Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Padaria Espiritual
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ceará moleque - Antecedentes Históricos



A palavra moleque é de origem africana e o  Novo Dicionário da Língua 
Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira diz que ela provém do 
idioma Quimbundo onde o seu substantivo significava “negrinho” e o seu adjetivo “indivíduo sem gravidade, ou sem palavra”, ou ainda, “canalha, patife, velhaco”. Ainda, esse dicionário acrescenta que no português do Brasil a palavra passa a significar, também, “menino de pouca idade”.
Contudo, o termoCeará moleque foi cunhado nos fins do século XIX e apareceu pela primeira vez em uma obra literária que tinha a cidade 
de Fortaleza como cenário: o romance A Normalista, de Adolfo Caminhapublicado em 1893. A obra retrata o cotidiano de uma Fortaleza provinciana, habitada por “alcoviteiros e uma gentinha canalha”. Neste romance de cunho naturalista, Caminha tenta criar uma crônica social sobre Fortaleza onde “buscou esmiuçar os detalhes sujos do cotidiano” (Albuquerque, 2000, p.16-17). 
Logo, a alcunha ‘moleque’ indicava aí certa característica cultural do Ceará a ser interpretada negativamente como “canalhismo de província”.

Para Marco Aurélio Ferreira da Silva (2003), o romance de Caminha desenvolve sua trama na Fortaleza do final do século XIX, onde o ambiente provinciano é visto como um “antro de maledicências e coscuvilhice” e onde “a vida social se reduz a um jogo em que todos invadem o privado do outro”
Com este mote é que a personagem principal deste romance, a normalista Maria do Carmo, reclama a Lídia, sua amiga mais próxima, do pasquim chamado A Matraca, que escreveu versos sobre seu envolvimento com o Zuzaestudante de Direito de Pernambuco e que passava férias em Fortaleza: 

Lídia achou graça na versalhada. Ela também já saíra na Matraca. – Um desaforo, 
não achas? Perguntou a normalista indignada. – Que se há de fazer, minha filha? 
Ninguém está livre destas coisas no Ceará Moleque. Não se pode conversar com um 
rapaz, porque não faltam alcoviteiros. (CAMINHA, 1997, p.37).


Na época deste romance, o Ceará figurava na economia internacional como um grande exportador de algodão. As indústrias têxteis europeias começaram a procurar pelo algodão cearense com maior intensidade no período em que foi suspenso o comércio com os EUA, o principal produtor de algodão até então, devido à eclosão da Guerra de Secessão, ocorrida nos anos 1860. Este fator foi fundamental para as transformações sócio-econômicas e culturais por que passou o território cearense, especialmente a capital da então Província, que se urbanizava e acelerava, modificando drasticamente o modo de vida de seus habitantes.

Em Fortaleza Belle Époque, Sebastião Rogério Ponte (2001) conta que nesse período surgiram em Fortaleza lazaretos, hospitais, asilos e cemitérios construídos fora do perímetro urbano seguindo, assim, uma ótica sanitarista – o saber médico social então em constituição – que fazia parte da lógica de remodelação e controle do projeto modernizador para a organização da capital. Na contracorrente desta lógica modeladora, Ponte (2001) identifica a “irreverência popular que se expressava em condutas debochadas e galhofeiras da população citadina”

Tais condutas significaram uma espécie de rebeldia velada, um desvio que se constituiu em contraponto ao “mundanismo chique” que se instaurava na cidade. A época da Fortaleza Belle Époque, em que se tenta afrancesar os costumes da cidade é, ironicamente, aquela em que uma grande seca assolou o Ceará, coalhando a periferia da capital de retirantes esfomeados enquanto a burguesia se empoava e tomava chá. É também a época em que um grupo de debochados intelectuais, dentre os quais o próprio Adolfo Caminha (o padeiro Felix Guanabarino), funda a confraria denominada Padaria Espiritual. 
Reunidos em torno do periódico O Pão, que buscava levar o pão do espírito a quem dele necessitasse, os espirituosos jovens debochavam, inclusive, do fenômeno absolutamente europeu das próprias confrarias e grupos de letrados que pipocavam pela cidade.


