Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Personalidades
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.
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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cine Atapu - Cinemar


Arquivo Ary Bezerra Leite


Inaugura-se em Fortaleza, no dia 11 de março de 1950, o Cine Atapu, da Empresa Cinematográfica do Ceará - Cinemar, de Amadeu Gomes Barros Leal (Amadeu Barros Leal*), na esquina da Avenida Visconde do Rio Branco nº 3725, com a Avenida 13 de Maio, trazendo a película francesa Monsieur Vicent, a mesma que inaugurou o Cine Jangada.


O Cine Atapu foi um dos mais apreciados cinemas de bairro de Fortaleza, no final dos anos 50 e década de 60. O nome Atapu logo caiu no gosto do fortalezense. Assim, sugiram em seu entorno o Posto Atapu, a Farmácia Atapu, a Borracharia Atapu, a Padaria Atapu. O Chaveiro Atapu e a Panificadora/Mercadinho Atapu permanecem em pleno funcionamento. A área tornou-se referência, chamada carinhosamente de Atapu. Ainda hoje existe empresa de transporte coletivo urbano que conserva exposta, na indicação do itinerário, a citação Atapu.


Amadeu Barros Leal - Arquivo Ary Bezerra Leite

O Cine Atapu integrava a Empresa Cinematográfica Brasileira – Cinemar, cujo escritório ficava na rua Pedro Pereira, 166, altos. Concorria com a Empresa Luiz Severiano Ribeiro (que posteriormente adquiriu todas as suas salas. A Cinemar foi fundada pelo advogado Amadeu Barros Leal, que homenageou os jangadeiros batizando as cinco salas de seus cinemas com nomes ligados ao mar: Cine Jangada (rua Floriano Peixoto, virou estacionamento); Cine Araçanga (cacete para matar peixes) ficava na Barão do Rio Branco, depois Cine Art que hoje é um estacionamento do Hospital IJF - Instituto José Frota); Cine Tuaçu (pedra que serve de âncora às jangadas), ficava na Praça José de Alencar; Cine Samburá (cesto feito de cipó ou taquara usado pelos pescadores para colocar peixes), era na rua Major Facundo, deu lugar ao Cine Fortaleza e atualmente é uma livraria; e Cine Atapu (búzio que serve de trombeta aos jangadeiros para chamar os companheiros ou fregueses à praia). Que a Unimed Fortaleza evidencie o nome do saudoso cinema, pois o seu Hospital também está na área do Atapu que desbravou o local.

O prédio do antigo Cine Atapu, escondido por tapumes e uma placa da Unimed 

Quem passa pelo cruzamento da Avenida Visconde do Rio Branco com a Avenida Pontes Vieira visualiza um imóvel com inscrições nas paredes informando ser o mesmo de propriedade da Unimed. Desde que as li, planejei escrever sobre o assunto, pois, como Cidadão Honorário de Fortaleza, atento à memória de nossa Capital, e confiante na sensibilidade dos dirigentes da Unimed Fortaleza, e ainda na condição de veterano usuário do daquele conceituado Plano de Saúde, permito-me sugerir que não deixem escapar a possibilidade de resgatar a tradicional denominação daquela região da cidade. Desconheço a destinação que a Unimed dará ao referido espaço. Contudo, seja qual for o destino utilitário do imóvel, seria de muito bom grado trazer o nome de Atapu. Representaria, pelo ângulo da preservação, um oportuno presente que a Unimed daria à cidade, possibilitando inclusive conhecimento histórico aos moradores mais jovens. Por exemplo: Unidade Unimed Atapu, Laboratório Unimed Atapu, Depósito Unimed Atapu, etc... Seria uma homenagem justíssima posto que, originariamente, no local funcionou e marcou época o Cine Atapu. O que restou da sua estrutura permanece na mesma esquina - na Visconde do Rio Branco no 3731: Calçada elevada, degraus, e altas paredes. Mesmo sem o telhado, distingue-se ainda o formato da sala de projeção que outrora tantas alegrias trouxe para a juventude do Joaquim Távora e adjacências. Lá também era o término da linha de bonde do Bairro e Quilômetro Zero da BR – 116, entrada da cidade. O atual Parque Rio Branco, que fundou em 2007 o Cine Clube Atapu - nome que sugeri ao jornalista Aldemir Costa, do Movimento Pró-Parque, um sítio cortado por três riachos, e no local do atual Bradesco da Borges de Melo tinha uma vacaria, em meio a grande areal...

Concluo agradecendo as informações prestadas pelo cineasta e publicitário José Carlos Moreira de Oliveira, sobrinho do Dr. Amadeu Barros Leal

Paulo Tadeu
Jornalista

*Amadeu Barros Leal

Não se sabe ao certo qual a motivação inicial que fez o advogado Amadeu Barros Leal ingressar com determinação na seara cinematográfica, mas não há dúvidas que a partir de março de 1948 ele começa a desenvolver um sonho, decisivo e marcante em sua vida. Ele mesmo confirma essa firme disposição: “Idealizamos e, ato contínuo, lançamo-nos em campo, na batalha árdua de instalar em Fortaleza um circuito exibidor cinematográfico”. Desafio aceito e vencido sob a simpática acolhida do povo cearense.
Amadeu Barros Leal nasceu em Quixeramobim, no dia 13 de março de 1914, sendo seus pais o farmacêutico Afro Pimentel de Barros Leal e Maria Gomes de Barros Leal. Vindo para a capital cearense, aqui cumpriu seus estudos, iniciando-se como aluno do Liceu do Ceará, em 1931, e obtendo o diploma de grau superior pela Faculdade de Direito do Ceará, em 1942. Esta conquista coroou sua disposição para a luta, pois, ao longo desses anos, no período de 1934 a 1942, obtinha recursos para custear seus estudos como carteiro dos Correios e Telégrafos do Ceará.
No exercício de sua carreira jurídica, encontrava tempo para marcar presença como jornalista, alternando-se ainda na direção de negócios como a Ceará Mineral Industrial Ltda., firma exploradora de minérios da qual foi diretor gerente, e incursões políticas como militante do Partido Social Progressista, que indicou seu nome à Câmara Municipal de Fortaleza.
A paixão pela imprensa tinha se manifestado em sua terra natal, garoto ainda, quando produzia jornais manuscritos, e o seu lado combativo também já se revelava nos títulos: A Tesoura, A Navalha e O Bisturi. Aluno do Liceu foi responsável, na companhia de Alaor Albuquerque, Mardônio Botelho e Elissade Bacelar e outros, pelos jornais A Greve e A Luta. Tudo isso resulta na militância no jornal O Estado, quando responde pela coluna diária De Olhos Abertos. Esse histórico de luta prepara a estrutura de um corajoso empresário de cinema.
Seu idealismo transpassa muitos segmentos da vida cearense até alcançar a edificação da Companhia Cinematográfica do Ceará S.A.CINEMAR -, cuja materialização ocorre em 1950 com a abertura dos cinemas Jangada e Atapu, comandada de um pequeno escritório à rua Pedro Pereira, 166, altos. Seguem-se episódios de persistente luta para ampliar seu circuito de cinemas e mantê-los sobrevivendo em mercado até então monopolizado. Infelizmente, o magnífico empreendimento desapareceu após 12 anos de sobrevida, deixando-lhe a mais profunda mágoa. Certa vez Barros Leal confessou porque vendeu a sua metade na empresa, passo fatal para a sua liquidação: “A CINEMAR representava tudo para mim. Pena é que eu tenha tido a burrice de ser bairrista e feito negócios com quem não merecia fazê-lo. Deixei de associar-me com o Lívio Bruni, grande exibidor no Rio e que desejava penetrar aqui, reformando os cinemas e dotando-se de ar-condicionado e outras melhores e modernas condições. Entretanto, o meu ex-sócio queria a destruição da CINEMAR, o seu desaparecimento. Conseguiu o seu criminoso intento, embora não tenha podido alijar o seu nome da lembrança do cearense...”
Amadeu Barros Leal faleceu em Fortaleza, em 10 de novembro de 1978**, cumprindo a sua última missão, ao redigir um libelo contra o cigarro.

Em reconhecimento ao idealismo de Amadeu Barros Leal, a Fundação Demócrito Rocha, sob a presidência de Albaniza Dummar, instituiu, em 1985, o Prêmio Samburá. O troféu foi conferido pela primeira vez aos participantes do I Festival de Fortaleza do Cinema Brasileiro: a uma personalidade destacada no cinema nacional, ao melhor longa e ao melhor curta metragem.
Nas palavras de agradecimento, proferidas pelo filho Vladimir Barros Leal, traça-se o perfil do empreendedor e a dimensão de sua contribuição à cultura e lazer na capital cearense: 

“Durante muitos anos o cearense, particularmente o fortalezense, deveu a Amadeu Barros Leal a sua Cinemar, com uma cadeia de casas de espetáculos espalhadas pela cidade, numa época em que o cinema era a grande opção de lazer, quase a única.
Enfrentando tempestades que só a um valente jangadeiro é dado vencer, arrastando em sua trajetória poderosos ventos contrários e ondas gigantescas, Amadeu Barros Leal soube se impor e foi em frente e seus contemporâneos são testemunhas de sua vitoriosa aventura.
Inovador, projetou em sua telas memoráveis festivais do cinema europeu. Competitivo, adaptou às suas telas o Cinemascope e garantiu a exclusividade da Metro Goldwyn Mayer, brindando o seu público com majestosas películas, tais como: “Quo Vadis”, “Ben Hur”, “E o vento levou”, entre muitas outras.


Audaz, exibiu em suas telas filmes considerados atentatórios à falsa religiosidade e moral da época - década de 50 - como por exemplo: “Lutero”, “O Direito de Nascer”, “Veneno Lento”, um deles proibido pelas autoridades, e garantida a sua exibição na Justiça, através de Mandado de Segurança, assim mesmo em sessões separadas para homens e mulheres, que a posição ‘despudorada’ de uma mulher a ter um filho provocava vexames aos olhos mais puros.
Criativo, lançou a ideia da realização de um filme sobre a vida de Padre Cícero, chegando a convocar produtores, diretores e artistas para a consecução do projeto, só não o realizando devido a dificuldades econômicas, intransponíveis e à insensibilidade e indiferença daqueles que podiam tê-lo ajudado neste seu mais acalentado sonho.
Se os homens públicos da terra que tanto amou não lhe renderam a homenagem, digna de sua dimensão, o Prêmio Samburá vale como uma consagração da sua obra, fazendo-lhe justiça, numa prova de que o cearense sabe ser grato aos homens que realizaram verdadeiramente alguma coisa em seu benefício. Se meu pai fosse vivo, não conteria a emoção. Na certa estaria se sentindo profundamente gratificado com o reconhecimento público à gigantesca luta que empreendeu em prol da Cinematografia no Ceará.”


**10/Novembro/1978-Morre, em Fortaleza, às 14h, na Casa de Saúde São Raimundo, o advogado, jornalista e empresário Amadeu Gomes de Barros Leal (Amadeu Barros Leal), fundador e presidente da empresa cinematográfica Cinemar, cearense de Quixeramobim nascido em 13/03/1914.
Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.



Crédito: Jornal O Estado/Memória do Cinema/Livro Cronologia Ilustrada de Fortaleza de 
Miguel Ângelo de Azevedo

quinta-feira, 25 de abril de 2013

José Setubal Pessoa - Um homem de visão


José Setúbal Pessoa (Foto ao lado do Acervo do neto Wilson Nascimento), era de tradicional família de Pacatuba. Em 1934, decidiu lançar-se na aventura de trabalhar por conta própria, adquirindo um pequeno Chevrolet, caminhão adaptado para ônibus, que ostentava em seu pára-choque dianteiro o nome “Wanderley”.                  Este cobria o itinerário do centro da cidade ao Otávio Bonfim, bairro onde morava seus familiares na época. Em 1936, após dois anos trabalhando sozinho, quando o transporte era feito de forma precária, José Setubal, juntamente com outros empresários, passou a rodar com o nome de Empresa Iracema, ligando o centro a Praia de Iracema. Foram depois adquiridos mais dois veículos, sendo um da marca Chevrolet Cara branca e um Diamond, emplacados com o números 1031 e 1032, realizando o percurso que tinha como ponto de partida o antigo Café Belas Artes.



O famoso "Café Belas Artes", de Osvaldo José Azin, que ficava no térreo do Palácio do Comércio, inaugurado em 15 de maio de 1940 e fechou as portas em 16 de maio de 1973. Ficava  ao lado da Livraria Arlindo, em frente ao Museu do Ceará.

Durante a segunda guerra, na década de 40, a empresa passou por inúmeras dificuldades, fazendo com que os sócios Francisco e Ciro Mamede Vidal desistissem de prosseguir, ficando José Setúbal Pessoa novamente sozinho, lutando com a falta de peças, pneus e combustível, pois tudo era importado do exterior. A Empresa Iracema teve que adaptar seus veículos para o uso de gasogênio para tentar vencer a crise de 1942, sendo a primeira empresa a ter experiência de trafegar com gasogênio no motor.

Chevrolet 1950 em frente a antiga sede do Círculo militar* de Fortaleza na esquina da Avenida Raimundo Girão c/ Rua Ildefonso Albano - Acervo Cepimar

Com o fim da guerra, foi implantada a Indústria Automobilística Nacional, com isto, passou a utilizar veículos construídos com finalidade específica de transportar passageiros, procedentes das recém-criadas fábricas. A linha do Seminário, que havia sido desativada devido à guerra, voltando a operar em 1945, tendo como ponto de partida a Praça Valdemar Falcão, ao lado do Palácio do Comércio.


Ônibus Chevrolet da Empresa Iracema - Acervo Cepimar


Em 1946, já com uma década de atividade, a empresa já servia aos bairros da Praia de Iracema, Seminário, Mucuripe e Carlos Vasconcelos, sempre com pontualidade dos ônibus que cumpriam à risca os horários de partida. O proprietário organizou uma grande festa em agosto daquele ano em comemoração ao 10º aniversário da Empresa.


Ônibus fazendo a linha Serviluz na década 60 - Acervo Cepimar

Em 1947, os bondes da Ceará Light eram desativados, fazendo com que a Empresa Iracema e demais empresas da cidade, ampliasse a frota para atender a demanda de usuários, principalmente nas linhas da região do centro, Praia de Iracema e Aldeota.

Com a inauguração do Porto do Mucuripe  em 1947, foi criada a linha Cais do Porto, sendo operada por quatro veículos da Iracema para atender o grande movimento de pessoas que se dirigiam para a região do Mucuripe. Em janeiro de 1948, a Iracema começa a operar nesta mesma linha com o curioso “ônibus cargueiro”, veículos destinados ao transporte de cargas e pessoas, com viagens feitas de hora em hora.

Ainda em 1948, José Setúbal Pessoa foi um dos fundadores da Associação das Empresas de ônibus em Fortaleza, registrando oficialmente o nome de fantasia da Empresa Iracema com a razão social de Organização José Setúbal Pessoa & Cia.

Em 1950, os jornais da cidade traziam o anuncio de venda da Empresa Iracema, José Setúbal declarava estar cansado dos mais de 15 anos de intensa dedicação à empresa, desejando assim, empregar sua atividade em outro ramo de negócio menos exaustivo. Uma das condições de pagamento era “50% a vista e o restante em 6 meses, desde que os títulos emitidos pelo comprador sejam negociáveis nos Bancos da cidade”.



Veículo conhecido como "paulista"** (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

Sua frota de 24 coletivos operava nas linhas da Praia de Iracema, Mucuripe, Cais do Porto, Vila dos Estivadores e Seminário, servindo também aos locais como o *Círculo Militar, os moradores da Avenida dos Jangadeiros, Casa de Saúde S. Raimundo, Vila Bancária e a própria Aldeota.

Em abril de 1955, uma crise ligada ao valor da tarifa afetava o transporte público da cidade, mais uma vez a Empresa Iracema era colocada à venda. Algumas empresas deixaram de prestar serviço à população, fazendo com que até mesmo a própria Iracema declarasse o encerramento de suas atividades nos jornais da cidade. Felizmente, tudo não passou de um alarme falso.

Ao completar vinte anos e com uma frota de 25 veículos, parte deles eram do tipo **Paulista, um dos mais modernos e confortáveis do país naquela época. Cumpria fielmente suas obrigações explorando o ramo de transporte coletivo à população da Zona Nordeste e grande parte litorânea. A linha Praia do Meireles via Pereira Filgueiras era acrescentada às outras quatro já operadas pela empresa.

Em 1957, lança um ônibus Chevrolet com carroceria fabricada no Rio de Janeiro pela Carroceries Vieira Comercio e Indústria S.A.O novo veículo entrou em operação na linha da Praia de Iracema. Sua carroceria foi desenhada pelo técnico Herbert Gustaw von Laszio-Leipniker, engenheiro chefe da Carroceries Vieira, o qual veio a Fortaleza com o objetivo especial de assistir ao lançamento do ônibus. Este foi o primeiro de várias unidades Vieira que a Empresa Iracema colocou nas suas linhas.


Entrega do ônibus com carroceria Vieira em 1957 (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

Fortaleza atravessou uma grave crise de combustível entre 1962 e 1963, prejudicando a população que passou a conviver com um transporte limitado devido ao racionamento de gasolina. Mesmo assim, a Iracema manteve seus ônibus nas ruas, apesar da inevitável redução da frota de ônibus.

A Empresa foi a pioneira na instalação de catracas nos ônibus de Fortaleza, conhecidas como “borboletas” chegaram no ano de 1964. A linha Casa de Saúde São Raimundo foi a primeira beneficiada com esse sistema, que tinha o equipamento instalado no centro do corredor, através dele, era feita a cobrança das passagens. Naquele momento, a Empresa Iracema empregava 130 funcionários com uma frota de 40 veículos, entre carros de socorro, serviço, reboque e fiscalização.

Ônibus com catraca de 1964 (Jornal Unitário) - Acervo Fortalbus

José Setúbal Pessoa faleceu em 1972, aos 62 anos de idade. O empresário foi vítima de um acidente automobilístico na cidade de Recife, quando voltava a Fortaleza dirigindo um veículo Corcel que havia adquirido no Rio de Janeiro. Sua esposa, D. Maria Gisete Costa Pessoa, sobreviveu, e após a tragédia, assumiu com pulso firme o comando da empresa, tendo inclusive participação ativa no sindicato patronal, sendo assídua frequentadora das famosas reuniões das terças-feiras.

Ônibus Vieira com selo comemorativo de 30 anos da Empresa Iracema - Acervo Cepimar

A Iracema seguiu evoluindo nos anos seguintes, chegando a ser registrada em 1978 como Organização José Setúbal Pessoa Ltda. No final daquela década, além da Praia de Iracema, sua linha pioneira, alcançava também outras linhas como Caça e Pesca e Barra do Ceará, nos dois extremos da zona praiana de Fortaleza, servindo em toda a sua extensão.

No começo da década de 1980, já com sua inesquecível pintura verde em forma de asa, servia as linhas Dom Luiz, Varjota, Serviluz, Castelo Encantado e Meireles, além das compartilhadas com outras empresas, Messejana/Cais do Porto, Barra do Ceará/Cais do Porto e Circular.

Mercedes-Benz O362 Urbano - Acervo Fortalbus


Em 1982, já eram 284 empregos diretos e uma frota de 56 modernos ônibus operados por uma garagem sede na rua Gonçalves Ledo. O quadro de funcionários era de 100 motoristas, 112 cobradores, 40 mecânicos de diversas especialidades e 32 funcionários de administração. Entre os sócios da Empresa Iracema, D. Maria Gisete contava também com o apoio de sua única filha***, Vânia Maria Pessoa.

Gisete Pessoa ao lado de um ônibus que tinha acabado de chegar da fábrica**** em 1976 - Acervo do neto Sérgio Pessoa Souza

Aquela década trouxe outras inovações, no seu 50º aniversário, a Iracema foi a primeira empresa a trazer o modelo Ciferal Jardineira para Fortaleza, veículo urbano especial que passou a operar na linha Praia/Circular. O ônibus tinha motor traseiro, janelas panorâmicas e pintura desenvolvida exclusivamente para o modelo.


Ônibus Ciferal Jardineira Mercedes-Benz OH-1313 da Empresa Iracema - Foto de Maurice Gonçalves Natacci

Além da evolução das carrocerias naquela década, a Iracema adquire o moderno Mercedes-Benz O371 em 1988, o Volvo B58 e o primeiro Scania F112HL motor dianteiro e carroceria Ciferal Padron Alvorada.

A partir de 1990, D. Maria Gisete conta com o apoio de seus netos Sérgio e Cláudia Pessoa, além de Fernando, presente desde 1985 como um dos sócios da empresa.

No começo dos anos 90, a Iracema deixa de usar o tradicional “carimbo” que identificava o prefixo do veículo na lateral, uma vez, que todas as empresas passaram a utilizar um único sistema de numeração antecedido por um código, a Empresa Iracema era representado pelo número 07.

Iracema Amelia 133 - Acervo Fortalbus


Com a implantação do sistema integrado de transporte, além da reformulação de algumas linhas da cidade, a Iracema passa a incorporar veículos do tipo “padron” equipados com porta central. Nesta fase, chegou a ter uma das maiores frotas da cidade com cerca de 100 veículos. ( Ao lado, ônibus Iracema Ciferal Padron Alvorada 109- modelo de 1989). 

Mas as mudanças não pareciam ter sido favoráveis para a mais antiga empresa de Fortaleza, pois acumulava uma dívida na ordem de 4 milhões, segundo Francisco Feitosa, Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Passageiros do Estado do Ceará.
A Empresa caiu numa decrescente, perdendo veículos e sendo obrigada a ceder suas linhas para outras operadoras. No último mês de operação, sua frota nas ruas não chegava a 30 veículos distribuídos em apenas quatro linhas.

Garagem da Empresa Iracema em 1996 (Jornal O Povo) - Acervo Fortalbus

A Empresa Iracema encerrou suas atividades em 1996, com seis décadas de serviços prestados à população de Fortaleza. Suas linhas foram transferidas para as Empresas Auto Viação Fortaleza, Cialtra, Irmãos Bezerra e Maraponga.
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Matéria publicada no Jornal O Povo em 02 de fevereiro de 1996:


EMPRESA IRACEMA PERDE BENS POR FALÊNCIA

"Aos 60 anos, a mais antiga concessionária de linhas de ônibus de Fortaleza tem dívidas que ultrapassam os R$ 4 milhões.

A empresa de ônibus mais antiga de Fortaleza faliu. Com 60 anos circulando na cidade, a empresa Iracema, administrada pelo empresário Fernando Eugênio Pessoa, não conseguiu reverter o processo de falência e, ontem pela manhã, praticamente definiu seu destino. Seis veículos da frota foram tomados pelo Banco Real como dívida de leasing (contrato financeiro onde é alugado um bem e, no final do prazo estabelecido, permitida a aquisição definitiva), sob determinação judicial. O Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Passageiros do Estado do Ceará (SETPEC), Francisco Feitosa, confirma o valor das dívidas: "Em mais ou menos R$ 4 milhões". A situação, segundo ele, é "irreversível".

As dívidas, segundo um informante do meio empresarial do setor, foram acumuladas junto à Receita Federal, Previdência, Direitos Trabalhistas, Secretaria das Finanças do Município, bancos, fornecedores, companhias de petróleo e governos federal, estadual e municipal. "Foi má administração" - disse o informante, sem se identificar.

Há aproximadamente 60 dias, segundo Feitosa, a empresa ainda contava com uma das maiores frotas da cidade, com mais de 100 veículos. Ontem, chegava a pouco mais de 20. Cerca de 100 motoristas e trocadores haviam parado de trabalhar desde as 14 horas de quarta-feira (31). Foram cobrar o pagamento do salário de janeiro e rescisões contratuais.

No final da manhã, em negociação com o proprietário da Iracema, Fernando Eugênio Pessoa, o sindicato representante dos motoristas e trocadores concordou que a categoria recebesse os valores atrasados. "Ficará um quadro de motoristas para atender aos 26 carros que a empresa ainda tem" - explicou o Presidente da entidade, Elias Augusto da Silva.

A Autoviária Fortaleza vem substituindo, desde o segundo semestre de 1995, as linhas concedidas à Iracema. Até ontem, eram apenas quatro ainda operadas pela empresa falida, em circulação principalmente na área do Mucuripe. O POVO não conseguiu obter a versão de Fernando Eugênio Pessoa para os fatos."
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Em 2004, os fundadores José Setúbal Pessoa e Maria Gisete Costa Pessoa, receberam homenagem do Sindiônibus por meio da Série Memória. Eles tiveram suas fotos e dados exibidos nos 12 milhões de vales-transportes que circularam naquele ano.

No ano seguinte, José Setúbal Pessoa teve uma rua no bairro Cais do Porto inaugurada com seu nome. A iniciativa também foi do Sindiônibus, em homenagem a este grande empresário cearense que ajudou a construir a história do transporte no nosso estado.

A mesma Empresa Iracema, que rompeu décadas transportando os fortalezenses apesar das inúmeras dificuldades, infelizmente não resistiu. Todos os méritos ao pioneiro José Setúbal Pessoa, que construiu a base de uma grande empresa, porém, não pôde dirigir seu patrimônio juntamente com sua família. Méritos também à Dona Maria Gisete, que teve a missão de continuar o trabalho pelos anos seguintes, permanecendo no comando da empresa até o encerramento das atividades da saudosa Iracema

Reboque em 1987 - Acervo ÔnibusBrasil


*** Com D. Gisete Pessoa, José Setúbal só teve uma filha, Vânia, mas além dela, ele também foi pai de Valdeída, de outro relacionamento, e como homem honrado que era, não deixou de cumprir todas as suas obrigações como pai.

****"Sempre que chegava um novo ônibus, era motivo de muita alegria e uma foto" - Sérgio Pessoa (neto)

Todos os créditos vão para os amigos do  Site Fortalbus e Site Cepimar

Saiba mais sobre a Empresa Iracema AQUI

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Oscar Pedreira - O homem que implantou a primeira linha de ônibus em Fortaleza



Na foto, vemos Sr. Oscar Pedreira, a esposa e as sobrinhas. O bairro Jacarecanga concentrava o maior número de palacetes e mansões de Fortaleza. Com 3 pisos, o casarão do empresário Oscar Pedreira era uma das mais bonitas residências da área. 
Arquivo Marciano Lopes

Oscar Jataí Pedreira, filho de tradicional família cearense, foi o pioneiro do transporte de massa em Fortaleza. Dirigiu a sua empresa de ônibus durante 30 anos, até o final da década de 50. Filho de Luis da Silva Pedreira e de Francisca Jataí Pedreira nasceu em Fortaleza a 18 de julho de 1896, contando portanto, mais de 81 anos de idade. Casado com Dona Francisquinha Holanda Pedreira. Não houve filhos na união que, no entanto, foi das mais felizes. Dos 7 irmãos, apenas um, Artur*, o mais novo está vivo. Os demais também faleceram: Alzira, Amélia, Afonso, Alice, Luiz e Angélica. Esteve sempre presente à educação de seus inúmeros sobrinhos, caracterizando-se não apenas como correto e honesto empresário, mas ainda como chefe de família exemplar. 

Casa de Oscar Pedreira hoje

Uma das construções mais imponentes do Jacarecanga, o Bangalô de Oscar Pedreira, aguarda proteção urgente - Arquivo Diário do Nordeste

O Bangalô é uma das mais imponentes construções do bairro Jacarecanga. Está entre os espaços que possuem processo de tombo em aberto. Localizado na Avenida Filomeno Gomes, ainda abriga uma família. Marcado pela má conservação, o lugar vai se mantendo como pode. Mesmo com as paredes descascadas e janelas quebradas, o bangalô é um dos símbolos de que a história de Fortaleza está ali, ao lado do ponto de ônibus e do carrinho que vende sanduíches na calçada do casarão.


Morreu Oscar Pedreira: Foi ele o pioneiro do nosso transporte de massa

Matéria publicada no Jornal O Povo pág. 03 de 14 de dezembro de 1977


"Faleceu Oscar Pedreira (Oscar Jataí Pedreira), aos 81 anos de idade. Várias gerações, principalmente de estudantes do velho Liceu do Ceará, conheceram aquele que implantou a primeira linha de ônibus em Fortaleza, ao tempo em que a cidade contava apenas com os bondinhos da Ceará Light. Inicialmente, Pedreira, como era mais conhecido, organizou a Linha de Jacarecanga, ampliando em seguida a sua empresa coma criação de uma segunda, a do bairro de Carlito Pamplona. Começando a vida como motorista, Oscar Pedreira jamais deixou que a sua empresa servisse mal aos passageiros. Dinâmico e irrequieto, assumia ele mesmo o posto de chofer, quando um profissional faltava. O que não admitia era que a população de Jacarecanga e Carlito Pamplona ficasse prejudicada.

A Empresa Pedreira Ltda, primava pelo asseio e organização enquanto seu proprietário se popularizou pela presença constante na Praça do Ferreira, paradas intermediárias e finais de linhas, para a fiscalização do serviço que estava prestando a ponderável parcela do povo fortalezense.

Parada de ônibus próximo a Praça do Ferreira - Arquivo Nirez

Praça do Ferreira nos anos 40 com circulação de bonde, ônibus e táxis

Sepultamento 


O sepultamento de Oscar Pedreira será às 8 horas de hoje no Cemitério de São João Batista, saindo o féretro de sua residência, à avenida Francisco Sá, 1849.



Essa bela casa ficava na Avenida Francisco Sá, não sei a numeração. Seria essa, a última residência em que morou, Oscar Pedreira?

Com o seu falecimento coloca-se um ponto final, também, num dos capítulos da história."

Em 18 de julho de 1979, inaugura-se, em Fortaleza, a Rua Oscar Pedreira, no Jacarecanga, antiga Travessa Quixeramobim, projeto do vereador Luís Ângelo, homenagem a Oscar Jataí Pedreira (Oscar Pedreira), um dos pioneiros no transporte coletivo em ônibus em nossa terra.



Rua Oscar Pedreira. Encravada na Avenida Francisco Sá, entre a Av. Filomeno Gomes e a rua Antônio Bandeira. Foto de 2011

Oscar Pedreira era fortalezense, nascido em 1896.

Morreu aos 81 anos de idade, em sua casa, na Avenida Francisco Sá nº 1849 em 13 de dezembro de 1977, sendo sepultado no dia seguinte no Cemitério São João Batista.


Empresa Ribeiro & Pedreira




Ônibus com carroceria de madeira da década de 30/40

A empresa iniciou suas atividade em 1927, mas só foi registrada na Junta Comercial em
22/05/1928. Os ônibus tinham carroceria de madeira construídos sobre chassi de caminhão.
Os doze ônibus que pertenceram a Empresa Ribeiro & Pedreira, dez eram da marca
"Chevrolet" e dois eram da marca "Dodge". Esta empresa foi a primeira a operar uma linha
de ônibus em Fortaleza, ao tempo em que a cidade contava apenas com os bondes da Ceará
Light
. Após a firma ser extinta Oscar Pedreira ficou com os doze ônibus sob seu  poder,
registrando outra Empresa - Pedreira & Cia.

Funcionou de 1927 a 1929

Proprietários / Sócios
Humberto Ribeiro

Oscar Pedreira

Linhas Urbanas:

Escola Aprendizes Marinheiros (Fortaleza)
Outeiro, atual Aldeota / Centro (Fortaleza)
Parangaba
Via Férrea (Fortaleza)


Metropolitanas:
Fortaleza / Maranguape
Frota

1927 - 02 ônibus
1929 - 12 ônibus




Empresa Pedreira 

Primeira Empresa a adquirir chassis para ônibus (1941) e empregar moças como cobradora (1946). Em 2002, Oscar Jataí Pedreira foi homenageado com a medalha CEPIMAR de Transporte de Passageiros, na Categoria “Post Mortem”, outorgada pela Federação das Empresas de Transportes Rodoviários dos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão 

A empresa começou a funcionar em 1929 e deixou de funcionar no final da década de 70.

Proprietários / Sócios
João de Carvalho Góes
Oscar Pedreira
Linhas Urbanas:
 
Brasil Oiticica / Centro (Fortaleza)
Carlito Pamplona / Centro (Fortaleza)
Jacarecanga / Centro (Fortaleza)
Vila São José / Centro (Fortaleza)


Frota

auto-ônibus


Foto da década de 50. Abrigo Central na Praça do Ferreira

Fatos Históricos



  • 1928 - Surgem os ônibus de propriedade de Oscar Pedreira, que apesar de bem recebidos pela população, são mal recebidos pela Light que abre processo acusando a nova empresa de usar seus trilhos.


  • 13/dezembro/1977 - Morre, aos 81 anos de idade, em sua casa, na Avenida Francisco Sá nº 1849, em Fortaleza, Oscar Jataí Pedreira (Oscar Pedreira), um dos pioneiros no transporte coletivo em ônibus em nossa terra. Era fortalezense nascido em 18/07/1896. Foi sepultado no dia seguinte no Cemitério São João Batista. Hoje existe uma rua no Jacarecanga com seu nome.


  • 18/julho/1979 - Inaugura-se, em Fortaleza, a Rua Oscar Pedreira, no Jacarecanga, antiga Travessa Quixeramobim, projeto do vereador Luís Ângelo, homenagem ao pioneiro dos empresários de ônibus.


Primeira residência de Oscar Pedreira no cruzamento da Avenida Filomeno Gomes com Monsenhor Dantas, ainda existe, mas se encontra em péssimo estado de conservação:







* Isso em 1977, data da reportagem do Jornal O Povo

Leia também a Parte II


Fontes: Cepimar, Diário do Nordeste, 
Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo

NOTÍCIAS DA FORTALEZA ANTIGA: