Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Bom Jardim
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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domingo, 10 de junho de 2018

O Bom Jardim de José Mapurunga - Parte II


Na década de 50, com a expansão demográfica da cidade, Fortaleza ganhava a avenida Perimetral, obra do prefeito Cordeiro Neto, que hoje, em seu trajeto, tem várias denominações e margeia o Bom Jardim na altura do Posto Carioca. Cortando matas que iam do Mucuripe a Barra do Ceará, passando por Messejana, Mondubim, Siqueira e Barro Vermelho (atual Antônio Bezerra), a Perimetral, hoje indispensável, era duramente criticada por políticos e jornalistas de oposição, como obra dispendiosa e sem nenhuma utilidade. Estes a denominavam avenida das onças.

Nesse período, deu-se a compra acelerada de sítios e fazendas existentes nas áreas ainda rurais de Fortaleza, tendo em vista a instalação de loteamentos que atendessem a enorme demanda por moradias. Um estudo de caso do sociólogo Francisco Giovani Pimentel Moreira, focando o capital imobiliário e a produção urbana em Fortaleza entre 1950 e 1970, mostra que no período em foco três grandes imobiliárias praticamente monopolizavam o comércio de lotes nos arredores da cidade: A Imobiliária Waldir Diogo (Praia do Futuro), Grupo Empresarial Patriolino Ribeiro (atual Dionísio Torres e Água Fria) e o grupo comandado por João Gentil (Região do Grande Bom Jardim).

O trabalho de Giovani oferece informações sobre as compras de algumas propriedades que hoje compõem o território do Grande Bom Jardim, pela imobiliária comandada por João Gentil: a compra, em abril de 1957, da propriedade rural de aproximadamente 42 hectares, pertencente a Zeferino Oliveira de Araújo, que foi transformada no loteamento Parque Santo Amaro; a compra a Vicente Souza, em setembro de 1957, de propriedade rural de aproximadamente 08 hectares, que originou o loteamento São Vicente; a compra da Fazenda Bom Jardim, situada no distrito de Parangaba, com uma área de 250 hectares, adquirida do comerciante José Augusto Torres Portugal e transformada no loteamento Granja Portugal.


Na trajetória de seus investimentos imobiliários rumo ao sudoeste de Fortaleza, a imobiliária da família Gentil adquiriu, na segunda metade da década de 1940, os terrenos que deram origem ao loteamento que originou o bairro Pan Americano. Em seguida, em 1949, adquiriu o sítio de propriedade da família da escritora Rachel de Queiroz e implantou o loteamento Pici. Mais tarde, foi a vez do loteamento Bonsucesso. Mais ao sul do Bonsucesso, além das propriedades já citadas, outras foram adquiridas na década de 1950 e início da década de 1960, daí surgindo loteamentos com nomes comerciais, como Granja Bom Jardim, Parque Santa Cecília e Parque Santa Rosa. Tomamos conhecimento que, além de João Gentil, Ivan Carioca também loteou na área terrenos que integravam a fazenda de sua família que hoje compõem o território do Grande Bom Jardim.

Avenida João Pessoa
Para se chegar de carro do centro de Fortaleza ao novo loteamento havia basicamente um caminho: a avenida João Pessoa, conhecida como Avenida da Morte, devido aos acidentes letais que nela ocorriam, de número insignificante para os padrões de hoje. Chegando a Parangaba, que em tudo parecia uma povoação fora de Fortaleza, com suas casas do tempo do império, suas chácaras e sítios verdejantes, a estrada prosseguia no rumo de Maranguape. Na ponte que hoje referencia a entrada para o Bom Jardim, os provenientes de Fortaleza desciam e seguiam no rumo do poente, por um mundo fortemente dominado pelo verdor das matas. Talvez as mesmas matas nas quais o historiador Gustavo Barroso passou, em 1908, quando, a cavalo, vindo do centro de Fortaleza, dirigia-se à fazenda de uns parentes dele nas cabeceiras do Rio Ceará. Talvez os mesmos terrenos nos quais, no século XVII, havia uma fazenda de gados que, segundo a lenda, servia aos holandeses que exploravam as supostas minas de prata da serra de Maranguape.

Alma Sertaneja

Sobre os primeiros moradores do Bom Jardim, com base nas informações sobre a evolução demográfica de Fortaleza, podemos afirmar, com pouca possibilidade de erro, que eram sertanejos pobres que vieram para Fortaleza nos anos de 1950, uma década escassa de chuvas para as lavouras. Ou vieram diretamente do sertão para o loteamento ou tinham passado por outras periferias da cidade antes de adquirirem seus lotes. Eram, portanto, acostumados aos rigores de uma vida sem energia elétrica e água encanada. Chegavam para morar mais próximos das fábricas e de postos de trabalho inexistentes no sertão e que estavam relativamente perto do Bom Jardim, principalmente em Parangaba. Vinham, também, diretamente de sertões próximos e distantes, ou até mesmo de áreas rurais circunvizinhas, buscando um lugar no que adivinhavam ser futuramente parte da cidade. Tornavam-se, assim, quase pracianos, embora mantivessem a alma sertaneja ainda hoje latente na periferia de Fortaleza.

Em análise dos contratos de promessas de compra e venda dos loteamentos iniciais da área, feita por Francisco Giovani, a categoria ocupacional mais citada era a operária. Segundo o mesmo autor, a maioria dos que compraram terrenos tinha salário fixo, de modo que poderiam pagar as prestações do terreno. João Edmilson e Edgar, verdadeiramente podem ser incluídos entre os primeiros moradores do bairro.

Parte I

Fonte: Bom Jardim, José Mapurunga - Fortaleza: Secultfor, 2015 (Coleção Pajeú).

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O Bom Jardim de José Mapurunga



Pelo começo da década de 1960, por algum motivo que não me recordo, pus, pela primeira vez, os pés no Bom Jardim. Provavelmente fui com meu pai, que nessa época gostava de comprar lotes de terra nos bairros que iam surgindo em Fortaleza. Eu devia ter uns oito ou nove anos, e as lembranças me chegam hoje como se fossem fragmentos de um sonho recente. Lembro-me de uma casinha de taipa, de um dia ensolarado, e que fiquei exausto depois de uma longa caminhada de ida e volta através de um carnaubal que parecia não ter fim. Lembro-me que a aparência do local contrariou minha expectativa infantil, que era a de um imenso jardim repleto de flores. Depois, mais ou menos em 1969, voltei ao Bom Jardim pela segunda vez com alguns jovens secundaristas do movimento estudantil para uma reunião na casa de um militante residente na área. Dessa época, as mesmas lembranças esparsas de um ambiente rural, pontilhado de casinhas.
Nos anos seguintes, passava ao lado, na ponte sobre o rio Siqueira, quando ia com minha família ou com amigos tomar banho na Cascatinha ou na Pirapora, em Maranguape. Ao olhar à direita, vendo a curvinha que saía da estrada e adentrava na rua Oscar Araripe, eu sentia que ali era a entrada de um mundo especial, algo fora do espaço da cidade onde eu morava e fora dos parâmetros do interior conhecidos por mim.

No início da década de 1980, como assessor da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza em um projeto de alfabetização pelo método Paulo Freire, fui algumas vezes ao Bom Jardim. Aí tive oportunidade de visitar pessoas, caminhar pelas ruas, participar de reuniões e conversar com lideranças comunitárias. Entre estas, dona Débora, uma senhora então quase octogenária, que nas décadas de 1930 e 1940 tinha sido uma destacada e perseguida militante do Partido Comunista Brasileiro. Ela residia em uma casa ladeada por amplo terreno, mais ou menos próxima da pista para Maranguape, atual Osório de Paiva. Escancarando um sorriso sincero, dona Débora nos recebeu, hospitaleira, servindo-nos café e biscoitos em uma longa reunião que tivemos à sombra das árvores do seu aprazível quintal.
As lembranças mais recentes evocam dias de 2008, quando cheguei ao Bom Jardim com o intuito de obter informações para um texto sobre circos que fazem temporadas pela periferia de Fortaleza. Assim, tomei conhecimento que três desses circos naquele momento estavam na área. Visitei um deles. Era um belo exemplo de grupo circense de parcos recursos, constituído por três gerações de uma mesma família, todos multifuncionais, ora atuando como malabaristas, ora contracenando com o palhaço, e fora de cena vendendo roletes de cana aos expectadores. São grupos circenses cujas tralhas são puxadas pelos bairros por Opalas da década de 1970, de poderosos motores. Provavelmente um raro lazer para os moradores da periferia, ao preço de um real a entrada. A lona estava armada no alto de um descampado de onde se avistava serranias de Maranguape, tão próximas e, ao mesmo tempo, inacessíveis.

Sobre a origem do bairro, sabe-se que remonta aos anos de 1961 e 1962, quando um empreendimento imobiliário dividiu uma área rural em lotes. Só isso bastou para que os terrenos começassem a ser vendidos. Foi quando a vasta área foi cortada por largas ruas de barro, que eram tomadas pelo mato no inverno, quando não por crateras provocadas pelas enxurradas. Ou por poças que dificultavam o trânsito de pessoas e dos poucos carros que iam ao bairro. Eram ruas abertas pela prefeitura, pois, conforme a legislação urbana da época, essa tarefa não cabia à imobiliária. Entre o loteamento e as áreas urbanas mais próximas, caso Parangaba, um mundo de matas pontilhados aqui e acolá por casas de sítios ou de fazendas.
Fortaleza, à época, era uma cidade onde os arranha-céus existentes se contavam com os dedos e orgulhavam seus habitantes. A capital cearense era ainda uma cidade onde as lojas, armarinhos e magazines se concentravam no centro e, assim como as muitas bodegas existentes nos bairros, fechavam na hora do almoço. Bairros como Montese, Itaoca, Quitandinha, Parque Americano, Urubu (atual Carlito Pamplona) eram subúrbios imersos em dias que transcorriam iguais, embalados por uma melancólica amplificadora com um repertório de tristonhas canções de amor. Esses bairros, embora não muito afastados do coração da cidade, eram distantes quanto ao padrão urbano em relação ao centro e seus arredores. Era aí que se concentravam cinemas, teatros, escolas, serviços de saúde e companhias imobiliárias, como a que deu origem ao Bom Jardim. Hábito comum entre os moradores dos subúrbios e do centro era colocar cadeiras na calçada e falar bem ou mal da vida alheia.
Um dado interessante é que, pelo censo de 1960, Fortaleza possuía cerca de 500 mil habitantes. No censo de 1950, tinha cerca de 270 mil habitantes. Em dez anos, portanto, quase que dobrou sua população. Esse rápido crescimento demográfico foi empurrado pelos anos secos da década de 1950, o que levou um número significativo de sertanejos a correr para Fortaleza. Foi época de grandes empreendimentos imobiliários para alojar tanta gente vinda do interior. No Bairro de Fátima, avenida Bezerra de Menezes e na Aldeota lotes iam sendo vendidos aos mais ricos, então desiludidos com o interior e atraídos pelo que a cidade grande podia oferecer: universidade para os filhos (a UFC foi criada nesse tempo), clubes elegantes, cinemas luxuosos, além da aproximação física com o poder político. Já o enorme contingente de pobres mais pobres, movido pela necessidade de sobreviver, ia ocupando terrenos na Colônia, Floresta, Ububu, Casas Populares (atual Henrique Jorge), Pan Americano, Pici, Bonsucesso.

Aí está, portanto, o motivo do loteamento que deu origem ao bairro do Bom Jardim, que começou com um empreendimento imobiliário da família Frota Gentil, destinado aos sertanejos pobres que trocavam a agricultura pelo trabalho na indústria e em outras atividades urbanas. Gente que se transferia para Fortaleza na década de 1950 e gente que continuava a chegar às décadas seguintes.




Fonte: Bom Jardim, José Mapurunga - Fortaleza: Secultfor, 2015 (Coleção Pajeú).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Bairro Bom Jardim - Território da Paz



Hoje falarei sobre o bairro Bom Jardim. Situado ao sudoeste de Fortaleza, ele faz divisa com o bairro do Conjunto Ceará, Siqueira, Bom Sucesso e com o município de Caucaia. Conforme o Censo do IBGE de 2010, no bairro moram 204.281 mil habitantes, sendo considerado o mais populoso de Fortaleza.

O Grande Bom Jardim é formado pelos cinco bairros vizinhos: Siqueira, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Bom Jardim.


O Bom Jardim foi escolhido em 2009, pelo Ministério da Justiça, para se tornar um "TERRITÓRIO DA PAZ" através do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania). Muitas são as instituições que exercem trabalho dentro da comunidade dentre eles podem ser citadas: Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, o Centro Cultural do Bom Jardim, ABC, CRAS Bom JardimIGUC-Instituto de Grupos Unidos do Ceará e muitas outras.


Segundo os moradores mais antigos, foi no ano de 1961 que surgiram as primeiras famílias residentes no bairro. Até então o bairro era uma grande fazenda, na qual foi loteada pelo empresário João Gentil. A oferta tentadora de terrenos a preços baixos fez com que diversas famílias de bairros diferentes adquirissem lotes. A rua Oscar Araripe foi a primeira via aberta e hoje é o principal corredor do bairro.


No final da década de 70, o bairro começou a crescer de maneira desproporcional. Os terrenos ainda eram baratos, em relação aos demais bairros da capital. Com o crescimento desordenado, surgiram as primeiras favelas. Já no final dos anos 80, o bairro começava a sentir falta das ações do poder público. Poucas escolas, nenhum hospital, falta de saneamento e segurança precária fizeram com que a onda de violência tomasse conta de toda a área.


A partir do final dos anos 90, o bairro já figura nas páginas dos jornais como um dos mais violentos da capital, infelizmente! 

Ações governamentais são prometidas mas nenhum resultado concreto faz com que os índices de mortalidade de jovens diminua.


No Grande Bom Jardim, alguns projetos foram criados para ajudar a população a mudar essa triste realidade. Até dezembro de 2010, foram realizados os seguintes projetos: 

Mulheres da PazProtejo,Trilhos Urbanos,Dança para Vida,Música Tocando a Vida,Cultura Tradicional Popular (Maracatu Estrela Bela),Teatro Vivo,Capacidade de Jovens Mulheres...


Curiosidade:

Conforme os moradores mais antigos, o nome do bairro surgiu devido a um antigo bordel existente na Avenida Oscar Araripe.
As mulheres que lá "trabalhavam", eram tratadas pelos clientes como flores ou rosas. Lá, sem dúvida, aos olhos desses homens, era um bom jardim! rsrs O referido bordel se foi, mas o nome prevaleceu e ganhou força. 
Verdade ou Mito?

Fatos Históricos do Bairro:

*17/dezembro/1966 - Por iniciativa da Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará foi inaugurada a Escola Almirante Tamandaré, no bairro de Bom Jardim, com a presença do comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros - EAM e do Secretário de Educação do Município.

*05/março/1971 - Publicado no Diário Oficial do Município nº 4.618, o Decreto nº 3.654, de 25/02/1971, que cria a Escola de 1º Grau Sebastião de Abreu, tendo como primeira diretora a professora Liles Benevides, funcionando na Avenida Geraldo Barbosa nº 1065, no Bom Jardim.


*30/junho/1993 - Inaugura-se o Centro Integrado de Educação e Saúde Dom Antônio de Almeida Lustosa, na Rua A s/nº, no Conjunto Residencial Dom Lustosa.

*1994 - Criado o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza - CDVHS, primeira organização de controle social das políticas governamentais. 

*10/abril/2001 - Cai sobre Fortaleza, à noite, só terminando no dia seguinte, forte chuva acompanhada de ventos, acusando 124,2mm nos pluviômetros e na Zona Metropolitana da Grande Fortaleza, chegou a 103mm em Maranguape e 150mm em Pacajus.
O Açude Gavião sangrou com uma lâmina de 20cm, o que é considerado normal.
Em consequência, o saldo foi de quatro mortos, nove desaparecidos, avenidas e ruas interditadas, postes caídos, desmoronamentos, árvores caídas, linha férrea da zona sul interrompida por dez horas.
O Cemitério do Bom Jardim ficou inundado.



*12/agosto/2004 - O trapezista Railson de Castro Silva, de apenas 15 anos de idade, morre no momento em que fazia uma apresentação no Circo Garjany, no bairro Bom Jardim.
O garoto caiu na frente de uma platéia de cerca de 300 pessoas.
O local não tinha alvará de funcionamento, que é dado pela Prefeitura de Fortaleza, nem relatório de vistoria do Corpo de Bombeiros, que interditou o circo após a tragédia.
Créditos: Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel 
Ângelo de Azevedo, Wikipédia e Tribuna do Ceará.



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