Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Luiz Severiano Ribeiro
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado



O ingresso de Severiano Ribeiro na área da exibição cinematográfica ocorreu com a inauguração do Cine Riche, no dia 23 de dezembro de 1915. Este cinema estava localizado justamente onde, em 1908, Victor 
DiMaio havia instalado a primeira sala de exibição cinematográfica de Fortaleza, o Cine DiMaio. O sócio de Luiz Severiano Ribeiro era Alfredo Salgado, empresário e homem de negócios, que mais tarde irá 
investir no Cine - Theatro Majestic Palace
Alfredo Salgado foi um importante nome na luta pela abolição da escravatura. Nascido em Fortaleza, no 
dia 1º de setembro de 1855, era filho de Francisco Luís Salgado e Virgínia da Rocha Salgado. Aos 
quatorze anos de idade, vai estudar na Inglaterra, graduando-se em Comércio. Alfredo Salgado trabalhou na Casa Inglesa, uma filial cearense da firma Singlehurst & Cia., de Liverpool. Durante muitos anos foi intérprete no comércio local dos idiomas alemão, francês e inglês, sendo respeitado em seu meio social. 
Alfredo Salgado foi membro da Sociedade Perseverança e Porvir, dedicada à luta pela Abolição da Escravatura e transformada posteriormente na Sociedade Cearense Libertadora.  


Ele compartilhava suas idéias abolicionistas no Clube Iracema, cuja inauguração ocorreu em 1884, ano da Abolição da Escravidão no Ceará. Este clube era “...muito mais que um mero espaço para diversões refinadas, pois logo se transformou em um núcleo irradiador de expressivos movimentos sócio - políticos e círculos de saber em Fortaleza no final do século passado”. (Sebastião Rogério Ponte)

Transitando nestes espaços de lazer e fazendo parte da elite comercial da cidade, Alfredo Salgado era respeitado em seu meio social além de ser uma das figuras mais destacadas da cidade. Como ressalta o historiador Raimundo Girão, o cearense Alfredo Salgado era “Finamente educado, cavalheiroso, sempre brumelicamente trajado, mesmo durante 
a velhice, gozou de grande relevo social, e no seio das classes comerciais manteve-se como figura de alto acatamento “.


A presença de Alfredo Salgado, como investidor na área de cinema, mostra uma mudança em relação aos primeiros exibidores no país –estrangeiros, como por exemplo, os italianos Vitor DiMaio e Paschoal Segreto. Estes exibidores de outrora geralmente eram homens de posses medianas e ligados ao ramo da 
diversão. 
Vitor DiMaio, na condição de exibidor ambulante, esteve em várias cidades brasileiras e também chegou a instalar salas fixas de cinema, como foi o caso do já referido Cine DiMaio. Este pioneiro, nascido em Nápoles, a 14 de abril de 1852, dedicou-se ao cinema por toda vida chegando à velhice pobre e doente, vindo a falecer no dia 21 de abril de 1926, em Fortaleza, no Café Art – Nouveau, no mesmo prédio onde havia instalado o Cine DiMaio
Paschoal Segreto, imigrante pobre vindo da Itália, foi o primeiro grande empresário voltado para o entretenimento no Brasil. Junto com seu irmão Gaetano, chega ao Brasil em 1883, iniciando uma trajetória de bastante sucesso no ramo das diversões. Pioneiro, funda a primeira empresa de porte e de nome nacional do setor, a mitológica EMPRESA PASCHOAL SEGRETO, que Paschoal nunca formalizou e só foi registrada depois de sua morte. Paschoal observa o sucesso das exibições irregulares do cinematográfico realizadas no Rio e mesmo com a instabilidade da energia por vezes prejudicando a nitidez das sessões, resolve investir no negócio. Em 31 de julho de 1897, em sociedade com Cunha Salesfunda na privilegiada rua do Ouvidor o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, a primeira sala “fixa” de exibição cinematográfica do país. Com o extraordinário sucesso de público do SALÃO, o cinema seria a menina dos olhos de Paschoal, investimento no qual apostaria antes que qualquer outro aqui. Também com o cinema ficaria conhecido e daria uma nova dimensão a seus negócios. Duplamente pioneiro, além de importar fitas para a programação 
regular da sala, manda seu irmão Afonso para o exterior comprar e aprender a manejar um equipamento cinematográfico. Em agosto de 1898, um incêndio destrói por completo o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, assim como o resto, os dois outros andares onde os Segreto guardavam equipamentos e estoques e moravam. No entanto, o prédio estava no seguro, e, depois de contestado, Paschoal é pago e, em janeiro de 1889, reabre o cinematógrafo, já sem a parceria de Cunha Sales, que leva seus negócios para Petrópolis, onde era menos notório.


Afonso Segreto junto aos primeiros projetores 

Estando ligado ao ramo da diversão, Paschoal Segreto era um tipo de exibidor cinematográfico característico deste período inicial do cinema. A Empresa Paschoal Segreto marcou presença na capital cearense no ano de 1904 em uma breve temporada de 26 de novembro a 11 de dezembro.¹
Com relação a Alfredo Salgado, ele fazia parte daquela classe média que havia ascendido como elite na virada do século XIX para o XX. Por qual motivo ele investiu em cinema? O que significa sua inserção na atividade cinematográfica em parceria com Severiano Ribeiro? O fato do cinema ser um capital novo que passava a circular na cidade e as mudanças ocorridas com o cinema no âmbito mundial podem nos ajudar a entender a presença de Alfredo Salgado como sócio investidor de Luiz Severiano Ribeiro


Quando em 1915, Alfredo Salgado fez parceria com Severiano Ribeiro na criação do Cine Riche, buscava obter lucro com a atividade cinematográfica em um momento onde estavam ocorrendo mudanças significativas nas práticas de exibição cinematográfica em termos mundiais. À partir deste ano, a indústria cinematográfica visava atingir um público consumidor burguês, isto é, um público distinto daquele de outrora quando o cinema era um divertimento barato e voltado para o público masculino. 


O Cine Riche funcionava no mesmo prédio onde antes esteve o 
Café Riche, na Guilherme Rocha, ao lado da Praça do Ferreira

As mudanças nas práticas de exibição visavam atender a um público elitizado, abonado financeiramente, que passava a ter no cinema um elemento de diferenciação social. Vale ressaltar que a presença do público feminino passa a ser valorizada com a feitura de produções cinematográficas voltadas para as mulheres. O cinema mudou seu formato de exibição, deixando de ser uma simples curiosidade popular para atrair um novo público “...com as possibilidades narrativas abertas pela linguagem cinematográfica a atividade 
tende a se dignificar através das novas histórias que passa a contar, atraindo o público burguês, o que demanda mudanças nas práticas de exibição.” (SCHVARZMAN, Sheila. Op. Cit., p. 154)

Em Fortaleza, a elite composta por médicos, advogados, jornalistas, professores e sobretudo comerciantes, era o grupo social que passava a ter no cinema um lugar de distinção social. Certamente visando lucrar com este novo público consumidor e possuidor de capital, tendo a frente a elite comercial,  é que Alfredo Salgado, que já era um grande comerciante, passa a negociar com Luiz Severiano Ribeiro. Assim sendo, Alfredo Salgado investia nas salas de cinema, enquanto Severiano Ribeiro ficava responsável pela gestão do empreendimento. 



Apostando nesse novo público, em 1915, com o Cine Riche e, em 1917, com o Cine Theatro Majestic Palace, Alfredo Salgado e Severiano Ribeiro fizeram uma parceria que favoreceu a consolidação deste último como grande nome da atividade cinematográfica. Ao se aliar a Alfredo Salgado, Luiz Severiano Ribeiro fazia parceria com uma importante figura da sociedade cearense, o que lhe dava mais credibilidade e inserção neste grupo social influente da cidade. 
Ao entrar na atividade de exibição cinematográfica, Luiz Severiano Ribeiro não se contentou em ser apenas mais um proprietário de sala de exibição cinematográfica, ele queria ser o principal. E conseguiu, obtendo além disso, o monopólio na distribuição dos filmes.


Com relação aos seus concorrentes, Severiano Ribeiro adotou como prática pagar mensalmente para que estes mantivessem seus cinemas fechados. Os contratos de fechamento eram pelo prazo de dez anos. Os exibidores Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano eram os concorrentes que aos poucos foram sendo superados por Luiz Severiano Ribeiro. 
Júlio Pinto nasceu em Icó, no interior do Ceará, e era membro de uma tradicional família ligada à política cearense. A área de atuação de Júlio Pinto era o comércio e a indústria, sendo ele, um respeitável nome da sociedade de Fortaleza atuando do final do século XIX até o início do século XX, quando veio a falecer. O seu ingresso na atividade cinematográfica ocorreu com o patrocínio do Cassino Cearense, que pertencia a Empresa Carvalho & Cia, cuja instalação ocorreu em 1º de junho de 1909, com a utilização do equipamento “Stereopticon” Após a temporada do Stereopticon, logo a seguir, no dia 18 de setembro de 
1909, é definitivamente inaugurado o Cinema Júlio Pinto, cuja divulgação publicitária alterna-se com a denominação de Cassino Cearense. Ao ato inaugural tinha-se o prestígio da presença do Presidente Dr. Nogueira Aciolyautoridades do Estado.


A presença do político Antônio Pinto Nogueira Acioly na inauguração do Cinema Júlio Pinto é motivada pelos vínculos familiares que uniam o Presidente do Estado, Nogueira Acioly, e o exibidor cinematográfico, Júlio Pinto (foto ao lado). Além disso, em todo o Brasil era comum a presença de autoridades nas sessões inaugurais dos mais conceituados cinemas das capitais brasileiras.


Em 1916, com a morte de Júlio Pinto e a forte presença de Luiz Severiano Ribeiro na atividade cinematográfica, o Cine Júlio Pinto declina sendo fechado no início de 1920. 
José de Oliveira Rola, proprietário do Cine-Theatro Polytheama, foi outro concorrente de Luiz Severiano Ribeiro antes da década de 1920. Nascido no município de Trairí, no interior cearense, este exibidor 
cinematográfico era um comerciante que atuava sobretudo nos empreendimentos ligados ao lazer, como 
foi o caso da Maison Art-Nouveau
A José Rola a cidade deve, no início do século, um dos seus mais distintos estabelecimentos: a Maison Art-Nouveau, que instala com o genro Fiuza Pequeno, um misto de restaurante e café, ponto obrigatório de reunião da juventude, e que também abrigaria o primeiro cinema fixo de Fortaleza, o Cinema DiMaio.


Maison Art-Nouveau na Rua Major Facundo em 1904

¹LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit.., p.99-101: Apenas o nome de Afonso Segreto é mencionado nos anúncios, ao passo que não é possível afirmar se Paschoal Segreto também esteve em Fortaleza. A área de atuação de Paschoal Segreto era a cidade do Rio de Janeiro, logo ele não foi um exibidor fixo cearense.

Continua...
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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

sábado, 11 de agosto de 2012

Severiano Ribeiro: o início de sua vitoriosa trajetória comercial



No dia sete de setembro de 1921, era inaugurado na Praça do Ferreira, o mais novo cinema de Fortaleza, o Cine Moderno¹, pertencente à Empresa Luiz Severiano Ribeiro. A década de 1920 iniciava com mais uma sala de exibição cinematográfica e o que aparentemente poderia ser apenas mais uma inauguração, era, na verdade, a “consolidação” de uma nova etapa do cinema na capital cearense.

Neste decênio, a figura de Severiano Ribeiro se “consolida” como a do mais importante proprietário de salas de exibição cinematográfica em Fortaleza e único distribuidor cinematográfico local. A cidade passava a conviver com uma nova realidade no que concerne à presença das salas de cinema.

Do final do século XIX até o início do século XX, a cidade de Fortaleza convivia com a presença de exibidores ambulantes que rodavam pelo país com seus aparelhos de projeção cinematográfica. A primeira sala fixa seria inaugurada em 26 de agosto de 1908 pelo italiano Vitor DiMaio na Praça do Ferreira. Era o Teatro Art – Nouveau, também denominado Cinematógrafo Art-Nouveau, Cine DiMaio e, no ano seguinte, Cinematografo Cearense. O italiano Vitor DiMaio era um pioneiro na exibição cinematográfica
no Brasil. De 1908 até 1920, a atividade de exibição cinematográfica, na capital cearense, era realizada por diferentes exibidores que concorriam entre si. No decênio de 1920, este cenário modifica-se a partir da atuação de Severiano Ribeiro que, paulatinamente, havia minado seus principais concorrentes, tornando-se nesta década o principal exibidor cinematográfico local. Desde 1915, Luiz Severiano Ribeiro tem seu nome ligado ao ramo das exibições cinematográficas. No entanto, antes de sua inserção na área de exibição cinematográfica em Fortaleza, ele já era um importante comerciante local. 

Baturité, cidade natal de Severiano Ribeiro - Arquivo Nirez

Nascido em Baturité, cidade serrana do Ceará, no dia 3 de junho de 1885, era filho do médico Luiz Severiano Ribeiro, que integrou os serviços médicos na Guerra do Paraguai e de Maria Felícia Caracas Ribeiro.
Quando tinha por volta de dezenove anos de idade, ele se muda para Fortaleza. Em 1910, então com 26 anos de idade, casa-se com Alba Morais, com quem teve cinco filhos: Luiz Severiano Ribeiro Júnior, que seria o sucessor do pai nos negócios, Germana Ribeiro de Lamare, Lais Ribeiro Pinto, Iolanda Ribeiro Portela e Vera Severiano Ribeiro de Sóllis.
Quando Luiz Severiano Ribeiro vem residir em Fortaleza, ele depara-se com uma cidade que estava passando por transformações no âmbito comercial e econômico, iniciadas no final do século XIX:

A produção algodoeira cearense, intensificada a partir da década de 60 do século 
passado (XIX) e que tinha na Capital o principal centro coletor e distribuidor do 
produto, provocou um acúmulo de capital em Fortaleza, proporcionando a 
emergência de novos atores sociais de poder econômico na cidade.  
Estes novos grupos sociais emergentes eram formados por elementos ligados ao 
setor comercial, fortalecidos pelo crescimento dos negócios de importação e exportação, e por um amplo contingente de profissionais liberais, constituído de 
bacharéis, médicos, engenheiros, jornalistas, literatos, entre outros, provenientes 
das academias de ensino superior espalhadas pelo Brasil e até pelo exterior. Os 
profissionais egressos desses cursos comungavam dos ideais de “progresso, 
civilização e modernidade”, que grassavam pelos grandes centros europeus e 
que tinham ressonância, também, na capital cearense, sobretudo no final do 
século passado e primeiras décadas do século XX. (
SOUZA, Simone de et alii. A gestão da cidade: uma história político – administrativa. Fortaleza: Fundação cultural de Fortaleza,1994, p.26)

Neste período de transformações na virada de século do XIX para o XX, Fortaleza passa a ter um considerável crescimento industrial, como bem destaca o historiador Geraldo Nobre:
 
Em 1895, a capital cearense, ainda modesta, com população de menos de 50 mil habitantes, apresentava um parque industrial que, para as condições da época, se podia considerar apreciável. 
Eram os estabelecimentos mais importantes as fabricas de fiação e tecelagem de Pompeu & Irmãos, pioneira no ramo, e a de Holanda e Gurjão, ambas na rua Santa Isabel. No interior do Estado já se encontravam em funcionamento, produzindo fios e tecidos, a Popular Aracatiense e a Sobralense, respectivamente em Aracati e Sobral
Outro ramo de atividades industriais, que apresentava certo desenvolvimento na capital cearense, era o de bebidas, notadamente de vinho de caju, produzido pelas fábricas de Januário Jefferson de Araújo, Mamede & Irmão, Antero Teófilo, Joaquim Teófilo Rabelo e Rodolfo Teófilo
Para atender ao consumo diário da população, existiam, estabelecidas somente na capital, as moageiras de Roberto Ferreira Sampaio e Januário Irineuabastecidas de matéria-prima pelos cafeicultores da serra de Baturité, cuja decadência já se acentuara. 
Iniciara-se o aproveitamento das oleaginosas, por iniciativa de Alfredo Salgado, que representava uma tradição no comércio cearense fortalezense, e de Bernardino Proença, um dos principais empreendedores da época, estabelecido na cidade de Baturité. 
A fabricação de sabão contava em Fortaleza com dois estabelecimentos, os de P.A. Mota & Cia. e Bernardo Ferreira da Cruz, existindo outro, de  João Gomes de Matos, no Crato, e mais o de Clementino de Oliveira & Cia., em Pacatuba
O ramo de fundição concorria, em 1895, para as atividades de transformação, na capital cearense, com a fundição a vapor que montada, em 1868, pelos ingleses Spear e Marsden, fora transacionada em dezembro de 1891 com José Cândido Freire, que confiara a direção a Raimundo Soares Freire, antigo e experimentado mestre de estabelecimento. A oficina da Estrada de Ferro de Baturité igualmente fazia trabalhos da espécie, atendendo aos interessados.

Além destes empreendimentos locais, houve uma presença marcante de firmas estrangeiras que, no início de 1870, possuíam 40% dos estabelecimentos comerciais então existentes. A presença delas na capital cearense dinamizou o crescimento comercial de Fortaleza, destacando-se as casas exportadoras, dentre elas “A Exportadora Cearense”, a “Gradvhol & Filhos”, a “Boris Frères & Cia”, sendo esta última, uma das mais importantes e com grande prestigio junto aos poderes públicos. Entre outras colaborações com o Estado, consta que os Boris receberam dos governos cearenses as seguintes incumbências: presidência da comissão organizadora da mostra de produtos alencarinos na Exposição Internacional de Chicago (1892-1893), intermediação de diversos empréstimos contraídos junto a bancos europeus, agenciamento, na Escócia, de acordos para a compra de equipamentos metálicos para as obras do porto (1891) e do Theatro José de Alencar (1910). Além do mais, segundo o historiador Raimundo Girão, por mais 
de uma vez a Fazenda do Estado teve de recorrer a empréstimos financeiros da firma (operações de financiamento era uma atividade dos Boris, dela se servindo fazendeiros, pecuaristas, lojistas e usineiros) para cobrir déficits momentâneos dos cofres públicos.

A firma Boris Frères foi criada no ano de 1868 e possuía sede em Paris. Além da atividade comercial de exportação e importação, era detentora de fazendas agropecuárias, projetos de estrada de ferro, navegação e finanças, empréstimos feitos inclusive ao poder público. A figura de Luiz Severiano Ribeiro, surge neste período de crescimento comercial e investimentos estrangeiros na capital cearense.  
O perfil comercial de Luiz Severiano Ribeiro não era o mesmo dos grandes comerciantes da cidade, pois seu campo de atuação era bem diferente. Suas atividades comerciais não eram ligadas às indústrias nem às firmas importadoras / exportadoras. No entanto, este crescimento urbano e a formação de camadas médias favoreciam a inserção de suas atividades comerciais.

Majestic Palace do livro "Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40", de Marciano Lopes.

A primeira oportunidade comercial foi sua sociedade com Antônio da Justa Menescal, em 1912, proprietário da Livraria Menescal. Em 1915, com recursos próprios, instala a Livraria Ribeiro, localizada à rua Major Facundo, nº 92, chegando a criar uma subsidiária de sua firma em Recife. Por essa época, diversifica seus negócios com o arrendamento ou criação de estabelecimentos diversos, como hotéis, dentre os quais o Majestic Palace e o Hotel de França, sucessor do velho Hotel De France, criado no século passado pelo francês Louis Dragaud; uma fábrica de gelo – à rua santa Isabel, 220; o Café Riche e a barbearia Maison Riche, ambos na Praça do Ferreira; o salão de bilhar no Majestic Palace; e outras iniciativas comerciais. Nessa linha de expansão é que se volta para o cinema. 
Provavelmente as livrarias atenderiam a demanda de uma elite cultural com formação em academias de ensino superior do Brasil e do exterior. Eram profissionais liberais, médicos, jornalistas, bacharéis e literatos que compunham uma elite letrada na cidade.  

A efervescência cultural na cidade era algo surgido no final do século XIX e que persistia no início do século XX. Os espaços de sociabilidade eram pontos de encontro e troca de idéias desses intelectuais, não se limitando a meros locais de lazer: As praças, as livrarias, as confeitarias, as bodegas, os salões das barbearias, os cafés constituem-se em lugares sociais de troca de informações, experiências, atualização do léxico político e onde as camaradagens vão definindo formas de intervenção na paisagem social. Não se veja esses espaços apenas como pontos de encontro ou de convívio fugaz.

Os hotéis e as outras atividades comerciais de Severiano Ribeiro se relacionam ao crescimento comercial da cidade, à circulação de dinheiro e à presença de um público consumidor novo. Seus empreendimentos visavam atender a estes consumidores.  
Em termos de rendimento, tais atividades comerciais talvez não fossem tão lucrativas se comparadas com as firmas exportadoras e importadoras. Certo é  que, quando ele entra na atividade cinematográfica, concentra neste setor seus empreendimentos. Cabe ressaltar que a exploração comercial de salas de cinema era um tipo de capital novo que passava à circular na cidade. O que teria motivado Luiz Severiano Ribeiro a ter entrado na atividade cinematográfica e investido nesta área? Seria o fato do cinema ser um capital novo ou teria outro motivo a mais? Ao que parece, ele não somente apostava na “novidade” que o cinema significava no início do século XX, mas sobretudo nas mudanças que ocorriam nas práticas de exibição cinematográfica que visavam atender um novo público agora elitizado. A construção de salas luxuosas e a feitura fílmica pautada em novos parâmetros estéticos 
são exemplos de mudanças que estavam ocorrendo nas práticas de exibição cinematográfica.²

No segundo decênio do século XX, Severiano Ribeiro atuava no ramo de livraria e papelaria, além das salas de cinema que seriam seu grande empreendimento comercial. Encontramos informações referentes a atuação comercial de Luiz Severiano Ribeiro na capital cearense, mediante um mapeamento feito ao longo dos anos de 1920: 

"Luiz Severiano Ribeiro
Livraria, e Papelaria –  Empreza de cinemas
Praça do Ferreira, 196. A 200 – “Livraria Ribeiro
Endereço Telegráphico – RIBEIRO
Caixa Postal – 37
Capital – 150:000$000
Data 1º de Abril 1921

ATIVIDADE COMERCIAL: Livraria e Papelaria Ribeiro 
LOCALIZAÇÃO: Rua Major Facundo, n. 154"
Hotel Majestic Palace, de Ribeiro & Cia 
Majestic Palace – Theatro – cinema
Moderno – cinema 
Polytheama – cinema
Todos localizados na Praça do Ferreira
Fábrica de Gelo - Rua Santa Isabel, 220

A atividade comercial de Severiano Ribeiro ficava concentrada na Praça do Ferreira e ruas próximas. Além da papelaria e livraria Ribeiro, havia ainda o Hotel Majestic Palace em cujo prédio também estava instalado o Cine-Theatro Majestic Palace (a sala de exibição ficava no térreo, sendo os andares superiores do prédio destinados à moradia). Na Praça do Ferreira também estavam localizados o Cine Modernoinaugurado em 1921, e o Cine Polytheama, adquirido em 1922, por Severiano Ribeiro. Todos os cinemas situados nesta praça na década de 1920 eram de propriedade dele. Já a fábrica de gelo ficava localizada à 
rua Santa Isabel (atualmente rua Princesa Isabel) no centro de Fortaleza. Luiz Severiano Ribeiro expandia seu poderio econômico à partir da Praça do Ferreira, principal logradouro da cidade.

¹O Cine Moderno foi uma das salas de exibição cinematográfica mais importantes de Fortaleza  
permanecendo em funcionamento até o ano de 1968. 

²A primeira sala de cinema pertencente a Severiano  Ribeiro foi o Cine Riche, inaugurado em 1915, quando ele possuía trinta anos de idade. 


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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Luiz Severiano Ribeiro - Uma vocação comercial incontestável




São Luiz, Odeon, Moderno, Majestic, Palácio. Por trás das maiores salas de cinema, havia um único homem: Luiz Severiano Ribeiro. Fundador da rede de exibição que por décadas foi a maior do país (hoje perde para o grupo estrangeiro Cinemark), o empresário cearense viveu entre 1885 e 1974. Através de uma terceira geração de descendentes, seu legado empresarial chega aos dias de hoje com mais de 200 salas no país. Elas atingem números surreais, como a marca de 15 milhões de espectadores por ano.



Luiz Severiano Ribeiro nasceu em Baturité, Ceará, 3 de junho de 1886 - Foi o fundador do Grupo Severiano Ribeiro.

Filho do médico Luiz Severiano Ribeiro e Maria Felícia Caracas, teve como nome de batismo "Luiz Severiano Ribeiro Filho" e teve duas irmãs: Alice e Maria.
Aos 10 anos de idade vai estudar no Seminário Episcopal de Fortaleza (Seminário da Prainha) na Praia Formosa. Apesar de ser religioso, não tinha vocação para o sacerdócio e fugiu do Seminário. Aos 18 anos de idade é embarcado para o Rio de Janeiro e matriculado na Faculdade de Medicina.
Em 1904, decepcionado com a medicina diante da morte da mãe, Severiano Ribeiro abandonou os estudos e logo voltou e estabeleceu-se no Ceará.
Com a morte do pai em 1916, ele excluiu "Filho" do seu nome.

Com uma vocação comercial incontestável, Luiz Severiano Ribeiro antes de entrar no mercado de cinema, teve uma livraria, um empório em Fortaleza e outro em Recife, além de hotéis, cafés e outros empreendimentos. À frente de seu tempo, em 1914, Ribeiro decidiu criar uma nova empresa nos moldes de uma holding, a fim de centralizar a administração de todos os seus negócios. Seu primeiro contato com a projeção de imagens aconteceu no circo Pery¹, quando ainda era jovem. A partir de 1908, quando foi inaugurado o primeiro cinema fixo de Fortaleza (o Cinematographo Art-Noveau², do italiano Victor Di Maio), passou a acompanhar o ramo de exibição de filmes. Um ano após promover grande reforma no Art-Noveau, sufocado pela forte concorrência, Di Maio deixa o Ceará. Severiano Ribeiro arrenda o local, realizando projeções diárias em horários sincronizados com o Café Riche. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche, uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado, é inaugurado em dezembro de 1915. Luiz Severiano Ribeiro não considerou o Riche como seu primeiro cinema. A terrível seca daquele ano, aliado à concorrência acirrada e à oferta precária de filmes deixou o mercado em uma situação difícil. O empresário foi em busca de uma solução e apresentou uma estratégia que considerava a melhor para aquecer o capital de giro das empresas: arrendar os cinemas pelo período mínimo de cinco anos, pagando uma renda fixa aos proprietários, mas com a condição dos demais exibidores não abrirem outro cinema em Fortaleza ou imediações.

Sobrado do Comendador Machado, demolido para a construção do Excelsior Hotel. No andar térreo funcionava o Café Riche. Nos andares superiores, o Hotel Central

Década de 20
Luiz Severiano Ribeiro se estabelece no Rio de Janeiro, alugando um palacete de três andares para a sua família. À frente de seu tempo, associa-se à Americana Metro, fechando a primeira joint venture da história do grupo. No acordo, a companhia fica responsável pelas reformas das casas e pelo fornecimento de filmes, enquanto a empresa brasileira ficava a cargo do arrendamento e administração dos cinemas. A parceria durou quatro anos e foi desfeita em comum acordo. É inaugurado o cine Odeon, no Centro do Rio. E, o Cine Palácio (Cinelândia, RJ) torna-se o primeiro cinema carioca a exibir um filme sonoro.

Década de 30
Severiano Ribeiro, junto a outros exibidores cariocas, funda o Sindicato Cinematográfico dos Exibidores e é eleito presidente. É inaugurado na Praça Duque de Caxias, hoje Largo do Machado, o cinema São Luiz. Com capacidade para 1.794 espectadores, a sua abertura marcou a história da cidade. A sala foi a primeira a exibir lançamentos fora do centro do Rio, desenhando um novo cenário na geografia do mercado de exibição. Localizado próximo ao Palácio do Catete (residência oficial do então presidente Getúlio Vargas), o cinema foi decorado com todos os requintes a que se tinha direito, misturando a imponência do mármore aos cristais e espelhos tão em voga na época. Já a sala de projeção foi inspirada na do Radio City, de Nova Iorque. O empreendimento consumiu todas as economias de Luiz Severiano Ribeiro, que investiu pesado para erguer um dos mais bonitos palácios cinematográficos do Rio de Janeiro.

Em 3 de setembro de 1938, "Bloqueio", com Henry Fonda, mostra pela primeira vez aos cariocas o que o Roxy (Copacabana/RJ) oferecia. A sala permitia, além da exibição de filmes, a apresentação de espetáculos de variedades. O palco do Roxy possuía duas escadas laterais e um fosso destinado às orquestras.


Década de 40
O cine Rex (Fortaleza) é reaberto como uma empresa de Luiz Severiano. O filme "O Sabotador", de Alfred Hitchcock, leva o público ao delírio. Os freqüentadores do local eram chamados de "geração Rex". O ator José Lewgoy passou por um momento inesquecível no cine São Luiz (RJ), no lançamento de "Carnaval de Fogo". Desconhecido até então, o ator entrou tranqüilamente para assistir ao filme, mas na saída, teve que ser escoltado pela polícia. Os fãs alvoroçados, mais de mil pessoas, queriam um autógrafo a todo custo.

O sabotador - 1942



Década de 50

Inauguração do São Luiz de Fortaleza

João Bezerra Lima e Luiz Severiano Ribeiro-1956

O Palácio foi cenário de mais uma evolução da indústria cinematográfica. Nesta década, lançava com exclusividade no Brasil o cinemascope, com o filme "O Manto Sagrado". Inaugurados os cines São Luiz de Recife, São Luiz de Fortaleza - a obra demorou 20 anos para ser finalizada - e Leblon (RJ). O São Luiz de Fortaleza foi uma homenagem pessoal de Severiano Ribeiro para a cidade. No de Recife, o destaque é um mural do renomado artista Lula Cardoso Ayres no saguão do local. Segunda joint venture na trajetória da empresa. A parceria com a Fox Films era para operar dois cinemas: Palácio, no Rio de Janeiro, e Marrocos, em São Paulo (sociedade com Lucídio Seravolo). O roqueiro Bill Halley levou a platéia do Rian (RJ) ao delírio na apresentação do filme "No Balanço das Horas" (Rock Around The Clock). O público assistiu a produção, dançando o rock and roll e transformando o cinema em uma pista de dança.

 

No balanço das horas

Década de 60
O cine Roxy mostra para seus freqüentadores a tela em curva do cinerama. No São Luiz (RJ), na avant premiére do "O Pagador de Promessas" (vencedor do Festival de Cannes), a platéia ficou emocionada com a chegada do diretor Anselmo Duarte, o elenco do filme, juntos com o produtor Osvaldo Massaini, que carregava a Palma de Ouro. Eles foram recebidos ao som de mais de mil vozes cantando o hino nacional. O cine Majestic³, no Ceará, primeiro do grupo, é destruído por um incêndio.


Década de 70
Dois cinemas de rua passam por reformas e são divididos em duas salas de projeção: Leblon e Palácio (RJ). Falecimento de Luiz Severiano Ribeiro (Faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de Dezembro de 1974).

Década de 80
Com as obras de construção do metrô no Rio de Janeiro, o São Luiz acabou sendo fechado e demolido. Logo no ano seguinte, começou a ser construído o edifício São Luiz e o cinema foi reaberto. Começou a migração dos cinemas de rua para dentro dos shoppings centers. Criada a terceira joint venture: a Paris-Severiano Ribeiro, com o lançamento do primeiro multiplex brasileiro, com oito salas no Park Shopping, de Brasília.

Década de 90

Carlos Guimarães de Matos Jr e Luiz Severiano Ribeiro Júnior na Festa Coruja de Ouro em 1973 no Cine Palácio no Rio de Janeiro - Crédito da Foto

O Roxy (RJ) passa por uma reforma e reabre com três salas de exibição. Neste mesmo ano, Luiz Severiano Ribeiro Júnior falece. O grupo e a UCI fecham uma parceria e inauguram os cinemas Recife Shopping (de 10 salas) e o Shopping Tacaruna (oito salas), formando a quarta joint venture.

Anos 2000
O cine São Luiz (RJ) passa por uma reforma e reabre em janeiro do ano seguinte completamente remodelado: com mais duas salas, totalizando quatro, o Café São Luiz, novas bilheterias e bomboniéres. O grupo estréia em São Paulo com uma nova marca, que passa a dar nome aos seus cinemas equipados com tecnologia de última geração. Lançamento da marca Kinoplex no Shopping Parque D. Pedro, em Campinas, em um complexo com 15 salas de projeção. Em seguida, o Severiano Ribeiro abre seu primeiro empreendimento na capital, o Kinoplex Itaim. Inaugura também o Kinoplex Praia da Costa, em Vila Velha (ES) e o cinema no Shopping Iguatemi, de Fortaleza, em parceria com a UCI. Em 2006, a marca Kinoplex estréia no Rio de Janeiro: em julho abriu o Kinoplex Nova América, na zona norte; e em dezembro, o Kinoplex Leblon, na zona sul da cidade. No início deste ano, o Severiano Ribeiro abriu UCI Kinoplex, na zona norte do Rio de Janeiro. O cinema é equipado com a tecnologia 3D.



Grupo Severiano Ribeiro - 90 anos

O grupo surgiu nas mãos de Luiz Severiano Ribeiro, em Fortaleza no ano de 1917 com a inauguração do Majestic, primeiro grande cinema da cidade. Posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro, alugando um palacete de três andares para sua morada. Logo associa-se à Metro-Goldwyn-Mayer. Pelo acordo, a companhia americana fica responsável pelas reformas das casas e fornecimento de filmes, enquanto a empresa brasileira ficava a cargo do arrendamento e administração dos cinemas. O primeiro cinema próprio foi o Cine Odeon, no Centro do Rio. Depois veio o Cine Palácio, tendo sido este o primeiro cinema carioca a exibir um filme com som.

Severiano Ribeiro ergueu um verdadeiro império de salas de exibição espalhadas pelo país; sua trajetória é contada em livro lançado pela Record - Crédito: Quadro mágico


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¹Circo Pery

A lona do circense Anchises Pery, localizado na esquina das ruas General Sampaio e das Flores (atual Castro e Silva), em Fortaleza, foi o local do seu primeiro contato com a arte cinematogrática.

²O Cinematographo Art-Noveau e o Café Riche

Em 1908, quando foi inaugurado o primeiro cinema fixo de Fortaleza: o Cinematographo Art-Noveau, do italiano Victor Di Maio, Luiz Severiano Ribeiro passou a acompanhar o ramo de exibição de filmes. Um ano depois ele arrendou este cinema com a saída de Di Maio de Fortaleza.
Sob sua direção ele realiza projeções diárias em horários sincronizados com o Café Riche. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche foi inaugurado em dezembro de 1915, com uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado.

³Cine Majestic (o início do Grupo Severiano Ribeiro)

Em 14 de julho de 1917, Luiz severiano Ribeiro inaugura o Cine Majestic em Fortaleza, primeiro grande cinema da cidade.


Crédito: O Nordeste.com, You Tube, Wikipédia e pesquisas de internet
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