Fortaleza Nobre | Resgatando a Fortaleza antiga : O Povo
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Blog sobre essa linda cidade, com suas praias maravilhosas, seu povo acolhedor e seus bairros históricos.

 



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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Praia do Futuro II - Antecedentes Históricos


Jornal O Povo de 10/03/82, barracas na faixa de berma em frente ao Clube de Engenharia.

Quando, no ano de 1948, o Jornal O POVO anunciou em forma de pergunta - Qual será, de futuro, a praia de banho de nossa bela capital? O jornalista talvez não vislumbrasse que seria essa, alguns anos na frente, a faixa de praia de Fortaleza mais requisitada por todas as camadas sociais, tanto os de classe de maior poder aquisitivo, quanto os de extrato médio e baixo. No caldeirão social da praia do Futuro, sem dúvidas, diferentemente de outras praias de Fortaleza, ela se caracteriza como um espaço onde todas as classes sociais, não só de Fortaleza como da região metropolitana, frequentam.
Praia do Futuro em 1972.  Acervo pessoal

Década de 70 - Arquivo Pessoal

bairro da Aldeota expandiu-se com a ocupação dos moradores “endinheirados” passando em prestígio antigos bairros da cidade - JacarecangaBenfica, Bairro de Fátima - que possuíam uma ocupação com residências de luxo. 
Essa expansão em direção à praia ultrapassou o Ramal Ferroviário Parangaba-Mucuripe, chegando às terras chamadas de Sítio Cocó, do Sr. Antônio Diogo Siqueira, que adquiriu as terras da margem esquerda do Cocó em direção ao Porto do Mucuripe, delimitando-se com os trilhos da ferrovia e a faixa de praia. 

Este recorte espacial era, em finais do século XIX e começo do século XX, “uma enorme extensão de terra com objetivos agro-pastoris, basicamente para o senhor Antônio Diogo, local para a criação de gado e salga da carne como objetivo de exportação do produto pelo porto do Mucuripe”. Lustosa da costa (1988).

Década de 70 - Arquivo Pessoal

A área possuía grande valor comercial pelas extensas salinas, sendo a principal situada à margem esquerda do rio Cocó, onde hoje se encontra a ponte sobre a Avenida Santana Júnior em direção à praia do Caça e Pesca. Segundo o Sr. Valdir Diogo, filho do proprietário, senhor Antônio Diogo, em entrevista em junho de 2004: “O comércio de salgar a carne era bastante usual e o preço do sal era muito caro, portanto adquirir uma salina era de vital importância”

Prolongamento da Avenida Santos Dumont em direção a Praia do Futuro em 1975

Jornal O Povo de 11/05/76 - Avenida Santos Dumont, aberta em meio as dunas, ao longe Edifícios Bagatelli e Demoselli em frente ao BNB Clube.

Diz a professora, Maria Clélia Lustosa da Costa (1988), que, passada a lucratividade do comércio da exportação de carne, a família Diogo vislumbrou a possibilidade de comercialização da grande faixa de terra. Com efeito, na primeira metade do século XX, dois loteamentos foram abertos, “Moderna Aldeota”, situado onde hoje atualmente está a Avenida Santos Dumont, chegando à Avenida Santana Júnior e bairro do Papicu, e outro loteamento junto ao porto do Mucuripe, chamado inicialmente de Antônio Diogo, no entanto modificado pelo nome popular, de loteamento da praia do Futuro

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

No loteamento “Moderna Aldeota,” em inícios da década de 1960, especificamente em 1962, foi inaugurado o Hospital Geral de Fortaleza e, sete anos depois, a Cervejaria Astra, depois modificada a sua denominação para Cervejaria Brahma. Esta gradativa indução para a zona leste da Cidade propiciou a construção do primeiro conjunto habitacional de grande porte na zona leste da cidade - Cidade 2000 - em 1971. 

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

Com a ponte do rio Cocó construída, criou-se um caminho para a zona sudeste da cidade, pela chamada Avenida Perimetral (atual Avenida Santana Júnior). 
Essa expansão foi gradativamente incorporando, de maneira desrespeitosa, o meio ambiente, pois o aterro de área de várzeas era cada vez maior para a construção de loteamentos, em direção às terras do senhor Patriolino Ribeiro, no atual bairro da Água Fria

Final dos anos 70 - Arquivo Pessoal

Diferentemente do que pensam algumas pessoas, a topografia das primeiras quadras do loteamento da praia do Futuro não era tão plana como se observa atualmente. Em entrevista de junho de 2004, o Sr.Valdir Diogo diz: “O loteamento Antônio Diogo foi bastante nivelado, pois havia ondulações de dunas no local e era permitido a época à utilização de máquinas D6, D8, motoniveladoras e posteriormente a isso, foi realizado o loteamento”

Quanto ao papel da mídia na abordagem da praia do Futuro, a começar da década de 1960, quando da consolidação do Porto do Mucuripe e dos terrenos contíguos, configuraram-se iniciativas que proporcionaram grandes matérias na imprensa sobre as condições de operacionalidade do porto do Mucuripe e algumas matérias sobre as condições de vida dos moradores ao redor do porto, e muito pouco sobre a praia do Futuro.

Anos 90 - Arquivo Pessoal

As manchetes do ano de 1964 ainda situavam sempre os mesmos problemas relacionados com a falta de infra-estrutura do porto do Mucuripe e da falta de recursos para resolvê-los. A
partir do ano de 1965, a praia do Futuro começou a ser de fato mais presente no dia-a-dia do fortalezense, como consequência da expansão de Fortaleza para leste. 

Anos 90 - Arquivo Pessoal

Em 1965, as manchetes já mostravam claramente a praia do Futuro no contexto da especulação imobiliária, na natural consolidação do loteamento da Imobiliária Antônio Diogo, além de infra-estrutura necessária para o crescimento do Porto do Mucuripe: 

“O Ouro da Praia do Futuro”, que fazia uma propaganda de venda do Edifício Belo Horizonte, O POVO 30 e 31/01/65; 


Observa-se em 1966 uma tendência de crescimento na área, pela consolidação do porto do Mucuripe, mesmo não existindo soluções definitivas em função de trabalhos importantes de dragagem e de tentativa, por parte dos gestores públicos, de resolver com recursos da União os problemas de uma maneira gradual.
Sendo assim, equipamentos de porte, do tipo fábrica de asfalto, induziram junto com as belezas naturais uma ocupação rarefeita, com edificações e até de opções de lazer, pois a jovem classe emergente local incorporava a praia do Futuro como área bucólica, dos amantes da natureza e liberdade de ações, e começou-se a preocupação com o futuro da Praia, como mostram as manchetes: 

Futurama reúne, clube que reunia na praia do Futuro a classe social
emergente de Fortaleza
, O POVO 04/10/66;
Fim da draga, retirada da draga que trabalhou no porto do Mucuripe, O
POVO 17/05/66;
Embelezar a cidade é salvar a praia do Futuro, O POVO 15 e 16/10/66. 

Anos 90 - Arquivo Pessoal

Começavam a se preocupar, pelo menos nas páginas de jornais, com a melhoria da arborização da praia do Futuro, que ao que parece não foi de fato realizada, como transcreve a matéria, (O POVO 15/16/10/66): 

O Departamento de Paisagismo foi informado de que um trecho da Praia do Futuro a poucos metros do mar está sendo loteado. Por isso vai procurar o prefeito Murilo Borges para pedir que a denúncia seja averiguada, pois segundo o Sr.Carlos Belandi (Diretor do Departamento de Paisagismo da Prefeitura) a área se presta para a instalação de bosques, já tendo programado o plantio de Oiti cajueiro, Coqueiro e Castanhola. 

Fortune Drive In - Arquivo Jornal O Povo de 31/03/1967

No ano de 1967, observaram-se fatos transformados em manchetes. As manchetes negativas sobre a descontinuidade das obras do porto do Mucuripe deixaram de existir e só se falava de avanço e melhorias em toda a área, com locais para divertimento, como comprovam estas matérias: 

Companhia Docas faz do Mucuripe porto seguro, O POVO 26/04/67;
Fortune Drive in: Coração da Praia do Futuro, O POVO 15 e 16/07/67; 

Jornal O Povo de 21/05/78, W.C Típico das barracas de praia a época.

Em 1968, a praia do Futuro, mais consolidada como grande opção de lazer, suspirava uma sensação de possível “copacabanização”, sendo a atenção dos técnicos reportadas nos jornais sobre a necessidade de se tomarem providências no sentido de ordená-la. Com efeito, A Avenida do futuro, citando a necessidade do alargamento e iluminação da então via de calçamento Dioguinho, O POVO 22/04/68. 

Encontro do Rio Cocó com a Praia do Futuro em 2004 - Pedro Itamar de Abreu Júnior

Hoje, os “Chez Pierre, os Drive-in Bar, os Sombra Amena”, vão povoando de cumeeiras leves ou portáteis o antigo deserto de dunas e ventos fortes. Praticamente, os banhos de mar de Fortaleza se mudaram com armas e bagagens para o lado do velho Farol. Por que não iluminar a Praia do Futuro? A municipalidade deve acompanhar o povo, criando-lhe novas área de respiração.


Crédito: Praia do Futuro-Formas de Apropriação do Espaço Urbano 
de Pedro Itamar de Abreu Júnior 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Moda Fortalezense no final da década de 20



As mudanças ocorridas no final do século XIX e início do século XX no Brasil foram simultâneas ao período de maior prosperidade francesa.

(Foto ao lado da senhorinha Zezé Guimarães)

A Belle Époque foi o momento de desenvolvimento da França, época de forte poder econômico. Exportava-se o modo de vida francês. Foi um momento de avanço tecnológico e científico. A moda francesa, com seus exageros, era um dos pilares da economia daquele País.

No Brasil, procurava-se fortalecer relações políticas com os Estados Unidos e países da Europa, o que tornou a modernidade brasileira, mais um jogo político do que uma consequência de eventos ocorridos espontaneamente:

A construção da modernidade se fazia nos espaços, na arquitetura, mas ainda nas pessoas, na cultura, na sociedade, ou seja, moldava-se simbólica e imaginariamente, de modo a despertar a sensação de um novo tempo, principalmente aos mais entusiasmados, com os benefícios do progresso. (DOURADO, 2005)


Loja A Formosa Cearense em 1925 
(Loja de modas, tecidos, calçados e alfaiataria, de Cunto & Companhia, dos sócios Salvador Cunto, Vicente Cunto e José Cozza Cunto, na Rua Floriano Peixoto nº 205 (antigo, atual 635), no Edifício Itália, na Praça do Ferreira. Inaugurada em 22 de abril de 1922.)

A Belle Èpoque cearense, que teve inicio na metade do século XIX, se estendendo até o final dos anos de 1920, foi marcada por uma profunda mudança, tanto em termos políticos, quanto em termos culturais, o que refletia na capital cearense, que acompanhava, guardadas as proporções, essa fase de urbanização que ocorria no país. 



A Moda em Paris serviu de inspiração.

Tentava-se enquadrar a cidade nos moldes de civilização Europeus. Assim, a arquitetura local bem como os costumes foram diretamente influenciados por Paris, sendo bastante comum o nome de lojas e cafés em Francês (Um dos principais cafés da cidade chamava-se Café Riche, também havia o Cine Majestic, a Torre Eiffel.).

Foi também o período em que chegaram os bondes e energia elétrica na cidade, ainda coexistindo com os bondes de tração animal e iluminação a gás, uma vez que a substituição da iluminação a gás para elétrica se deu apenas em 1934, conforme Silva Filho (2002):

A tardia introdução da energia elétrica na iluminação pública de Fortaleza provavelmente se deveu menos a uma debilidade técnica e mais à longeva concessão franqueada pela Ceará Gás Company, já que pelo menos desde 1913 a cidade dispunha, embora em grau diminuto, de eletricidade para algumas residências, casas comerciais e repartições públicas, e no final do mesmo ano passava a alavancar o novo bonde.

A iluminação pública, ainda segundo Silva Filho (2002), foi responsável por trazer segurança às noites da cidade, tendo como consequência a maior agitação da vida pública, favorecendo as festividades noturnas.




O avanço tecnológico com o qual a cidade se acostumava, associado às políticas governamentais e as mudanças empreendidas na estrutura física da cidades ofereceram condições propícias para a consolidação do poder das elites.
A segmentação social favorecia o surgimento de espaços físicos em que os mais ricos pudessem acomodar-se e conviver entre si, excluindo, nos momentos de lazer, de seu convívio aqueles que não tivessem poder aquisitivo condizente com os seus.


Assim, Castro (1987) aponta isso quando revela que Fortaleza, durante o seu processo de formação, apresentou características de forte divisão de classes, o que auxiliou no processo de segregação entre as classes mais abastadas e as menos favorecidas. Resultando desse modo nas apropriações de espaços, por parte da elite, em que pudessem relacionar-se:

Desde o princípio de sua evolução, Fortaleza apresentou em seu espaço uma configuração assentada sobre a base de uma forte segmentação social. Ainda no alvorecer do século XIX, os elementos que compunham os círculos sociais mais elevados, ligados às atividades comerciais da cidade “começavam a se agregar isoladamente, ocupando bairros onde pudessem relacionar-se com conjuntos homogêneos, alheios às confusões urbanas". (CASTRO, 1987, apud PONTES, 2005)

O surgimento e a consolidação desse segmento favoreceu também o aumento das práticas sociais na cidade. A partir de 1860, Fortaleza passou a ter uma vida social mais ativa; a fundação do Teatro José de Alencar, as festividades no palácio do presidente foram os primeiros movimentos do lazer social da cidade.


O Elegante Clube Iracema

No meio elitizado da cidade surgiram os clubes sociais; o primeiro,
Clube Iracema¹fundado em 1884, abrigava um pequeno número de pessoas. De uma dissidência entre seus membros surgiu o Clube dos Diários, em 1913.

No Final da década de 20, precisamente em 12 de junho de 1929, surge o clube Náuticoatlético cearense
², que se mantem até os dias atuais.
Os clubes eram responsáveis pela maior diversão da elite fortalezense, bem como por seus encontros e convivências. Eram bastante comuns as festas nos anos de 1928, constantemente havia um anúncio no jornal sobre esses acontecimentos, que variavam entre festas beneficentes à campeonatos esportivos.

Carnaval no Clube Iracema em 1935 - Acervo Sérgio Roberto

O período carnavalesco, que se inicia no começo de fevereiro e se estende até começo de março, era de bastante movimento nos clubes da capital, pois, com a decadência do carnaval de rua, os festejos dentro dos clubes passaram a ter maior visibilidade durante o período momino.


Revista Ba-ta-clan

Além do carnaval, que foi recondicionado pelas novas práticas de sociabilidade, também pode-se perceber uma influência dessas práticas, na moda feminina e masculina da época.


Revista Ba-ta-clan

O jornal O Povo e a moda

Entender como se deu a implantação, a consolidação e características da imprensa cearense é fundamental para a compreensão do material extraído do jornal.
Geraldo Nobre, no seu livro, 'A historia do jornalismo no Ceará' traça um caminho que percorre desde o início do surgimento da imprensa no Ceará, até os anos de 1970.

Surgida em 1824, com o Diário do Governo, a imprensa cearense consolidou-se no período de 1849 a 1859, momento em que a situação política do império normalizou-se. Nesse momento a notícia era complemento de debates políticos, processando-se tanto na assembleia, quanto nas folhas. 
O jornal com seu caráter informativo só veio a ter espaço após o fim das oligarquias, no ano de 1915, sendo iniciado pelo jornal Correio do Ceará.

O jornal O povo, surgido no período dos novos jornais, como classifica Nobre (2006), não era um jornal partidário, mas como afirmou Adísia Sá, teve origem partidária. Seus fundadores, Demócrito Rocha e Paulo Sarasate foram ligados à vida política.

Foto de 1925 do Armazém de Fazendas - J. Albano & Comp.

Segundo Nobre (2006), foi no decênio de 1910 a 1920 que a imprensa cearense assumiu características de permanência, tornando-se definitiva, em relação a seu estado atual. O autor também divide a história do jornalismo cearense em duas fases; na primeira os jornais existiram em função de partidos políticos, ou de outros grupos de opinião e consequentemente, pouca atenção deram ao caráter noticioso, ou mesmo comercial, da imprensa. Com o surgimento do Correio do Ceará, em 1915, o noticiário e a publicidade começaram a ganhar espaço jornalístico e a partir de então, os órgão de orientação política tiveram duração efêmera.

Maravilhosas vitrines da conhecida e conceituada casa de modas A Cearense na rua Floriano Peixoto, 219 - Revista Ba-ta-clan
Revista Ba-ta-clan

Atentando-nos ao espaço ganho pela publicidade no jornal, para o estudo da moda, as propagandas de casas de tecido, modistas, costureiras e lojas de artefatos masculinos, são relevantes para que tomemos conhecimento sobre o que se usava à época, nisso incluímos tanto os tecidos, como as peças de indumentária já confeccionadas, como chapéus, lenços, sombrinhas etc. 

Revista Ba-ta-clan

Revista Ba-ta-clan

As propagandas trazem para o nosso cotidiano os elementos do período de 1920, nelas podemos ver o preço e o tipo de tecido que se vendia, bem como os artefatos que eram expostos, como meias de seda, sombrinhas, joias, chapéus e bolsas. Os tecidos que apareciam nos anúncios eram principalmente seda, brim, algodão, linho, casimiras, cetins. 


Há um anúncio, intitulado de 'Creação de Paris', d'A Cearense, que era uma loja de variedades, nele são expostos fivelas, chapéus e tecidos. Percebe-se além das peças que
compunham a indumentária feminina da época, a influência dos elementos vindos de Paris, conforme descrito abaixo:

Creação de Paris
Chegado pelo D. Pedro I 
Uma linda colleção de artigos para senhora, barretes fêchos e fivellas para vestidos e chapeos, artigos ricos, chiques e originaes, diversas qualidades e tamanhos de applicações para vestidinos de criança o que há de mais rico. Uma grande collecção de lenços para presentes. 
Renda valenciana branca e creme. 
Missanga em diveras cores e em crysta branco leitosa 
Na A CEARENSE (O Povo, 30 de maio de 1928, p.2)

A Cearense (Sede da rua Barão do Rio Branco). Foto Aba Film - Arquivo Nirez


Lindas vitrines d' A Cearense - Arquivo Nirez

Como o anúncio acima, há outros, que aparecem constantemente, trazendo referência dos materiais e peças que compunham a indumentaria da época. 
Outra loja, A maranhense, no dia de saldão divulgou uma lista, no jornal, com os tecidos e preços ao qual vendiam cada peça.

Reclame d'A Maranhense - Revista Ba-ta-clan
(Em 08 de junho de 1921, abre-se em Fortaleza a loja denominada A Maranhense, armarinho, miudezas e tecidos, pertencente à firma Chuairy, Ary & Cia, formada por Salim Milhem Chuary, José Salim Ary e Nadra Salim Ary, funcionando na Rua Major Facundo nº 100 (antigo).

Apesar de haver uma publicidade constante de tecidos e artigos de moda, as publicações que tratavam diretamente do assunto eram escassas; durante os anos de 1928 e 1929, apareceram apenas três publicações.
Uma das publicações, intitulada de “A arte de usar echarpe”, fala de como o artefato deveria ser usado e como algumas mulheres dominavam essa arte:

A arte de trazer uma <<écharpe>> não se limita, de resto, a evitar essa nota pouco favorecedora. Saber collocar com graça uma <<écharpe>> sobre os hombros sem que ella fique pesada, mas com pregas naturaes e suaves, de modo a que as pontas caiam com garridice e bom gosto, requer um estudo profundo e subtil. 
(O Povo, 28 de março de 1928, p.03)

Revista Ba-ta-clan

Ensinava-se também o modo adequado de usar, além de incentivar as mulheres a praticarem em frente ao espelho o melhor caimento da encharpe: 

Nos nossos dias, é a <<écharpe>> que occupa um logar importante no conjuto da <>, tanto pelo seu comprimeto como por suas dobras elegantes e acariciadoras,
que permittem corrigir certos defeitos do busto e tambem das proporções da silhueta. Se as suas dobras se detêm e suavisam ao nível do peito, este parece crescer, o que convém
ás magras. Se, porém, se apertam em um movimento envolvente, o resultado será dar-lhe a apparencia de menor volume, oque muito servirá ás mulheres e busto proeminente e
de talhe curto. (O Povo, 28 de março de 1928, p.03)

Revista Ba-ta-clan

Revista Ba-ta-clan

Outro assunto tornado pauta de uma coluna do jornal O povo foi a roupa de baile. 
A coluna, intitulada de A moda – Toillettes de Bailes explicitava quais as roupas que estavam sendo usadas, na época, durante as festas. Essa coluna foi escrita pela redatora da revista FEMININA, nela aparecem as cores e tendências que eram legitimadas naquele período:

Fiquei admirada de não ver nas reuniões dansantes de moças tantos vestidos de mousseline de seda, florida, quanto os figurinos faziam esperar. Não se podia, entretanto, achar um thema, mais requintado e as formas são deliciodas. Sobre um fundo creme, por exemplo, flores sylvestres, sobre um fundo rosa ou azul, primaveras de um amarello pallido; no corpete, o decote tam graça ao gosto antigo; uma estreita hombreira sustenta o tecido de um lado, enquanto, do outro lado, esse tecido sobe para o outro hombro por um efeito de viez.
( Martine Re'nier, Jornal O Povo, 30 de março de 1928, p. 4)


Há também uma parte do texto que fala sobre a roupa de passeio, mas diferente da primeira que tratava apenas da roupa feminina e adulta, a segunda ensinava às mães como vestir suas filhas:

A moda que tem sempre a sua palavra a dizer na toilette dos grandes, como dos pequenos, determina que o chapeo se combine com o manteau, nas toilettes de passeio. Deve-se
reconhecer, aliás, que isso é encantador e que, assim, as nossas filhas ficam com um ar mais distincto e elegante, correspondendo a idéa que se tem, hoje, da harmonia, em matéria de vestuário. O bege, naturalmente, tem uma grande supremacia nas vestes de passeio de nossas filhas, mas está longe de ser a única côr da moda. Ao contrario, parece estar dominando um gosto pronunciado pelos tons a um tempo vivos e claros, como o amarello limão, o verde amendoa ou o azul ligeiramente cinza, que vae bem principalmente nas meninas louras. 
(Martine Re'nier, Jornal O Povo, 30 de março de 1928, p. 4)

Nota-se que há uma preocupação em como vestir as mulheres de forma “elegante e distinta” desde criança, selecionando cores³ e formas ideais de roupas, mas quase não há referências à indumentaria masculina. O que encontra-se no jornal O povo, falando sobre a moda ou mesmo sobre a roupa do homem, são alguns poucos anúncios que vendem principalmente chapéus.

A elegância das senhorinhas na década de 20 - Revista Ba-ta-clan

Após analisar as edições impressas do jornal O povo, dos anos de 1928 e 1929, foi possível notar que naquele período Fortaleza passava por uma fase de transição, em que a cidade ganhava um novo aspecto devido a política higienista aplicada no País, bem como pela tentativa de modernização e inclusão das cidades no modelo de vida europeu e tudo isso afetou o modo de viver e relacionar-se de seus habitantes.

A elegância das senhorinhas na década de 20 - Revista Ba-ta-clan

A moda, como parte integrante da vida social, também sofreu mudanças. É possível perceber, que tanto homens, quanto mulheres assimilavam as modas vindas do exterior, porém a influência era exercida principalmente sobre a mulher.

A moda feminina importou principalmente os costumes vindos da França, especificamente da cidade de Paris. São constantes os anúncios que dizem trazer novidades da capital francesa, ressaltando a qualidade dos produtos e o fato de serem a última moda parisiense. 

Quando se trata de anúncios masculinos, estes referem-se principalmente a chapéus, nos quais é possível notar influências principalmente americanas e inglesas, salvo algumas exceções que falam de chapéus australianos.
As casas de tecidos e de variedades eram as principais anunciantes de moda nesse período.

As lojas de tecido vendiam a matéria-prima para as senhoras, que as compravam e levavam à modista ou costureira, quando não eram feitos em casa. Era prática bastante comum a cópia de modelos vindos da Europa
No tocante às cores dos tecidos, não foram encontradas referências nos anúncios das casas de tecido, porém, as colunas de moda publicadas à época, revelam o uso de cores claras como beges, rosas e amarelo limão. 
Entende-se que as cores utilizadas nas roupas não eram meros caprichos da moda, ou apenas influências diretas de Paris, havia uma força social que impunha determinadas cores e excluía outras, atribuindo valores a cada uma. 
Fortaleza assimilava a moda, mas não abandonava as tradições. Se por um lado havia vestidos esvoaçantes, sem cintura, como ditava a moda parisiense, por outro não se incorporava o excesso de brilho e as cores extravagantes.

Por fim, foi possível observar também que o jornal ajudava a disseminar a moda, porém não era o principal meio propagador, uma vez que não havia constância na divulgação das colunas sobre moda e indumentária; nem as notas referentes aos clubes tratavam sobre o assunto, não havia também especificação do tipo de traje dos eventos.

Analice Camara Carvalho
(Design de Moda da Universidade Federal do Ceará)


 (896 bytes)¹O clube Iracema fundiu-se com o clube dos diários na metade do século XX.

 (896 bytes)²No dia 12 de junho de 1928, O jornal o Povo publica uma nota curta sobre o surgimento do Náutico Atlético Clube

 (896 bytes)³Tanto Lopes (2011), quanto Ponte (1993) remetem ao uso de determinadas cores na indumentária em Fortaleza; o primeiro afirmava que cores muito vivas e vermelhos eram cores reservadas às prostitutas, já o segundo fala sobre o uso do preto, que transmitia distinção.


Fotos: Livro Terra Cearense de 1925, Acervo Ivan Gondim, Revista Ceará Illustrado de 1925, Revista Ba-Ta-Clan, Arquivo Nirez e Acervo Sérgio Roberto

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