Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : O caso Balalaika - Fortaleza 1942
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O caso Balalaika - Fortaleza 1942



Às 6 horas e 45 minutos da manhã do dia 04 de agosto de 1942, Fortaleza assistia perplexa a um impressionante  desastre aéreo. O jovem desportista, aluno do curso de pilotagem, Edgildo Giordano (mais conhecido por Balalaika), de apenas dezesseis anos de idade, pilotava o avião Visconde de Taunay, um "Pipper Cub" pertencente ao Aero Clube do Ceará¹, quando o avião caiu no quarteirão entre a Avenida Santos Dumont, Rua Costa Barros, Avenida Dom Luís (Hoje Avenida Dom Manuel) e Rua 25 de Março

O avião de Balalaika fazia evoluções sobre a Avenida Santos Dumont, quando sobrevoava as casas residenciais de nº 187 e 189, quando caiu em "piquet", entre os dois quintais, ficando completamente espatifado. Surgiram lendas em torno do acontecido, entre elas a de que Balalaika teria brigado com a namorada e suicidou-se jogando o aparelho que pilotava no quintal de sua amada, na Avenida Dom Manuel

Jornal O Povo de 04 de agosto de 1942

Segundo noticiou o jornal O Povo daquele mesmo dia, Balalaika (foto ao lado) teve morte imediata no próprio local do desastre, para onde acorreram numerosos populares.
Assim que tiveram ciência do terrível desastre, compareceram ao local um carro da Assistência Municipal e quatro do Corpo de Bombeiros, um dos quais removeu o corpo. No local, algumas autoridades estavam presentes: Dr. Rui de Almeida Monte, Secretário de polícia e Segurança Pública , Dr. Pompeu Gomes de Matos, Delegado de Investigação e Capturas, Dr. Fran Martins, diretor do DEIP e várias outras.

O sepultamento ocorreu no mesmo dia, às 16 horas e 30 minutos saindo o féretro da sede do Aero Clube do Ceará, à rua Sena Madureira, 865

O avião sinistrado foi doado em 1941 ao Aero Clube pela Sul-América Capitalização.
Balalaika era aluno do Aero Clube desde o dia 1º de junho de 1941, tendo iniciado o seu curso de piloto civil a 29 de abril de 1942. Ele tinha pouco mais de oito horas de vôo "solo", o que não recomendava afastar-se da área de exercício, em torno do próprio campo de aviação.  

Aero Clube 

 Colégio São João onde estudava Adgildo. Acervo Tania Maria Sousa

Edgildo Giordano era filho adotivo do Sr. Joaquim de Lima, residente à Avenida Dom Manuel, 447. Era aluno do segundo ano do ginásio no Colégio São João e esportista muito conhecido na cidade, tendo conquistado o segundo lugar na Prova Heróica² dos cinco mil metros a nado, desde o Mucuripe até o Viaduto Moreira da Rocha (Ponte Metálica).
Balalaika era amazonense³, residindo em Fortaleza há vários anos.

Ao lado, uma foto do livro Trilhas da Saudade

Em 25 de outubro de 1942, o Aero Clube do Ceará fez Romaria à sepultura de Edgildo Giordano. Na mesma ocasião, visitaram também a de outros aviadores, como a do Tenente Roma, do Dr. José Pestana e Farias Primo. No seu discurso, o Dr. João Calmon lembrou também os nomes de Chico Távora e Fausto Amarante.  

A rua 25 de março - Arquivo Nirez 

Uma das casas que teve seu quintal atingido pelo avião de Balalaika, foi este sobrado da foto. O castelo (sobrado) ficava na Dom Manuel, entre a Avenida Santos Dumont e a Rua Costa Barros, no chamado lado da sombra. 

O acidente narrado por uma testemunha ocular:  

 
 Trecho do livro Trilhas da saudade de Mundinha Negreiros de Andrade. 
Agradecimento ao amigo Maia Filho pela gentileza!

"Naquele dia e hora, eu estava de saída para o Colégio Cearense, quando fui surpreendido pelo vôo rasante do Balalaika, que terminou de encontro ao muro de um quintal, da 25 de Março, quase com a Av. Santos Dumont e que, por ironia, confrontava com a sua residência. Ele era um jovem da melhor aparência, exímio nadador, tendo-se classificado em segundo lugar, na última Prova Heróica. Lembro-me de o ter visto, pela última vez, quando de seus exercícios físicos, em plena Praia de Iracema, em uma noite enluarada. Naquela época recuada, era comum a frequência de muitas pessoas, à praia mais linda de Fortaleza.
O seu cognome - Balalaika - deve-se à trilha sonora do filme do mesmo nome, cuja interpretação artística era de Nelson Eddy, coadjuvado pela atriz Ilona Massey, na inauguração do Cine Diogo, no dia 7 de setembro de 1940. Era comum ouvi-lo cantando aquela canção...

Assim, a vida de Balalaika ou Edgildo Giordano, como queiram, foi tão fugaz quanto sói acontecer a um meteoro: uma estrela cadente de grande brilho, mas de curta duração."


Irmes Gottlieb
(Diário do Nordeste - 05 de junho de 2004) 

Cartaz do programa de inauguração do Cine Diogo com o filme Balalaika - Arquivo Nirez

Escola Normal


"O que ocorreu na verdade, foi o que em aeronáutica chama-se "stall" (estol) em baixa altitude. Balalaika sobrevoava a Escola Normal e chegou a acenar para as alunas que faziam ginástica no pátio da escola. Era pouco mais de sete da manhã. O estol (ou perda de sustentação) ocorre quando há uma elevação excessiva do ângulo de ataque da asa, o que faz com que a aeronave perca sustentação e consequentemente, altitude. Quando em altitude suficiente é perfeitamente recuperável. No caso, o Piper estava quase em voo rasante. As chances de recuperação eram mínimas. O corpo ficou totalmente carbonizado. Um triste acidente!" 




Annita Giordano

Pouco se sabe sobre Edgildo Giordano de Araújo (Balalaika) e muito menos, sobre sua família adotiva, mas em conversa com a prima e com o sobrinho biológico, descobri algumas coisas que podem ser de ajuda para que a gente consiga encontrar algumas respostas!


Casamento de Annita e José Vitor.


Annita Giordano e José Vitor de Araújo 'Bezerra' (alguns dizem que o sobrenome Bezerra, foi acrescentado por ele ao seu nome original), eram pais biológicos de Edgildo.
Numa viagem para Fortaleza (teria fugido do marido?), não sei se grávida ou se Edgildo já era um recém nascido, Annita decide não mais retornar ao Acre, onde lá deixou o filho mais velho Edmar Giordano de Araújo (foto ao lado) e  o marido José Vitor. Na ausência da mãe, Edmar foi criado pela avó.

Na capital cearense, ela conhece Joaquim de Lima, então Interventor do Ipu.* Mesmo casados, eles se envolvem e Joaquim assume a criança.

Em conversa com sua irmã Lídia, Annita contava que Joaquim se afeiçoou ao menino e que Balaika era muito apegado ao pai adotivo. Joaquim era um homem de posses e deu estudos e uma boa vida ao filho.


No Acre, a família ficou sabendo que Annita estava vivendo com um homem muito rico, que era prefeito.
Sua mãe ainda lhe visitou algumas vezes em Fortaleza!

*Joaquim de Oliveira Lima governou o Ipu de outubro de 1930 a abril de 1935.
Em 1929 houve eleições para prefeito. Apresentaram-se dois candidatos. O vencedor, porém, em função da chamada “Revolução de 1930” não assumiu o poder. Com o movimento de outubro de 1930, os Estados passaram a ser governados por interventores. Estes, por sua vez, indicavam, nos municípios, os governantes, também chamado de interventores. Joaquim Lima foi o indicado para governar o município de Ipu.
Faleceu vítima de ataque cardíaco no dia 16 de agosto de 1967.

 Leia a biografia de Joaquim de Oliveira Lima no Blog do professor Francisco Melo

Annita em Fortaleza em 1931

Os anos passaram...

Certo dia, o
Gran Circus Americano Buffalo Bill passa por Fortaleza e Annita conhece o acrobata do globo da Morte. Apaixonada por Augusto Stevanovich (o acrobata), Annita resolveu fugir com o circo, deixando o filho Edgildo com o Sr. Joaquim, que já o amava como filho e que de certo cuidaria muito bem do menino. Deve ter pesado também a dificuldade que seria para uma criança viver sem rumo, de cidade em cidade.



A última notícia que se tem de Annita, é uma carta escrita por ela, datada de 1938, escrita em Milão, endereçada para sua mãe. Ao final da carta, ela assinava:  ANITA GIORDANO STEVANOVICH (Foi através dessa carta que chegou-se ao GRAN CIRCUS AMERICANO,  pertencente aos STEVANOVICH).
 

De acordo com o neto Edgildo Sobrinho, se ainda estiver viva, Annita tem hoje por volta de 114 anos


 Gran Circus Americano Buffalo Bill

Sobre a carta

" O conteúdo era de saudades e lamentações e ela citava um apelido, DILO.  Eu imaginava ser um erro de grafia, que ela queria dizer DIDO (que poderia ser o apelido familiar de Balalaika - Dido é o meu apelido familiar). 
Era DILO mesmo, que segundo levantou minha prima, tratava-se de AUGUSTO STEVANOVICH, um acrobata do globo da Morte, do Gran Circus Americano Buffalo Bill, circo este que a vovó fugiu com ele, quando passou pelo Acre, apaixonada pelo acrobata. Na fuga ela levou o filho recém-nascido, Edgildo, deixando o outro mais velho, Edmar (meu pai) com o seu marido, José Vitor de Araújo Bezerra. Meu pai foi criado pela avó dele, Joaninha. Edgildo foi adotado por uma família de Fortaleza, que deveria ser abastada, visto o histórico dele: Campeão de natação, piloto aos dezesseis anos..." 


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho**

** Observação: Algumas informações diferem, mas é compreensível, Edgildo Sobrinho era muito pequeno quando tomou conhecimento de toda essa história.


O acrobata do globo da Morte:

DILO (AUGUSTO STEVANOVICH) faleceu em 1948, aos 38 anos. Foi sepultado no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro
Provavelmente, Annita estava no Brasil nessa época.
Dilo morreu no Rio quando negociava a vinda do circo ao Brasil (Nessa época, ele era diretor do circo).  

 Túmulo de Augusto Stevanovich. Detalhe para o Globo da morte.
 

Túmulo de Augusto Stevanovich
 
Edmar - O irmão

Edmar Giordano de Araújo, ficou com o pai no Acre, sendo criado pela avó.
Em homenagem ao irmão, batizou um de seus filhos com o nome de Edgildo Giordano.
Morreu em 1954, aos 32 anos, num acidente de carro no Acre.
Com a morte do marido, a viúva se muda com os seis filhos para Natal.



Edmar Giordano de Araújo



 ¹ O Aero clube do Ceará foi fundado com o nome de Aero Clube Cearense, no dia 07 de abril do ano de 1929, em nobre solenidade que contou com a presença do Governador do estado do Ceará. Logo depois de fundado, ficou por alguns anos sem nenhuma atividade, uma vez que naquela época, a aviação na América do Sul ainda vivia uma fase de quase nenhum progresso, especialmente no setor civil. No dia 02 de dezembro de 1937, praticamente fundava-se, pela segunda vez, em nossa Capital, uma sociedade que se destinava a incrementar, em nosso meio civil, a aviação de turismo a exemplo das grandes cidades do sul do país. Surgia o Aero Clube do Ceará. Nesta segunda tentativa, muitos entusiastas, representados por personalidades da escola de aviação militar, que foram na realidade os verdadeiros incentivadores da fundação do Aero Clube do Ceará, lançaram-se num movimento de real valor em favor do progresso da nossa aviação. Em cooperação com os militares, na realização dessa patriótica obra, destacaram-se civis que não pouparam esforços no sentido de ver realizado o sonho da mocidade cearense, que almejava asas para voar. Os primeiros passos da vida do Aero Clube do Ceará foram cheios de empecilhos, que aos poucos foram vencidos, e com apenas seis anos de atividade, já tinha “brevetado” cerca de 100 pilotos. Sua primeira sede ficava dentro da Base Aérea de Fortaleza, onde à época, operava o Centro de Formação de Pilotos de Caça da também, recém criada Força Aérea Brasileira (FAB). A Base Aérea permitiu ao Aero Clube do Ceará durante um longo período, a utilização de sua pista.

² A prova heróica dos 5 mil metros a nado, foi realizada em 02 de março de 1941.


³  "Edgildo consta como se fosse amazonense, creio que ele tenha nascido no Acre. A não ser que vovó tenha ido para Manaus, para ter o filho. Falo isso porque era comum mamãe falar que pai tinha nascido no Ceará e morreu no Acre. Edgildo tinha nascido no Acre e morreu no Ceará."


Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho   




ATENÇÃO:

ESSA POSTAGEM, POR SE TRATAR DE POST INVESTIGATIVO, SERÁ EDITADO SEMPRE QUE HOUVER MAIORES INFORMAÇÕES!!!



Créditos: Jornal O Povo - Edição de 04 de agosto de 1942, Diário do Nordeste - Coluna Opinião (Irmes Gottlieb) de 05 de junho de 2004, Revista Instituto do Ceará-1962, Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez), Livro "Trilhas da Saudade" de Mundinha Negreiros de Andrade e Site oficial do Aero Clube.

Agradecimentos: Glória Perez, Edgildo Giordano de Araújo Sobrinho, Maia Filho e Lucas Júnior.







17 comentários:

  1. Leila, então esse Circo é o mesmo do trágico incêndio em Niterói ?

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  2. Muito bom Leila Nobre. Você conseguiu progredir bastante na pesquisa sobre Balalaika. Parabéns. A história é muito interessante. Gostei de ver a citação do artigo do Irmes

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  3. Adoro , coisa mais bacana viu ,amo essas historias antigas.

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  4. Gostaria de ver fotos da rua santa Thereza, hoje Tereza Cristina no centro de Fortaleza, o meu bisavô Joaquim Prudêncio da costa que era português, possuía uma padaria nessa rua, lá pelo final dos anos de 1800 e começo de 1900 mais ou menos!

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    1. Grande coincidência meu bisavô também se chamava Joaquim Prudêncio da Costa, também era Português,também possuiu uma padaria no centro de Fortaleza, era maçom e residiu na avenida João Pessoa, sua primeira esposa faleceu jovem, vindo a se casar novamente.

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    2. Eu estava também buscando imagens antigas de Fortaleza e acabei encontrando esse comentário, também sou bisneto de Joaquim Prudêncio da Costa. Sou neto de sua filha Antonieta que casou com meu avô Raimundo Honório da Costa. O Interessante é que eu também venho realizando uma pesquisa semelhante aí acabei encontrando esse comentário de um primo que não conheço, tendo em vista que minha avó teve doze filhos e muitos de seus netos não se conhecem devido a distância.

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    3. CORREÇÃO: Meu avô chamava-se Raimundo Honório de Abreu.

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  5. Gostaria de ver fotos antigas da rua santa Thereza, hoje Tereza Cristina, o meu bisavô paterno Joaquim Prudêncio da costa que era português possuía uma padaria nessa rua no número 236.

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    1. Você sabe dizer o nome da padaria do nosso bisavô Joaquim Prudêncio da Costa?

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    2. Estou em busca de informações relacionadas ao nosso bisavô Joaquim Prudêncio da Costa já faz mais de oito anos, mas até ágora não tenho conseguido nada de concreto. Você sabe informar o nome de sua primeira esposa, mãe de nossa avô Antonieta? ou qualquer outra informação que possa facilitar essa pesquisa, tipo o nome da Padaria que ele tinha no centro de Fortaleza. Qualquer informação que você tiver será de grande importância nessa pesquisa que tem como objetivo conseguirmos a dupla cidadania, tendo em vista que outros familiares também estão na mesma busca.

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  6. Grande coincidência meu bisavô materno também se chamava Joaquim Prudencio da Costa, também era Português e também possuía uma padaria.

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  7. Qual o nome de sua bisavó? Vc mora em que cidade?

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  8. Sou bisneto de Joaquim Prudêncio da Costa e neto de sua filha Antonieta e Raimundo Honório de Abreu.

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  9. Eu não sei o nome de nossa bisavó, mas gostaria de saber, pois já perguntei a vários familiares mas ninguém sabe informar.
    Você sabe informar o nome dela?

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  10. Sua trineto de Joaquim Prudencio da costa bisneto de Antonieta honorio da costa e neto Sedinir honorio da costa e filho e Francisco honorio da costa tbm estou procurando papeis para tiramos a dupla cidadania.

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