Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Vila Azul
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vilas em Fortaleza



A Vila Diogo - Arquivo Zé Tarcísio

As vilas ainda fazem parte da paisagem urbana da cidade. Localizadas em zonas próximas ao Centro ou na periferia, os seus moradores ainda conservam hábitos que trouxeram da vida rural, como por exemplo: a solidariedade. Outra demonstração da vida pacata de outrora nestes locais, é o hábito dos vizinhos se sentarem nas calçadas, todos os finais de tarde.

A urbanização acelerada transformou não apenas a paisagem das cidades, mas também as relações interpessoais. Nas vilas, independente de onde estejam localizadas, as pessoas se sentem mais próximas umas das outras. E essa proximidade diminui a sensação de insegurança. “Atualmente, a gente só fica na calçada até às 8h (20h)”, afirma Raimunda Silva de Holanda, 80, moradora da Vila Azul, localizada na esquina da Rua Padre Mororó. E justifica: “Hoje, não se pode mais confiar em ninguém”.

Casinha na Vila Diogo - Arquivo Zé Tarcísio

O medo da violência, como relata uma das moradoras mais antigas da Vila Diogo, localizada entre a Avenida do Imperador e a Rua Princesa Izabel, vem interferindo na estética dessas construções. “Antes, a gente só fechava a metade da porta, atualmente, só vai com o cadeado”, admite Sônia Alves, 62, natural de Camocim, há 39 anos moradora da Vila Diogo.

Apesar da modernidade, as vilas ainda guardam um pouco do bucolismo de outros tempos, quando as casas não precisavam de grades e nem de cadeados. O crescimento das famílias fez com que algumas ganhassem um segundo pavimento, como é possível observar na Vila Diogo.

 A Vila Diogo e suas duas saídas, uma para a rua Pedro I e a outra para a Duque de Caxias onde morou o artista José Tarcísio Ramos.

Estes espaços conservam características especiais como o contato com a vizinhança. “Se há uma necessidade a gente sabe que pode contar com o vizinho, garante Sônia Alves, que lamenta ter trocado a meia porta pela grade e o cadeado. No entanto, a falta de segurança não é suficiente para acabar com o hábito que sua mãe conserva até hoje, aos 90 anos: sentar na calçada, todos os dias, no fim da tarde. A gente faz isso diariamente, a partir das 4 horas (16h).

A moradora da Vila Diogo confessa ter saudade do que ela chama de “outras épocas”. Conta que era uma tranquilidade a morada no local, reclamando que os costumes estão sendo alterados. “Antes, todo mundo ficava na calçada até tarde, o que não é mais possível”. A vida era menos corrida, daí as pessoas terem mais tempo para uma conversa mais demorada no início da noite.

Vila Diogo

Durante a semana, assegura que a vila tem mais vida porque há movimentação de carros e pessoas. Agora, aos domingos, a situação muda. “É muito esquisito”, diz Sônia Alves. No geral, avalia a convivência como calma. “De vez em quando aparece um gaiato para mexer no cadeado”, ressalta. Para completar a segurança, a moradora cria uma cadela. “Ela é pequena, mas é esperta”, brinca.

Para alguns moradores, a convivência com a vizinhança é indiferente. São pessoas que chegaram recentemente, portanto desconhecem os antigos laços de amizade que une os antigos moradores da Vila Diogo. “Moro aqui desde 2000 e para mim não há tanta liberdade assim”, admite João Ramalde, 67 anos, aposentado. “A porta tem que está sempre fechada, não pode relaxar”.

Vila Diogo

Algumas vilas sofreram bastante alterações como é o caso da Vila Romero. Ela fica localizada no final da Rua Governador Sampaio, próxima ao riacho Pajeú. A maioria das casas foi remodelada e pouco resta da antiga vila. 

Industrialização provocou mudanças

A urbanização, fenômeno que ganhou impulso no Brasil, sobretudo no século XX, a partir da industrialização, contribuiu para profundas transformações na vida socioeconômica e cultural da população. A mudança da população do campo para a cidade foi uma delas, favorecendo o surgimento de pequenas vilas operárias nas proximidades das fábricas instaladas.

Na Vila Azul, os moradores mantêm o costume de se sentar na calçada, todas as tardes e noite. Foto Diário do Nordeste

Em Fortaleza, a exemplo do resto do País, não aconteceu diferente. A Avenida Francisco Sá é um exemplo e ainda hoje conserva várias dessas construções do início do século passado.

Formadas por pequenas casas, algumas são famosas como as vilas Diogo, Azul e Romero, localizadas no Centro da Capital cearense. Este é o caso da Vila Azul, que fica na esquina da Rua Padre Mororó com a Rua Pedro I. O local é enaltecido por seus antigos moradores por ficar próximo “de tudo”.

O “tudo” inclui o comércio central e o Mercado São Sebastião. “A vila fica no Centro. Mas não precisamos ir ao comércio de lá”, explica Maria Helena de Almeida, 50, há 60 anos mora no local. “A gente compra tudo no São Sebastião”.

A Vila Azul

A Vila Azul é formada por sete casas, esteticamente diferentes, uma vez que as construções sofreram interferência dos moradores. Algumas das construções foram revestidas, outras, conservam a pintura.

Francisco César Simão, 70, natural de Quixadá, cidade do Sertão Central, há 50 anos mora na primeira casa da vila, herança de família. Conta que a vila era totalmente desprovida de infra-estrutura.

“Agora, só falta o asfalto”, enumerando o que já foi conseguido. “Temos água e esgoto”, diz, afirmando que quando chegou só tinha energia.

Vila Azul - Infelizmente esse caminhão atrapalhou tudo!

O aposentado conta que a vida na vila é tranquila, por isso não tem medo de se sentar na calçada. “A gente só não se arrisca ficar até tarde”.

Sentimento semelhante tem a aposentada Márcia Benevides Soares, 78, há quase 40 anos residente na vila. Ela lembra que chegou ao local acompanhada pelo marido, já falecido e por cinco filhos.

“Eu sou feliz por morar num lugar tão tranquilo e seguro, afirma a aposentada.

Iracema Sales

Crédito: Diário do Nordeste

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