A compulsão popular pelo deboche e pela sátira era uma questão relevante para Fortaleza naquele período, e prova disso é, de acordo com Ponte (2001), a existência de “tantas referências a uma incorrigível ‘molecagem’ pública presente na cidade a partir do final do século XIX”. O autor encontra estas referências à molecagem do cearense na literatura, justamente no já citado A Normalista; em revistas de moda e atualidades como a Jandaia (1924) e a Ba-Ta-Clan (1926); e nos escritos dos memorialistas Otacílio de Azevedo
Herman Lima e Raimundo de Menezes, que descreveram o cotidiano fortalezense do início do século XX.

A praça em 1963 - Arquivo O Povo

Num destes registros, Herman Lima (1997), no seu livro Imagens do Ceará, publicado em 1959, nos indica o lugar onde tal propensão popular ao deboche, ao escárnio ou aos ditos espirituosos exercia-se com maior intensidade: a Praça do Ferreira. O ensaísta Abelardo F. Montenegro, citado por Lima (1997), considera este logradouro, como a “sede social do Ceará Moleque”, nela “funciona cotidianamente uma escola de humor, em que professores e alunos permutam sofrimentos por gargalhadas, preocupações por cascalhadas” (apud 
Lima, 1997, p.54). 
Foi num dos cantos da praça, mais especificamente no Café Java, que Antonio Sales, o padeiro-mor Moacir Jurema, Rodolfo Teófilo (Marcos Serrano) e outros companheiros fundaram a Padaria Espiritual.

Raimundo de Menezes (2000), em seu Coisas que o tempo levou: crônicas 
históricas da Fortaleza antiga, publicado originalmente em 1936, relata acontecimentos e curiosidades sobre os tipos populares – o Chagas, o Pilombeta, o Tostão, o Manezinho do Bispo (foto ao lado), o Casaca de Urubu, o Tertuliano, o Bode Ioiô e o De Rancho – que habitaram a capital no início do século XX. Dentre estes, Menezes (2000) destaca o Bode Ioiô como “um dos tipos mais populares e queridos da Fortaleza de outrora (...) era uma espécie de mascote da capital daqueles tempos, uma figura obrigatória na pacatez da cidade provinciana” (p.183). Segundo ele, Ioiô “representa bem a imagem do espírito irreverente e 
profundamente irônico dos filhos desta gleba heroica de sofrimento” (p.185). 


Na sua obra de crônicas, Fortaleza Velha, João Nogueira relata que, em certo culto religioso no ano de 1922, um moralista alertava aos de boa índole: “Não se queixem do automóvel nem de certas novidades de que está cheia a Fortaleza, mas do Ceará moleque, que tudo acanalha e desrespeita” (apud Silva, 2003, p.22-23). Para a moral e os bons costumes, geralmente desprovidos de humor, a molecagem deve ser banida, pois que toda irreverência é associada à canalhice.

A referência a uma molecagem do cearense ou ao ‘Ceará moleque’ se encontra presente em outros escritos como O Cajueiro de Fagundes de Tristão de Alencar Araripe Júnior (1909); nos pasquins Ceará Moleque – Revista Caricata (1897) e O CharutinhoJornal Amolecado (1900). Digno de nota é igualmente o relato jornalístico da vaia ao sol na Praça do Ferreira. No ano de 1942, após longa estiagem e sem uma nuvem sequer que prenunciasse chuva no horizonte, os fortalezenses indignados e sem outra ação possível passaram a vaiar o astro-rei, que permaneceu impávido, na certa pensando que o que vem 
de baixo não lhe atingia.


Também cabe lembrar que este atributo de identidade cultural não é oriundo da elite erudita, que preferiria antes ser identificada aos traços importados da cultura européia. Embora seja muitas vezes por esta retratado, como no romance de Caminha, sua origem deve ser encontrada junto às classes populares, menos abastadas financeiramente, mas ricas de um humor peculiar e pouco sutil. 
A estética do grotesco, de que fala Bakhtin em sua obra sobre a cultura popular no Renascimento, está viva na Fortaleza de antanho e igualmente no mundo midiático de hoje em dia. Por ser identificada às classes populares e à sua estética particular, não é de estranhar o sucesso que tal imagem tem nos meios de comunicação de massa, onde há o império absoluto do grotesco, do bizarro, do exagero. É terreno fértil para a criatividade extravagante e sexualmente escrachada de homens, mulheres e homens travestidos de mulheres (digna de nota é a presença majoritária entre os humoristas locais de caricatos transformistas que atendem por nomes tais como Aurineide, Escolástica e Raimundinha).   
Em síntese, existe uma construção histórica e simbólica do ‘Ceará moleque’ que não vem de hoje. Trata-se de uma invenção social que foi e é simbolizada coletivamente, fazendo parte do imaginário cearense e do imaginário sobre o cearense. 


Crédito: A identidade cultural em tempos liquefeitos: o ‘Ceará moleque’ e 
a contemporaneidade - Francisco Secundo da Silva Neto/Marcio Acselrad 




quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pelas Praças da cidade - Parte I




Praça do Ferreira ainda com o sobrado do comendador Machado, demolido em 1927 para a construção do hotel Excelsior - Arquivo Nirez


A ideia da praça surgiu com uma reforma no plano da cidade.
Em dezembro de 1842, uma lei da Assembléia Provincial autoriza uma reforma do plano da cidade, eliminando dela a rua do Cotovelo a fim de ficar ali uma praça que se denominará Praça Pedro II. Boticário Ferreira foi eleito presidente da Câmara no ano seguinte, posto que ocupou até falecer em 1859.


O Jardim 7 de Setembro - Arquivo Nirez

A praça sofreu várias reformas sendo que a mais importante foi a construção do Jardim Sete de Setembro em 1902 na época em que os intelectuais da Padaria Espiritual se reuniam nos quiosques chamados: Escritório dos Bondes, Café do Comércio, Café Iracema, Café elegante e Café Java. Em 1914 a iluminação da praça é feita, bem como uma outra reforma. Em 1920, são demolidos os quiosques e o coreto, considerado o coração cívico da cidade na época. Em 1949 se construiu o Abrigo Central onde se encontravam boxes de vendas de discos, tabacarias, selos, bilhetes lotéricos, livrarias, café e até ponto de
ônibus. Apesar de ter se tornado um dos lugares mais movimentados da cidade, foi demolido em 1968 juntamente com a Coluna da Hora. A praça teve várias nomenclaturas destacando-se: Feira Nova: lugar onde se realizavam as feiras semanais, deslocando o centro da cidade da Praça da Sé, para o novo logradouro; Largo das Trincheiras: não se sabe bem se foi por uma batalha entre holandeses e portugueses, ou por causa do nome de um Senador que vivia ali e se apelidava de trincheiras; Pedro II: em 1859, em homenagem ao Imperador; do Ferreira: em 1871, após a morte do Boticário Ferreira, com memória aos relevantes serviços que prestou a cidade; Municipal: este nome durou somente seis meses, retomando ao seu nome anterior. Além dessas denominações oficiais também era popularmente conhecida por “da municipalidade”, por estar defronte do prédio da Intendência Municipal.


O Cajueiro da Mentira

É limitada pelas ruas Major Facundo, Floriano Peixoto, Dr. Pedro Borges e Travessa Pará e seu homenageado é Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira). O Boticário Ferreira nasceu em Niterói em 1801, teve muita influência política em Fortaleza, ganhou licença para montar botica e se estabeleceu. Deu impulso a grandes obras na cidade como, por exemplo, a Santa Casa de Misericórdia. Demoliu o Beco do Cotovelo construindo ali a praça que levaria seu nome. O monumento é a Coluna da Hora, considerada o ícone mais significativo da cidade de Fortaleza, a coluna da hora continuou com sua importância mesmo depois da sua demolição em 1968. O relógio de origem americana fabricado por Seth Thomas Clek Co de Nova Iorque tem quatro faces e está localizado no ápice da coluna situada no meio da praça. A coluna da hora juntamente com seu relógio é construída em 1932 com a demolição do cloreto. Contudo, só é inaugurada no início de 1934 com projeto do engenheiro José Gonçalves da Justa em estilo “Art-Déco”. Tinha cerca de 13 metros de altura. Em 1968 a coluna da hora é demolida juntamente com o Abrigo Central. Em conjunto com a reforma da praça, em 1991, fizeram uma nova coluna da hora projetada pelos arquitetos Fausto NiloCosta Junior e Delberg Ponce de Leon permanecendo até hoje.


Praça do Ferreira em 1934 


Lindo Passeio Público do Álbum Vista do Ceará 1908

Considerada uma das primeiras praças de Fortaleza e situada ao lado da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, era chamada de Largo da Fortaleza, no século XVIII. Além dessa, são observadas várias outras nomenclaturas:
Largo do Paiol: como o próprio nome indica, pela existência de um paiol de pólvora, que ficava no ângulo atual da Santa Casa de Misericórdia, do lado do mar; Largo do Hospital da Caridade: em homenagem à atual Santa Casa de Misericórdia cuja criação começa em 1847; da Misericórdia: em homenagem à atual Casa de Misericórdia, instalada em 1861; dos Mártires:1879 “Em memória dos beneméritos cidadãos que ali foram sacrificados pela causa da liberdade”; Campo ou Largo da Pólvora: nome popular, local destinado ao sacrifício de criminosos, foi erguido um patíbulo para punir condenados de crimes comuns. Destruído em 1831 por um grupo de patriotas.

Passeio Público em 1960 - Foto da Exposição Viva Fortaleza

E, por fim, em 1850, passa a ser chamada Passeio Público por ser considerado o local preferido pela sociedade cearense da época para passeios matutinos e vespertinos. Apesar da praça ter sido arborizada em 1864 e já representar um local tradicional de encontros, apenas em Julho de 1881 é que a praça é inaugurada. O passeio foi dividido em três planos sócio econômicos como mostra Sarmiento (2006, p. 56) “A gente de maior nível econômico ficava na Avenida Caio Prado, a classe média frequentava a Carapinima e a mais pobre a Mororó. Em 1932 suas grades circundantes foram retiradas. Alguns heróis cearenses que participaram da Confederação do Equador foram mortos no passeio público, dentre eles estão: Tenente Coronel Feliciano José da Silva Carapinima, Tenente de Milícias Luís Inácio de Azevedo Bolão, Padre Mororó,Tenente Coronel Francisco Ibiapina, João de Andrade Pessoa Anta e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe

Monumentos de Barão de Studart, Dr. José Frota, Dr. Moura Brasil e Delmiro Gouveia - Fotos de Leuda Reinaldo

Fica limitada pelas ruas Barão do Rio Branco, Dr. João Moreira e Floriano Peixoto. Os monumentos são os bustos de Barão de Studart, Dr. Moura Brasil, Dr.José Frota, Delmiro Gouveia.

Continua...



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Crédito: O Centro Histórico de Fortaleza e seu patrimônio cultural arquitetônico

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lívio Barreto - O caixeiro poeta



Lágrimas tristes, lágrimas doridas,
Podeis rolar desconsoladamente!
Vindes da ruína dolorosa e ardente
Das minhas torres de luar vestidas!

Órfãs trementes, órfãs desvalidas,
Não tenho um seio carinhoso e quente,
Frouxel de ninho, cálix recendente,
Onde abrigar-vos, pérolas sentidas.

Vindes da noite, vindes da amargura,
Desabrochastes sobre a dura frágua
Do coração ao sol da desventura!

Vindes de um seio, vindes de uma mágoa
E não achastes uma urna pura
Para abrigar-vos, frias gotas d’água!

Lágrimas - Lívio Barreto

Lívio da Rocha Barreto nasceu na Fazenda dos Angicos, distrito de Ibuaçu comarca de Granja/Ce , em 18 de fevereiro de 1870.

Filho de José Soares Barreto ( o Águia do Trapiá ) e Mariana da Rocha Barreto. Lívio foi morar na sede Granja, onde chegou em 1878 e aí aprendeu, com o professor Francisco Garcez dos Santos, as primeiras letras.

Cedo, tinha apenas o Ensino Primário, teve que abandonar os estudos para atuar como caixeiro no comércio. Foi quando conheceu o magistrado Antônio Augusto de Vasconcelos que o ensinava, nas horas de folga, lições de Português,
Geografia
e Fran
cês.


O Caixeiro

Exigências de fortuna obrigaram-no a ir, muito criança ainda e muito a contragosto seu, servir como caixeiro de um parente (ofício embrutecedor que o perseguiria pela vida a fora), gastou ele aí a melhor parte de sua infância, incompreendido e anônimo. Mas, não podendo conter os ímpetos de sua alma em anseios de ideal superior, com José Barreto, Luís Felipe, Belfort e outros funda um jornal literário - "O Iracema" - onde aparecem seus primeiros versos, defeituosos ainda, mas já reveladores da inspiração e da originalidade daquele que mais tarde passaria a ser o principal representante do Simbolismo no Ceará, apesar da forte tendência romântica.

Sentindo o meio em que vivia intelectualmente atrasado para seus talentos, resolve seguir para Belém do Pará, em junho de 1888, onde trava conhecimento com o poeta João de Deus do Rêgo, que muito contribui para o seu aperfeiçoamento literário. Regressa dali, em 1891

, doente e acabrunhado de esperanças

(

Com beribéri* e saudoso de casa, retornou ao Ceará. Nesse período, viu-se envolvido por uma intensa e triste paixão que o acompanharia até os últimos de seus versos e suspiros. Ainda em 1891, publicou “Versos a Estela”, além de sonetos e crônicas)

.

Por esse tempo aparece, na sua terra natal, um outro jornal literário - "A Luz" - em que Lívio publica sonetos e ligeiras crônicas humorísticas. Restabelecido no seio carinhoso da família, em fevereiro de 1892, ruma para a bela Fortaleza (

Em fevereiro de 1892, na busca do poético “fugir para esquecer”, dirigiu-se a Fortaleza, passando a trabalhar como caixeiro e a publicar versos no jornal "Libertador".)

, onde se torna um dos fundadores (com o pseudônimo de Lucas Bizarro) da Padaria Espiritual - entidade literária que produzia o jornal - "O Pão" - tendo à frente o talentoso poeta Antônio Sales.


Intelectualmente satisfeito, mas afetado, fora do lar, por dificuldades financeiras, regressa ele como filho pródigo, acontecendo naufragar à altura da Periquara, em viagem no vapor Alcântara (

Porém, desgostoso com o seu ofício no comércio, retornou à Granja (junho de 1982) à bordo do vapor Alcântara que naufragou, lançando ao mar revolto seus livros e um poema inédito.)

, salvando-se a nado, exímio nadador que era. Isto lhe rendeu um belo poema: "Náufrago".


Segundo Artur Teófilo, "O Lívio era magro, pequeno, altivamente petulante.Tinha o olhar penetrante, sem vacilações, a fronte alta e abaulada e uma palidez baça de hepático. Ria pouco e só entre amigos deixava por vezes transparecer sua fina verve elegante, um bocado pessimista e epigramática. Com o vulgo era sisudo, um tanto frio mesmo, com uns longes de bem entendido orgulho. Usava casimiras claras, chapéu de feltro alto, e fumava cachimbo, à noite, embalando-se rapidamente na rede, com um livro de versos nas mãos."


Dolentes 1ª Edição (capa 03)

Dolentes - 1ª Edição


A morte chega cedo demais



Em 1893, ingressou na Companhia Maranhense de Navegação à Vapor, para Camocim.

Lívio Barreto, autor de um único livro - DOLENTES - publicado postumamente por Waldemiro Cavalcanti, faleceu na sua banca de trabalho, em Camocim, fulminado por uma congestão cerebral**, pelas 3 horas da tarde do dia 29 de setembro de 1895, com apenas 25 anos de idade, tempo insuficiente para aprimorar sua arte poética. Mesmo assim, tornou-se o maior poeta granjense de todos os tempos e um dos principais do Ceará.

Lívio Barreto é patrono da cadeira nº 24 da Academia Cearense de Letras.


Lívio Barreto mereceu, das autoridades municipais, ter seu nome ligado a uma importante rua do centro da Cidade de Granja. A denominação poderia abranger toda a extensão da rua, mas o costume inadequado de dar-se múltiplos nomes a ruas grandes levou-a a ostentar dois outros, ao aproximar-se ao Cemitério e chegando ao Rio.

José Xavier Filho


Blog Sue Giersbergen

*Beribéri é uma doença provocada pela falta de vitamina B1 no organismo, o que provoca fraqueza muscular e dificuldades respiratórias.

A doença pode afetar o coração, dando origem a uma cardiomiopatia por deficiência nutricional chamada de beribéri cardíaco.


**

Congestão cerebral é a afluência anormal do sangue aos vasos do cérebro causado por emoções muito fortes e violentas, indigestões, contusões cranianas, alcoolismo, stress, etc. O limão funciona como tratamento auxiliar.


Fontes- Wikipédia, Raymundo Netto e pesquisas diversas pela internet

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Antônio Sales - Um dos maiores nomes da literatura brasileira



Antônio Sales nasceu em Paracuru, em 1868, e morreu em Fortaleza, em 1940. Aos 16 anos veio para Fortaleza, onde foi caixeiro em casas comerciais, ocupando o lazer com leituras, convertendo-se num autodidata. Publicou no jornal "A Quinzena" -órgão do Clube Literário -, (deste faziam parte Oliveira Paiva, Farias Brito e Juvenal Galeno) seu primeiro soneto. Estreou, em livro, em 1890, com "Versos Diversos"-´Trovas do Norte´); HistóriaO Babaquara´), teatro (´O Matapau´) e memórias (´Retratos e Lembranças´). Assinava seus escritos sob o pseudônimo de Moacir Jurema. Foi membro fundador da Padaria Espiritual, a quem coube escrever o manisfesto; fundada em maio de 1892, constituiu um movimento artístico que abrigava jovens dispostos a mudar o panorama das artes em Fortaleza; seu órgão de divulgação se intitulava "O Pão", aludindo, naturalmente, ao fato de que a arte é o alimento do espírito. Anunciava-se como um movimento marcado pela irreverência e proposta de novos conceitos em arte. As sessões da Padaria eram as fornadas, e o ambiente em que se realizassem recebia o nome de forno; os membros eram os padeiros; e o presidente, o Padeiro-Mor. Em nosso Estado, Antônio Sales foi secretário do Interior e Justiça, atuando, também, na política. Sua carreira literária e intelectual, no entanto, foi desenvolvida no Rio de Janeiro, onde se destacou como uma grande expressão de seu tempo. Ainda que haja produzido relativamente pouco, sua obra, tanto poética quanto ficcional, apresenta-se alicerçada em sólidas bases artísticas, merecendo a leitura de grandes nomes do ensaio literário no Brasil, como, por exemplo, Massaud Moisés. O romance Aves de Arribação foi, primeiramente, publicado em folhetins, só depois ganhando a forma do livro. Trata-se de uma grande expressão de nosso Ralismo-Naturalismo, inscrevendo-se, hoje, ao lado de obras como Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva; Luzia-Homem, de Domingos Olímpio; A Fome, de Rodolfo Teófilo; e A Normalista, de Adolfo Caminha.

"Na sala, uma moça esguia/recorta papeis de cor,/fazendo uma ninharia;/dorme um cão no corredor./e embaixo um nédio gatinho/Olha para o passarinho/como quem diz: - Si eu te apanho!..."
(Antônio Sales)

Poeta, dramaturgo, jornalista, cearense. Antônio Sales nasceu na então povoação praieira de Parazinho, hoje Paracuru. Em 1880 já participava com seus escritos em alguns periódicos da capital cearense como "A Avenida", "A Quinzena", "O Domingo", entre outros. Sem sombra de dúvidas, Antônio Sales, mais tarde, se tornaria um dos maiores nomes da literatura brasileira. Só para não deixar de citar um de seus confrades da época, Machado de Assis, o autor da perdurável obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, etc. Ainda moço Sales desfrutara do prestígio de freqüentar a alta intelectualidade cearense, como por exemplo, O Clube Literário, que segundo o professor Sânzio de Azevedo, em nota sobre os Grêmios Literários do Ceará, afirma que o poeta por esses tempos "mal se iniciará na literatura".



De família humilde, Sales chegara a Fortaleza nos idos de 1884 com apenas 16 anos, na época garantiu seu sustento como caixeiro viajante de casas comerciais, às quais lhes suprimiam as poucas horas ao lazer da leitura, fazendo-se, com muito esforço, autodidata. A poesia de Sales cedo surgiu com "Versos Diversos" (1888) e "Trovas do Norte" (1891). Em 30 de maio de 1892, no
Café Java, de Mané Coco, na Praça do Ferreira, Antônio Sales idealiza a Padaria Espiritual que se destacou por sua irreverência postulando a Semana de Arte Moderna de 1922. Curiosamente cada Padeiro se alto denominavam com os respectivos pseudônimos ou "nome guerra", como por exemplo: Antônio Sales ("Moacir Jurema"), Adolfo Caminha (Félix Guanabariano), Rodolfo Teófilo (Marcos Serrano), etc. Era a Padaria Espiritual na sua primeira fase com direito a deboches e gargalhadas que mais tarde, no século XX ganharia, a cidade de Fortaleza o epíteto de "Ceará Moleque" com direito a vaia ao sol e um certo Bode Ioiô que segundo contam era bom bebedor de cachaça e apreciador de boa poesia, além de ter sido eleito vereador desta mesma cidade. Dentre os intelectuais que compunham a primeira fase da Padaria estavam: "Ulisses Bezerra, Sabino Batista, Tibúrcio de Farias, Álvaro Martins, Temístocles Machado, Lopes Filho e Antônio Sales".



Já na segunda fase da Padaria Espiritual, Os Padeiros, voltavam suas idéias às questões políticas e sociais sacudindo o âmago dos literatos nos primeiros anos do golpe da Republica, ou melhor, na transição monárquica - republica no governo de Nogueira Accioly. Foi naquela agremiação literária (Padaria Espiritual) onde Antônio Sales escreveu o seu curioso estatuto - manifesto proibindo a qualquer padeiro recitar ao piano ou escrever versos em língua estrangeira e quem escrevesse em folhas perfumadas seriam sujeitos à pena de vaia ou expulsão. O jornal era O PÃO, veículo por onde eles divulgavam seus escritos denominados de "O PÃO DE ESPÍRITO", arranhando a sociedade burguesa da época.


Faço lembrar um trecho de Adolfo Caminha quando descreveu o perfil social da Padaria na coluna "Sabbatina", ainda na primeira fase em 1892: " (...) Somos obrigados a ir, às quintas-feiras e aos domingos, ali ao Passeio Público exibir a melhor de nossas fatiotas e o mais hipócrita e imbecil de nossos sorrisos. (...) Ocupamo-nos de política, mais de uma política torpe, reles, suja, indigna de ser tocada por mãos que calçam luvas de pelica. A literatura e as artes, por assim dizer, são os melhores tônicos para o espírito." Lê-se no Artigo 2◦, da Padaria Espiritual que os Padeiros se organizavam de um Padeiro-mor (presidente), dois Forneiros (secretários), um Gaveta (tesoureiro), um Guarda - livros (bibliotecário) e os Amassadores (sócios livres). Sabe-se que o programa de instalação da padaria não se deu no Café Java, mas na Rua Formosa (hoje Barão do Rio Branco). Sales que era inovador, jovem e inquieto pretendia que seus artigos repercutissem lá fora, no Rio de Janeiro. E repercutiu! E com seus 48 artigos "cujo fim é reunir rapazes de letras e artes (...) e fornecer pão de espírito aos sócios em particular e ao povo em grande parte", fez voltar os olhos dos homens de letra do Rio para aquela agremiação literária e irreverente que em Fortaleza se formava. No 8° artigo diz bem o compromisso dos Padeiros com a literatura, onde se lê: "VIII – As Fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à exepção das quintas-feiras, e nos domingos, ao meio dia."




Foto dos membros da Padaria Espiritual (Acervo do M.I.S.). No centro da Foto, sentado à esquerda da mesa, o poeta Antônio Sales. Do outro lado da Mesa, Waldemiro Cavalcante. Em pé, entre os dois, Rodolfo Teófilo. Á esquerda de Rodolfo Teófilo, o escritor José Nava, e na extrema esquerda, Antônio de Castro.


Ao lado de Sales, autor de "Aves de Arribação" estava Adolfo Caminha autor de O Bom Crioulo, livro do qual inaugurou o Naturalismo no Brasil, Álvaro Martins, Henrique Jorge e outros de tamanha importância. O Pão circulou tanto durante a primeira fase quanto na segunda num espaço de tempo de 1892 a 1896 somando 36 exemplares. Segundo estudiosos a Padaria Espiritual consolidou a literatura Realista cearense, bem como não podemos deixar de citar, a mola mestra de Rodolfo Teófilo com seu livro A Fome (1890).


Sales foi presidente, ou melhor, padeiro-mor de 1892 a 1894 e dentre outros que tiveram na função de padeiro-mor podemos citar Juvino Guedes, José Calos Junior e Rodolfo Teófilo.
Aos 29 anos, ou seja, em 1897, deixa o Ceará afastando-se quase completamente dos irreverentes poetas da lendária Padaria Espiritual, indo residir no Rio de Janeiro. E entre tantos valores a que chegara às elites literárias nacionais, Antônio Sales vai ao ápice colaborando na fundação da Academia Brasileira de Letras, onde em suas memórias, " Retratos e Lembranças", publicado em 1938, deixa-nos curiosos ao relembrar formação da ABL a qual participara:


"(...) E foi naquela feia e pobre travessa da Rua do Ouvidor que veio ao mundo a Academia Brasileira de Letras. Foi Lucio Mendonça seu verdadeiro criador e pai (...). Devo alertar que ela não foi muito bem recebida com alvoroço, pelo menos por parte de alguns habitantes da roda ilustre (...). Lembro-me de José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado de Assis, também, fez algumas objeções. Mas Nabuco e Taunay e outros concordaram (...). Restava discutir-se o primeiro grupo de imortais (...)."

O inesquecível Sales viveu plenamente a época de ouro, não só do parnasianismo, mas do realismo e naturalismo brasileiro atuando na literatura por um período de meio século. Em 1920 regressa ao Ceará após vários anos no Rio de Janeiro, trabalhando como jornalista dos periódicos: "Correio da Manhã" e "O País" entre outros jornais da imprensa nacional. Em 1930 participa intensamente de um novo movimento, agora em prol de reorganizar a Academia Cearense de Letras, escolhendo como seu patrono José de Alencar. Sales foi presidente desta mesma entidade de 1930 a 1937.


Em 14 de novembro de 1940, Antônio Sales, é vítima de hipertensão arterial, falece aos 72 anos. Fecharam-se para sempre os olhos do poeta que viu uma Fortaleza que hoje é (para alguns) esquecida, obscura, distante.

Obras


Saiba mais
 
Antonio Sales foi casado com Alice Nava Sales, não teve filhos. Sua esposa era irmã do José Nava, que também pertenceu a Padaria Espiritual,sendo pai do escritor Pedro Nava, que nasceu em Juiz de Fora, em 5 de junho de 1903 – e faleceu no Rio de Janeiro, 13 de maio de 1984) sendo autor de sete livros: Baú de Ossos, Balão Cativo, Chão de Ferro, Beira Mar, Galo das Trevas, O Círio Perfeito, Cera das almas...


Crédito: José Leite Netto, Diário do Nordeste, Francisco José Júnior e pesquisas de internet

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