Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Seca de 1932
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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O Urbanismo de Nestor de Figueiredo - Parte II



Essa citação é lapidar em revelar o outro lado da cidade, a falta de rede de água e esgoto para os bairros mais pobres, o problema da seca, o isolamento dos bairros pobres da cidade com o centro, e o mais importante, que tipo de urbanização a prefeitura estava realizando? Abrir ruas e derrubar coretos resolveria os problemas da maioria da população? Sem falar na mudança na estratégia do governo, que agora reconhecia a necessidade de contratar um especialista, e pensar a cidade na sua totalidade. É importante frisar que o projeto de urbanização do Estado, não mudou o seu foco central, separar os bairros pobres dos ricos, visando um maior controle da população e uma melhor circulação de mercadorias. Não obstante, os caminhos a serem percorridos sofriam constantes alterações, e não dependiam apenas dos desejos e anseios do prefeito ou de qualquer estadista.

Destarte, não se pode exercer o controle total da cidade, embora seja esse o intuito do urbanismo. Como dito no post anterior, esse urbanismo também tem como função homogeneizar os espaços, modelar as relações sociais heterogêneas, obliterando as características peculiares dos espaços sociais. Todavia, o projeto urbanístico de Nestor Figueiredo não é tão diferente dos projetos anteriores, na medida em que adota padrões eurocêntricos, mantém o traçado xadrez, e legitima as desigualdades sociais materializadas nas formas espaciais dos bairros, centro em oposição às periferias.


Vista aérea da cidade na década de 30. Nirez
Existia uma abissal diferença entre o discurso de urbanização do governo, e as práticas desenvolvidas na cidade. Um caleidoscópio quase infinito de problemas sociais norteava a capital, na mesma época em que a prefeitura inaugurava as praças e os equipamentos modernos. As reformas materiais da cidade se limitavam ao perímetro central, lócus por excelência do comércio e desenvolvimento do capital. O crescimento desordenado tinha endereço, os subúrbios, bairros que se erigiram na lógica da necessidade, próximo às linhas de trem, Porto e as fábricas. O Centro não poderia ser afetado por essa “desordem”, daí a necessidade de centralizar o poder e pensar a cidade na sua dinâmica total. Não obstante, em que medida se pode falar de um crescimento desordenado, se a separação do centro dos bairros mais pobres se manteve durante o período, e o traçado em xadrez permanece até os tempos hodiernos. O termo desordenado transmite uma impressão de que a urbanização de Fortaleza foi feita ao caso, sem a presença efetiva do Estado e frações capitalistas, como fosse resultado apenas de um aumento demográfico oriundo da seca de 1932. O plano urbanístico que tinha como meta racionalizar o caos, só se justificava por sua presença. E, aos olhos de muita gente não parecia viável, principalmente pelo alto custo, e por ter questões de primeira ordem, alicerçares para serem resolvidas antes.

O projeto em perspectiva, por mais perfeito agacemente falando, não fará muita coisa além do que já está feito, precisamos falar claro. Ademais, mesmo com as rendas assegurada do Matadouro- nova fonte de receita de vulto, para o município- essa despesa nos parece que bem poderia ser evitada. Não porque não a possa fazer a prefeitura, mas porque há serviços que estão reclamando mais urgentes providências para a sua realização. Neste caso vem em primeiro plano o calçamento. Temos ruas centrais já sem uma pedra; praças em idênticas condições e outras calçadas, mas em tal estado que melhor fora não o fossem, o que dá a impressão, ante o concreto das vias centrais, de assemelhar Fortaleza a uma girl de sapatos Lis XIV. [...] Não queremos condenar a tal urbanização. Achamos apenas que, com os nossos, é um tanto cedo para se tratar disto. (IDEM, 29/12/1933 p. 03).

Planta de Fortaleza em 1932 - Ano de seca.
A precariedade da urbanização, e das obras erigidas durante o ano desacreditava um setor da imprensa, que achava primordial resolver os problemas centrais de moradia, calçamento, rede de abastecimento de água, que causou enorme transtorno em 1932, e persistiu em 1933, mesmo com a o advento das chuvas. As epidemias de doenças que se espalhavam na cidade, como lepra, alastrim, varíola, tuberculose, etc, os acidentes de trabalho, tudo isso se propagava numa imensa velocidade, com o aumento das obras, os diversos casos de saques em lojas, casa e prédios, os acidentes de trânsito, que não eram mais raros, e diuturnamente faziam vítimas estampando as páginas dos periódicos. Neste sentido podemos falar de caos e desordem, mas que não foi uma peculiaridade da urbanização de Fortaleza.

A Fortaleza dos fícus Benjamin em 1932.
A produção capitalista do espaço se baseia na distribuição assimétrica da riqueza, pois tem como essência a manutenção da propriedade privada. O projeto do governo, orquestrado por Nestor Figueiredo, não poderia fugir desse axioma. A centralização da prefeitura na perspectiva de criar um plano que projetasse o crescimento da cidade estava pautada na administração dessas desigualdades, jamais na sua solução. Todavia, o projeto não sai do papel, provavelmente devido ao seu custo operacional. O governo ainda cria uma subcomissão para executar o plano, reunindo quase todas as lideranças da prefeitura, com o apoio da interventoria, e sob a liderança do engenheiro, mesmo assim não vai adiante.

Vista aérea parcial do Benfica num raro cartão postal dos anos 30, com destaque para a
Avenida da Universidade à direita. Acervo Marcos Siebra
Apesar do plano urbanístico não ter se materializado no sentido como foi pensado, nas cláusulas do artigo do contrato, não podemos compreender Fortaleza na década de 1930 sem a sua intencionalidade, e como principio “educativo” para as administrações posteriores. A cidade não poderia ser construída por forças “naturais” do acaso e da aglomeração, os ricos não poderiam pleitear o seu sono na morada dos pobres, residências, comércio e indústria, são coisas diferentes e deveriam, por conseguinte, habitar espaços diferentes, o centro deveria ser tomado como prioridade urbanística, a circulação de mercadorias é tão importante quanto a circulação de capitais.
Em linhas gerais, esses conjuntos de fatores que ilustraram a cartilha de Nestor Figueiredo definiram, em boa medida, a morfologia espacial de Fortaleza na década de 1930. O fato do plano não ter sido aplicado de uma vez, como uma racionalidade matemática que tenta planificar e padronizar tudo, não retira a importância do sentido da urbanização que estava sendo implantada no período, que tinha por objetivo efetuar mudanças espaciais para deixar tudo exatamente como estava a cidade era pensada como uma reta, porém, mesmo o Estado, mais centralizado, não tinha o poder de definir quem andaria e “entortaria” essa reta.


Leia também:
As melhorias urbanas durante a seca de 1932
A Seca e a Modernidade da Capital
A Seca, o conflito político e a favelização da capital
Seca e Campos de Concentração em Fortaleza

Crédito: Artigo 'A produção do espaço urbano de Fortaleza à partir da Seca de 1932' de Rodrigo Cavalcante de Almeida.


Fonte: http://memoria.bn.br

domingo, 7 de janeiro de 2018

O Urbanismo de Nestor de Figueiredo


Plano Nestor de Figueiredo. Arquivo FbioMatos
É linguagem comum falar de um crescimento desordenado do espaço urbano de Fortaleza a partir da década de 1930. Em grande medida, contribui para essas análises a explosão demográfica causada pelas secas, em especial, a seca de 1932. Porém, não se analisou até que ponto essa urbanização foi realmente desordenada. Não havia planejamento do estado? E se havia planejamento, em que medida foi eficiente? Qual foi o papel que o urbanismo exerceu nesta urbanização?
Jornal A Ordem - 22/04/1933
A tentativa de traçar um plano urbanístico para Fortaleza data de meados do século XIX, com o plano em xadrez de Silva Paulet, e depois em 1875, com ampliação do traçado em xadrez por Adolfo Hebster, influenciado pelas reformas do Barão de Haussmann, na França, contornando o centro comercial com um conjunto de avenidas chamadas de Boulevards. De acordo com Castro (1977, p. 30), “o plano em xadrez está intimamente ligado a objetivos colonizadores ou de expansão urbana. Era o traçado helenístico por excelência, empregado por Alexandre, o Grande, nas cidades recém-criadas em seu vasto império. Era o traçado da colonização romana, introduzida algumas peculiaridades”. Não obstante, a perspectiva de se estabelecer um plano urbanístico continua na década de 1930, especialmente após a seca de 1932, sendo, inclusive, criado um conselho consultivo para desenvolver um plano de urbanização para a capital. “O conselho consultivo em sua sessão de ontem deliberou acerca da consulta feita pelo Sr. prefeito municipal sobre o projeto de urbanização da cidade a ser contratado pela prefeitura com o engenheiro Nestor de Figueiredo”. (O NORDSTE, 12/07/1933 p. 01). Todavia, o conselho não se mostrou favorável ao plano de urbanização apresentado pelo arquiteto Nestor de Figueiredo, dando o seguinte parecer:

Nestor de Figueiredo
De todo o exposto, resulta que sem negar a necessidade de retoques e ampliações no plano atual de desenvolvimento de Fortaleza, discordo todavia da conveniência de uma obra geral de reforma do mesmo plano, com o caráter amplo e suntuário que necessariamente teria o projeto do engenheiro Nestor Figueiredo. [...] Julgo que as necessidades urbanas, determinadas pelo crescimento da cidade, as modificações que acima aludi à conveniência enfim de disciplinar esse crescimento, poderá ser atendida gradativamente, sem dispêndios extraordinários e onerosos pela própria Secretaria de Obras e Viação da prefeitura. [...] Toda questão está naturalmente em aparelhar esse departamento de recursos necessários, provendo-o dos meios para a elaboração desse plano- o que se deve ir fazendo gradualmente, a medida das reais necessidades de Fortaleza, de acordo mesmo com a mentalidade ambiente e na proporção, o que é essencial, dos recursos econômicos normais do município. (O NORDESTE, 12/07/1933 p. 01).

Jornal A Razão de 09 de setembro de 1936


Continuação. Jornal A Razão de 09 de setembro de 1936

Final. Jornal A Razão de 09 de setembro de 1936
Existiam, portanto, dois projetos de controle do crescimento da cidade. Um projeto elaborado por Nestor de Figueiredo, que pensava numa reforma mais radical, de investimentos mais vultosos, para uma reforma geral da urbe. E, num sentido diametralmente oposto, o plano defendido pelo conselho consultivo, que deveria ser executado pela própria Secretaria de Obras do Município, tendo como prioridade mudanças gradativas de acordo com os recursos econômicos do Estado, em outras palavras, sem gastar muito dinheiro com as reformas. Porém, o que havia de similar em ambos os projetos, era o reconhecimento de “disciplinar” o crescimento urbano. A cidade tinha que ser apreendida por uma racionalidade instrumental, não poderia ser deixada ao fluxo espontâneo da desordem provocada pelo aumento populacional. Esta era a tarefa do “urbanismo”, padronizar a cidade, dirimir sua heterogeneidade, considerada como uma contradição. Como o urbanismo conseguiria resolver.

Foto aérea de meados da década de 30, vendo-se o Parque da Liberdade.
O projeto de Nestor de Figueiredo se enquadra numa tentativa de ordenar a cidade, da aplicação de uma lógica industrial e evacuação da “racionalidade urbana”. Porém, ele é apresentado travestido de uma couraça reluzente que chega a ofuscar os seus objetivos.

Realizou-se ontem na sede da prefeitura municipal, a anunciada exposição do plano de urbanização de Nestor Egídio Figueiredo. [...] Começou tecendo algumas referências ao alcance e responsabilidade desse contrato, que devia ser mais uma obra de previsão que de momento. Discorreu sobre o urbanismo, analisando-o sua existência na antiguidade, no seu colapso na idade média, e em seu recente ressuscitamento no século passado, novamente preocupado com os planos urbanísticos. Explicou aos presentes como esses planos devem obedecer não somente a técnica pura, mas também ao lado emocional, poderíamos dizer, romântico, de acordo com a psicologia dos povos habitantes das diversas cidades. Para o plano de urbanização de Fortaleza, havia a considerar, portanto, estes dois lados igualmente importantes e necessários. Seus habitantes têm sentimentos morais próprios, que constituem um delicioso motivo de beleza coletividade cearense. (A RUA, 20/12/1933, p. 03).

Vista aérea do Centro nos anos 30. Arquivo Nirez
Figueiredo tem consciência do papel que o urbanismo exerce na remodelação de uma cidade. Não é por acaso que no seu discurso ressalva a importância dos sentimentos, valores morais, e costumes dos seus habitantes, pois o urbanismo age exatamente no sentido oposto.
A exposição do plano urbanístico continua, salientando que “o plano urbano deve presidir sempre o critério de previsionar, isto é, impedir males futuros. A utilidade pública está acima da obra de luxo. As cidades de hoje apresentam estas falhas que obstam a expansão e a formação de uma futura cidade”. (A RUA, 20/12/1933 p 01). O traçado da cidade continuaria na linha desenhada por Paulet, Boticário e Hebster, porém ampliando o perímetro e a sua dimensão global. Não apenas a divisão das ruas seria levada em consideração, mas um conjunto amplo de fatores. Observamos melhor as características do plano, nas suas cláusulas contratuais, que define como seria desenvolvido o projeto.

1 Parte- Análise da aglomeração nos seus múltiplos aspectos no tempo e no espaço de acordo com os pontos de vista físico, geológico, hidrogeológico, geográfico, hidrogeográfico, meteorológico, histórico, social, econômico. 2 Parte- Elaboração do plano em cartas, quadros sinópticos, etc. 3 Parte- Organização do plano diretor que deverá compreender a ossatura do plano, os meios de transporte e zoneamento, organização do comércio varejista, bairro industrial e zona do porto, localização dos bairros residências, determinação dos espaços verdes, gabaritos, legislação e regulamento, estudo de uma legislação especial do plano diretor com conexão com o código municipal de construções. O plano geral para o desenvolvimento sistemático da cidade atende a uma população de 250 mil habitantes. (O NORDESTE, 20/12/1933 p 01).

Vista aérea do final da década de 30.
As partes do contrato mostram a dimensão do plano urbanístico. Tratava-se de um projeto para a cidade envolvendo aspectos econômicos, sociais, políticos, estudos geográficos, geológicos, hidrogeográficos. A capital foi pensada na sua estrutura global, pois havia separação de bairros industriais dos residenciais, organização do comércio varejista, do sistema de transporte, criação de uma legislação própria em conexão com o código de construção do município, análise das aglomerações, que na época já se tornara um problema, e, por fim, uma projeção para o futuro, pois o plano tinha como base atender uma população de 250.000 habitantes, ou seja, o dobro da população do período¹.
O projeto de Nestor de Figueiredo sofreu muitas críticas, dentre um dos motivos, o fato de pensar em 250.000 habitantes, sem levar em consideração a realidade financeira do município. No contrato, ficaram acordados que a prefeitura pagaria o valor de 120.000$ ao engenheiro, em cinco prestações. Além do valor da obra em si, que pela vultuosidade do projeto, envolvendo desde arborizações a separação de bairros, não se podia ter um número preciso do gasto. Uma crítica mais contundente analisava os principais problemas sociais da cidade, destacando-os como prioridade, em detrimento de um projeto, que além de custar caro para a população, não resolveria as dificuldades dos que mais necessitavam de urbanização.

Fortaleza em 1937
¹A população do Brasil, no ano de 1933, foi estimada em 43.340.000 habitantes, tendo o Estado do Ceará, 1.800.000, e Fortaleza 126.000, a sétima cidade mais populosa na época. Almanach Administrativo, Estatístico, Industrial e Literário do Estado do Ceará para o ano de 1934 confeccionado por João da Camara. Fortaleza: Empreza Tipographica. P. 30. No ano de 1934, a população de Fortaleza teve um ligeiro aumento, passando para 133.066, tornado-se a oitava cidade mais populosa . Almanach Administrativo, Estatístico, Industrial e Literário do Estado do Ceará para o ano de 1935 confeccionado por João da Camara. Fortaleza: Empreza Tipographica. P. 140 à 144. Portanto, o projeto se balizava num crescimento futuro da cidade.


Leia também:
As melhorias urbanas durante a seca de 1932
A Seca e a Modernidade da Capital
A Seca, o conflito político e a favelização da capital
Seca e Campos de Concentração em Fortaleza

Crédito: Artigo 'A produção do espaço urbano de Fortaleza à partir da Seca de 1932' de Rodrigo Cavalcante de Almeida.
Fonte: http://memoria.bn.br

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

As melhorias urbanas durante a seca de 1932 - Parte III


Que Fortaleza modificou o seu espaço urbano a partir da seca de 1932, é fato! Agora, como esse processo de modernização e como toda essa modernidade era utilizada através dos discursos das elites para legitimar a vertiginosa urbanização que ocorria na década de 1930? E como as camadas mais pobres viviam essa modernidade?

No relatório do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendonça, vemos como o discurso da modernidade estava presente, no que se refere à justificativa da implantação de um relógio na Praça do Ferreira e em relação à própria remodelação da praça:

Sobre a praça no Relatório do Interventor 

A Praça do Ferreira era considerada o coração da cidade, segundo o interventor, a praça era o principal “órgão” da cidade, uma vez que ela é o “centro de convergência das atividades”, atividades essas que poderiam ser culturais, mas principalmente comerciais. Por isso o interventor justifica a implantação de um “relógio oficial”, pois o ritmo de trabalho da cidade estava mudando, e era importante que a população tivesse um controle mais racional de tempo, uma das características da modernidade.

O relógio se tornava fundamental para uma cidade que estava passando por um processo de modernização desde o final do século XIX, mas que tinha uma população hegemonicamente rural e que não era adaptada à disciplina de trabalho capitalista, racional e moderna, que ocorria na cidade, já que o caráter disciplinador das relações de trabalho, que a implantação do relógio objetivava, se tornava ainda mais necessário a partir da seca de 1932, pois o fluxo migratório foi muito intenso, e o governo demonstrava um maior nível de organização racional, no que tange ao controle social dos retirantes. Desta maneira, essa massa de “flagelados” que ocupava a cidade deveria se adaptar a uma disciplina de trabalho moderna, sincronizada e racional, onde não haja “desperdício” de tempo. Aliás, não só os retirantes deveriam se acostumar com esse tipo de vida, como os demais habitantes da cidade.


Todavia, a coluna da hora não pode ser entendida apenas como uma obra para embelezar a cidade. Além da preocupação estética, havia o interesse funcional que o relógio tinha para a Fortaleza “moderna”. A estratégia do governo era “otimizar” o tempo para a produtividade. Isso não significa dizer que assim que o relógio foi erguido, as relações de trabalho mudaram radicalmente. Pois há conflitos entre a temporalidade do relógio e a temporalidade da população, que no caso de Fortaleza, era substancialmente rural.

Fortaleza estava passando por um processo de modernização, que se refletia em vários aspectos: culturais, econômicos, políticos e sociais. Os retirantes eram utilizados para construir e remodelar o espaço urbano da cidade. Em contra partida, eram obrigados a morar em locais que não eram planejados de maneira racional, mas a partir das necessidades imediatas de ter uma moradia. Assim sendo, a modernização como palavra de ordem nos discursos políticos do governo, passava a quilômetros da periferia e dos bairros pobre da cidade.

A cidade era ainda bem pequena, como se percebe através da planta levantada em 1932, época em que conseguia recobrir bem pouco a mais do que as vias planejadas por Hebster em 1875! A partir do início do decênio de 30, desenvolve-se a cidade toda, zoneando-se de acordo com a estrutura preexistente. Os bairros mais modestos vão se espalhando ao longo das ferrovias, junto das quais, principalmente na zona oeste, surgem as indústrias. As pessoas mais abastadas começam a preferir a Aldeota”. (CASTRO, 1977, p 35 e 36).

Planta de 1932

Após a seca de 1932, a cidade aumenta consideravelmente o seu espaço urbano. Mas esse espaço é modificado a partir dos grupos que o habitam, pois bairros mais modestos vão se formando próximos às linhas de trem que estavam surgindo. Isto ocorreu provavelmente devido às estratégias do governo de controlar as levas de retirantes que chegavam à capital pelos trens e lá já se “instalavam” em campos de concentração, ou fora deles, construindo as embrionárias favelas. Também se instalavam próximos às indústrias, pois seriam eles os operários, sem falar que ficariam distantes dos grupos mais abastados que não gostavam de ter “flagelados” como vizinhos.

Construção da Coluna da Hora na Praça do Ferreira. Acervo Ricardo Figueiroa

Neste sentido, as formações dos bairros de Fortaleza estão intrinsecamente ligadas às diferenças sociais dos grupos que o habitavam. Assim, a modernização de Fortaleza é excludente, pois só uma parte da população usufrui da sua urbanização e também é contraditória, pois a maioria da população da cidade é de origem rural, ou seja, “não-moderna”.
É interessante percebermos o choque que havia entre os retirantes e a elite fortalezense que “lutava” para transformar Fortaleza numa cidade moderna com uma população hegemonicamente rural:

Mesmo na época em que se fixam as primeiras grandes levas de imigrantes rurais, trazidas pela seca de 1932, período de grandes transformações sociais e econômicas, quando grupos recém-chegados, sem tradição de vida urbana, se tornam demograficamente majoritários, mesmo nesses dias, jamais se apegaram as características do viver fortalezense, ora traduzidas pela complacência diante da novidade, ora marcadas pela ironia demolidora e amarga aos valores mais consagrados, herança do elevado nível de vida intelectual de fins do século XIX, perfeitamente configurado pela posição antiprovinciana daquele grupo sério da Padaria Espiritual. (IDEM, 1977, p. 44).

Praça na década de 30 - Arquivo Nirez

Através da fala de José Liberal de Castro, é possível observar o choque cultural entre a elite intelectual de Fortaleza e os retirantes. Esses considerados como provincianos, sem tradição urbana, espantados diante da “cidade moderna”, que tinha uma população mais intelectualizada, adaptadas aos “ideais de modernidade” desde o final do século XIX.
Torna-se plausível questionar se Fortaleza era uma cidade moderna na década de 1930, principalmente após a seca de 1932, uma vez que ao mesmo tempo em que ela passava por reformas urbanas, que modernizavam seu espaço físico, era habitada por uma população majoritariamente rural, que tinha costumes, hábitos, considerados pelos grupos dominantes como não modernos.

No discurso do cronista Mozart Soriano Aderaldo¹ numa crônica do livro História Abreviada de Fortaleza, referente a Fortaleza moderna, percebemos sua visão acerca dos retirantes, da modernidade e as contradições que a permeavam:

Se assim procediam as chamadas "elites‟, o que não dizer da "massa‟, dos habitantes de nossos subúrbios? Levas de emigrantes em consequência das secas, constroem "favelas‟ em seu derredor e trazem para a cidade problemas sociais, os mais variados, da prostituição de infelizes mocinhas pobres ao "biscatismo‟ consequente da mão-de-obra não qualificada. Do costume de cuspir no pé das paredes ao alimentar-se nas ruas e jogar nas calçadas as cascas se bananas, manga e laranja ali mesmo consumidas. Dos pés descalços à roupa em trapos e mal lavada. (ADERALDO, 1974, p 60).

Apesar de a crônica ter sido escrita posteriormente à década de 1930, pois o livro não traz a data específica da crônica, é muito importante para analisarmos como o autor representava os retirantes. Segundo ele, são os emigrantes que traziam os problemas sociais para a cidade, como a prostituição, o biscatismo, mão de obra desqualificada, sem falar que seus costumes eram “péssimos”. Jogar cascas de bananas nas calçadas, andar de pés descalços, esfarrapados, alimentarem-se nas ruas, etc. A partir de uma representação negativa sobre os retirantes, podemos observar como se davam as contradições entre os grupos sociais em Fortaleza, onde os costumes dos retirantes se mostravam diametralmente opostos aos das elites. A modernidade da Capital mostrava-se deveras paradoxal.

Apesar dos costumes sociais que Fortaleza presenciava no inicio da década de 1930, como a seca de 1932 e a invasão de uma população de “flagelados” em seu território, havia em contrapartida a introdução de novas tecnologias que animavam as classes abastadas, que associava essas tecnologias ao desenvolvimento do progresso na capital. “Ainda em 1933, a título de experiência, em trecho da cidade se inaugurou a pública iluminação elétrica, denunciando-se, em consequência, o contrato com a Ceará Gás, cuja duração se alonga por muitos anos, entravando o nosso progresso.”(ADERALDO, 1974, p. 55).

Centro da cidade. Vemos o quarteirão entre a rua Guilherme Rocha e a Liberato Barroso na década de 30. 

A eletricidade se torna sinônimo de “novo”, urbanização, modernização, em detrimento do velho, antigo e “insuportável” gás carbônico. Outra inovação para a cidade na época foi a primeira transmissão a rádio realizada na inauguração da Coluna da Hora, representando dois marcos simbólicos que denotavam a cidade de “progresso e modernização”.

No dia da inauguração da coluna, 31 de dezembro de 1933, foi realizado nos estúdios da casa Dummar, futura PRE-9, então nos altos da atual sede da CIMAIPINTO, a primeira transmissão radiofônica no Ceará, para aparelhos receptores fixados no referido monumento do centro da Praça, a não mais de 200 metros de distância... Mas que progresso para época! (IDEM, 1974, p 54 e 55).

O ano seguinte, em 1934, vai ser inaugurado à primeira radio do Estado do Ceará. É a Ceará Radio Clube (PRE-9), que significava então para a ascendente burguesia urbana de Fortaleza, que a capital estava se modernizando e em constante “progresso”.

A praça na década de 30 - Arquivo Nirez

As classes abastadas são as que mais se beneficiam da modernidade e urbanização de Fortaleza, pois as principais obras de urbanização, saneamento, aterramento, são realizadas no centro da cidade, e a grande massa de retirantes, não vai ter acesso, nem, vai usufruir da urbanização da cidade. Porém, essa população de retirantes não era passiva nesse processo de transformação da cidade. Eles se organizavam, questionavam o governo e faziam saques de mercadorias, forçando assim a burguesia e o governo a cederem as suas pressões. Nesse sentido, os retirantes também são protagonistas da cidade, chegavam a incomodar a “paz urbana” das elites e ameaçar a quebra da ordem. Consequentemente, sendo eles o “flagelo” da elite, que era obrigada a conviver com essa população que lotava a cidade a partir da seca de 1932. Miséria e luxo coexistiam não como um antagonismo indissolúvel, mais como fruto de uma modernidade paradoxal e excludente.
Contudo, nos períodos de secas, como a de 1932, intensificavam-se os conflitos e exacerbavam-se as contradições na capital. Uma população de retirantes sem recursos materiais, devido a uma série de fatores como concentração de latifúndio no campo, má distribuição de renda, conflito de interesses entre classes sociais, política excludente do Estado, dentre outros, contribuía para aumentar a violência na cidade.

Praça na década de 30 - Arquivo Nirez

O governo e as classes abastadas da capital queriam expurgar o centro e os seus bairros de moradia, o que significava afastar do seu convívio as camadas mais pobres. Porém essa não era uma tarefa fácil, pois as camadas mais pobres representavam a grande maioria da população, que tinha migrado para a capital devido à seca de 1932, e que buscavam em Fortaleza uma melhoria na qualidade de vida, e não um recrudescimento da miséria.

É importante compreender a modernidade como sendo um complemento do desenvolvimento capitalista na cidade, uma vez que as reformas urbanas que ocorreram em Fortaleza no inicio da década de 1930, mais especificamente nos anos 1933 e 1934, estavam relacionadas também ao contexto de uma nova classe social que emergia no País, a burguesia industrial urbana.


¹Mozart Soriano Aderaldo, apesar de ter nascido no Maranhão era descendente de uma tradicional família cearense de Mombaça. Ocupou vários cargos no governo chegando a ser prefeito de Senador Pompeu, diretor da Imprensa Oficial do Estado, secretário Estadual de administração do governo Plácido de Aderaldo Castelo. Foi também professor universitário e participou efetivamente do grupo Clã. Fizemos essa lacônica apresentação para que possamos entender melhor o seu lugar social da fala. Portanto, entender melhor o seu discurso.



As melhorias urbanas durante a seca de 1932
As melhorias urbanas durante a seca de 1932 - Parte II

Leia também:
A Seca e a Modernidade da Capital
A Seca, o conflito político e a favelização da capital
Seca e Campos de Concentração em Fortaleza



Crédito: Artigo 'A produção do espaço urbano de Fortaleza à partir da Seca de 1932' de Rodrigo Cavalcante de Almeida.
Fontes: Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará/ Livro Fatores de Localização e de Expansão da cidade de Fortaleza, do arquiteto José Liberal de Castro/ http://memoria.bn.br/

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

As melhorias urbanas durante a seca de 1932 - Parte II


Trecho da rua General Sampaio pavimentado a concreto. 
Foto do Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça

Conforme relatei no post anterior, durante a seca de 1932 Fortaleza foi agraciada com várias melhorias urbanas, tanto por causa da mão de obra barata, como pelos recursos atraídos do governo federal devido à seca. Outro aspecto da morfologia urbana que sofreu alteração nesse período foi o calçamento. Houve um investimento exorbitante do governo e de alguns setores capitalistas, nos anos de 1932 a 1934 em relação à pavimentação das ruas, e desenvolvimento de um novo calçamento. As ruas estando mais bem pavimentadas favoreciam o desenvolvimento do comércio e da indústria da construção civil, uma vez que nesse período várias cooperativas de construção se instalam em fortaleza, abrindo possibilidade até para o parcelamento de casa em várias prestações, refletindo uma expansão do crédito e aumento do capital financeiro.

Fortaleza era uma das cidades do Brasil de pior pavimentação. Depois do surto de renovação verificado nos últimos anos e que tem dado à capital cearense aspecto de cidade moderna, era triste ver como destoava do seu progresso a velha e antiquada pavimentação das suas ruas de pedra irregular, em péssimo estado de conservação e sem os indispensáveis serviços de escoamento das águas pluviais.
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 292.)

Esta situação é lapidar em relação aos interesses do governo. Ele utiliza o discurso do “progresso”, da “modernidade”, em contrapartida de uma cidade velha e antiquada, que tem por urgência ser pavimentada, remodelada, em que o serviço de escoamento das águas estava obsoleto, aliás, “nem existia”. O calçamento era feito de pedras irregulares, em péssimo estado de conservação, criando assim uma imagem de caos em Fortaleza antes dessas obras, como sendo indispensável modernizá-la. Mas os interesses do governo, e desse setor capitalista, tornam-se mais cintilante e ganha um sentido mais abrangente, ao observarmos a continuação do trecho citado acima.

A prefeitura, chegada a oportunidade, resolveu tão importante problema mandando abrir a necessária concorrência pública para a construção de dois tipos de calçamentos – a concreto e a paralelepípedo. [...] continua, revelando os interesses da burguesia [...]. Venceu a concorrência a firma Industrias Brasileiras Portela S/A que executou muito bem o seu contrato, cobrindo 10.000m² daquele primeiro tipo e 10.000m² do segundo. Aberta nova concorrência em janeiro deste ano, foi vencedor o Dr. Omar O`Grady; com quem foi contratada, de acordo com o edital de concorrência, a cobertura de.... 100.000m², distribuídos em três exercícios financeiros consecutivos sendo 25.000m² em 1934, 35.000m², e ....40.000m² em 1936. 
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 292.)

Com observação desta fonte, é possível inferir como essas obras representavam um lucro exacerbado para esse setor. Havia uma disputa pelas licitações, que demonstrava qual fração do capital tinha uma relação mais “íntima” com o governo. Nesse caso, o Dr. Omar O´Grady venceu a concorrência das Indústrias Brasileiras Portela S/A, e continuou com uma “ boa relação com o governo” durante mais três exercícios financeiros consecutivos até o ano de 1936. Essas melhorias também movimentavam um grande mercado da indústria da construção civil.


Até hoje, por conta da metragem do exercício em curso, foram construídos 2.217 m² de concreto e 11.614 m² de paralelepípedo, num total de 18.831 m². No período de janeiro de 1933 a esta data, se construíram 68.376 m² de calçamento comum em ruas menos centrais e reconstruídos 80.647 m², ou seja, 107.480 m², assim distribuídos:
Calçamento a paralelepípedo -------------------------------------------- 21.887 m²
Calçamento a concreto --------------------------------------------------- 17.217 m²
Calçamentos comuns ----------------------------------------------------- 68.376 m²
Total ---------------------------------------------------------------------107,480 m² 
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 292-293.)

Assim, essas reformas urbanas foram fundamentais para o desenvolvimento do circuito secundário da sociedade e da indústria da construção civil. Essa urbanização ocorreu concomitantemente à industrialização de Fortaleza, pois era necessário ter um aparato tecnológico desenvolvido para possibilitar a construção em larga escala, sem falar na mão de obra livre e barata das pessoas que vinham do campo e que, rapidamente tinham que se metamorfosear de camponeses em operários. Esses dados acima também mostram como o volume de melhoramentos foi intenso a partir da seca, e como algumas frações de capital souberam aproveitar o momento para ampliar sua margem de lucro e desenvolver suas indústrias.

A cidade de Fortaleza, ao mesmo tempo em que era a mais desenvolvida do Ceará, e que tinha uma maior industrialização, uma maior rede de comércio e uma maior urbanização, também passa a ser o lócus das contradições de classes, onde existiam vários sujeitos disputando os seus espaços. Daí o medo do governo e dos grupos privilegiados no que se refere ao controle social dos retirantes.
O governo, porém, continua a sua propaganda urbanista:

Como conseqüência natural do preparo da nova pavimentação, teve a prefeitura que estudar e construir as galerias de vazão das águas pluviais, serviço de que a cidade se ressentia quase totalmente. Correspondentes aos trechos cobertos com calçamentos a concreto e a paralelepípedo, foram construídos 724 metros de galeria, as quais produziam resultados magníficos durante o ultimo inverno, ficando assim provada a sua eficiência. 
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 294.)

Fortaleza, a partir da seca de 1932, virou um verdadeiro “canteiro de obras”. Ainda foi feito nesse período um serviço de colocação de meios-fios, no qual a prefeitura aproveitou para fazer propaganda do seu governo, comparando com o governo anterior. Portanto, as melhorias eram utilizadas das mais diversas maneiras possíveis, desde a propaganda do governo, lucro da indústria da construção civil, valorização do capital imobiliário, até o controle social dos retirantes através do trabalho. Podemos perceber como a seca contribuiu para aumentar a quantidade de obras na cidade, se observarmos o quadro abaixo que mostra a quantidade de meio-fios que foram colocados na capital:

(Dados do Relatório do Interventor federal Carneiro de Mendonça).

Se compararmos o triênio anterior à seca, que foram construídos 15.028 metros, com o triênio da seca que foram construídos 28.984 metros, houve, portanto, um aumento considerável, e a administração Raimundo Girão, a partir de abril de 1932, ao assumir a prefeitura, não hesitou em considerar ser este resultado mérito de sua administração. Porém, diversos elementos contribuíram para isso, como a seca, que atraiu recursos, os retirantes servindo de força de trabalho barata e volumosa, o investimento de capital por parte de alguns capitalistas, e a industrialização de Fortaleza que estava mais desenvolvida.

Além dos serviços de meios-fios, galerias de vazão de águas pluviais, terraplanagem de dunas, construção de praças, Fortaleza foi dotada de um novo sistema de numeração, considerada no discurso oficial, como mais adequada ao aspecto de “cidade moderna”.

Através do Decreto municipal nº 75, de 31 de dezembro de 1932, modificou e normalizou a nomenclatura das ruas e logradouros públicos da cidade, até então incongruentes, desordenada e falha. Em consequência, foram colocadas e substituídas inúmeras placas e iniciado o serviço de numeração dos prédios, já tendo sido apostos mais de 18.000 números. 
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 294.)

Desta forma, a cidade passou por diversas reformas infraestruturais para torná-la mais “moderna”, ou seja, mais apta a desenvolver o capitalismo. Mudou-se até mesmo o sistema de limpeza pública que “foram substituídos por auto-caminhões convenientemente adaptados, as velhas carroças que desde tempos imemoriais faziam transporte do lixo domiciliar. Desta maneira o serviço é hoje feito com rapidez e eficiência, sem aquele aspecto moroso e antiquado.” - Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 297.

O Estado (interventoria e governo municipal) vai substituindo todos os aspectos mais rurais de convívio da sua cidade. O logradouro cada vez mais vai ganhando um aspecto urbano, apesar de parte da população que habita ainda ser rural. Os retirantes passam a viver numa cidade que apesar de participar do seu processo de produção, a enxerga como algo que lhe é “exterior e estranho”, não usufruindo dos seus benefícios. Sendo eles deslocados para os subúrbios, favelas, distante das elites e do convívio social. Esses trabalhadores construíram um espaço urbano “moderno”, e não puderam ser beneficiados com seu uso, abrindo possibilidades para que as classes abastadas e setores capitalistas legitimem-se como sujeitos do processo, criando discursos como: “a modernização de Fortaleza foi realizada pela elite”; “o governo do Raimundo Girão urbanizou Fortaleza”, dentre outros.

Jornal a Razão em visita ao Morro do Moinho em 1936, local para onde foram deslocados alguns retirantes da seca de 32.

Uma parte da historiografia do Ceará legitima Adolfo Herbster, Silva Paulet, Nestor Figueiredo, sujeitos criadores da cidade, como se um processo complexo como a construção de uma cidade se resumisse a um conjunto de ideias e/ou projetos frutos da intelectualidade de uma plêiade.

A propaganda sobre as melhorias da cidade que, segundo os grupos dominantes estava se tornando moderna, continua. Agora é em relação ao Horto Municipal da cidade:

Continua tendo o maior desenvolvimento o Horto municipal, como a prefeitura pôde construir e refazer os seus jardins, arborizar ruas e logradouros e fornecer a quase todas as municipalidades do interior do estado. Infelizmente a sua atual situação é de todo inconveniente. Era pensamento do governo municipal localizá-lo nos terrenos adquiridos pela prefeitura a empresa Matadouro [...] aponto, o que para a prefeitura, seriam as vantagens [...] Além da excepcional localização e da fertilidade da baixada, a instalação do Horto, ali, terá a vantagem de contar com o adubo e o barro provindos do Matadouro, sendo quase nulas as despesas de transportes.
(Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 296.)

A prefeitura se demonstrou tão interessada em transportar o Horto para as proximidades do Matadouro, que na época ficava localizado próximo à lagoa do Tauape, que é plausível questionar os interesses em questão. As vantagens apontadas pelo governo sobre o terreno são tão explícitas e “convidativas” que se poderia pensar que se tratava de valorizar o terreno próximo ao Horto.
No entanto, o que é mais importante notar, é que as obras em Fortaleza não paravam de serem executadas. “No espaço de tempo compreendido entre janeiro de 1933 e esta data, foram abertos treze(13) kilômetros de novas ruas, tendo sido levantados 2.180 metros de cerca de arame”. (Relatório do Interventor Carneiro de Mendonça p. 295.)

Veremos algumas dessas obras através das fotos do Relatório do Interventor federal Roberto Carneiro de Mendonça.

No Relatório do Interventor, boa parte das fotos são mostradas fazendo uma comparação entre o antes e o depois das melhorias. Com isso, fazia sempre uma propaganda positiva do Interventor e do Prefeito Tibúrcio Cavalcante ou Raimundo Girão, dependendo do período.
Era comum também no relatório fazer comparações, de maneira discreta, com a administração anterior, criando uma imagem negativa da cidade, antes das “melhorias urbanas”. No caso, a cidade era termômetro para se avaliar se a administração foi boa ou ruim. A cidade era compreendida apenas no seu aspecto físico, infraestrutural, tornando-se, portanto, a vitrine de propaganda do governo, que a utilizava sempre com o adjetivo de moderna.


Ponte do Jacarecanga depois de sua nova reconstrução.

O governo utiliza a reconstrução da ponte como mais uma das melhorias que deixou Fortaleza uma cidade moderna.  Percebemos melhor a propaganda do governo nessa citação:

A prefeitura teve necessidade de reconstruir a ponte de Jacareganga, a Avenida 5 de julho, que por força das chuvas torrenciais deste ano, quase veio a ruir completamente. Os trabalhos da reconstrução pode-se dizer consistiram em uma nova construção, porquanto, para corrigir os defeitos da obra anterior e os danos causados pela invernada, tiveram de ser levantados novos muros de arrimo, feito todo o piso, construídas novas balaustradas e outros passeios laterais. A ponte apresenta agora um aspecto moderno, amplo e agradável. (Página 288-289)


Pista de patinação construído no Passeio Público na administração Major Facundo.


Esta foto demonstra a suntuosidade do governo e da elite¹, que em meio a vários conflitos na cidade: seca, explosão demográfica, campos de concentração, saques dos retirantes, movimento em prol da constituinte, não se esqueciam de seus momentos de luxo e lazer. Esse também é mais um indício do aumento de verbas que chegava à cidade, devido à seca. A cidade era remodelada num ritmo acelerado, ou melhor, o centro da cidade e alguns bairros da classe abastada.

Em relação ao centro da cidade, se observarmos as fotos das suas principais ruas como a Major Facundo, a Barão do Rio Branco dentre outras, verificaremos a presença de automóveis, os edifícios começando a se verticalizar, sua pavimentação a concreto, todos os indícios de um centro comercial que se tornava efervescente e moderno.


Essas fotos nos dão um panorama de como era o centro da cidade de Fortaleza, ou melhor, algumas possibilidades da reconstrução do centro, partindo da perspectiva que essas fotos foram selecionadas para propagandear o governo.
Podemos questionar como eram feitas essas melhorias, visto que as fotos mostravam as melhorias já em estado de conclusão. No entanto, são poucas as fotos no Relatório do Interventor que mostram as obras em andamento e, por conseguinte, os trabalhadores em atividade, pois não era intenção do governo mostrar a que custo era feitas essas melhorias, sendo muito mais interessante para efeito de propaganda exibir os resultados.


Esta foto é uma das poucas que mostram os trabalhadores no processo de construção das melhorias. Ela se refere ao serviço da nova pavimentação da Rua São Paulo. Não podemos afirmar pela foto que aqueles trabalhadores sejam retirantes. Porém ela é bastante significativa, pois revela quem são os sujeitos que constroem materialmente a cidade. Percebemos na foto a presença de trabalhadores em atividade, e a quantidade de trabalhadores que era necessário na época para se pavimentar uma rua. Como todas as ruas do centro foram pavimentadas, remodeladas, junto com a construção de praças, pontes, e outras obras, temos uma noção da quantidade enorme de trabalhadores necessários para realizar esses serviços, visto que as obras foram feitas em período concomitante.

Em 1932, os campos de concentração e várias frentes de serviço procuravam prender o flagelado no sertão. Entretanto, muitos retirantes conseguiram chegar à capital, onde eram recolhidos e alocados em obras como a construção de calçamentos e prédios. Além disso, os retirantes também trabalharam em construção de estradas de ferro, na oficina do Urubu, que foi mantida durante todo ano de 1933.
É importante salientar o caráter contraditório da urbanização de Fortaleza, que privilegiou o centro e os bairros nobres, e acelerou o crescimento das periferias e favelas.

¹“A patinação era um desporto em voga, com o qual a Jeunesse Dorée aproveitava os passeios cimentados das novas praças para exibir-se”. Daí em se pensar em projeto de modernidade e não apenas de modernização. A elite cearense se espelhava nos costumes europeus, e queriam uma cidade não apenas com novos equipamentos modernos, mais com uma população “culturalmente moderna”. (Castro, 1988, p 216)


Leia também:
A Seca e a Modernidade da Capital
A Seca, o conflito político e a favelização da capital
Seca e Campos de Concentração em Fortaleza


Crédito: Artigo 'A produção do espaço urbano de Fortaleza à partir da Seca de 1932' de Rodrigo Cavalcante de Almeida.
Fontes: Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará/ CASTRO, José L. de. Arquitetura Eclética do Ceará. São Paulo, Nobel, editora da universidade de São Paulo, 1988: in Ecletismo na Arquitetura Brasileira. Org: ANNATERESA, Fabris.- São Paulo: Nobel; editora da universidade de São Paulo, 1988./ http://memoria.bn.br/

sábado, 14 de outubro de 2017

As melhorias urbanas durante a seca de 1932


A partir da década de 30, Fortaleza acusa um crescimento demográfico elevado que se reflete no aumento de sua área urbana. Contudo a expansão da cidade a partir do aumento da população não gerou a ampliação relativa a infra-estrutura urbana, tais como calçamento, energia elétrica, água encanada, rede de esgotos, transportes coletivos, etc. (SILVA, 1992, p 29).

A Fortaleza dos anos 30 numa raríssima imagem de um pequeno postal. 
Vemos um bonde elétrico na Praça do Ferreira, onde os homens usavam terno de linho branco irlandês com chapéus, por causa do forte sol. A igreja Cristo Rei ao fundo, cajueiros e casarões contemplam o raro cenário. O Palacete Ceará, prédio inaugurado no início do séc. XX é destaque na foto. 
Parece que a foto foi tirada de cima do Excelsior Hotel (inaugurado em dez/1931). Pode ser também de um fotógrafo lambe-lambe, assim chamado que no início do século XX se pendurava em locais de difícil acesso p/ registrar os acontecimentos da cidade.

A seca de 1932 contribuiu para que a cidade de Fortaleza se tornasse mais habitada, porém, as pessoas que passaram a morar na cidade (retirantes) eram enxergadas pelas classes abastadas de maneira paradoxal. Pois se por um lado representava vandalismo, rebeldia, costumes inapropriados, quebra da ordem vigente, por outro significava a mão de obra barata para implantação do projeto de modernidade e consolidação do capitalismo desejado por essa classe dominante. Portanto, a cidade vai ser construída, ou melhor, reconstruída na seca de 1932 a partir dos conflitos sociais entre os setores capitalistas, o governo, e os retirantes, que representavam lucro e marginalização.
Nessa época se intensifica o processo de favelização de Fortaleza, causada em parte pela explosão demográfica que a seca de 1932 proporcionou. Boa parte da população de retirantes que vieram para a capital foi morar em bairros afastados da elite. O governo aproveita a quantidade de população (retirantes) e os recursos atraídos do governo federal devido à seca, e passa a investir nas chamadas “melhorias urbanas”.

Na década de 30, mesmo com o agravante da seca de 1932, Fortaleza insere-se num contexto nacional de urbanização. O governo começa a investir em “melhorias urbanas” na cidade, com o objetivo de torná-la mais moderna, na esteira do contexto nacional de urbanização. A mão de obra flagelada serve de recurso para a construção da “nova cidade”, que data sua gênese no final do século XIX, mas que é intensificada nesse momento.
As ruas do centro começaram a ser remodeladas para atender o novo padrão de urbanização que preza pela melhor circulação de pessoas, mas, principalmente, de mercadorias. Era necessário ampliar a circulação de mercadoria, para gerar uma maior acumulação de capital, especialmente após a crise de 1929.

Tendo sempre na máxima consideração as facilidades do tráfego, a atual administração realizou um serviço de incalculáveis resultados, o qual consistiu em fazer a ligação da Avenida Visconde do Rio Branco com a Rua Sena Madureira, a fim de estabelecer comunicação franca entre a zona da praia e, portanto, a zona portuária, e o bairro Joaquim Távora e, consequentemente o distrito de Mecejana e o interior do estado. 
(Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará. p. 290)

A rua Sena Madureira nos anos 30.

Era importante para o governo melhorar a circulação na cidade. Os bairros que faziam parte do perímetro central deveriam estar ligados com a praia, ou melhor, com a zona portuária. Pois o objetivo principal não era melhorar “o tráfego de pedestres” como podemos observar nesse trecho extraído do relatório, e sim facilitar o acesso ao porto da cidade, que, no desenvolvimento atual de sua economia, recebia maior importância. Essa reforma foi chamada no relatório do Interventor Federal, de “ligação importante”, mostrando a sua relevância visto que, para ela ser efetuada, foi necessário reconstruir.


A pavimentação do trecho compreendido entre as ruas Pedro I e Travessa do Pocinho, até então totalmente imprestável, e afastou o alinhamento dos muros do Parque da Independência e da chácara pertence ao Sr. Alfredo Barbosa Leite, a quem foi indenizado o prejuízo correspondente. [...] mesmo depois de ter mostrado o esforço para que o ligamento fosse feito. O governo ressalta [...] este melhoramento era sobremodo facilitado o escoamento do trafego por aquela importante via publica. 
(Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará. p. 291)

Beco dos Pocinhos em 1927. Crédito: Prefeitura Municipal de Fortaleza. Agradecimento-Ivan Gondim

Beco dos Pocinhos visto da Rua Pedro Borges na direção do nascente, vendo-se ao fundo a Igreja do Pequeno Grande.

Reformas como essas se tornaram frequentes a partir da seca de 1932, graças a um aumento das verbas que chegaram à capital devido à seca e também a um setor do capitalismo ligado ao comercio e à indústria civil, que precisava se desenvolver. Sem falar na população “flagelada” que poderia ser um recurso barato, e que foi aproveitado pelo governo, na medida em que resolveria dois problemas de uma só vez, diminuição dos gastos com mão de obra e controle social dos retirantes. Isso se reverbera no discurso afiado do Estado, no que tange a necessidade dessas melhorias para a população. Podemos notar na sua justificativa sobre o prolongamento da Rua Liberato Barroso:

Em obediência a um plano anteriormente traçado, de fazer prolongar a Rua Liberato Barroso até a praça dos voluntários, em cujas proximidades, é projeto construir-se o Paço Municipal, foram indenizados e demolidos os prédios e terrenos necessário a esse prolongamento, no trecho compreendido entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo. E este é um melhoramento de avultados efeitos para o futuro da cidade e muito facilitará como já está facilitando, o desenvolvimento do trafego urbano. Torna-se indispensável que a administração municipal complete a abertura da rua projetada, no trecho compreendido entre as ruas Floriano Peixoto e General Bezerril, a fim de que a medida atinja a sua finalidade.
(Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará. p. 289)

Fotos do Relatório Carneiro de Mendonça

O relatório mostra o empenho para convencer que esse prolongamento era de total necessidade, que facilitaria o tráfego, ou seja, o desenvolvimento futuro da cidade, deixando implícito que a cidade e a administração (do prefeito Tibúrcio Cavalcante e Interventor) iriam ter perdas enormes se a obra não fosse construída. Ressaltando como sendo de fundamental importância concluir essa melhoria que para a abertura do trecho ora entregue ao publico, foi necessário desapropriar cinco prédios, no valor total de R.S. 385.000. Os discursos eram criados com a intenção de justificar a construção dessas melhorias. Falava-se do aumento de verbas destinados a essas obras, utilizavam a retórica da antinomia cidade moderna em detrimento da “velha” cidade, para que os setores capitalistas e o governo¹ efetuassem seu projeto urbano de desenvolvimento capitalista, excluindo as camadas pobres da participação dos benefícios. Fortaleza estava se remodelando numa velocidade exacerbada. Várias obras foram construídas com a intencionalidade de deixar a cidade mais moderna. Foi construído nessa época o primeiro mictório público sendo instalado no canto do jardim da Praça General Tibúrcio. “O material sanitário é de primeira qualidade, foi adquirido na Inglaterra e já se encontra no almoxarifado da prefeitura” (Relatório do Interventor Federal).
Verificamos, então, qual era a prioridade do governo. A cidade lotada de retirantes famintos, sem moradia, em busca de melhores condições de vida, e a prefeitura utilizando a verba, oriunda em boa parte devido à calamidade, para construir banheiros públicos.
No primeiro ano do governo de Getúlio Vargas, a seca já fazia parte da agenda de discussão. Resultando, em 1932 e 1933, de auxilio de verbas do governo federal ao combate à seca, normalmente repassados via IFOCS e Ministério de Viação e Obras Públicas. No ano de 1934, ficou estabelecido na Constituição que a União teria que traçar um plano orçamentário relativo às secas. A estiagem passou a ser incorporada como pauta obrigatória do Estado. Os problemas provocados pelas secas deveriam ser contornados pelo viés racional de controle da União. As imigrações passaram a ser analisadas numa dimensão global. A mudança na política do governo em relação à estiagem mostrou, em parte, a relevância da seca de 1932 no cenário nacional.

Mictório público da década de 30. Esse ficava localizado na Travessa Pará. Acervo MIS

Como se tratava de uma das maiores secas já ocorridas no estado do Ceará, os governos estaduais e federais, agiriam junto com as classes abastadas para tentar atenuar os conflitos que ela poderia gerar. Portanto, era necessário enviar mais verbas para que o controle da população fosse efetivado sem conflitos. Isso significava construir obras e colocar os retirantes para ocupar seu tempo, no caso, trabalhar pesado.
Foi construída mais uma praça, conhecida como Fausto Barreto.

Serviço de terrapleno na Praça Fausto Barreto (Praça da Alfândega). Relatório do Interventor Federal Carneiro de Mendonça - 1931 a 1934


Na planta da cidade, levantada ultimamente, ficou projetado uma praça, que tomou o nome de Fausto Barreto e esta localizada a praia de Iracema, no ponto terminal da Avenida Pessoa Anta, recém-aberta e pavimentada. O terreno destinado à referida praça foi adquirido em condições vantajosas para municipalidade. Foi feito o serviço de aterramento dos charcos ali existente, e aproveitado o coqueiral como arborização do logradouro, que tem atualmente aspecto pitoresco e sadio.

Avenida Pessoa Anta (rua da Praia) na década de 30. Arquivo Nirez


Essa era uma das formas que o governo encontrava para utilizar os retirantes, estabelecendo um controle sobre seu tempo “livre”, visto que era necessária muita mão de obra para fazer os serviços de aterramento dos charcos, construção de praças e ruas, e não carecia de muita especialização para esses tipos de serviços, sendo, por conseguinte muito viável para o Estado a alocação dos “flagelados” nessas obras, e que não foram poucas.

É importante salientar que os discursos acerca dessas obras sempre vêm acompanhados de adjetivos como: vantajosas, bonitas, de imensa serventia pública, fundamental para melhorar o tráfego entre outros. Em nenhum momento é ressaltada a importância dos trabalhadores na construção dessas “melhorias”. É como se elas fossem feitas pelas ideias da elite e do governo e não pelo trabalho dos operários que carregavam as pedras, erguiam as praças, modificavam as ruas etc. Havia uma inversão de valores em relação a essas melhorias. Elas eram utilizadas dentre outros objetivos, para fazer propaganda do governo. E as reformas continuavam sem parar.


Continua...

¹As reformas referentes a seca de 1932 se iniciam no governo do prefeito Tibúrcio Cavalcante, mas ganham um impulso maior na administração de Raimundo Girão, no ano de 1933.

Leia também:
A Seca e a Modernidade da Capital
A Seca, o conflito político e a favelização da capital
Seca e Campos de Concentração em Fortaleza


Crédito: Artigo 'A produção do espaço urbano de Fortaleza à partir da Seca de 1932' de Rodrigo Cavalcante de Almeida.
Fontes: SILVA, José B. d. Os incomodados não se retiram: Fortaleza: Multigraf, 1992/ Relatório do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça 22/09/31 à 05/09/34. Arquivo Público do estado do Ceará. / http://memoria.bn.br/

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