Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : Cine Polytheama
Fortaleza, uma cidade em TrAnSfOrMaÇãO!!!


Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A parceria entre Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado



O ingresso de Severiano Ribeiro na área da exibição cinematográfica ocorreu com a inauguração do Cine Riche, no dia 23 de dezembro de 1915. Este cinema estava localizado justamente onde, em 1908, Victor 
DiMaio havia instalado a primeira sala de exibição cinematográfica de Fortaleza, o Cine DiMaio. O sócio de Luiz Severiano Ribeiro era Alfredo Salgado, empresário e homem de negócios, que mais tarde irá 
investir no Cine - Theatro Majestic Palace
Alfredo Salgado foi um importante nome na luta pela abolição da escravatura. Nascido em Fortaleza, no 
dia 1º de setembro de 1855, era filho de Francisco Luís Salgado e Virgínia da Rocha Salgado. Aos 
quatorze anos de idade, vai estudar na Inglaterra, graduando-se em Comércio. Alfredo Salgado trabalhou na Casa Inglesa, uma filial cearense da firma Singlehurst & Cia., de Liverpool. Durante muitos anos foi intérprete no comércio local dos idiomas alemão, francês e inglês, sendo respeitado em seu meio social. 
Alfredo Salgado foi membro da Sociedade Perseverança e Porvir, dedicada à luta pela Abolição da Escravatura e transformada posteriormente na Sociedade Cearense Libertadora.  


Ele compartilhava suas idéias abolicionistas no Clube Iracema, cuja inauguração ocorreu em 1884, ano da Abolição da Escravidão no Ceará. Este clube era “...muito mais que um mero espaço para diversões refinadas, pois logo se transformou em um núcleo irradiador de expressivos movimentos sócio - políticos e círculos de saber em Fortaleza no final do século passado”. (Sebastião Rogério Ponte)

Transitando nestes espaços de lazer e fazendo parte da elite comercial da cidade, Alfredo Salgado era respeitado em seu meio social além de ser uma das figuras mais destacadas da cidade. Como ressalta o historiador Raimundo Girão, o cearense Alfredo Salgado era “Finamente educado, cavalheiroso, sempre brumelicamente trajado, mesmo durante 
a velhice, gozou de grande relevo social, e no seio das classes comerciais manteve-se como figura de alto acatamento “.


A presença de Alfredo Salgado, como investidor na área de cinema, mostra uma mudança em relação aos primeiros exibidores no país –estrangeiros, como por exemplo, os italianos Vitor DiMaio e Paschoal Segreto. Estes exibidores de outrora geralmente eram homens de posses medianas e ligados ao ramo da 
diversão. 
Vitor DiMaio, na condição de exibidor ambulante, esteve em várias cidades brasileiras e também chegou a instalar salas fixas de cinema, como foi o caso do já referido Cine DiMaio. Este pioneiro, nascido em Nápoles, a 14 de abril de 1852, dedicou-se ao cinema por toda vida chegando à velhice pobre e doente, vindo a falecer no dia 21 de abril de 1926, em Fortaleza, no Café Art – Nouveau, no mesmo prédio onde havia instalado o Cine DiMaio
Paschoal Segreto, imigrante pobre vindo da Itália, foi o primeiro grande empresário voltado para o entretenimento no Brasil. Junto com seu irmão Gaetano, chega ao Brasil em 1883, iniciando uma trajetória de bastante sucesso no ramo das diversões. Pioneiro, funda a primeira empresa de porte e de nome nacional do setor, a mitológica EMPRESA PASCHOAL SEGRETO, que Paschoal nunca formalizou e só foi registrada depois de sua morte. Paschoal observa o sucesso das exibições irregulares do cinematográfico realizadas no Rio e mesmo com a instabilidade da energia por vezes prejudicando a nitidez das sessões, resolve investir no negócio. Em 31 de julho de 1897, em sociedade com Cunha Salesfunda na privilegiada rua do Ouvidor o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, a primeira sala “fixa” de exibição cinematográfica do país. Com o extraordinário sucesso de público do SALÃO, o cinema seria a menina dos olhos de Paschoal, investimento no qual apostaria antes que qualquer outro aqui. Também com o cinema ficaria conhecido e daria uma nova dimensão a seus negócios. Duplamente pioneiro, além de importar fitas para a programação 
regular da sala, manda seu irmão Afonso para o exterior comprar e aprender a manejar um equipamento cinematográfico. Em agosto de 1898, um incêndio destrói por completo o SALÃO DE NOVIDADES PARIS NO RIO, assim como o resto, os dois outros andares onde os Segreto guardavam equipamentos e estoques e moravam. No entanto, o prédio estava no seguro, e, depois de contestado, Paschoal é pago e, em janeiro de 1889, reabre o cinematógrafo, já sem a parceria de Cunha Sales, que leva seus negócios para Petrópolis, onde era menos notório.


Afonso Segreto junto aos primeiros projetores 

Estando ligado ao ramo da diversão, Paschoal Segreto era um tipo de exibidor cinematográfico característico deste período inicial do cinema. A Empresa Paschoal Segreto marcou presença na capital cearense no ano de 1904 em uma breve temporada de 26 de novembro a 11 de dezembro.¹
Com relação a Alfredo Salgado, ele fazia parte daquela classe média que havia ascendido como elite na virada do século XIX para o XX. Por qual motivo ele investiu em cinema? O que significa sua inserção na atividade cinematográfica em parceria com Severiano Ribeiro? O fato do cinema ser um capital novo que passava a circular na cidade e as mudanças ocorridas com o cinema no âmbito mundial podem nos ajudar a entender a presença de Alfredo Salgado como sócio investidor de Luiz Severiano Ribeiro


Quando em 1915, Alfredo Salgado fez parceria com Severiano Ribeiro na criação do Cine Riche, buscava obter lucro com a atividade cinematográfica em um momento onde estavam ocorrendo mudanças significativas nas práticas de exibição cinematográfica em termos mundiais. À partir deste ano, a indústria cinematográfica visava atingir um público consumidor burguês, isto é, um público distinto daquele de outrora quando o cinema era um divertimento barato e voltado para o público masculino. 


O Cine Riche funcionava no mesmo prédio onde antes esteve o 
Café Riche, na Guilherme Rocha, ao lado da Praça do Ferreira

As mudanças nas práticas de exibição visavam atender a um público elitizado, abonado financeiramente, que passava a ter no cinema um elemento de diferenciação social. Vale ressaltar que a presença do público feminino passa a ser valorizada com a feitura de produções cinematográficas voltadas para as mulheres. O cinema mudou seu formato de exibição, deixando de ser uma simples curiosidade popular para atrair um novo público “...com as possibilidades narrativas abertas pela linguagem cinematográfica a atividade 
tende a se dignificar através das novas histórias que passa a contar, atraindo o público burguês, o que demanda mudanças nas práticas de exibição.” (SCHVARZMAN, Sheila. Op. Cit., p. 154)

Em Fortaleza, a elite composta por médicos, advogados, jornalistas, professores e sobretudo comerciantes, era o grupo social que passava a ter no cinema um lugar de distinção social. Certamente visando lucrar com este novo público consumidor e possuidor de capital, tendo a frente a elite comercial,  é que Alfredo Salgado, que já era um grande comerciante, passa a negociar com Luiz Severiano Ribeiro. Assim sendo, Alfredo Salgado investia nas salas de cinema, enquanto Severiano Ribeiro ficava responsável pela gestão do empreendimento. 



Apostando nesse novo público, em 1915, com o Cine Riche e, em 1917, com o Cine Theatro Majestic Palace, Alfredo Salgado e Severiano Ribeiro fizeram uma parceria que favoreceu a consolidação deste último como grande nome da atividade cinematográfica. Ao se aliar a Alfredo Salgado, Luiz Severiano Ribeiro fazia parceria com uma importante figura da sociedade cearense, o que lhe dava mais credibilidade e inserção neste grupo social influente da cidade. 
Ao entrar na atividade de exibição cinematográfica, Luiz Severiano Ribeiro não se contentou em ser apenas mais um proprietário de sala de exibição cinematográfica, ele queria ser o principal. E conseguiu, obtendo além disso, o monopólio na distribuição dos filmes.


Com relação aos seus concorrentes, Severiano Ribeiro adotou como prática pagar mensalmente para que estes mantivessem seus cinemas fechados. Os contratos de fechamento eram pelo prazo de dez anos. Os exibidores Júlio Pinto, José de Oliveira Rola e Henrique Mesiano eram os concorrentes que aos poucos foram sendo superados por Luiz Severiano Ribeiro. 
Júlio Pinto nasceu em Icó, no interior do Ceará, e era membro de uma tradicional família ligada à política cearense. A área de atuação de Júlio Pinto era o comércio e a indústria, sendo ele, um respeitável nome da sociedade de Fortaleza atuando do final do século XIX até o início do século XX, quando veio a falecer. O seu ingresso na atividade cinematográfica ocorreu com o patrocínio do Cassino Cearense, que pertencia a Empresa Carvalho & Cia, cuja instalação ocorreu em 1º de junho de 1909, com a utilização do equipamento “Stereopticon” Após a temporada do Stereopticon, logo a seguir, no dia 18 de setembro de 
1909, é definitivamente inaugurado o Cinema Júlio Pinto, cuja divulgação publicitária alterna-se com a denominação de Cassino Cearense. Ao ato inaugural tinha-se o prestígio da presença do Presidente Dr. Nogueira Aciolyautoridades do Estado.


A presença do político Antônio Pinto Nogueira Acioly na inauguração do Cinema Júlio Pinto é motivada pelos vínculos familiares que uniam o Presidente do Estado, Nogueira Acioly, e o exibidor cinematográfico, Júlio Pinto (foto ao lado). Além disso, em todo o Brasil era comum a presença de autoridades nas sessões inaugurais dos mais conceituados cinemas das capitais brasileiras.


Em 1916, com a morte de Júlio Pinto e a forte presença de Luiz Severiano Ribeiro na atividade cinematográfica, o Cine Júlio Pinto declina sendo fechado no início de 1920. 
José de Oliveira Rola, proprietário do Cine-Theatro Polytheama, foi outro concorrente de Luiz Severiano Ribeiro antes da década de 1920. Nascido no município de Trairí, no interior cearense, este exibidor 
cinematográfico era um comerciante que atuava sobretudo nos empreendimentos ligados ao lazer, como 
foi o caso da Maison Art-Nouveau
A José Rola a cidade deve, no início do século, um dos seus mais distintos estabelecimentos: a Maison Art-Nouveau, que instala com o genro Fiuza Pequeno, um misto de restaurante e café, ponto obrigatório de reunião da juventude, e que também abrigaria o primeiro cinema fixo de Fortaleza, o Cinema DiMaio.


Maison Art-Nouveau na Rua Major Facundo em 1904

¹LEITE, Ary Bezerra. Op. Cit.., p.99-101: Apenas o nome de Afonso Segreto é mencionado nos anúncios, ao passo que não é possível afirmar se Paschoal Segreto também esteve em Fortaleza. A área de atuação de Paschoal Segreto era a cidade do Rio de Janeiro, logo ele não foi um exibidor fixo cearense.

Continua...
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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

sábado, 11 de agosto de 2012

Severiano Ribeiro: o início de sua vitoriosa trajetória comercial



No dia sete de setembro de 1921, era inaugurado na Praça do Ferreira, o mais novo cinema de Fortaleza, o Cine Moderno¹, pertencente à Empresa Luiz Severiano Ribeiro. A década de 1920 iniciava com mais uma sala de exibição cinematográfica e o que aparentemente poderia ser apenas mais uma inauguração, era, na verdade, a “consolidação” de uma nova etapa do cinema na capital cearense.

Neste decênio, a figura de Severiano Ribeiro se “consolida” como a do mais importante proprietário de salas de exibição cinematográfica em Fortaleza e único distribuidor cinematográfico local. A cidade passava a conviver com uma nova realidade no que concerne à presença das salas de cinema.

Do final do século XIX até o início do século XX, a cidade de Fortaleza convivia com a presença de exibidores ambulantes que rodavam pelo país com seus aparelhos de projeção cinematográfica. A primeira sala fixa seria inaugurada em 26 de agosto de 1908 pelo italiano Vitor DiMaio na Praça do Ferreira. Era o Teatro Art – Nouveau, também denominado Cinematógrafo Art-Nouveau, Cine DiMaio e, no ano seguinte, Cinematografo Cearense. O italiano Vitor DiMaio era um pioneiro na exibição cinematográfica
no Brasil. De 1908 até 1920, a atividade de exibição cinematográfica, na capital cearense, era realizada por diferentes exibidores que concorriam entre si. No decênio de 1920, este cenário modifica-se a partir da atuação de Severiano Ribeiro que, paulatinamente, havia minado seus principais concorrentes, tornando-se nesta década o principal exibidor cinematográfico local. Desde 1915, Luiz Severiano Ribeiro tem seu nome ligado ao ramo das exibições cinematográficas. No entanto, antes de sua inserção na área de exibição cinematográfica em Fortaleza, ele já era um importante comerciante local. 

Baturité, cidade natal de Severiano Ribeiro - Arquivo Nirez

Nascido em Baturité, cidade serrana do Ceará, no dia 3 de junho de 1885, era filho do médico Luiz Severiano Ribeiro, que integrou os serviços médicos na Guerra do Paraguai e de Maria Felícia Caracas Ribeiro.
Quando tinha por volta de dezenove anos de idade, ele se muda para Fortaleza. Em 1910, então com 26 anos de idade, casa-se com Alba Morais, com quem teve cinco filhos: Luiz Severiano Ribeiro Júnior, que seria o sucessor do pai nos negócios, Germana Ribeiro de Lamare, Lais Ribeiro Pinto, Iolanda Ribeiro Portela e Vera Severiano Ribeiro de Sóllis.
Quando Luiz Severiano Ribeiro vem residir em Fortaleza, ele depara-se com uma cidade que estava passando por transformações no âmbito comercial e econômico, iniciadas no final do século XIX:

A produção algodoeira cearense, intensificada a partir da década de 60 do século 
passado (XIX) e que tinha na Capital o principal centro coletor e distribuidor do 
produto, provocou um acúmulo de capital em Fortaleza, proporcionando a 
emergência de novos atores sociais de poder econômico na cidade.  
Estes novos grupos sociais emergentes eram formados por elementos ligados ao 
setor comercial, fortalecidos pelo crescimento dos negócios de importação e exportação, e por um amplo contingente de profissionais liberais, constituído de 
bacharéis, médicos, engenheiros, jornalistas, literatos, entre outros, provenientes 
das academias de ensino superior espalhadas pelo Brasil e até pelo exterior. Os 
profissionais egressos desses cursos comungavam dos ideais de “progresso, 
civilização e modernidade”, que grassavam pelos grandes centros europeus e 
que tinham ressonância, também, na capital cearense, sobretudo no final do 
século passado e primeiras décadas do século XX. (
SOUZA, Simone de et alii. A gestão da cidade: uma história político – administrativa. Fortaleza: Fundação cultural de Fortaleza,1994, p.26)

Neste período de transformações na virada de século do XIX para o XX, Fortaleza passa a ter um considerável crescimento industrial, como bem destaca o historiador Geraldo Nobre:
 
Em 1895, a capital cearense, ainda modesta, com população de menos de 50 mil habitantes, apresentava um parque industrial que, para as condições da época, se podia considerar apreciável. 
Eram os estabelecimentos mais importantes as fabricas de fiação e tecelagem de Pompeu & Irmãos, pioneira no ramo, e a de Holanda e Gurjão, ambas na rua Santa Isabel. No interior do Estado já se encontravam em funcionamento, produzindo fios e tecidos, a Popular Aracatiense e a Sobralense, respectivamente em Aracati e Sobral
Outro ramo de atividades industriais, que apresentava certo desenvolvimento na capital cearense, era o de bebidas, notadamente de vinho de caju, produzido pelas fábricas de Januário Jefferson de Araújo, Mamede & Irmão, Antero Teófilo, Joaquim Teófilo Rabelo e Rodolfo Teófilo
Para atender ao consumo diário da população, existiam, estabelecidas somente na capital, as moageiras de Roberto Ferreira Sampaio e Januário Irineuabastecidas de matéria-prima pelos cafeicultores da serra de Baturité, cuja decadência já se acentuara. 
Iniciara-se o aproveitamento das oleaginosas, por iniciativa de Alfredo Salgado, que representava uma tradição no comércio cearense fortalezense, e de Bernardino Proença, um dos principais empreendedores da época, estabelecido na cidade de Baturité. 
A fabricação de sabão contava em Fortaleza com dois estabelecimentos, os de P.A. Mota & Cia. e Bernardo Ferreira da Cruz, existindo outro, de  João Gomes de Matos, no Crato, e mais o de Clementino de Oliveira & Cia., em Pacatuba
O ramo de fundição concorria, em 1895, para as atividades de transformação, na capital cearense, com a fundição a vapor que montada, em 1868, pelos ingleses Spear e Marsden, fora transacionada em dezembro de 1891 com José Cândido Freire, que confiara a direção a Raimundo Soares Freire, antigo e experimentado mestre de estabelecimento. A oficina da Estrada de Ferro de Baturité igualmente fazia trabalhos da espécie, atendendo aos interessados.

Além destes empreendimentos locais, houve uma presença marcante de firmas estrangeiras que, no início de 1870, possuíam 40% dos estabelecimentos comerciais então existentes. A presença delas na capital cearense dinamizou o crescimento comercial de Fortaleza, destacando-se as casas exportadoras, dentre elas “A Exportadora Cearense”, a “Gradvhol & Filhos”, a “Boris Frères & Cia”, sendo esta última, uma das mais importantes e com grande prestigio junto aos poderes públicos. Entre outras colaborações com o Estado, consta que os Boris receberam dos governos cearenses as seguintes incumbências: presidência da comissão organizadora da mostra de produtos alencarinos na Exposição Internacional de Chicago (1892-1893), intermediação de diversos empréstimos contraídos junto a bancos europeus, agenciamento, na Escócia, de acordos para a compra de equipamentos metálicos para as obras do porto (1891) e do Theatro José de Alencar (1910). Além do mais, segundo o historiador Raimundo Girão, por mais 
de uma vez a Fazenda do Estado teve de recorrer a empréstimos financeiros da firma (operações de financiamento era uma atividade dos Boris, dela se servindo fazendeiros, pecuaristas, lojistas e usineiros) para cobrir déficits momentâneos dos cofres públicos.

A firma Boris Frères foi criada no ano de 1868 e possuía sede em Paris. Além da atividade comercial de exportação e importação, era detentora de fazendas agropecuárias, projetos de estrada de ferro, navegação e finanças, empréstimos feitos inclusive ao poder público. A figura de Luiz Severiano Ribeiro, surge neste período de crescimento comercial e investimentos estrangeiros na capital cearense.  
O perfil comercial de Luiz Severiano Ribeiro não era o mesmo dos grandes comerciantes da cidade, pois seu campo de atuação era bem diferente. Suas atividades comerciais não eram ligadas às indústrias nem às firmas importadoras / exportadoras. No entanto, este crescimento urbano e a formação de camadas médias favoreciam a inserção de suas atividades comerciais.

Majestic Palace do livro "Royal Briar - A Fortaleza dos anos 40", de Marciano Lopes.

A primeira oportunidade comercial foi sua sociedade com Antônio da Justa Menescal, em 1912, proprietário da Livraria Menescal. Em 1915, com recursos próprios, instala a Livraria Ribeiro, localizada à rua Major Facundo, nº 92, chegando a criar uma subsidiária de sua firma em Recife. Por essa época, diversifica seus negócios com o arrendamento ou criação de estabelecimentos diversos, como hotéis, dentre os quais o Majestic Palace e o Hotel de França, sucessor do velho Hotel De France, criado no século passado pelo francês Louis Dragaud; uma fábrica de gelo – à rua santa Isabel, 220; o Café Riche e a barbearia Maison Riche, ambos na Praça do Ferreira; o salão de bilhar no Majestic Palace; e outras iniciativas comerciais. Nessa linha de expansão é que se volta para o cinema. 
Provavelmente as livrarias atenderiam a demanda de uma elite cultural com formação em academias de ensino superior do Brasil e do exterior. Eram profissionais liberais, médicos, jornalistas, bacharéis e literatos que compunham uma elite letrada na cidade.  

A efervescência cultural na cidade era algo surgido no final do século XIX e que persistia no início do século XX. Os espaços de sociabilidade eram pontos de encontro e troca de idéias desses intelectuais, não se limitando a meros locais de lazer: As praças, as livrarias, as confeitarias, as bodegas, os salões das barbearias, os cafés constituem-se em lugares sociais de troca de informações, experiências, atualização do léxico político e onde as camaradagens vão definindo formas de intervenção na paisagem social. Não se veja esses espaços apenas como pontos de encontro ou de convívio fugaz.

Os hotéis e as outras atividades comerciais de Severiano Ribeiro se relacionam ao crescimento comercial da cidade, à circulação de dinheiro e à presença de um público consumidor novo. Seus empreendimentos visavam atender a estes consumidores.  
Em termos de rendimento, tais atividades comerciais talvez não fossem tão lucrativas se comparadas com as firmas exportadoras e importadoras. Certo é  que, quando ele entra na atividade cinematográfica, concentra neste setor seus empreendimentos. Cabe ressaltar que a exploração comercial de salas de cinema era um tipo de capital novo que passava à circular na cidade. O que teria motivado Luiz Severiano Ribeiro a ter entrado na atividade cinematográfica e investido nesta área? Seria o fato do cinema ser um capital novo ou teria outro motivo a mais? Ao que parece, ele não somente apostava na “novidade” que o cinema significava no início do século XX, mas sobretudo nas mudanças que ocorriam nas práticas de exibição cinematográfica que visavam atender um novo público agora elitizado. A construção de salas luxuosas e a feitura fílmica pautada em novos parâmetros estéticos 
são exemplos de mudanças que estavam ocorrendo nas práticas de exibição cinematográfica.²

No segundo decênio do século XX, Severiano Ribeiro atuava no ramo de livraria e papelaria, além das salas de cinema que seriam seu grande empreendimento comercial. Encontramos informações referentes a atuação comercial de Luiz Severiano Ribeiro na capital cearense, mediante um mapeamento feito ao longo dos anos de 1920: 

"Luiz Severiano Ribeiro
Livraria, e Papelaria –  Empreza de cinemas
Praça do Ferreira, 196. A 200 – “Livraria Ribeiro
Endereço Telegráphico – RIBEIRO
Caixa Postal – 37
Capital – 150:000$000
Data 1º de Abril 1921

ATIVIDADE COMERCIAL: Livraria e Papelaria Ribeiro 
LOCALIZAÇÃO: Rua Major Facundo, n. 154"
Hotel Majestic Palace, de Ribeiro & Cia 
Majestic Palace – Theatro – cinema
Moderno – cinema 
Polytheama – cinema
Todos localizados na Praça do Ferreira
Fábrica de Gelo - Rua Santa Isabel, 220

A atividade comercial de Severiano Ribeiro ficava concentrada na Praça do Ferreira e ruas próximas. Além da papelaria e livraria Ribeiro, havia ainda o Hotel Majestic Palace em cujo prédio também estava instalado o Cine-Theatro Majestic Palace (a sala de exibição ficava no térreo, sendo os andares superiores do prédio destinados à moradia). Na Praça do Ferreira também estavam localizados o Cine Modernoinaugurado em 1921, e o Cine Polytheama, adquirido em 1922, por Severiano Ribeiro. Todos os cinemas situados nesta praça na década de 1920 eram de propriedade dele. Já a fábrica de gelo ficava localizada à 
rua Santa Isabel (atualmente rua Princesa Isabel) no centro de Fortaleza. Luiz Severiano Ribeiro expandia seu poderio econômico à partir da Praça do Ferreira, principal logradouro da cidade.

¹O Cine Moderno foi uma das salas de exibição cinematográfica mais importantes de Fortaleza  
permanecendo em funcionamento até o ano de 1968. 

²A primeira sala de cinema pertencente a Severiano  Ribeiro foi o Cine Riche, inaugurado em 1915, quando ele possuía trinta anos de idade. 


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Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O cinema e a cidade


No início, os filmes foram exibidos como curiosidades ou peças de entreato nos intervalos de apresentações ao vivo em circos, feiras ou carroças. Essa forma de difusão permaneceria viva em zonas suburbanas ou rurais. Nos grandes centros urbanos dos países industrializados, porém, a exibição de filmes muito cedo se concentrou em casas de espetáculos de variedades, nas quais se podia também comer, beber e dançar, conhecidas como music - halls na Inglaterra, café - concerts na França e vaudevilles ou smoking concerts nos Estados Unidos. O cinema era então uma das atrações entre as outras tantas oferecidas pelos vaudevilles, mas nunca uma atração exclusiva, nem mesmo a principal. A própria duração dos filmes que era de alguns segundos e não mais do que cinco minutos, impedia que se pensasse em sessões exclusivas de cinema nos primeiros anos de cinematógrafo. O preço cobrado pelo ingresso não podia funcionar como mecanismo de seleção do público, pois era ainda muito baixo e coincida de ser o mesmo dos vaudevilles. No período que vai de 1895, data das primeiras exibições públicas do cinematógrafo dos Lumière, até meados da primeira década do século seguinte, os filmes que se faziam compreendiam registros dos próprios números de vaudeville, ou então gags de comicidade popular, contos de fadas, pornografia. Os catálogos dos produtores da época classificavam os filmes produzidos como "paisagens", "notícias", "tomadas de vaudeville", "incidentes", "quadros mágicos", "teasers" (eufemismo para designar a pornografia). 

COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema: espetáculo, narração, domesticação. 
São Paulo: Scritta, 1995 - (Coleção Clássica) e MACHADO, Arlindo. 
Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997 
(Coleção Campo Imagético). 


Em Fortaleza a presença de exibidores ambulantes começa a ocorrer nos últimos anos do 
século XIX se estendo até o início do século XX. As exibições ocorriam em salas adaptadas, 
teatrinhos, na Praça do Ferreira, no Passeio público ou em ruas do centro da cidade como a Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) e a Rua Major Facundo. Algumas exibições eram parte integrante da programação de circos e até o ano de  1908 a exibição não ocorria em espaços exclusivos para o cinema.

Com relação ao cinema, este, em sua origem, era um lazer barato, um divertimento popular, sendo os filmes exibidos em locais como circos, feiras e sendo parte de um espetáculo de variedades. O seu público era composto principalmente por pessoas pobres, “iletradas” e do sexo masculino. Posteriormente, com a sua maior autonomia e crescimento, a exibição cinematográfica deixa de ser uma atividade de exibidores ambulantes para se fixar em salas.

No Brasil, a primeira sessão cinematográfica teria ocorrido na Rua do Ouvidor, número 57, no dia 8 de julho de 1896, na então Capital Federal, a cidade do Rio de Janeiro. As projeções itinerantes existentes nesse período foram levadas a algumas cidades brasileiras, dentre elas, Fortaleza. Tais exibições eram compostas de vistas em movimento, as quais eram feitas geralmente em locais públicos, como cafés, parques de diversão, circos e quermesses. Estas fitas eram geralmente mais uma atração com animais adestrados, como macacos, cães, cobras, acrobatas, jogos, mulheres barbadas e prestidigitadores.

Em 1897, seria inaugurada a primeira sala fixa de exibição cinematográfica no Brasil. Tal inauguração ocorreu no Rio de Janeiro na Rua do Ouvidor, número 141, sendo esta sala denominada inicialmente por “Salão de Novidades” e, posteriormente, vindo a ser chamada “ Salão Paris no Rio,” sendo de propriedade de Paschoal Segreto e Cunha Sales.

A cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na atividade de exibição cinematográfica e no desenvolvimento de uma série de atividades relacionadas ao meio cinematográfico: Pode-se afirmar que a atividade cinematográfica no Brasil teve seu inicio no Rio de Janeiro; não apenas porque na então capital federal foram feitas as primeiras exibições e rodadas as primeiras imagens em películas, mas sim pelo fato dessas ações terem se desenrolado no tempo de maneira contínua e crescente. No rastro dessas atividades surgiram laboratórios e ateliês, textos na imprensa sobre o assunto, empresas representantes de equipamentos cinematográficos, homens dispostos a investir, salas fixas de exibição e técnicos que adquiriam formação e experiência.


A transformação física destes espaços destinados à exibição cinematográfica, assim como, a feitura de novos filmes, foram fundamentais para que um novo público adotasse o cinema como lazer. Famílias, crianças e mulheres, no caso, da elite, adotaram tal espaço, onde até sessões especificas eram destinadas a este novo público.

Rua Barão do Rio Branco, onde em 1909, Henrique Mesiano inaugurou o Cine Rio Branco. A foto é de um ano depois da inauguração - Arquivo Nirez

Em Fortaleza, no ano de 1915, em um anúncio, do “Cine Rio Branco”, pertencente a Henrique Mesiano, esta sala se intitulava como a preferida pelas famílias. O seu público era composto por cavalheiros que pagavam $800 pelo ingresso, senhoras que pagavam $500, menores $400 e o público da geral que também desembolsava $400. Percebemos a valorização de um público “respeitável” onde a presença de cavalheiros, senhoras e crianças da elite comercial da capital cearense, demostra que o cinema possuía um significado diferente de outrora, no caso, do final do século XIX, quando no âmbito mundial, ou mais
precisamente na Europa, as exibições eram realizadas nas periferias, próximos aos cordões industriais, onde a diversão suspeita misturava-se facilmente com a prostituição e a marginalidade. Nesses lugares, o cinematógrafo nasceu e tomou força durante os seus 10 ou 20 primeiros anos.

Em 1915,  o filme que seria exibido no “Cine Rio Branco”, era uma fita policial da 
Aquila – films intitulada Bastarda, dividida em quatro partes. Quando foi exibido este
filme, foi exatamente a data em que o cinema, no âmbito mundial, passou por uma profunda mudança na feitura filmica e nas práticas de exibição cinematográfica como um todo com as inovações realizadas por David Wark Griffith
Vale ressaltar que neste mesmo ano foi que Luiz Severiano Ribeiro entrou na atividade cinematográfica com a inauguração do “Cine Riche”. 

Severiano Ribeiro arrenda o local do Café Riche, realizando projeções diárias em horários sincronizados com o Café. Logo em seguida, decide fechar o café e abrir no local um cinema com o mesmo nome. O cine Riche, uma sociedade com o também empresário Alfredo Salgado, é inaugurado em dezembro de 1915. Ficava na Rua Guilherme Rocha

Nos Estados Unidos, o cinema constituía-se em um entretenimento de alcance popular, mesmo quando passou a ser considerado uma arte. O cinema tornou-se uma importantíssima atividade econômica após a Primeira Guerra Mundial com a consolidação da indústria norte-americana montada no tripé produção, distribuição, exibição e o declínio da produção cinematográfica européia.
No Brasil, apesar da diferença econômica e social se comparado aos Estados Unidos, algumas tendências foram reproduzidas, no que concerne às práticas de exibição cinematográfica. No caso, o tamanho e o estilo das salas, necessidade imposta pelas próprias companhias que aqui instalaram suas filiais nos anos de 1920.
No Rio de Janeiro, as salas passaram por um processo de enobrecimento de forma mais intensificada a partir de 1924, com a construção do Quarteirão Serrador. No ano seguinte, o mesmo ocorreria em São Paulo:
A evolução da sala de espetáculo cinematográfico brasileira se dá em estreita correlação com as transformações do produto fílmico importado. Surge em função dele e se adapta estruturalmente às suas características técnicas mais salientes. Ainda assim traveste-se aqui e ali de influências locais, seja na arquitetura, seja nas práticas e costumes engendrados em seu interior.


 
O Cine Majestic em 1918 - Acervo de Roberta Freitas

Na capital cearense, o Cine-Theatro Majestic Palace e o Cine Moderno são exemplos de salas luxuosas, uma tendência mundial, adotada aqui por Luiz Severiano Ribeiro visando atender a elite que frequentava os Clubes e o Passeio Público. Estas salas ficavam localizadas na Praça do Ferreira, principal logradouro da cidade. 

Cine Moderno

A supracitada praça era um local que até a década de 1960 concentrava atividades como lazer e trabalho, sendo um ponto de referência urbana para os habitantes da cidade.
A partir dos anos de 1960, este local começou a perder sua hegemonia enquanto espaço de sociabilidade da população.
Quanto à posição de pólo de lazer, tinha de entrar em concorrência com os clubes praianos, com a recém aberta Avenida Beira-Mar, com as próprias praias, a partir de então frequentadas em massa pelas novas gerações: a condição de tribuna política se esvaziara com a mudança das sedes do poder; quanto aos transportes urbanos, ia perdendo gradativamente a situação de centro distribuidor, com a remoção dos terminais para as praças periféricas, mais distantes, de maiores dimensões e contíguas às vias de saída do centro; o horário
noturno sofria também a interferência da televisão...

Praça do Ferreira, vendo-se o Cine teatro Majestic Palace inaugurado em 1917


Ao longo da existência desse logradouro, várias denominações lhe foram dadas: Feira Nova, Largo das Trincheiras, Pedro II, Praça do Ferreira, Municipal e novamente Praça do Ferreira, permanecendo com esta denominação até os dias de hoje.
  
A denominação de “Praça do Ferreira” é em homenagem ao boticário Antônio Rodrigues Ferreira Filho que exerceu cargos políticos de 1842 a 1859 na capital cearense sendo, vereador e Presidente da Municipalidade (Intendente), vindo a falecer em 1859. 
Quando da gestão do Intendente Cel. Guilherme César Rocha, em 1902, a praça foi arborizada e nela foi construído o Jardim 7 de Setembro, que era cercado por grades. Além do seu aspecto físico, a praça era ponto de encontro de intelectuais que circulavam pelos “cafés” (quiosques edificados com madeira) instalados neste logradouro, caso do Café Java e do Café do Comércio, dentre outros que compunham as edificações deste espaço.

Além das salas de exibição cinematográfica, havia uma variada atividade comercial composta por armazéns de estivas, cereais e miudezas, lojas de secos e molhados, lojas de calçados, alfaiatarias, joalherias, tabacarias, casas de fumo, leiteria, restaurantes e cafés. A partir de um mapeamento feito ao longo da década de 1920 identificamos a seguinte composição comercial existente na Praça do Ferreira:

Restaurantes E Cafés 
Restaurante Guerreiro de J. Guerreiro, nº 32
A Gruta de Theophilo Cordeiro, nº 184
Art-Nouveau de Pedro Eugênio & Cia
Café Riche de Jucá & Ramon
Café Avenida de Ellery & Cia
Ponto Chic, nº 42
Café do Commércio, nº 50
Café Iracema de Ludgero Garcia, nº 52.

Lojas de Modas e Confecções 
Estrela do Oriente de V. Soares & Cia
Crysanthemo de M. Guil. me & Irmão, nº 95
Empório da Moda, nº 181/183
Paulo Caminha, nº 197
Sultana de C. Codes, nº 42
Anthero Coelho de Arruda, nº 44

Armazéns de Estivas, Cereais e Miudezas
Loureiro & Cia, nº 181
Luiz Perdigão Bastos, nº 183
V. Castro, nº 187
J. de Oliveira, nº 193
M.C. de Oliveira, n° 205
Leitão e Silva, nº 207-209
Vasconcelos & Cia J. Leopoldino da Silva, nº 199

Além dos supracitados estabelecimentos, também havia na Praça do Ferreira: Salões de Bilhar, Cine “Majestic Palace” de Severiano Ribeiro, nº 204; “Polytheama” de Juvencio Brito, nº 204, Molduras de A. Medeiros, nº 36, Ateliers de Costuras e Confecções de Chapéus: “A Formosa Cearense” sob a direção de D. Maria Celina Sisnando Costa e D. Esther Moreira, nº 205, Ateliers de Retratos a Crayon e a Óleo: “J. Ribeiro” - Diploma de Honra, nº 220, Casas de Fumos: Rua Agostinho, nº 38, Tabacarias: “Polytheama” de J. Bezerra Netto; Theophilo Cordeiro (A Gruta), nº 180; Castello (Café do Commércio) ,nº 48, Alfaiatarias: “Amancio” de V. Amancio Cavalcante, nº 34; “Guimarães” de Alfredo Guimarães, nº32, Livrarias e Papelarias: “Americana” de Souza, Gentil & Cia, nº 186, Lojas de Louças, Vidros e Miudezas: SOUZA, Gentil & Cia, nº 188; Almeida & Cia, nº212, Loja de Ferragens: J. Patrício & Cia, nº 201, Casas 
Exportadoras e Importadoras: J. Lopes & Cia, nº 50, Farmácias e Farmacêuticos: “Pasteur” de Eduardo Bezerra & Cia, nº202; “Galeno” de Joaquim Studart da Fonseca, nº214; “Normal” de Jaime Studart, nº 222.

 

Percebemos que a Praça do Ferreira era um espaço de consumo e serviços o que favorecia a presença de um grande número de pessoas. Isso demostra o quanto era significativo possuir uma sala de cinema neste conceituado logradouro repleto de atividades comerciais.
A presença dos salões de bilhar do Majestic Palace e do Polytheama demostram que, além da sala de exibição cinematográfica, o público tinha a opção de frequentar também estes outros estabelecimentos de diversão e sociabilidade. Ao contrário das salas de cinema que eram frequentadas pelo público de ambos os sexos, os salões de bilhar eram espaços eminentemente masculinos. A presença feminina no espaço público era algo ainda bastante acanhado no início do século XX.
As salas de exibição cinematográfica existentes na “Praça do Ferreira”, nos anos de 1920, ficavam localizadas à rua Major Facundo, formando uma espécie de “quarteirão do cinema¹.
Vale ressaltar que, antes mesmo desta década, a Praça do Ferreira já era o espaço por excelência das salas de cinema. A primeira sala de exibição cinematográfica fixa de Fortaleza, o Cine DiMaio, inaugurado em 1908, pelo italiano Vitor DiMaio, localizava-se neste logradouro. No entanto, de 1908 até 1917, possuir uma sala de exibição cinematográfica na Praça do Ferreira era um privilegio de poucos. No decênio seguinte, apenas Luiz Severiano Ribeiro possuía salas de cinema na Praça do Ferreira, as demais ficavam localizadas em outros pontos da cidade. 
Existia três tipos de salas de exibição cinematográfica existentes nesse período: as salas
comerciais, as de associações leigas e as paroquiais, ligadas à Igreja Católica ou a associações religiosas:


•Comerciais: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama
• Associações leigas: Cine Centro, Cine Dramático Familiar, Cine Recreio Iracema, Cine MerceeirosCine Phenix;
• Paroquiais: Cinema São José, Cinema Pio X, Cinema União dos Moços Católicos, Cine Paroquial.

Na Praça Cristo Redentor ficava localizado o Cinema São José pertencente ao “Circulo de Operários e Trabalhadores Católicos São José”. Esta associação mantinha uma escola noturna para sócios e crianças pobres, além de possuir uma orquestra com vinte e três músicos. O Cinema São José foi inaugurado em 1917, tendo funcionado até 1941. Possuía 1088 lugares, o mesmo número do Cine-Theatro Majestic Palace. Atualmente o prédio abriga o “Teatro São José”.
Na Avenida Duque de Caxias, esquina com rua Barão de Aratanha, ao lado do Convento dos Capuchinhos foi inaugurado em 1923, o Cinema Pio X, pertencente à Ordem dos Capuchinhos.
Ainda na Avenida Duque de Caxias, mas agora esquina com Avenida Tristão Gonçalves, ficava localizado o Cine Centro, pertencente ao Centro Artístico Cearense, uma sociedade constituída a sete de novembro de 1926. O Cine Centro possuía trezentos lugares tendo como público associados e moradores das proximidades.
Na Rua Barão do Rio Branco, nº 1.826, ficava localizado o Cinema União dos Moços Católicos, que foi inaugurado em 1927. Esta sala de exibição cinematográfica foi instalada em um prédio construído pelo Centro Cívico Epitácio Pessoa

Por iniciativa do Centro Cívico Epitácio Pessoa, a cidade ganhara no dia 27 de junho de 1923, um imponente prédio, á rua Barão do Rio Branco, 1826, que serviria de sede ao Instituto Epitácio Pessoa. Doado à Arquidiocese de Fortaleza, destinou-se ao desenvolvimento de cursos e atividades voltadas à instrução popular.
O prédio sediaria também à organização sócio-religiosa União dos Moços Católicos, que dentre suas inúmeras atividades decidiu pela manutenção de um cinema. Sua programação notadamente popular, de filmes mudos, tem como primeiro registro na imprensa, no dia 4 de dezembro de 1927, a exibição “Fama e Fortuna” ( Fame and Fortune; Fox Film Corp., 1918, 5 rolos, direção de Lynn F. Reynolds, apresentação William Fox, estória de Charles Alden Seltzer, cenário de Bennett R. Cole, com Tom Mix, Kathleen O’Connor, George Nicholis, Charles McHugh, Annette DeFoe, Val Paul, Jack Dill, E. N. Wallock e Clarence Burton).

No ano de 1928 são inauguradas duas salas de exibição cinematográfica, o Cine Dramático Familiar e o Cine Recreio Iracema. A primeira, ficava no prédio do Grêmio Dramático Familiar que havia sido criado pelo teatrólogo cearense Carlos Câmara, em 1918. Tal sala estava localizada no Boulevard Joaquim Távora nº 2.046. A segunda sala, o Cine Recreio Iracema, ficava localizada no Boulevard Visconde de Cauipe, nº1.023, no ponto final da linha do bonde do Benfica. Na década de 1930 tal sala passou a ser conhecida também como Cine Benfica em alusão ao bairro que leva o mesmo nome. 

Cine Benfica, em frente ao Dispensário dos Pobres do Sagrado Coração 
Acervo Ivan Gondim

No ano de 1930 três salas são inauguradas, o Cine Paroquial, o Cine Merceeiros e o Cine Phenix. A Associação Phênix Caixeiral, fundada em 1891, ficava localizada à Rua Municipal (atual Rua Guilherme Rocha) esquina da Rua 24 de maio. Esta associação atuava sobretudo na área educacional e de assistência aos trabalhadores do comércio e aos seus filhos. O seu palacete comportava a sala de exibição cinematográfica e a Escola Fênix Caixeiral.
Com relação ao Cine Merceeiros esta sala de exibição cinematográfica também pertencia a uma associação ligada ao comércio. Era a “Associação dos Merceeiros” que foi fundada em 1914, vindo a inaugurar sua sala de cinema em 1º de novembro de 1930. Esta sala ficava à Rua Major Facundo, esquina com Clarindo de Queirós, na Praça do Carmo.
O Cine Paroquial, inaugurado em seis de setembro de 1930, estava localizado na Rua Coronel Ferraz, ao lado da Igreja Pequeno Grande e próximo à Escola Normal.

Na década de 1920, todas estas salas adquiriam as fitas para projeção em uma única empresa, a de Luiz Severiano Ribeiro que neste decênio tornou-se o nome mais forte da atividade de exibição e distribuição cinematográfica local expandindo seu poderio para o restante do país.



¹As salas que ficavam neste quarteirão eram as seguintes: Cine-Theatro Majestic Palace, Cine Moderno e Cine Polytheama. Com relação ao “Cine Moderno”, o memorialista Edigar de Alencar afirma: “ à sua última sessão, de domingo, acorria toda a sociedade de Fortaleza, que antes espairecia na retreta do Passeio Público. Antes das nove horas, o mundo elegante abandonava o velho logradouro e desembocava pela rua Major Facundo, desfilando pelas inúmeras rodas da calçada das residências dos sírios rumo ao Moderno”. ALENCAR, Edigar de. Fortaleza de ontem e anteontem. Fortaleza: Edições UFC; Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1980, p.47.

Fonte: Nas telas da cidade: salas de cinema e vida urbana 
na Fortaleza dos anos de 1920 - Márcio Inácio da Silva  e Arquivo Nirez

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