Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Jacarecanga
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Das antigas - Vacinogênio Rodolfo Teófilo (Parte II)


De Vacinogênio, Necrotério, para Casa de Material de Construção

Rodolfo Teófilo, baiano radicado no Ceará desde 1868, começou sua missão filantrópica a partir da contemplação das

secas que assolava a terra alencarina. Médico sanitarista, de espírito humanitário, iniciou seu trabalho filantrópico no Morro do Moinho*, no último quartel do século XIX. O Morro do Moinho era topograficamente a parte mais alta do Jacarecanga, tendo ao seu lado, o Morro do Croatá, que fora rebaixado para a construção da Via Férrea de Baturité.
Ao raiar do século XX, em 1º de janeiro de 1901, ocorrera a inauguração do Vacinogênio, fruto do trabalho de Rodolfo Teófilo. Na época, o Vacinogênio não agradou ao Presidente do Estado Pedro Augusto Borges, pois este não obedecia às diretrizes da oligarquia Aciolina.  


Fachada do Vacinogênio em 1918.

O Jacarecanga teve o privilégio de receber o Vacinogênio, que atendia, sem apoio governamental, aos pobres dos bairros periféricos da zona Oeste. O referido posto de saúde fora erguido na Estrada do Jacarecanga, que depois recebeu o nome de avenida Thomaz Pompeu e finalmente, Avenida Philomeno Gomes.
Com a morte de Rodolfo Theófilo em 1932, Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, então interventor federal, transformou o Vacinogênio em necrotério, devido sua estrutura sanitária e a proximidade com o maior cemitério da cidade, o Cemitério de São João Batista, que remota ao ano de 1866. 


Vista Aérea do Jacarecanga. Em destaque o Prédio do Vacinogênio. 1956.


Aproveitando essa reforma, a irmandade da Santa Casa de Misericórdia, administradora do Cemitério, solicitou ao Interventor a desapropriação de algumas casas, para que o campo sagrado se estendesse até o muro do Vacinogênio, beirando uma via já movimentada. Depois o necrotério foi para a rua Nestor Barbosa nº 315 no bairro Rodolfo Teófilo, e quando foi implantado o Curso de Medicina no Ceará, em 12 de maio de 1948, passou a se chamar Instituto Médico LegalIML.
 
Por ironia, em novembro de 1986, talvez uma das últimas inaugurações do Governador Gonzaga Mota, o IML volta para o Jacarecanga, sendo localizado na avenida Presidente Castelo Branco (Avenida Leste-Oeste), esquina com a rua Padre Mororó.
A casa do Vacinogênio, depois de abandonada, foi transformada pelos que trabalhavam na extensão do cemitério, em depósito para guardar material. 


Assis Lima
(Radialista/Escritor)


Assis Lima entrou uma única vez nesta casa, que a gurizada do seu tempo dizia: “tem alma neste local”. Nenhum menino da época entrava só, os que entravam eram de mãos dadas.
Em 1969, ergueram um cruzeiro construindo uma meia lua de penetração no cemitério; junto com esse reparo no muro ocidental, desapareceu a casa do Vacinogênio/Necrotério e no embalo destruíram a casinha de força dos bondes elétricos da Ceará Tramway que havia sido desativada em 1947.





Leia a parte I AQUI
 
*Morro do Moinho: Local hoje onde se encontra o Instituto Médico Legal (IML)

terça-feira, 10 de abril de 2018

Os Gritantes Vendedores da Vila São José


Era gostoso o amanhecer na Vila São José nos dias de verão. A estrela D’alva ainda não tinha sida ofuscada pelo alaranjado raio do astro-rei, dando-se para ouvir o suar das ondas em dias de mar bravio no Pirambu; ouvia-se o sussurro deliciante do refrescante vento assobiando no encontro da instalação elétrica dos fios da então Conefor (hoje Enel); pela inércia a compressão eólico fazia deitar galhos finos das árvores mais altas. O barulho só começava às 6 h quando a Fábrica São José iniciava suas atividades nos teares (tecelagem) e os trens suburbanos da RFFSA apitavam, e aí começava a poluição sonora, mandando paulatinamente ir embora o sossego noturno.
Os pássaros rolinhas (caldo de feijão e cascavel), com seu melancólico e redundante cântico de modo uníssono, se alegravam pousados na linha telegráfica do trem na linha de Baturité, nos impondo responsabilidade. Agora, tinha algo atípico que culminou em típico na cultura peculiar de nossa Vila Operária.

Os Gritantes vendedores de porta. O primeiro era o homem da tapioca: “Tapiiooooca”. Por muitos anos ouvi essa voz, mas eu estudava no Grupo Escolar Sales Campos no turno da tarde; não via meu pai sair para o trabalho e minha mãe fazia tapioca também. Se levantar cedo pra que? Na rede ficava. Um dia por curiosidade e lembro que até espantei minha mãe. Saí pra calçada e de calção, assanhado, declinei meu olhar para a Rua Coronel Philomeno, e o homem ainda ia passar. Ele estava na rua Dona Bela quando subitamente entrou um cidadão alto, moreno, chapéu de palha e um caixote todo forrado com palhas de bananeira. Era o tapioqueiro. O homem da verdura só vinha perto das 7 horas. Esse eu vi e reconheci, pois era o pai da secretária do lar (seu nome agora me escapa), mas trabalhava na casa do Wilson Buchão que era gerente da desaparecida Lanchonete Miscelânea na Praça do Ferreira, vizinho ao Posto Mazine na Fortaleza antiga.

Sem hora prevista vinha o homem do “Meeeeeeeel”. Equilibrava com uma rodia um vasilhame tipo leiteira e vendia seu produto natural: “Hoje é de jandaíra, é das Italianas” e por aí ia. Hoje a nutrição policia-nos devido doenças tipo diabete. Ao meio dia e já fardado para ir ao Grupo Escolar (eu cursava a 3ª série do primário - 1968), então chegava o Fedorento do Picolé. Foi rotulado por esse apelido, devido o causticante sol que o fazia transpirar sem a assepsia nas axilas. Era um quarentão de pele morena, e que estacionava a carroça debaixo do único Fícus-benjamim existente na Vila São José, e que fora derrubado em 1975. Falo com precisão porque essa árvore, plantada em 1926, ficava defronte ao numero 43, na Rua Coronel Filomeno, meu berço. A exata, nessa hora a colossal chaminé da Usina São José expelia a descarga da caldeira que ficava na estamparia, e no céu da Vila ficava uma nuvem de fumaça branca não poluente, que devido a altura não atingia as casas, mas que vivenciávamos uma espécie de eclipse, pois o dia mudava de cor. A noite tinha mais dois vendedores de picolé. Um que dizia: “ Mel, mé Mel” e era distribuidor dos gelados da Sorveteria Gury; O Ceará era o outro que largava a carroça e começa a se estrebuchar no chão, quando alguém dizia que ele era torcedor do Fortaleza, rivalidade no futebol cearense. Antes de passar a Novela Antônio Maria com Sérgio Cardoso na TV Ceará Canal 2, emissora única e afiliada da Rede Tupy de Televisão, vinha o vendedor de chegadinho e a sua chamada era com o triângulo.

Eram folhas crocantes de trigo e outros produtos que pareciam folhas de pé de castanhola assadas. Aos fins de semana tinha o pipoqueiro que morava na Rua Padre Mororó, quase defronte ao Santa Cruz Sport Club. Sua chamada era: “Pipoqueirooooo, chegou o cheiroso!!!”. A noite era o vendedor de Algodão doce. Como ele pouco falava, levou pela corriola o nome de “Caladinho”. Eram demais as opções de vendas e a Vila São José era movimentada. Os nossos pais que se aguentasse. Naquele tempo se dizia: Trabalhar por conta própria, hoje é Integrante do mercado informal. Todo trabalho é digno, e não fazia vergonha gritar pra vender, diferentemente de hoje, que para vender é preciso ter público alvo, logística e custo benefício. O trabalho hoje exige uma formatação, uma didática. Milhares de brasileiros se contentam com empregos mesquinhos, parcos salários e condições de vida inferiores, porque levam uma existência por hábitos de negligência, inexatidão, impontualidade, tudo pela falta de vontade, Mas era bom naqueles anos no final da década de 1960 e em ênfase para os meninos travessos que, nasceram e cresceram na inesquecível Vila São José. Quem hoje chega lá, se lembra do último parágrafo do romance Iracema de José de Alencar: TUDO PASSA SOBRE A TERRA.

Texto: Assis Lima

Leia também:

Vila São José


Colaborador: Assis Lima

Ex-Ferroviário, Assis Lima é radialista e jornalista.
Idealizou e mantêm o Blog Tempos do rádio






Ilustrações:
casinhas: GooseFrol
Vendedor: S.Martinho
Pipoqueiro: PintarColorir

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Memórias de infância - O meu Jacarecanga

Meus irmãos e eu na nossa casa da Avenida Filomeno Gomes em 1987. Arquivo pessoal
As memórias de infância são aquelas doces recordações, de cheiros, de sabores e de lugares que nunca saem de nós, do que somos e do que fomos um dia...

Por já ter morado no  Jacarecanga e lá ter vivido os melhores momentos de minha meninice, muitas vezes me pego lembrando da minha época de inocência, época de andar descalça pela Avenida Filomeno Gomes, de tomar banho de chuva na pracinha do Liceu...


Meu irmão. Arquivo pessoal
Muitos moradores e ex-moradores, ou lembram-se da história do bairro ou ainda tentam salvar os resquícios dela, fazendo um verdadeiro mergulho no passado do bairro e da sua gente. Quem está apenas de passagem, precisa tentar ver, ao invés de apenas olhar. Só assim, prestando atenção nos detalhes, é que a vista alcança traços do passado elegante, quando o lugar era ocupado pela aristocracia cearense. Em outros tempos, o Jacarecanga abrigou palacetes e chácaras das famílias abastadas de Fortaleza. Os casarões eram erguidos em imitação às tendências arquitetônicas da França. Alguns desses imóveis foram restaurados, mas a maior parte deles, no entanto, encontram-se abandonados ou sobrevivendo à míngua. Isso sem esquecer dos inúmeros bangalôs que foram demolidos, verdadeiras joias que não tiveram seu valor reconhecido e ficaram apenas na memória de alguns, como uma foto que vai amarelando num álbum ou no fundo de um velho baú...


Meu pai e meu irmão em 1987 em frente a pracinha do Liceu. Arquivo pessoal
Tentarei descortinar para vocês, o MEU Jacarecanga, minhas memórias de menina e aquelas "memórias" que me apodero como se minhas fossem, mas são de apenas ouvir falar... Fecho os olhos e como se estivesse debruçada na janela da saudade, chego a sentir o frescor das abundantes e límpidas águas do rio que banha o bairro. Logo mais à frente, observo assustada a chegada avassaladora da urbanização, que modificou toda a paisagem, mas que também trouxe o progresso. Progresso esse que pelas mãos de um visionário*, muitos tiveram a oportunidade de trabalho e um lar para chamar de seu! 


Minha casa na Filomeno Gomes nº 50.
Minha irmã, eu e o meu irmão em 1984.
Pensar no MEU Jacarecanga é fechar os olhos e conseguir ver a pracinha do Liceu do jeitinho que ela era em meados dos anos 80, palco das minhas inúmeras quedas de bicicleta, várias vezes observadas pelo imponente Gustavo Barroso, que parecia me repreender sempre que chegava muito perto, visto que vários espinhos rodeavam seu monumento.
É lembrar as inúmeras castanholas que nós comíamos do chão mesmo, até dar dor de barriga. rsrs
A Praça do Liceu sempre teve muitas árvores e eu brinquei muito de casinha embaixo das suas copas frondosas.

Quando chegamos ao bairro, vindos da Água Fria, eu tinha uns quatro anos e meio. Assim que tive idade, minha mãe me matriculou no saudoso Colégio Juvenal Galeno. Fiquei lá do jardim de infância até a segunda série. 
Engraçado que quando eu era criança, o dia só amanhecia depois da sirene dos bombeiros, era o meu despertador diário e eu ficava deitada até ouvir que era hora de levantar pra vida! :D rsrs


Tristeza - O casarão sendo demolido nos anos 80. Arquivo Nirez
Feirinha da Praça do Liceu nos anos 80.
No bairro, sempre moramos na Avenida Filomeno Gomes, bem em frente à Praça Gustavo Barroso, vizinho ao Casarão de Meton Gadelha. Quando chovia muito, a Avenida alagava, virava uma piscina e a meninada aproveitava, a gente disputava a avenida com os carros que passavam jogando muita água nas calçadas, era uma farra!
Por falar no casarão, era o meu lugar preferido na hora das brincadeiras. No enorme quintal da casa de Meton de Alencar Gadelha, era onde meus irmãos e eu brincávamos de caça ao tesouro. Lá, além do “meu mundo verde” lotado de árvores frutíferas, também existia uma grande quadra de futebol de salão, que eu soube anos mais tarde, que havia sido construída pelo dono da firma Cisa (Caju Industrial S/A), quando esta funcionou no casarão. Tenho tantas lembranças daquele lugar que não consigo aceitar até hoje sua demolição. :(


Meus primos. 
O casarão foi construído para servir de residência ao empresário Meton de Alencar Gadelha, que era dono da Tipografia Gadelha e mantinha o Jornal do Comércio. O responsável pela construção foi o engenheiro Alberto Sá. A casa ficou pronta e foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 1930.
Em 04 de setembro de 1945, Meton Gadelha vendeu a casa para o seu sócio José Vidal da Silva. E de 1977 até 1979, funcionou no casarão o escritório da CISA. Depois disso, a casa ficou abandonada. 
Quando fomos morar no bairro, ela já se encontrava em estado de abandono e ficou um bom tempo assim, até ser invadida por uma família de índios. Ainda bem que eles ficaram pouco tempo na casa, o que foi muito bom, pois com a presença deles, não tínhamos coragem de pular seu muro e ir brincar no quintal.


Reinauguração da Praça do Liceu após grande reforma na
década de 90.
Teve um tempo que passaram a realizar quadrilhas na quadra do casarão e era muito divertido, ficava lotado. Até os moradores do Ed. Jataí desciam pra assistir de perto toda aquela alegria junina!
Pela proximidade com o riacho Jacarecanga, o terreno era propício ao nascimento de diversas frutas e ao pé do muro, era normal encontrar pequenos abacaxis ou suculentos tomatinhos.

Em um fatídico dia do ano de 1985, a casa foi demolida. Ela havia sido vendida a uma grande construtora. Infelizmente, não demoliram só a casa, junto com ela, demoliram as lembranças de uma época, de um tempo feliz... O casarão já não era de Meton Gadelha, era nosso, era furtivamente nosso, era patrimônio do Jacarecanga!

Depois volto e conto um pouco mais sobre o MEU Jacarecanga. :)
E você, quais lembranças tem do seu bairro?


"Pedro Philomeno, Homem visionário, apesar de rígido com seus subalternos, construiu a Fábrica Gomes & Cia Ltda em concomitância com a Vila operária. A Usina São José na parte alta e a Vila na baixa, cujas conclusões datam de 1926. Agora, convém salientar de que originalmente a Vilazinha não era essa que lá está.
A Vila São José primitivamente era umas casas formando um L, ou seja, as Ruas Maria Estela e Isabel. Ficou muita vegetação nativa, com uma arborização impressionante. O lençol freático era cristalino e tinha um chafariz (o primeiro) onde em 1963 seu térreo se transformou no Bar do Seu Teles. Tão bom era o liquido, que recebeu o batismo de “Poço de São Jacó. Assis Lima

Bom, mas isso é assunto para outra postagem! ;)



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O dia que a ponte desabou!




A parte marcada (em laranja) na imagem foi o tamanho da cratera. Assis Lima

"Estávamos numa manhã chuvosa, naquele abril de 1967. Os ônibus do Oscar Pedreira dentro da Vila São José havia mudado sua rota; todos os veículos estavam adentrando pela Rua Dona Maroquinha, no sentido inverso fazendo ponto final, justamente na Rua Júlio Cesar e Leda por onde os coletivos entravam. Os operários da Fábrica São José, desviaram seu trajeto tornando periculosa a passagem transitando por entre os trilhos da Via Férrea, único recurso para chegar ao trabalho. Isso desorientou de certa forma os moradores e com a publicidade veio à tona: A ponte que nós havíamos batizado nº3 sobre o Riacho Jacarecanga (foto ao lado), com as fortes chuvas que havia trasbordado pelos bueiros levou o aterro com pedras toscas, ficando uma cratera em plena via pública (a Ponte nº 1 era na Francisco Sá e a nº2 na Rua São Paulo (Monsenhor Dantas).


O Coronel Philomeno havia determinado (em plena ditadura Vargas) com o Padre Pio, então pároco dos Navegantes, a que todas as procissões de 4 de outubro dedicadas a São Francisco, passassem pela ruas de sua vila operária. Mas, numa festividade religiosa deste porte, vem gente de todos os bairros periféricos. Nesse dia do desabamento da ponte, o mar de cabeças humanas fora só com moradores da vila.

A ponte ainda em madeira.

A construção em concreto.

Nossa comunidade virou cidade fantasma. Só teve uma vítima fatal:“o feroz” um cão, animal de estimação do Seu Ernesto e Dona Ivanilde. A correnteza levou o bichinho. O pranto foi intenso. O Corpo de Bombeiros Sapadores, depois só Corpo de Bombeiros (Sapadores é que não se admite voluntários) foi acionado fazendo um cordão de isolamento, evitando mais desmoronamento e dando mais segurança aos curiosos que para lá se dirigiam. Ninguém ousava se aproximar do limite de segurança, haja vista ser forte o fluxo de água, levando o que encontrasse pelo caminho. As águas delineavam o curso por o descontrole, passando sob a ponte ferroviária, passando ao lado do campo de futebol da Escola de Aprendizes Marinheiros, ornamentava ao noroeste da Marinha um matagal para exercícios militares, indo desaguar no chamado pela pirambuzada de “Corrente”, ao lado da casa de praia da ilustre família Moraes Correia. A ponte caiu, ocasionando três dias de interrupção. Os bombeiros só liberaram para reconstrução, quando as chuvas amenizaram. O empresário Oscar Pedreira e o Cel. Philomeno foram parceiros de Murilo Borges, Prefeito de Fortaleza à época, e a evidência se deixa falar. Se algum dia esse local foi bem visitado, foi nessa circunstância. Feito a amarração com ferro e cimento, foi colocado areia e barro que fora amassado com aquelas máquinas, tipo rolo usadas em pavimentação asfáltica. Como o cheiro estava insuportável, a meninada começou a fazer miniaturas daquelas máquinas com latas de leite e areia, apelidando-as de “Rola Bosta”. Bem, após a nivelação de areia, colocaram pedras toscas. O trânsito normalizou e os transeuntes voltaram a palmilhação. O local ficou conhecido como Baixo da Ponte, devido aos dois níveis: Carros e Trens. Foi o maior acontecimento ocorrido na Vila São José que mexeu com o trânsito, percurso à pé das pessoas, trens passando com velocidade reduzida, ocupação do Corpo de Bombeiros e a presença do Poder Público."

 Assis Lima
(Radialista/jornalista)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A padaria do Português Augusto Pinho




Imagem meramente ilustrativa

Na calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles) no finalzinho da Rua Dona Maroquinha (Vila São José), ficava uma montanha de lenhas que era para alimentação térmica, dos fornos da PANIFICADORA POPULAR, cujos serviços iam noite adentro. No lado Sul do prédio com dois andares e de 50 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada com cimento armado. Designavam-se essas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes que iam serem carregados com pães novinhos e crocantes. Naquela época o pão bengala era a semolina. Tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada. Os clientes eram mercearias como ainda posso me lembrar: bodega do Edmilson, do Luís Carvalho (Na Avenida Tenente Lisboa), Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do Mercadinho da Via Férrea e seu Ozanan; saía também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai eu querem escrever outra coisa... O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog.

Na fachada amarela, era onde ficava a Padaria.

Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde. As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961. Eu fui um, dos que carregaram caixotes na cabeça com um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro era o PinheiroCabeça Branca” e o Nogueira Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Eu infanto-juvenil, magro, com aparente subnutrição nunca saía sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida. Papai nunca soube dessa. Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de Bacana. Lá dentro com uma mão na massa e outra na lenha tínhamos: O Riba, O Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Eu era o Pirulito Americano. Foi o Nazareno “Pai da Mata” que me rotulou e pegou! Ê, molecagem. Intenso era o movimento na calçada da fábrica do português, e uma chaminé bufando fumaça preta poluía a Avenidinha Sul e, inquietava às vezes os animais ali amarrados. A espera era pouca. A noite na calçada quando livre, era parte de nosso lazer. Era a brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.


Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia, muitas vezes, Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento. Aos sábados pela tardinha, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para a garotada, preparando-os para a primeira comunhão, cujo evento ocorrera na Igreja dos Navegantes, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor em 1967. O Frei Memória havia feito a confissão, no Grupo Escolar Sales Campos com o aval do Monsenhor Hélio Campos. Desse modo escrevo com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos. Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins. Matou o lugar. Seu Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou. Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável, passou a ser um fracionado monstrengo com uma adaptação não planejada para residências. Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde nossas brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Dr Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ficam apenas com os que cultuam o passado. Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


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Memórias de menino - O descanso da Vila


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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Hidráulica da Vila São José


Foto de uma das caixas d’água da Rua Leda e lá atrás a do Seu Telles. 

"Água é vida!
E por ser um termo tão usado parece ficar redundante. Estudos revelam que a doença hídrica não é pela água em si, mas devido o mau uso ou conservação. Existe o institucional que é voltado para recursos hídricos: Funceme, Cogerh, Cagece e os Institutos de análises, além de setores de pesquisas de Universidades e/ou Faculdades. Às vezes por faltar estudo técnico, certos projetos de edifícios, bem como conjuntos habitacionais sacrificam a Companhia fornecedora de água, porque se faz necessário a mesma atender as novas demandas. Na minha Vila São José, o recurso hídrico só foi importado a partir de 1963, quando o Coronel Philomeno autorizou as vias de pedras toscas serem escavadas pelo Saagec (Serviço de Água e Esgoto do Estado do Ceará). Era chegada a famosa água do Acarape. Chafarizes com cacimbões ao lado ou abaixo da base forneciam água para a Vila Operária.
O primeiro construído foi na Rua Maria Estela, primeira rua também construída em 1926. Recebia o líquido precioso da Fábrica São José, proveniente de um poço profundo defronte a Estamparia de acabamento das toalhas. A tubulação de 100 mm transpassava o Rio Jacarecanga. Era sustentado por duas bases de cimento armado. Depois na entrada da Vila, pelo lado Sul fim da Rua Dona Maroquinha, esquina com a Rua Maria Isabel, a segunda caixa d’água. Era um reservatório de 50 mil litros, com altura de 20 metros. Tinha um espaço retangular onde tinha duas casas arredondadas parecendo duas ocas, de cor cinza, erguida com tijolos batidos e cobertas com telhas do Maracanaú. Uma dessas casas era acompanhando a base do reservatório que deveria abastecer as residências por gravidade. A outra era conhecida como Casinha da Bomba. Tinha a bomba hidráulica impulsionada por um motor de 10 cavalos, alimentado com 380 Volts puxados por uma correia de 1,5 metros. A chave elétrica era do tipo faca com fusíveis de cartucho ambos fabricados pela Westinghouse - USA.
O bombeiro era o Antônio e o eletricista seu Mozart. O Telles que herdaria aquele pedaço para fazer um bar, era o fiscal do Coronel proprietário. Segundo meu pai Valdemar, essa primeira etapa funcionou até 1966, porém, houve um aditivo para atender as construções da segunda etapa da Vila São José em 1946, onde meu genitor foi servente de pedreiro (Tenho sempre a honra de dizer que meu pai, matuto vindo de Jucás, analfabeto, começou na Capital assim e depois foi galvanizando elevados e quando faleceu em 9 de abril de 1984, já estava aposentado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, como administrador em Nível Superior).

O primeiro reservatório dessa segunda fase foi na Avenidinha, pelo Norte ao lado da Via Férrea de Baturité da RVC. O cacimbão localizava-se à sombra de uma das castanholeiras, que eram em numero de duas. Essas sexagenárias árvores lá ainda estão, menos a caixa d’água e a cacimba em forma de disco voador. Na construção já mencionada e lá se foi 70 anos, tinha na Rua Leda dois reservatórios. Não os alcancei funcionando, mas cheguei a ver todas as instalações com canos vencidos pela corrosão e válvulas brecadas pelo desuso. Os motores já haviam sido retirados restando a base abandonada com parafusos ereto e ranhuras avariadas. O poço na casa do Chico sete cão na outra Avenidinha sentido Sul, não sei se era público, mas lá tinha um portão para a rua. Essa não me lembrei de perguntar ao meu velho. Pessoas inteligentes criam oportunidades. Tomando conhecimento dessa demanda reprimida, um empresário cujo nome não me ocorre, começou a vender água em carros pipa vinda de um poço profundo do bairro Floresta. Os baldes de zinco com capacidade para dez litros custavam Crn$ 0,50 (cinquenta centavos do cruzeiro novo) moeda que circulou tão logo fora criado o Banco Central do Brasil no Governo Castelo Branco.

Os caminhões GMC funcionavam à base de manivela. Ah, Já ia me esquecendo, as carroças do Mestre Carlos, que por apelidar seus animais, tornou-se também tipo popular na Vila São José. A carroça Pombo Roxo era tracionada pela Margarida (burra branca); a Pombo Cardo era com a Rosinha (burra avermelhada) e tinha o cavalo Gaspar que morreu.
Garoto ainda travesso, ajudei o Mestre Carlos nessas entregas. Sob a forma de Empresa de Economia Mista, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece foi criada através da Lei 9.499, de 20 de julho de 1971, e absorveu o Saagec, bem como todas essas peripécias com água. Tudo desapareceu. Cesar Cal’s e Vicente Fialho modernizaram esse sistema em todo o Jacarecanga, ao qual por sua vez, Adauto Bezerra fez a parte de esgoto. Na Vila o homem dos esgotos era o Pedro velho, um protagonista comparado aos carregadores de Quimoas na Fortaleza antiga.
Quanto ao tratamento e atendimento de águas, nunca se ouviu falar em conta. Era uma cortesia do Coronel Philomeno aos seus operários. A Light/Conefor essas tinham e com péssimo atendimento, em um prédio histórico no Passeio Público. O Coronel tinha consciência da utilidade do líquido precioso, e dispensava de seus empregados. Água era o que não faltava. A vila só não foi mais ornamentada, culpa nossa que pisávamos na grama. A placa estava lá, mas servia de alvo para os travessos. Essa Vila do Jacarecanga pobre tem muitas histórias."

Assis Lima
(Radialista/jornalista)


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Os ônibus do Oscar Pedreira


Hoje se fala muito em Mobilidade Urbana, termo técnico gerado por simulação computacional em que, a engenharia de tráfego se apoia para resolver problemas de trânsito. Certos gestores até tira bônus perante condutores particulares e/ou coletivos, para lograrem êxito em suas pretensões políticas. Trabalhar na estética é melhor do que na infraestrutura, pois, esgoto não dá voto! 

Querem um exemplo histórico? 
Quem se lembra de alguma obra do Governo Adauto Bezerra? O que muitos vão dizer é que é o único Coronel vivo daquele trio do regime militar. Não, meus amigos! Os quatro anos na frente do Estado foi drenando Fortaleza, e jogando todas as manilhas no Interceptor Oceânico, e trazendo pedras da Monguba para fazer o espigão de retenção das águas oceânicas do meu Jacarecanga. Isso tem um custo tremendo, mas não dá voto. Observaram que em eleição direta para o Governo do Estado em 1986, ele foi derrotado por Tasso? Não estou como partidário e sim como observador político. Mas isso é outra história... 

Foto acima: Oscar Pedreira em destaque


 
Ao tempo do empresário Oscar Pedreira, ele tão bem servia as linhas de sua concessão adquirida na gestão de Álvaro Weyne (1928), que certos veículos saíam batendo da Vila São José para o Centro, mas ele jamais suprimiu algum horário por falta de passageiros. Tão logo construiu sua Vila Operária (1926), sua preocupação número um, foi o deslocamento dos moradores para o Centro da cidade. A garagem e escritório da Empresa Pedreira Ltda era próximo ao Liceu, na Avenida Francisco Sá ao lado de sua mansão que, em homenagem a Sra. Francisca Pedreira, sua esposa, denominou-se VILA QUINQUINHA, afinal na intimidade ele a chamava de Quinha, corruptela de Francisquinha. O galpão era alto. Lá os ônibus pernoitavam, passavam por revisão e abastecimento. A armação de sustentação do teto era de tesouras confeccionadas com madeiras de lei. Existia uma bomba de combustível abastecida pela Atlantic, e dois mecânicos habilitados para conduzirem carros grandes para a época. Faziam serviços de funilaria, elétricos, pinturas e quando a coisa era mais complicada, seu Oscar chamava técnicos da GMC e Chevrolet

O Posto Clipper da Avenida Francisco Sá, foi instalado em 1952 com a intervenção de Oscar Jataí Pedreira.

Falando em Atlantic, o povo do Jacarecanga deve ao Oscar Pedreira a instalação do Posto Clipper em 1951. O mesmo era na esquina da Avenida Francisco Sá com a Via Férrea. A Atlantic em 1993 foi absorvida pela Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga

Os primeiros combustíveis chegados ao Ceará remota de 1909, mas os vapores que aqui fundeavam no Poço das Dragas e Barra do Ceará, traziam em invólucros tipo tanquinhos derivados de petróleo. Era uma tensão muito grande do Capitão e, dos moços de convés em trazer essa carga. Oscar pedreira era um importador para abastecimento de seus coletivos. A partir de 1950, foi que se estabeleceu no Mucuripe a Shell Mix primeira distribuidora do ramo. Como apelido era o predominante na Vila São José e eu me lembro de já ter escrito sobre isso, nem os ônibus escaparam de nossa molecagem. Existiam na empresa sete veículos com motores pra fora: O número 1 era o do João Pilão (careca com cabeça de pilão), recebeu batismo nosso. Veiculo de marca GMC, só tinha uma entrada e perto da manivela da abertura da porta, tinha o ficheiro. O cobrador ia de banco em banco, com as cédulas entre os dedos. Quem ia pagando recebia uma ficha. O número 2 era o Portiguinho, ou seja o vidro traseiro era duas janelinhas para visão do condutor, e era guiado por Pedro Alegria”. Ele era igual a geladeira de restaurante, só vivia se abrindo. Nós íamos ao Centro de graça. O número 3 fazia a linha Brasil Oiticica indo ao Carlito Pamplona. Este fazia ponto final na Rua Frei Teobaldo, defronte ao comércio 4444 na esquina da Avenida Francisco Sá (nunca se soube quem era o condutor). O número 4, por seu comprimento, cara de jacaré, recebeu o nome de Pajelão, e o motorista era o Araújo Bigode de Nós Todos. Faleceu subitamente em 1968, e aí, em respeito, passou a ser Seu Araújo. O número 5 era um semelhante ao de hoje, com porta no meio, e sem cobrador. O condutor era Seu José, o Zezinho afobado, só andava adiantado. O número 6 era chamado oDifícil e só fazia a linha do Carlito Pamplona. Vez por outra entrava na Linha Jacarecanga indo a Vila São José. Motorista: Bigodinho Fresquim. Parecia com Dom Diego do seriado Zorro com Guy Willians. O número 7 era carro reserva, e fazia conforme a necessidade as duas linhas. Então em súmula a distribuição era assim: quatro carros faziam a linha do Jacarecanga, dois para o Carlito Pamplona e um reserva. 
Aí fica uma indagação: Por que o Carlito Pamplona, mesmo sendo mais longe, tinha veículos de menos? A justificativa era que o bairro era assistido por outras empresas. Era concorrido pelas linhas Barra do Ceará, Jardim Iracema, Floresta, Coelho Fonseca e Jardim Petrópolis (cidade do Petróleo, o petróleo chagava por ali), hoje é Goiabeiras

A Brasil Oiticica 

Os ônibus do Pedreira tem histórias!
Essa é apenas uma, conte a sua!
O terminal do Centro, segundo meu pai, era no Abrigo Central, indo em seguida para a Praça Jose de Alencar em 1965. 

Atenção: Quem tem seu papai, pergunte as coisas, não espere o arquivo se queimar!
Com o crescimento oeste, e abertura de avenidas, Jacarecanga foi ficando saturado com as linhas mais diversas. Por conta disso, desapareceram as linhas do Jacarecanga e Navegantes (Braga Torres); em seguida Carlito Pamplona. Em 1973 a frota foi renovada com carros de motor interno de carroceria Grassi, mas não deu mais para acompanhar. Oscar Jataí Pedreira morre em 1977. A viúva foi "Aldeotizar" com os filhos... Os carros foram vendidos juntamente com a Vila Quinquinha. Em seu local é erguido um majestoso edifício, e nunca mais circulou ônibus pela Vila São José

Agora vem o nostálgico: As lembranças daqueles onibuzinhos verdes, os motoristas já nos deixaram, e nada se compara a velocidade de nossa mente, quando retorna ao passado. Pena que não volta!

Assis Lima
(Jornalista/Radialista) 




sábado, 3 de dezembro de 2016

Memórias de menino - O descanso da Vila


Inicio da então rua José Bastos, avenida onde fica a Escola Sales Campos.

Era tardinha. 
Chegávamos do Grupo Escolar Sales Campos* e ao atravessarmos a linha férrea de Sobral, podíamos ver por detrás da firma Machado Araújo a frouxa e amarelada luz do astro rei, espalhando seus últimos raios, se despedindo do dia que nos deu. (Graças a Deus!). Na Vila São José era uníssono nos aparelhos receptores de rádio, o som da banda de Oswaldo Borba na execução do frevo 'Aguenta o Cordão' de Livino Ferreira, que havia sido gravada para o carnaval de 1960. Era Wilson Machado no microfone da Pre-9 se despedindo no programa Disque M para a Música.

Outro ângulo da José Bastos. Esse cidadão na foto é o François (Françoá), tipo popular do bairro pelo "Famoso Caldo do Françoá. Ele dizia: "Venha tomar do meu caldo que é que nem raiz de benjamim, levanta até calçamento". Entre seus clientes, estava o saudoso radialista Jurandi Mitoso.


Vemos o Muro da Extinta Firma Machado Araújo e o Centro de Saúde Carlos Ribeiro.
  
Em seguida viria Ulisses Silva, também já falecido, com o Alô Sertão com a voz caricaturada do Coronel Ludgero. O dia enegreceu. Após trocado de roupa, abandono de material escolar e tomada de café Baturité com tapioca... Rua, para brincar. Não precisa estudar medicina para compreender que quando o corpo está em movimento, a mente fica em repouso. Só bastava o primeiro demonstrar prontidão e a meninada já estava reunida. A lua aos poucos fazia um lindo desenho, saindo em forma de grande bola de prata por detrás dos galpões da Fábrica São José, gerando um espetáculo quando a chaminé da usina fazia uma linha preta no calçamento na rua Central da Vila, a rua Coronel Philomeno. Tinha o pula pula imaginário naquela sombra, por a companheira das noites que brinca com as estrelas ali fazia, enquanto ali ficava. Eram poucos os aparelhos de televisão para sintonizarem a TV Ceará Canal 2 dos Diários Associados, fazendo com que tivessem mais gente nas calçadas. E tome a vida alheia!!! Os portes de madeira de lei carregavam a fiação da Conefor (Coelce-ENEL) e, a cada esquina uma arandela triste com lâmpadas incandescente de pouca potência. As bodegas do seu João Lima Passos, do Assis do Gás e seu Dioclécio fechavam as 20h, ficando em funcionamento modo industrial a padaria do Seu Augusto Português

Curva da Vila São José

Os padeiros entravam de noite à dentro, porque uma rural Willys partia às 4 hs para abastecer a Padaria Triunfo, que ficava baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro de Fortaleza. Nas avenidinhas (Praças da Vila) tinha o trinta e um na manja; passarinho ninho cobra no buraco; mamão pobre mamão maduro; Eu sou pobre demavé mavé; Barra Bandeira etc...Aos perdedores um tremendo sabacu. O que era interessante é que ninguém se intrigava por essa punição. Isso fazia parte do ritual travesso. Minha mãe com os ouvidos aguçados nas Radionovelas através de um Semp valvulado tipo Cara de Gato, e meu pai no programa do Themístocles de Castro e Silva "Quando a Saudade Apertar" num radinho a pilha cochilando sob a fresca da noite na calçada. Ele não gostava de dividir sua audição com conversas paralelas, até porque naquela época os programas de rádio tinha conteúdo. Hoje eu tenho vergonha até de dizer que sou radialista. - Meu Deus! Dez da noite. Papai só bastava se perfilar na Praça e negro chega batia os pés na bunda na carreira pra casa. Tomávamos banho e aí era que íamos para o jantar. Talvez minha mãe queria até se deitar, mas não podia porque ainda tinha sua última tarefa (como se fosse poucas as do dia), em nos alimentar. Não tínhamos ideia deste sacrifício dado aos nossos pais. 
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Sentido inverso

Vila São José

Sabe amigos, só com o passar do tempo é que percebemos que a vida é uma colheita. Nossos filhos hoje muitas vezes nos desobedecem, e aí nos lembramos de que isso é uma dívida que a infância deixou em aberto. Bom todos em casa e já as redes armadas! Ainda íamos contar histórias/estórias até as onze e aos poucos adormecíamos. Era assim que a Vila São José dormia. Tamanho era o silêncio que ouvíamos alguns vizinhos mais corujão ainda ouvindo a musica Acalanto de Dorival Caymmi, que era o sufixo da TV Ceará no fechamento e mais: quando a maré estava cheia se ouvia o Marulho das Vagas na Praia do Pirambu. Por baixo da porta de entrada de nossa casa, um clarão como se fosse um relâmpago em noite chuvosa. Não e não. Era a lua já bem alto no Céu, emitindo sua claridade para não deixar nossa rua na solidão.

Assis Lima
(Radialista/jornalista)

Gif

*Inaugurada em 17 de fevereiro de 1952, com o nome de Escolas Reunidas Sales Campos, no governo do Dr. Raul Barbosa, sendo Secretário de Educação o Dr. Waldemar Alcântara. Funcionava na rua São Serafim, S/N, no Bairro Nossa Senhora das Graças (Grande Pirambu).


Em data de 6 de novembro de 1954, por ato do então Governador do Estado, Dr. Stênio Gomes da Silva a Escola foi elevada à categoria de GRUPO ESCOLAR e passou a funcionar na rua Jacinto de Matos, 730, atualmente Av. José BastosJacarecanga.

A Escola hoje, conta com um total de 512 alunos, distribuídos em dois turnos: manhã e tarde com o ensino fundamental e médio. São 28 professores, 12 funcionários (agentes administrativos, auxiliares administrativos e pessoal de serviço); e um Núcleo Gestor composto de uma Diretora, duas Coordenações e uma Secretária.

Seu espaço físico na época era pequeno e contava apenas com 8 salas de aula, Sala da Direção, Secretaria, cozinha e banheiros masculinos e femininos.
Hoje, são 10 salas de aula, Sala da Diretora , Sala da Coordenação,1 Centro de Multimeios, Sala dos Professores, Secretaria, banheiro dos professores e funcionários, banheiro dos alunos, Almoxarifado, Banco de Livro, Depósito de material, Depósito da Merenda, Cozinha, dois pátios, Sala do Grêmio e Laboratórios de Ciências e de Informática.



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