Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Maracatu Az de Ouro
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O Carnaval na Fortaleza antiga


Carnaval no Ideal Clube em 1935 - Arquivo Nirez

Relembrar o Carnaval de antigamente em Fortaleza é motivo de alegria para muita gente. O historiador e memorialista Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) recorda como era o período carnavalesco no início do século passado.

“Nas primeiras três décadas os nossos carnavais tinham uma característica de transição entre o entrudo [diversão popular de rua, que chegou ao Brasil junto com os portugueses] e o carnaval. A partir de 1930 tudo mudou. Surgiram os blocos com muita força, tendo a guiá-los um baliza à frente, seguido do estandarte, depois vinha o bloco em formação quase militar porém livre e por fim a orquestra, quer fosse bloco de samba, cordão ou qualquer outro. Os maracatus, que eram apenas dois, desfilavam com sua caraterística própria, lenta e compassada”, afirma Nirez.


Ele conta também que depois de 1960, o Carnaval na Capital cearense mudou de estilo. “Surgiu um regulamento da Prefeitura, copiado do regulamento das escolas de samba do Rio de Janeiro, que premiava as coisas que não existiam em nosso carnaval: comissão de frente, porta-bandeira, mestre sala, adereços, bateria, ao mesmo tempo em que desclassificava quem entrasse no desfile com orquestra, baliza, etc. Foi um ato ditatorial exercido pela departamento turístico da Prefeitura demonstrando total ignorância sobre o nosso carnaval”, afirma.


Bloco Banda do Morro - Arquivo Nirez

Acontecimentos históricos - Carnaval de Fortaleza:


  •  15 a 17 de fevereiro de 1874 - Os festejos carnavalescos em Fortaleza ocorreram tranquilamente. 



  •  23 a 25 de fevereiro de 1879 - Ocorrem os festejos carnavalescos ou como era chamado, entrudo



  •  23 a 25 de fevereiro de 1884 - O entrudo, ou como ficou depois conhecido, carnaval teve suas apresentações pelas ruas da Cidade. 



  •  15 de fevereiro de 1885 - Funda-se, em Fortaleza, a Sociedade carnavalesca Conspiradores Infernais, cujos estatutos são aprovados no dia 21/02/1888.


Crônica Carnavalesca - Arquivo Nirez


  •  01 e 02 de março de 1897 - Prosseguem os festejos carnavalescos em Fortaleza nas ruas e nos clubes. 



  •  14 de fevereiro de 1899 - Terça-feira de carnaval, morre, em Fortaleza, Almino Álvares Afonso (Almino Afonso), abolicionista e senador pelo Rio Grande do Norte. Era latinista nascido em Patu, hoje Almino Afonso, RN, no dia 17/04/1840. Foi sepultado no Cemitério São João Batista



  •  25 a 27 de fevereiro de 1900 - O carnaval, neste último ano do século XIX, ocorreu nos clubes e nas ruas de Fortaleza em perfeita normalidade.



  •  14 a 16 de fevereiro de 1904 - Os clubes da Cidade se engalanam para as festas carnavalescas enquanto nas ruas os blocos são atração popular.



Narcílio Andrade como Rei Momo - Arquivo Nirez


  •  01 a 03 de março de 1908 - São dias dedicados aos festejos carnavalescos nos clubes, nas ruas e em casas de família.



  •  05 a 07 de março de 1916 - Os festejos carnavalescos neste ano foram fraquíssimos em virtude da seca do ano anterior e a Cidade estar cheia de flagelados. 



  •  30 de dezembro de 1916 - Começa a circular em Fortaleza o jornalzinho carnavalesco O Pierrot.


  •  26 a 28 de fevereiro de 1922 - Dias dedicados aos festejos carnavalescos, naquele ano denominado "carnaval da Independência", por ser 1922 o ano do primeiro Centenário da Independência do Brasil.







Propaganda de venda de material usado nas comemorações de carnaval em 1922.


  •  20 de fevereiro de 1928 - Grande incêndio em pleno carnaval destrói completamente três casas comerciais na Rua Floriano Peixoto, na Praça do Ferreira, as lojas A Capital, de Braga & Irmão, Estiva & Miudezas, de J. Leopoldino da Silva e Casa Germânia, de José Cabral Ribeiro



  •  17/02/1931 - Tiroteio na Praça do Ferreira em razão de desinteligências entre soldados do Exército e da Guarda Cívica. Ninguém foi ferido mas o pânico foi enorme e as bancas que vendiam artigos de Carnaval sofreram vultosos prejuízos. 



  •  Fevereiro de 1932 - Terça-feira de Carnaval. Este ano não houve festejos carnavalescos nas ruas, para isso concorrendo grandemente a seca que assola o Estado. Quanto aos clubes, tomaram luto, em razão do inopinado falecimento do Dr. Meton de Alencar.



  •  26 a 28 de fevereiro de 1933 - Acontece o carnaval em Fortaleza com certas restrições dadas as condições em virtude da seca do ano anterior. 



  •  28/02/1933 - Domingo de Carnaval, chegam do Rio o Ministro José Américo e o Interventor Carneiro de Mendonça, que, à noite, visitam os Clubes ‘Iracema’ e ‘Ideal’.


Os Gregos No Líbano - Arquivo Nirez


  •  12 de fevereiro de 1934 - Assume, em pleno carnaval, a Interventoria Federal do Ceará, em caráter definitivo, o Desembargador Olívio Dorneles Câmara (Olívio Câmara), em substituição ao capitão Roberto Carneiro de Mendonça, do qual era substituto eventual, tendo assumido o cargo por várias vezes.



  •  21 de janeiro de 1935 - Fundado o bloco carnavalesco Prova de Fogo, pelos sargentos do Exército, Otacílio Anselmo, Carlos Alenquer e Luís Freitas e os comerciários Alderi Pereira e Edson Viana Maranhão (Edson Maranhão).



  •  03 de março de 1935 - Estréia no carnaval cearense o bloco Prova de Fogo, ainda hoje existente. 



  •  03 de março de 1935 - Coroação do Rei Momo do Clube Iracema, Sua Majestade Ponce de Leon, 1º e Único, em baile carnavalesco nas dependências do clube, denominado "Uma Noite no Inferno", sob o som do hino "Tabajara", de Euclides da Silva Novo e Caetano Vasconcelos de Acioli (Caetano Acioli). 



  •  05/03/1935 - Terça-feira de carnaval. À noite, na Praça do Ferreira, verifica-se forte fuzilaria, de que resultaram as mortes do sargento da Guarda Cívica Raimundo Correia Lima, do guarda Eldair Correia Lima e do inspetor de veículos Marcos Ribeiro Magalhães. Varias outras pessoas saíram feridas. O crime é atribuído a uma vingança exercida contra o sargento Correia Lima, responsabilizado por um assassínio em Maranguape.

Diário do Ceará de 31/01/1922


  •  Janeiro de 1936 - Alguns foliões que estiveram em Recife trazem uma novidade para o carnaval de Fortaleza, fundam o Maracatu Ás de Ouro, sob a direção de Raimundo Feitosa. No desfile daquele ano, o bloco foi premiado Campeão do Carnaval.



  •  06/02/1936 - Uma Nota Oficial da Chefatura de Polícia adverte que serão adotadas severas medidas de repressão contra os que, este ano, pretenderem perturbar a ordem, durante o tríduo carnavalesco.



  •  19/02/1939 - Domingo de Carnaval. O ‘Ideal’ realiza uma matinée infantil, e, à noite, a animação foi das ‘crianças grandes’, no ‘Iracema’.


  •  20/02/1939 - O ‘Country’ e o ‘Clube dos Diários’ efetuam animadas festas carnavalescas. 


  •  05/02/1940 - Segunda-feira de Carnaval. Os jornais registram a grande animação dos bailes que se estão realizando no ‘Sétimo Céu’, como é chamado o terraço do ‘Excelsior Hotel’. 


  •  23/02/1941 - Primeiro dia de carnaval, irrompe grande incêndio, no depósito do Cock Bar, na Travessa Pará, atingindo o Mictório Público e o Posto Pará. Os três prédios pertenciam à Prefeitura Municipal de Fortaleza. O Cock Bar ficava na Rua Guilherme Rocha, Praça do Ferreira. 


  •  15/02/1942 - Sai, pela primeira vez, no desfile carnavalesco, o bloco Escola de Samba Lauro Maia, iniciativa do ator teatral e humorista José Pereira de Andrade Júnior (Canelinha), que a fundou e dirigiu. O nome era uma homenagem ao compositor e amigo Lauro Maia Teles. A escola desfilou cantando e executando os sambas Minha Escola de Samba, de Luiz Assunção, e Cara de Judeu, de Lauro Maia.


  •  07 a 09 de março de 1943 - O carnaval foi desanimadíssimo, em virtude do momento internacional por causa da guerra. No Domingo de Carnaval, na Praça do Ferreira, os universitários cearenses realizam ardoroso comício anti-nazista.


Carnavalesco em 1962 - Arquivo Nirez


  •  11 a 13 de fevereiro de 1945 - O carnaval passa quase que despercebido, sendo o mais fraco já acontecido, em virtude da guerra.


  •  03 a 05 de março de 1946 - O período momino deste ano, por ser o primeiro após o término da Segunda Guerra Mundial, foi chamado de O Carnaval da Vitória, sendo animadíssimo, após três carnavais quase inexistentes. Desfila pela primeira vez em Fortaleza a Escola de Samba Luís Assunção, antes denominada Escola de Samba Lauro Maia. No domingo de carnaval, conforme acentuou a imprensa, o corso esteve bastante animado, não obstante sua má localização. Foi multo aplaudido o bloco Intitulado ‘Cordão dos Puxa-Sacos’.


  •  15/01/1948 - Fundada nesta Capital a Associação dos Cronistas Carnavalescos de Fortaleza, cuja primeira diretoria é eleita no dia seguinte, trazendo na presidência o jornalista Manuel Felizardo Mendes Montalverne (Felizardo Montalverne), do jornal O Estado. Hoje chama-se Associação dos Cronistas Sociais e Carnavalescos do Ceará.



Bloco Turma do Camarão - Arquivo Nirez

  •  06/02/1949 -  Funda-se, em Fortaleza, o bloco Turma do Camarão pelos carnavalescos Geraldo Gadelha, Francisco Soares, Abmael de Souza, Antônio Neves, Pedro Soares e José Maria da Silva. Em 1966 mudou o nome para Escola de Samba Império Ideal, influenciado pelo documento oficial da Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF que retirou as premiações para blocos tradicionais e impôs a mudança.


  •  19/02/1950 - Primeiro dia de carnaval, surge um grupo carnavalesco oriundo de Messejana, Bloco dos Carpinteiros, liderado por José Tomé de Oliveira.


  •  20/02/1952 - Festa pré-carnavalesca oficial com presença da Banda de Música do 23º Batalhão de Caçadores - 23ºBC e da Banda de Música da Polícia Militar do Ceará - PMC, doze blocos carnavalescos e, em palanque armado junto à Coluna da Hora, o prefeito Paulo Cabral de Araújo discursa fazendo entrega da chave simbólica da cidade ao Rei Momo Luisão I e Único.
    Em agradecimento falou o jornalista Daniel Carneiro Job, o "Profeta da Cova", secretário real de sua majestade.
    Do local seguiram para o Palácio da Luz onde os esperava o governador Raul Barbosa e o comandante da 10ª Região Militar, general Edgardino de Azevedo Pita e o Secretário de Polícia e Segurança Pública coronel Aldenor Maia. Da sacada do Palácio novos discursos foram proferidos.
Em agradecimento falou o jornalista Daniel Carneiro Job, o "Profeta da Cova", secretário real de sua majestade.
Do local seguiram para o Palácio da Luz onde os esperava o governador Raul Barbosa e o comandante da 10ª Região Militar, general Edgardino de Azevedo Pita e o Secretário de Polícia e Segurança Pública coronel Aldenor Maia. Da sacada do Palácio novos discursos foram proferidos.


O Cordão das Coca-Colas - Arquivo Nirez


  •  17/02/1953 - O concurso promovido pela Rádio Iracema para escolha dos melhores no carnaval elegeu campeão do carnaval: Maracatu Ás de Espadas (Taça Prefeitura Municipal); Melhor Baliza: o Sr. Jari Cavalcante, da Escola de Samba Luís Assunção (Taça o Estado); Melhor Estandarte: Maracatu Estrela Brilhante (Taça Folha do Povo); Melhor Ritmo: Maracatu Estrela Brilhante (Taça Gazeta de Notícias); Fantasia Mais Original: As Baianas (Taça O Povo); Bloco Mais Original: Escola de Samba Chico Alves, ex-Prova de Fogo, (Taça Rádio Iracema); e o Melhor Conjunto: Cordão das Coca-Colas (Taça Náutico Atlético Cearense); o melhor estandarte: Maracatu Estrela Brilhante (Taça Sport Club Maguari); e a Taça Tradição, ofertada pela Prefeitura, coube ao bloco: As Baianas.


Lauro Maia e o Cordão das Coca-Colas em 1947 - Acervo Luciano Hortêncio


  •  20 a 22 de fevereiro de 1955 - Acontecem os festejos carnavalescos na Cidade. O bloco campeão do carnaval de rua naquele ano foi o Maracatu Ás de Espadas.



Escola de Samba Luiz Assunção em 1950 - Arquivo Nirez


  •  13 de fevereiro de 1958 - Carmeliza Serpa, representante do Iate Clube, é eleita Rainha do Carnaval Cearense - 1958. 


  •  20/01/1960 - Fundado o bloco carnavalesco Maracatu Ás de Paus, sob a presidência de Antônio Barbosa da Silva. Em 1964 muda a diretoria e também o nome, para Maracatu Rei de Paus.


  •  02/03/1962 - São distribuídas, pela manhã, nas redações de jornais, fotos da Rainha do Carnaval, Eliane Pessoa ao lado do Rei Momo Irapuan Lima.
    Os festejos carnavalescos ocorrem normalmente nos clubes e nas ruas. Surgem mais dois blocos carnavalesco em Fortaleza, a Escola de Samba Ceará Moderno, embrião da Ispaia Brasa, e o cordão Meninas da Lua, sob a presidência de Francisco de Aquino, fundado em 30 de janeiro.
    Ainda em 1962, no dia 05 de março, ocorre um conflito na festa carnavalesca do Country Club, dissolvida a tiros, segundo declarações de seu diretor major Bandeira de Melo, por elementos da Polícia e do Juizado de Menores.
Os festejos carnavalescos ocorrem normalmente nos clubes e nas ruas. Surgem mais dois blocos carnavalesco em Fortaleza, a Escola de Samba Ceará Moderno, embrião da Ispaia Brasa, e o cordão Meninas da Lua, sob a presidência de Francisco de Aquino, fundado em 30 de janeiro.
Ainda em 1962, no dia 05 de março, ocorre um conflito na festa carnavalesca do Country Club, dissolvida a tiros, segundo declarações de seu diretor major Bandeira de Melo, por elementos da Polícia e do Juizado de Menores.
Em 28 de setembro daquele ano, morre, em Fortaleza, aos 62 anos de idade, Luís Cândido da Costa Filho, antigo Rei Momo do Carnaval Cearense, o Luisão I e Único. Era cearense de Fortaleza nascido em 27/11/1899.


O Rei Momo Irapuã Lima


  •  09 a 11 de fevereiro de 1964 - O carnaval ocorre trazendo mais um bloco carnavalesco quando os componentes da extinta Escola de Samba Ceará Moderno resolvem fundar a Escola de Samba Alencarina.


  •  1967 - Em casa da Rua Dona Leopoldina nº 176, Aldeota, é fundada a Escola de Samba Leopoldina Show, fazendo seu primeiro desfile no carnaval do ano seguinte.



  •  28/01/1967 - Fundado mais um bloco carnavalesco em Fortaleza, a Escola de Samba Batuque do Morro, sob a presidência de Mário Vito, que logo renunciou e assumiu José Durval Marinho. Em 1974 mudou o nome para Escola de Samba Unidos da Vila


  •  17/02/1968 - Sábado magro, acontece o I Carnaval da Saudade, no Náutico Atlético Cearense, com o tema "De Zé Pereira a Zé Keti", com roteiro musical elaborado pelo pesquisador Christiano Câmara.



  •  08/02/1969 - Coroados o Rei Momo Javeh I e Único e a Rainha do Carnaval Sandra Mara

  • 16 a 18 de fevereiro de 1969 - Festas carnavalescas nos clubes e desfiles nas ruas da Cidade. O carnaval deste ano trouxe um novo bloco, a Escola de Samba Os Formigões, liderada por Manuel Batista dos Santos e seu filho Francisco Leonardo do Nascimento, que eram apelidados Formigões, desde que moravam em Messejana


  •  07/09/1970 - Mais um bloco surge no cenário carnavalesco de Fortaleza, a Escola de Samba Corte do Samba, fundada na Avenida Pontes Vieira nº 735 por José Gomes Feitosa "Neris", ex-integrante do Maracatu Ás de Ouro. Faria sua primeira apresentação no desfile carnavalesco de 1971. 
Em 01 de novembro de 1970, Francisco Eduardo da Silva e Luís Nogueira, que faziam parte de um time de futebol, denominado Endiabrados F. C., resolveram fundar um bloco carnavalesco com o mesmo nome, surgindo a Escola de Samba Endiabrados Show.

Bloco Alfaiates Veteranos - Arquivo Nirez


  •  02/01/1971 - Funda-se em Fortaleza o cordão carnavalesco As Bruxas, tendo à frente Ednardo de Araújo BrasilEm 21 de fevereiro daquele ano, morre, às 18h, domingo de carnaval, aos 81 anos de idade, vítima de ataque cardíaco, José Limaverde Sobrinho, locutor e produtor que liderou o programa "Coisas que o tempo levou" desde 1937, na velha PRE-9. Pai de Narcélio Limaverde e de Paulo Limaverde. Nascera em Bom Jesus de Quixelou, Iguatu, em 08/05/1899 É hoje nome de avenida na Barra do Ceará.


  •  01/02/1972 - A manequim Virgínia Carvalho, funcionária do Romcy, é eleita Rainha do Carnaval de 1972 pela União dos Clubes SuburbanosEm 26 de fevereiro daquele ano, uma Comissão constituída por Maria Mirtes Lopes Campos (Mirtes Campos), Egberto de Paula Rodrigues, Gutemberg Braun, Francisco Félix, Justino Bastos, Stênio Azevedo e Edson Maranhão escolhe, pela sexta vez consecutiva Javeh I e Único, Rei Momo do Carnaval Cearense de 1972. Vários nomes figuraram, porém ao final optaram em manter o antigo. Ciro Saraiva, Kardo Ali Khan, Fenando Mendes Brasil, Ulisses Silva e Cirênio Cordeiro foram alguns nomes ventilados.


  •  04 a 06 de março de 1973 - Ocorrem as festas carnavalescas nas ruas e nos clubes. Neste ano o desfile oficial deu-se na recém inaugurada Avenida AguanambiEm 16 de setembro daquele ano, O bloco Maracatu Az de Espadas, campeão três vezes do Carnaval de Fortaleza é dissolvido em virtude de dificuldades financeiras. Endividado e abandonado pela maioria dos seus associados, não teve a sua diretoria outra alternativa.


Bloco Os Enviados de Alá - Arquivo Nirez


  •  11/02/1974 - O carnaval em Fortaleza, tem novo Rei Momo, quando é eleito, em festa no Clube de Regatas da Barra do Ceará, Raimundo Narcílio Andrade, substituindo Javeh I e Único. 
Em 24 a 26 de fevereiro do mesmo ano, o carnaval neste ano é realizado com desfile oficial mais uma vez na Avenida Aguanambi, com mais de três mil foliões, onde 18 blocos desfilaram, com abertura feita pela Charanga do Gumercindo com mais de 100 participantes. Surge um bloco curioso e bastante criativo, os Enviados de Alá, cantando em ritmo de samba a marchinha "Alá-lá-ô", de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, e a partir do ano seguinte filia-se à Federação dos Blocos Carnavalescos do Ceará.


  •  24/01/1975 - São escolhidos pela Comissão Organizadora do Carnaval de Fortaleza, o Rei Momo, que será o radialista Bezerra de Menezes (Bezerrão I), de 115 quilos e a Rainha do Carnaval, Suzana Maria Brás, representante do Secai. Bezerra de Menezes substitui a Narcílio de Andrade, que renunciou. O Rei Momo integra a equipe esportiva da Rádio dragão do Mar e é funcionário da ECT.


  •  04/02/1977 - Sem a participação da Crônica Carnavalesca, realiza-se no Clube Romeu Martins, eleição para escolha da Rainha do Carnaval de 1977, sendo eleita a manequim Heloísa Helena, soteropolitana vinda da Bahia exclusivamente para a eleição.
No dia 12, no Náutico Atlético Cearense - NAC, na festa Carnaval da Saudade, o Rei Momo Francisco José Torres de Sá e Benevides (Titico I e Único) é coroado juntamente com a Rainha do Carnaval de 1977, Heloísa Helena, recebendo das mãos do prefeito em exercício Manuel Sandoval Fernandes Bastos (Sandoval Bastos), a chave da Cidade.
No dia 22, último dia do carnaval, em pleno desfile, cai um poste onde estava apoiada a arquibancada, na esquina da Avenida Duque de Caxias com Rua Floriano Peixoto, matando duas crianças, Eliane Vasconcelos e Antônio Carlos, deixando alguns feridos.


  •  11/09/1984 - Caso inédito no Ceará, casam-se Jadir Jucá e Nutreia Hollidea Garcia, Rei e Rainha do carnaval cearense de 1984. 


  •  1985 - Inicia-se o desfile carnavalesco em Fortaleza, totalmente desfigurado em virtude de regulamento oficial da Prefeitura. Apesar da desfiguração, um bloco resistiu, ainda guardando as características cearenses, conservando nossa tradição, o "Prova de Fogo". O carnaval foi nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro de 1985.


  •  24/02/1987 - Morre, aos 62 anos de idade, no Hospital de Ceará-Mirim, RN, Javeh Arcoverde Alves, Rei Momo do carnaval cearense durante oito anos, de 1967 a 1974. Era paraibano de Araruana do Norte.


  •  29/01/1988 - Eleito o Rei Momo-88 do carnaval cearense, Paulo Sérgio Luz e Rainha do Carnaval-88, a candidata do Vila-União Atlético Clube, Jaqueline de Morais. Paulo Sérgio foi o primeiro Rei Momo negro.


  •  25 a 27 de fevereiro de 1990 - O carnaval ocorre, trazendo um novo bloco nos desfiles de rua, o Maracatu Nação Verdes Mares, dirigido por Luís Veras Barbosa, o Luís de Xangô.


  •  16/02/1999 - Plena terça-feira de carnaval, na Avenida Domingos Olímpio, morre, após ser entrevistado por uma emissora de rádio, o cantor Luís Bernardo Filho (Nosinho Silva), cognominado "o malabarista do ritmo", aos 63 anos de idade, que atuou por muitos anos na PRE-9. Nascera em Fortaleza, a 04/07/1935.


  •  06/02/2005 - Inicia-se o desfile carnavalesco com o tema "Fortaleza Bela é Prova de Fogo", homenagem ao bloco que fará um desfile comemorativo de 70 anos de fundação, na Avenida Domingos Olímpio.
    Desfilarão 8 (oito) maracatus: Vozes d'África, Nação Iracema, Rei Zumbi, Nação Baobab, Rei de Paus, Az de Ouro, Kizumba e Nação Fortaleza; as escolas de samba: Imperadores da Parquelândia, Imperadores da Bela Vista, Ideal, Unidos do Acaracuzinho e Corte no Samba; os blocos: Garotos do Parque, Garotos do Benfica, Fuxico do Mexe-Mexe, Unidos da Vila e Prova de Fogo.
Desfilarão 8 (oito) maracatus: Vozes d'África, Nação Iracema, Rei Zumbi, Nação Baobab, Rei de Paus, Az de Ouro, Kizumba e Nação Fortaleza; as escolas de samba: Imperadores da Parquelândia, Imperadores da Bela Vista, Ideal, Unidos do Acaracuzinho e Corte no Samba; os blocos: Garotos do Parque, Garotos do Benfica, Fuxico do Mexe-Mexe, Unidos da Vila e Prova de Fogo.


 Foto Site Famalia



  •  2006 - É criado o Sanatório Geral (bloco de carnaval da Gentilândia - Benfica). Além da boa qualidade musical, o Sanatório passou a ser o bloco da irreverência, marcado pelas fantasias, pelo cantar próprio e pela sátira alegre. Em 2009 o colorido intensificou-se com o 1º Concurso de Fantasias e a chegada de novos elementos visuais como a Lagarta de Fogo e o Boneco Antoin Vivente em alusão a Antônio Conselheiro. A partir de ensaios foram priorizadas as canções autorais.



Bloco Luxo da Aldeia - Foto Site Famalia

  •  O bloco Luxo da Aldeia, sai desde 2007 nos pré-carnavais de Fortaleza, busca homenagear a cultura musical de nossa terra executando canções carnavalescas de compositores e músicos cearenses de nascimento ou de coração.O nome é inspirado na música Terral, do compositor Ednardo, que tem os versos: eu sou a nata do lixo / eu sou do luxo da aldeia / eu sou do Ceará.
    O bloco toca músicas carnavalescas de todas as épocas, trazendo à tona músicas antigas, reforçando músicas já consagradas e estimulando a produção de novas composições.
O bloco toca músicas carnavalescas de todas as épocas, trazendo à tona músicas antigas, reforçando músicas já consagradas e estimulando a produção de novas composições.


Bloco Num Ispaia senão Ienche - Foto Site Famalia

  • Nas proximidades do largo do Mincharia, situa-se o bar da Mocinha, cuja proprietária foi homenageada pela prefeitura no ano de 2009, a qual transformou o recinto em pólo carnavalesco, distribuindo máscaras com o rosto de sua proprietária. Cotidianamente, o bar da Mocinha é denominado pagode da Mocinha, em razão das rodas de samba promovidas por fregueses, que se dizem aficionados pelo ritmo. Quando chega o pré-carnaval, o bar é ocupado pelo bloco Num Ispaia se não Enche, dirigido por Dilson Pinheiro, conhecido em Fortaleza por ser um dos criadores do famoso bloco Quem é de Bem fica, em 1990, no bairro do Benfica.


Crédito: Nirez, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Diário do Nordeste, Portal da História do Ceará e Revistas do Instituto do Ceará


terça-feira, 24 de junho de 2014

O Maracatu Cearense e sua história (Parte II)




 
"... logo que chegava o rei com sua corte, entrava a missa, que era cantada, com repiques de sinos e foguetes. O casal de escravos sentava-se no trono com ares de quem estava convencido da realidade da cena, representada também pelos reis dos brancos tão ou mais ridículos de cetro e coroa do que ele. Acabada a missa, saía o cortejo real de cidade à fora até o palácio, em que passava o resto do dia a comer, a beber, a dançar, festejando as poucas horas de liberdade que todos os anos lhe concediam os senhores da terra que primeiro libertou os escravos."


Rodolfo Teófilo sobre o ritual de coroação do rei e da rainha da irmandade.


Esse ritual de coroação teria dado origem à vários autos e danças, incorporados ao folclore brasileiro desde o século XVII. Entre eles, o Auto dos Reis de Congo, o Congado e o Maracatu. De fato, o maracatu é parecido com o ritual: um cortejo com música para a coroação de uma rainha negra.


Segundo Calé Alencar, fundador do Maracatu Nação Fortaleza e pesquisador da história do Maracatu no Ceará, a origem do Maracatu em Fortaleza provavelmente seja mais antiga do que imaginamos. Pois os registros dos Autos dos Reis de Congos na cidade datam do final do século XIX e já em 1730 os negros fundaram a Igreja do Rosário em Fortaleza, pressupondo a presença da irmandade do rosário, e consequentemente a coroação dos reis.

Segundo Eduardo Campos o maracatu cearense teria se originado à partir do ritual de Coroação dos Reis do Congo realizado pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Capital (representante fortalezense da irmandade do Rosário dos negros).

Nos registros mais antigos, os desfiles de maracatu em Fortaleza ocorriam nas festas do ciclo natalino, nas festas da Nossa Senhora do Rosário e de Corpus Christi, onde não eram bem aceitos. À partir de 1937, com o desfile de estréia do Maracatu Az de Ouro, criado por Raimundo Alves Feitosa (Raimundo Boca-aberta) em 1936, o maracatu cearense passou a assumir a formação de um bloco carnavalesco e a desfilar durante os carnavais, como ocorre até hoje. Além de ter criado o maracatu Az de Ouro, existente até hoje, e ter adaptado o maracatu para os desfiles carnavalescos, Raimundo Boca-aberta foi um dos maiores compositores de loas de que se tem notícia e um compositor dos mais notáveis.


Maracatu Az de Espada

O ritmo do maracatu cearense nas primeiras décadas do século XX, como se pode escutar nos registros de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo (incluindo gravações de Raimundo boca-aberta), é semelhante ao coco, com influência da umbanda. Os instrumentos utilizados eram: caixa (sem esteira), ganzá, gonguê, tambor-onça e ferro. A partir da década de 50, por influência do Maracatu Az de Espada, o maracatu cearense toma um novo estilo, inspirado no Auto dos Congos. O novo ritmo, cadenciado e dolente, com um gingado majestoso e solene, é marcante até hoje.

Maracatu Az de Ouro  em 1958.

 Nas décadas de 70 e 80, durante a ditadura militar, o maracatu cearense sofreu uma decadência, tanto na qualidade dos desfiles, quanto na quantidade, chegando ao ponto de só haverem 2 maracatus em atividade. Nesse período, os desfiles de maracatu foram incoerentemente obrigados a apresentar um enredo, apresentando-se na avenida como se fossem as escolas de samba do carnaval carioca.

Maracatu Nação Fortaleza

Felizmente, o maracatu cearense incorporou algumas modificações construtivas, como algumas modificações nas vestimentas e a inclusão dos capoeiristas, e abandonou as modificações inadequadas ao maracatu, como os enredos e os carros alegóricos. Atualmente, no Ceará, existem 2 grupos de maracatu em Itapipoca e 11 em Fortaleza, entre eles, o Maracatu Az de Ouro, o Estrela Brilhante, o Nação Fortaleza, o Maracatu Solar, o Nação Gengibre, o Leão Coroado, o Rei de Paus, o Vozes da África e o Nação Baobab.



Maracatu Az de Ouro em 1950

Maracatu Az de Ouro - 1958

O Maracatu cearense é diferente do pernambucano, em vários aspectos. De início, o maracatu cearense apresentava-se nas festas religiosas da Igreja, apresentando-se hoje como bloco carnavalesco. Em Pernambuco, o maracatu está estreitamente associado aos terreiros de candomblé ou umbanda.




Maracatu Az de Ouro em 1950

Os personagens são diferentes. O cearense conta ainda com o balaieiro, os pretos velhos e uma maior representatividade dos índios. No maracatu pernambucano há várias calungas (bonecas pretas), enquanto que no cearense há apenas uma, levada por uma negra do cordão especialmente designada à essa missão, usada no mastro do estandarte ou até na sombrinha da rainha. Além disso, sempre houve, no Ceará, a tradição de todos os brincantes, com exceção dos índios, pintarem a cara com tinta preta brilhante. No Maracatu pernambucano, os brincantes não pintam os rostos.

Maracatu Rei de Paus

Quanto à musicalidade, o ritmo e os instrumentos utilizados são diferentes. O ritmo do maracatu cearense é mais lento, semelhante ao auto dos congos. Cadente, dolente e solene. O maracatu pernambucano é mais acelerado, usando a caixa com esteira, com ritmos característicos: baque virado e baque solto.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953

O desfile de maracatu cearense pode ter até 150 participantes, que se dividem em vário sub-grupos. Com exceção dos índios, todos desfilam com o rosto pintado de preto. A seguir uma breve descrição dos principais personagens, em ordem de aparição:

* Porta-Estandarte, Baliza e Lampiões - São os condutores do cortejo. Os guias, cada um com um lampião, e o porta-estandarte abrem o cortejo apresentando o escudo do maracatu, acompanhados pelo Baliza, que dança e faz acrobacias. 


* Cordão de negros africanos - Representa os povos africanos, que foram vendidos aos portugueses como escravos. 


* Cordão dos índios - Representa os índios brasileiros que acolheram os negros e a eles se uniram na resistência contra os europeus. 


* Cordão das negras - Representam as mucamas das fazendas, carregando utensílios domésticos. 


* Balaieiro - Negro carregando uma balaio de frutas na cabeça. Representa, ao mesmo tempo, uma oferenda aos orixás, e os escravos que saíam às ruas para vender os excessos de produção das fazendas. 


* Pretos velhos - Usando bengalas e fumando cachimbos, o casal de negros velhos representam os terreiros de umbanda e simbolizam o respeito aos mais velhos. 


* Corte - Representam a nobreza. São príncipes, princesas, vassalos, mucamas e por último, o rei e a rainha com roupas coloridas e enfeitadas. 


* Macumbeiro(s) - Uma ou duas pessoas que cantam a loa - geralmente, o líder do maracatu. 


* Bateria - Vários percussionistas com surdos, ferros, caixas e chocalhos.



Veja AQUI a parte I



Fontes: ALENCAR, C. Origem e evolução do maracatu no Ceará, Fortaleza: Banco do Nordeste, 2007, 54p.

AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de, Music of Ceará and Minas Gerais, CD de áudio, Congresso dos Estados Unidos da América.

CAMPOS, E. O Cotidiano no Ceará escravocrata. Entrevista concedida a José Anderson Sandes, Diário do Nordeste, 25-03-1998.

Portal do Maracatu Nação Fortaleza, Endereço: http://www.batoque.com/fortaleza, Acesso em 12 Out. 2011




Crédito: Blog Ceará de Luz/Nirez



domingo, 22 de junho de 2014

O Maracatu Cearense e sua história



Há pouca documentação sobre a história do maracatu antes da década de 50. Os primeiros registros confiáveis de maracatu em Fortaleza datam do início do século XX, quando Gustavo Barroso descreve, em "Coração de menino", os desfiles que ocorriam na Praça do Carmo (então Praça do Livramento). 


Maracatu Leão Coroado. Foto: Arquivo Nirez



O Maracatu está relacionado à chegada dos africanos em Portugal no fim da idade média. Ao entrar em contato com a religião católica, os africanos fizeram associações entre os santos católicos e as divindades africanas. Uma delas foi a de Nossa Senhora do Rosário. A imagem da Santa tem, ao redor do pescoço, um colar de rosas (rosário), similar ao colar de Ifá (orixá que previa o futuro). Assim, os escravos que chegaram à Europa no Séc. XV passaram a ser devotos de Nossa Senhora do Rosário. Com isso foi criada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.


Afrânio de Castro Rangel, Rainha do Maracatu Leão Coroado em 1959




Mesmo escravos, os negros construíam igrejas em homenagem à Santa onde se estabeleciam. Uma vez por ano, no dia 7 de outubro, dia de Nossa Senhora do Rosário, os escravos tinham folga. Nesse dia, faziam o ritual de coroação do rei e da rainha da irmandade.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953

Segundo relatos de personagens ilustres de nossa terra, o maracatu cearense já se mostrava presente desde meados do século XIX sendo o mesmo conhecido por “congadas ou pelo auto dos reis de Congo” que retratavam os combates entre o Congo e Angola e que daria origem não só ao maracatu mas também a outras expressões culturais afro-descendentes como o reisado, caboclinhos e os pastoris.

Maracatu Estrela Brilhante em 1953


Em Fortaleza a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos (1871), responsável pela construção do templo católico mais antigo de nossa capital homenageando santa de mesmo nome, foi a principal difusora desta tradição cultural que se realizava geralmente ao termino das cerimônias religiosas e culminavam com a coroação do rei e rainha negra. Esta mesma irmandade sociabilizava o escravo forro ou cativo a sociedade fortalezense da época e possibilitava aos mesmos; auxílio funeral, pensões a viúvas e a possibilidade de lazer nas horas vagas, sobre tudo, aos domingos e dias santos com o devido consentimento de seus senhores “no caso de escravos cativos”.

Maracatu Az de Ouro em 1958 na Praça do Ferreira - Nirez

O ponto culminante das congadas era a coroação do rei e da rainha negra que vinham acompanhados pelo seu séquito real composto por negros trajando cores bufantes dos mais variados tecidos e representando personagens da corte portuguesa. Em geral tais roupas eram usadas e doadas a irmandade para que pudessem ser realizadas as encenações como vestidos de noivas amplamente usados para caracterizarem as princesas e rainhas.
Em determinadas épocas do ano a irmandade era contratada por senhores de engenho ou pessoas abastadas para apresentar seus autos, tais contribuições eram depositadas em um caixa controlado pelo tesoureiro sendo responsável o mesmo pelo controle dos bens da confraria que consistiam desde casas a terrenos espalhados pela cidade.


Maracatu Az de Ouro em 1958 no Centro de Fortaleza


Além da referida irmandade que teria sido o ponto original deste folguedo, em fins do século XIX o maracatu também fazia-se presente em diversos pontos da capital. Segundo o escritor Gustavo Barroso, havia por trás da estação férrea João Felipe o maracatu do Morro do Moinho que saia com seu cortejo real pelo centro em direção a igreja do Rosário onde fazia a coroação de seu rei e sua rainha.

“os últimos reis do Congo que houveram em Fortaleza, minha terra natal, foram o negro Firmino, ex-escravo de meu pai e a negra Aninha Gata. Esta conheci ai por volta de 1897 ou 1898, com pequena quitanda na antiga travessa das flores, entre as ruas Major Facundo e a da Boa Vista, hoje Floriano Peixoto. (BARROSO, 1962, P. 374)

Existiam também os maracatus da rua de São Cosme (atual rua Pe. Mororó), da rua do outeiro (antiga Aldeota – atual região do Colégio Militar), do Beco da Apertada Hora (atual rua Governador Sampaio), do Manoel Furtado, do João Ribeiro localizado ao fim da rua Major Facundo na altura da antiga Praça do Livramento (atual Praça do Carmo). Do negro João Gorgulho (grupo de folguedos africanos – 1910). Segundo Otacílio de Azevedo em seu livro: Fortaleza Descalça;

“vestia-se com roupagem de seda colorida, recheada de fitas e arabescos, minúsculas lantejoulas, vidrilhos e brilhantes pedrarias. Os valetes do rei João Gorgulho vestiam calças de cetim verde, justas ao corpo, coletes violetas, clâmide vermelha caindo sobre os ombros e espadas de papelão dourado. O trono, forrado de fofos de papel de seda salpicado de estrelas, tendo à guisa de cetro uma vara coberta de papel dourado, ficava sobre um tapete de palha de carnaúba colorida, a coroa, feita com folhas de flandres, se apresentava pintada com cores diversas”.


Maracatu Estrela Brilhante em 1953

O maracatu cearense difere do pernambucano pois o timbre de seus acordes são mais lentos e cadenciados sendo o batuque composto por caixas sem esteiras visando acentuar a batida grave, bumbos, surdos, ganzás, chocalhos e triângulos aqui chamados “ferros” responsáveis pela cadência ou ritmo característico do cortejo. As loas ou “músicas do maracatu” sempre relatam fatos ou acontecimentos históricos ligados à cultura afro regionais ou nacionais constituindo as mesmas no chamado enredo do maracatu. Seus brincantes ou “maracatuqueiros” apresentam seus rostos pintados com uma mistura de fuligem, óleo infantil, talco e vaselina em pasta que dão o tom ao chamado “falso negrume” expressão difundida pelo pesquisador cearense Gilmar de Carvalho. O macumbeiro(a) ou tirado(a) de loas puxa o enredo sendo o mesmo respondido pelo cordão de negras que impulsiona todo o cortejo a imitá-las. Geralmente tais “tiradores de loas” trajam roupas femininas semelhantes as de negrinhas ou “mucamas” reais podendo os mesmos virem trajando branco com suas guias ou amuletos.



Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

O maracatu chegou oficialmente ao carnaval de rua fortalezense por volta de 1937 através de convite feito pelo famoso rei momo Ponce de Leon ao compositor e carnavalesco Raimundo Alves Feitosa conhecido também como Raimundo Boca Aberta, fundador do Maracatu Az de Ouro (o mais antigo em atividade). Em meados de 1950 seriam fundadas agremiações de imenso peso histórico como: Estrela Brilhante, Az de Espadas Leão Coroado. Outros grupos já extintos deixaram saudade como: Rancho Alegre, Nação Africana, Rei de Espadas, Rei dos Palmares, Nação Uirapuru, Nação Gengibre, Nação Verdes Mares e Rancho de Iracema.


Raimundo Alves Feitosa


Continua...

Créditos: Blog Maracatu Rei do Congo, Blog Solar, Nirez e pesquisas na internet


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Marchinhas - O som dos eternos carnavais


Carnaval da Saudade - Arquivo João Otávio Lobo Neto

Das ingênuas e criativas marchinhas dos anos 30, 40, 50 e 60 às ruidosas músicas da “axé-music”, muitas águas rolaram no Carnaval. A alegria do desfile de de rua e o glamour dos bailes carnavalescos dos clubes elegantes de Fortaleza, nas décadas de 50 e 60, fazem parte apenas da lembrança dos mais nostálgicos. São tempos praticamente esquecidos, que só despertam, na maioria das vezes, o interesse de alguns pesquisadores de nossa história. Os jovens - que hoje se agitam com as “bandas” de barulhentos trios elétricos que ressoam em altos decibéis melodias com letras “sem pé nem cabeça” - nem imaginam como era divertido os carnavais dos confetes e serpentinas, dos pierrots e das colombinas apaixonados.

Lauro Maia e Luiz Assunção foram os pioneiros no cancioneiro carnavalesco do Ceará. Suas canções animaram foliões das escolas e blocos, como o “Cordão das Coca-Colas”, “Prova de Fogo”, “Alfaiates Veteranos”, “Garotos do Frevo”, “Zombando da Lua”, “Escola de Samba Lauro Maia” (depois rebatizada de Escola Luiz Assunção). As músicas de Lauro Maia se consagraram nas vozes de Orlando Silva e dos grupos “4 Azes & 1 Coringa” e “Vocalistas Tropicais” e se tornaram sucessos nacionais.

Carmem Miranda, Lamartine Babo, Emilinha Borba, Virginia Lane, Orlando Silva, Francisco Alves, Ary Barroso, João de Barro, Mário Lago, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro, entre outros nomes da MPB que emprestaram seus talentos a famosos “hits” da música carnavalesca: “Daqui Não Saio”, “Alá-Lá-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “As Pastorinhas”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Taí”, “Saca-Rolha”, “Mamãe, Eu Quero”, “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”. Essas marchinhas se eternizaram ao longo dos tempos e continuam até hoje integrando o repertório musical de bailes que sobrevivem ao modismo das micaretas. Exemplo disso é o Carvanal da Saudade, um autêntico revival dos carnavais que ficaram apenas na lembrança...
     Marcos Saudade

Bloco Zombando da Lua - Arquivo Nirez

Qual a importância de Lauro Maia e Luiz Assunção na música cearense e nacional?

     Os dois são importantes, dentro das características de cada um. Lauro Maia, nascido e criado no Benfica, certamente levou mais longe o nome do Ceará porque aproveitou o sucesso de suas composições através de nomes como Orlando Silva, 4 Azes & 1 Coringa, Ciro Monteiro e Vocalistas Tropicais, entre outros. Ao fixar residência no Rio, participou ativamente do Movimento Artístico na década de 1940, sendo inclusive o responsável pelo surgimento do Baião, ao apresentar Luiz Gonzaga a seu cunhado Humberto Teixeira. Luiz Assunção foi um maranhense que se tornou cearense devido a sua grande identificação com a vida da cidade, ele inclusive foi homenageado quando Lauro Maia foi morar no Rio, puseram o nome dele na Escola de Samba Lauro Maia e um grande número de pessoas que conhece a história de nosso carnaval lembra com muita saudade dos grandes desfiles e da música maravilhosa que soava na orquestra da Escola de Samba Luiz Assunção.

     Que contribuição deram ao carnaval cearense?

     Uma contribuição enorme. Antes deles não havia compositores populares criando músicas para as agremiações. Foi Lauro Maia quem iniciou esse ciclo criativo em nossa história carnavalesca. Tanto ele como Luiz Assunção têm até hoje músicas lembradas e que foram compostas para o carnaval de rua, para a Escola de Samba Lauro Maia, depois Luiz Assunção, para a Escola de Samba (hoje Bloco) Prova de Fogo e outros blocos, como O Que Fóe, Galinha, do genial Doutor Bié. O Lauro inclusive foi o primeiro compositor a utilizar o ritmo do nosso Maracatu fora do carnaval, na música Orixá, que tinha versos de Jorge Aires.

     Como foi resgatar a vida e obra de Lauro Maia em livro e disco?

     Sinceramente, este foi um dos projetos mais importantes de toda a minha vida. Primeiro, pela grandiosidade da biografia do Lauro, depois pela beleza e atualidade de sua música e também pela parceria com o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez. Outra coisa importante deste trabalho foi contar com a participação de todos os artistas que interpretaram músicas de Lauro Maia, é realmente um presente ter Teti, Ednardo, Rodger, Lúcio Ricardo, Fagner, Evaldo Gouveia, Falcão, Ayla Maria, Fernando Néri, César Barreto, David Duarte, Aparecida Silvino... É um disco que me agrada sempre, eu escuto cada vez com mais prazer. Tem um time de músicos de primeira e é todo mundo daqui mesmo.

     O que poderia ser feito para resgatar o carnaval de Fortaleza?

      Deveria haver um maior incentivo por parte da Prefeitura de Fortaleza. Afinal estamos falando de uma festa pública, inserida no calendário de eventos da cidade. Para o nosso carnaval de rua se tornar atrativo do ponto de vista do investimento privado, precisa haver um trabalho muito forte junto às agremiações, é preciso chamar os artistas para participar compondo, cantando, tocando, desenhando, somando com o imenso mundo de gente que trabalha há tantos anos pelo carnaval e tem muito amor pelo que faz. O nosso trabalho à frente da Federação de Blocos Carnavalescos tem sido recuperar a dignidade do carnaval de rua, reinseri-lo na rota dos grandes eventos.

Calé Alencar
Maracatu Az de Ouro em 1950 - Arquivo Nirez

Quais foram os mais expressivos compositores cearenses de músicas carnavalescas?

     Os mais expressivos compositores de músicas carnavalescas no Ceará foram Euclides Silva Novo, Mozart Brandão, Caetano Acioly, Luiz Assunção, Paulo Neves, Lauro Maia, Irapuan Lima, Mário Filho, Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Milton Santos.

     Que marchinhas mais famosas marcaram os bailes carnavalescos do passado?

     As marchinhas foram importantes no cenário carnavalesco cearense, mas também os sambas figuraram como sucesso.Tivemos "Tabajara", marcha (Silva Novo - Caetano Acioly) 1930; "Adeus, Praia de Iracema", samba (Luiz Assunção) 1954; "Falta de luz", marcha (Irapuan Lima - Mário Filho) 1955; "Dona Fredegunda", marcha (Mário Filho - Milton Santos) 1958; "Meu bem", samba (J. Guimarães - Milton Santos) 1958; etc.

     Que blocos e escolas brilhavam nos carnavais de rua de Fortaleza do passado?

     Os blocos que brilharam no passado foram "Maracatu Ás de Ouro", "Maracatu Rei de Espadas", "Garotos do Frevo", "Escola de Samba Lauro Maia", "Zombando da Lua", "Escola de Samba Luiz Assunção", "Cordão das Coca-Colas", "Alfaiates Veteranos", "Prova de Fogo", etc.

     Como avalia as festas carnavalescas da atualidade?

     O carnaval teve várias fases, a primeira apesar de ser chamada de carnaval era o ENTRUDO, que reinou até início do século XX, onde se dançava valsas vienenses entre outras coisas; a segunda foi a fase de ouro das marchinhas, dos grandes compositores e intérpretes, das grandes músicas e letras e que durou até meados da década de 60; e a atual fase, dividida entre o espetáculo turístico já superado das escolas de samba do Rio de Janeiro e a música atual de maio-de-ano lançada pela Bahia que descaracterizou o carnaval tornando-o muito mais de fora de época que de próprio período. Já não existem músicas feitas para a festa porque a festa já não existe.

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Escola de Samba Luiz Assunção em 1969
Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval

Quais foram as fases marcantes da produção musical feita para o carnaval?

     As décadas de 30,40 e 50. Principalmente a de 30, apropriadamente chamada de “Fase de Ouro”. A partir da cartelização da economia mundial e a consequente dolarização econômica dos países dependentes da América do Norte, como o próprio México (seu vizinho), o Brasil, Argentina, França, Itália, Portugal e os demais que compõem o Terceiro Mundo, o regionalismo foi para o “bebeléu”. Entregar-se de corpo e alma às coisas e costumes da América do Norte passou a ser sinônimo de progresso. O nacionalismo passou a ser pichado como retrógrado, coisa do passado, etc... Tudo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (1945).

     Quais os mais famosos “hits” carnavalescos?

     Dos anos 30: “Prá Você Gostar de Mim” (Taí), marcha-canção de Joubert de Carvalho, gravada por Carmem Miranda em 1930; “O Teu Cabelo Não Nega”, adaptação de Lamartine Babo, gravada por Castro Barbosa, em 1932; “Linda Morena”, de Lamartine Babo , de 1933, “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, gravada por Aurora Miranda (irmã de Carmem Miranda), em 1935; “Pierrot Apaixondo”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, 1936; “Mamãe, Eu Quero”, de Jararaca, 1937; “As Pastorinhas”, João de Barro e Noel Rosa, de 1936 e regravada por Sílvio Caldas para o carnaval de 1938; “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e de Humberto Porto, gravada por Orlando Silva em 1939. 
Dos anos 40: “Dama das Camélias”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravado por Francisco Alves em 1940; “Alá-Lá-Ô”, de Antônio Nássara e Haroldo Lobo, gravada por Carlos Galhardo, em 1941; “Aí, Que Saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942; “Nós, Os Carecas”, de Roberto Roberti e Arlindo Jr. gravada por Anjos dos Inferno, 1942; “Está Chegando a Hora”, de Henricão e Rubens Campos, gravado por Carmem Costa, 1942; “Atire a Primeira Pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, gravado por Orlando Silva, em 1944; “Cordão dos Puxa-Sacos”, gravado pelos Anjos do Inferno, em 1946; “A Marcha do Balanceio”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira, 1946; “É Com Esse Que Vou”, de Pedro Caetano, gravado por 4 Azes e 1 Coringa, 1948; “Chiquita Bacana”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba, 1949; “General da Banda”, de Sátiro de Melo, José Alcides e Tancredo Silva, gravada por Blecaute. 
Dos anos 50: “Daqui não saio”, de Paquito e Romeu Gentil, gravada pelos Vocalistas Tropicais, 1950 -“Serpetina”, de Haroldo Lobo e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves, em 1950;“Tomara que choro”, de Paquito e Romeu Gentil, pelos Vocalistas Tropicais e Emilinha Borba, em 1951; “Lata D’Água”, de Luiz Antonio e Jota Júnior, gravado por Marlene, em 1952; 

Foto da Exposição Luiz Assunção - Samba de Carnaval
Centro Dragão o Mar de Arte e cultura

Sassaricando”, de Luiz Antonio e Zé Mário, gravada por Virginia Lane; “Saca-Rôlha, de Zé da Silda.; “Maria Escandalosa”, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, 1955; “Vai, Com Jeito Vai”, de João de Barro, gravada por Emilinha Borba, 1957;“Boi da Cara Preta”, de Paquito/Romeu Gentil/Jackson do Pandeiro, 1959.
Dos anos 60: “Me Dá um Dinheiro Aí” , gravada por Moacior Franco, 1960; “Indio Quer Apito”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, em 1961;“A Lua é dos Namorados”, gravada por Ângela Maria, 1961.“Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal. 1964; “Máscara Negra”, de Hildelbrando Pereira Mattos e Zé Ketti, 1967; “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves, gravada por Dalva de Oliveira, 1970.

Christiano Câmara



Crédito: Diário do Nordeste

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