Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cine Polytheama
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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Cine Theatro Polytheama - 1911 - Parte II



Outra investida da firma Rola & Irmão foi a conquista da distribuição exclusiva das produtoras americanas mais importantes, na época, e que gradualmente entravam no mercado brasileiro. A respeito diz o “Jornal da Tarde", em 25 de março de 1912:

POLYTHEAMA

A Empreza Hola & Irmão contratou com a firma Angelino Staurile & Ca., do Rio de Janeiro, as belíssimas fitas das fabricas americanas Vitagraph e Biograph, tornando-se a única recebedora neste Estado. Escusado é encarecer esta notícia visto que aquelas duas fábricas são sobejamente conhecidas por suas fitas de imenso valor artístico. Damos parabens ao público.


A programação, apesar da noticia, prossegue sendo notadamente de filmes franceses e italianos, com destaque para a vigorosa produção dinamarquesa que era então detentora de prestígio mundial. Um clássico do cinema francês, foi exibido pelo Polytheama, no dia 14 de julho de 1912, comemorando a Queda da Bastilha: “Assassinato do Duque de Guise"
(L 'Assassinat du Duc de Guise; 1908, 300 metros, primeira produção da Le Film d'Art, de Paris. Direção de André Calmettes, com assistência de Charles Le Bargy e argumento de Henri Lavedan. Interpretação pelo elenco da Comédie Française: Charles Le Bargy, Albert Lambert, Gabrielle Robinne, Berlhe Bovy, Rol/a-Norman e Dieudonné). Película tão importante que
para o genial cineasta americano David Wark Griffith esta foi sua melhor lembrança do cinema: “Este para mim foi uma revelação completa, um filme maravilhoso”.



Em 1913, há um retrocesso para o cinema exibidor de Fortaleza, enquanto perdurou a tentativa de se constituir um “trust” com o Polytheama, Rio Branco e Cassino Cearense, três dos quatro cinemas então existentes, de fora apenas o Cinema Di Maio. Nossos melhores cinemas, passavam a fazer parte de uma firma constituída sob a denominação de Empresa Cinematographica Cearensecom escritório à rua Barão do Rio Branco,98-A, figurando o empresário José Rola como gerente, responsável portanto pela operacionalização do sistema.

A imprensa mantinha o trust sob crítica constante, e destacava como alvo

de suas reclamações o Polytheama.
O Jornal “Unitár¡o" (27.3.1913), diz :

POLYTHEAMA

Já quasi ninguem mais se quer aventurar a entrar no outrora tão florescente
cinema-theatro, pois é um espantalho terroroso, a charanga que o sr. Gerente da “Empreza Cinematographica” poz alli.
Antigamente custava a entrada 500 reis, tendo o espectador a deliciar os seus tympanos, uma magnifica orchestra. Hoje, paga-se 600 reis, e ainda por cima, o gerente arruma no público com sua desafinada confusão musical, que dá dor de cabeça e opila o fígado.
A concurrencia vae rareando dia a dia, e si o sr. Rola não tomar tento, vae à
vela.


No dia seguinte, o “Unitário” volta à critica:

POLYTHEAMA

Pouco a pouco se vão descobrindo os propositos reservados que anteviamos
quando se fomou o trust cinematographico nesta capital. Os cinemas Rio Branco e Cassino estão quasi de portas fechadas, sem orchestra, sem luz e sem frequentadores. No Polytheama, cabeça do syndicato, e segundo nossas previsões, o unico que sobreviveria dos tres, a orchestra está disposta á La volonté do seu secretário, que resiste às reclamações de todo o público frequentador, em conservar alli uma sallada musical ou musica de Sant'Anna que faz mal aos nervos, e vae provocando o abandono dessa, outróra tão procurada casa de diversões.
E, si o trust conseguisse assambarcar também o DiMaio, então já estaríamos nas suas garras irremediavelmente: preço ao talante, musica e programmas à vontade.
Esperamos que o gerente da “Empreza Cinematographica” tome novo rumo sinão irá a matroca.

 O Jornal de 06 de outubro de 1916

Em maio de 1913, 0 “Unitário” (6.5.1913), protestava mais uma vez contra o
trust:

POLYTHEAMA 

A “Empreza Cinematographica Cearense” tem faltado ao compromisso
perante o publico. Ultimamente, as fitas de valor teem sido exhibidas para mais de cinco vezes, no Polytheama, deixando assim este cinema de projectar, todos os dias, novos films, como prometteu a “Empreza” em sua fundação.
Domingo passado assistimos, nessa casa de diversões, a prática de outro abuso que há tempo verberámos - a venda de lotação excessiva, a qual muito incommóda e prejudica os espectadores.
Quanto aos programmas, salvo quando faz parte delles, esporadicamente
alguma fita de arte, nada teem agradado nestes ultimos tempos, em que, com a formação do trust, deixou de haver competencia entre os cinemas para a exhibição das producções melhores da cinematographia modema.

Não se tem maiores detalhes dos acertos comerciais entre os empresários
cearenses, nessa primeira tentativa de eliminar a concorrência no setor de exibição cinematográfica. Percebe-se que o pioneiro Victor DiMaio resistiu a 
qualquer apelo para sua adesão, permanecendo o único exibidor independente. Outro fato visível é que José Rola, que capitaneava o trust,logo que decreta o seu final, em agosto de 1913, dinamiza o seu Polytheama para uma nova consolidação.

O fim do trust, noticia tão reclamada e esperada pelo público, é trazida pela "Folha do Povo" (24.8.1913) numa nota sobre o Polytheama:

POLYTHEAMA

Este bom centro de diversões, acaba de desligar-se da Empreza Cinematographica, assumindo a sua direção novamente o sr. José Rola.
O seu diretor está exercendo toda sua atividade para que o Polytheama venha a ser a primeira casa do genero: para isso recebeu ultimamente grande número de "films" de arte e está reformando os salões do edifício.

O sr. Rola inaugurou novamente as sessões infantis, para a petizada endiabrada que gosta do Bigodinho, Robinet, Cri Cri e outros comicos e disse-nos que sejam também proveitosas para o desenvolvimento intelectual dos mesmos.

Aqui pois, fica registrado a nota sobre o Polytheama.
Os preços de entradas continuam os mesmos.

Praça do Ferreira em 1934. Vemos ao lado do Majestic, o Cine Polytheama. Arquivo Nirez

No dia 28 de agosto de 1913, como cinema independente, o Polytheama exibia na sua Soirée Blanche, o filme “Cadáver Vivo" (II Cadavere Vivente), um drama da vida real, produção de 1913, da Savoia Film, de Turim, em 4 longas partes, 621 soberbos quadros cinematográficos, 1.500 metros. O romance de Leon Tolstoi era levado a tela, sob a direção de Nino Oxilia e Oreste Mentasti, com interpretação de Dillo Lombardi, Maria Jacobini, Lívia 
Martino, Arturo Garzes e Alberto Nepoti.



'O Jornal' de 1916

O sistema distribuidor de filmes, no Brasil, envolvia agora novos processos e
capitais de maior vulto. A Companhia Cinematographica Brasileira, com sede à rua Brigadeiro Tobias, 52, São Paulo, e capital de 4.000.000$000 (quatro milhões de réis), chegava à Fortaleza, em 1913, fazendo contratos para lançamento simultâneo de grandes filmes em todos os nossos cinemas: no Cinema Rio Branco“Quo Vad¡s?" (Quo Vadis?; Cines, 1913, 225m, de Enrico Guazzoni);e nos cinemas Polytheama e Júlio Pinto, “Branco contra Negro” (Bianco contro Negro; Pasquali, 1913, de Enrico Guazzoni, 3.000 metros, 150 quadros e 5 atos). O anúncio desse filme dizia: “Romance completamente popular de aventuras rocambolescas, fazendo o principal papel o renomado actor Alberto Capozzi. Este grandioso drama que enthusiasma até ao delírio diversas nações, foi pela fábrica Pasquali, de Turim, reproduzido e posto em scena com toda a arte que hoje offerece a cinematographia moderna".

A estratégia mercadológica das sessões especiais, com denominações em francês, a gosto da época, faz com que o Polytheama lance, na quarta-feira, 16 de abril de 1913, a “Soirée Blanche", sendo o filme inaugural "Rapariga sem Pátria” (Pigen unden Faeder/and; Monopol Film, de Copenhague, 1.035 metros), dirigido por Urban Gad. a história de uma cigana, com a célebre atriz dinamarquesa Asta Nie/sen e Max Wogritsch.

Transcorria o ano de 1914, tendo o Polytheama a mesma posição de bem
sucedido lançador de filmes europeus. Em janeiro, fato incomum, desaparecem filmes que se encontravam guardados no cinema.

As fitas "Os Cossacos”, “Entre Pinos e Rodi", “Sonho de Acesso" e “Suécia Pitoresca", talvez tenham sido levados por algum cinemeiro doente. 




Na programação do ano, espetáculos compostos por filmes e sessões liricas. No mês de maio, destacavam-se no palco os duetistas liricos DeMare e Beneck, e comenta o Unitário": "O Polytheama tem levado à tela esplendidos films naturais e artísticos das melhores fábricas do Velho Mundo, resenvando para as segundas sessões as audições lyricas”. O cinema era anunciado, então, como cassino familiar e tinha uma orquestra de sete exímios professores, destacando-se os maestros Vilalta, piano; Armando Lameira, violino; e Luiz Ancettidiretor de arquivo.

No ano seguinte, o Polytheama ganhava ainda maior destaque, após passar por reformas. Anúncio publicado no “Diário do Estado" (28.1 .1915) ressalta a qualidade do cinema:

CINEMA POLYTHEAMA THEATRO

Praça do Ferreira, 12
Empreza: ROLA, IRMAOS 7 CIA.
End. Teleg.: Polytheama, Ceará.
PRIMEIRA CASA DE DIVERSÕES DO ESTADO

Frequentado pelo que há de mais seleto em nossa sociedade e incontestàvelmente a que oferece melhor conforto.

GRANDE SALÃO DE ESPERA COM ORCHESTRA COMPLETA
de 8 professores sob a regência do Professor Armando Lamera.


O mesmo jornal, “Diário do Estado”, na edição de 26 de janeiro de 1915, 
publicava:

ATENÇÃO

Sábado, 30 de janeiro de 1915
Deslumbrante e suntuosa festa
Para solenizar a inauguração dos
importantes melhoramentos do 

CINEMA-THEATRO POLYTHEAMA.

3 sessões, às 6, 7 e 8 horas.
Salão de espera vasto e profusamente
iluminado, com uma harmoniosa orchestra.

Distribuição de mimosos brindes às crianças na
Matinée Infantil - às 6 horas da tarde.
Verdadeiro sucesso no Ceará.


Em 1916, a habilidade e decisão do jovem e emergente empresário Luiz Severiano Ribeiro, coloca-o à frente dos veteranos exibidores (José Rola, Henrique Mesiano, Raul Walker), com a firma Ribeiro & Cia. Era estabelecido um novo “trust” no circuito exibidor de Fortaleza, pelo qual os dirigentes decidiram pela manutenção de alguns cinemas e fechamento de outros, cujos proprietários receberiam como compensação parte dos lucros. A cidade contava então com cinco cinemas. De início, em janeiro, foram fechados o Amerikan Kinema, o Riche e o Cassino Cearensecujos dirigentes passaram a receber, os dois primeiros, 19% cada, e o último, 14% dos lucros que fossem gerados nos dois cinemas remanescentes e conservados em funcionamento por força do acordo: Polytheama e Rio Branco e, em seu lugar, reabrir o Riche.

Há protestos pelo retrocesso que se constituía a redução no número de cinemas.
Protestos maiores são veiculados pelo Correio do Ceará”, em sua edição de 30 de maio de 1916, condenando a nova programação de filmes italianos “imorais":

POLYTHEAMA

Esta casa de diversões tem infelizmente descido muito no conceito do público, devido às exhibições indignas de fitas altamente immoraes e que muito desabonam o critério dos seus proprietários.

Secundamos o brado dos nossos collegas do “Diário do Estado” que ainda hontem manifestaram o desagrado da família de Fortaleza, ante o procedimento daquella casa, que se está transformando numa escola de perversão social.

Lastimaram os nossos collegas que os directores daquelles cinemas, ao envez
de passarem em seu écran fitas innocentes, instructivas e agradaveis, exhibam os grosseiros productos immoraes e reprovaveis, das fabricas italianas.

São muito justas as reclamações do "Diário do Estado”, as quaes sinceramente applaudimos.

Ainda ante-hontem, a fita exhibida no "Polytheama” escandalizou o publico inteiro de Fortaleza.

Grave culpa cabe aos directores daquella casa. Numa sessão tão frequentada como a “soirée chic” de um domingo, quando as principaes familias se reunem ali para assistirem uma fita em torno da qual se fizeram largos reclamos não era admissível que se fizessem passar pela tela scenas degradantes de uma refinada baixeza.




Isto toma, de facto, proporções de um menosprezo à dignidade das famílias desta capital.

A fita “Dívida de Sangue” pode ser levada nos grandes centros; mas, somente em cinemas frequentados pela gente que não tem classificação moral.

Apresental-a às famílias distinctas de nossa catholica Fortaleza é um attestado triste de pouco caso que se tem para com os sentimentos de nossa sociedade.

O facto desgostou profundamente os frequentadores daquella casa.

Fazemos um sincero appello aos directores do “Polytheama” para que ora em diante não mais consintam na exhibição de fitas indecentes. Esperamos que as nossas palavras sejam attendidas, para que não tenhamos a tristeza de novamente reclamar contra coisas desta ordem.


O objeto das criticas eram os filmes ItalianosDívida de Sangue" (Debito di
Sangue; Sabaudo Film de Milão, 1915, 1500 metros, dirigido por Mario Roncoroni) e "A Confissão da Meia Noite" (Mezzanotte; Milano-Film, 1915, 780 metros, argumento e direção de Augusto Genina, com Mercedes Brignone, Livio Pavanelli, Ugo Gracci, Luigi Serventi, Rambaldo de Goudron e Franz Sala).


A pressão da imprensa curvou a firma Ribeiro & Cia., e o Correio do Ceará(6.6.16), festejava uma nova fase para o Polytheama:

POLYTHEAMA - Esta casa de diversões, que attendendo á reclamação justa que fizemos, suspendeu a exhibição de films offensivos à moral, espera pelo primeiro paquete a chegar do sul, uma remessa de fitas afim de serem passadas no écran. Por este motivo, os emprezarios promoverão, em homenagem a nova phase por que o Polytheama vae passar, uma festa popular, tocando por esta ocasião uma banda marcial para esse fim contractada.

A reabertura do Polytheama, sob a direção de Luiz Severiano Ribeiro. trouxe também de volta o cinema Riche, quando a 10 de junho, apresentaram simultâneamente a película italiana, com a grande estrela Francesca Bertini, “Assumta Spina” (Assunta Spina; Caesar Film, de Roma, 1915, 1690 metros, baseado na peça de Salvatore Di Giacomo, dirigido por Gustavo Serena), tendo no elenco Gustavo SerenaCarlo Benetti, Alberto Albertini, Antonio Crucchi, Amelia Cipriani e Albano Collo.
Era a estréia de Serena na Caesar Filmcomo seu primeiro ator e diretor artístico, percebendo 24.000 liras por ano, mais 300 por cenarização ou direção de fitas.


(Grafia da época) 


Continua... 
Parte I
Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Cine Theatro Polytheama - 1911



A Praça do Ferreira, centro da vida social e comercial, passa a ter um cinema que se tornou memorável, o Cine-Theatro Polytheama, cuja inauguração ocorre a 2 de junho de 1911. Localizado à praça, no prédio nº 12, no mesmo local em que quarenta e sete anos mais tarde seria inaugurado o luxuoso Cine São Luiz, sua criação deu-se ao esforço dos irmãos José e Joaquim de Oliveira Rola, associados sob a denominação Empresa Rola & Irmãos. O Polytheama, que teve uma longa vida, sobrevivendo à era do cinema sonoro, mesmo permanecendo como cinema mudo, foi em seus seis primeiros anos o principal cinema da cidade, oferecendo maiores e  amplas instalações que seus concorrentes programando filmes de qualidade.


José de Oliveira Rola

Sua inauguração foi precedida por viva expectativa, refletindo-se na imprensa diária as minuciosas providências de seus proprietários. A República”, de 25 de janeiro de 1911, publicava o anúncio:

POLYTHEAMA Cinema e Theatro
Em Construção.

Aceitam-se reclames para as paredes do salão de espetáculos. Preços módicos.
Tratar-se com José Rola. No El Contado.
Rua Municipal, nº 8.

Novamente em “A República”, a 26 de fevereiro de 1911, noticia-se o futuro cinema e teatro, que surpreende com uma pré-inauguração com espetáculo de teatro e música:

POLYTHEAMA

Uma nova casa de diversões vai ser aberta ao público cearense.
Localizado à Praça do Ferreira, por conseguinte num dos melhores pontos da capital, o “Polytheama", da empresa Rola & Irmão, está sendo instalado com o maior gosto e esmero, de molde a corresponder, plenamente, aos fins a que se destina.
Nos três dias de carnaval, à noite, serão realizadas, por sessões, variados espetáculos no  “Cinema-Theatro”.
Tomarão parte na representação alguns artistas da Companhia Francisco Santos, entre os quais Vieira XavierJoaquim Castro, João Carvalho, Narciso Costa, Francisco Brito e Eulina Barreto.
Amanhã serão levadas à cena as seguintes peças: nas sessões de 7 e 9 horas a engraçada comédia de Eduardo Garrido, “Os 30 botões” e na de 8 a comédia “Uma Tourada”.
Serão cantados também o “Fadinho Brasileiro” e a 
Caninha Verde”.



Durante os espetáculos executará escolhidos trechos de música uma esplendida orquestra sob a regência do maestro Smido.
Chamamos a atenção dos leitores 
para o anúncio que a empresa Rola & Irmão faz inserir, hoje, na seção competente.




O Polytheama seria de fato inaugurado, meses antes de sua primeira exibição cinematográfica, agora apenas como espaço teatral. O seu salão era aberto para breve temporada do grupo cênico de Francisco Santos, de 26 a 28 de fevereiro, no período das festas carnavaIescas. O anúncio da Empreza, publicado em “A República, de 25 de fevereiro de 1911, diz:

POLYTHEAMA
Cinema Theatro
12 - Praça do Ferreira - 12


Para festejar o Carnaval de 1911, a Empreza Rola & Irmão, e de acordo com o Empresário Francisco Santos, resolveu realizar espetáculos no novo Theatro, nos dias 26, 27 e 28, divididos em 3 sessões diárias.



Jornal do Ceará de agosto de 1911

Domingo, 26 de fevereiro, Domingo
Grande e variadas sessões
Rir! Rir! Rir!


1ª Sessão (às 7 da noite)A representação da hilariante comédia de
Eduardo Garrido
OS 30 BOTÕES

Desempenhada pelos artistas d. Eulina Barreto, João Carvalho e Narciso Costa.
5 números de música
A célebre Caninha Verde e o Fadinho Brasileiro.


2ª Sessão - às 8 horas
A representação da chistosa comédia
UMA TOURADA

Personagens:
Maurício aficcionado de touros - Vieira Xavier
Arthur, seu filho - Mariano Carvalho
Padre Pimenta - Joaquim Castro
Marcela, “velha beata" - Francisca Britto


3ª e última sessão às 9 horas
Os 30 Botões

Abrilhantará o espetáculo uma excelente 
orquestra sob a regência do distinto maestro Luiz Smido.

PREÇOS

Cadeiras na platéia - 1$000
Idem nas varandas - 1$500
Segunda e terça-feira espetáculos com programas novos.

AVISO

O Salão será franqueado ao ilustrado público depois da 2a. sessão.
0 serviço de Botequim está a cargo da acreditada 
Maison Art-Nouveau.

Depois desse breve período de funcionamento, como teatro, o Polytheama ficaria fechado para as obras complementares. Foram meses de expectativa, voltando o assunto aos jornais apenas em junho, em noticias como a que recolhemos de 'A República' de 12 de junho de 1911:

POLYTHEAMA
Dentro de muitos breves dias a digna e esforçada Empresa Rola & Irmão franqueará ao público desta Capital um estabelecimento de diversões familiares, com um bar de primeira ordem.

Está sendo montado, por profissional competente, um motor potentíssimo para iluminação elétrica do vasto prédio onde está o Polytheama, e acionamento de um grande frigorífico e do aparelho cinematográfico.
Oportunamente daremos uma noticia completa sobre o importante estabelecimento.


Jornal do Ceará de 1911

Dar-se-ia então a inauguração formal do Polytheama, do palco no sábado, 1º de julho de 1911, e do cinema - no domingo, dia 2, numa antecipação do que era previsto para a segunda-feira. Noticia a respeito, em “A República” (30.6.11), diz:

POLYTHEAMA 

Conforme noticiamos, a Companhia Remini inaugurará amanhã essa casa de diversões, com a representação da 
Princesa dos Dollars”, a deliciosa opereta que tanto agradou a nossa platéia.

Domingo, realizar-se-á outro espetáculo da Remini no Polytheama, onde de segunda-feira em diante, começa a funcionar o cinema.

Já chegaram esplendidas fitas e novo sortimento é esperado pelo “S. Paulo", bem como uma troupe de variedades, que 5ª feira, deverá estrear-se.



Jornal do Ceará de 1911

Fortaleza passava a possuir quatro cinemas, e o novo salão tinha tudo para competir com o Rio Branco, Cinema Júlio Pinto e Cinema DiMaio. A abertura do novo cinema, é assim noticiada:

POLYTHEAMA - Ontem começou a funcionar o cinema dessa conceituada casa de diversões, sendo exibidas cinco esplêndidas fitas. Para hoje foi organizado novo programa, de que constam belas fitas da Cines, Biograph e Pathé Frères.

(A República de 03.7.1911)

São filmes da fase inicial do Polytheama: 

Fedra (Phedra), da Pathé Frères, de Paris; Vingança da Morta (La Vendetta di una Morta; Comério L., de Milão, 1908, 130 metros; já exibido no Rio Branco, em novembro de 1910), Nella di Loredano (Nella de'Loredano; Saffi-Comerio, de Milão, 1909, 198 m, fita histórica dirigida por Giuseppe De Liguoro);
Verdadeira Caridade (Simply Charity), Biograph Company, 1910, 993 pés, de D.VV. Griffith, fotografia de Billy Bitzer e Arthur Marvin, com Mary Pickford, VV. Christie Miller, Georg Nichols, Edwin August, Kate Bruce, Charles West, Claire McDowell e William J. Butler; O Carnaval do Rio de Janeiro em 1911, “magnífica fita natural”, Empresa Serrador, fotografia A. Botelho; O Taberneiro Joe ('Ostler Joe), Biograph Company, 1908, 877 pés, estória curta de James Brown Potter, cenário D.VV. Griffith, fotografia Billy Bitzer, direção Wallace McCutcheon, com D. VV. Griffith e Eddie Dillon (já exibido no Júlio Pinto, em outubro de 1910), Max Procura uma Noiva (Max Cherche une Fiancée), Pathé Frères, 1910, com Max Linder; Antonio Foscarini (Antonio Foscarini), Film D'Arte Italiana, de Roma, 1910, 240 m, drama histórico; Mademoiselle de Sombreuil -ou- Um Episódio da Revolução Francesa (Mademoiselle de Sombreuil), Gaumont, 1910, 210 m, fita dramática histórica; Bigodinho e seus Filhos (Rigadin et ses Fils), Pathé, 1911, cômica com Prince-Rigadin; O Fugitivo (The Fugitive), Biograph, 1911, 996 pés, de Griffith, fotografia de Bitzer, com Edwin August, Lucy Cotton, Joe Graybill, Owen Moore, Kate Bruce, Eddie Dillon e Dorothy West, já exibido no Di Maio, a 7.5.11; A Vingança (La Vengeance), Pathé, 1909, 105 m, dramática; Nero (Nerone), Societá Anonima Ambrosio, de Turim, 1909, 338m, de Luigi Maggi e Arturo Ambrosio, com Lydia de Roberti e Alberto Capozzi, já exibido no Cassino Cearense a 16.2.10 e no Rio Branco, em 15.1.11; Campeão de Box (Champion de Box), Pathé, 1910, comédia de Max Linder, já exibida no Rio Branco, a 4.12.10; Amigos da Infância (Amici d'Infanzia), Cines, de Roma, 1910, 188 m, dramática; Mater Dolorosa (Mater Dolorosa), Société Française des Films et Cinématògraphes Eclair, 1910, 200 m, cenário René Marquis, fotografia Ravet, diretor Emile Chautard, com Dupont-dell" Apuxarra -ou- II Tuxani), Cines, 1911, 302 m, de Mario Caserini, com Amleto Novelli e Gianna Terribili-Gonzalez; Novidade na Vila (Novità in Paese), Cines, 1911, 234 m, drama; Noite de Serão (Out of the Night), Thomas A. Edison Inc., 1910, 950 m, adaptação de Rex Beach, direção de Edwin S. Porter; Tontolini Aprende a dançar (TontoIini impara a Ballare), Cines, 1911, 175m, com GuilIaume; Atraso Postal (Ritardo PostaIe), Itala Film, de Turim, 1911, 131 m, cômica; Cidade de VIadikavraz (La Città di Vladikancas), Ambrosio, 1911, natural, de Giovanni Vitrotti; Prisioneiro do Cáucaso (Kavkazski Plennik -ou- Prigioniero deI Caucaso), Societá Anonima Ambrosio, de Turim/timan-Rejngardt, de Moscou, 1911, 306 m, drama filmado na Russsia por Giovanni Vitrotti; e muitos outros, de procedência dos estúdios italianos, franceses e americanos.


Jornal do Ceará de 10 de novembro de 1911

Os anos que se seguiram foram de renovado êxito. Em fevereiro de 1912, há uma temporada do Sr. José Casajuarana, que combinava filmes e fonógrafo. A respeito
dele, são as notícias seguintes:

POLYTHEAMA. Visitou-nos hoje o estimavel cavalheiro Sr. José Casajuarana, que deve estar hoje mesmo, no Polytheama. Os aparelhos de que se serve o Sr. Casajuarana costituem as invenções mais modernas da Casa Gaumont, de Paris.Com o Sr. Casajuarana trabalham os jovens dansarinos Isabel e Maria Jerenzaniti.


(A República de 12.2.12)


Jornal 'O Jornal' de 6 de outubro de 1916

POLYTHEAMA. Assistimos mais uma vez, hontem, com prazer a uma das sessões do Polytheama, que esteve, como quase sempre, admirável. O phonágrapho do Sr. José Casajuarana tem cantado lindas peças, de combinação com bonitas creações da Casa Gaumont, é digno de ser ouvido pelos habitués de bom gosto.

(A República de 16.1.12)


(Grafia da época) 



Fonte:  Livro Fortaleza e a Era do Cinema de Ary Bezerra Leite 
Jornais antigos: Biblioteca Nacional

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado - Parte II


Em dois de julho de 1911, foi inaugurada a sala do Cine-Theatro Polytheama. Pertencia ao supracitado José de Oliveira Rola (foto ao lado) e a seu irmão Joaquim de Oliveira Rola, ambos proprietários da Empresa Rola & Irmãos. No ano de 1922, o Cine-Theatro Polytheama é adquirido por Luiz Severiano Ribeiro, tornando-se apenas sala de cinema. No dia vinte de novembro de 1938, esta sala deixa de funcionar, para que com a sua demolição e de prédios vizinhos fosse construído o Cine São Luiz(¹), que veio a ser inaugurado em 1958.

Um dos mais audaciosos concorrentes de Luiz Severiano Ribeiro chamava-se  Henrique Mesiano. Nascido a 15 de março de 1887, Henrique Mesiano era filho de italianos e entrou no ramo de exibição cinematográfica no ano de 1912, ao assumir o Cine Rio Branco, que era de propriedade da extinta Empresa Muratori & Cia”, da qual fazia parte. 

Com o truste(²) de 1916, Henrique Mesiano tem de fechar o 
Cine Rio Branco, voltando à atividade em 1917, quando, além da reabertura desta sala, mais duas, de sua propriedade, são inauguradas, o Cinema da Estação e o Cine Tiro Cearense, que, apesar da iniciativa empreendedora de Henrique Mesiano, duram pouco tempo. O Cine Rio Branco é fechado em 21 de fevereiro de 1919, por meio de um contrato. 


Henrique Mesiano

Luiz Severiano Ribeiro consolidava-se como um poderoso concorrente. O contrato firmado com Henrique Mesiano afastava-o  por dez anos da atividade cinematográfica, em troca de uma renda fixa mensal.(³)
  
Com os Cines Riche, Polytheama e Majestic-Palace, Luiz Severiano Ribeiro irá consolidar em Fortaleza seus empreendimentos na área cinematográfica. Os seus concorrentes foram superados por meio de contratos de fechamento, foi assim com a família Júlio Pinto, com José de Oliveira Rola e com Henrique Mesiano

Cine Moderno em 1937

Na década de 1920, o Cine Riche é fechado em 11 de novembro de 1921 e o Cine Moderno é inaugurado em 7 de setembro de 1921 (O Cine Riche é fechado com a inauguração do Cine Moderno pois este era melhor estruturado). Além disso, a 19 de março de 1922, ocorre a reinauguração do Polytheama.
Com os Cines Majestic-Palace, Moderno e Polytheama, de propriedade de Severiano Ribeiro, só restavam alguns cinemas ligados à associações religiosas e leigas. Dos cinemas pioneiros, os que permaneceram nos anos de 1920 foram os seguintes: o Cine Polytheama, adquirido em 1922 por Luiz Severiano Ribeiro; o Cine São José, do Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos e o Cine - Theatro Majestic Palace. 
Nesta década, dos cinemas que foram inaugurados, apenas o Cine Moderno e o Cine Polytheama (reinaugurado) eram de propriedade de Severiano Ribeiro. No entanto, os demais cinemas recebiam os filmes de uma única empresa distribuidora, exatamente a de 
Luiz Severiano Ribeiro. Os anos de 1920 são a década de Luiz Severiano Ribeiro, decênio em que este monopoliza a distribuição dos filmes em Fortaleza. Se, por um lado, ele havia eliminado os concorrentes do centro, como Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano, por outro lado, se beneficiava com a existência dos cinemas mantidos por associações religiosas e os de bairro(4), pois estes adquiriam os rolos de filme diretamente de sua empresa.

Com a Primeira Guerra Mundial, o mercado cinematográfico exibidor e distribuidor brasileiro irá sofrer grandes mudanças. É justamente neste momento que Severiano Ribeiro passa a atuar na atividade cinematográfica com domínio na distribuição de filmes. O cinema europeu, em virtude da guerra, entrou em decadência com a redução do seu mercado externo. Tal situação favoreceu a ascensão da indústria cinematográfica norte-americana. No Brasil, em 1915, são instaladas subsidiárias da Universal e da Fox. No ano seguinte, a Paramount abre uma filial no Rio de Janeiro e posteriormente a MGM, a United e a First Nacional também marcam presença no mercado brasileiro. Aproveitando-se da dificuldade de exportação no mercado europeu, as produtoras/distribuidoras dos Estados Unidos passaram a trazer os melhores filmes europeus, comprometendo, desse modo, a atuação dos produtores e importadores brasileiros que adquiriam os filmes diretamente no 
mercado europeu antes da guerra, sem a presença de intermediários. As distribuidoras norte-americanas inovaram também nas técnicas de distribuição cinematográfica ao 
utilizar, por exemplo, o recurso da “linha de exibição”, que consistia em um filme dessas distribuidoras seguir uma linha de salas de exibição com o seu lançamento sendo realizado exclusivamente em uma única sala, preferencialmente a que possuísse ingressos mais caros.

Na capital cearense, sendo a Empresa Luiz Severiano Ribeiro a única distribuidora cinematográfica local, o método da “linha de exibição” realizado pelas distribuidoras norte-americanas passa a ser adotado nos cinemas de Fortaleza. Se pautando na relação centro – periferia, capital – interior, utilizada na forma de distribuição feita pelas distribuidoras dos Estados Unidos, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro definiu os cines Majestic e Moderno como as salas “lançadoras” da cidade. Desta feita, somente após o lançamento dos grandes filmes nestas duas salas, estes poderiam ser exibidos nas demais. 
Antes do monopólio de Severiano Ribeiro, vários grupos faziam a distribuição, como por exemplo, a firma J.R.Staffa, do Rio de Janeiro, que distribuía as fitas para o Cinema Júlio Pinto. No Cine Rio Branco, Henrique Mesiano mantinha contrato de exclusividade com a dinamarquesa Nordisk Film e a francesa Pathé Fréres. O Cine - Theatro Polytheama, quando de propriedade da Empresa Rola & Irmão, possuía contrato com as produtoras norte-americanas. Tal contrato foi feito no ano de 1912 com a firma Angelino Staurile & Ca., do Rio de Janeiro, e possibilitava que a Empresa Rola & Irmão fosse a única no Estado do Ceará a receber as fitas das fábricas Vitagraph e Biograph,  dos Estados Unidos. Em 1913, chega à Fortaleza a Companhia Cinematographica Brasileira que possuía sede na cidade de São Paulo e um capital de 4.000.000$000 (quatro milhões de réis). A citada empresa, criada em 1911 e pertencente a Francisco Serrador, veio para fazer contratos com os proprietários das salas de exibição cinematográfica locais, visando realizar lançamentos simultâneos de grandes filmes. No Cine Rio Branco, por exemplo, foi  exibido o filme italiano Quo Vadis?, enquanto nos cinemas Júlio Pinto e Polytheama foi apresentado o 
também italiano Branco contra Negro.
O próprio Severiano Ribeiro, quando ainda não era um grande exibidor cinematográfico e detentor do monopólio distribuidor, recorria à firmas distribuidoras como a J. R. Staffa, detentora do filme exibido na inauguração do Cine Riche, em 23 de dezembro de 1915(5).

Cine Polytheama e Majestic ao lado da Praça do Ferreira
  
No período de 1905 à 1915, temos no Brasil a presença do representante exclusivo de empresas brasileiras ou os representantes das produtoras – distribuidoras estrangeiras já citadas. Estes homens eram imigrantes europeus como Paschoal Segreto, Francisco Serrador e Jacomo Staffa, responsáveis pela importação tanto de películas quanto de equipamentos cinematográficos. Com o término da Primeira Guerra Mundial, a importação de produtos procedentes da Europa ficou comprometida, possibilitando a ocupação do mercado cinematográfico brasileiro pelas produtoras e distribuidoras norte - americanas. 
O mencionado Jacomo Staffa chegou a comprar com os próprios recursos financeiros filmes estrangeiros em Paris. Posteriormente, ele adquire o direito de exclusividade na revenda dos filmes das produtoras Itália e Film D’art. Além disso, em 1910, ele obtém a exclusividade com a produtora dinamarquesa Nordisk, que era uma das mais importantes empresas cinematográficas deste período quando a supremacia norte-americana ainda não era tão intensa. Este exibidor se fez presente em várias cidades brasileiras, com escritórios em São Paulo, Porto Alegre e Recife, chegando a estabelecer em Nova York e em Paris 
escritórios para aquisição de fitas.

Interior do Cine Majestic Palace

Quando Jacomo R. Staffa falece, Luiz Severiano Ribeiro estava expandindo sua atuação no mercado 
cinematográfico do Rio de Janeiro. Na década de 1920, Severiano Ribeiro comanda o mercado exibidor e 
distribuidor cinematográfico local e parte para outras cidades, com destaque para o Rio de Janeiro, a 
Capital Federal. Nesta década, os grupos distribuidores, como o de J. R. Staffa, são substituídos por um 
distribuidor exclusivo em Fortaleza, a Empresa Luiz Severiano Ribeiro. 

Ao se mudar para o Rio de Janeiro, em 1926, ele conseguiu ratificar o monopólio distribuidor local. 
Como a capital federal tinha em Francisco Serrador, o artífice da Cinelândia,  o 
grande monopolizador dos cinemas de qualidade, atuando de forma autônoma e 
independente, Luiz Severiano Ribeiro ganha pouco a pouco credibilidade e 

ingressa na associação da Metro-Goldwyn, First National e Empresas 
Cinematográficas Reunidas, criando em 1926 uma nova e poderosa frente para a 
distribuição de filmes no Brasil. Batalhador tenaz, estabelece-se a seguir como 
agente locador de películas trazidas ao Brasil pela Agência Paramount (que 
representava à época a Metro – Goldwyn e a First National) e a Cinematográfica 
Brasileira. É um dos fundadores, em 1926, da sociedade cooperativa de 
exibidores denominada “Circuito Nacional de Exibidores”. No mesmo ano, 
estabelece um acordo com as firmas exibidoras Ponce, Pontes & Cia. e Noriz  & 
Frota, tornando-se a seguir único proprietário do circuito a elas pertencentes. Já 
era então reconhecido pelo controle dos cinemas do Norte do Brasil, quando em 
agosto de 1926, adquiriu no Rio o controle acionário de inúmeros cinemas, 
dentre eles, o Atlântico e Ideal, e fazia sociedade com o Íris, de J. Cruz, Jr


A aposta na distribuição como importante elemento impulsionador do desenvolvimento e êxito da 
atividade cinematográfica foi priorizada também por Severiano Ribeiro. Na capital cearense, nos anos de 
1920, ele exerceu o domínio na distribuição, ampliando tal prática para outras cidades do Brasil até tornar-se um dos maiores nomes do cinema brasileiro, concentrando suas atividades na cidade do Rio de Janeiro, 
de onde comandava seus negócios. 

Por meio de acordos com empresas estrangeiras, em especial norte-americanas, Severiano Ribeiro adquiria 
o direito de exibir filmes destas produtoras. Ao pagar aos fornecedores norte-americanos, ele obtinha 
exclusividade de exibição, possibilitando que os filmes fossem lançados no Cine-Theatro Majestic 
Palace, no Cine Moderno e no Cine Polytheama, para posteriormente serem exibidos nos outros cinemas, 
no caso, os de bairro e os ligados à associações religiosas.  Quanto mais salas de exibição cinematográfica 
tivessem nos bairros e no interior do Estado, melhor para Severiano Ribeiro, pois ele estava aumentado 
seus rendimentos e ampliando seu domínio sobre o mercado cinematográfico. Tal tática era utilizada tanto 
no mercado local quanto em outras cidades do Brasil. 



Barrinhas e Divisórias

¹ A demora no término da construção do Cine São Luiz fez com que a população o incluísse nas “sinfonias inacabadas” de Fortaleza, no caso, as obras do Porto do Mucuripe (1938-1951) e a construção da Catedral (1939-1982). 

² Com relação ao truste de 1916, temos poucas informações. Mas ao que parece foi uma forma de Severiano Ribeiro centralizar em suas mãos gradativamente o controle da exibição cinematográfica local.  Algumas salas ficaram fechadas como foi o caso do Cine Rio Branco, recebendo uma parte do lucro obtido pelas salas em funcionamento. Os cinemas que permaneceram funcionando foram o Polytheama de José Rola e o Riche de Severiano Ribeiro. Para maiores informações ver: LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit., pp. 282-285. De acordo com o Mini Aurélio Século XXI, truste se define por “ acordo ou combinação entre empresas, em geral com o objetivo de restringir a concorrência e 
controlar os preços”. 


³ Na década de 1930, Henrique Mesiano voltou à atividade de exibição cinematográfica na capital cearense, após ter ficado toda a década de 1920 impedido de exibir filmes devido ao contrato firmado com Severiano Ribeiro. Não possuindo mais sua própria sala de exibição cinematográfica, Henrique Mesiano chegou a utilizar o Teatro José de Alencar: “Cinema no Theatro José de Alencar - O conhecido cinematografista Sr. Henrique Mesiano acaba de obter mediante aluguel o Theatro José de Alencar e ali exibirá o grandioso filme ‘Itália’, película natural sobre a vida italiana, suas cidades, panoramas e monumentos. Aguardemos com ansiedade o enunciado filme que certamente fará sucesso em Fortaleza.” O Povo, 28 de janeiro de 1932.

4 Foram inaugurados neste período, além do Cine Moderno, os seguintes cinemas: Cine-Theatro Pio Xem 1922; o Cine Beira Mar, em 1924; o Cine -Theatro Centro Artístico Cearense, em 1926; o Cinema União de Moços Católicos, em 1927; o Cine Grêmio Dramático Familiar, em 1928; o Recreio-Iracema também denominado Cine Recreio, no ano de 1928; o Cinema Paroquial, em 1930; o Cine Merceeiros e o Cine Phenix, ambos em 1930.

O filme exibido na inauguração do Cine Riche foi 'O jockey da Morte', da Vay – Film, de Milão,com argumento, direção e interpretação de Alfred Lind.

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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

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