Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Farol
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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domingo, 11 de novembro de 2012

Fortaleza e o Mar



Entender a ligação da cidade de Fortaleza com o mar, é compreender o relacionamento dos pescadores com o mar, os quais vieram muitos da zona litorânea fora da capital e também do sertão, pois o bairro do Mucuripe, possuía e possui muitos pescadores provenientes dos municípios de Acaraú, Caucaia, Cascavel e Aracati que vislumbravam melhor condição de pesca, sustento da família e de fazer negócios em Fortaleza.


Ainda quanto à maritimidade, mesmo considerando que, historicamente, a cidade de Fortaleza se desenvolveu de costas para o mar e que o conceito de maritimidade “seja mais forte quando aplicado aos moradores com seus costumes em ilhas oceânicas e não especificamente no continente”, Diegues (1998), é importante fazer-se uma analogia quanto às práticas econômicas, sociais e simbólicas dos atores sociais com a Praia do Futuro e bairros vizinhos; principalmente, em função das transformações acontecidas nos últimos anos, na
faixa litorânea da Capital, quando as técnicas, o poder financeiro, as modificações dos agentes socioeconômicos transformaram-se. É como diz o senhor Possidônio Sousa Filho, que trabalha na Colônia Z-8 na Avenida Dioguinho, em entrevista em março de 2005:

"Aquela figura que vivia na praia e pegava sua jangada e ia para o mar, desapareceu. Por força da especulação imobiliária o pescador mora até em Messejana a quilômetros do litoral. Esta relação do pescador com seu meio ambiente foi radical por força do poder econômico e a evolução do próprio tempo, e as coisas se modernizam, e onde há modernidade há o poder
econômico que predomina, mas a vida social não mudou muito, apenas a relação do pescador com a previdência social teve alguma melhora, antigamente para um pescador se aposentar era uma dificuldade." 

Vila do Mucuripe, onde, ao longe se vê o movimento do incipiente Porto na década de 1940. Foto do Museu do Ceará

O bairro do Mucuripe reflete bem, na década de 1950, o relacionamento dos pescadores e suas famílias com o mar, vinculação mudada gradativamente, como relatado pelo presidente da Colônia Z-8, no entanto, àquela época, as atividades comerciais demonstradas pela partida dos homens de madrugada em busca do sustento da família, com suas jangadas de piúba de seis paus, e na venda do produto excedente no final da tarde, vista da Praia do Mucuripe na década de 40, eram característica que não existe mais. A participação da mulher no cuidar da casa e dos filhos, aliando-se a isso a
prática da confecção da renda e do labirinto, configuravam uma interação em todos os setores dos habitantes, refletindo um sentimento de maritimidade que outros chamam de sentimento praieiro, proveniente de muitos anos no bairro. 

Casebres na região da praia próxima ao antigo porto de Fortaleza. Arquivo H. Espínola

O mar é o personagem maior da gente do Mucuripe, como de todo praiano.  Dele tira o sustento, depende de suas entranhas para viver. E é dessa interação do homem com o mar que se compõe o contexto da história dessa comunidade. Ela conhece o mar...até certo ponto. Mas teme os seus mistérios. Sabe de seus riscos, dos seus caprichos. Pescador confia desconfiando do mar. Amigo íntimo, sim, mas que não admite certos descuidos. (GIRÃO, 1998:61).
As práticas dos pescadores e suas famílias expressas em sua religiosidade, superstições, personagens folclóricos, na luta da comunidade para alcançar progressos para o bairro em movimentos populares, as atividades de lazer à beira-mar, desde o mais simples piqueniques nos primórdios do Mucuripe até a primeira barraca a oferecer bebida, peixe  assado e aluguel de calção de banho, mostram o quanto à comunidade do Mucuripe é emblemática quando se fala de maritimidade. 

Acervo de Carlos Juaçaba

E, pela proximidade, os bairros contíguos do Farol, Serviluz, do Morro de Santa Terezinha e a própria Praia do Futuro possuem relações de vínculos com o bairro do Mucuripe e, naturalmente, com o sentimento de maritimidade. Entender a cidade de Fortaleza e seu relacionamento sertão-mar é captar os valores identitários como cada um de seus habitantes interage com a Cidade. Sendo assim, mesmo os provenientes do restante do Estado e os que já habitavam Fortaleza exerceram uma lógica baseada em princípios que aos poucos se vão amalgamando, criando outros conceitos. 

Aí pelos anos 40/50, a praia do Mucuripe, então poético recanto de pescadores, passou a receber uma  população estranha, procedente de outros pontos da cidade e do interior. O velho problema habitacional, agravado pelo êxodo de populações tangidas pela miséria dos camposgerava o fenômeno que se chama atualmente de favelização. O romântico e 
íntimo esconderijo de velhos homens do mar fizeram-se caótica albergaria de gente de doutras origens e de outros costumes. Em meio a essa desordem urbanística, implantou-se ai também a prostituição. (GIRÃO, 1998:32).

Especificamente na praia do Futuro, a prática da maritimidade existe por parte de pescadores que moram no Conjunto São Pedro e pessoas que, mesmo não sendo pescadores, vivem de atividades comerciais junto à pesca. Sendo assim, existem os que trabalham fabricando manzuás, redes de pesca e, quando no período de defeso da lagosta, trabalham em outras atividades que não sejam a pesca. Essas atividades são chamadas por eles atividades em terra, como de: 
servente de pedreiro, pedreiro, garçons em barracas de praia ou até mesmo pintando barcos
O fundamental é entender que, nos bairros, principalmente no Serviluz e no Farol, há grande atividade comercial, onde se sobrevive direta ou indiretamente da pesca, e a praia do Futuro, como limítrofe, também produz a sua parte, aumentando em direção ao rio Cocó na Praia do Caça e Pesca.

Construção da Avenida Beira- Mar - Jornal O Povo 18/12/1963

O perfil do pescador modificou-se nos últimos 40 anos. Esta transformação repercutiu não só na venda de terrenos nas margens da Avenida Beira-Mar, pois, com a construção da própria Avenida, também foi transformado o perfil social do pescador, não financeiramente, mas na possibilidade do jovem filho  de pescador procurar outras  atividades em terra para 
sobrevivência, pois a vida  do pescador não é muito fácil, como fala o senhor Possidônio, em entrevista em março de 2005: 

"A vida do pescador é muito sofrida, é um homem enfrentando as procelas do mar, que são violentas, a tempestade, também a falta do vento, que é o oposto. Tudo isso o jovem pensa, vê alguma facilidade em terra, ele não se arrisca mais em ser um pescador profissional, pode até iniciar e depois se afasta, mas alguns ainda têm no sangue o desejo de querer ser pescador." 

A Praia do Futuro ainda deserta nos anos 50 - IBGE

Falar em maritimidade, no entanto, não é apenas referir-se aos pescadores e às pessoas que trabalham em terra, em atividades vinculadas à pesca, pois os ambulantes, que são em torno de 2500, segundo a PGRU (Procuradoria Geral da União), possuem importância na sua sobrevivência que retiram na venda de seus produtos na faixa litorânea, além deles, os  barraqueiros que interagindo com frequentadores ocasionais, turistas,  empresários do ramo da hospedagem, marisqueiros do Caça e Pesca, todos esses atores sociais têm diferenciadas 
relações com o mar, extraindo dele a  sobrevivência ou interagindo com seus frequentadores, ofertando seus produtos, auferindo lucro pela paisagem natural, desenvolvida por diferentes meios de hospedagem. Sendo pode-se afirmar que estes outros personagens citados anteriormente, e não apenas os pescadores, possuem um sentimento indireto de maritimidade com a Praia do Futuro

Barracas típicas de tábuas na Praia do Futuro - Jornal O Povo 09/03/1983

A região da Praia do Caça e Pesca possui, mesmo de uma maneira menos intensa, pessoas que  sobrevivem das atividades pesqueiras, ou pescando para a subsistência, ao que se alia uma  cultura agrícola, ou a atividade da pesca do peixe e do marisco aliada à outra atividade urbana como: atuar de pedreiro, pintor ou com pequenos comércios, ou fabricando instrumentos para a pesca.  



Crédito: Praia do Futuro - Formas de Apropriação do Espaço Urbano - Pedro Itamar de Abreu Júnior

domingo, 6 de maio de 2012

Mucuripe - Fatos históricos do bairro



Foto bastante rara do Mucuripe. Detalhe para a igrejinha dos pescadores - Foto do Álbum Fortaleza 1931
  • 26 de janeiro de 1500 - De acordo com o pensamento do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, o Cabo de Santa Maria de la Consolación, onde esteve a frota do navegador Vicente Yañez Pinzón, seria a ponta do Mucuripe. A tese é aceita e contestada por muitos historiadores. Um mês depois de Pinzón, Diogo Lepe avistava o Rostro Hermoso (ponta do Mucuripe) e em seguida tomava o rumo de Pinzón. Vicente Yañez Pinzón era um navegador espanhol, que à procura de conquistas, riquezas e especiarias, aventurou-se pelos mares, em procura das Índias, por caminhos mais curtos, em direção ao por do sol e em fevereiro de 1500 aportou nas areias do nordeste do nosso continente, onde cavou o chão do futuro Brasil e ergueu aos ventos ocidentais a cruz que assinalava sua passagem. Hoje existe em Fortaleza um bairro com o nome de Vicente Pinzon.

Mucuripe em 1920 ou menos -  Nirez
Agosto de 1501 - Expedição comandada por André Gonçalves e Gonçalo Coelho chegou à enseada do Mucuripe, tendo entre seus tripulantes Américo Vespúcio.

                Registro raro do Mucuripe em 1935Acervo MIS

  • Junho de 1603 - A primeira vez que nosso solo teve contato realmente com a civilização foi quando Pero Coelho de Sousa aqui esteve, não com intuito civilizador, mas à procura de riquezas para cobrir perdas que teve na Paraíba, juntamente com seu cunhado, Frutuoso Barbosa. Em sua andança, esteve no Mucuripe, onde encontrou uma tribo indígena, e seguiu rumo a Ibiapaba, mas vendo fracassado o seu intuito, voltou, fundando na barra do rio Ceará  ou Itarema, um fortim ao qual batizou de São Tiago, chamando a região de Nova Lusitânia, que teria como capital Nova LisboaEra uma tosca paliçada de paus de quina e algumas casinhas de taipa. Mas logo Pero Coelho seguiu para Recife, deixando aqui Simão Nunes Correia, com 45 soldados.
O Mucuripe em 1939
  • 03 de abril de 1649 Desembarca no Mucuripe a segunda ocupação holandesa, comandada por Matias Beck, mas impedido pela arrebentação do mar, logo decidiu estabelecer-se à margem esquerda do riacho Marajaitiba (Pajeú), sobre o morro Marajaik, onde construiu com traçado do engenheiro Ricardo Caar, um forte, batizando-o de Schoonenborch em homenagem ao governador holandês em Pernambuco, a quem era subordinado, Walter van Schoonenborch. A limpeza do terreno iniciou-se no dia nove e no dia 18 foi feita a planta.
  • 1799 - Construído no Mucuripe uma estacada de pau a pique em forma de octógono com 45m de comprimento, batizado por Fortim de São Luís

  • 1801 - O Fortim de São Luís, construído no Mucuripe, é reforçado, sendo levantadas três baterias em pedra e cal, trabalho feito pelo tenente artilheiro Francisco Xavier Torres
As dunas do Mucuripe - Anos 50/60 - IBGE
  • 1802 - Em meados deste ano é levantada mais uma bateria do Fortim de São Luís, reforçando as defesas do Mucuripe, ocasião em que é rebatizado como Forte de São Pedro Príncipe, conhecido também por Fortim de São Luís, por ficar próximo ao porto de São Luís do Mucuripe.
  • 17 de agosto de 1826 - Aprovado o plano do Farol do Mucuripe, por D. Pedro, sendo aberto o edital de concorrência a três de novembro, mas a construção só se iniciou em 1840, ficando pronto em 1846.


As dunas do Mucuripe - Anos 50/60 - IBGE
  • 17 de novembro de 1846 - O Farol do Mucuripe foi terminado, construído pelos engenheiros Júlio Álvaro Teixeira de Macedo e Luís Albuquerque. Os planos para sua construção foram aprovados por Dom Pedro em 1826, mas sua construção só se iniciou em 1840. Hoje se encontra desativado, sendo ocupado por um museu. Sua localização é Avenida Vicente de Castro s/nº, na Ponta do Mucuripe.
  • 29 de julho de 1871 - Começa a funcionar o novo farol giratório do Mucuripe (Farol do Mucuripe). O Farol foi mandado construir, em virtude da lei nº 60 de 20/10/1838, artigo cinco, § 14 e iniciada a construção, no dia 01/05/1840 e concluído em 17/11/1846, sob a orientação dos engenheiros Júlio Álvaro Teixeira de Macedo e Luís Manuel de Albuquerque Galvão e do Maquinista Trumbull (Truberel). O farol tem a localização: Latitude sul 3º, 45`10 "e longitude oeste de Greenwich 38º, 35`nove". Sua luz era visível a 24km de distância, piscando a cada minuto. O foco luminoso elevava-se a 33m26, ao nível da preamar e contava com três faroleiros. Sua inauguração teve lugar no dia 29/07/1872. O primeiro faroleiro foi João Rodrigues de FreitasFoi desativado em 1958, quando foi inaugurado o novo farol. Abandonado, foi restaurado em 1981/82, pela Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará

  • 29 de julho de 1872 - Inaugurado o Farol do Mucuripe, comemorando o aniversário da Princesa Imperial, na Ponta do Mucuripe. Hoje está desativado.

  • 1916 - Inaugurado neste ano o Cemitério de São Vicente de Paula, no Mucuripe, construído com a "Campanha do Vintém", iniciada pelo hanseniano "Seu" Arcanjo e em terreno doado por Manuel Jesuíno.
  • 30 de dezembro de 1924 - Os jornais registram graves estragos, causados pela fúria do mar, à povoação do Mucuripe.
  • 11 de dezembro de 1930 - Por decreto desta data, o Arcebispo D. Manuel da Silva Gomes declara interditada a capela do Mucuripe e excomungados os indivíduos que arrombaram a porta do referido templo e dele retiraram a imagem de Nossa Senhora da Saúde.
Foto de 1931 - Nirez
  • 29 de agosto de 1931 - Criada a Paróquia de Nossa Senhora da Saúde do Mucuripe, cujo primeiro vigário foi o padre Luís Braga Rocha, que só assumiria em 8 de setembro.
  • 22 de abril de 1932 - Os pescadores do Mucuripe oferecem uma peixada ao Interventor Carneiro de Mendonça e ao Prefeito Tibúrcio Cavalcanti.
  • 21 de novembro de 1937 - Consagração do novo altar-mor da igreja do Mucuripe, ato oficiado pelo Arcebispo D. Manuel. Seguiu-se a primeira missa celebrada no referido citar e que foi rezada pelo Pe. André Camurça, Cura do Mucuripe.
  • 03 de junho de 1940 - Nas obras do porto de Mucuripe ocorre grave desastre, com o desabamento da torre do guindaste ‘Titã’. Ficam feridos dez operários, um dos quais faleceu horas depois.
Outubro de 1965 - Nirez
  • 25 de dezembro de 1947 - O serviço de embarque e desembarque marítimo, de passageiros e cargas, passa a ser feito no Porto do Mucuripe, ainda por meio de botes e alvarengas, até que as obras permitam a atracação dos navios. É desativado o antigo porto, ou seja, o "molhe de desembarque", que era a Ponte Metálica, oficialmente, Viaduto Moreira da Rocha
  • 01 de maio de 1954 - Fundado em Fortaleza o Iate Clube, associação de caráter esportivo e recreativo para promoção de corridas de barcos, pesca, banhos de mar, etc., com secretaria na Rua Senador Pompeu nº 1152 e sede na Avenida da Abolição 4813, no Mucuripe com restaurante para os sócios aberto ao público. 
  • 26 de maio de 1954 - Com a presença do governador Raul Barbosa e do prefeito de Fortaleza, Paulo Cabral de Araújo, realiza-se, em Fortaleza, a solenidade de inauguração do novo terminal oceânico, que a Esso Standart do Brasil construiu no Mucuripe, inaugurando o Terminal Oceânico do Mucuripe para recebimento de petróleo, que facilitará o abastecimento de produtos de petróleo dos estados do Ceará, Piauí, sul do Maranhão e, eventualmente, o Rio Grande do Norte. Falaram sobre a importância da obra o prefeito Paulo Cabral e o industrial Diogo Vital de Siqueira. O vigário do Mucuripe, padre José Nílson benzeu as novas instalações. 
  • 10 de novembro de 1954 - Iniciada a construção do Grupo Escolar do Mucuripe, pela Secretaria de Educação e Saúde, com verba do governo federal, prédio vizinho ao Círculo Operário daquele bairro, que é uma iniciativa do padre José Nílson Lima, vigário do Mucuripe. 
Mucuripe em 1989 - Foto de Chico Albuquerque
  • 21 de setembro de 1955 - Entra em funcionamento em teste experimental o Moinho Fortaleza, de J. Macedo & Cia., com capacidade para 48 toneladas, instalado no Mucuripe. 
  • 01 de agosto de 1957 - Reaparece, tão misteriosamente como havia desaparecido há 30 anos, da Igreja de Mucuripe, a imagem de Nossa Senhora da Saúde.
  • 13 de dezembro de 1958 - O velho Farol do Mucuripe, localizado na Ponta do Mucuripe, na Avenida Vicente de Castro s/nº, é desativado em virtude do início do funcionamento do novo Farol, cuja inauguração oficial se deu no dia 15. 
  • 24 de janeiro de 1961 - Trágico fim de um passeio no Mucuripe quando uma duna soterrou, matando três crianças - Mércia, de 12 anos, Milson, de 8, Milton, de 6, sob as vistas não só dos irmãos Marcos Aurélio, de 13 anos, Maurício, de 10, seus companheiros de brincadeira, que escaparam milagrosamente do desmoronamento da barreira, mas também dos próprios pais que, tendo ficado próximo do local do desastre, no jipe, com os demais filhos Márcia Maria, de 1 ano, e Mauro Luis, de 2, nada puderam fazer para salvá-los.

Continua...
Fontes: Revista do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Nirez

domingo, 1 de agosto de 2010

Farol do Mucuripe - O antigo

Foto do Farol do Mucuripe, publicada no Jornal O POVO, em 01/07/1953

Em 17 de agosto de 1826 é aprovado o plano do Farol do Mucuripe, por D. Pedro I, sendo aberto o edital de concorrência a 3 de novembro, mas a construção só se iniciou em 1840. O Farol foi mandado construir, em virtude da lei Nº 60 de 20/10/1838, artigo 5, § 14 e iniciada a construção, no dia 10/5/1840.

O Farol do Mucuripe foi terminado em 17 de novembro de 1846, construído pelos engenheiros Júlio Álvaro Teixeira de Macedo e Luís Manoel de Albuquerque Galvão e do Maquinista Trumbull (Truberel).

Começa a funcionar, em 29 de julho de 1871, o farol giratório do Mucuripe. O farol tem a localização: Latitude sul 3º, 45'10" e longitude oeste de Greenwich 38º,35'9". Sua luz era visível a 24km de distância, piscando a cada minuto. O foco luminoso elevava-se a 33m26, ao nível do preamar e contava com três faroleiros. Sua inauguração teve lugar no dia 29/7/1872, um ano depois. O primeiro faroleiro foi João Rodrigues de Freitas.

No dia 13 de dezembro de 1958 o velho Farol do Mucuripe é desativado em virtude do início do funcionamento do novo Farol, cuja inauguração oficial se deu no dia 15. No ano seguinte, no dia 12 de dezembro, durante a Semana da Marinha, é entregue o antigo Farol do Mucuripe ao Serviço do Patrimônio da União.

Em 25 de junho de 1971, a Capitania dos Portos doa à Prefeitura de Fortaleza, o Farol do Mucuripe, que deveria transformá-lo no Museu do Jangadeiro.

A foto antiga mostra como era o farol desde sua inauguração até a década de 50, reinando solitário entre as dunas.
A foto atual, de Osmar Onofre, o mostra "sufocado" entre casas e casebres, apesar de bem tratado, todo pintadinho, servindo de museu.

"Esse velho Farol entrou em funcionamento aos 17 de novembro de 1846, construído pelos Engenheiros Júlio Álvaro Teixeira de Macedo e Luis Manuel de Albuquerque Galvão, com ajustes práticos do maquinista Trumbull.
Passou esse colossal ícone de aviso aos navegantes a ser giratório, em julho de 1871, chegando sua luz a ser vista em até 24 quilômetros e piscando de minuto em minuto. Quem colocava o farol em funcionamento ao entardecer, denominou-se Faroleiro, sendo o primeiro João Rodrigues de Freitas.
Exatamente no dia 13 de dezembro de 1958 (ano de seca), o velho farol foi aposentado, nascendo no mirante (Morro de Santa Terezinha) um novo Farol. Como existe na Orla Marítima faixa de domínio, também o prédio do Farol, era patrimônio da União. A Marinha do Brasil em 1971 doou a edificação que um dia era luminosa, para a Prefeitura de Fortaleza. Assim nasceu o Museu do Jangadeiro, que já vinha no papel na Gestão Vicente Fialho."    Assis Lima





Crédito: Portal da história do Ceará/Nirez/Assis Lima


terça-feira, 2 de março de 2010

Postais - Uma viagem no tempo



Começaremos indo ao ano de 1959 e visitando através desse Postal a Praia do Iate Clube, nessa época essa praia fervia de banhista

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Essa é a Praia do Peixe, início da década de 1920 com panorâmica ao fundo do viaduto Moreira da Rocha-Faz parte do arquivo Nirez ~~~~°°°~~~~

Esse já colorido é da Praia do Náutico também chamada de Praia do chifre(se bem que isso pra mim não passa de um canudinho em tamanho grande rsrs)
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Agora um da Praia do Mucuripe com o velho Farol aparecendo sem problemas, já hoje ele ficou escondido pelos prédios ~~~~°°°~~~~

Essa é a bela Praia do Meireles em 1972
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Mais dois belos postais da Praia do Meireles
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Praia do Arpoador, em Fortaleza, Zona Oeste déc de 50
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Praia de Iracema, 1920 - Arquivo Gerard Boris
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Vamos agora para o distante ano de 1930 nesse maravilhoso postal da Praia de Iracema
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Praça José de Alencar-detalhe para o prédio branco- o Lord hotel, tombado e que será recuperado em breve. Aqui ele está novinho em folha, inaugurado em 1956

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Esse é antigo 1908 da Praça José de Alencar (Nessa época chamada de Praça do Patrocínio)
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Outro postal da Praça José de Alencar - Anos 40

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Praça General Tibúrcio (atual praça dos Leões)
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Praça Capistrano de Abreu, a praça da Lagoinha

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Praça Barbara de Alencar
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Um antigo postal da Praça Cristo Rei
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Postal de 1935 Praça da Lagoinha
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Postal raro, de 1931 Largo da Assembleia e cruzamento da rua Floriano Peixoto com a rua São Paulo. A esquerda o Palacete Senador Alencar, atual sede do museu do Ceará
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Postal raro do Centro - Final dos anos 30
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Postal raro da Rua Guilherme Rocha, anos 20. Loja Trianon

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Postal raríssimo, final dos anos 30
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Postal Praça Clóvis Bevilacqua, 1935
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Postal datado de 1945
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Postal Congresso Estadual
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Postal Cidade da Criança, 1930


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Mucuripe - A vila de pescadores que virou um dos bairros mais famosos de Fortaleza (Parte II)



"Às nove horas em ponto, quando soprava um bom nordeste, empurramos a jangada pra dentro d'água. Ia começar a nossa aventura. O samburá estava cheio de coisas, a barrica cheia d'água e os nossos corações cheios de esperança. Partimos debaixo de muitas palmas e consegui ver de longe os meus bichinhos acenando. Mais de vinte jangadas, trazidas por nossos irmãos de palhoça e de sofrimento, comboiaram a gente até a ponte do Mucuripe. A igreja branquinha foi sumindo e ficou por detrás do farol. Rezei pra dentro uma oração pedindo que a Padroeira tomasse conta dos nossos filhinhos, pois Deus velaria por nós. E assim começou nossa viagem ao Rio de Janeiro...".


1941 - Preparativos para a viagem até o RJ

Assim Manuel Olímpio Meira, um pescador cearense mais conhecido por Jacaré, começou seu diário de bordo. Em 1941, ele e mais três jangadeiros - Mestre Jerônimo (Jerônimo André de Souza), Tatá (Raimundo Correia Lima) e Manuel Preto (Manoel Pereira da Silva) - saíram do Ceará com destino ao Rio de Janeiro - na época a capital da República - distante 1.500 milhas náuticas (mais de 2.700 km), navegando na jangada “São Pedro”. Sem cartas, sem bússolas e munidos apenas de seu conhecimento prático e coragem, foram reivindicar junto ao Governo de Getúlio Vargas melhores condições da comunidade de pescadores de sua região, tentando fazer com que sua profissão fosse reconhecida, impedindo os pescadores de obter seus direitos trabalhistas. O pescador Manuel não se conformava com o fato dos jangadeiros não serem donos das próprias embarcações. Por esse motivo, viam-se obrigados a entregar metade do resultado da pesca de cada dia aos proprietários das jangadas. A outra metade tinha que ser dividida entre os quatro pescadores que tripulavam a jangada. Reivindicavam que a divisão fosse feita na base de 1/5, ou que a própria colônia possuísse suas jangadas para dar ou emprestar aos pescadores.

Mestre Jerônimo
Foto: Antonio Ronek - Revista do Globo (Acervo Ricardo Chaves)



Para levar ao presidente da República as reivindicações da sua classe, Manuel – que liderava o grupo - esforçou-se para aprender a ler e escrever. Ele procurou a professora dos meninos da colônia, Lyrisse Porto, e pediu para alfabetizá-lo. Durante dois anos, ficavam além do horário das aulas regulares na escola estudando. Nesse tempo também trabalhou para angariar recursos financeiros e obter autorização para realizar a viagem.

Manuel Preto
Foto: Antonio Ronek - Revista do Globo (Acervo Ricardo Chaves)



Jacaré nessa época presidia a colônia Z-1, que ficava na praia de Iracema, em Fortaleza. Ali a então presidente da “Associação de São Pedro”, entidade religiosa que prestava assistência às famílias dos pescadores, empreendeu juntamente com Fernando Pinto, presidente do elegante “Jangada Clube”, que também ficava em Iracema, uma campanha entre autoridades e membros da sociedade local a fim de levantar fundos para a realização do sonho dos pescadores. Ao final, havia dinheiro para a construção da jangada, para a compra de víveres para abastecer os tripulantes e para assistir suas famílias enquanto os pescadores estivessem fora. Eles navegaram por sessenta e um dias em condições precárias, enfrentando tempestades, tubarões e calmarias, de Fortaleza ao Rio de Janeiro.



A autorização para a realização da viagem custou a ser dada. Houve pressão da imprensa local e também do Rio de Janeiro, onde até o jornalista Austregésilo de Athayde escreveu uma matéria apaixonada intitulada "Deixem vir os jangadeiros". Afinal, a Marinha Mercante, a quem foi entregue o caso, autorizou a partida e mesmo assim somente mediante a assinatura, pelos quatro, de um termo de responsabilidade.

O “Raide” como foi conhecida a viagem na época, vinha parando por cidades no litoral e conforme isso acontecia os pescadores ganhavam notoriedade: eram recebidos pelas autoridades locais e tinham a cobertura da imprensa. O jornal carioca “Diário da Noite” de 12 de novembro de 1941 relata um fato curioso, em entrevista com o próprio Jacaré: “Na hora das bebidas, quando levantaram as taças pra nós, um doutor perguntou quem estava escrevendo o diário de bordo. Eu disse que era eu. E ele bebeu a cerveja e disse: - Salve o Pero Vaz de Caminha da jangada! Eu fiquei intrigado: Salve quem homem? E ele tornou a repetir: - Pero Vaz de Caminha! Aí o Tatá emendou: - Esse não veio não Senhor...”.


Orson gravando o filme - 1942




O trecho de Maceió à Bahia, não foi registrado no "diário de bordo". O trecho a seguir também foi retirado de uma outra entrevista com Jacaré: "Entre Maceió e Bahia, pertinho da boca do São Francisco, pegamos um temporal de arromba. A nossa roupa de algodãozinho, pintada com tinta de cajueiro, começou a rasgar, pois o mar de um mês de viagem estragou o pano. Um jornalista em Maceió ficou com cara de bocó quando soube que nós não tínhamos bússola nem cartas de navegação. A gente se guia pelas estrelas e deixa o vento fazer o resto. Também pertinho de São Salvador vimos cinco ou seis pintadinhos (tubarões) à flor d'água, com as bocas abertas, prontos para engolir o primeiro cabra que aparecesse. Largamos eles de mão e continuamos o nosso caminho..." - contou Jacaré.

Jacaré




Em 15 de novembro a jangada São Pedro entrou nas águas da baía da Guanabara, acompanhada por muitos barcos que formavam uma procissão. Logo depois, a jangada foi retirada apoteoticamente da água e colocada em um caminhão sob aplausos de uma multidão que se aglomerava para ver de perto a chegada dos heróis. O cortejo seguiu pelas principais avenidas do Rio de Janeiro e na Praça Mauá um palanque estava montado para os discursos. Ao final do dia eles foram atendidos por Vargas.




Para Jacaré a importância do fato era imensa: “O doutor Getúlio Vargas, quando eu topei com ele de proa, viu logo que eu fiquei nervoso. Menino, eu algum dia pensei falar com o presidente da República? O presidente ouviu tudinho e ficou tão nosso camarada, que às vezes eu pensava que nem estava diante do chefe da nação”. Getúlio Vargas entretanto registra o fato de maneira simplória em seu diário se comparada ao heroísmo, coragem e importância do ato dos pescadores: “... à tarde, no (palácio) Guanabara, recebo os jangadeiros cearenses e assisto ao desfile trabalhista em homenagem aos mesmos”. Nada mais foi anotado.

Os jangadeiros passaram 15 dias na capital, cumprindo uma agenda “oficial” extensa, sempre acompanhados por agentes do DOPS. Segundo escreveria mais tarde Edmar Morel, jornalista dos Diários Associados, Vargas, através do Ministério do Trabalho, queria evitar o contato dos pescadores com “as esquerdas”...

Os quatro voltaram ao Ceará num avião Douglas DC3 da Navegação Aérea Brasileira e foram aclamados como heróis, recebendo medalhas do interventor Menezes Pimentel (na época, os estados eram governados por interventores nomeados por Vargas). A extensão dos direitos trabalhistas à classe dos pescadores, incluindo-se a aposentadoria, saiu com a edição do Decreto-Lei 3.832 em 18 de dezembro, um mês depois da chegada da tripulação da São Pedro ao Rio de Janeiro.



Mas assim que se encerraram as comemorações, Jacaré e os outros se defrontaram novamente com a realidade, tendo que pressionar os órgãos competentes a cumprirem as promessas expressas no decreto presidencial e lutar para apurar denúncias de irregularidades cometidas pela Federação dos Pescadores do Ceará.


No ano seguinte, 1942, o jovem cineasta Orson Welles veio do México ao Brasil...



A praia em que Welles gravou as cenas e se encantou. O Mucuripe
e suas jangadas, um dos símbolos do Ceará. Belíssimo postal dos anos 40


E o Mucuripe vira filme...

Fortaleza em 1942 apresentava um pouco mais de 150 mil habitantes. Dormia-se cedo, por volta das 21 horas. A beira-mar era vazia, não havia edifícios, somente casas de pescadores. O Mucuripe era de difícil acesso.
No início dos anos 40, quatro pescadores brasileiros se lançaram ao mar para uma viagem que entrou para a história dos jangadeiros cearenses, da navegação, do Estado Novo e do cinema. Tão arriscada foi ela, que até na imprensa americana ganhou espaço nobre. Num artigo intitulado Four Men on a Raft (Quatro Homens numa Jangada), a revista Time (8/12/1941) reproduziu toda a odisséia de Manoel Olímpio Meira (Jacaré), Raimundo Correia Lima (Tatá), Manuel Pereira da Silva (Mané Preto) e Jerônimo André de Souza (Mestre Jerônimo), que a bordo de uma jangada singraram os 2.381 km que separam Fortaleza do Rio de Janeiro, sem bússola ou carta náutica.

Postal também dos anos 40


Foram mais de 61 dias de viagem pelo mar...

Os jangadeiros queriam chamar a atenção do País e do governo para o estado de abandono em que viviam os 35 mil pescadores do Ceará.

Até que....então...

Na primeira semana de dezembro de 1941, folheando a Time, Orson Welles tomou conhecimento da proeza de Jacaré & cia., e teve um estalo: ali estava o segundo episódio brasileiro de It's All True, o filme pan-americano que o governo Roosevelt há pouco lhe encomendara.
Welles chegou ao Brasil em 8 de fevereiro de 1942, filmou o carnaval carioca, e em 8 de março fez uma viagem de reconhecimento a Fortaleza. Lá chegou num vôo especial da NAB (Navegação Aérea Brasileira) e foi recebido como "um Napoleão do cinema". Hospedada no Excelsior Hotel, no centro da cidade, a entourage It's All True (Welles levou seis acompanhantes, entre os quais Morel, seu fiel assistente Richard Wilson e a tradutora Matilde Kastrup). Dois meses mais tarde, Jacaré e seus três companheiros foram trazidos de avião até o Rio e hospedados no hotel Copacabana Palace. Por 500 mil réis semanais, participariam de algumas cenas do episódio carnavalesco, ao lado de Grande Otelo, rodariam no aeroporto a despedida do Rio e reconstituiriam, numa praia da Barra da Tijuca, a triunfal chegada da jangada ‘São Pedro’ à Baía de Guanabara. Nessa ordem.



Várias tomadas da chegada ao Rio chegaram a ser feitas, no dia 19, mas uma manobra infeliz da lancha que rebocava a jangada a teria virado na praia de São Conrado, jogando ao mar agitado os seus quatro tripulantes. Três se salvaram. O corpo de Jacaré desapareceu e nunca foi encontrado.



Ainda assim, Welles foi em frente. As coações, quase sempre veladas, da ditadura getulista o perturbavam bem menos que o assédio crescente da RKO e do governo americano, que o acusavam de gastar dinheiro a rodo.
Do Rio, novamente Welles desembarcara na Base Aérea de Fortaleza às 15h30 do dia 13 de junho. Apesar do que ocorrera com Jacaré, foram acolhidos com enorme simpatia. Para assegurar maior tranqüilidade aos trabalhos, estabeleceram-se nas areias do Mucuripe e ali rodaram a história de amor do jovem pescador (José Sobrinho) com uma bela morena (Francisca Moreira da Silva, então com 13 anos), o casamento dos dois, a morte do jangadeiro e seu enterro nas dunas, a conseqüente revolta dos pescadores pelas suas precárias condições de vida e a decisão política do reide até o Rio de Janeiro. No papel de Jacaré, puseram seu irmão Isidro.

Mais cenas do Mucuripe de 1942:



A despedida aos jangadeiros que partiam rumo ao Rio de Janeiro.





Em Fortaleza, Welles revelou-se um homem radicalmente diferente do garotão farrista e mulherengo que os cariocas conheceram. Não deixou de ir a festas (chegou a marcar quadrilha num folguedo junino), nem de frequentar o Jangada Clube, mas parou de beber e deu um duro danado nas seis semanas que lá passou, correndo contra o relógio e fazendo malabarismos com o orçamento. Sempre alegre, passou a viver com os pescadores, que o tratavam de "galegão legal" e admiravam o seu desprendimento de confortos materiais e sofisticações culinárias. Dormia numa cabana rústica, mal protegida dos raios solares, e à noite, depois de encarar um portentoso prato de feijão com arroz e peixe, recolhia-se para escrever madrugada adentro.

O Primitivo Jangada Clube

Cine Diogo anos 40, onde Welles foi barrado, pois era preciso usar paletó para entrar.

O filme “It's All True” ficou inacabado, mas ele filmou tudo. O problema era a questão da censura, tanto do estúdio RKO quanto do Estado Novo. Eu sei que boa parte do filme ficou escondida, tem aquela história de que muita coisa foi jogada ao mar.



Jornal O Povo 1942


Considerações:



Welles ficou no Ceará por 06 semanas. O filme fazia parte da política da Boa Vizinhança, uma forma de os EUA manter sob-tutela os países latino-americanos.
Muitos rolos do filme foram jogados em alto-mar...
Com locações no Rio, Fortaleza, Bahia, pedaços de São Luís, Recife, e México, e com a maior parte da locação feita na ponte-aérea RJ-CE, sobraria a montagem póstuma do material considerado perdido, realizado por Welles, em 1942
O episódio cearense, “Quatro homens numa jangada”, mostrar-se-ia o mais completo daquilo a ser resgatado. São 46 minutos buscando respeitar o roteiro original, com uma folha de 12 cenas principais.
O público brasileiro teve acesso ao filme, pela primeira vez na história, somente em 1986 e 1994.





Em 1985 o público de Fortaleza assistira o longa “Nem tudo é Verdade”, de Rogério Sganzerla, recriação dramatizada da passagem de Welles pelo Brasil. Nessa época, o Globo Repórter também apresentou as cenas.
Já em 1994, o público viu as imagens editadas que Welles fez dos jangadeiros; o trabalho reúne depoimentos antigos sobre o inacabado filme, resgatando imagens cariocas do Carnaval, jangadeiros cearenses, com 42 minutos e o segmento mexicano do filme “My friend bonito”.
Welles ficou hospedado no Excelsior Hotel, o primeiro arranha-céu de Fortaleza, levantado em 1931. Bebeu guaraná e fazia reuniões no Jangada Club, primitiva construção, infelizmente demolida nos anos 80. Lá, se encontrava, nas paredes, autógrafos do cineasta. Uma pena.

Situação Atual dos pescadores:


Mesmo a categoria sendo amparada pela CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-Lei 5.452 de 1º de maio de 1943, o desconhecimento da legislação, por parte de funcionários do INSS, dificulta a obtenção de aposentadoria, auxílio doença e pensão até hoje. Acontece que ao pescador artesanal é assegurada uma legislação especial, componente da CLT, que o desobriga de contribuição previdenciária junto ao INSS, pagando mensalidade de associado à Colônia. A confusão começa quando são protocolados requerimentos para a obtenção de benefícios previdenciários. Atendentes de balcão se recusam a receber a documentação, sob a alegação de que o profissional não contribui diretamente à Previdência. Os casos são resolvidos em instâncias superiores e demoram meses.











Foto ao lado: Imagem rara das filmagens de Welles no Rio de Janeiro,provavelmente momentos antes da morte de Jacaré.



Observação: Mais de 30 mil metros de rolo ainda estão nas latas, aguardando para serem preservadas e deteriorando...


Leia a primeira parte AQUI


Fonte: Diário do Nordeste/Estadão/Nirez/Fortal e Pesquisas na internet

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: