Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cemitério de São Casimiro
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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domingo, 6 de janeiro de 2013

Os enterros na Fortaleza antiga



Cemitério São João Batista em 1931

Em maio de 1934, o cronista João Nogueira estabelecia uma relação entre a velocidade que caracterizava os novos tempos e a mudança de atitudes frente ao traspasse. No tocante aos cortejos fúnebres, ele apontou o transporte do féretro e os trajes dos acompanhantes como índices  na percepção dessa mudança. 


Cemitério São João Batista em 1931

Os enterros atuais puxados a máquina, passando velozes, os convidados vestidos de todas as cores, não infundem aquele respeito, que impunham antigamente. Tal é a força dos costumes que hoje não causa o mínimo reparo um homem acompanhar um enterro ou assistir a uma missa de sétimo dia, vestido de qualquer cor, mas ai daquele que não se apresentar de branco de rigor ou de smoking em um sarau dos nossos clubes elegantes. Tratamos a Morte com pouca cerimônia e a Dança com o maior respeito...


Cemitério São João Batista em 1931

A cidade não mudava apenas em suas pedras e topônimos: à transformação material e onomástica somava-se o desaparecimento de costumes antigos, no desencadear de lembranças nos  memorialistas em apreço. As descrições pormenorizadas de João Nogueira acerca da grande movimentação que envolvia os enterros de outrora confirmam que eles eram grandes eventos públicos a concentrar a atenção da  população e mobilizar considerável soma de recursos simbólicos. É com embevecimento que o engenheiro recorda os funerais de há meio século.



Antiga Igreja da Sé com seu cruzeiro

Há cinquenta anos passados os enterros entre nós eram verdadeiras procissões, que se estendiam, algumas vezes, por mais de um dos nossos quarteirões. Abria o préstito uma cruz negra de cuja peanha pendia uma  saia, que era um pano de veludo preto com franjas douradas, afetando a forma desta peça de vestuário. As irmandades marchavam em longas filas, solene e silenciosamente. Precedido pelo cura da , vinha o féretro, levado por quatro empregados da Misericórdia, vestidos de preto, com cartolas de oleado reluzente, casacas e calças debruadas de amarelo.


A Santa Casa ainda com um só pavimento. Foto de 1911

Os empregados da Santa Casa encarregados de conduzir o ataúde eram popularmente conhecidos como “gatos pingados”. Em razão de seu trajar chamativo, sempre foram citados por quantos memorialistas recordassem os enterros da Fortaleza antiga. Nas Memórias, Gustavo Barroso entreviu a mudança nos sentimentos com respeito aos mortos que foi suscitada pelo automóvel. Conforme já foi assinalado, sua introdução no ambiente urbano inaugurou novos ritmos e expectativas, afetando várias dimensões da vida cotidiana. Os ritos fúnebres estavam inclusos nessa transformação, conforme é possível inferir da passagem em que a velocidade dos cortejos motorizados é contraposta à solenidade dos enterros a pé, com o caixão conduzido pelos referidos empregados, em um “andar ritmado e lento”. 


Cândido Portinari

Como que ainda estou vendo os enterros. Todos a pé. Muito solenes. Na minha meninice, os mortos não usavam automóvel para a derradeira viagem. Nem se sabia o que era automóvel. Os vivos parece que não tinham pressa em se verem livres dos mortos, nem 
estes pressa em se verem livres dos vivos. À frente dos enterros, uma cruz alçada, de saiote preto, o padre paramentado e dois coroinhas. O caixão levado a mão pelos parentes e amigos ou por quatro gatos pingados de andar ritmado e lento, de  sobrecasacas negras e cartolas de oleado. No acompanhamento, somente homens, todos de luto, silenciosos e compungidos.¹



Não há mudança cultural que não se faça perceber no surgimento de novos objetos – e no desaparecimento de outros. As  procissões noturnas, iluminadas com tochas e fachos, talvez não fizessem mais sentido em uma cidade iluminada pela energia elétrica e abastecida de veículos. Sua estranheza foi evocada por Gustavo Barroso, em outra passagem do texto. 

Lembro-me vagamente de ter visto, quando muito pequenino, um dos últimos enterros à noite, à luz de tochas e archotes, costume antigo e lúgubre. Se não vi, ouvi descrevê-los tantas vezes  em casa que a descrição se mistura lá nos recessos do meu cérebro às cousas reais e acaba feita realidade pelo contato.


Cemitério São João Batista em 1931

Esse é um termo essencial da memória: muitas vezes não é possível distinguir entre nossas próprias lembranças e o que nos foi contado por outrem. Tais operações geralmente são inconscientes, mas no caso de Gustavo Barroso, artesão da memória, a possibilidade é vislumbrada. Ao lado de outros relatos, a imagem confirmava: os mortos já não se enterravam como antes. 


Cemitério São João Batista em 1931

A necessidade de relatar como eram os enterros de antigamente revelava um presente marcado pela supressão de referências à morte: do mesmo modo que o passado, os mortos eram banidos do cotidiano da cidade. O primeiro desaparecia nas contínuas reformas que depuravam o espaço urbano de seus traços indesejáveis; os últimos eram abolidos das vistas 
públicas através dos automóveis, que, velozes, os despachavam mais rapidamente para o outro mundo.


Antiga rua das Flores (Castro e Silva) por onde seguiam os cortejos fúnebres até o Cemitério São João Batista. Arquivo Nirez


Talvez muitos saudassem o progresso no que poupava  aos fortalezenses. Pois as procissões se estendiam por 1300 metros, ao longo da rua das Flores, que conduzia da igreja da Sé ao Cemitério São João Batista (daí talvez a origem do nome). Tão grande percurso, realizado sob as intempéries da natureza e sobre um calçamento pouco convidativo às longas caminhadas, assumia contornos de sacrifício – quase uma via-crúcis: “Era, em verdade, um sacrifício ir um homem, da Matriz ao Cemitério, vestido de preto, sol das quatro horas pela frente, sobre um péssimo calçamento”.


Fachada antiga do Cemitério São João Batista sendo demolida. Arquivo Nirez

Mas ritos fúnebres cumprem a função social de mostrar às pessoas que elas são importantes para os outros. Não circunscrever a morte com eles pode transformar o ato de morrer em uma “situação amorfa, uma área vazia no mapa social”.

O ritual que cobria esse momento crítico talvez se destinasse a marcá-lo, realçá-lo em meio ao cotidiano de fatos muitas vezes indistintos,demonstrando, assim, o quanto significava a perda de um membro para a coletividade. Era um ritual para os vivos, antes de ser para os mortos; estes se iam, mas aqueles ficavam, e eram reconfortados por  saber que, quando sua 
hora chegasse, sua partida também seria sentida pelos outros. 


Cemitério São João Batista em 1931

Na percepção do engenheiro, ninguém se queixava da  caminhada torturante em virtude dos “sentimentos que a todos  animavam” Trata-se, evidentemente, de uma visão carregada de subjetividade, mas que bem expressava o quanto poderia ser angustiante para alguns o vazio que a ausência do ritual criava.

Esse vácuo também era formado na destruição de fragmentos do passado que compunham a paisagem da cidade. 
Esta era expulsa da cidade tanto nas transformações do espaço quanto no desaparecimento de antigos ritos fúnebres. Mas os memorialistas a introduziam no discurso, e lembravam que o dever com os mortos  ia muito além do cerimonial adequado, mas implicava reconhecê-los: nas esquinas, praças, árvores, topônimos... Vestígios do passado transmutados em lápides. 

João Nogueira recordou, com enlevo, os “enterros de anjinhos”. 


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram festivos e risonhos os enterros de anjinhos ao tempo em que a Fortaleza não tinha pretensões a  Metrópole... Os sinos da (os menores) repicavam alegremente e a família do  anjinho convidava quantos meninos pudesse para acompanhar o saimento. Não se encomendavam os  anjinhos. Porque encomendá-los Àquele que dissera: Deixai vir a mim os pequeninos? A inocência daquelas aves abria-lhes as portas do reino dos céus. Enquanto os pequenos convidados esperavam pela hora da saída, recebiam, de agrado, toda sorte de guloseimas. Depois, lá se ia o alegre bando acompanhado, não raro, por músicos que tocavam, durante o trajeto, polcas, quadrilhas e outras peças alegres. E era assim que  as mães piedosas deixavam que voassem as andorinhas, em busca de 
paragens luminosas. Felizes tempos aqueles!


Enterro de anjinhos - Imagem meramente ilustrativa - Acervo José Elson

Eram tempos mais felizes aqueles? Quem sabe? De qualquer forma, o engenheiro encontrava regozijo na lembrança. Mas o  encontraria do mesmo modo se a tradição continuasse? Talvez sim, mas de  uma forma distinta, porque presença. A ausência faz o memorialista, a mudança reelabora seus sentimentos com respeito à cidade em que vivera por longo tempo, produz memórias que não são a Fortaleza de antigamente, mas fragmentos recolhidos e dispostos segundo critérios de afetividade.



No entanto, é provável que João Nogueira e Gustavo Barroso tenham sido levados, pelas circunstâncias que deparavam no presente, a idealizar as atitudes dos antigos com relação aos mortos. O testemunho de João Nogueira sobre a demolição do antigo Cemitério de São Casimiro, em 1877, e a sombra do desprezo que pairava sobre os que ali repousavam, parece apontar nesse sentido. 


Início do século XX

Local onde antes esteve o Cemitério de São Casimiro - Álbum Fortaleza 1931

Muita gente passa hoje em frente às oficinas da Baturité sem suspeitar ao menos que todo aquele movimento se opera sobre um chão de repouso e de morte. Parte das oficinas, o  Chaler, a Carpintaria, os Depósitos e desvios estão assentes sobre o local do antigo Cemitério de São Casimiro [...]. Aí se fizeram enterramentos até abril de 1865, época em que foi fechado sob pretexto de se achar quase dentro da cidade, estar sendo invadido pelas areias do morro, estarem sepultados nele inúmeros coléricos. Daí por diante jazeu em completo abandono, até que em 1877 se resolveu a sua demolição. [...] 


Compreendem-se perfeitamente as razões porque se fechou o Cemitério Velho; o que porém nunca pudemos compreender foi o abandono, de que fomos tantas vezes testemunhas, daquele humilde Campo Santo. Em 1878 já estava quase tudo em ruínas: túmulos desmoronados, catacumbas abertas, deixando ver o seu horripilante conteúdo, ossos dispersos pelo chão, onde os animais pastavam tranquilamente. Dir-se-ia que na cidade não restava mais nenhum parente, nenhum amigo de nenhum daqueles que repousavam ali.




Traslado dos restos mortais do General Sampaio na Avenida Bezerra de Menezes, com a presença do então Governador Virgílio Távora (1966).


À vista dessas poucas (e chocantes) linhas, impõe-se repensar as assertivas que atribuíam aos antigos maior respeito e consideração aos mortos. Afora a ordem de “autoridade competente” para exumação dos restos de mortos ilustres antes da profanação (como o do Boticário Ferreira, a quem se atribui, juntamente com Silva Paulet e Adolfo Herbster, o traçado ortogonal das ruas de Fortaleza), o único que parecia se importar com o desrespeito era uma velha casuarina


A velha casuarina em destaque

Do nosso antigo cemitério resta apenas um único monumento: uma casuarina, que o acaso conservou.  Último morins, único amigo sobrevivente de quantos viu sepultar. Dizem que quando se revolvem as cinzas dos seus mortos ouve-se pela calada da noite um vozear 
baixinho por entre a vetusta ramaria.²

Por entre a folhagem da árvore, diziam escutar-se um último alento aos mortos, cujos despojos não voltariam nunca “ao  pó sagrado de que nos fala a Escritura, mas à areia negra do esquecimento e do desprezo”.³

Foto de 1922, época da reforma da Praça Castro Carreira (Estação)

¹BARROSO, Gustavo. Memórias. Coração de menino. Op. Cit., p. 62-3. O jornalista Carvalho Lima, sob o pseudônimo de “Ancião”, faz reparos à crônica “Os primitivos enterros”, de Raimundo de Menezes, onde os encarregados do transporte do ataúde eram lembrados. Estes não seriam empregados da Santa Casa, mas trabalhadores de rua contratados para cada enterramento, e subdividiam-se em três categorias,  segundo as posses do morto: 12$00020$000 e 30$000. Cada qual trajava uma indumentária diferente (os descritos pelos memorialistas pertenciam à última categoria). (O Estado, 13/02/1938. Apud MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou:  crônicas históricas da Fortaleza antiga. 3. ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p. 77) 

²No texto que dedica ao oitizeiro do Rosário, João Nogueira menciona outras árvores conhecidas de Fortaleza. Além do cajueiro do Fagundescuja história já é conhecida, havia a “árvore da liberdade”, coqueiro plantado em 1831, no antigo Pátio do Palácio (atual praça General Tibúrcio), por ocasião da abdicação de D. Pedro Io “cajueiro botador”, “velho” que “não se impunha ao respeito”, por prestar-se ao chiste popular: sob sua fronde ocorria a eleição dos maiores mentirosos da cidade, que sempre terminava em cervejadas, nos botequins da praça do Ferreira, onde estava localizado; por último, um coqueiro da praça da Estação, que não tinha história conhecida: “É um velho que tem atravessado a vida sem viver. Sabe-se apenas que nas noites de luar conversava com o oitizeiro. O que diziam, ninguém entendia... Agora  emudeceu para sempre, porque morreu o único amigo que lhe restava e o entendia”. NOGUEIRA, João. Op. Cit., p. 161.

³O historiador Simon Schama faz uma instigante reflexão acerca das ligações das árvores 
com o sagrado, na simbologia de pinturas e xilogravuras da Idade Média. Esses entes da 
natureza foram apropriados por catequistas cristãos que deram combate a cultos fetichistas, e se empenharam em converter seus praticantes através de sua associação ao Crucificado. (SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 221-232) 



Crédito: Tempo, progresso, memória: um olhar para o passado na Fortaleza dos anos trinta - Carlos Eduardo Vasconcelos Nogueira, Álbum Fortaleza 1931 e Arquivo Nirez

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os antigos Cemitérios de Fortaleza

Em 1844, o Poder Público determina a edificação de um cemitério público, o Croatá ou São Casimiro. A decisão de onde seria o campo-santo foi dos então médico da pobreza, cirurgião mor da província e cirurgião ajudante do Corpo Fixo de Caçadores. A área vizinha ao morro do Croatá foi escolhida por reunir as condições necessárias ao empreendimento. O local ficava a sotavento da cidade e as exalações prejudiciais aos citadinos seriam dispersas pelos ventos. O projeto obedeceu critérios matemáticos que levaram em consideração a tabulação do número de falecimentos dos anos de 1845 (294), 1846 (286) e 1847 (170). A notícia da criação da necrópole foi publicada na edição do jornal O Cearense, de 3 de fevereiro de 1848.

Local do antigo Cemitério de São Casimiro. Foto Assis Lima


Foto do século XIX. No lado poente funcionava o Cemitério de São Casimiro e lado leste o dos protestantes ingleses.

O Morro do Croatá ficava contíguo onde hoje está a Praça Castro Carreira, a Praça da Estação. Com a epidemia do cólera, em 1856, foi acrescida uma área ao São Casimiro para sepultamento daquelas vítimas especificamente. O novo espaço foi separado por grade de ferro do plano já existente anteriormente.



O que foi previsto aconteceu muito mais rapidamente do que se imaginou. Dezesseis anos depois o cemitério já se encontrava muito próximo ao Centro e com o agravante de estar sendo soterrado pelas dunas. A realidade é que eram dois cemitérios, porque os protestantes e demais acatólicos (que não são católicos) eram enterrados num cemitério privado que ficava vizinho ao São Casimiro, administrado pela Santa Casa de Misericórdia, o que foi oficializado em lei provincial de 1860. O privado ficava sob a responsabilidade da empresa Singlehurst & Co.

Em 02 de Janeiro de 1848 é Assentada a primeira pedra para construção do primeiro cemitério de Fortaleza, o Cemitério de São Casimiro(*) (ou de Croatá), no Morro do Croatá, em terreno doado pela família Braga Torres.



Exumação dos restos mortais do Boticário Ferreira 
Em 08 de Maio do mesmo ano, inaugura-se o Cemitério de São Casimiro(em homenagem ao governador que autorizou a construção, Casimiro José de Morais Sarmento), edificado em virtude da Lei Provincial nº 319 de 01/08/1844 e que seria desativado em 1866 com a construção do Cemitério de São João Batista, para onde foram trasladados alguns corpos.
A construção esteve a cargo do tenente Juvêncio Manuel Cabral de Menezes.


Fachada antiga do Cemitério de São João Batista sendo demolida - Arquivo Nirez


O Cemitério de São Casimiro estava localizado no Campo da Amélia, hoje, Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação.
O campo foi construído em 29 de junho de 1830 em homenagem a imperatriz  D. Amélia de Leuchetmberg. Foi um campo de treinamento e hipismo. Construído pelo engenheiro da Província, Juvêncio Manoel de Menezes, por ordem do Presidente da Província José Sarmento. Localizava-se no lado poente do campo, era murado e tinha uma capela na entrada do terreno que era dividido em dois lados. Na esquerda ficava o lado conhecido como o Campo dos ingleses, onde geralmente eram sepultados os estrangeiros.

Pena de morte cumprida em frente ao Cemitério de São Casimiro
Por ser próximo da praia,existia uma duna conhecida como Morro do Croatá que devido aos ventos e a areia foi aterrando lentamente o cemitério, que foi demolido em 26 de fevereiro de 1880 e construído o Cemitério de São João Batista(**) em abril do mesmo ano no bairro de Jacarecanga.


1- A ampliação do Cemitério de São Casimiro

2- Construção do Cemitério de São João Batista

3- Os antigos enterros eram feitos nas igrejas

Ilustres enterrados no Cemitério de São Casimiro

  • 29 de Abril de 1859 - Falece, em Fortaleza, às 21h, o farmacêutico prático (boticário) Antônio Rodrigues Ferreira de Macedo (Boticário Ferreira), ex-vereador, ex-intendente, vítima de asfixia lenta devida à aneurisma da aorta pectoral. 
    Foi sepultado no antigo Cemitério de São Casimiro (do Croatá).
  • 09 de Julho de 1862 - Morre, em Fortaleza, aos 78 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério de São Casimiro, Francisco Fernandes Vieira (Barão e Visconde do Icó), nascido em Saboeiro em 20/05/1784.

Igreja do Rosário do Álbum Fortaleza 1931

Igreja do Rosário - Túmulo de muitos
Alguns moradores afirmam que os seus antepassados falavam que antigamente era comum as pessoas serem enterradas nos próprios sítios onde residiam nas zonas mais distantes do centro de Fortaleza. Vários eram os motivos que levavam os moradores a agirem dessa forma. A distância e a falta de transporte dos corpos, não existia lei sanitária que determinava a obrigatoriedade dos enterros em cemitérios públicos e pela falta dos mesmos em zonas urbanas, surgidos somente em 1902.
Até meados do Século dezenove, era costume enterrarem os mortos nas igrejas. Um grande exemplo dessa tradição, é a quantidade de pessoas que foram enterradas na Igreja do Rosário. No governo de Lúcio Alcântara, a igreja correu sério risco de ser demolida, mas durante as obras, foram achados corpos de escravos, forçando (felizmente) o cancelamento da demolição.


Postal da igreja do início do século XX
No ano de 1828, uma lei imperial recomendava às câmaras municipais que elaborassem posturas para tratar do estabelecimento de cemitérios fora do recinto das igrejas.
Era 1938, Fortaleza tinha pouco mais de oito mil almas (Abreu, 1919) encravada em dunas escaldantes e revoltas."Era costume arraigado enterrar-se os mortos dentro das igrejas ou em seus átrios e arredores. Questões relacionadas à Saúde Pública teriam sido responsáveis pela proibição das inumações (sepultamentos) no interior e vizinhança das igrejas. Acreditava-se que os gases produzidos pela decomposição dos cadáveres ocasionariam doenças", revela Henrique Sérgio de Araújo Batista no livro: Assim na Morte como na Vida.

Foto de 1912

O Cemitério dos Ingleses (Protestantes)

No São Casimiro havia uma área reservada e marginal para os que não professavam a fé católica ou atentassem contra os princípios desta (judeus, suicidas, etc).
Foi também construído o Cemitério dos ingleses (para protestantes) vizinho ao São Casimiro, que era mantido pela firma de importação e exportação Singlehurst & Co, de Henrich Brocklehurst.



O Cemitério dos Ingleses continuou a ser utilizado até ser demolido em 1880, para construção de armazéns e da estação da Estrada de Ferro de Baturité. A partir daí foi destinada uma área nos fundos do Cemitério São João Batista para sepultamento dos protestantes.



Curiosidades

Túmulo de Plácido de Carvalho - Foto Raimundo Gomes
Até 1828 os corpos dos fortalezenses eram sepultados nas paredes das igrejas. Com o passar dos tempos a sociedade exigiu que seus mortos fossem “separados” dos vivos. Com isso, em 1844 o morro do Croatá, depois Cemitério de São Casimiro passou receber e sepultar os mortos da capital cearense. Em 3 de fevereiro de 1848, foi realizada uma publicação no jornal, onde era narrada a necessidade de a sociedade possuir um cemitério. Ainda dentro da cidade, o cemitério é retirado da mesma e construído em um lugar mais distante. A data de 1860 é marcada pela privatização da Igreja Católica ao Cemitério São Casimiro, que passou a receber exclusivamente corpos de católicos.
Como único cemitério de Fortaleza, o São Casimiro, estava completamente cheio por ocasião da febre amarela e de outras doenças da época.

Jazigo da sra. Pierina e de Emilio Hinko - Foto Raimundo Gomes
Fundado em 1862, localizado na Rua Padre Mororó, S/N, no bairro Jacarecanga, próximo à Catedral Metropolitana de Fortaleza, O Cemitério São João Batista é cenário de uma infinidade de obras de arte. O São João Batista, assim nomeado o cemitério, a partir desse ano começa a receber corpos pertencentes a parentes das famílias ricas da capital. O cemitério São Casimiro é desativado e só depois de 10 anos a prefeitura constrói uma praça no local. 
Em 1866 o São João Batista é oficialmente inaugurado. Recebendo um portão e um muro mais reforçados em 1872, data exposta na parede da entrada como sendo a data de inauguração.
Para o administrador do cemitério e profundo admirador do local, Denis Roberto Marques, o São João Batista não é um só o lugar de enterrar os mortos, mas sim um lugar vivo e cheio de histórias. Afirma que depois de sua inauguração e ainda hoje, as famílias cuidam com muita atenção dos túmulos de seus familiares. Decoram. Tentam deixar o ente o mais próximo possível dos vivos.

Túmulo  do inquestionável escritor Quintino Cunha cujo epitáfio é de autoria dele mesmo: "O Padre Eterno, segundo refere-se a história sagrada, tirou o mundo do nada e eu nada tirei do mundo." 
Foto Tribuna do Ceará/Rosana Romão
Os indigentes, segundo Denis, antes eram enterrados no São João Batista, mas devido a falta de espaço foram encaminhados para outro cemitério. O administrador explica que não dá para saber qual é o número exato de mortos, por nunca ter sido feito um controle, mas confirma o número de 25 MIL jazigos.
Por volta de 1862, a forma que as famílias encontravam para mostrar sua ascensão econômica era decorando os túmulos de seus parentes. Um caso muito conhecido foi o da baronesa do Crato que tinha o hábito de fazer um piquenique aos domingos com a sua família. Essa ideia foi adotada pelo restante da sociedade que passou firmar uma competição em relação aos túmulos mais bonitos.
Além da baronesa do Crato, figuras como Caio Prado (governador do Ceará) que teve o jazigo mais complicado de ser construído, tendo que ser usadas as mesmas técnicas aplicadas no Egito para a construção das pirâmides; o senador Virgílio Távora com uma majestosa estátua de ferro de Jesus Cristo em seu túmulo; o escritor Quintino Cunha; Engenheiro Antonio Santana Jr., Dionysio Torres, respectivos nomes de rua e bairro de Fortaleza, fazem parte da construção de um lugar para descanso eterno, porém com um cenário maravilhoso.
Cícero Ricardo é o responsável pela manutenção do cemitério. Ele trabalha no cemitério desde 1990, de domingo a domingo das 7h às 17h, demonstra muito amor e dedicação ao local. Ele explica que o São João Batista, assim como um bairro, é dividido em ruas e cada jazida tem sua numeração.
Além de todo cuidado com o cemitério, Cícero também faz referência a “beatificação” (feita pelos visitantes e familiares) de alguns mortos como, por exemplo, a menina Lúcia (1915 – 1917) e Cleidimar Medeiros Dantas (1955 – 1970) falecida cinco dias antes do seu aniversário, atropelada pelo tio. Cícero afirma e também é visível nos túmulos, que muitas pessoas fazem visitas aos jazidos buscando alcançar graças. Cura de algumas doenças, aprovação em vestibular, melhorias nas condições financeiras são constantes pedidos feitos pelos fiéis às jovens. Toda segunda-feira uma média de 40 pessoas visitam o túmulo de Cleidimar para agradecer pelas graças alcançadas. Os fiéis levam velas, flores, quadros, mensagens.
Nas histórias do São João Batista existe um fato. O exame de DNA depois que o indivíduo chega a falecer, quando pedido, passa por processo simples, mas de bastante responsabilidade. Cícero explica que um delegado e um promotor de justiça vão até o cemitério e levam os restos mortais em saco apropriado para análise. Na saída do corpo Cícero assina um documento, onde se responsabiliza pelos restos. O resultado saí em até dois anos comprovando ou não o parentesco.
ideia de cemitério, sem dúvidas, é a de um local para o descanso eterno. Local onde nossos corpos são colocados depois que morremos. Mas quebrando os conceitos sobre o uso do cemitério, o neonazista (assim considerado) Joaquim de Sousa Míteri, já construiu e fez lápide do próprio túmulo. Segundo Cícero, o senhor Joaquim vem todas as manhãs fazer caminhada dentro do cemitério e aproveita para cuidar do seu túmulo. De maneira engraçada Cícero defende, ele é um homem precavido.
Uma característica interessante do São João Batista, é a área destinada ao sepultamento dos não-católicos. Antigamente separada do cemitério católico por muros, hoje só se percebe a antiga divisão pela quantidade de túmulos de judeus que se concentram no setor posterior do cemitério.


  • 05 de Abril de 1866 - Bênção do Cemitério de São João Batista, construído no local conhecido por Tijubana, que substituiu o Cemitério de São Casimiro.
  • 12 de Abril de 1880 - Iniciada a trasladação dos ossos exumados do antigo Cemitério de São Casimiro para o Cemitério de São João Batista, pela Mesa Regedora da Santa Casa de Misericórdia. Foram exumados do cemitério São Casimiro os restos de pessoas ilustres como Pessoa Anta e Padre Mororó transferidos para o cemitério São João Batista.
A mulher do balaio
Na década de 1960, ali pelo Jacarecanga, se queriam que crianças ficassem comportadas, bastava anunciar a vinda da "mulher do balaio". Aquela alta e forte senhora grisalha de saia rodada e seu cesto de flores era uma visão apavorante para a meninada. Ninguém a encararia se tivesse coragem de estar no aposento onde era recebida por mães, tias ou avós. Todos sabiam que ela vinha do cemitério e que as flores nasceram em volta dos túmulos. A tradição familiar, cujas bisavós herdaram de suas mães e avós, de manter roseiras no cemitério e usar as flores que brotavam na profusão daquele solo ricamente orgânico em casa, era suficiente para paralisar os pequenos. Aqueles vasos nunca se quebravam, pois ninguém pegava neles. Aos menores era impedido ver seus mortos. Os adultos iam aos ritos fúnebres e cemitério, só no Dia de Finados, onde as velas queimando e a emoção das pessoas por seus entes queridos, tocava a todos. Hoje o cemitério comporta cerca de 16 mil túmulos.

Cemitério da Parangaba e do Antônio Bezerra
Em 1910, surgem os primeiros cemitérios públicos urbanos como o de Parangaba. Em 1935, alguns moradores do Barro Vermelho reuniram-se para a construção de um cemitério no bairro, dentre eles destacamos: Sr. Manoel Rodrigues Venâncio, irmão do Sr. Cizisnando Rodrigues Venâncio, que construíram em um terreno localizado ao lado esquerdo do Patronato da Sagrada Família. Em 1937 com alargamento das ruas do bairro, foi modificado sua estrutura para o atual, segundo afirma o Sr. Antônio Braga Venâncio, que presenciou os translado dos corpos para o cemitério atual.
NCemitério de Antônio Bezerra estão repousando os entes queridos das principais famílias do bairro: Couto Bezerra, Teixeira CamposGiffonyRebouça Brasil, UchôaSantosBezerra de MenezesMatos DouradoPessoa e Mendes, dentre outros. O cemitério atual está lotado, sendo necessário a ampliação do mesmo. Por conta disso, algumas famílias já utilizam outros tradicionais cemitérios de Fortaleza.

(*)Cemitério de São Casimiro
Diz a lenda que a ideia de um cemitério surgiu quando a mulher de Casimiro de Morais passou mal em uma missa na igreja do Rosário e acreditavam-se em miasmas dos corpos enterrados na igreja.
O cemitério foi construído a oeste da cidade para o vento levar esses tais miasmas,porém a cidade cresceu e o centro já estava nas proximidades do cemitério. Quando ocorreu a seca de 1915 vários corpos ficaram a céu aberto.
Então Fortaleza ganha um novo cemitério o São joão Batista.


(**)Cemitério São João Batista
A discussão para a construção do novo cemitério tem lugar no início dos anos 60 do século XIX. Mesmo inacabada, a nova necrópole foi inaugurada em 1866. O portão frontal do São João Batista está datado de 1872, mas este é o ano de conclusão da amurada e afixação do portão.
Os túmulos e despojos mortais dos cemitérios da Praça da Estação que tiveram condições, foram transladados para o São João Batista.
Como todo campo-santo, dali contam-se histórias de túmulos que racham após os consertos, barulhos estranhos; mas quem trabalha ali diz que nunca viu nada extraordinário. O certo é que há verdadeiras obras de arte adornando a última morada dos fortalezenses que têm famílias mais antigas na cidade.


É impossível precisar exatamente a quantidade de corpos que já foram sepultados no São João Batista. Desde o ano 2000, o registro de enterros é informatizado. Os dados anteriores estão em livros.
A Santa Casa de Misericórdia amarga prejuízos com a inadimplência da taxa de manutenção mensal.
Os principais gastos do cemitério são com segurança e limpeza. As fontes, além da taxa citada, são através da vendas de urnas, taxas para enterro, velórios e exumações.


Crédito: Portal da história do Ceará,  Site do Bairro Antônio Bezerra De pés descalços,  História do Ceará - Airton Farias, Indyra Tomaz, Memória.Bn.Br e Diário do Nordeste.

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