Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cordão das coca-colas
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012



2012 foi um ano maravilhoso para o Fortaleza Nobre, muitas histórias que tive o maior prazer em pesquisar e aprender para trazer aos leitores do blog. Foi também gratificante acompanhar o crescimento da nossa Fan Page. A participação das pessoas em cada foto postada, foi essencial para esse sucesso! Cada curtida e cada compartilhamento, era uma alegria e um atestado de que o FN* está no caminho certo! Hoje nós já somos mais de 6.600 e tenho certeza que 2013 será ainda melhor, pois voltarei cheia de novidades e com a bateria recarregada e um estoque de fotos antigas, ainda maior! 
Na nossa Fan Page, já foram postadas mais de 1.600 fotos antigas. 

Aqui no blog, já chegamos a 990 seguidores e conforme estatística do Blogger, só no mês passado tivemos 36.628 visualizações da página. E fora o Brasil, o blog já atingiu os Estados Unidos, Suécia, Portugal, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Rússia e Bélgica. Estamos chiques demais! 

Ah, não posso esquecer de agradecer aos amigos do Twitter que vira e mexe, retweetam nossos assuntos e atraem mais seguidores e amigos, valeu mesmo!

Bom, foi pensando em todos vocês que resolvi fazer essa retrospectiva, espero que gostem!!! 









No Auge da Leste-Oeste

...Foi nessa época e nesse ambiente que surgiram e floresceram os inúmeros bares, boates e inferninhos da nova e recém inaugurada Avenida Leste-Oeste. A cidade crescia vertiginosamente, puxada pelo “milagre econômico” e sob a batuta da Gloriosa Revolução de 64. 

Dos Elegantes Cafés vindos do século XIX ao varejo atual

...Existiam ainda na praça quatro quiosques que se denominava “café do Comércio”, “café Iracema”, “café Elegante” e “café Java” – o mais antigo, pois data de 1886 e se tornara o principal ponto de reunião da fina flor da cidade, e dos famosos intelectuais da inovadora Padaria Espiritual.








Primeira estação radiotelegráfica de Fortaleza - Uma casa, duas antenas e 3  gerações

Em 1922 instalou-se a primeira estação radiotelegráfica de Fortaleza na Praia do Peixe com duas grandes torres (antenas). Os escritórios ficavam no prédio da Fênix Caixeiral, na Praça Marquês do Herval, na Rua General Sampaio, esquina com Rua Guilherme Rocha, onde hoje fica o edifício do CEMJA.



Colégio Lourenço Filho - 74 anos

... Para patrono da instituição, escolheram o professor Lourenço Filho, que na época já ultrapassara as fronteiras nacionais, devido às suas realizações na área da Pedagogia. No ano de 1939, foi instalado o Curso Ginasial e, em seguida, o Normal e o Colegial. Não foi necessário muito tempo para que o Lourenço Filho fosse reconhecido pela sociedade como exemplo de educação no Estado.







Grupo Escolar Fernandes Vieira - Colégio Juvenal Galeno


Em 6 de setembro de 1923 no bairro de Jacarecanga, foi adquirida para propriedade do Estado a chácara localizada na rua Oto de Alencar frente para a Praça do Liceu. No dia 3 de outubro foi lançada a pedra fundamental para a construção do então Grupo Escolar Fernandes Vieira, pelo então presidente do Ceará Idelfonso Albano...


Clube dos Diários - Fatos Históricos


Em 18 de março de 1913, é fundado o Clube dos Diários, nascido de uma dissidência do Clube Iracema, e que se instalou no dia 23, no Palácio Guarani, no mesmo local antes ocupado pela Associação Comercial do Ceará.
Depois juntou-se ao Clube Iracema, denominando-se Clube Diários-Iracema.









O Correio do Ceará é um tradicional jornal de Fortaleza. Foi fundado em 2 de março de 1915 por Álvaro da Cunha Mendes*, mais conhecido por A. C. Mendes, empresário do ramo gráfico. A partir de 1937 passou a ser integrante do Diários Associados. Antônio Moreira Albuquerque, jornalista que nasceu em Granja (01 de jan. de 1918) e faleceu em Fortaleza (1998), foi secretário do "Correio do Ceará" por vários anos nas décadas de 50,60 e 70.


De Serviluz a Coelce - A Companhia Energética do Ceará

... Desde 1912 a Capital era servida pela luz e força da Light, companhia inglesa que explorou o bonde, ônibus, além de luz e força, sempre com precariedade.
A empresa foi municipalizada, transformou-se em Serviluz, Conefor e finalmente em Coelce.

Fábricas em Fortaleza

...A Gelatti, marca uma nova era, um divisor de águas, pois antes existiam pequenas fábricas de picolés semi-artesanais como a "Princesinha"(na Barão de Aratanha dos irmãos Arruda) e a Gelatti se estabelece com equipamentos modernos, em escala industrial, onde até o carrinhos eram diferentes e os vendedores, trabalhavam uniformizados e de boné.








Avenida Santos Dumont - Antiga Rua do Colégio das Órfãs

...uma das vias mais longas da cidade com mais de oito quilômetros ligando o bairro Centro a zona leste de Fortaleza chegando até a Praia do Futuro cruzando o bairro Aldeota. A avenida começa estreita e de sentido único oeste-leste a partir da rua Coronel Ferraz sendo alargada a partir da rua Dona Leopoldina. A partir da rua Tibúrcio Cavalcante a avenida ganha um canteiro central e passa a ser de sentido duplo.

Rua General Sampaio - Antiga Rua da Cadeia 

Há tempos, muitos anos atrás, a rua General Sampaio se chamava a rua da Cadeia, porque lá no início, próximo à Estação de Trem, estava situada a Cadeia Pública. Esta região era a mais procurada para moradia. Constituía-se a área nobre da provinciana capital do Ceará.

Manuel Morcego e Tristeza

...Na adolescência à juventude, resolveu trabalhar na Construção da nossa Catedral da Sé. Tornou-se um audaz servente e chegou a ser pedreiro da Sé. Sua habilidade não chegou a tanto, porque designado para trabalhar na construção da torre da Igreja, certa vez, escorregou de um andaime que falseara com o vento, logo veio a cair das alturas. Tamanha foi à destreza e agilidade, que, ao cair rolando altura a baixo, deu de encontro às estroncas segurando a uma delas, como se dizia, "agarrando-se com unhas e dentes", enfrentando o medo de morrer ao cair daquelas alturas. Salvou-se graças a ajuda dos demais operários que, num átimo, o socorreram rapidamente.

O Otávio Bonfim dos velhos tempos...

Na década de sessenta, por exemplo, o bairro Otávio Bonfim, oficialmente Farias Brito, na zona oeste da capital, tinha um charme bem particular. Não era de classe alta. Também não estava na linha da pobreza.






Tragédia na inauguração da Av. Leste-Oeste


Foi como se, por alguns segundos, tudo houvesse ficado em silêncio. Como se o tempo houvesse parado um pouco para que as pessoas pudessem entender o que estava acontecendo. Acho que eu nem respirava.

- Caiu! – gritou alguém.

E o tempo voltou a funcionar. Houve gritos e correria. Verdadeiro pânico tomou conta da multidão. Lembro bem de um caminhão de bombeiros saindo, com a sirene ligada, um de seus soldados correndo e se pendurando nele.


Espaços da elite na capital cearense

No século XIX, a capital cearense sofre intervenções no seu traçado urbano. Em um primeiro momento, no ano de 1818, quando o urbanista Silva Paulet projeta a planta de Fortaleza em formato xadrez, e em um segundo momento, no ano de 1875, por Adolfo Hebster, que deu continuidade ao projeto, finalizando a “Planta Topográfica de Fortaleza” que tinha por finalidade disciplinar a expansão urbana e racionalizar os espaços da cidade, eliminando becos e vielas...

Avenida Pessoa Anta - Rua da Praia

A Avenida Pessoa Anta que até então era apenas um caminho chamado "Caminho da praia", foi surgindo com a chegada do progresso e dos históricos prédios, passando a chamar-se Rua da Praia em 1932.













50 Anos da Avenida 13 de Maio

Depois da inauguração da Paróquia de Fátima, na Av. 13 de Maio, no ano de 1955, o bairro veio a ser cobiçado como promissor, e, em grau de importância, chegou a ser dito por muitos que seria o bairro do futuro, tão importante quanto a Aldeota. 

Greve dos portuários - A Construção da trama


Durante o quatriênio de 1900 a 1904, o Governo do 
Ceará estava nas mãos de Pedro Augusto Borges, aliado de Nogueira Accioly que administrou o Estado de maneira a reforçar o poderio da Oligarquia Acciolina. 


Escola Johnson - 50 Anos

...Mais tarde, com o regresso da família Johnson aos Estados Unidos, a escola passou para o quadro da Secretaria de Educação do estado do Ceará, em novas instalações no Bairro Engenheiro Luciano Cavalcante e hoje é denominada Escola de Ensino Fundamental e Médio Johnson.

O cordão das "Coca-colas"

Nos idos de 45, terminada a Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos retornavam ao seu país de origem e as "coca-colas" ficaram desativadas. Mas não estavam mortas, tanto assim  que continuavam a desfilar seu charme e sua elegância pelas streets da urbe, motivando as mais variadas reações: as velhas e respeitáveis matronas, guardiãs da sagrada moral cristã, resmungavam, olhavam de esguelha, condenavam as meninas ao fogo eterno do inferno e até benziam-se. "T'esconjuro, filhas do mal!"...







Escola Normal do Ceará -  De 1884 à 1922 (Parte I)

Fundada em princípios filosóficos e educacionais, defendidos por intelectuais da época, como Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, os professores José de Barcellos e Amaro Cavalcanti, dentre outros, a Escola Normal  do Ceará concretiza, oficialmente, ao final do século XIX os anseios de igualdade, mesmo que fosse de uma “igualdade formal”, presentes na ideia de criação de uma escola pública de formação de professores. 

Colégio da Imaculada Conceição - Fatos Históricos

...Pela manhã, os congressistas visitaram o Colégio da Imaculada Conceição. Às 15 horas, foram recepcionados pelo Interventor Carneiro de Mendonça, depois do que visitaram o Sanatório de Messejana e a casa em que nasceu José de Alencar.

Bairro Vila União

O crescimento populacional da Vila começa depois da Segunda Guerra Mundial com o loteamento de terras da área. É um bairro com uma população dividida entre classe média, média alta e pobre.

É isso amigos! O ano está acabando e eu só tenho a agradecer o carinho de todos e espero contar com vocês no próximo ano!

Forte abraço

Leila Nobre


*FN = Fortaleza Nobre

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O cordão das "Coca-colas"



O cordão das "coca-colas" foi criado logo após a guerra por um grupo de sargentos da Aeronáutica, como uma brincadeira em cima das moças que namoravam os soldados americanos. Fez sucesso pelos anos a seguir e chegou a ser um dos pontos de maior atração no Carnaval de rua de Fortaleza.

Nos idos de 45, terminada a Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos retornavam ao seu país de origem e as "coca-colas" ficaram desativadas. Mas não estavam mortas, tanto assim  que continuavam a desfilar seu charme e sua elegância pelas streets da urbe, motivando as mais variadas reações: as velhas e respeitáveis matronas, guardiãs da sagrada moral cristã, resmungavam, olhavam de esguelha, condenavam as meninas ao fogo eterno do inferno e até benziam-se. "T'esconjuro, filhas do mal!" As muito feias (que me perdoem) e desprovidas dos bafejos da deusa da beleza davam muxoxos e olhares de desdém. Despeitadas! As crianças ficavam boquiabertas ante aqueles mulheraços, verdadeiras afrodites, desafiando os costumes e a chamada Moral vitoriana
_"Mãe, que moça linda!" e a mãe puxando o rebento pela orelha: _"Não olha! É uma 'coca-cola!'..." Quanto aos homens, bem, os homens olhavam em torno, conferindo a possibilidade de uma possível reprimenda e, quando a situação se mostrava favorável, tascavam o infalível fiu-fiu e mais alguns galanteios nem sempre aprendidos nas cartilhas das boas maneira. Alguns até apelavam para a grossura. Vôte!

Mas elas passavam incólumes, sem olhar para os lados, que mulher de classe só olha para frente. E do altos das suas elevadíssimas sandálias Gilda. Pois, como já dizia o poeta Zé de Sales, "os cães ladram, mas a caravana passa". E as "coca-colas" passavam...
E passavam. Pois hoje, elas, que representaram (ou foram) o fenômeno de uma época, são, agora, apenas vagas lembranças de pessoas mais velhas. Nada foi escrito, nenhum registro foi feito. Os preconceitos não o permitiram. Acredito que tenha passado pela cabeça de algum jornalista da época documentar o fato numa grande matéria. Mas os pudores falavam mais alto. Está claro que toda sociedade se levantaria contra a "imoralidade."


Década de 40 - As Coca-Colas com os militares

As "coca-colas" surgiram, simultaneamente, com a chegada dos soldados americanos que aqui instalaram uma base aérea, no alvorecer dos anos 40. Melhor dizendo, elas foram consequência da permanência daqueles militares ianques em nossa capital. O epíteto coca-cola surgiu do fato de elas terem o privilégio de tomar o famoso refrigerante americano que, àquela época, a gente só conseguia "saborear" através dos filmes made in Hollywood. Também, por ser a Coca-Cola um dos mais conhecidos símbolos americanos. Em suma, foi alguma mulher feia e despeitada ou algum machão desiludido quem apelidou as atrevidas moças de "coca-colas."


O cordão das "coca-colas" - Arquivo Nirez

Da mesma forma como faltou, até agora, quem resgatasse a memória das "coca-colas", não surgiu, ainda, um sociólogo ou mesmo um psicanalista para elaborar um profundo estudo sobre o fenômeno. Doce e nostálgico fenômeno do qual pouquíssima pessoas se apercebem. Pois elas representam, há mais de quarenta anos, os anseios das mulheres de hoje: o profundo desejo de liberdade, a emancipação, o assumir as suas próprias vidas.

O que mais causa estranheza e que torna o capítulo "coca-colas" um fenômeno sem explicações é o fato de que, sendo Fortaleza, naqueles idos, uma ingênua província de cerca de duzentos mil habitantes, apenas 10% da população atual, tenha surgido um punhado de moças para enfrentar todos os preconceitos da moral cristã da época, afrontar as próprias famílias e, o que é pior, as maledicências dos vizinhos, numa atitude que, até nos dias atuais, ainda chocaria muita gente.


Soldados americanos dançando no Estoril com as Coca-Colas, durante a Segunda Guerra. Acervo Will Nogueira

Sabe-se que as guerras geram tragédias de todas as espécies, sendo uma delas a prostituição de jovens como única maneira de mitigar a fome e obterem recursos para ajudar familiares. Mas não era esse o caso de Fortaleza, distante dos campos de batalha e sem outras consequências mais danosas, exceto a paralisação das importações, quando o Brasil dependia, em grande parte, dos produtos oriundos da Europa. Por outro lado, essas moças, regra geral, eram bem nascidas, provinham de famílias até tradicionais de nossa terra, viviam bem, moravam bem, não havendo, portanto, o fator carência financeira. Elas namoravam os soldados americanos, assim como um outro grupo namorava os cadetes, da mesma forma como, após elas, outras moças se interessavam pelos sargentos da nossa base aérea. "Ai, da base!..."


Em plena Praça do Ferreira, O Jangadeiro era outro front na batalha das "coca-colas" contra os preconceitos. Ali, elas tinham encontros vespertinos com os soldados do Tio Sam.

Estudando-se mais a fundo a questão, chega-se à conclusão de que se tratava de um punhado de mulheres de mentalidade evoluída, sendo obrigadas a viver numa pequena cidade sem maiores opções, além das monótonas sessões de cinema, do lanche no O Jangadeiro, o passeio de bonde, olhar as vitrinas das lojas mais aristocráticas, fazer o footing nas praças. Os soldados ianques trouxeram outras opções, ajudaram a tirar da rotina, a vida desmotivada da cidade modorrenta. E elas queriam ser diferentes, queriam sair da rotina, ver caras novas, não serem obrigadas a namorar os rapazes locais, conhecidos e manjados.

E como eram as "coca-colas", indagam as pessoas mais jovens, quando escutam falar no assunto. Era mulheres maravilhosas, lindas, elegantes, vistosas, educadas, imponentes. Eram estrelas cintilantes que brilhavam com luz própria, a luz da personalidade e do desafio. Estrelas de um firmamento sem estúdio nem palcos iluminados. Eram mulheres inteligentes, luminosas e iluminadas que souberam viver uma época, tirar proveito de um instante, de uma fase, de um flash da vida para fazer uma eternidade. Pois elas nunca serão esquecidas. Viverão sempre, no coração daqueles que as viram e admiraram, embora (e infelizmente), sem coragem de dizer. Pois, as "coca-colas" eram tabu. E hoje, quando quase todos os preconceitos já ruíram por terra, muita coisa já se apagou da memória.


Mas há de aparecer alguém que faça justiça a essas mulheres tão maravilhosas e incompreendidas na época. Alguém que as efetive na história de Fortaleza. Não como algo burlesco ou ridículo, ao contrário, como uma passagem bela e, por que não dizer, como um original capítulo da nossa cultura.


A Vila Morena, na Praia de Iracema, transformada em clube dos oficiais norte-americanos durante a Segunda Guerra, era reduto das atrevidas "coca-colas", as moças da sociedade local que tinham coragem de enfrentar as críticas e condenações e assumiam a soldadesca invasora.

Que apareça alguém para documentar aquele instante tão alegre da nossa província e as divinas personagens  que se escreva um livro  ou se monte um musical. Que seja um balé ou uma opereta. Uma novela para tevê, até um filme. Para tudo se presta a história das "coca-colas". O cenário seria o velho Estoril, de tantos fatos, de tantas histórias. Pois, foi ali, na bela Vila Morena, que os soldados americanos transformaram em base, que o cordão das nossas alegres "coca-colas" fazia a festa. Uma festa que parecia não ter fim, quando, nas madrugadas, de longe se viam as luzes e se escutavam os cantos e os risos de alegria esfuziantes de uma juventude que queria, antes de tudo, viver.



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Livro Royal Briar de Marciano Lopes

sábado, 3 de abril de 2010

Estoril - Vila Morena



 Na época da Vila Morena - Acervo Carlos Juaçaba


Ícone da “boemia” da Praia de Iracema, a antiga Vila Morena, ou residência dos Porto, foi construída pelo comerciante pernambucano José Magalhães Porto, entre 1920 e 1925, sendo a primeira construção de destaque da então Praia do Peixe. José Porto desafiou os conselhos de amigos, que o alertava que a praia era perigosa e suas ondas eram muito fortes, instalando ali a sua moradia e dedicando o nome dela, como era usual à época, à sua amada esposa Francisca Frota Porto, de apelido ‘Morena’. A residência conservava ao redor lindo jardim onde também eram criadas algumas aves. Dizem que foi a primeira moradia com piscina de Fortaleza
Localiza-se na rua dos Tabajaras, 397 - Praia de Iracema.

Cartão postal colorizado à mão, no qual vemos a antiga Praia do Peixe nos anos 20, época da construção do Estoril. 

Sobre seu proprietário, é interessante salientar que ele ajudou o antigo Porto das Jangadas, que depois recebeu o nome de Praia do Peixe, a se chamar Praia de Iracema, bem como influenciou para que as ruas próximas à Vila tivessem seus nomes inspirados em tribos indígenas do Ceará, a rua da sua residência recebeu o nome de Rua dos Tabajaras.

Para a edificação da sua ‘Vila Morena’, ele utilizou a taipa (técnica construtiva vernacular à base de argila (barro) e o cascalho. Provavelmente, a taipa de mão, também conhecida como "à galega" em Portugal) e a ergueu sem ajuda de engenheiros. As paredes eram armadas de madeira (varas) com barro e pedaços de tijolos e pedras - tinha  portas e janelas com vidros importados, duas escadas "caracol", "frades de pedra" na frente, calçadas em pedra cristal em preto e branco tendo no centro as iniciais JMP que também eram usadas nos portais, vitrais coloridos com a inscrição "Vila Morena" no alto da torre. Foram empregados materiais nobres, importados da Europa, como as vidraças das portas que vieram da França, as duas escadas de ferro em caracol, fabricadas na Inglaterra e os vasos sanitários e louças oriundas da Alemanha.

                       Foto de 1943 - Detalhe para o clube de veraneio da época.
Foto do tempo do United States Office - USO

Serviu de residência para a família Porto até 1942, mas com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a família desloca-se para outra casa ao lado e arrendam a Vila Morena para às tropas americanas, que em 1943, o transformaram em cassino, sob a denominação de U.S.O. - United State Office. Era o clube de veraneio dos soldados. Nessa época, a Praia do Peixe já era Praia de Iracema, nome dado pela cronista Adília de Albuquerque, esposa do jornalista Tancredo Moraes.
 

Nesta época, o bairro ganhou visibilidade social como uma fase de glamour para a Praia de Iracema. O clube, de acesso quase exclusivo dos estrangeiros, teve na cidade grande repercussão e isso devido às suas noitadas patrocinadas pelo governo americano, com danças, jogos e shows de célebres artistas do cinema. São vários os relatos de que esse clube tornou-se um atrativo para as moças, que se dirigiam ao local para namorar os oficiais americanos, ficando conhecidas na cidade como Coca-colas.

A Vila Morena ainda com a placa da USO

Segundo Marciano Lopes, as "Coca-colas" surgiram, simultaneamente, com a chegada dos soldados americanos, no alvorecer dos anos 40. Melhor dizendo, elas foram consequência da permanência daqueles militares ianques em nossa capital. O epíteto Coca-Cola surgiu do fato de elas terem o privilégio de tomar o famoso refrigerante americano que, àquela época, a gente só conseguia "saborear" através dos filmes made in Hollywood. Também, por ser a Coca-Cola um dos mais conhecidos símbolos americanos. Em suma, foi alguma mulher feia e despeitada ou algum machão desiludido quem apelidou as atrevidas moças de "coca-colas."
As Coca-Colas eram moças da sociedade, bem nascidas, de famílias tradicionais, lindas, elegantes, vistosas, inteligentes, educadas e imponentes, que tiveram coragem de enfrentar as críticas e condenações da época. 

As Coca-Colas dançando com os soldados americanos na década de 40.

Militares norte-americanos no Estoril com algumas Coca-Colas na década de 40.   


A partir de 1948, dois portugueses (João Freire de Almeida e Antônio Português) alugam a casa e abrem um restaurante, que daria nova identidade a Vila Morena, o Restaurante Estoril (referência a uma freguesia portuguesa do concelho de Cascais), com especialidade em pratos portugueses. Em 1952, José Alves Arruda, conhecido por Zé Pequeno, assumiu a direção da casa, que passou a receber a boêmia de Fortaleza composta principalmente por intelectuais. 

A Vila Morena após a Segunda Guerra a abrigar o Estoril bar e restaurante que abrigava a intelectualidade fortalezense. Arquivo Nirez

   
Já na década de 60, o Estoril vira palco de veladas discussões políticas, fato que o tornou alvo de especial atenção para o governo durante o período da Ditadura Militar. Os discursos dos meios de comunicação também reafirmam esta representação descrevendo o Estoril, nos anos 60, como o lugar de “setores intelectualizados da cidade”.

Estoril de perfil em 1978 - Arquivo Nirez 


Com a intensificação da especulação imobiliária, no final dos anos 80, o bar e Restaurante Estoril, mesmo funcionando em precárias condições físicas e de higiene, continuava a ser referenciado nos meios de comunicação como ícone da boemia da Praia de Iracema. 

 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

Em 1986 ele recebe normas de proteção, preservação e conservação em documento assinado pela prefeita Maria Luíza Fontenele, após reivindicações da Associação dos Moradores e através do Projeto de Lei de autoria do vereador Samuel Braga.
O valor simbólico do edifício chegou a encobrir os riscos causados pela falta de segurança e limpeza, tanto que, mesmo após ser interditado pela Vigilância Sanitária em 1989, foi reaberto no dia seguinte, por intervenção do prefeito da época. 



Apesar dos vários alertas feitos à municipalidade, do perigo que corria a casa que aos poucos se deteriorava nada foi feito, até que o prédio ruiu em 1992, sendo então desapropriado pela Prefeitura Municipal que o comprou da família Porto pelo valor de US$ 250 mil e o tombou como patrimônio cultural em 1993 com objetivo de ser transformado em um Centro Cultural. Porém, em virtude do seu estado, em 1994 a torre e parte da fachada desmoronam em decorrência de uma chuva. Após esse fato, que foi intensamente noticiado pela mídia, a prefeitura assumiu a sua imediata reconstrução, isso ocorre na administração do prefeito Antônio Cambraia. A casa foi reconstruída, no entanto, usando concreto armado e alvenaria, quando a casa original era de taipa. O antigo edifício foi substituído por uma réplica, com algumas modificações na planta original. O prédio, coberto por telha marselha, possui dois pavimentos e uma torre. Passou a ser administrado pela municipalidade, sendo inaugurado em 31 de maio de 1995, como Centro Cultural da Praia de Iracema, com restaurante, bar, sala para exposições e espaço para cursos de arte e cultura.
 
 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires


 Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires


Em 2008 passou por nova reforma, que incluiu, entre outros itens, a recuperação de revestimentos de piso, teto e paredes, esquadrias, recuperação da coberta, demolições de acréscimos na edificação original, melhoria das condições de acessibilidade, sendo instaladas rampas, plataforma para acesso à parte superior do prédio, banheiro para pessoas com dificuldade de locomoção e elevador. O equipamento foi restaurado por meio do projeto ‘Nova Praia de Iracema’. Após a conclusão das obras, o Estoril foi novamente aberto para ser o novo carro-chefe do polo gastronômico e cultural da Praia de Iracema. O Estoril era entregue novamente aos intelectuais, boêmios, artistas e para todos aqueles que amam Fortaleza! 

  Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

  Foto do Livro de Luciano Maia- acervo Renato Pires

O Estoril - Acrílico sobre tela de Tarcísio Garcia










Fontes: Portal da História do Ceará de Gildácio Sá/ Arquivo Nirez

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