Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cadeia pública
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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domingo, 4 de novembro de 2018

Centro de Turismo do Ceará



O Centro de Turismo do Ceará funciona num prédio onde na Fortaleza de outrora, funcionou a cadeia pública da cidade.
“Ocupa a quadra circunscrita pelas ruas do Senador Pompeu, da Misericórdia, do General Sampaio e o lado norte em confrontação com o mar.
É um grande prédio assobradado no centro e dividido em dois raios no pavimento inferior, onde estão as prisões ou células em número de 28, medindo nesta parte 6m.de altura e no andar superior 11m. tendo todo ele 78m. de comprimento e 18.20m. de largura.

Na parte superior estão o alojamento do carcereiro, o arquivo e as enfermarias, que recebem ar e claridade por grades de ferro que as fecham, e duas janelas que olham para o mar.

Cada una dessas células que contem ordinariamente de 12 a 20 presos, é fechada por una janela alta com grossos varões de ferro, que deita para o pátio, e grade de ferro para os corredores.

Contorna o edifício una alta muralha que mede em quadro 396m2. E serve de fundo a una cozinha espaçosa a diversos quartos para oficinas e o corpo da guarda que fica em médio do lanço setentrional. Em u pátio um poço que fornece água para a lavagem e outros misteres.

El ano de 1850 se ordenou ao engenheiro Manuel Caetano de Goiveira que organizasse a planta e desse começo aquela obra. Mais solo se terminam as mesmas em 1866.

A Cadeia Pública foi desocupada, na gestão do Governador Plácido Aderaldo Castelo. Restaurado o velho prédio e preparado sim modificações de sua estrutura, para nele funcionar Emcetur - Empresa Cearense de Turismo desde 1971.”


 
Antônio Bezerra de Menezes “Descrição da Cidade de Fortaleza” 1992.


Descrição geral dos melhoramentos que o prédio necessitava/recebeu no início dos anos 2000:

  • Praticamente a totalidade das lojas do Centro de Turismo, agregavam em seu interior mezaninos e novos forros de madeira ou materiais inflamáveis, que somando-se a precariedade das instalações elétrica (gambiarras) elevava muito os riscos de incêndio. Foi sugerido uma revisão neste aspecto.

  • As instalações telefônicas com o crescimento da demanda foram sendo executadas pelo o exterior do edifício formando um emaranhado de cabos sem direção ou sentido. Foi sugerido ordena-los apoiando-os sobre elementos do próprio prédio, como por exemplo, as linha de cornijas.

  • Normas sobre a propaganda no exterior das lojas servia para evitar placas que desfiguravam a fachada ou marquises feitas com telhas de amianto, como as que se podiam encontrar na rua Dr. João Moreira.

  • Era preciso erradicar por completo os elementos agregados ao edifício, tais como tabique de blocos de cimento para esconder vasilhames do restaurante ou pequenos quartos.

  • Os pátios interiores necessitavam serem reprojetados, para receber novos mobiliários e nova iluminação.

  • O Museu de Arte Popular, dotado de peças de real importância, encontrava-se necessitando de urgente atenção. A cobertura do salão era de telhas de capa e canal de barro, sobre caibros e ripas e desprovido de forro. A água pulverizada nas horas de chuva e a constante poeira sobre as peças, em sua maioria de madeira, provocaram um envelhecimento precoce e um deterioro acelerado do acervo em geral.


Recomendações para a pintura:

  • Antes de iniciar-se a pintura era necessário uma recuperação dos elementos de arquitetura, tais como: frisos, cornijas, molduras, grades e outros. Alguns destes elementos precisavam ser repostos, pois estavam rotos ou desaparecidos, como os pináculos do edifício da administração e da portada principal, bem como as gárgulas ( jacarés ) das fachadas.
  • Como segundo passo, a limpeza das fachadas com a lavagem com água à pressão ( 14,5 Kg/cm2 ) para a remoção da sujeira acumulada e das capas de pinturas anteriores que estavam se desprendendo. As pinturas anteriores, por não terem sido preparadas satisfatoriamente se desprenderam do suporte (parede) criando um espaço entre as mesmas e a parede gerando condições ideais para o aparecimento de limo, fungos e outras formações orgânicas que aceleraram o estado de deterioro das superfícies pintadas conferindo-lhe um aspecto geral de abandono.
  • Feita a limpeza geral das superfícies a pintar, era preciso passar ao processo de regularização das paredes.
  • Para garantir a durabilidade e integridade da pintura, era preciso revisar com atenção o sistema de drenagem pluvial, pois em alguns pontos do conjunto de edifícios se notavam infiltrações provenientes das calhas dos telhados.
  • Para a preparação dos elementos de ferro, ( portões, grades ) o procedimento adequado seria o de jateamento com areia para a remoção completa das camadas de oxido de ferro e das sucessivas camadas de pintura anteriormente aplicadas. Após a limpeza, o recobrimento da superfície dos elementos executados em ferro, com prime anti-oxidante com base ativa de oxido de alumínio para posterior aplicação da pintura indicada.



Crédito: Ofipro
 

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A arquitetura do ferro em Fortaleza (Parte III) - Adaptação técnica e estética



No fim do Império, a criação da Escola Militar do Ceará, trouxe para a cidade oficiais matemáticos e engenheiros.


O século XIX assistiu à elaboração de novos esquemas de implantação da arquitetura urbana, representando um verdadeiro esforço de adaptação às condições de ingresso do país na modernidade. A integração do Brasil no mercado mundial, após a abertura dos portos, possibilitou a importação de equipamentos que contribuíram para a alteração da aparência das construções dos centros maiores do litoral, porém ainda respeitando o primitivismo das técnicas tradicionais.
A chegada tardia do neoclássico no Brasil se justapõe a uma duração prolongada dos caracteres austeros e simplificadores desse estilo na arquitetura, predominando no país até o final do terceiro quartel do século XIX.

É comum, e com razão,fazer uma ligação do neoclassicismo ao processo de europeização arquitetônica do Brasil, mesmo que algumas realizações nacionais dessa corrente formal estivesse presente, por via portuguesa, desde o século XVIII.
No Brasil costuma-se englobar, sob a mesma categoria, todos os edifícios que empregam o vocabulário arquitetônico cuja origem remonta à Antiguidade greco-romana, que se convencionou chamar neoclassicismo. Alguns elementos construtivos como cornijas, pilastras sob platibandas; paredes de tijolo, revestidas e pintadas de cores suaves; janelas e portas, enquadradas em pedra aparelhada e arrematadas em arco pleno, cujas bandeiras dispunham-se rosáceas com vidros coloridos; bem como os corpos de entrada, salientes, compunham-se de escadarias, colunatas e frontões de pedra aparente, formando conjuntos de linhas severas às normas vitruvianas, que eram características da influência da Academia e do estilo neoclássico.


Mercado da Carne, a primeira edificação pré-fabricada em ferro inaugurada na cidade.


Chegaram também os princípios de higiene que iriam modificar o urbanismo.
O saneamento das habitações e das cidades, a insolação e a aeração de todos os cômodos das habitações, foram medidas que alteraram profundamente os costumes.
Em Fortaleza, as obras de melhor acabamento, que só começaram a acontecer depois da metade do século XIX, resultaram uma ocasional sofisticação na vida urbana, atendidas em parte pelo aprimoramento técnico e a contribuição de profissionais mais capacitados para as novas necessidades. De início, foram militares engenheiros; depois engenheiros militares e, finalmente, engenheiros civis. O Ceará deve a esses profissionais, alguns de ascendência estrangeira, ou mesmo estrangeiros, a implantação e o desenvolvimento de sua arquitetura neoclássica, num primeiro momento. No fim do Império, a criação da Escola Militar do Ceará, trouxe para a cidade oficiais matemáticos e engenheiros. Os projetistas do neoclassicismo cearense não mantinham qualquer tipo de ligação com a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Eram em sua maior parte estrangeiros ou seus descendentes diretos, tais como Paulet, Gouveia, Folglare, Berthot, Théberge, Privat, Steffert, Herbster..
Tanto no Ceará, como em várias partes do Brasil, comprovam claramente a pouca ou nenhuma influência da Missão Francesa na implantação do neoclassicismo do país, pelo menos em pontos distantes do Rio de Janeiro, capital do Império.

Antigo mercado central de Fortaleza - Fonte Jucá Neto

No Ceará, mais precisamente em Fortaleza, o português Antônio José da Silva Paulet, Tenente-Coronel de Engenheiros, autor da malha em xadrez do primeiro plano de arruamento da cidade e elaborado segundo um traçado ortogonal de inspiração neoclássica, foi responsável, também, pelos primeiros projetos arquitetônicos desse estilo, implantados na cidade.
O projeto do novo mercado, da ainda vila, figurou como a mais antiga representação neoclássica da cidade, com características desse estilo na portada de acesso em pedra portuguesa. Silva Paulet foi responsável também pelo projeto e construção, iniciada em 1812 e concluída em 1822, da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, na sua última versão, com características do estilo neoclássico.


Antigo mercado central - Aquivo Jaime Correia

10ª Região Militar - Fonte Capelo Filho


Nessa época, a cidade demandava um conjunto de atividades burocráticas, para cujo exercício se impõe a devida correspondência arquitetônica. Além de igrejas na capital e no interior, merecem citação algumas obras dispersas pela Província, como o Teatro da Ribeira de Icó (1860), conforme projeto do médico, historiador e arquiteto amador, o francês Pedro Théberge; e o Teatro São João (1875-1882), em Sobral, projetado por João José da Veiga Braga.


Antiga cadeia pública - Arquivo Nirez


Em Fortaleza, o neoclassicismo oficial também foi representado no edifício da Cadeia Pública, projetada pelo engenheiro militar Manuel Caetano de Gouveia Filho, concluída em 1866; e na Assembléia Provincial do Ceará, cujas obras se iniciaram no ano de 1856 e foram concluídas em 1871, ainda, na época do Brasil-Império, projetada por Adolfo Herbster, descrito por Menezes (1895: 155), como sendo um majestoso edifício com dois pavimentos, frontão e “archivolta de cantaria ornando a porta principal, sobre a qual foi colocado pesado relevo, representando as armas imperiaes, arrancadas em 1890 a escopro para serem substituídas pelo emblema da Republica”
(Grafia da época)


Antiga Assembléia, hoje Museu do Ceará - Arquivo Nirez


O segundo e definitivo edifício da Estação Central, de acordo com o projeto do austríaco Henrique Foglare e inaugurado em 1880, ainda no Reinado de D. Pedro II, também merece destaque. A fachada do bloco principal da nova estação central de Fortaleza “possui colunas sobre pedestal encimado por frontão triangular, e escadaria demarcando o acesso ao interior do edifício”, com fachadas contíguas e janelas com aberturas em arco pleno, arrematadas superiormente por cornijas e platibandas, solução esta que foi adotada para integrar a antiga estação à nova.
No último quartel do século XIX, os edifícios construídos em Fortaleza apresentaram características da linguagem neoclássica, como a simplicidade das formas e a clareza construtiva. Na prática, porém, o neoclassicismo provincial ficou reduzido a simples vestígios simbólicos do estilo, tais como vergas de arco pleno, tímpano preenchido por bandeiras envidraçadas, e platibandas sobrepostas a cornijas de massa, raras vezes, a presença de algum frontão. Todos esses elementos revelam-se em algumas edificações inseridas no contexto urbano de Fortaleza, mais comuns em edifícios públicos.


Edifício da Estação Central do Álbum Vistas do Ceará


No Ceará, como em quase todo o país, a precisão formal neoclássica envolvia soluções pouco dispendiosas, sem grandes investimentos e sem precisar recorrer a trabalhadores altamente especializados. O tratamento enobrecido e distinto das pedras aparelhadas, geralmente lioz, muitas vezes já vinham prontas em partes, de Lisboa, para serem montadas no Brasil.
Era comum, também, substituir os vidros por grades de ferro batido nas bandeiras das portas principais de entrada; desenhos e a data da construção eram frenquentemente inseridos na parte central da peça. Por facilitar o arejamento, era utilizado também em lojas e armazéns.

Exemplos significativos podem ser encontrados em todas as cidades mais antigas do Brasil, especialmente em áreas junto ao porto. Essa bandeira de ferro pode ser vista como exemplo da época, sobre a porta principal da entrada da Assembléia do Ceará, e também sobre as portas da antiga Alfândega, inseridas num portal de pedra aparelhada, outro ornamento bastante característico desse período.

Bandeira de ferro e portal de pedra aparelhada da antiga Assembléia - 2014
Foto de Maria Claudia Vidal Lima Silva

Bandeira de ferro e portal de pedra aparelhada da Alfândega - 2014
Foto de Maria Claudia Vidal Lima Silva

Portanto, os autores desses projetos erguidos na Capital se enquadravam plenamente sob as influências desse estilo importado, mostrando uma ligação direta com a Europa, com a chegada dos arquitetos europeus e os também descendentes destes, na cidade.
Logo após a proclamação da República, o Ceará se viu dominado por uma oligarquia política comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly. Os governos oligárquicos estaduais constituíram uma ocorrência nacional, a chamada política dos governadores inaugurada pelo presidente da República Campos Salles. O Ceará não foi exceção, inclusive com posterior destituição do grupo oligárquico, de forma violenta, no início de 1912.
Nesse período, em Fortaleza, duas obras têm grande importância no final do século XIX, no governo do Tenente-Coronel de Engenheiros José Freire Bezerril Fontenele, entre 1892 e 1896. O sóbrio quartel do Batalhão de Segurança (1893), na Praça Marquês do Herval, com reminiscências neogóticas e a sede do Liceu do Ceará (1894), provavelmente a primeira edificação a empregar elementos decorativos correlacionados ao ecletismo arquitetônico, localizada na Praça dos Voluntários. No governo de Bezerril Fontenele também foi iniciada a obra do Mercado da Carne, a primeira edificação pré-fabricada em ferro inaugurada na cidade.
Contudo, as manifestações da arquitetura eclética na Capital compreenderam as três primeiras décadas do século XX. As primeiras realizações já apareceram no final do século XIX, coincidindo com o período da oligarquia acciolina, iniciado no primeiro mandato em 1896. Apesar do número de obras de arquitetura nesse período ter sido modesto, no entanto, foram portadoras de alto valor simbólico no meio social de Fortaleza, envolvendo entidades e pessoas de notoriedade.


Batalhão de Segurança em foto de 1911

Prédio do Liceu na Praça dos Voluntários - Arquivo Nirez

Prédio do Liceu na Praça dos Voluntários, provavelmente a primeira edificação a empregar elementos decorativos correlacionados ao ecletismo arquitetônico. Arquivo Nirez


As transformações sociais e a expansão física da cidade vão ter consequências na organização espacial da casa e também dos lotes urbanos. As novas construções começavam a se afastar cada vez mais da chamada casa-corredor, de origem colonial. Durante o período imperial, Fortaleza havia mantido o aspecto comum da maioria das cidades brasileiras, uma arquitetura residencial constituída por alguns sobrados, uma grande parte de casas térreas e uma faixa de palhoças circundando a periferia urbana. Para romper com o velho sistema, alterou-se o plano tradicional, introduzindo acessos laterais às casas; assim começaram aparecer casas de esquina e casas situadas no meio dos quarteirões com entrada recuada em relação ao alinhamento da rua.
Nesse sentido, na arquitetura se processaram modificações ditadas não somente pelo gosto por estilos mais refinados, mas também por conveniências de mercado. As casas urbanas com telhados dotados de beirais, receberam platibandas que interrompiam esses mesmos beirais que jogavam água sobre as ruas, geralmente sem calçamento. Surgiam, assim, as calhas e descidas de águas pluviais executadas em ferro fundido e em ferro galvanizado, quase sempre produtos ingleses importados.




A primeira edificação, realmente construída segundo as normas do ecletismo arquitetônico, foi a sede da Fênix Caixeiral*, inaugurada em junho de 1905, em uma das esquinas da Praça Marquês de Herval, um dos locais da cidade mais valorizados na época.
O edifício reproduzia o plano das novas casas de esquina**, ou seja, com entrada lateral sem corredor; uma grande sala para festas, biblioteca e salas de aula. Mostrava um andar nobre sobre porão habitável, que dava um novo aspecto à arquitetura do prédio, com novidades tanto na implantação e localização, como na ornamentação da fachada, com abundância decorativa.

Associação Comercial (Palacete Guarani) - Arquivo Nirez

Em dezembro de 1908, foi inaugurada a Associação Comercial, uma antiga ambição do Barão de Camocim, Geminiano Maia, comerciante de posses, que havia passado parte da mocidade em Paris, voltando à Fortaleza, casado com uma jovem francesa. A nova edificação deveria dar lugar o “status que o alto comércio de importação e exportação reivindicava para si”, segundo Castro (1987: 220). O prédio também situava-se numa esquina, constava no térreo de locais destinados ao Banco Comercial e Agrícola, à exposição de produtos exportáveis e à Associação: e no andar superior, constavam vastos salões.

[...] tinha um vasto telhado de placas coloridas à feição de ardósia, formando desenhos geométricos cinza e róseos. O projeto recebera a assinatura do 1°. Tenente José de Castelo Branco e obedecia ao “estlylo greco-romano”, com “elegante pórtico formado por columnas jonicas” e intercolúnios “encimados por pilastras de ordem corinthia”. Os interiores do pavimento superior constavam de “quatro vastos e luxuosos salões: o de honra, gris-perle; o azul, o róseo, o verde”, com “ornamentos recordando Luis XV”, além do “forro de metal e o soalho todo de madeira de lei, formado por taboas escamadas, que produzem magnifico efeito, o unico no genero no Ceará” (CASTRO, 1987: 220). 
(Grafia da época)

Além dessas duas obras de arquitetura eclética, as sedes da Fênix Caixeiral e da Associação Comercial, a mais representativa nessa época, entretanto, é o Teatro José de Alencar, edificação metálica pré-fabricada, e o exemplar de maior significado da arquitetura do ferro na cidade de Fortaleza.


*Fundada em 1891, a Fênix Caixeiral era uma sociedade assistencial e cultural que congregava o pessoal do comércio, representados pelas figuras de maiores aspirações sociais no segmento, geralmente guarda-livros. Rapidamente passaram a desfrutar de grande consideração em todos os círculos sociais da cidade (CASTRO, 1987: 220).

**O esquema consistia em recuar o edifício dos limites laterais, conservando-o sobre o alinhamento da via pública, o recuo era apenas de um dos lados, do outro quando existia, era reduzido ao mínimo (REIS FILHO, 1983: 44).


Leia também:
Parte I
Parte II


Crédito: Uma Revolução no tempo das trocas: Arquitetura do ferro na cidade de Fortaleza (1860-1910) - Maria Claudia Vidal Lima Silva

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Antiga cadeia pública de Fortaleza

  

No ano de 1850, é ordenado ao engenheiro Manuel Caetano de Gouveia que organizasse a planta e desse início a obra de construção da Cadeia Pública de Fortaleza, ficando o prédio pronto em 1866. 

Registro dos anos 70. Acervo Eugênio Arcanjo

Em 21 de novembro de 1867, os presos são então transferidos dos xadrezes que ficavam embaixo da Casa da Câmara, na rua Floriano Peixoto.
O prédio localiza-se no quadrilátero entre a rua SenadorPompeu, rua Dr. João Moreira, rua General Sampaio (antiga rua da Cadeia) e rua Senador Jaguaribe.
Contorna o prédio uma alta muralha que mede em quadro 396 m².


De acordo com o arquiteto e urbanista Totonho Laprovitera, o prédio começou abrigando somente homens e, no início do século XX, foi construída uma ala feminina.
Possuía uma cozinha espaçosa e diversos quartos para oficinas e o corpo da guarda, que ficava ao lado setentrional. No pátio, um poço fornecia água para a lavagem e outros misteres.

Arquivo Nirez

É um grande prédio assobradado no centro e dividido em dois raios no pavimento inferior, onde ficavam as celas em número de 28, medindo 6m de altura e no andar superior 11m.


Também no andar superior ficava o alojamento do carcereiro, o arquivo, a administração, o refeitório e as enfermarias que recebiam ar e claridade por grades de ferro que as fecham, e duas janelas que olham para o mar.
Em cada cela, ficavam de 12 a 20 presos. Eram fechadas por janela alta com grossos varões de ferro que deita para o pátio e grade de ferro para os corredores.

Foto da antiga cadeia pública pelo lado da praia - rua Senador Juagaribe. Um dos comércios que funcionava por trás do prédio, era "O Nosso Bar".
O Nosso Bar apareceu depois que a cadeia passou a Emcetur. Esta foto foi tirada entre os anos de 50 a 60. O caminhão lá atrás era um Ford dos idos de 40 e um pouco mais distante um carro PontiacOs carros naquela época ficavam nas ruas sem qualquer segurança esperando o dono. Como este estacionado na lateral da Santa Casa. Arquivo Nirez

É um dos primeiros edifícios públicos a atender as modificações impostas pela Legislação Penitenciária Imperial.
Em 1967, começou a desativação da cadeia. Nesse processo, conforme Totonho (já citado) surgiram duas correntes: uma queria que o local fosse demolido para dar lugar a um estacionamento e outra queria a construção de um hospital.
O prédio foi desativado em função da construção do Instituto Penal Paulo Sarasate e em 12 de setembro de 1969, os detentos deixam a velha cadeia e são transferidos para o IPPS, na BR-116. O primeiro diretor naquele local foi o coronel Francisco Bento.

Foto aérea dos anos 70 vendo-se a antiga Cadeia pública. 
Foto de Nelson Bezerra

O prédio de linhas neoclássicas caracteriza-se pela clareza e simplicidade das formas. Foi desocupado na Gestão do Governador Plácido deAderaldo Castelo.
Em 14 de setembro de 1971, instala-se em Fortaleza a Emcetur. O primeiro diretor foi Eliezer de Sousa Teixeira.

Arquivo Nirez

Conservando-se as mesmas linhas arquitetônicas e respeitando suas características neoclássicas, a antiga Cadeia Pública foi adaptada.
A responsabilidade do projeto coube aos arquitetos Francisco Afonso Porto Lima e Francisco Américo de Vasconcelos, ficando a execução do projeto sob a responsabilidade da Secretaria de Obras do Estado do Ceará (SOEC).


Em 31 de março de 1973, é inaugurado o Centro de Turismo de Fortaleza, pelo então governador César Cals.
As celas deram lugar as lojas de artesanato e o pavimento superior, foi adaptado para sediar a Empresa Cearense de Turismo (Emcetur). Após a extinção do órgão, passaram a funcionar no local o Museu de Mineralogia, que buscou expor ao público as riquezas minerais do solo cearense, e o Museu de Arte e Cultura Popular, que retrata a cultura do povo cearense, com esculturas feitas pelo artista Deoclécio Soares (Bibi), as artes esculpidas em cerâmicas feitas pelo artista Cícero Simplício do Nascimento (Cizin), e os bonecos feitos pelo Mestre Boca Ricca.


Interessante é perceber o nível de preservação, inclusive sendo mantida a fechadura antiga das celas, dando um ar ainda mais histórico para o prédio.
Belíssimo exemplar do século XIX, o prédio possui vários elementos de arquitetura, tais como: frisos, cornijas, molduras, grades, gárgulas (jacarés) nas fachadas e outros.
É protegido pelo Tombo Estadual segundo a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968, através do decreto n° 15.319 de 17 de junho de 1982.
Ao todo, são 105 lojas e dois quiosques, onde são vendidos diversos itens, de rendas de bilro e renascença a brinquedos de madeira, passando por cordéis, utensílios e objetos de decoração. Também é possível encontrar roupas de algodão cru, moda praia e produtos típicos da nossa gastronomia, tais como doces, castanhas, compotas, licores e cachaças.

Crédito da foto: http://emcetur.com.br/

De janeiro de 2008 a março de 2010, a infraestrutura do edifício passou por uma grande reforma. Diante da necessidade da restauração de um equipamento tão importante para o patrimônio histórico e turístico cearense, o Governo do Estado, por meio da Secretaria do Turismo do Estado (Setur), realizou as obras de melhoria nos blocos norte, central e sul. Todas as restaurações foram voltadas para preservar o espaço e permitir a acessibilidade das pessoas com deficiência e do público em geral. Pisos e telhados foram trocados. Toda a parte hidráulica, elétrica e sanitária foi substituída. A pintura foi refeita em todo o prédio. O jardim recebeu reformulação e nova iluminação. Os banheiros foram ampliados. A acessibilidade a cadeirantes foi contemplada por meio de um banheiro adaptado e da instalação do elevador que dá entrada ao 1º piso, onde fica o Museu de Arte e Cultura Popular.
A reforma custou R$ 1,9 milhão em verbas do Tesouro Estadual e do Ministério do Turismo.

Crédito da foto: http://emcetur.com.br/

Museu de arte e cultura popular - Crédito da foto: http://emcetur.com.br/

No pavimento térreo do bloco central, cuja área é de 2.834,94 m², a reforma incluiu as lojas e a instalação do elevador panorâmico. Já o andar superior, recebeu melhorias na diretoria e sala de reuniões, no almoxarifado e nas salas de guias turísticos. O bloco sul, com 752,55 metros quadrados, conta com estacionamento para 42 veículos, além da reforma das lojas e jardins.
A reinauguração se deu no dia 16 de março de 2010 com grande solenidade.

Horários de Funcionamento:
Segunda à Sábado: 8hs às 17hs
Domingo e Feriados: 8hs às 12hs

Crédito da foto: http://emcetur.com.br/

Crédito da foto: Blog História e Viagem

Curiosidade: 

*Há rumores, entre os comerciantes daquele local, que estranhas passagens secretas estão escondidas no chão do prédio.

*Um dos detentos da antiga cadeia pública, foi o jogador Idalino.
Leia sobre o crime que o levou para atrás das grades AQUI.





quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O policiamento na Fortaleza antiga


A antiga residência dos governadores, onde se levantou o Mercado de Cereais - Foto do Álbum de Fortaleza 1931


Chefatura de Policia

A Chefatura de Policia foi restabelecida pelo decreto nº 344, de 30 de setembro de 1931, em virtude de ter sido pelo mesmo decreto extinta a Secretária de Policia e Segurança Pública. Funcionava à Travessa Cel. Guilherme Rocha, esquina com a rua Cel. Bezerril.

Chefe de Policia: Capitão Olímpio Falconiére da Cunha;
Diretor geral: Cândido Olegário Moreira;
Diretores de Seção: Pedro de Souza Albuquerque, Raimundo Cordeiro de Lavor e Dr. Hermenegildo Rodrigues Santiago.

Delegacias de Policia de Capital

Funcionava nos baixos do edifício em que estava a Chefatura de policia. Havia duas delegacias de policia na capital, que eram exercidas, cumulativamente, pelo Dr. Ubirajara Coelho de Negreiros.
O inspetor de policia marítima era o Sr. Tertuliano Menezes.

Foto do livro Fortaleza Cronologia Ilustrada de Nirez


A Inspetoria de Veículos também funcionava no prédio da Chefatura, dispondo de 41 guardas para o serviço de vigilância e inspeção de veículos. O 1º Tenente da Força Pública foi Porfírio de Lima Filho.

Força Pública

Fachada do prédio da Praça José Bonifácio - Foto do Museu da Policia Militar do Ceará

Funcionava em prédio próprio estadual, à Praça José Bonifácio. Era constituída de um Estado Maior e um Batalhão de Infantaria e um Pelotão de Cavalaria.

Coronel  Comandante Geral: Cap. Olímpio Falconiére da Cunha;
Tenente Coronel Fiscal: Carlos Cordeiro De Almeira;
Capitão Ajudante: Osimo de Alencar Lima, exercido interinamente pelo Cap. Luiz David de Souza.
Capitão Tesoureiro: Raimundo Ciriaco de Carvalho;
Capitão Médico: Dr. Francisco Moreira de Souza.

Estado Maior do Batalhão de Infantaria

Tenente Coronel Comandante: Antônio Ribeiro Gomes de Lima;
Major Fiscal: Francisco Ribeiro Pessoa Montenegro;
1º tte Ajudante e secretário: Antônio Rodrigues Pereira.

Da tropa do batalhão, a 1ª e a 4ª companhias tinham suas sedes em Fortaleza, a 2ª em Sobral e a 3ª em Juazeiro. Comandavam-nas: 1ª Companhia, o Cap. Gustavo Rodrigues de Souza, exercido interinamente pelo Cap. Cândico Procopio de Souza; 2ª, pelo Cap. Raimundo Pinheiro da Silva; 3ª, pelo Cap. Firmino de Araújo; 4ª, pelo Cap. Luiz David de Souza, exercido interinamente pelo 2ºtte. Antônio Alves de Lima.

O comandante do pelotão de Cavalaria era o 1ºtte. Miguel Barreto Falcão. Esta unidade funcionava em prédio próprio, no BarroVermelho.
A Força Pública possuia uma enfermaria, com prédio próprio e uma farmácia, que lhe era anexa.


Guarda Cívica de Fortaleza

Corporação destinada ao policiamento da capital, era dirigida pelos oficiais comissionados da Força Pública do Estado. O seu comandante era o capitão Antônio de Matos Doirado
Fora a oficialidade comissionada, existia 3 inspetores de 1ª classe; 7 de 2ª classe, 1 sub-inspetor; 5 fiscais de 1ª classe, 14 fiscais de 2ª classe e 6 sub-fiscais, 26 guardas de 1ª classe e 200 de 2ª classe, dando um efetivo de 262 guardas cívicos, cujo encargo ficava o policiamento de Fortaleza.

Cadeia Pública 

Prédio da cadeia pública - O edifício de dois pavimentos era dividido assim: Na parte inferior, ficavam as 28 celas (com capacidade entre 12 e 20 presos) e na parte superior, o alojamento do carcereiro, o arquivo e a enfermaria.  Foto Assis de Lima

A Cadeia Pública de Fortaleza, localizava-se nas proximidades da Estação Central, entre as ruas Senador Pompeu e General Sampaio, foi construída de 1851 a 1855.
Era um edifício com um pavilhão de dois andares no Centro, fechado, em quadro, por um grande muro.
O seu administrador era o 1º tenente Porfírio de Lima Filho, que tinha como ajudante o 2º tenente João Medeiros Bastos.

A guarda do estabelecimento era feita pela força pública e era composta de 20 praças, inclusive um sargento.
Existia, no presídio, duas oficinas do Estado, sendo uma de tipografia e uma de sapataria, além de duas outras oficinas, uma de fereiro e outra de carpinteiro, de propriedade dos sentenciados.

A Escola Presidiária funcionava diariamente sob a direção do professor José Teles da Cruz, com a frequência de 35 alunos.

Encontrava-se geralmente no estabelecimento os seguintes detentos: 113 setenciados, 17 pronunciados e 6 indiciados, num total de 136 presos.



Fonte: Álbum de Fortaleza - datado de 1931

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: