Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Casa Boris
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Casa Boris Frères



Casa Boris Frères em 1910 - Arquivo Nirez
Uma das casas mais importantes, não só no Ceará como em todo o Norte do Brasil. Os sócios da firma eram os srs. Théodore Boris, Isaie Boris e Achille Boris, que residiam em Paris e lá dirigiam a sucursal da casa, e o sr. Adrien Seligmann, era o sócio-gerente no Ceará.

Crédito: Carlos H. Bertelli
Esta casa, foi fundada em 1870 e fazia o comércio de exportação dos principais produtos do estado, tais como borracha, algodão, cera de carnaúba, couros e peles. Importava máquinas para agricultura, cimento, carvão etc.

Correspondência de João Brígido endereçada a Casa Comercial Boris Frères - 25 de janeiro de 1904 - Acervo de Nágila Maia de Morais

Correspondência de João Brígido endereçada a casa Comercial Boris Frères - 1904 
Acervo de Nágila Maia de Morais
Os srs. Boris Frères possuíam uma instalação para o beneficiamento da borracha, que recebiam do interior do estado. A borracha era posta de molho em uma solução especial durante 20 ou 30 horas; depois, tratada em máquinas diversas, e cortada, em seguida, por meio de facas circulares. A borracha era depois posta a secar em estufas, onde ficava durante trinta dias. A instalação tinha capacidade para 1.500 quilos diários e as máquinas eram provenientes dos conhecidos fabricantes Joseph Robinson & Co., Salford, Manchester. Os srs. Boris Frères pretendiam aumentar a sua instalação para o tratamento da borracha, visto o aumento constante que estavam tendo.


Propaganda Boris Frères de 1929 - LR Blogs Associados
Na seção de algodão, era enorme a quantidade de artigo bruto tratado pela firma. Vinha ele do interior em grandes fardos imprensados e no depósito da firma era limpo quando isso se tornava necessário. O armazém era iluminado à luz elétrica, fornecida por um dínamo; e havia também uma bateria de acumuladores (para o caso em que não se queria fazer funcionar o dínamo), a qual tinha capacidade para iluminar a instalação durante dez dias. A força motriz para o maquinismo era dada por um motor a vapor dos srs. Fawcett Preston.

Nota de despesas de trabalhadores da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais
Na seção de couros, que ficava em outro depósito fronteiro ao porto, o movimento anual sobia a 1.000.000 de couros e peles, dos quais os primeiros eram exportados, na maioria, para o Havre e Hamburgo, sendo as peles enviadas principalmente para Nova YorkFiladélfia.

Crédito Collectorcircuit
O representante da firma em Nova York era o sr. Emile Boris, Broad Street, 68. As exportações em borracha ficavam divididas entre os mercados de Liverpool, Havre, Antuérpia e Nova York; o algodão ia para o Rio de Janeiro, Liverpool e Havre; a cera de carnaúba para Hamburgo, Nova York e Liverpool. Os srs. Boris Frères eram cônsules da França no Ceará e vice-cônsules da Noruega; e eram agentes e representantes de bancos e firmas importantes, tais como London & River Plate Bank e todas as suas sucursais; Brasilianische Bank für Deutschland e todas as suas sucursais sul-americanas; British Bank of South America, Banco do Recife, Banque Française et Italienne, Banco Español del Rio de la Plata, Banco Transatlântico Alemão, Rio; Deutsch Sudamerikanische, Rio e Hamburgo. Fazia também a firma a emissão de vales-ouro para pagamentos alfandegários.


Crédito Collectorcircuit

Os srs. Boris Frères eram também proprietários de várias plantações de borracha, café, cana-de-açúcar etc., próximo a Baturité e Crato (Serra Verde), no estado do Ceará. A firma tinha agências nos estados vizinhos. O movimento anual da casa ia a R$ 12.000:000$000 (£800.000).


Filial da Boris Frères em 1921: vista fronto-lateral do prédio em Fortaleza

(fotografia cedida por Pierre Seligman) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

A casa em 1922. Acervo Charles Boris

Todo colecionar de selos ou história postal do Império do Brasil, em algum momento se 
depara com os envelopes destinados a Casa Boris Fréres.
Mas afinal quem foi está Casa comercial que tanta correspondência mantinha?

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

                                            Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
                                                                        Acervo de Nágila Maia de Morais

No decorrer do século XIX, sobretudo de 1850 até o seu final, a França ocupou uma posição privilegiada nas relações comerciais externas brasileiras: o segundo país no movimento de importação e exportação de mercadorias no Brasil, logo em seguida à Inglaterra.

Matriz da Boris Frères: vista frontal do prédio onde se localizava o escritório
da empresa entre as décadas de 1880 e 1940 - Rue de La Victoire, 65. Paris
(fotografia feita em 1990) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

A origem dessa posição privilegiada encontra-se no crescimento econômico ocorrido naquele país no chamado Segundo Império, caracterizado especialmente por um impulso industrial que passou a exigir mercados cada vez mais amplos.
Nesse processo, as casas comerciais importadoras-exportadoras, pertencentes a “comissários em mercadorias” na França, atuando no ramo atacadista e apoiada numa estrutura que implicava na existência de uma matriz francesa e uma filial no Brasil, tiveram 
uma importância fundamental ao viabilizarem essa expansão, materializando-a.
Dentre essas casas. Estava a Boris-Frères. Sua origem remonta à cidade de Chambrey
na região da Alsácia-Lorena, onde a família Boris comercializava com cavalos, pelo menos 
desde a segunda metade do século XVIII.

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Em 1865, um de seus membros, Alphonse Boris, viajou para a região nordeste do Brasil, dirigindo-se à província do Ceará, sendo seguido, dois anos depois, por seu irmão Théodore.
A primitiva casa comercial que então fundaram em Fortaleza, no ano de 1869, a Théodore Boris et Frères, desapareceu com o regresso deles ao país de origem, dois anos 
depois, mas não em definitivo: suas atividades no Brasil estavam, de fato, apenas começando.
Em Paris, cidade para a qual a família havia emigrado no contexto da Guerra Franco Prussiana, eles fundaram, a 14 de fevereiro de 1872, a Boris Frères, sociedade entre irmãos. Essa objetivava explorar “um comércio de comissão exportação-importação”, com matriz na capital francesa e filial no Ceará, para onde eles retornaram, ainda no mesmo ano, e estabeleceram a filial.

O comerciante Théodore Boris, Chambrey, 1841 . Paris, 1933. ( Uma casa chamada Boris, 1869-1969. Fortaleza, s. n., [1969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
A Província do Ceará experimentava, entre 1860 e 1870, uma expansão agroexportadora, apoiada principalmente na produção algodoeira, que integrava o mercado cearense às correntes do comércio internacional. Tal expansão significava para os interesses comerciais franceses, representados pela Casa Boris, a possibilidade de atuarem não só no ramo da exportação de matérias-primas para a Europa, mas também no ramo de importação de produtos manufaturados.
A opção deles contrastava com a da grande maioria dos comerciantes franceses que, neste período, emigraram para o Brasil com o objetivo de ai estabelecer casas comerciais. A capital do Império e as cidades do Recife e Salvador foram aquelas para as quais eles se dirigiam preferencialmente, sobretudo a partir dos anos cinquenta.
A partir da instalação definitiva em 1872, foi-se engendrando uma hierarquia na cadeia de distribuição das mercadorias importadas, tendo, em uma de suas extremidades, a casa matriz de Paris, e na outra, o pequeno comerciante do interior da província.

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

Nota de pagamento de frete da Casa Comercial Boris Frères de 1904
Acervo de Nágila Maia de Morais

A exportação de produtos locais para o mercado externo alicerçava-se nos mesmos agentes e hierarquia. As matérias-primas dirigidas ao comércio exportador chegavam à Casa Boris, em Fortaleza, através dos comerciantes com que negociavam na importação, oriundas de fornecedores interioranos.

O comerciante Alphonse Boris. Chambrey, 1843. Paris, 1898. ( Uma casa chamada Boris, 1869-1969. Fortaleza, s. n., [1969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
Os tecidos vinham em primeiro lugar por ordem de importância. Eram constituídos tanto por aqueles de melhor qualidade, mais finos, como por aqueles mais baratos, destinados a um consumo mais popular. Estes últimos, que no Brasil foram de origem, sobretudo inglesa, 
predominaram nas vendas da Casa. Dessa forma, a Boris Frères soube esquivar-se de uns 
problemas enfrentados pelo comércio francês, especialmente no caso dos tecidos, ou seja, a 
dificuldade de consumo para artigos de luxo, que o caracterizavam. Logo após os tecidos, as 
demais mercadorias estrangeiras importadas e comercializadas foram peças de vestuário, 
perfumaria, objetos de decoração, vinhos, conservas, manteiga, drogas, artigos de armarinho e papelaria, cujas encomendas eram feitas à casa-matriz. Note-se, porém, que havia um produto bastante comercializado pela Casa Boris, cuja origem era norte-americana e constituía um dos principais itens das exportações dos Estados Unidos para o Brasil: a farinha de trigo, para confecção de pães e de bolachas.
A “flexibilidade” dos negócios da Casa, porém, é mais patente quando se observa que 
comercializou também com mercadorias de produção local, como velas de cera de carnaúba, 
charque ou ainda aguardente, que eram enviadas de uma área à outra dentro da própria 
Província.

O comerciante Isaie Boris. Chambrey. 1846. Versalhes. 1918. (Uma casa chamada Boris. 1869-1969. Fortaleza. s. n.. [I969?]) - Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX
Considerando-se a atividade exportadora da Casa Boris, em particular, consta-se que o 
algodão constituiu o principal gênero comercializado pela Casa. Ora, na medida em que os 
tecidos foram às mercadorias de maior peso nas importações, verifica-se que ocorria um 
intercâmbio comercial no qual se importavam manufaturas feitas com a matéria-prima que se exportava, vários foram os comerciantes cearenses cuja relação com a Boris Frères esteve assentada, sobretudo, na venda do algodão e na sua contrapartida: a compra dos tecidos, fabricados com aquela matéria-prima.
Os couros estiveram em segundo lugar, em ordem de importância. Por um lado, esse artigo manteve-se, na segunda metade do século XIX, como um dos principais itens as pauta 
das exportações brasileiras para a França; pelo outro, os objetos trabalhados com essa 
matéria-prima constituíram uma das oito mais importantes mercadorias importadas daquele 
país pelo Brasil, no período.
Em terceiro lugar, vinham as penas de ema, utilizada na França, provavelmente, na indústria de decoração e vestuário.
A cera de carnaúba e a borracha também foram comercializadas, embora em bem menor 
grau do que os três artigos anteriormente citados. Afora esses produtos típicos do Ceará
alguns outros despertaram o interesse da casa Boris, este foi o caso do “jaborandi” e de 
resinas”, empregados na fabricação de algumas drogas.
Dessa forma, a Boris Frères filial pôde estabelecer, nos anos de 1870, as bases seguras de sua presença comercial na Província. Suas lucrativas relações com o mercado cearense, que não foram abaladas pelos anos de seca, muito ao contrário, desdobra-se-iam, a partir dos anos oitenta, em novas atividades, colocando-a em posição cada vez mais importante no Ceará.


Prensa inglesa de algodão da Casa Boris Frères, inaugurada em 1924 (Fotografia cedida por Pierre Seligman). Livro Franceses no Brasil: séculos XIX- XX

As atividades mencionadas caracterizavam-se, em primeiro lugar, pela sua manutenção 
como casa comercial, reforçada por novas “conquistas”, como a da estável posição de gentes 
consulares, que deteriam durante décadas, e de companhias de seguro de navegação; em 
segundo lugar, por um desdobramento em novas atividades no setor da agroindústria, que se 
traduziram em investimentos diretos na agricultura e no processo de beneficiamento, ao 
mesmo tempo em que constituiu uma expansão da atividade da Boris Frères, consolidou-a 
como casa comercial, pois objetivava, em última instância, um aprimoramento da atividade 
exportadora.
A  primazia da exportação em seus negócios na província se consolidaria em 1910, quando a Casa deixou de realizar importações de mercadorias, num quadro marcado pela perda progressiva da posição da França no mercado internacional, após o final do século XIX. 
Quanto às exportações seriam interrompidas somente em 1930, como efeito da grande 
depressão de 1929, que atingiu o comércio exterior brasileiro. A partir de então as atividades 
da Boris Frères, no Ceará, restringir-se-iam, especialmente, ao ramo de navegação e seguros, 
no qual ainda hoje atua.
Carlos H. Bertelli

Saiba Mais

A Casa Boris foi fundada em 1869, tendo como razão social: "Théodore Boris & Irmão".
Localizava-se antiga Travessa da Praia (atual Rua Boris)





Fontes: ¹Livro Impressões do Brazil no Século Vinte, ²Szmrecsányl, Tamás. & Lapa, José Roberto do Amaral. História Econômica da Independência e do Império. Edusp, São Paulo, 1993 e ³Meyer, Peter. Catálogo Enciclopédico de Selos & História Postal do Brasil. 
RHM, São Paulo, 1999

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ruas de Fortaleza - Mudanças (Rua Boris)


Foto de 1908
A antiga travessa da Praia (atual Rua Boris), perpendicular à rua da Praia (Avenida Pessoa Anta), foi, durante muito tempo, conhecida como ladeira do Solon, por residir na mesma, no prédio que vemos ao longe na foto mais antiga (um chalé com portas arqueadas), o coronel Solon, que possuía uma plantação de videiras e lá residiu por 21 anos.


Na velha foto, de cartão postal de 1910, vemos, na esquina, uma casa tipo beira-e-bica, seguida da Casa Boris, fundada em 1869, tendo como razão social a firma "Théodore Boris & Irmão" constituída de Aiphonse Boris e Théodore Boris, o primeiro chegado em 1865, de navio e o segundo pelo interior em 1867. Em 1870 a firma passou a denominar-se "Boris Frères", com a administração dos sócios Achiles Boris, Adrien Boris e Isaie Boris, tendo como sede a cidade de Paris.
Em 1878 Isaie veio morar no Ceará, chegando a vice-cônsul Francês. Quando se foi, em seu lugar ficou Achile. Graças à firma Boris Frères é que hoje temos a oportunidade de conhecer Fortaleza no início deste século, através de mais de cento e sessenta fotografias editadas em dois álbuns em 1908 sob o título de Vistas do Ceará - 1908 impresso em Nancy, França, por Imprimeries Réunies de Nancy. Infelizmente não foi identificado o fotógrafo.
Na velha foto os trilhos de trem passavam pela atual Pessoa Anta, no rumo do porto (Ponte Metálica), passando pela Alfândega.


Na segunda foto(P&B), de Osmar Onofre, já não existem os trilhos nem o calçamento, mas o asfalto; as calçadas continuam irregulares tanto na largura como na altura, embora hoje existam o meio-fio e um código de obras e posturas que determina a regularidade tanto na altura como na largura; a casa de beira-e-bica foi reformada; a casa do coronel Solon desapareceu com a construção da avenida Leste-Oeste; novas construções surgiram prosseguindo a rua; postes de concreto levam a luz e a força através dos fios; somente a Casa Boris resistiu ao tempo.
Em frente à Casa Boris hoje existe um calçadão que vai da Rua Boris até a Rua Almirante Jaceguai, que faz parte do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura. Infelizmente existe hoje uma prática de pintar-se as casas antigas com cores vivas, o que não se fazia antigamente, tornando-as hoje ridículas.
Dever-se-ia proceder a uma prospecção para descobrir a tinta primitiva e da mesma cor pintar os edifícios para dar o aspecto da época.




Crédito: Portal da História do Ceará e Nirez

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: