Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Maguari
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Avenida Treze de Maio - Antiga Avenida Flor do Prado


A avenida surgiu na década de 50, por ordem do prefeito, Acrísio Moreira da Rocha.


Nos anos de 1910, em um arrabalde de Fortaleza, São João do Tauape, no encontro das atuais avenidas Visconde do Rio Branco e Pontes Vieira, havia diariamente, dezenas de comboieiros vindos do interior que ali paravam, diariamente, para descanso e reorganização dos seus trabalhos: troca, venda e compra de todo tipo de mercadoria trazida do interior. A este ponto de encontro os nativos deram-lhe o nome de Tauape, significando tauá-barro, pé-caminho; caminho de barro. Por invocação a São João, foi erguida uma capela no local, daí surgindo o nome de São João do Tauape, (1948) segundo o historiador Márlio Falcão.
Os mercadores já se encontravam próximo do seu objetivo, o centro de Fortaleza, mas não era justo seguir toda vida cidade adentro com bois, cargas em cavalos e jumentos pela avenida Visconde do Rio Branco, afinal, gerava tumulto e perigo entre os moradores das casas, atrapalhava os carros e o bonde da Visconde do Rio Branco, que percorria toda avenida até a "terceira" parada, isto é, o final da linha, próximo da esquina onde funcionou o Cine Atapu, da Cinemar, inaugurado em 11.03.1950, conforme relata o historiador Miguel Ângelo de Azevedo - Nirez.

A cidade de Fortaleza crescia e necessitava de cuidados essenciais, não podia permitir mais o ingresso de animais a sujar a avenida e centro da cidade. Nasceu então a idéia do traço de união. Abrir novas ruas e avenidas, antes da cidade, para facilitar a vida de todos. Foi justamente aí que planejaram unir o São João do Tauape com o Benfica, por uma estrada calçamentada e iluminada, já que existia um precário caminho. Seria uma importante avenida que desse acesso aos mercados, outros bairros e dezenas de ruas facilitando as intercomunicações entre bairros. O meio mais fácil seria seguir pela mata rumo ao oeste (futura Av. 13 de Maio) descendo nas férteis terras de pousada e boa caça e pesca, onde havia o encontro de riachos e açude na Fazenda Canadá, do doutor Pergentino Ferreira. Todos os meios de transportes seriam beneficiados. Seguiriam com as suas mercadorias por toda avenida, sem impedimentos, até o bairro Benfica ou Prado, passando por diversas ruas atingindo os objetivos, relata Geraldo Nobre, do Instituto Histórico do Ceará.


O então prefeito de Fortaleza, Acrísio Moreira da Rocha, providenciou, juntamente com sua comitiva, um encontro de amigos com o dono das terras. Teria sido discutida na Fazenda Canadá a criação (hoje no local da sede desta antiga fazenda Canadá, encontra-se construído o Conjunto Residencial Segredo de Fátima) de "uma grande rua que beneficiasse a todos da região, facilitando o acesso para vários bairros". A resposta do dono das terras ao prefeito foi de que ele teria ao seu dispor, não só uma rua, mas terras para uma avenida inteira, se assim o desejasse, reafirma Silvio Theorga, neto do doutor Pergentino Ferreira, então com 13 anos de Idade, quando assistiu toda reunião naquela tarde na sede do Fazenda Canadá.
A grande obra da prefeitura ligaria o bairro São João do Tauape ao antigo Prado, hoje Gentilândia ou Benfica. Naquele tempo o mato alto descia dos dois lados da estrada até o riacho. Quem desejasse vir desse ponto da estrada, isto é, do São João do Tauape para o Prado, teria de seguir uma nesga de terra até a altura de um grande riacho (Aguanambi – no inverno, um grande alagado) atravessá-lo de canoa ou vir pela velha ponte e seguir pela estrada de terra vários quilômetros até próximo ao Prado (altura do CEFET) antigo local de corridas de cavalo.
O prefeito Acrísio Moreira da Rocha, logo determinou que fossem iniciados os trabalhos de limpeza da área, cortada a mata, feitos os canais de seguimento do riacho e calçamentada a estrada onde seria a grande avenida. Nos primeiros momentos todos a chamavam de Flor do Prado, relata o memorialista Marciano Lopes, dizendo da constante ornamentação, beleza natural e ligação com o Prado.

Paralelo a tudo, em 09 de dezembro de 1952 chega a Fortaleza, vindo da Europa, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima em visita a algumas Igrejas. O povo, muito devoto, ficou impressionado e o bispo auxiliar de Fortaleza, Dom Eliseu Simões Mendes lançou a ideia da criação de um templo. O doutor Pergentino Ferreira logo se prontificou a doar uma quadra na futura avenida. O que foi feito em 19 de outubro de 1952. O esforço incomum e a enorme motivação fizeram com que Paulo Cabral de Araújo, o novo prefeito de Fortaleza depois de 1952, juntamente com padres e políticos, apoiassem o projeto e fizesse brotar a ideia de um belo santuário para homenagear a santa. Foi formada uma comissão e passaram a visitar vários empresários, e, o engenheiro Luciano Pamplona logo se pôs a elaborar o projeto da Igreja. Veio a pedra fundamental em 28 de dezembro de 1952. Em pouco tempo a Igreja foi edificada, e no ano seguinte, com a nova vinda da imagem santa de Portugal, com a Igreja ainda por terminar, recebeu a imagem peregrina que aqui permaneceu de 14 a 16 de dezembro de 1953, onde foram realizadas várias missas, mas a inauguração somente foi possível em 13 de outubro de 1956.

A inauguração da Igreja de Fátima foi ao ar livre, com a presença de dez mil pessoas. Nesta ocasião muitos convidados estiveram presentes e logo que chegaram subiram ao palanque que foi armado para as autoridades. Centenas de pessoas impediram que o Dr. Pergentino Ferreira e sua senhora, D. Argentina, subissem ao palanque para receber as homenagens. Foi terrível, o tumulto também foi grande e quem tomava conta do palanque não deixou mais ninguém entrar depois da superlotação. Segundo palavras do Stélio, neto do Pergentino.
No dia 12 de outubro de 1955 foi indicado o 1° vigário da paróquia, o padre Gerardo de Andrade Ponte, onde permaneceu por 19 anos. O seu atual vigário é o padre Manoel Lemos Amorim.
A grande surpresa foi quando a Igreja de Fátima foi vítima de tentativa de assalto pela primeira vez. Quanta admiração de todos os moradores ao ouvirem o sino tocar apressado altas horas da noite pelo primeiro e principal ajudante do padre Gerardo Pontes. O Antônio de Souza, providenciou logo fazer alarde quando notou a presença de estranhos. Esta ação de tocar o sino da Igreja várias vezes altas horas, convenhamos, ainda hoje significa acontecimento grave. Logo, dezenas de moradores surgiram silenciosos e espantados no meio da noite e todos com as suas armas em punho, a tomar conhecimento do ocorrido. Ele dormia no andar superior e ao pressintir que alguém entrara na igreja e estava na sacristia, acordou. Não foi à toa quando apanhou a pedra que estava na soleira da porta e a soltou escada abaixo quando pressentiu que o meliante estava subindo. Dizem que o pessoal que trabalhava na obra de construção do canal, para colocação das lages de cimento armado, pois trabalhavam até altas horas da noite, viram quando alguns homens transportavam uma pessoa nos braços e passaram por eles rumo ao Cocorote, localidade das imediações da Base Aérea de Fortaleza. Não se soube mais nenhuma informação.

O terreno da Igreja englobava o quarteirão inteiro, por isso pensou-se em ampliações e, foi-se construindo a casa paroquial, salão, Instituto Educacional, quadra de esportes, muros de proteção etc. Hoje nas dependências desta quadra funciona o orgulho da avenida 13 de Maio, o Colégio Santo Tomás de Aquino, que completou 49 anos de fundação. Este colégio sempre contribuiu com a comunidade de Fátima e já formou, em nível de terceiro grau, muitas autoridades do Estado do Ceará. O seu atual diretor, Vicente Amorim declara: "Em toda nossa existência, nunca deixamos cair o nível de ensino e sempre mantivemos o respeito aos preceitos católicos".
O bairro tomava corpo dia a dia e a Av. 13 de Maio virou atração turística até para quem visitava a cidade, pois todos queriam conhecer a Igreja e passar por esta grande avenida calçamentada e iluminada. Assim, nos seus primeiros momentos, sem deixar de ser bucólica e, mesmo em transformação, os moradores ainda assistiam, naquelas manhãs sertanejas, silenciosas e convidativas a passagem de poucos carros e passeios de pessoas nas matas, riachos, lagoas e trilhas de todos os lados, pois não havia centros comerciais ou movimento de carros, somente duas ou três mercearias. Logo a empresa de ônibus Severino Ribeiro passou a servir o bairro e, alguns ônibus circulavam pela Av. 13 de Maio de hora em hora até o centro da cidade. Um ônibus vinha pelo bairro José Bonifácio até atingir a Av. 13 de Maio e outro pela Visconde do Rio Branco até alcançar a Av. 13 de Maio.


Os ônibus, verdadeiros calhambeques, eram todos de madeira recobertos por flandres, demoravam muito a passar e em determinados pontos de espera, surgiam sempre cinco ou seis pessoas, pois poucos tinham o luxo de possuir carro e trabalhavam no centro da cidade, até os que com o tempo se tornaram grandes empresários e donos de lojas famosas do centro da cidade. Para quem estava no ponto de ônibus, era esquisito, permanecia em vigilância olhando de um lado para outro; quando o ônibus despontava ao longe, pois eram poucos os carros que trafegavam na 13 de Maio, sempre alguém estava a gritar para quem vinha se chegando ao ponto: "corre... lá vem um ônibus", e quem não vinha em desabalada carreira. Ninguém podia perdê-lo, senão teria de ficar mais de uma hora a espera de outro. No ônibus, sempre lotado, havia o cobrador circulando apertadamente no meio dos passageiros, em pé, do começo ao fim do ônibus, com várias moedas na mão a cobrar a passagem, entregar a ficha correspondente e passar o troco de cada um. Para descer do coletivo como também era chamado, esticava-se a mão, como ainda hoje, para um dos lados extremos do teto e puxava-se a sinaleira; em alguns, este objeto constituía-se de um chocalho de cabra na extremidade a produzir barulho suficiente; ao puxar o barbante fazia tremer o dito objeto ao lado do motorista que entendia precisar parar. Era sempre uma longa e barulhenta viajem, pois os ônibus de madeira percorriam todo o calçamento da 13 de maio. Para servir as ruas internas do bairro, a Empresa São José do Ribamar comprou do "poierão" um ônibus e implantou, nos anos de 1960, precária linha de micro ônibus com relativo sucesso. Poeirão era o nome de um morador de um vilarejo ligado ao Bairro de Fátima.

Foto Fortalbus
Em se tratando de comércio, a Av. 13 de Maio passou muitos anos quase com o mesmo formato. Muito depois da inauguração da Igreja, surgiu a primeira sorveteria na esquina da rua Napoleão Laureano, logo transformada em bar com umas poucas cadeiras na calçada. Era uma atração inédita permanente a sorveteria e bar 'A Normalista', frequentado por todos. Fora do centro da cidade, alguns se arriscaram a tomar cerveja, sorvete, ou comer no local um sanduíche de primeira linha chamado mixto quente. Duas mercearias maiores serviram muito tempo ao bairro, a Pontista e o Simeão. Logo depois, em 09 de março de 1959, surgiu a Panificadora Central, que serviu ao bairro muitos anos. Na 13 teve também a presença de um restaurante, na esquina da rua Padre Leopoldo Fernandes, o B'arbras.
Em se tratando de diversão, antes da missa, nos finais de semana, assistiam-se jogos amistosos entre Fortaleza e Ceará no areal em frente a Igreja de Fátima, hoje Praça Pio XII.
O único clube próximo a Av. 13 de Maio chamava-se Maguary Esporte Clube, muito frequentado pelos que moravam na 13 de maio. Pelos anos de 1965 surgiu o único clube do bairro chamado S.B.F.Sociedade Bairro de Fátima, ponto de encontro de todos os jovens que moravam na Av. 13 de Maio, bairro de Fátima e adjacências, capitaneado em primeira instância por Mauro Benevides, um dos moradores do bairro.



Hoje o comércio da Av. 13 de Maio atingiu a maturidade, possui vida própria e não deixa a desejar; identifica-se com o dos grandes centros e tem seu equilibrado movimento em cada quarteirão. O comércio funde-se ao do bairro de Fátima e possui o eterno estigma de ser calmo, pois não existe aglomerado de pessoas, prédios ou de veículos. Ao longo da avenida encontram-se vários bancos importantes, lojas de renome e sempre com estacionamentos disponíveis. Suas casas comerciais são amplas e diversificadas servindo desde vestuário, boutiques de alimentos, sorveterias, panificadoras, pousadas, loja de delicatessens, cursos, restaurantes, supermercados, shopping center, farmácias, lojas de automóveis, hospitais etc., e é servida por inúmeras linhas de ônibus, além de, no seu final, encontar-se com a estação do Metrofor, localizada na esquina da Av. 13 de Maio com a Av. Carapinima. Outras importantes instituições da Av. 13 de Maio são o 23° Batalhão de Caçadores do Exército, instalado em 23 de novembro de 1944. O CEFET, antiga Escola Industrial de Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, no campus do Benfica e IBGE; no bairro de Fátima, Instituto de Educação (antiga Escola Normal Pedro II) e Conselho Estadual de Educação, UECEUniversidade Estadual do Ceará e vários colégios e centros de estudos, além de centros comerciais diversificados etc.



Quando falamos em moradia, na Av. 13 de Maio ou Bairro de Fátima, lembramos que muitos moradores optam atualmente por negociar sua residência para que sejam construídos modernos prédios residenciais, sendo visível a nova fase futurística que o bairro está vivendo com bastante sucesso, tendo em vista as dezenas de edificações novas no bairro com prédios de até mais de 20 andares, e com chances de vir a ser novamente o segmento mais procurado da cidade, tanto pelo lado mais acessível, promissor, quanto pelo lado mais cultural e próximo do centro tradicional da velha Fortaleza, dizem alguns corretores de imóveis.



Créditos: Livro Grãos de Areia - Tohama Editor e fotos do Arquivo Nirez

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Passeio Público e os Clubes na Fortaleza antiga


Passeio Público em 1900

O Passeio Público, inaugurado em 1880, era um dos lugares mais frequentados pela população de Fortaleza. Anteriormente este local era denominado de Praça dos Martíres em virtude da execução de alguns participantes da Confederação do Equador ter ocorrido em tal praça. Ao ser remodelada, esta área de lazer tornou-se um ponto de referência urbana na cidade. 

Lindo Passeio Público do Álbum Vista do Ceará 1908

Localizado no perímetro central e com ampla vista para o mar, o Passeio Público tornou-se de pronto a principal área de lazer e sociabilidade, até que despontassem outras tentadoras opções a partir do século XX, como o Theatro José de Alencar (1910) e os cines Majestic e Moderno.

No decorrer do segundo decênio do século XX, tal logradouro ainda era “cultuado” como importante espaço de sociabilidade. Sua divisão espacial em três avenidas especificava o lugar social dos seus usuários. 

 
 Passeio Público - Caio Prado - Arquivo Nirez

De acordo com o memorialista Otacilio de Azevedo, o Passeio Público era uma ampla praça dividida em três partes iguais. A primeira era a Caio Prado, onde fervilhava a fina sociedade local; a parte do meio era a chamada Carapinima, destinada ao pessoal da classe media e onde a Banda da Polícia Militar executava operetas e valsas vienenses. A terceira era a avenida Padre Mororó, frequentada pela ralé – as mulheres da vida, os rufiões e os operários pobres. 

Passeio Público - Caio Prado

Ao descrever o Passeio Público, Otacilio de Azevedo especifica os frequentadores correspondentes a cada avenida (ou alameda). Nesta divisão identificamos uma cidade marcada por um desenvolvimento urbano, e ao mesmo tempo pelo aumento de pobreza, o que leva a elite a buscar elementos de diferenciação e separação dos demais grupos sociais. 

 Álbum de Vistas do Ceará 1908

Álbum de Vistas do Ceará 1908

Os locais de passeio e lazer, as moradias fora do centro em bairros como Jacarecanga, são exemplos desta diferenciação social da elite fortalezense.
No que concerne à divisão do “Passeio Público”, a descrição feita correntemente nos escritos 
memorialisticos é desta perfeita separação entre os grupos sociais que frequentavam a praça, cada qual a ocupar uma de suas avenidas.
No entanto, tal “espontaneidade” é questionada pela historiografia mais recente em trabalhos como o de Antonio Luiz Macêdo:

"Defender a idéia do Passeio Público como amostra da harmonia social reinante em Fortaleza na virada do século XIX abriga certos riscos de ordem política. O primeiro consiste na afirmação de hierarquias, transformando a sociedade num simples mosaico dividido em superiores e inferiores. Em segundo lugar, a sugestão de que todos os frequentadores aceitavam a separação em três planos mascara os conflitos sociais, perpetuando a imagem conservadora do povo brasileiro como entidade pacífica, submissa e obediente. Por fim, insistir nessa divisão espacial rígida e espontânea é desconhecer a multiplicidade dos usos dos
lugares, continuamente recriados na vivência diária dos habitantes. Com seu apego a uma visão idílica do Passeio Público, a crônica histórica de Fortaleza se alinha a uma concepção elitista e preconceituosa em relação às camadas populares. Cabe indagar se a segregação espacial correspondia a uma prática aceita por consenso e sem qualquer traço de conflito, como tradicionalmente se quer insinuar."

Álbum de Vistas do Ceará 1908

Para o historiador Carlos Eduardo Vasconcelos Nogueira, tal divisão seria mais uma expectativa dos intelectuais, pautadas em uma visão elitista, do modo como o povo deveria se comportar, do que uma descrição do cotidiano no “Passeio Público”:

"Talvez essa distribuição nunca tenha funcionado do modo como foi descrita. Pois a memória de uma apartação espontânea dos grupos sociais que frequentavam o Passeio Público tinha raízes em uma alegoria constituída no domínio da escrita. E esta (como a memória) simplifica, idealiza. Não recebe passivamente os objetos de uma realidade exterior, mas os fabrica, a partir de procedimentos específicos e de um espaço próprio: a página em branco. Nessa perspectiva, a alegoria dizia menos sobre o povo que sobre as expectativas de intelectuais do modo como este devia portar-se. Não descrevia a realidade, mas a harmonizava, criando um mundo utópico, desprovido de conflitos e ambiguidades. "

Na década de 1930, o Passeio Público já não possuía o mesmo status de outrora, ao passo que já no decênio anterior começava a perder sua funcionalidade para outros espaços de sociabilidade como o cinema.
Em meio às contínuas mudanças na paisagem da cidade, o Passeio Público parecia conservar algo que escapava ao mundo moderno e sua lógica racional. Em função do sentimento de ruptura ocasionado pela mutação da cidade, afigurava-se em elo com o pretérito, restituía uma continuidade, assegurada mediante sua preservação enquanto suporte físico da memória. Guardava, em sua existência subtraída da atualidade, algo que faltava aos novos equipamentos, cinemas e novos jardins, perdidos em sua praticidade de lugar de encontro e
vitrine de ostentação de riqueza. Achava-se o lugar nesse cruzamento de tempos. Era vivido de outra maneira, pois em parte havia perdido sua funcionalidade; adquiria estatuto de objeto antigo, que existe tão somente para significar o tempo.

Outro espaço de lazer das elites eram os clubes, estes foram criados ainda no final do século XIX, passando a ter uma maior relevância no início do século XX, em especial na década de 1920. Os clubes em Fortaleza, foram criados por grupos específicos que se afirmavam economicamente e assim como no Passeio Público, buscavam espaços de lazer exclusivos.

No entanto, ao contrário do Passeio Público que era ao ar livre e frequentado por diversas classes sociais, os clubes eram espaços fechados de sociabilidade exclusiva das elites. Para se ter acesso aos clubes, “...era preciso ser sócio e pertencer ao grupo estabelecido. Nesse sentido, os clubes representavam as profissões e oficios que compunha a elite em ascensão, principalmente os comerciantes”.

Jantar de intelectuais, provavelmente no Clube dos Diários - Acervo Carlos Juaçaba

Funcionários da Ceará Rádio Clube, reunidos no Clube Maguary, em comemoração ao aniversário da rádio

De acordo com Diocleciana Paula da Silva, no início da década de 1920 havia poucos clubes, no entanto, a quantidade era suficiente para atender ao abonado público frequentador. Ao longo daquela década, os profissionais liberais, os industriais e os comerciantes foram fundando seus próprios locais de diversão com acesso restrito e definido pelo poderio econômico e pelo pertencimento a um grupo: 

"Em Fortaleza, ao longo dos tempos, conviveram inúmeras dessas agremiações. Com efeito, pode ser arrolada uma grande quantidade de nomes que compunham o vasto conjunto de clubes sociais que desfrutaram (alguns ainda desfrutam), no passado, de poder e prestígio, em maior ou menor escala, consoante os grupos que congregavam. Havia os clubes de natureza classista, esportiva, ou de colônias de cidades interioranas, assim como existiam os ditos “suburbanos”. Mas são, sobretudo, os clubes chamados “elegantes” que estão presentes nos jornais, com maior frequência, ocupando espaço com convites, convocações de reuniões e matérias referentes a toda espécie de eventos que lá aconteciam: bailes, desfiles, jantares, recepções, aniversários, acontecimentos comemorativos, homenagens, etc. Eram esses “clubes dos ricos” extremamente “fechados”, tendo o seu ingresso vedado aos não sócios. Os critérios para a associação também eram rigorosos, sendo a aprovação de nomes candidatos motivo de deliberação de diretoria."

Reunião da Academia Cearense de Letras no Clube Iracema em 1922

Uma das primeiras agremiações criadas em Fortaleza foi o Clube Cearense¹, inaugurado em 1867. Tal agremiação, era composta por políticos e comerciantes nacionais e estrangeiros, sobretudo os de procedência inglesa, francesa e portuguesa, que eram ligados às atividades de importação e exportação. O Clube Cearense era uma instituição elitista de acesso restrito não permitindo a presença de outros membros que não fossem de seu quadro social.

Desfile Miss Ceará em 1956 no Náutico Atlético Cearense

A postura discriminatória existente no Clube Cearense, estimulou a criação de uma outra agremiação, o Club Iracema, com sede na Praça do FerreiraSua fundação ocorreu em 1884, “... por moços do commercio e funcionários da alfândega desta capital, com o fim de combater o exclusivismo reinante em o antigo club Cearense, que vangloriando-se de aristocratas, não admittia no seu seio aquelles elementos das, hoje em dia, tão acatados, entre seus pares.” (Revista Ba-ta-clan, 8 de julho de 1926)

 
Clube dos Diários

Mesmo sendo hostilizados pela aristocracia, os grandes comerciantes cresciam economicamente, no início do século XX, tornando-se um forte grupo. Apesar de ter sido criado como forma de se opor ao exclusivismo” do Clube Cearense, o Club Iracema era um local de acesso restrito, ao passo que seus sócios eram compostos basicamente por grupos ligados ao comércio e a alfândega. Os outros clubes que surgiram foram: o Clube dos Diários, em 19 de março de 1913; o Maguari Esporte Clube, surgido em 1924, era uma agremiação inicialmente relacionada à prática do futebol tendo inclusive disputado o campeonato cearense. Posteriormente, na década de 1940, direcionou suas atividades exclusivamente para o setor social. 

O Náutico ainda na praia Formosa (1929 - Arquivo Nirez) e no luxuoso prédio da Praia do Meireles

No ano de 1924, é fundada mais uma agremiação o Country Club que veio a ser inaugurado para congregar, sobretudo, os integrantes da colônia inglesa que residiam na capital cearense. Ao final da década de 1920, foi inaugurado mais um clube, era o Náutico Atlético Cearense fundado por jovens ligados a setores do comercio. Localizado inicialmente na Praia Formosa, tal agremiação na década de 1940 foi transferida para o bairro do Meireles onde um novo e luxuoso prédio foi erguido. 
Nas décadas seguintes, outras agremiações surgiram na capital cearense demostrando que o lazer privado em clubes não se limitou aos primeiros decênios  do século XX.

Leia também:


¹Inicialmente este clube ficou localizado na Rua Senador Pompeu e posteriormente, em 1872, 
transferiu-se para um prédio no Passeio Público. Este clube desapareceu no final do século XIX. 

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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MAGUARI ESPORTE CLUBE II



A história de uma época e de várias gerações da nossa cidade passou pela sede antiga do querido Sport Club Maguary. Lá, vidas foram vividas e muitas modificadas, através dos relacionamentos sociais e até mesmo de namoros que se transformaram em casamentos, criando as bases para a existência de muitas famílias da atual sociedade cearense.

No Maguary os jovens frequentavam as memoráveis ‘tertúlias’ e os ‘bailes de carnaval’, além de praticarem esportes como a natação, o tênis, o basquete e especialmente o futebol.


Arquivo Nirez

Acervo de Juvando

O chamado “Clube dos Príncipes” foi uma das mais tradicionais e simpáticas agremiações diversionais de Fortaleza, tendo sido fundado em 24 de junho de 1924, tendo completado exatos 87 anos ano passado. O clube iniciou suas atividades como ‘clube de futebol’ no antigo Alagadiço, hoje bairro São Gerardo e proporcionou momentos inesquecíveis de alegria e emoção ao competir com as principais entidades desportivas da época: Ceará, Fortaleza, Ferroviário e América.



Acervo pessoal de Clóvis Maciel

O Maguary foi quatro vezes campeão cearense na primeira divisão do futebol, além de sete vezes vice-campeão no Estado (1928, 1930, 1932, 1935, 1937, 1938 e 1945), mantendo uma marca invejável: 4º lugar do ‘Ranking do Futebol Cearense’ de todos os tempos (considerando campeões e vices, segundo o jornal Folha de São Paulo, edição de 23-12-2007, página D6 – Esporte).
O Maguary nasceu para ser campeão! No antigo Campo do Prado (1929 e 1936), no Estádio Presidente Vargas (bi-campeão 1943 e 1944) e no Estádio Plácido Castelo, tendo se consagrado como o ‘primeiro campeão do Castelão’ quando venceu do América em 02-12-1973, na final do ‘Torneio Breno Vitoriano’, competição organizada para comemorar a inauguração do Gigante da Boa Vista, que será uma das sedes da Copa de 2014.
A ‘Equipe Cintanegrina’, como também é chamada, foi uma das fundadoras da atual Federação Cearense de Futebol, ainda na fase da ADC (Associação Desportiva Cearense) quando foi requerido o registro legal da Instituição (29-01-1936) que funcionava na informalidade, tudo conforme consta das páginas 115/116 do livro “Futebol Cearense: Um século de história – 1902 a 2002” de autoria do pesquisador e escritor Alberto Damasceno.


Acervo pessoal de Clóvis Maciel

O Maguary chegou a ter a segunda torcida cearense e, além do time de futebol, era um Clube Social com forte presença na nossa sociedade. Sua marca está alicerçada na emoção, no carisma e na paixão que suas cores sempre fermentaram. Sócrates, o grande filósofo grego, dizia que “só morremos quando somos esquecidos”, razão porque o Maguary nunca morreu nos corações e mentes de tantos que ajudaram a construir a sua glória ou dela tomaram conhecimento, através de matérias de jornais, revistas, livros, artigos da internet e programas de rádio ou TV.
Sua segunda sede localizava-se no então bucólico e aristocrático bairro do Benfica, na Avenida Visconde de Cauipe, Nº 2081, hoje Avenida da Universidade. Foi quando Waldir Diogo de Siqueira, Mário de Alencar Gadelha, Egberto de Paula Rodrigues, aliados a um grupo de amigos, transformaram o antigo clube numa agremiação elegante, com sua nova sede social inaugurada em 20 de abril de 1946, erigida em uma quadra localizada na Rua Barão do Rio Branco, Nº 2955.
A construção dessa simpática e aconchegante sede foi assinada pelo famoso arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman, o mesmo construtor do Ideal, outro Clube tradicional de Fortaleza. Ali, no Maguary de outrora, praticava-se o esporte amador e ocorriam atividades festivas que marcaram a vida da cidade, principalmente nos alegres ‘Anos Dourados’, na década de 50, com seu entusiasmo prolongando-se pelos anos seguintes. Muitas de suas animadas festas carnavalescas terminavam às dez horas da manhã seguinte, acontecimentos inusitados para a então pequena Fortaleza com seus 213 mil habitantes.
Entre outros nomes que marcaram aqueles tempos de pujança social do clube ‘cintanegrino’, como carinhosamente era também chamado o Maguary, são sempre lembrados: Raimundo de Alencar Pinto, Lauro Maciel, Remo Figueiredo, Mário de Alencar Araripe, Américo Barreira, Lúcio Bonfim, Afonso Deusimar, Mauro Jander Braga de Sousa, Francisco Irajá Vasconcelos, Mauro Botelho, Walfrido Monteiro, o jornalista João Clímaco Bezerra; a família Mesquita, representada por Aldo Mesquita, Kerginaldo Mesquita, Valdo Mesquita e Heraldo Mesquita; Waldir Diogo de Siqueira Filho, Vicente de Souza e muitos outros.
Entre a sua brilhante equipe de tenistas, contava o clube com os irmãos Reno Figueiredo e Viena Maria Figueiredo Ponce de Leão, filhos do diretor Narcílio Bezerra Figueiredo, campeões brasileiros de tênis, o primeiro chegou a conquistar a Taça Davis. Viena Ponce de Leão é a esposa de Antônio Ponce de Leão Filho, outro baluarte deste esporte. Outros nomes destacaram-se nas quadras do Maguary: Henrique de Oliveira; os filhos do diretor Luciano Granjeiro, Lício e Lucy Granjeiro; Stélio Ribeiro do Vale e seu irmão Stênio Ribeiro do Vale.
Eventos de toda ordem moviam a cidade para o endereço do Maguary. Médicos, jornalistas, empresários, músicos, advogados, desportistas, engenheiros, artistas do teatro, rádio e TV, além de autoridades de todos os poderes, lá se encontravam para discutir assuntos profissionais, enquanto suas famílias desfrutavam o saudável ambiente de lazer.
Comemorações memoráveis ocorreram no Maguary. O mundo da televisão e do rádio para lá se dirigia nos momentos de descanso, quando era avaliada a rica experiência da época de ouro da radiofonia cearense e especialmente os primeiros passos da televisão no estado, representado pela iniciativa do querido e saudoso Canal 2, emissora do Grupo Associados.


Emília Correia Lima, Miss Maguary - Crédito da foto

Acervo de Juvando


Falando em televisão Associada, importante lembrar um momento mágico que até hoje enche de orgulho o povo cearense. A Miss Maguary Emília Correia Lima, eleita em 1955, foi também eleita ‘Miss Ceará’ e posteriormente ‘Miss Brasil’, a segunda escolhida em concurso nacional promovido pelos Diários Associados, recebendo a faixa da baiana Martha Rocha. O ‘Clube dos Príncipes’, como sempre foi chamado, ganhou, pois, sua ‘princesa’, eleita em concurso de beleza nacional e que representou a mulher brasileira, destacando-se no concurso de beleza internacional em Long Beach, Califórnia (EUA), por seus traços clássicos e postura discreta.


Time do Maguary - Equipe cintanegrina, devido a faixa preta gravada na camisa branca, 
na altura do peito Foto: Diário do Nordeste

Acervo de Juvando


O Sport Club Maguary, fundado em 24-06-1924, voltou ao futebol profissional em 2009, como clube-empresa. Tem uma parceria de co-gestão com o site MTDF (Meu Time de Futebol) e voltará a ‘mandar seus jogos’ no novo Estádio Presidente Vargas (PV), recém reformado pela Prefeitura de Fortaleza.
A volta do Maguary ao querido PV, agora muito mais bonito, confortável e seguro, representa o regresso ao mesmo local onde tinha se sagrado bi-campeão cearense de 1943/44, além do vice-campeonato de 1945. Cabe relembrar que dois outros títulos da 1ª Divisão foram também conquistados pelo ‘Clube dos Príncipes’, sendo estes no vizinho ‘Campo do Prado’ nos anos de 1929 e 1936.

 

O Maguary, no ano passado, já conseguiu a conquista de várias vitórias fora de campo, senão vejamos:
a) Parceria de Co-Gestão com o Meu Time de Futebol (MTDF), site que já chegou aos 100 mil cadastrados e que faz grande divulgação nacional do Clube dos Príncipes, inclusive na imprensa;
b) Inscrições para disputar as quatro categorias de base do futebol brasileiro (sub-13/sub-17 e sub-15/sub-20), sendo as duas iniciais no primeiro semestre e as demais no segundo;
c) ‘Mando de Campo’ das partidas profissionais do Maguary transferido novamente (26/05/2011) para o Estádio Municipal Presidente Vargas (PV) em Fortaleza, onde o ‘Clube dos Príncipes’ entrou para a história daquela praça desportiva, ao sagrar-se o primeiro ‘bi-campeão’ em 1943/44;
d) Retorno ao clube do ex-atacante ‘Mirandinha’, que chegou à seleção brasileira, depois de surgir no Maguary para o futebol brasileiro e internacional. Ele exercerá a função de ‘Coordenador Técnico’ do Maguary/MTDF, para juntos levarmos novamente a ‘Equipe Cintanegrina’ para a 1ª Divisão, onde é o seu lugar.

Uma tertúlia no Maguary - Crédito da foto

O compromisso dos que fazem o Maguary de hoje, é cuidar do clube e sua história, preservando este verdadeiro patrimônio imaterial do povo cearense para as futuras gerações, bem como lutando para ver preservada, através de tombamento municipal, a antiga e bela sede do Maguary, localizada na Rua Barão do Rio Branco, Nº 2955, razão pela qual o Clube entrou com pedido de tombamento administrativo junto ao Município de Fortaleza, ação protocolada em 11 de Julho de 2009.


Maguary e Ceará durante o Torneio - Início de 1927 - Arquivo O Povo


Cabe destacar que a antiga sede foi inaugurada em 20 de abril de 1946 e até hoje mantém suas características iniciais. Além do seu inestimável valor histórico, suas linhas arquitetônicas demonstram, ainda, um grande valor artístico, obra do arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman, o mesmo construtor do Ideal Clube, que segundo informação contou com o apoio de outro respeitado arquiteto da época, no caso José Barros Maia, o Mainha.



J.R. Aguiar Júnior

Importante

A antiga sede do Sport Club Maguary foi tombada no dia 10 de janeiro de 2012. De acordo com o parecer elaborado pelo arquiteto Romeu Duarte Júnior, representante da Universidade Federal do Ceará (UFC), o prédio é, “em conjunto com os demais clubes da Capital (Comercial, Diários, Iate, Ideal, Iracema, Líbano, Massapeense, Náutico), (...) um lugar-referência da mundanidade fortalezense, agregando à sua imagem arquitetônica (...) valores simbólicos e afetivos, ampliados ainda pela sua contribuição à história dos equipamentos do tipo em nossa cidade”.



Leia a primeira parte AQUI

sábado, 24 de setembro de 2011

Clubes Sociais - A volta por cima



Eles viveram o apogeu nos anos 50 para amargar a pior crise nas décadas de 80 e 90. Hoje, dão a volta por cima

Clube Náutico - Ainda na Praia Formosa


Fortaleza já foi conhecida como a “Cidade dos Clubes”. Isso foi na década de 1950, quando o fortalezense não tinha acesso a certas comodidades, como piscinas particulares, casas de praia e até boates privadas. "Hoje, a juventude prefere as boates, os bares e os shopping centeres", admite o memorialista Marciano Lopes, que analisa o fenômeno como algo cíclico. "Houve o ciclo dos clubes até os anos 70". Desde então, essas agremiações vivem um período de decadência.



Não faltam responsáveis para o declínio. As barracas de praia são apontadas como as principais concorrentes dos clubes, que amargaram momentos difíceis até o final da década de 1990. Um dos mais antigos, o Clube Iracema, do início do século XX, não resistiu. Agremiações como Maguari, Centro Massapeense, Comercial e Líbano tiveram que fechar seus salões.


O aumento da violência e o incentivo à prática de esportes fazem com que os responsáveis pelos clubes que ainda restam apostem numa volta triunfal. "Hoje, todos os clubes estão retornando devido à insegurança", diz Joaquim Guedes Martins Neto do Ceará, presidente do Náutico Atlético Cearense.


Massapeense

O Clube conta sempre com um diretor, em todos os horários. "Daí, os pais se sentem seguros para deixar seus filhos", diz, acrescentando que o clube está investindo em sistema moderno de segurança. "Sinto que está havendo esta retomada diariamente porque o estacionamento fica cheio", atesta Guedes Neto, embora admita que a concorrência é muito grande.

Clube dos Diários

Antigo baile de carnaval no Diários

O forte do Náutico, clube que este ano completou 82 anos de existência, é o esporte. Ele destaca o trabalho realizado pelas escolinhas de diversas modalidades esportivas. Além disso, o restaurante é aberto ao público durante a semana para almoço e jantar. Aos sábados, oferece a tradicional feijoada.


O Clube Líbano - Foto de 1956

"A tendência dos clubes hoje é melhorar", aposta Manuel Pereira de Moraes Filho, presidente do Clube dos Diários, 98 anos, o mais antigo do Ceará, que funciona de terça-feira a domingo. Desde novembro de 2003, o Clube dos Diários saiu da sua tradicional sede do Meireles para as Dunas. Antes, o clube ficava no Centro, diz o presidente que justifica: "Estamos numa fase inicial". Ele também acredita na volta dos clubes sociais.

Clube Comercial

A tradição é o principal trunfo do Ideal Clube, que completou 80 anos. O clube investe também nos acontecimentos culturais, além de preservar o aconchego dos associados, como o "happy hour" diariamente.

Maguari

"Não temos dificuldade para atrair público porque nossos associados já são tradicionais", orgulha-se o comandante Pereira, vice-presidente do Círculo Militar, que funciona há 63 anos. Ele cita as escolinhas de esporte: "O povo faz fila".
Para William Araújo, presidente do BNB Clube, a qualidade e a segurança garantem o sucesso da agremiação, que também aposta no esporte. O Clube tem duas sedes.

O Iate Clube - Anos 60


IATE CLUBE

Frequentadores fiéis garantiram resistência

Com 57 anos de existência, o Iate Clube é um dos mais tradicionais. Também fazem parte deste seleto grupo os clubes Ideal e Náutico. "Sempre tivemos um público fiel e diferenciado", destaca Paulo Teixeira, vice-comodoro do Iate Clube, afirmando ser o único clube náutico de Fortaleza. A concorrência com a praia é grande, admite, concordando que a insegurança impulsiona o retorno aos clubes sociais.

O Iate é um caso particular no universo dos clubes de Fortaleza. "O clube tem uma magia e, mesmo com poucos sócios, consegue se manter", revela Paulo Teixeira, lembrando que, em alguns momentos, o clube sobreviveu graças ao carinho dos associados. "Alguns contribuíram financeiramente para o clube continuar existindo".

Diferentes de algumas agremiações, no Iate clube só existe o tipo de sócio proprietário. Atualmente, está sendo lançando um lote de 50 ações para a construção de uma piscina moderna. Mesmo mantendo a tradição de ser um clube fechado, o Iate vem abrindo suas portas, gradativamente.

O restaurante, a caranguejada, às quintas-feiras; e um show de jazz, quinzenalmente, no fim das tardes de sábado, são exemplos dessa abertura. Assim como uma boate na área onde funcionava o piano bar, inaugurada em 2007. "Nosso componente social é muito forte", assegura.

ESPAÇO DEMOCRATIZADO

Sócios dividem espaços de lazer

Esporte, lazer e sociabilidade. Estas são as principais vantagens oferecidas pelos clubes aos seus associados, que acabam dividindo com o público em geral. Isso porque alguns serviços são abertos à população, como os de restaurante, academia de ginástica, sauna, hidroginástica e as escolas de esportes, sem contar a realização de festas e eventos sociais.

"Muitas atividades são abertas ao público", afirma William Araújo, presidente do BNB Clube, justificando que há um controle. "É diferente de estar na praia, onde a pessoa não tem segurança e ainda é incomodada por vendedores e pedintes", acrescenta.

As atividades esportivas e a academia de ginástica são abertas ao público. A caranguejada às quintas-feiras, o "happy hour" das sextas, as festas e o restaurante são abertos ao público. "Na prática de esportes, o que diferencia é o preço", observa. O uso da piscina e do restaurante, durante a semana, ficam restritos aos sócios.

A assessora de comunicação do Ideal Clube, Marina Pedrolo, explica que cada grupo tem o seu dia de encontro na agremiação. Alguns preferem o "happy hour". Outros apreciam a feijoada aos sábados. 


ANOS DOURADOS

Clubes se mudam para a praia

O auge dos clubes sociais de Fortaleza foi na década de 1950. O memorialista Marciano Lopes conta no livro "Os Dourados Anos" que o fato de a Cidade ter ficado conhecida Brasil afora como a Capital dos Clubes acabou gerando "gritante contraste da conhecida pobreza do Ceará com a suntuosidade dos seus clubes, onde a elite risonha e franca nem via o tempo passar". O autor dedica um capítulo ao tema.

O memorialista considera como marco importante na trajetória dos clubes cearenses a inauguração da nova sede do Náutico Atlético Cearense, no Meireles. A mudança causou inveja e incômodo aos demais clubes, registra Marciano.

O próximo a seguir o caminho aberto pelo Náutico foi o Clube Líbano Brasileiro, que deixou o velho casarão da Avenida Santos Dumont, indo para a Rua Tibúrcio Cavalcante. O Clube Iracema, chamado de "avozinho", criado no início do século XX e considerado um ícone, saiu do Centro para a Aldeota. O Clube dos Diários, 98 anos, deixou sua sede no coração de Fortaleza, ficando no Meireles até 2003. De acordo com o escritor, após reformas e ampliações, a sede dos Diários "é uma das mais vastas, modernas e agradáveis da cidade". Só que não resistiu e mudou pela segunda vez.

O autor lembra que os anos 50 marcaram o apogeu dos clubes cearenses. Foi uma febre que continuou nos anos seguintes, despertando interesse de todos que visitavam a Cidade. A importância dos equipamentos permaneceu nos anos 70. As duas décadas seguintes são marcadas pela decadência.

Os clubes foram responsáveis, também, por mudanças na vida do cearense. "Eles eram a continuação das casas das famílias", conta, lembrando das tertúlias e dos bailes de debutantes.

SAIBA MAIS

Clube dos Diários - É o mais antigo do Ceará. Tem 98 anos e seis mil sócios. Mudou três vezes de local. Agora, está nas Dunas, onde funciona de terça-feira a domingo, com atividades esportivas e serviço de restaurante. Possui uma piscina semiolímpica, quadras de tênis e futsal.


Náutico Atlético Cearense

O clube completou 82 anos. Congrega 2.200 sócios proprietários, além de 800 na modalidade contribuintes. O restaurante é aberto ao público, de terça-feira a domingo, para almoço e jantar. Aos sábados, oferece a tradicional feijoada. O Náutico possui três salões de festas e cinco piscinas, das quais uma é olímpica. As escolinhas de esporte, a academia de ginástica e a sauna são abertas ao público. Destaca-se pela prática de esporte e realização de competições.


Náutico

Ideal Clube - Com 80 anos, tem mil sócios, entre proprietários, contribuintes e atletas. Alguns fazem parte da terceira ou quarta geração dos 12 primeiros sócios da agremiação. O clube oferece escolinhas para a prática esportiva (tênis, natação, vôlei, basquete e futsal). O restaurante é aberto ao público de terça-feira a domingo, com feijoada aos sábados e "happy hour" todos os dias. Promove festas e atividades culturais, além de dispor de biblioteca que aceita doações. Ocupa área total de 11 mil metros quadrados

Círculo Militar - Com 63 anos, o clube possui mais de dez mil sócios, sendo 1.400 titulares. Não tem restaurante, mas oferece refeições nos fins de semana. Realiza colônias de férias nos períodos de julho e janeiro, abertas ao público; além de programação social, como a festa "Dança Comigo", todos os sábados. Dispõe de academia de ginástica, dando ênfase à prática de esporte, principalmente, às escolinhas para crianças e adultos, nas modalidades de tênis, natação, basquete, vôlei, futebol de salão e judô.

BNB Clube - Tem 57 anos e 2.700 associados, sendo 1.700 vinculados aos bancos e oito mil dependentes. Conta com duas sedes sociais. Uma delas fica na praia. Possui 1.600 alunos matriculados nas escolinhas esportivas de vôlei, basquete, futsal, natação e artes marciais. Abriga também academia de ginástica e hidroginástica, abertas ao público, assim como o restaurante, que realiza "happy hour" às sextas-feiras; caranguejada às quintas; e feijoada aos sábados. Os serviços de restaurante e piscina, durante a semana, não são oferecidos ao público, ficando restritos aos sócios e convidados. Ocupa área de dez mil metros quadrados.

Iate Clube - Tem 57 anos de existência e conta com 800 sócios. Seu forte é o esporte náutico, oferecendo escolinha para crianças e adultos. Inaugurou boate, aberta ao público em geral, assim como o restaurante, que funciona de terça-feira a domingo, com caranguejada às quintas. Quinzenalmente, aos sábados, promove show de jazz no fim da tarde.

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Crédito: Diário do Nordeste, Nirez e Pedro Leite


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