteiro
Com hóspedes elegantes
Moradores importantes
Até Lúcio Brasileiro




Estação dos Correios
Em frente ao mar se firmou
Antenas sempre ligadas
Pro mundo inteiro falou
E no local mensageiro
Francisco Alísio Pinheiro
É ilustre morador

Capitania dos Portos,
Alfândega foi federal
Alberto Nepomuceno
Maestro no pedestal.
Iracema Arco dobrando
Paredões mar sustentando
Nesse Bairro sem igual

Pátio da Alfândega

O bom Instituto Kennedy
Muita gente educou
Quininha e Maria Augusta
A todos bem ensinou
Era na José Avelino
Tudo o que foi de menino
De castigo lá ficou

Professora Dona Vilma
Na Rua Tijipió
Colégio São Pedro
Ministrou o que é melhor
Respeito e Esperança
No adulto e na criança
Era tudo um brilho só

Escola do Elvira Pinho
Sempre com muita ação
Exemplo de ensino público
De enorme dedicação
Professores competentes
Ensinos eficientes
Valorizam a educação

No ano de Trinta e Nove
Padre Pita e Marilinha
Organizavam trabalhos
De São Pedro Igrejinha
Ela se edificou
Como é linda a capelinha



No nosso Centro Espírita
O Santo é muito lembrado
É na rua Ararius
De Pedro, Apóstolo chamado
E lá toda a cidade
Já tem feito caridade
Mesmo ao mais necessitado

Thmoskhenko dirige
Estoril da Prefeitura
Tem zelo Moacir
Pela bela arquitetura
Há um lindo restaurante
Balé Bianchi, brilhante,
Galeria Arte e Cultura


O lindo Centro de Artes
Majestoso Dragão do Mar
Onde a memória do povo
Muito se faz preservar
Cine, Teatro, Oficina,
O planetário ilumina
Todo o céu do Ceará.


FOLIA EM IRACEMA

Senhor João do Miramar
Esquina da São Lunguinho
Rua que morou o Joca
Que adorava um baralhinho
Joca foi xará de João
Simples de bom coração
Se foi como passarinho



Maracatú AZ de Espada

E tinha lá o AZ de Espada
No lugar o seu cantinho
Mário Amâncio e Benior
Miramar tinha carinho
Luiz Rainha reinava
Braz do Balaio girava
Ao Triângulo do Betinho


A Turma do Camarão

Surgiram Blocos de rua
Turma Bamba e Camarão
Paladinos do Amor
“Coca-Cola” era cordão
“Não Quero Choro” afinada
Com “Turma da Invernada”
“Garotos do Frevo” são


Em boa Escola de Samba
Transformou-se Camarão
Veio “Leopoldina” show
Sempre com muita emoção
“Pajeú” foi de Escol
E o bonito “Girassol”
Fez um grupo campeão



Bandas e Blocos bons
No carnaval deram grito
Primeira a “Banda Iracema”
Após ela a “Periquito”
Do “Mexe-Mexe”, Fuxico
“Que M. é Essa”, eu indico
É muito bloco bonito.




Crédito: http://www.nehscfortaleza.com/



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